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VIAGENS NO TEMPO
THE COLLINS
MEMÓRIAS DE UM CAVALEIRO VOL I
Jorge Nunes
26/03/2013
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Um nevoeiro cerrado abafava-nos cada passo. A neblina escondia olhos canibais.
Dar um passo demasiado longe das muralhas do castelo podia significar uma perna
a menos. Sor Vannigan passou-nos à frente. — Ordens são ordens —
disse. Apenas uma estratégia para nos espantar o receio. O caminho era seguro
até ao picadeiro. Era um ponto de passagem movimentado. — Quanto tempo,
Sor? Perguntei-lhe com esperança de ficar tempo suficiente para dormir. Não me
deitava numa cama há mais de uma semana. Mas chuva pesada, e neve de rachar
os ossos, houve que chegasse. — Ninguém se ponha com ideias — disse Sor. —
Essas ESPADAS dentro das calças, entendido? Não estamos aqui para mulheres e
vinho. Água para os cavalos e pouco mais. Para mim, água quente. Já me pesa
mais a sujidade do que a armadura. Quero todos de prontidão. ORDENS SÃO
ORDENS. Que remédio. Todos ficámos a sonhar com o banho que apenas Sor ia
tomar. Havia no ar um cheiro de lenha queimada, trazido pelo nevoeiro. Vinha das
casas circundantes. Como raio ainda vivia alguém tão longe do castelo? Como é
que ainda VIVIAM depois de reclamarem terras e ouro ao rei? Não havia razão para
o rei ceder. Existia uma só sentença para os insubordinados. Decapitação. E não
seria a primeira vez que o rei varria uma aldeia com uma carga militar. Sor
Vannigan não se havia de importar de cumprir a ordem, de espada em punho. A
consciência era uma coisa que o homem tinha trancada em algum poço
fundo. Olhei para Patric. Estava a dois passos de mim. O rapaz deu-me
pena. RAPAZ era uma maneira de dizer. Não devia ser mais novo do que eu.
Descaía os ombros sempre que se atrevia a levantar os olhos perto do Sor. O pai
tinha sido executado, há uns anos, por desafiar o rei. Um ferreiro exímio que
deixou o ofício nas mãos do filho. A única razão pela qual foi poupado. As armas
necessitavam de boa forja. Fez a própria armadura. O metal estava sempre
reluzente, como acabado de polir. Ambos fomosAGRACIADOS com a honra de
servir sob as ordens de Sor Vannigan. Era isso ou ficar sem cabeça. A patrulha
tinha sido demasiado longa. Mais um dia e alguém ia cair de dentes no chão.
Mesmo Sor Vannigan pareceu usar o banho como desculpa para descansar o corpo
por uns minutos. ORDENS SÃO ORDENS. O raio das ordens. Vinham de um rei que
perseguia inocentes mas poupava o filho de um fora-da-lei, que seria capaz de lhe
abrir a garganta tivesse ele oportunidade. Para alguns de nós, o regresso a casa
já era quase um sonho de tolos. O cheiro da morte entranhava-se em tudo. Todos
os lugares por onde passávamos eram cadáveres gigantes deixados pela espada.
Era a vontade do rei. Para lá da aldeia, estava a fronteira dos CORAJOSOS
CAVALEIROS. O desconhecido. Patric disse-me que era a morte certa. Nenhum dos
cavaleiros que seguiram nessa direcção regressou. Nem um cavalo. Nem um
rumor. Nada. Tínhamos de inventar coragem sem dizer um pio. A única resposta
de Sor Vannigan para queixumes era uma faca no pescoço. Ele vinha de uma
família com posses, que chegara a avançar pretensões de ocupar o trono. Às vezes,
em histórias de camarata, lá se ouvia suposições acerca do seu passado. Que foi
um jovem completamente diferente do homem que era agora. Tinha sempre um
sorriso nos lábios e uma mulher nos braços. Agora já não sorria. A sua companhia
era o Tempestade. Aquele cavalo devia conhecê-lo melhor do que qualquer pessoa.
