O documento discute o conceito de cultura e sua evolução ao longo dos séculos, desde atividades agrícolas até aspectos intelectuais, artísticos e religiosos. Também aborda as diferenças entre cultura e civilização segundo Elias e as abordagens da história cultural, como objetos, sujeitos e práticas estudados. Por fim, destaca contribuições de historiadores brasileiros para ampliar os temas e sujeitos da história a partir de uma perspectiva cultural.
2. O conceito de cultura foi construído através
dos séculos. Inicialmente utilizado para se
referir a atividades e técnicas agrícolas, no
entanto a partir do século XIX, o termo
cultura passou a ser associado ao processo
geral de desenvolvimento “íntimo”, em
oposição ao “externo”. Cultura passou a ser
ligada às artes, religião, instituições, práticas
e valores distintos e às vezes até opostos à
civilização e à sociedade. No entanto, a velha
idéia de cultura relacionada aos cultivos
agrícolas, permaneceu.
3. De acordo com Nobert Elias:
O conceito de civilização refere-se a uma grande
variedade de fatos: ao nível da tecnologia, as idéias
religiosas, aos costumes. Pode se referir a maneira
como homens e mulheres vivem juntos, a forma de
punição determinada, dentre outros.
Cultura alude basicamente a fatos intelectuais,
artísticos e religiosos e apresenta a tendência de
traçar uma nítida linha divisória entre fatos deste tipo,
por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais,
por outro.
Assim civilização é bem mais abrangente, expressa o
resultado de um processo, enquanto cultura expressa
uma relação diferente com o movimento.
4. Toda a historiografia voltada para o estudo
da dimensão cultural de uma determinada
sociedade historicamente localizada.(José
D’Assunção Barros)
Seria decifrar a realidade do passado por
meio de suas representações, tentando
chegar àquelas formas, discursivas e
imagéticas, pelos quais os homens
expressaram a si próprios e o mundo.
(Sandra Jatahy Pesavento)
5. Diferente da História da Cultura, a História
Cultural não se limita a examinar
estilisticamente certos objetos culturais,
como se esses objetos pudessem ser
abordados de maneira autônoma,
desvinculados da sociedade que os
produziu.
6. Para Peter Burke pode-se dividir a História
cultural nas seguintes fases:
HISTÓRIA CULTURAL CLÁSSICA – 1800
A 1950
HISTÓRIA SOCIAL DA ARTE – 1930 A
1940
HISTÓRIA CULTURAL POPULAR – 1950
A 1960
NOVA HISTÓRIA CULTURAL – A PARTIR
DOS ANOS 70
9. RELATÓRIOS/CORRESPONDÊNCIAS
OFICIAIS, LEGILAÇÕES, CÓDIGOS DE
POSTURAS E PROCESSOS CRIMINAIS
CRÔNICAS DE JORNAIS, ALMANAQUES
E REVISTAS
LIVROS DIDÁTICOS, ROMANCES,
POESIAS, PEÇAS TEATRAIS
CARTAZES DE PROPAGANDA,
PUBLICIDADE, ANUNCIOS,
FOTOGRAFIAS, PINTURAS, FILMES;
10. Foi de dentro da vertente neomarxista
inglesa e da história francesa dos Annales
que veio o impulso de renovação,
resultando na abertura desta nova
corrente historiográfica a que chamamos
de história cultural ou mesmo de nova
história cultural.
11. Os objetos estudados pela História Cultural vão
desde imagens que o homem produz de si
mesmo, da sociedade em que vive e do mundo
que o cerca, até as condições sociais de produção
e circulação de objetos de arte e literatura,
englobando ainda objetos de cultura material e
ainda oriundos da cultura popular.
A História Cultural interessar-se-á, ainda pelos
sujeitos produtores e receptores de cultura.
As visões de mundo, os sistemas de valores, os
modos de vida dos diversos grupos sociais.
13. PARADIGMA INDICIÁRIO – GINZBURG: o
historiador como um detetive
MÉTODO DA MONTAGEM – BENJAMIN:
nas múltiplas combinações que se
estabelecem revelam-se novas explicações
para a leitura do passado
DESCRIÇÃO DENSA – ANTROPOLOGIA:
explorar as fontes nas suas possibilidades
mais profundas.
14. A trajetória da história cultural ainda esta em
progresso.
Historiadores culturais e sociais ampliam
seus territórios.
Não há uma defesa de que a história cultural
é a melhor forma de história, mas
necessárias são as suas contribuições.
Qualquer que seja os resultados não se pode
voltar a pura visão positivista dos
documentos históricos de uma compreensão
literal onde não se destacam os simbolismo
15. Condenação, junto com Michel de Certeau,
da pretensão de se estabelecer em definitivo
relações culturais que seriam exclusivas de
formais culturais específicas e de grupos
sociais particulares.
Elaboração das noções complementares de
“práticas” e “representações”. Assim a cultura
poderia ser examinada no âmbito produzido
pela relação interativa entre esses dois pólos.
16. Ao romper com o Partido Comunista e organizar a
Nova Esquerda com outros intelectuais oriundos
do PC, questionou os rumos do pensamento
marxista e postulou que a classe social não
poderia ter apenas fundamento econômico, mas
cultural.
A experiência daria a classe uma dimensão
histórica. Experiência seria, então, uma espécie de
solução prática para que se pudesse analisar os
comportamentos, os valores, as condutas, os
costumes, enfim, a cultura. Ou melhor, as culturas,
no sentido de que “cultura” se refere a uma
realidade específica.
17. É preciso não tomar o mundo – ou as suas
representações – na sua literalidade, como se elas
fossem o reflexo e a cópia mimética do real. Ir
além daquilo que é dito, ver além daquilo que é
mostrado é a regra de ação desse historiador
detetive, que deve exercitar seu olhar para os
traços secundários, para os detalhes, para os
elementos que, sob um olhar menos arguto e
perspicaz, passariam despercebidos.
O historiador explica como foi, como aconteceu e,
com a autoridade da fala e o controle da estratégia
metodológica, faz valer sua representação sobre o
passado como o discurso do acontecido.
18. Primeiros trabalhos na década de 1980.
Destacam-se os trabalhos da Laura de Mello
e Souza sobre feitiçaria nos tempos coloniais
a partir dos processos da Inquisição; os de
Mary Del Priori sobre história das mulheres,
da infância, das festas, do cotidiano no
período colonial; os de Nicolau Sevcenko
sobre história e literatura, cultura e cotidiano
no século XX; e os de Fernando Novais, que
migrou da História Econômica para os temas
relacionados ao cotidiano e à vida privada.
19. Também tornaram-se referência as
pesquisas de vários outros autores sobre
família, vida doméstica, relações de
gênero. Somam-se ainda os trabalhos de
outros historiadores que redimensionaram
os estudos sobre a escravidão no Brasil, a
partir do estudo das relações entre
senhores e escravos.
20. Uma análise do conjunto dos trabalhos acaba
por demonstrar como o foco sobre cultura,
civilização e costumes – cujo débito aos
trabalhos de Norbert Elias é mais que
evidente – trouxe a emergência de novos
temas e sujeitos da História, com destaque
para amplas abordagens sobre o cotidiano de
vários grupos sociais pertencentes ao mundo
dos trabalho, antes excluídos dos trabalhos
históricos.