SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z 
NAodeixo 
mAisoue 
meAgridAm 
Há dois assuntos sobre os quais Bárbara Paz, 
definitivamente, não gosta de falar. O primeiro é seu passado 
trágico, de menina órfã de pai e mãe que saiu de Campo 
Bom, pequena cidade de 58 mil habitantes no interior do Rio 
Grande do Sul, para tentar a vida em São Paulo – e que, 
antes de virar a bem-sucedida atriz da TV Globo, enfrentou 
dor, fome e solidão. O segundo é seu casamento com o 
cineasta Hector Babenco, 67 anos, quase 30 a mais do que 
ela. Nesta entrevista exclusiva, ela fala sobre ambos 
p o r A d r i a n a N e g r e i r o s f o t o E d u a r d o R e z e n d e 
de família pobre, caçula de qua-tro 
irmãs, Bárbara aprendeu tudo 
o que sabe sobre a vida na práti-ca 
– aos 17 anos, quando se mu-dou 
para São Paulo, começou, 
com uma avidez quase desespe-rada, 
sua própria busca do tempo 
perdido. Tão rapidamente quan-to 
pôde, leu livros, viu filmes, ou-viu 
discos. “Sempre tive sede de 
conhecimento”, conta. Ganhava 
a vida como modelo quando en-frentou 
uma nova tragédia – um 
acidente de carro que lhe deixou 
cicatrizes no rosto. Em 2001, sua 
sorte começaria a mudar em defi-nitivo. 
Venceu o primeiro reality 
show daTV brasileira, a Casa dos 
Artistas, no SBT, e na sequência 
74 agosto 2013 
ganhou reconhecimento como 
atriz de teatro. Em 2009, estrea-ria 
naTVGlobo com a alcoólatra 
Renata, da novela Viver a Vida. 
Hoje, aos 38 anos, Bárbara 
Paz está em sua terceira novela 
na Globo. Em Amor à Vida, do 
horário das 9, dá vida à estilista 
Edith, ex-prostituta casada com 
o homossexual Félix, vilão inter-pretado 
pelo ator Mateus Solano. 
A rotina espartana de gravações 
obriga a atriz a acordar diariamen-te 
antes das 7 e, muitas vezes, vi-rar 
noites no Projac, o centro de 
produções da emissora.Otraba-lho 
intenso não impede Bárbara 
de se dedicar a outras atividades, 
como dois documentários – um 
deles sobre o marido e outro sobre 
um bailarino turco –, um livro e 
o planejamento de duas peças de 
teatro.Uma tentativa de fazer psi-cologia 
barata talvez levasse a con-cluir 
que ela age assim por fuga. 
“Quando não estou produzindo, 
fico triste, impotente, parece que 
não habito o mundo”, afirma. A 
atriz, no entanto, prefere crer em 
vício. “Talvez eu seja apenas uma 
workaholic.” Na noite do dia 10 
de julho, Bárbara recebeu Marie 
Claire em um restaurante bada-lado 
da Barra da Tijuca, na zo-na 
oeste do Rio de Janeiro, para 
a conversa a seguir. Pediu meia 
garrafa de vinho, para aquecer o 
corpo e inspirar a alma.
e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z 
MARIE CLAIRE Olivro que vo-cê 
está escrevendo é uma au-tobiografia? 
BÁRBARAPAZÉde tudoumpou-co. 
Tempoesias, contos, inquieta-ções 
de uma vida. São coisas que 
venho esboçando ao longo dos 
anos e a primeira vez que tive co-ragem 
de mandar para alguémfoi 
agora, para uma amiga escritora. 
MCVocê temmedode se expor 
ao publicar algo tão íntimo? 
BP Não tenho, já me expus de-mais. 
Tenho mais medo que me 
exponham. Estou em um mo-mento 
em que só quero falar do 
que me interessa. Se é para me ex-por, 
que seja do meu jeito. Pou-cas 
pessoas conhecem meu lado 
poético, melancólico. Ninguém 
conhece essa Bárbara. 
MC Será que você não tem 
umaimagemmelancólica con-solidada? 
76 agosto 2013 
Não me refiro só ao 
seu passado trágico, mas a al-go 
que você já definiu como 
um“olhar triste” que cai bem 
em alguns papéis. 
BP Eu me refiro ao que escrevo. E 
não sei qual é a imagem que te-nho 
no mercado, não estou preo-cupada 
com isso. Só quero fazer 
um bom trabalho e, para tanto, 
tenho de me doar muito. O que 
tenho dentro de mim traz melan-colia. 
E eu não aguento mais fa-lar 
da minha história porque fi-ca 
repetitivo, parece que só quero 
contar a minha vida trágica. As 
cicatrizes ficam, mas a minha vi-da 
não é trágica há algum tempo. 
MCVocê certa vez disse: “Nun-ca 
pentearam o meu cabelo”. 
Órfã de pai e com uma mãe 
doente, você cresceu sem cui-dados 
e referências, inclusive 
de livros e filmes, certo? 
BP Total. Meu livro é minha vida. 
Depois dos 17 anos, quando mi-nha 
mãe morreu, é que fui buscar 
o conhecimento. Não me lembro 
de um livro que a minha mãe te-nha 
lido, porque ela não podia, 
estava na cama, sofria muito. Eu 
preferia falar com ela e ouvir as 
histórias que me contava. Isso aju-dava 
a passava a dor que ela sentia. 
vez essas pessoas não tenham me 
dado o valor que merecia.Emvez 
de colocar a minha personalida-de 
e a minha opinião em nossas 
reuniões, eu não me expus. Mas o 
Hector sempre me ajudou muito. 
MC Oque ele dizia a respeito 
desse seu sentimento? 
BP Ele não concordava, não acei-tava. 
Dizia: “Pare de se sentir as-sim. 
Você tem uma história de vi-da 
que muitas pessoas que sabem 
tudo, falam todas as línguas, le-ram 
tudo e viram todos os filmes 
não tiveram. Você tem a maior ri-queza, 
que é a sua vida, e está in-do 
atrás do resto”. 
MC Bem, faz sentido. 
BP Éumconflito interno. É aque-la 
coisa do respeito, de quem vem 
do interior. Às vezes, ainda sou 
a menina do interior. A que se 
sente saindo lá de Campo Bom, 
tentando conquistar o mundo e 
pensando: “Mãe, eu vou vencer, 
eu vou ser alguém”. 
MC E o que seus amigos 
acham disso? 
BPQuandomeveemnessa turma, 
não me reconhecem. “Você mu-da 
muito”, eles falam. Mas eu não 
consigo ser diferente. Nós somos 
os nossos leões, com quem temos 
de brigar a vida toda. Quando co-meço 