Tão negro como a armadura de Sor Vannigan, das botas de couro ao manto
pesado. Mas a perícia com a espada era o motivo das maiores histórias. NENHUM
CAVALEIRO, VIVO OU MORTO, dizia quem sabia. Ninguém lhe era superior de
espada na mão. Não havia resposta certa para o segredo do lenço branco que
usava atado na mão esquerda. Os palpites eram muitos, mas a certeza era apenas
uma. Quem lhe mexesse, ficava sem a cabeça. Sabia-se que Sor Vannigan
jurara vassalagem ao rei há menos de um ano. Na verdade, pouco mais se sabia.
Tinha recomendações dos antigos Senhores. A força real ganhou um comandante
de poucas palavras, mas de acções. Preferia que a espada falasse por ele. Todos
lhe conhecíamos as palavras gravadas no aço da lâmina. ―Ao rei, a glória e a
redenção de todas as almas que tomarei por ele.‖ Era tudo o que precisava que se
dissesse. As palavras dos adversários não lhe atravessavam a armadura. Quem
tivesse contas a ajustar, podia enfrentá-lo nos Duelos. Um único golpe costumava
ser suficiente para os arrumar sem grande sofrimento.
Era impossível ameaçar um homem assim. Lutava movido pelo instinto de
um animal selvagem, sem recear a lâmina adversária. Uma liberdade que nenhum
de nós possuía. Todos lutávamos apenas para não perdermos a vida. Patric não se
mostrava muito interessado nas motivações de Sor Vannigan. Estava de ombros
caídos. Calado.Havia nele algo que me enervava. Acabara de receber uma ordem
direta e nem sequer fez um sinal para dar a entender que se ia mexer. E a cada dia
ele estava pior. Quantas mais adversidades aparecessem, mais ele se rebaixava
perante nós. E com o tempo a piorar cada vez mais a única coisa que valorizava no
―miúdo‖ era a facilidade em fazer aparecer fogo com as lâminas das nossas
espadas. Fora isso era um simples miúdo amedrontado e não um guerreiro
experiente a engrossar a nossa força.Mas em primeiro lugar, a minha preocupação
era com os olhos que nos rodeavam. Algo de muito maligno e que nitidamente não
gostava de nós estava prestes a atacar.
Sor Vannigan já tinha notado e o miúdo também, daí a expressão de medo
que tinha no rosto. Por minha vez eu já tinha a espada na mão e mantinha a minha
posição. Não iria cair assim. Se queriam alguma coisa de nós que a viessem buscar.
Eu encarregava-me de cobrir o perímetro. Sabia também que todos nós
quereríamos estar em segurança dentro do castelo. Mas esta não era a hora para
partilhar o medo com os outros. Eu tinha de os proteger e assim seria. Fosse como
fosse.Estava preparado para morrer. E acreditava que além de mim haveria mais
alguém pronto para partir, se isso significasse uma morte dignaO nosso reino era a
chave de tudo.―Aposto que não te vais mover se aparecer alguma coisa. Ai aposto
sim.‖ Dissera um dos colegas do miúdo quando momentos antes tinhamos visto as
folhas dos arbusto a mexer e nem uma palavra trocamos, com receio. A verdade é
que o medo estava com todos.
―É dificil avançar sem sabermos o que nos espera ali‖. Refletieu a tremer.
Correriam todos dali se fosse dada uma ordem e nem pensariam em olhar para
trás. Eu apenas queria que a patrulha terminasse.
- Gary deu-nos a entender que tinhamos de permanecer até ao fim – Disse
Patric, pela primeira vez que ganhou coragem para falar. – Senão morremos à
mesma. Não passaríamos de hoje. Sei que é dificil de aguentar. Se realmente
aquilo que ali está nos quer atacar deve estar com receio pois já passou tempo
demais parada. Devemos atacar, senhor?
Sor Vannigan levantou-lhe uma mão. Olhava fixamente para o arbusto
.Patric sabia que quando ele estava assim pensava em algo importante.
– Quero saber o que acham que é. Falem claro e rapidamente. Não se
acobardem em fazer som algum.
Patric era bastante melhor em forjar espadas do que em falar. As palavras
custavam-lhe a sair quando estava calmo mas em contrário mostrava-se falador
em momentos apartados. Ninguém tinha tanta habilidade como ele em esconder o
seu nervosismo, e os seus colegas aida pensavam que ele falava sempre quando
devia e queria.
