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A "epidemia" do parto cesáreo
por Isabella de Oliveira*
29/01/2008
Muitas cesarianas realizadas em todo o mundo são medicamente
desnecessárias
Originalmente, o parto cesáreo (ou
cesariana) foi criado para aliviar
condições adversas maternas ou
fetais, quando há riscos para a mãe,
o bebê ou para ambos, no decorrer
do parto.  Quando bem indicada,
como em casos de sofrimento fetal
durante o trabalho de parto (que
prejudica a oxigenação do bebê), ou
quando ocorre um descolamento
prematuro da placenta, a operação
cesariana é uma tecnologia que salva vidas. Acontece que muitas
cesarianas realizadas em todo o mundo são medicamente
desnecessárias.
De acordo com a OMS, a taxa ideal de partos cesáreos deve ficar em
torno de 7 a 10%, não ultrapassando 15%. Entretanto, nos últimos 37
anos testemunhamos uma "epidemia mundial" de cesarianas. Na
Holanda, essa proporção é de 14%, nos Estados Unidos 26%, no México
34% e no Chile 40%. Isso ocorre em parte porque a cesariana passou a
ser aceita culturalmente como um modo normal de dar à luz um bebê.
As repercussões desse comportamento são bastante sérias e, segundo o
Conselho Federal de Medicina (CFM), as cesáreas acarretam quatro
vezes mais risco de infecção pós-parto, três vezes mais risco de
mortalidade e morbidade materna, aumento dos riscos de
prematuridade e mortalidade neonatal, recuperação mais difícil da
mãe, maior período de separação entre mãe/bebê com retardo do
início da amamentação e elevação de gastos para o sistema de saúde.
Foto: Divulgação
Isabella: "O Brasil é um dos líderes
mundiais em cesarianas"
 
O Ministério da Saúde (MS) tem empenhado esforços na diminuição das
taxas de cesarianas no Brasil há décadas. Em 1997, o CFM lançou a
campanha "Natural é o Parto Normal". Após essa campanha, o MS
intensificou o Programa de Assistência à Saúde da Mulher, com
medidas como aumento de recursos para os procedimentos de partos
normais, incentivo à criação de serviços de alto risco com remuneração
diferenciada, pagamento de analgesia nos partos normais, entre
outras. Apesar de todas as medidas adotadas para coibir as cesáreas
desnecessárias, o número continua a subir, mostrando que outras
estratégias se fazem necessárias. Um estudo encomendado pela
Organização Mundial da Saúde e publicado em 1999 no British Medical
Journal, de autoria de José Belizan e cols, demonstrou que, em 19
países da América Latina, mais de 850.000 cesarianas desnecessárias
eram realizadas por ano. O Brasil é um dos líderes mundiais em
cesarianas, com taxas, desde o início da década de 80, em torno de
30% (na saúde pública, houve crescimento das taxas de cesáreas, de
14,6% em 1970 para 31,0% em 1987, chegando a 27,5% em 2004). Na
saúde privada (planos de saúde), segundo dados da Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS), as taxas estão em torno de 80% (2006).
Vários estudos apontam que possíveis explicações para taxas tão altas
estejam diretamente ligadas a fatores sócio-culturais, dentre elas: as
conveniências de tempo e financeiras para o profissional médico, o
modelo de organização da assistência obstétrica no país, a falta de
leitos nos pré-partos dos hospitais, a cultura da "cesariana a pedido da
mãe" e a possibilidade de realização concomitante de ligadura de
trompas durante a cirurgia. Muitas mulheres associam o parto vaginal à
dor e desconhecem o fato de que é possível utilizar
anestesia/analgesia durante o processo. Outro medo comum nas
gestantes é o relacionado à elasticidade vaginal, que poderia ficar
comprometida após o parto. Por isso é preciso conscientizar as
mulheres de que nascimentos por via vaginal e com períneo intacto são
plenamente possíveis na maioria das vezes, não causando "frouxidão do
períneo", nem problemas sexuais no futuro. A episiotomia (corte no
períneo que ajuda o bebê a passar) pode ser feita, mas estudos
baseados em evidências científicas mostram que nem sempre ela é
necessária.
Mesmo nos dias de hoje, as cesarianas não são isentas de risco. À
exceção das situações em que existem indicações médicas precisas
para cesariana, o correto é esperar o início do trabalho de parto e
aguardar sua evolução. Se tudo correr bem, não há motivo para
realizá-la. Programar o nascimento sem nem mesmo deixar a gestante
entrar em trabalho de parto é transformar o parto normal, um ato
fisiológico, num ato operatório - o parto cesáreo - e traz muitas
desvantagens para a mulher e para o bebê. Mulheres que dão à luz por
meio de parto vaginal/normal têm recuperação mais rápida e maior
facilidade no início da amamentação, pois estímulos hormonais
naturalmente se encarregam de "fazer o leite descer". Estudos
mostram que quando a gestante está bem informada sobre essas
possibilidades, o parto tem maiores chances de ser mais saudável e ela
pode expressar maior satisfação com a experiência.
O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou recentemente
que uma das principais metas do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) da Saúde é reduzir, até 2011, a quantidade de
operações cesarianas para 60% na rede particular e 25% nas
maternidades públicas.
*Isabella de Oliveira é graduada em medicina pela UFRJ, com título de
Especialista em Ginecologia e Obstetrícia e MBA em Gestão Avançada
de Sistemas de Saúde. É mestre em Ciências da Saúde pela UNB e atua
no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento Médico do Grupo Medial
Saúde.