a namorar alguém, sempre 
penso: “O que vou apresentar pa-ra 
essa pessoa?”. Não tenho pai, 
mãe, minha família é totalmente 
desestruturada. A família sou eu. 
E isso me faz sempre me sentir 
inferior. Mas os anos vão passan-do 
e você entende que vão gos-tar 
de você no seu todo – mes-mo 
não tendo bens, não falando 
todas as línguas, não tendo viaja-do 
o mundo inteiro. E a escolha 
foi minha. Eu escolhi andar com 
essas pessoas mais inteligentes. 
MCVocê poderia ter escolhido 
um caminho mais fácil, não? 
BP Poderia, mas eu gosto da difi- 
vezes, 
sou a menina 
do interior 
tentando 
conquistar 
o mundo” 
MC Houve um momento em 
que você se comparou a ou-tras 
pessoas e se sentiu dimi-nuída 
por isso? 
BP Muito. Aliás, me sinto assim 
até hoje, embora atualmente es-se 
sentimento de inferioridade es-teja 
mais suavizado. Somente os 
inteligentes me interessam, e eu 
quero estar junto deles para me 
tornar uma pessoa melhor. Tenho 
de andar com gente mais inteli-gente 
do que eu. Sempre busquei 
pessoas mais velhas, mais cultas, 
porque queria me alimentar. 
MC Mas isso tem um preço. 
BP Sim. Isso me fez sentir infe-rior 
sempre. Sou casada com um 
homem mais velho e muito inte-ligente 
que está cercado de inte-lectuais, 
jornalistas, cineastas. São 
pessoas de conhecimento e vivên-cia 
muito superiores aos meus 
– eles têm quase três gerações a 
mais. E tenho tido de enfrentar 
isso nesses anos. Eu nunca contei 
isso para ninguém, mas acho que 
posso falar agora porque já me 
sinto bem melhor. O fato é que 
sempre me senti inferior. E, sim, 
era menor. Eu dizia: “Quando os 
maiores falam, eu calo”. E, como 
me calo porque quero escutar, tal-Às 
Realização: SandRa BittencouRt / Beleza: HenRique MaRtinS (capa Mgt) / 
pRodução de Moda: aManda BeRtagnoni / tRataMento de iMageM: RicaRdo MontanHa / aSSiStente de foto: denny SacH
agosto 2013 77 
culdade. Não sofro porque é uma 
coisa pequena, mas sei como é o 
preconceito por eu ser casada com 
um homem mais velho. 
MCVocê escuta muitos comen-tários 
maldosos sobre sua re-lação 
como Babenco? 
BP Não ouço, porque não fa-lam 
para mim. As pessoas não 
entendem o que é a nossa re-lação. 
Criam estereótipos e ró-tulos. 
Só nós dois sabemos co-mo 
o nosso relacionamento é 
lindo. Como temos respeito e 
admiração por esse nosso mo-mento. 
Que é efêmero, porque 
não sabemos o dia de amanhã. 
MC Como assim? 
BP Eu tenho 38 anos. Ele tem 67. 
Sabemos para onde a vida vai ca-minhar. 
São muitos fatores. Sa-bemos 
que nosso relacionamen-to 
vai ser para sempre, mas não 
sabemos os rumos que vai tomar. 
Eu estou começando a ir para a 
metade da vida. Ele está se aproxi-mando 
de uma segunda metade. 
MCVocês chegam a conversar 
sobre isso? 
BP Sim, temos essa sensibilidade. 
Estou vivendo um momento de 
mudanças.OHector tem a vida 
dele constituída, mas chega uma 
hora delicada em que vou ter que 
decidir onde colocar tudo o que 
construí, sabe? É um momento 
de escolhas. Estouumpouco can-sada 
de cuidar de mim. Eu que-ro 
ter um filho. Mas para isso eu 
preciso ter a certeza da estabilida-de. 
Como passei muita necessida-de 
na vida, não quero que o meu 
filho passe pelo mesmo. 
MC Que tipo de necessidade? 
BP Eu varria o pátio do clube e, 
em quatro semanas, ganhava uma 
carteirinha para poder usar a pis-cina 
no verão. Eu tinha uns 7, 8 
anos, varria dançando, me dava 
uma felicidade imensa porque ia 
poder usar a piscina. Mas eu pas-sava 
a tarde inteira na piscina na-dando, 
no sol, e, quando saía de 
lá, morrendo de fome, não tinha 
dinheiro para comprarumpicolé. 
Lembro até hoje de um cachorro-quente 
que tinha no clube, mui-to 
gostoso. Uma vez por semana 
eu conseguia comprar. Mas, nos 
outros dias, não. Aquilo me doía 
muito. Eu sempre pensava que 
alguma coisa boa ia acontecer, e 
acontecia – alguém me pagava 
um cachorro-quente ou eu po-dia 
comer e pagar depois. Claro 
que essa necessidade toda me fez 
melhor, me transformou na gla-diadora 
que sou hoje, mas não 
quero dar isso para uma criança. 
Não quero que ela não possa rece-ber 
o presente que quis no Natal. 
MC Bárbara, fique tranquila. 
Isso não vai acontecer. 
BP Mas a carreira de atriz é mui-to 
instável! Por isso eu não sou só 
atriz. Se não tiver trabalho aqui, 
faço outras coisas – posso pintar, 
maquiar, escrever, dirigir. Eu te-nho 
paúra. Não quero isso para o 
los têm mais força para seguir 
em frente. Você concorda? 
BP Sim, eu sou essa pessoa por 
causa da minha história. Ela me 
fez melhor, mas me deixou mar-cada. 
Há buracos que não fecham 
e nem a análise resolve. Eu sei que 
tenho um vazio paternal. E co-mo 
preencho isso? Por isso que 
me envolvo com homens mais 
velhos? Talvez. Sim. Mas está re-solvido, 
não tenho problemas. 
Tento preencher os meus vazios 
do melhor jeito possível, não me 
importa o que os outros pensem. 
A minha atitude é livre. 
MC Você se sente bem na TV 
Globo e pertencendo ao uni-verso 
das celebridades? 
BP Quando estou no Projac, es-tou 
inteira. Tenho muito orgu-lho 
de trabalhar na TV Globo. 
Tenho vários amigos do teatro 
que estão se rendendo à televisão, 
que cansaram de contar moedi-nha 
para comprar um hambúr-guer 
para a filha. E, quanto ao 
universo das celebridades, eu fa-ço 
parte disso. Eu me tornei co-nhecida 
do grande público em 
um reality show (Casa dos Artis-tas, 
no SBT, em 2001). Não me 
sinto nem um pouco forçada a 
nada, amo o que faço. 
MC Você já se sentiu forçada 
em alguma situação? 