Pelo som que ouvimos, para lá daqueles fetos estará um lobo faminto. –
Disse eu. – Seriamos capazes de o capturer sem inguém saber, senhor. Fariamos
um casaco. Um casaco com a sua pele. O tempo frio está para durar, e temos de
ter roupa quente. Não a cho que alguém possa confrontá-lo quanto a isso. Ninguém
se atreveria. Posso avançar se assim quiser.
– Irá sangrá-lo?
– Não. Não haveria necessidade. O corpo sera jogado fora e sumirá.
– O que utilizará?
– O arco. Depois deitarei o corpo ao lago cheio de pedra lá dentro.
– Já reparou no tamanho?
Encolheu os ombros.
- Ainda nem viu o animal e já pensa como poderá atacá-lo? Isso é muita
imprudência.
– Ou astúcia – Sugeriu Patric. – Astúcia – Repetiu Sor Vannigan. – Há uma
besta atrás destes arbustos, entre a nossa vida e a nossa morte. Ela já sabe o que
quer. – Sorriu levemente. Assegurai-vos de que esse miúdo não se aproxima dos
ramos – e saiu dali a galopar em direcção à casa que tinhamos visto.
– Vocês darão ouvidos a um cobarde? – peruntou o miúdo enquanto era
capturado.
– Eu não. Mas, são ordens. – Murmurou-lhe um dos seus antigos
companheiros. – São ordens rapaz.
O miúdo tentoutirar um punhal para ameaçar quem o segurava. Passos
pesados na neve disseram-nos que mais alguém estava com o grupo mas não
vimos ninguém chegar.
- Calem-se todos que temos alguém a vigiar-nos. Vocês vêm alguém? –
Sussurei enquanto via os outros três com um ar gelado no rosto, tentando suster a
respiração
- De onde veio este vento? – Perguntou ele ao tentar soltar-se da neve
espessa que lhe pesava nos pés.
– Que raio de pergunta do rapaz. Não acha chefe? – Perguntaram os dois
homens que me acompanhavam e mais o miúdo.
– Também o sinto, Homem. – Tirei por um instante o meu capuz para olhar
bem em redor. – Tenho frio desde a ponta das orelhas até aos pés. Mas estamos
bem, não estamos?
– Têm aqui uns corpos Senhor.
Todos tivemos vontade de vomitar.
– Não deviam brincar com coisas dessas seus palermas. – Disse-lhes ao
entrar com eles dentro de uma brecha de arbustos ali perto.
Harry olhou-me cheio de medo e eu vi que um dos seus olhos estava a
sangrar.
– verão que não significa nada. Devem ter-se perdido e congelaram. – Puxei
de novo o capuz e senti um calor a subir pelo meu corpo. Fiquei em silencio.
– Se alguém vê isto…
- Vocês já tinham visto algo assim?
- Nunca chefe. - Eles pareciam aterrorizados com aquilo. Como teria
acontecido?
- Como acham que eles estão?
- Mortos? - George respondeu a franzir uma sobrancelha. Agora que tinha
visto já podia acreditar. Se eles estavam ali era verdade. Estava verdadeiramente
alguém atrás de nós e aquilo era um aviso.
O outro assentiu quando percebeu o meu raciocinio.
– Vocês são esquisitos. Conseguem ver um monte de corpos empilhados na
neve e não fogem, mas com um barulhido atrás das folhas quase que se cagam.
Mas estes não nos pertencem. Pelo menos à patrulha porque usam roupas de
camponês. – Eu tinha a certeza do que falava porque eles faziam parte dos
terrenos do castelo e trabalhavam-nos dia e noite. – Agora acabou a patrulha.
Temos de decider o que fazer com eles.
Com aquela frase eles sabiam que aquela era uma ordem do chefe do grupo.
O medo obrigara-os a ceder. As suas cabeças estariam a prémio se outros
soubessem.
Harry foi o primeiro a arrepiar caminho por entre a neve. Era quase invero e
na colina do leão cada inverno trazia novas particularidades. Este que estava à
espreita podia bem ser um sinal de fome e de doenças para todos. Devido ao
pedido proveniente do Reino da Onça onde pediam para não caçarmos próximos
das suas terras. O que queria dizer que durante uns tempos, não havia festividades
para ninguém e por causa disso, o nosso rei andava aborrecido e irritado. Uma
palavra a mais e zás, cabeça num espeto às portas do castelo. Atrás deles estava
eu esperando mais que nunca para não sermos vistos ou algo nos denunciar.