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Epidemia de cesarianas desnecessárias

  • 1. A "epidemia" do parto cesáreo por Isabella de Oliveira* 29/01/2008 Muitas cesarianas realizadas em todo o mundo são medicamente desnecessárias Originalmente, o parto cesáreo (ou cesariana) foi criado para aliviar condições adversas maternas ou fetais, quando há riscos para a mãe, o bebê ou para ambos, no decorrer do parto.  Quando bem indicada, como em casos de sofrimento fetal durante o trabalho de parto (que prejudica a oxigenação do bebê), ou quando ocorre um descolamento prematuro da placenta, a operação cesariana é uma tecnologia que salva vidas. Acontece que muitas cesarianas realizadas em todo o mundo são medicamente desnecessárias. De acordo com a OMS, a taxa ideal de partos cesáreos deve ficar em torno de 7 a 10%, não ultrapassando 15%. Entretanto, nos últimos 37 anos testemunhamos uma "epidemia mundial" de cesarianas. Na Holanda, essa proporção é de 14%, nos Estados Unidos 26%, no México 34% e no Chile 40%. Isso ocorre em parte porque a cesariana passou a ser aceita culturalmente como um modo normal de dar à luz um bebê. As repercussões desse comportamento são bastante sérias e, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), as cesáreas acarretam quatro vezes mais risco de infecção pós-parto, três vezes mais risco de mortalidade e morbidade materna, aumento dos riscos de prematuridade e mortalidade neonatal, recuperação mais difícil da mãe, maior período de separação entre mãe/bebê com retardo do início da amamentação e elevação de gastos para o sistema de saúde. Foto: Divulgação Isabella: "O Brasil é um dos líderes mundiais em cesarianas"  
  • 2. O Ministério da Saúde (MS) tem empenhado esforços na diminuição das taxas de cesarianas no Brasil há décadas. Em 1997, o CFM lançou a campanha "Natural é o Parto Normal". Após essa campanha, o MS intensificou o Programa de Assistência à Saúde da Mulher, com medidas como aumento de recursos para os procedimentos de partos normais, incentivo à criação de serviços de alto risco com remuneração diferenciada, pagamento de analgesia nos partos normais, entre outras. Apesar de todas as medidas adotadas para coibir as cesáreas desnecessárias, o número continua a subir, mostrando que outras estratégias se fazem necessárias. Um estudo encomendado pela Organização Mundial da Saúde e publicado em 1999 no British Medical Journal, de autoria de José Belizan e cols, demonstrou que, em 19 países da América Latina, mais de 850.000 cesarianas desnecessárias eram realizadas por ano. O Brasil é um dos líderes mundiais em cesarianas, com taxas, desde o início da década de 80, em torno de 30% (na saúde pública, houve crescimento das taxas de cesáreas, de 14,6% em 1970 para 31,0% em 1987, chegando a 27,5% em 2004). Na saúde privada (planos de saúde), segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as taxas estão em torno de 80% (2006). Vários estudos apontam que possíveis explicações para taxas tão altas estejam diretamente ligadas a fatores sócio-culturais, dentre elas: as conveniências de tempo e financeiras para o profissional médico, o modelo de organização da assistência obstétrica no país, a falta de leitos nos pré-partos dos hospitais, a cultura da "cesariana a pedido da mãe" e a possibilidade de realização concomitante de ligadura de trompas durante a cirurgia. Muitas mulheres associam o parto vaginal à dor e desconhecem o fato de que é possível utilizar anestesia/analgesia durante o processo. Outro medo comum nas gestantes é o relacionado à elasticidade vaginal, que poderia ficar comprometida após o parto. Por isso é preciso conscientizar as mulheres de que nascimentos por via vaginal e com períneo intacto são plenamente possíveis na maioria das vezes, não causando "frouxidão do períneo", nem problemas sexuais no futuro. A episiotomia (corte no períneo que ajuda o bebê a passar) pode ser feita, mas estudos baseados em evidências científicas mostram que nem sempre ela é necessária. Mesmo nos dias de hoje, as cesarianas não são isentas de risco. À exceção das situações em que existem indicações médicas precisas para cesariana, o correto é esperar o início do trabalho de parto e aguardar sua evolução. Se tudo correr bem, não há motivo para realizá-la. Programar o nascimento sem nem mesmo deixar a gestante entrar em trabalho de parto é transformar o parto normal, um ato fisiológico, num ato operatório - o parto cesáreo - e traz muitas desvantagens para a mulher e para o bebê. Mulheres que dão à luz por meio de parto vaginal/normal têm recuperação mais rápida e maior facilidade no início da amamentação, pois estímulos hormonais naturalmente se encarregam de "fazer o leite descer". Estudos mostram que quando a gestante está bem informada sobre essas possibilidades, o parto tem maiores chances de ser mais saudável e ela
  • 3. pode expressar maior satisfação com a experiência. O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou recentemente que uma das principais metas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Saúde é reduzir, até 2011, a quantidade de operações cesarianas para 60% na rede particular e 25% nas maternidades públicas. *Isabella de Oliveira é graduada em medicina pela UFRJ, com título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia e MBA em Gestão Avançada de Sistemas de Saúde. É mestre em Ciências da Saúde pela UNB e atua no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento Médico do Grupo Medial Saúde.