BP Sim. Porque eu precisava de 
dinheiro, fiz um clipe dos Titãs, 
muitos anos atrás, que eu detes-to. 
Adoro os Titãs, mas o clipe é 
de muito mau gosto. Eu apareço 
mostrando os seios. Nada me dei-xou 
mais triste do que ver aque-le 
clipe. Eu precisava da grana 
para pagar o IPTU, o seguro do 
carro, essas coisas básicas. Mas 
foi uma coisa muito violenta. Eu 
me senti atacada, para mim foi 
muito agressivo. Hoje não dei-xo 
mais que façam isso comigo. 
Graças a Deus cheguei aqui e não 
Sei como é 
o preconceito 
por eu ser 
casada com 
um homem 
mais velho” 
meu filho. Era uma criancinha e 
chegava às lojas pedindo empre-go. 
As pessoas davam risada. Eu 
fazia flores para botar no cabe-lo, 
artesanato. No Natal, a mi-nha 
mãe não me dava a boneca 
que eu queria. E eu nem chora-va, 
porque sabia que ela não po-dia 
comprar o brinquedo. 
MC Há quem diga que pes-soas 
que superaram obstácu-
e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z 
deixo mais me agredirem. Já le-vei 
tanta porrada da vida, sabe? 
MC Quando olha a sua vida 
em retrospectiva, você sente 
orgulho do que vê? 
BP Sinto muito, mas não sei por-que 
e nem para quê. Eu sempre 
quero que a pessoa que está co-migo 
tenha orgulho, não eu. Às 
vezes, penso: “Para que fiz tudo 
isso?”. Eu queria fazer coisas para 
mostrar para minha mãe. Quan-do 
acaba a peça de teatro, por 
exemplo, a plateia vai embora e 
dá um vazio... Eu falo: “E não 
ficou ninguém?”. Mas o fato é 
que conquistei tudo o que pro-meti 
para mim mesma. Até mais. 
MC Você prometeu isso para 
sua mãe? 
BP Prometi. Eu falei para ela: 
“Vou ser alguém na vida, pode 
acreditar em mim”. Eu me lem-bro 
indo embora da cidade com 
duas malas, sozinha, caminhan-do 
sete quadras para pegar o ôni-bus. 
Eu olhava para trás e sabia 
que não ia voltar. Eu dizia, com 
meu All Star rasgado: “Vou achar 
um espaço no mundo pra mim”. 
MCTinha grandes chances de 
dar errado, mas deu certo. 
BP Vejo que valeu a pena e que 
eu consegui. Quantas pessoas 
não conseguem? Então, o que 
vier agora é lucro. Mas é claro 
que quero mais. E me pergunto: 
“Mas querer mais para quem?”. 
É por isso que preciso de ou-tro 
alguém, e esse alguém tem 
de chegar. Tem de vir um filho. 
MCVocê completa 40 anos em 
outubro de 2014. Já sente os si-nais 
da idade? 
BP Meu corpo e minha energia 
não me dizem que vou fazer 40 
anos. Antigamente, com essa ida-de 
você já era uma idosa. Eu vejo 
o envelhecimento pelas minhas 
mãos. É engraçado, porque elas 
estão ficando cada vez mais pare-cidas 
78 agosto 2013 
com as da minha mãe. De 
vez em quando, olho para elas 
e penso: “Não posso esquecer a 
minha história jamais, porque ela 
está nas minhas mãos”. 
MC Você está em crise com a 
idade? 
BP Não é uma coisa que me preo-cupa. 
Às vezes olho para meni-nas 
muito mais jovens e vejo que 
estão bem mais envelhecidas do 
que eu. Cuido muito de mim e 
estou atenta ao futuro, para li- 
MC Um clichê sobre relacio-namentos 
diz que os homens 
têm medo de mulheres bem-sucedidas. 
Será? 
BP Não creio. O homem gosta 
de mulher independente, mas 
que respeite os valores femini-nos. 
Nos últimos tempos, os 
homens se retraíram. E o que 
deveria ter feito a mulher? Fi-car 
na dela e esperar o homem 
vir conquistá-la. Mas elas, ao 
contrário, avançam! 
MCAs feministas vão ficar ou-riçadas 
com sua teoria. 
BP Ah, é? Elas não vão gostar? 
MC Desconfio que não. 
BP Ai, meu Deus! Eu não que-ro 
ser antifeminista. O que eu 
acho é que a gente tem de ser 
ativa em tudo na vida, mas não 
pode perder a essência da mu-lher. 
Se você gosta de um rela-cionamento 
heterossexual, tem 
de respeitar isso. Não quero di-zer 
que seja preciso ser mulher-zinha. 
Mas, muitas vezes, a mu-lher 
afasta o homem porque to-ma 
muita atitude na hora do pri-meiro 
beijo, da primeira transa, 
faz a primeira ligação. Eu tenho 
padrões antigos, infelizmente. 
MCOunão,quemhádesaber? 
BP Só que eu não quero ser an-tifeminista! 
Eu sinto que as me-ninas 
da minha geração, quando 
estão a fim de um homem, vão 
atrás, ligam, sufocam o cara. Eu 
falo para elas: “Calma! Não li-gue, 
espere ele ligar”. Porque eu 
acho que, se o homem está in-teressado, 
ele vai ligar. Homem 
não gosta de mulher que corre 
atrás dele. Eu gosto do mistério, 
de ser conquistada. Algumas mu-lheres 
estão enlouquecendo pela 
falta de homens querendo rela-cionamento 
estável. Têm pavor 
de ficar sozinhas. Eu, pelo me-nos, 
adoro estar casada. Gosto de 
dividir a vida com alguém. 
A mulher 
deveria ficar 
na dela e 
esperar o 
homemvir 
conquistá-la” 
dar com isso de uma forma tran-quila. 
Tem mulheres que piram. 
Começam a fazer plásticas e não 
adianta nada, porque só mexem 
na casca. Eu acho muito bonito 
quem sabe envelhecer bem. Per-to 
dos 40 o mar acalma, a gente 
vê a vida sob outro prisma e fi-ca 
mais sábia. Mas é óbvio que a 
gente perde muitas coisas. 
MC Quero crer que também 
ganhamos. 
BP Será? Bem, converso com mu-lheres 
mais velhas, no auge dos 
50 anos, e sempre tem uma ou 
outra que se separou, mas já es-tá 
namorando de novo. A gente 
sempre acha que, se nos separar-mos, 
ninguém vai mais nos que-rer. 
Muito pelo contrário. Se vo-cê 
envelhece bem, tem para todos 
os gostos. Fico triste quando vejo 
mulheres com dinheiro, com tu-do 
para ser felizes, mas que estão 
gordas, desleixada, com maridos 
que nem olham mais para elas. 
BÁRBaRa uSa: paletó e calça de gaBaRdine HeRcHcovitcH;alexandRe, caMiSa de Seda Reinaldo louRenço

