O documento discute como a visão da objetividade científica mudou ao longo do tempo. Positivistas viam a ciência como objetiva e baseada em fatos, mas pensadores posteriores como Popper, Kuhn e Rorty argumentam que a ciência é um esforço intersubjetivo e depende do contexto cultural e dos valores dos cientistas. A racionalidade científica é agora vista como relativa e condicionada, em vez de absoluta.
1. 1. Objectividade Científica
Finalidade do conhecimento científico Estatuto do conhecimento objectivo
Refere-se apenas ao
Como atingir? objecto do estudo
Abstrair-se da sua
subjectividade Objecto independente do sujeito
que o investigou
Forma pessoal de entender o
objecto, valores, interesses,
crenças.
Estatuto da Objectividade Científica é conseguido?
a) Positivismo e Neopositivismo b) Karl Popper c) Thomas Kuhn
a) Segundo o Positivismo e o Neopositivismo
Ciência: conhecimento verdadeiro e objectivo – factos
são susceptíveis a uma descrição exacta e são fruto de
uma exploração rigorosa.
Objectividade científica era assegurada pelo
rigor da medição e experimentação.
Através da medida – Elemento poderoso de objectivação pois
quantifica-se (linguagem matemática).
Através da observação – avaliação de teorias.
Isto é a forma como a ciência moderna era
entendida, associada ao paradigma da modernidade.
2. O que é um paradigma?
Pressupõe uma única forma de
conhecimento válido.
Conhecimento científico
Validade Objectividade
Separação da prática da teoria
entre a ciência e a ética.
Reduz o universo dos observáveis
ao universo dos qualificáveis.
Reduz o conhecimento científico ao
conhecimento científico matemático.
Modernidade
Admite a racionalidade Actividade científica
•Certeza
•Evidência
•Verdade
Articula os meios e os fins para garantir
antecipadamente a eficácia do acontecimento.
Previsão
Esta forma de conhecimento deu origem ao
Mito do Cientista
Leva o grande público a depositar na
ciência toda a confiança e esperança
sem se aperceber.
Estatuto da Ciência: Conhecimento
•Conhecimento;
•Verdadeiro;
•Imparcial;
•Capaz de descrever/tal
como é.
3. b) Conhecimento Objectivo segundo Karl Popper
Popper afasta-se do neopositivismo e positivismo
Cientista não é um observador indiferente
Factos não são puros
Para Popper:
Cientista: investigador activo
•Comprometido com ideias, valores, princípios
•Ser crítico e criativo
Ciência: •Há que buscar na fantasia que procura explicar-nos o
universo.
•Obra: teorias
•Objectivo: verdade ou a sua aproximação (capacidade
explicativa)
•Crítica: autocrática e crítica através do trabalho comum
Se o investigador deixar passar um erro
e o procura encobrir, este será
descoberto por outros investigadores.
•Método: autocrítica e crítica recíproca
Avalia a teoria segundo os resultados e não
pela procura de verdade (crítica racional).
Comparação de Popper:
Investigador/ Artista
Obra do investigador/ Obra de arte
A ciência: nunca encontra a verdade mas aproxima-se dela.
•Deduz consequências que coincidem com experiência, ou seja, substitui
actividade indutiva por conjecturas.
•Teorias são conjecturais e nunca categóricas, ou seja, nunca atinge a verdade,
apenas de aproxima dela (teoria nunca é verdadeira, mas sim verosímil).
•Função empírica refuta-a/não a confirma.
•Nunca surge por indução a partir de factos ou observações simples.
4. Estatuto da ciência: teorias científicas são meras conjecturas que devem ser postas à
prova, ou seja, falsificadas, logo não se atingem certezas. A objectividade e a verdade
são só aproximações. Uma teoria não é verdadeira, mas sim, mais ou menos verosímil.
c) Segundo Thomas Kuhn
Publicação – Estrutura das revoluções científicas
A evolução da ciência depende do trabalho dos cientistas.
Debruçou-se sobre o estudo da produção da ciência.
Segundo Kuhn:
•Cientista não é um sujeito neutro nem isolado, mas condicionado e
contextualizado.
•Construção de teorias cientificas depende do conjunto de factos,
conhecimentos, regras e técnicas aceites pela maioria dos cientistas.
Paradigma Científico
Ciência:
•actividade integrada institucionalmente pois só nas
comunidades cientificas, e só nelas, se faz ciência.
• Esta funciona consoante o paradigma que toda a
comunidade aceita. Procede a aplicações e resolução de
problemas previstos ou previsíveis.
A isto Kuhn chama de Ciência Normal – cientista fazem por
manter e só quando o paradigma adoptado não suporta o
confronto com as anomalias se procura outro.
5. É nestas situações que a ciência muda de regime – procurando:
Sair da “crise”, repondo o regime anterior Propor um novo regime
Dando origem a uma revolução científica
Sendo que a teoria que esta oferece é mais
ampla (explica o que já explicava, e o que ainda
não era explicável); induz um abismo entre o
novo regime e o antigo (impõem-se novos
métodos e introduz novos problemas e novas
soluções).