Aqueles olhos que antes nos estavam a ver não nos seguia agora, mas tinhamos de
estar a tentos a tudo. Os dois que tinham visto os corpos não se tinham esquecido
do que ficara lá atrás. EEstavam sempre a falar nisso.
A noite estava a chegar. O céu tinha mudado de um cinza pálido para um
azulado morto e escuro. As nivens misturavam-se com a noite e faziam figuras
horriveis no céu. Uma caveira apareceu. Depois foi a lua que não tinha cormuita ou
quase nenhuma cor.
– Podemos avançar já para o interior do castelo – Disse George depois de se
levantar.
- Com os corpos aqui, nunca – Respondi-lhe de pronto. Ele já não conseguia
esperar nem mais um minute.
- Vou avisar Sor Vannigan do sucedido.
Nem precisei de lhe responder quando meti a mão em cima da minha
espada e lhe dirigi um olhar feroz.
Harry encaminhou o companheiro até uma árvore ali perto a fim de lhe
chamar a atenção. Ele sim, era um bom cavaleiro para o grupo.
―- Para quê sacrificarmos tudo com este maluco?‖- Ouvi as palavras de
George a ecoarem nos meus ouvidos. Ele podia não se ter apercebido, mas a sua
voz gritante ouvia-se a quilometros de distância.
- É melhor arranjarmosuma maneira de sairmos daqui chefe. O lugar não é
est+avel. Podemos estar cercados de ursos, lobos, ou outros animais esfomeados.
Os corpos chamam a atenção.
Harry fez uma cara muito estranha. Quase como aquela que Patric fizera
com o frio. Mas desta vez a respiração falhara-lhe completamente e começava a ter
convulsões. Um género de sussuro veio ter perto de nós vindo sabe-se lá de onde.
As folhas quase que queria espetar-se nos nossos mantos e o vento ficou agressivo
para cortar a nossa carne. Aquele lugar era amaldiçoado, ou se não o fosse parecia.
Seria da presença dos corpos?
- Temos de sair daqui, senhor. –GritouPatric quando finalmente se
conseguiu soltar das cordas. Precipitous-se para cima de mim para protecção.
- O que se passa?- Não me ouviu lá atrás? Veja bem o que está a acontecer.
Patric parecia certo no que dizia. Em tanto tempo de cavaleiro e nunca vira
algo tão negro. Seria mesmo assombração?
- É o fogo, o vento e as folhas. O que acha que eles fazem aqui? – Apontou
para os corpos que agora rolavam na neve por causa do vento. Estavam quase a
voar com a velocidade do vento por cima deles. Depois o miúdo colocou-me dentro
de uma pequena gruta que tinha ali perto. Afastado dos corpos e dos outros dois
palermas que pareciam estar já congelados pelo frio.
- Aqui estará seguro. Use a sua espada para abrir mais um pouco de espaço
para mim.
- Eu não te deixarei rapaz! – Disse-lhe em alta voz. – Vem e aquece-te.
Podes sobreviver. Não te preocupes com eles.
O miúdo discordou.
- Nunca deixo ninguém para trás, Senhor! Apenas precisamos de nos
aquecer. Trate de arranjar fogo. Faça com uns paus e umas pedras que encontre
por aí. Se fizer como lhe digo, sobreviveremos.
- Tu não aprendes pois não miúdo? És teimoso como o teu pai era. Não vês
que se acender uma fogueira atrairei mais atenção indesejada?
- Não acenda o fogo e terá uma morte ainda pior que a deles.
As vestes de Patrice ficamvam-lhe grandes. Mas apesar de o seu capuz lhe
tapar quase a visão ele dava tudo para ser bem sucedido. Por um momento tive
receio que ele se perdesse com tanta neve e vento à sua volta.Era algo aflito de se
ver pois toda a sua vida dependia de nos tirar dali ou ser morto pela morte de um
superior e mais dois colegas.Seria isto como assasino dos corpos que nos
acompanhavam e por fim seria queimado numa fogueira como se fosse um bruxo.
Por fim ele parou e olhou-me com algum custo por baixo do capuz.
- Nada de fogo. – Sussurrei-lhe rapidamente.