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

A última rosa
A última rosaA última rosa
A última rosa
 
Parabéns sofia!
Parabéns sofia!Parabéns sofia!
Parabéns sofia!
 
Bilhete
BilheteBilhete
Bilhete
 
Caixinha pandora
Caixinha pandoraCaixinha pandora
Caixinha pandora
 
Resumo por Capítulos Amor de Perdição
Resumo por Capítulos Amor de PerdiçãoResumo por Capítulos Amor de Perdição
Resumo por Capítulos Amor de Perdição
 
Crônicas
CrônicasCrônicas
Crônicas
 
Jornal Mente Ativa 8
Jornal Mente Ativa 8Jornal Mente Ativa 8
Jornal Mente Ativa 8
 
Como Dizia O Poeta
Como Dizia O PoetaComo Dizia O Poeta
Como Dizia O Poeta
 
A chamada
A chamadaA chamada
A chamada
 
Uma Luz no Fim do Tunel
Uma Luz no Fim do Tunel    Uma Luz no Fim do Tunel
Uma Luz no Fim do Tunel
 
Corpos encarnados no passeio público
Corpos encarnados no passeio públicoCorpos encarnados no passeio público
Corpos encarnados no passeio público
 
AMOR DE PERDIÇÃO - SINTESE
AMOR DE PERDIÇÃO - SINTESE AMOR DE PERDIÇÃO - SINTESE
AMOR DE PERDIÇÃO - SINTESE
 
Projeto leitura - Beatriz 1ºC
Projeto leitura - Beatriz 1ºCProjeto leitura - Beatriz 1ºC
Projeto leitura - Beatriz 1ºC
 
Uma análise da obra amor de perdição de
Uma análise da obra amor de perdição deUma análise da obra amor de perdição de
Uma análise da obra amor de perdição de
 