Em suma, a concepção da ciência:
•Mudança de paradigma não é comutativa,
pois responde a um modo qualitativamente
diferente (ex: imagens da psicologia da forma).
•Verdade e objectividade são relativas ao
paradigma (ex: três concepções de espaço).
•Método científico não se reduz à
experimentação.
•Método científico depende da argumentação.
A escolha de teorias rivais obedece a critérios.
Partilhados por toda a Individuais
comunidade científica
Dependem de factores subjectivos - o
Dependem de factores que cada cientista pensa em relação à
objectivos – princípios, teoria que elege.
regras, valores adoptados.
6. Critérios objectivos empregues para
todos os cientistas na avaliação de
diferentes teorias:
•Consistência
•Alcance
•Simplicidade
•Fecundidade
Por serem partilhados permitem chegar a consensos, Critérios sujeitos para todos
ou não, pois as interpretações de dadas teorias podem os cientistas na avaliação de
variar consoante o cientista que a analisa. diferentes teorias.
Toda a escolha se baseia e depende de factores objectivos e
subjectivos, ou de critérios partilhados ou individuais.
Sujeito e objecto do conhecimentos não são puros mas
contextualizados.
Estatuto da ciência: a validade das teorias depende do paradigma
em que se insere. Cientistas devem convencer os seus pares da
comunidade em que se inserem sob as suas teorias recorrendo a
processos argumentativos.
Intersubjectividade substitui a objectividade.
7. 2) Factores que intervêm na actividade científica com a evolução da
ciência moderna
A ciência desviou-se do modelo do conhecimento, logo desviou-se do
modelo positivista e neopositivista.
Também é refutado o facto de que a objectividade
não está assegurada pela criação de instrumentos
de medida (texto 21 e 22, pág.25).
Esta não é mais vista como uma característica definitiva e
absoluta mas como um resultado incerto de uma conquista
intersubjectiva que implica controvérsia entre os sujeitos
integrados numa comunidade científica.
Os cientistas desejam o seu objectivo mas são
influenciados por vários factores que não se prendem com o
que é objectivo: a) Factores ideológicos
b) Factores económicos
c) Factores estéticos
a) Factores ideológicos – interesse que o cientista demonstra por
determinados factos em vez de outros, resultando da sua ideologia.
b) Factores económicos – investigação científica depende do
financiamento. Determinadas investigações podem ser patrocinadas,
outras não, dependendo do interesse. Por outro lado há cientistas que
usam as “suas” descobertas para enriquecer (texto 25, pág. 206)
c) Factores estéticos – escolha de modelos e teorias científicas podem
orientar-se por critérios estéticos (texto 26, pág.207). Estes estão
presentes na razão do cientista.
Ao admitirmos que tais factores condicionam a actividade do cientista
Admitimos que este se move num contexto histórico e cultural.
Actividade científica: situada e interessada
Contudo, os cientistas incorporam a objectividade nos seus valores, através da sua
própria experiência na investigação e observação.
8. 3) Racionalidade Científica
Antes Agora
•Objectiva •Intersubjectividade
•Neutra •Racionalidade condicionada e relativa
•Verdadeira, necessária e universal •Verosimilhança e plausibilidade
•Demonstração •Argumentação
•Cientista é objectivo e imparcial
Um dos modos possíveis de ler e interpretar o real
Modelo Cultural
Conhecimentos não é reflexo do real, é
uma interpretação e leitura do mesmo.
Análise do texto 29
A matriz tradicional da racionalidade conduziu Análise do texto 30
à identificação crescente do exercício da razão Segundo a opinião de Albert
com a cientificidade, à limitação das suas Einstein cada pessoa procura
principais formas pelos critérios do que é e formar uma imagem do mundo
não é a ciência, levando à associação num simples e clara. Depois de
poderoso jogo de linguagem, das noções de formada cada um irá, em certa
racionalidade, cientificidade, objectividade, medida, tentar substituir o
verdade, método, entre outras. O universo através dela. É o que
pragmatismo de Rorty tem como ponto forte pessoas como pintores, poetas,
o de que se deve libertar a ideia de filósofos ou cientistas fazem.
racionalidade da matriz científica, Cada qual opta pelo que
compreendendo a diversidade das actividades deseja/idealiza.
humanas em termos de processos de
racionalização diferenciados, governados por
matrizes diversas. Assim a ciência abandona
por completo o seu sonho iluminista de ser
um modelo da cultura.
Um dos modos possíveis de ler e interpretar o
real é o conhecimento científico. Se
conhecimento é uma interpretação do mesmo,
então a ciência situa-se entre outras formas de Bernardo Gomes
Rita Zeferino
racionalidade (pintura, poesia, filosofia) que Leonor Fonseca
também com ele se confrontam. Margarida Corado
11ºE Escola Secundária Madeira Torres