Patric tomou aquilo a mal e virou-se de costas.
- Apenas haverá um caminho.
Forçou os arbustos cerrados a abrirem-se à nossa passagem, sempre com a
espada em punho para cortar a vegetação mais forte e alguns ramos. Depois
passou ao largo do ponto de vigia do castelo e andamos curvados sob um manto de
lama espessa onde costumavam pôr os restos das refeições ou os bocados de carne
podre. Enquanto isso Patric olhava à nossa volta em busca de guardas distraídos e
atirava-lhes pedras certeiras na nuca, fazendo-os deslizar em silêncio pelas rampas
do castelo. Depois, pegava neles com cuidados e encostava-os à parede, para
parecerem estar a dormir.
A Torre maior estava mesmo no cimo do castelo onde Patric sabia serem os
meus aposentos. Mais uma vez ele se curvou para deslizar pela neve e abriu-me a
porta que dava acesso à escadaria principal da torre.
O meu coração parecia ter desaparecido. Não consegui reagir a tamanha
façanha. Mas também a tamanho erro. Por cima de nós as nuvens pareciam estar
de volta e sobre o pequeno monte de carne podre lá em baixo, eu não vi os corpos
que traziamos connosco. Tinham desaparecido.
- Eles voltaram! – Ouvi uma voz a gritar atrás de nós quando Sor Vannigan
acabara de subir o ultimo bocado de caminho que nos separava. Depois parou de
espanha em punho com o manto sobre as suas costas a nodular no vento da noite
agora cerrada.
- Não fique aí Senhor! – Gritou o miúdo ao tentar corer na direcção do seu
mestre.
Sor Vannigan não entendera o sentido daquelaurgência e mergulhou a
lamina da sua espada na barriga do rapaz. Olhou para ele e apercebeu-se do erro
que tinha acabdo de cometer quando Patric ainda lhe segredou qualquer coisa,
enquanto escorregava até ao chão.
- Parece que temos aqui um traidor, meus senhores.
O coração de ambos os nossos corpos saiu do peito e desapareceu.
Procuramos explicação naquilo que não havia. Não podia ser. Os meus olhos
olhavam simultaneamente para a frente e para o chão. Um grande erro cometido e
sem perdão. Um erro pago inocentemente…
- Virem-se os dois e não façam movimentos bruscos. – Ordenou Sor Catriga.
- Não ousem mexer em vossas armas sequer. Não quero ver mais sangue
derramado. Hoje.
- Não podem dizer que sou um traidor sem provas fiáveis. Podemos
defender-nos pelo menos? É o mínimo que merecemos, Senhor.
Sor Catriga virou-se de costas a conferenciar com aqueles que o
acompanhavam. Depois dirigiu-se na nossa direcção com toda a sua sentinel a
segui-lo de perto para o poder proteger. O medo tomara posse do homem e via
nele um temor incrivelmente notório em cada passo desiquilibrado que dava.
Murmurou qualquer coisa antes mesmo de se chegar perto. Depois retirou a espada
de Sor Vannigan das mãos. Eu senti o cheiro do ferro com o sangue misturado.
Após isto gritaram:
- Assasino! Aqui, Aqui!
Sor Vannigan ouvira com certeza aquele burburinho de passos certos a
chegar. O chão desfez qualquer dúvida quando começou a tremer de leve. Os
passos eram da guarda real. O rei estava a chegar ao local.
Eu deixei-me estar na escuridão a fim de passar despercebido.
Depois eu virei a face ao barulho que tinha ouvido na direção do pátio da
torre. Após este gesto Ele apareceu. Joelhos ficaram no chão e espadas metidas
nas bainha. Sor Vannigan tentou defender-se mas perante a imagem do rei
qualquer palavra podia ser tomada a mal porque parecia perturbado. Talvez não
fosse assim. Talvez a presence do rei ali fosse sinal de esperança para nós. Mas
afinal, o que queria o rei?
Senhor, diga-me o que se passou durante a patrulha que enviei em volta do
castelo esta tarde.
Eu estava estático perante tais palavras. Sentia o sangue quente nas orelhas
que fervilhavam de preocupação. Um Segundo elemento da entidade real apareceu
e colocou-se a par do rei. Era uma figura com bastante altura, forte e com
cicatrizes feitas nas ínumeras batalhas que travara. Usava uma armadura negra
que reluzia sb a luz lunar. A sua capa longa ia desde os ombros e arrastava-se pelo
chão sem cuidado algum do dono que a usava.