Inexistente Procurado
Inexistente ProcuradoInexistente Procurado
Inexistente Procurado
 
Jornal Mente Ativa 7
Jornal Mente Ativa 7Jornal Mente Ativa 7
Jornal Mente Ativa 7
 
Catariny
CatarinyCatariny
Catariny
 
Comeu e jadeu(conto)
Comeu e jadeu(conto)Comeu e jadeu(conto)
Comeu e jadeu(conto)
 
Amor de perdição
Amor de perdiçãoAmor de perdição
Amor de perdição
 
Informação Completa 103 - novembro 2014
Informação Completa 103 - novembro 2014Informação Completa 103 - novembro 2014
Informação Completa 103 - novembro 2014
 

Semelhante a Barbara Paz

Anorexia - Dominique Brand
Anorexia - Dominique BrandAnorexia - Dominique Brand
Anorexia - Dominique BrandMoradores do Ype
 
Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)
Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)
Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)Mari Sales
 
Vida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitosVida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitosMARCELINO SANTOS
 
Vida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitosVida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitosMARCELINO SANTOS
 
Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013
Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013
Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013Adriana Sales Zardini
 
Poesias Para O Livro Slideshare
Poesias Para O Livro   SlidesharePoesias Para O Livro   Slideshare
Poesias Para O Livro SlideshareCRG
 
Historia sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredoHistoria sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredoIdália Ribeiro
 
A magia dos contos de fadas na minha vida v.1
A magia dos contos de fadas na minha vida   v.1A magia dos contos de fadas na minha vida   v.1
A magia dos contos de fadas na minha vida v.1Gabriela Pagliuca
 
COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...
COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...
COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...Nathália Camargo
 
Slides mão escrevendo - 2011 (1)
Slides   mão escrevendo - 2011 (1)Slides   mão escrevendo - 2011 (1)
Slides mão escrevendo - 2011 (1)proinfopccurso
 

Semelhante a Barbara Paz (20)

06 x07 mh-tv1-13-04-14
06 x07 mh-tv1-13-04-1406 x07 mh-tv1-13-04-14
06 x07 mh-tv1-13-04-14
 
Garota Impulso Paixão
Garota Impulso PaixãoGarota Impulso Paixão
Garota Impulso Paixão
 
Anorexia - Dominique Brand
Anorexia - Dominique BrandAnorexia - Dominique Brand
Anorexia - Dominique Brand
 
Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)
Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)
Selvagem Moto Clube (Mulheres no Poder - Livro 1) (Degustação)
 
Vida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitosVida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitos
 
Vida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitosVida por detrás dos conflitos
Vida por detrás dos conflitos
 
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL (Preconceito)
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL (Preconceito)INTERPRETAÇÃO TEXTUAL (Preconceito)
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL (Preconceito)
 
Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013
Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013
Cartas para madame austen edição 06 maio de 2013
 
Poesias Para O Livro Slideshare
Poesias Para O Livro   SlidesharePoesias Para O Livro   Slideshare
Poesias Para O Livro Slideshare
 
Historia sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredoHistoria sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredo
 
Me
MeMe
Me
 
Desafio #15anosem15dias v03
Desafio #15anosem15dias v03Desafio #15anosem15dias v03
Desafio #15anosem15dias v03
 
A magia dos contos de fadas na minha vida v.1
A magia dos contos de fadas na minha vida   v.1A magia dos contos de fadas na minha vida   v.1
A magia dos contos de fadas na minha vida v.1
 
De Repente 60
De Repente 60De Repente 60
De Repente 60
 
COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...
COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...
COISAS QUE SÓ UMA MULHER ENTENDE E OUTRAS CRÔNICAS DO COTIDIANO FEMININO - Al...
 
Meu museu
Meu museuMeu museu
Meu museu
 
Os olhos já não podem ver
Os olhos já não podem verOs olhos já não podem ver
Os olhos já não podem ver
 
Bandeira Paulista
Bandeira PaulistaBandeira Paulista
Bandeira Paulista
 
Ponto g
Ponto gPonto g
Ponto g
 
Slides mão escrevendo - 2011 (1)
Slides   mão escrevendo - 2011 (1)Slides   mão escrevendo - 2011 (1)
Slides mão escrevendo - 2011 (1)
 

Barbara Paz

  • 1. e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z NAodeixo mAisoue meAgridAm Há dois assuntos sobre os quais Bárbara Paz, definitivamente, não gosta de falar. O primeiro é seu passado trágico, de menina órfã de pai e mãe que saiu de Campo Bom, pequena cidade de 58 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul, para tentar a vida em São Paulo – e que, antes de virar a bem-sucedida atriz da TV Globo, enfrentou dor, fome e solidão. O segundo é seu casamento com o cineasta Hector Babenco, 67 anos, quase 30 a mais do que ela. Nesta entrevista exclusiva, ela fala sobre ambos p o r A d r i a n a N e g r e i r o s f o t o E d u a r d o R e z e n d e de família pobre, caçula de qua-tro irmãs, Bárbara aprendeu tudo o que sabe sobre a vida na práti-ca – aos 17 anos, quando se mu-dou para São Paulo, começou, com uma avidez quase desespe-rada, sua própria busca do tempo perdido. Tão rapidamente quan-to pôde, leu livros, viu filmes, ou-viu discos. “Sempre tive sede de conhecimento”, conta. Ganhava a vida como modelo quando en-frentou uma nova tragédia – um acidente de carro que lhe deixou cicatrizes no rosto. Em 2001, sua sorte começaria a mudar em defi-nitivo. Venceu o primeiro reality show daTV brasileira, a Casa dos Artistas, no SBT, e na sequência 74 agosto 2013 ganhou reconhecimento como atriz de teatro. Em 2009, estrea-ria naTVGlobo com a alcoólatra Renata, da novela Viver a Vida. Hoje, aos 38 anos, Bárbara Paz está em sua terceira novela na Globo. Em Amor à Vida, do horário das 9, dá vida à estilista Edith, ex-prostituta casada com o homossexual Félix, vilão inter-pretado pelo ator Mateus Solano. A rotina espartana de gravações obriga a atriz a acordar diariamen-te antes das 7 e, muitas vezes, vi-rar noites no Projac, o centro de produções da emissora.Otraba-lho intenso não impede Bárbara de se dedicar a outras atividades, como dois documentários – um deles sobre o marido e outro sobre um bailarino turco –, um livro e o planejamento de duas peças de teatro.Uma tentativa de fazer psi-cologia barata talvez levasse a con-cluir que ela age assim por fuga. “Quando não estou produzindo, fico triste, impotente, parece que não habito o mundo”, afirma. A atriz, no entanto, prefere crer em vício. “Talvez eu seja apenas uma workaholic.” Na noite do dia 10 de julho, Bárbara recebeu Marie Claire em um restaurante bada-lado da Barra da Tijuca, na zo-na oeste do Rio de Janeiro, para a conversa a seguir. Pediu meia garrafa de vinho, para aquecer o corpo e inspirar a alma.
  • 2.
  • 3. e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z MARIE CLAIRE Olivro que vo-cê está escrevendo é uma au-tobiografia? BÁRBARAPAZÉde tudoumpou-co. Tempoesias, contos, inquieta-ções de uma vida. São coisas que venho esboçando ao longo dos anos e a primeira vez que tive co-ragem de mandar para alguémfoi agora, para uma amiga escritora. MCVocê temmedode se expor ao publicar algo tão íntimo? BP Não tenho, já me expus de-mais. Tenho mais medo que me exponham. Estou em um mo-mento em que só quero falar do que me interessa. Se é para me ex-por, que seja do meu jeito. Pou-cas pessoas conhecem meu lado poético, melancólico. Ninguém conhece essa Bárbara. MC Será que você não tem umaimagemmelancólica con-solidada? 76 agosto 2013 Não me refiro só ao seu passado trágico, mas a al-go que você já definiu como um“olhar triste” que cai bem em alguns papéis. BP Eu me refiro ao que escrevo. E não sei qual é a imagem que te-nho no mercado, não estou preo-cupada com isso. Só quero fazer um bom trabalho e, para tanto, tenho de me doar muito. O que tenho dentro de mim traz melan-colia. E eu não aguento mais fa-lar da minha história porque fi-ca repetitivo, parece que só quero contar a minha vida trágica. As cicatrizes ficam, mas a minha vi-da não é trágica há algum tempo. MCVocê certa vez disse: “Nun-ca pentearam o meu cabelo”. Órfã de pai e com uma mãe doente, você cresceu sem cui-dados e referências, inclusive de livros e filmes, certo? BP Total. Meu livro é minha vida. Depois dos 17 anos, quando mi-nha mãe morreu, é que fui buscar o conhecimento. Não me lembro de um livro que a minha mãe te-nha lido, porque ela não podia, estava na cama, sofria muito. Eu preferia falar com ela e ouvir as histórias que me contava. Isso aju-dava a passava a dor que ela sentia. vez essas pessoas não tenham me dado o valor que merecia.Emvez de colocar a minha personalida-de e a minha opinião em nossas reuniões, eu não me expus. Mas o Hector sempre me ajudou muito. MC Oque ele dizia a respeito desse seu sentimento? BP Ele não concordava, não acei-tava. Dizia: “Pare de se sentir as-sim. Você tem uma história de vi-da que muitas pessoas que sabem tudo, falam todas as línguas, le-ram tudo e viram todos os filmes não tiveram. Você tem a maior ri-queza, que é a sua vida, e está in-do atrás do resto”. MC Bem, faz sentido. BP Éumconflito interno. É aque-la coisa do respeito, de quem vem do interior. Às vezes, ainda sou a menina do interior. A que se sente saindo lá de Campo Bom, tentando conquistar o mundo e pensando: “Mãe, eu vou vencer, eu vou ser alguém”. MC E o que seus amigos acham disso? BPQuandomeveemnessa turma, não me reconhecem. “Você mu-da muito”, eles falam. Mas eu não consigo ser diferente. Nós somos os nossos leões, com quem temos de brigar a vida toda. Quando co-meço a namorar alguém, sempre penso: “O que vou apresentar pa-ra essa pessoa?”