Sor Vannigan ouviu um expirar longo por parte de Gary, filho mais velho do
rei que o acompanhava para todo o lado. – Acabe com isto logo, pai – pediu com
voz nobre e calma. Depois tirou a sua capa e colocou-a em redor de seu pai que
tremia com o frio do exterior. Mas de um momento para o outro tudo mudou. O
vento parara e o frio apertava cada vez mais.
Um dos guardas colocou-se abaixo do nosso nível de visão para procurar
algo na neve.
- Onde estão? – Perguntaramos dois com autoridade. – Onde os colocaram?
–pareciam loucos a esfregar as mãos na neve, mais fundo e mais à superficie. E o
que se via era um manto branco a cobrir-lhes as costas, o cabelo e as vestes. Mas
de súbito pararam e puseram-se de pé. Parecia que se tinham lembrado de algo.
Mas nada disseram, além destas palavras: – Claro que não podiam dizer onde os
tinham colocado. Porque os destruiram!
Mas não tinham razão. Se falavam dos corpos, e eu nem sabia como sabiam
deles, estavamengandos ao pensar que nos tinhamos desfeito deles. Aliás, se
soubessem da aflição que sentíamos pela sua perda…
Sor Vannigan ouviu perfeitamente o ar de frustação que vinham deles.
- Não fique demasiado preocupado com a situação, Senhor. Pelos vistos
enganei-me e o meu colega tambéme por isso lhe peço desculpa pelos dois e por
incomodar a sua noite. Assegurar-me-ei de que esta falha jamais se repita de novo.
– A sua voz estava segura mas rápida. Voltarama recompor-se e dirigiram-se de
novo às escadas. O meu coração finalmente sossegara. Há muito que não sentia
tanta tranquilidade. O que tinha ido à frente fez de conta que estava a andar em
bicos de pés, tamanha for a a vergonha. O melhor era mesmo não se meterem
mais no nosso caminho pois com ou sem rei da próxima vez que os vise em
tamanha falta de respeito e estariam os dois em muitos maus lençóis. Mas havia ali
um resto de desconfiança que no olhar de ambos não me deixou sossegado. Por
sua vez, Sor Vannigan perdera a postura e lançara a sua espada contra os dois
guardas que estavam distraídos.
Acabara de cometer um terrivel erro ao assassinar um membro da guarda
real.
- Parece que assim já não se levantarará tanto a crista daquele ali.

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  • 1. VIAGENS NO TEMPO THE COLLINS MEMÓRIAS DE UM CAVALEIRO VOL I Jorge Nunes 26/03/2013 [Escreva o resumo do documento aqui. Normalmente, o resumo é um sumário curto do conteúdo do documento. Escreva o resumo do documento aqui. Normalmente, o resumo é um sumário curto do conteúdo do documento.]