. Não tenho pai, mãe, minha família é totalmente desestruturada. A família sou eu. E isso me faz sempre me sentir inferior. Mas os anos vão passan-do e você entende que vão gos-tar de você no seu todo – mes-mo não tendo bens, não falando todas as línguas, não tendo viaja-do o mundo inteiro. E a escolha foi minha. Eu escolhi andar com essas pessoas mais inteligentes. MCVocê poderia ter escolhido um caminho mais fácil, não? BP Poderia, mas eu gosto da difi- vezes, sou a menina do interior tentando conquistar o mundo” MC Houve um momento em que você se comparou a ou-tras pessoas e se sentiu dimi-nuída por isso? BP Muito. Aliás, me sinto assim até hoje, embora atualmente es-se sentimento de inferioridade es-teja mais suavizado. Somente os inteligentes me interessam, e eu quero estar junto deles para me tornar uma pessoa melhor. Tenho de andar com gente mais inteli-gente do que eu. Sempre busquei pessoas mais velhas, mais cultas, porque queria me alimentar. MC Mas isso tem um preço. BP Sim. Isso me fez sentir infe-rior sempre. Sou casada com um homem mais velho e muito inte-ligente que está cercado de inte-lectuais, jornalistas, cineastas. São pessoas de conhecimento e vivên-cia muito superiores aos meus – eles têm quase três gerações a mais. E tenho tido de enfrentar isso nesses anos. Eu nunca contei isso para ninguém, mas acho que posso falar agora porque já me sinto bem melhor. O fato é que sempre me senti inferior. E, sim, era menor. Eu dizia: “Quando os maiores falam, eu calo”. E, como me calo porque quero escutar, tal-Às Realização: SandRa BittencouRt / Beleza: HenRique MaRtinS (capa Mgt) / pRodução de Moda: aManda BeRtagnoni / tRataMento de iMageM: RicaRdo MontanHa / aSSiStente de foto: denny SacH
  • 4. agosto 2013 77 culdade. Não sofro porque é uma coisa pequena, mas sei como é o preconceito por eu ser casada com um homem mais velho. MCVocê escuta muitos comen-tários maldosos sobre sua re-lação como Babenco? BP Não ouço, porque não fa-lam para mim. As pessoas não entendem o que é a nossa re-lação. Criam estereótipos e ró-tulos. Só nós dois sabemos co-mo o nosso relacionamento é lindo. Como temos respeito e admiração por esse nosso mo-mento. Que é efêmero, porque não sabemos o dia de amanhã. MC Como assim? BP Eu tenho 38 anos. Ele tem 67. Sabemos para onde a vida vai ca-minhar. São muitos fatores. Sa-bemos que nosso relacionamen-to vai ser para sempre, mas não sabemos os rumos que vai tomar. Eu estou começando a ir para a metade da vida. Ele está se aproxi-mando de uma segunda metade. MCVocês chegam a conversar sobre isso? BP Sim, temos essa sensibilidade. Estou vivendo um momento de mudanças.OHector tem a vida dele constituída, mas chega uma hora delicada em que vou ter que decidir onde colocar tudo o que construí, sabe? É um momento de escolhas. Estouumpouco can-sada de cuidar de mim. Eu que-ro ter um filho. Mas para isso eu preciso ter a certeza da estabilida-de. Como passei muita necessida-de na vida, não quero que o meu filho passe pelo mesmo. MC Que tipo de necessidade? BP Eu varria o pátio do clube e, em quatro semanas, ganhava uma carteirinha para poder usar a pis-cina no verão. Eu tinha uns 7, 8 anos, varria dançando, me dava uma felicidade imensa porque ia poder usar a piscina. Mas eu pas-sava a tarde inteira na piscina na-dando, no sol, e, quando saía de lá, morrendo de fome, não tinha dinheiro para comprarumpicolé. Lembro até hoje de um cachorro-quente que tinha no clube, mui-to gostoso. Uma vez por semana eu conseguia comprar. Mas, nos outros dias, não. Aquilo me doía muito. Eu sempre pensava que alguma coisa boa ia acontecer, e acontecia – alguém me pagava um cachorro-quente ou eu po-dia comer e pagar depois. Claro que essa necessidade toda me fez melhor, me transformou na gla-diadora que sou hoje, mas não quero dar isso para uma criança. Não quero que ela não possa rece-ber o presente que quis no Natal. MC Bárbara, fique tranquila. Isso não vai acontecer. BP Mas a carreira de atriz é mui-to instável! Por isso eu não sou só atriz. Se não tiver trabalho aqui, faço outras coisas – posso pintar, maquiar, escrever, dirigir. Eu te-nho paúra. Não quero isso para o los têm mais força para seguir em frente. Você concorda? BP Sim, eu sou essa pessoa por causa da minha história. Ela me fez melhor, mas me deixou mar-cada. Há buracos que não fecham e nem a análise resolve. Eu sei que tenho um vazio paternal. E co-mo preencho isso? Por isso que me envolvo com homens mais velhos? Talvez. Sim. Mas está re-solvido, não tenho problemas. Tento preencher os meus vazios do melhor jeito possível, não me importa o que os outros pensem. A minha atitude é livre. MC Você se sente bem na TV Globo e pertencendo ao uni-verso das celebridades? BP Quando estou no Projac, es-tou inteira. Tenho muito orgu-lho de trabalhar na TV Globo. Tenho vários amigos do teatro que estão se rendendo à televisão, que cansaram de contar moedi-nha para comprar um hambúr-guer para a filha. E, quanto ao universo das celebridades, eu fa-ço parte disso. Eu me tornei co-nhecida do grande público em um reality show (Casa dos Artis-tas, no SBT, em 2001). Não me sinto nem um pouco forçada a nada, amo o que faço. MC Você já se sentiu forçada em alguma situação? BP Sim. Porque eu precisava de dinheiro, fiz um clipe dos Titãs, muitos anos atrás, que eu detes-to. Adoro os Titãs, mas o clipe é de muito mau gosto. Eu apareço mostrando os seios. Nada me dei-xou mais triste do que ver aque-le clipe. Eu precisava da grana para pagar o IPTU, o seguro do carro, essas coisas básicas. Mas foi uma coisa muito violenta. Eu me senti atacada, para mim foi muito agressivo. Hoje não dei-xo mais que façam isso comigo. Graças a Deus cheguei aqui e não Sei como é o preconceito por eu ser casada com um homem mais velho” meu filho. Era uma criancinha e chegava às lojas pedindo empre-go. As pessoas davam risada. Eu fazia flores para botar no cabe-lo, artesanato. No Natal, a mi-nha mãe não me dava a boneca que eu queria. E eu nem chora-va, porque sabia que ela não po-dia comprar o brinquedo. MC Há quem diga que pes-soas que superaram obstácu-
  • 5. e nt r evi s ta do mês bÁ r ba ra pa z deixo mais me agredirem. Já le-vei tanta porrada da vida, sabe? MC Quando olha a sua vida em retrospectiva, você sente orgulho do que vê? BP Sinto muito, mas não sei por-que e nem para quê. Eu sempre quero que a pessoa que está co-migo tenha orgulho, não eu. Às vezes, penso: “Para que fiz tudo isso?”. Eu queria fazer coisas para mostrar para minha mãe. Quan-do acaba a peça de teatro, por exemplo, a plateia vai embora e dá um vazio... Eu falo: “E não ficou ninguém?”. Mas o fato é que conquistei tudo o que pro-meti para mim mesma. Até mais. MC Você prometeu isso para sua mãe? BP Prometi. Eu falei para ela: “Vou ser alguém na vida, pode acreditar em mim”. Eu me lem-bro indo embora da cidade com duas malas, sozinha, caminhan-do sete quadras para pegar o ôni-bus. Eu olhava para trás e sabia que não ia voltar. Eu dizia, com meu All Star rasgado: “Vou achar um espaço no mundo pra mim”. MCTinha grandes chances de dar errado, mas deu certo. BP Vejo que valeu a pena e que eu consegui. Quantas pessoas não conseguem? Então, o que vier agora é lucro. Mas é claro que quero mais. E me pergunto: “Mas querer mais para quem?”. É por isso que preciso de ou-tro alguém, e esse alguém tem de chegar. Tem de vir um filho. MCVocê completa 40 anos em outubro de 2014. Já sente os si-nais da idade? BP Meu corpo e minha energia não me dizem que vou fazer 40 anos. Antigamente, com essa ida-de você já era uma idosa. Eu vejo o envelhecimento pelas minhas mãos. É engraçado, porque elas estão ficando cada vez mais pare-cidas 78 agosto 2013 com as da minha mãe. De vez em quando, olho para elas e penso: “Não posso esquecer a minha história jamais, porque ela está nas minhas mãos”. MC Você está em crise com a idade? BP Não é uma coisa que me preo-cupa. Às vezes olho para meni-nas muito mais jovens e vejo que estão bem mais envelhecidas do que eu. Cuido muito de mim e estou atenta ao futuro, para li- MC Um clichê sobre relacio-namentos diz que os homens têm medo de mulheres bem-sucedidas. Será? BP Não creio. O homem gosta de mulher independente, mas que respeite os valores femini-nos. Nos últimos tempos, os homens se retraíram. E o que deveria ter feito a mulher? Fi-car na dela e esperar o homem vir conquistá-la. Mas elas, ao contrário, avançam! MCAs feministas vão ficar ou-riçadas com sua teoria. BP Ah, é? Elas não vão gostar? MC Desconfio que não. BP Ai, meu Deus! Eu não que-ro ser antifeminista. O que eu acho é que a gente tem de ser ativa em tudo na vida, mas não pode perder a essência da mu-lher. Se você gosta de um rela-cionamento heterossexual, tem de respeitar isso. Não quero di-zer que seja preciso ser mulher-zinha. Mas, muitas vezes, a mu-lher afasta o homem porque to-ma muita atitude na hora do pri-meiro beijo, da primeira transa, faz a primeira ligação. Eu tenho padrões antigos, infelizmente. MCOunão,quemhádesaber? BP Só que eu não quero ser an-tifeminista! Eu sinto que as me-ninas da minha geração, quando estão a fim de um homem, vão atrás, ligam, sufocam o cara. Eu falo para elas: “Calma! Não li-gue, espere ele ligar”. Porque eu acho que, se o homem está in-teressado, ele vai ligar. Homem não gosta de mulher que corre atrás dele. Eu gosto do mistério, de ser conquistada. Algumas mu-lheres estão enlouquecendo pela falta de homens querendo rela-cionamento estável. Têm pavor de ficar sozinhas. Eu, pelo me-nos, adoro estar casada. Gosto de dividir a vida com alguém. A mulher deveria ficar na dela e esperar o homemvir conquistá-la” dar com isso de uma forma tran-quila. Tem mulheres que piram. Começam a fazer plásticas e não adianta nada, porque só mexem na casca. Eu acho muito bonito quem sabe envelhecer bem. Per-to dos 40 o mar acalma, a gente vê a vida sob outro prisma e fi-ca mais sábia. Mas é óbvio que a gente perde muitas coisas. MC Quero crer que também ganhamos. BP Será? Bem, converso com mu-lheres mais velhas, no auge dos 50 anos, e sempre tem uma ou outra que se separou, mas já es-tá namorando de novo. A gente sempre acha que, se nos separar-mos, ninguém vai mais nos que-rer. Muito pelo contrário. Se vo-cê envelhece bem, tem para todos os gostos. Fico triste quando vejo mulheres com dinheiro, com tu-do para ser felizes, mas que estão gordas, desleixada, com maridos que nem olham mais para elas. BÁRBaRa uSa: paletó e calça de gaBaRdine HeRcHcovitcH;alexandRe, caMiSa de Seda Reinaldo louRenço