  • 2. Um nevoeiro cerrado abafava-nos cada passo. A neblina escondia olhos canibais. Dar um passo demasiado longe das muralhas do castelo podia significar uma perna a menos. Sor Vannigan passou-nos à frente. — Ordens são ordens — disse. Apenas uma estratégia para nos espantar o receio. O caminho era seguro até ao picadeiro. Era um ponto de passagem movimentado. — Quanto tempo, Sor? Perguntei-lhe com esperança de ficar tempo suficiente para dormir. Não me deitava numa cama há mais de uma semana. Mas chuva pesada, e neve de rachar os ossos, houve que chegasse. — Ninguém se ponha com ideias — disse Sor. — Essas ESPADAS dentro das calças, entendido? Não estamos aqui para mulheres e vinho. Água para os cavalos e pouco mais. Para mim, água quente. Já me pesa mais a sujidade do que a armadura. Quero todos de prontidão. ORDENS SÃO ORDENS. Que remédio. Todos ficámos a sonhar com o banho que apenas Sor ia tomar. Havia no ar um cheiro de lenha queimada, trazido pelo nevoeiro. Vinha das casas circundantes. Como raio ainda vivia alguém tão longe do castelo? Como é que ainda VIVIAM depois de reclamarem terras e ouro ao rei? Não havia razão para o rei ceder. Existia uma só sentença para os insubordinados. Decapitação. E não seria a primeira vez que o rei varria uma aldeia com uma carga militar. Sor Vannigan não se havia de importar de cumprir a ordem, de espada em punho. A consciência era uma coisa que o homem tinha trancada em algum poço fundo. Olhei para Patric. Estava a dois passos de mim. O rapaz deu-me pena. RAPAZ era uma maneira de dizer. Não devia ser mais novo do que eu. Descaía os ombros sempre que se atrevia a levantar os olhos perto do Sor. O pai tinha sido executado, há uns anos, por desafiar o rei. Um ferreiro exímio que deixou o ofício nas mãos do filho. A única razão pela qual foi poupado. As armas necessitavam de boa forja. Fez a própria armadura. O metal estava sempre reluzente, como acabado de polir. Ambos fomosAGRACIADOS com a honra de servir sob as ordens de Sor Vannigan. Era isso ou ficar sem cabeça. A patrulha tinha sido demasiado longa. Mais um dia e alguém ia cair de dentes no chão. Mesmo Sor Vannigan pareceu usar o banho como desculpa para descansar o corpo por uns minutos. ORDENS SÃO ORDENS. O raio das ordens. Vinham de um rei que perseguia inocentes mas poupava o filho de um fora-da-lei, que seria capaz de lhe abrir a garganta tivesse ele oportunidade. Para alguns de nós, o regresso a casa já era quase um sonho de tolos. O cheiro da morte entranhava-se em tudo. Todos os lugares por onde passávamos eram cadáveres gigantes deixados pela espada. Era a vontade do rei. Para lá da aldeia, estava a fronteira dos CORAJOSOS CAVALEIROS. O desconhecido. Patric disse-me que era a morte certa. Nenhum dos cavaleiros que seguiram nessa direcção regressou. Nem um cavalo. Nem um rumor. Nada. Tínhamos de inventar coragem sem dizer um pio. A única resposta de Sor Vannigan para queixumes era uma faca no pescoço. Ele vinha de uma família com posses, que chegara a avançar pretensões de ocupar o trono. Às vezes, em histórias de camarata, lá se ouvia suposições acerca do seu passado. Que foi um jovem completamente diferente do homem que era agora. Tinha sempre um sorriso nos lábios e uma mulher nos braços. Agora já não sorria. A sua companhia era o Tempestade. Aquele cavalo devia conhecê-lo melhor do que qualquer pessoa. Tão negro como a armadura de Sor Vannigan, das botas de couro ao manto pesado. Mas a perícia com a espada era o motivo das maiores histórias. NENHUM CAVALEIRO, VIVO OU MORTO, dizia quem sabia. Ninguém lhe era superior de espada na mão. Não havia resposta certa para o segredo do lenço branco que usava atado na mão esquerda. Os palpites eram muitos, mas a certeza era apenas uma. Quem lhe mexesse, ficava sem a cabeça. Sabia-se que Sor Vannigan jurara vassalagem ao rei há menos de um ano. Na verdade, pouco mais se sabia. Tinha recomendações dos antigos Senhores. A força real ganhou um comandante de poucas palavras, mas de acções. Preferia que a espada falasse por ele. Todos lhe conhecíamos as palavras gravadas no aço da lâmina. ―Ao rei, a glória e a
  • 3. redenção de todas as almas que tomarei por ele.‖ Era tudo o que precisava que se dissesse. As palavras dos adversários não lhe atravessavam a armadura. Quem tivesse contas a ajustar, podia enfrentá-lo nos Duelos. Um único golpe costumava ser suficiente para os arrumar sem grande sofrimento. Era impossível ameaçar um homem assim. Lutava movido pelo instinto de um animal selvagem, sem recear a lâmina adversária. Uma liberdade que nenhum de nós possuía. Todos lutávamos apenas para não perdermos a vida. Patric não se mostrava muito interessado nas motivações de Sor Vannigan. Estava de ombros caídos. Calado.Havia nele algo que me enervava. Acabara de receber uma ordem direta e nem sequer fez um sinal para dar a entender que se ia mexer. E a cada dia ele estava pior. Quantas mais adversidades aparecessem, mais ele se rebaixava perante nós. E com o tempo a piorar cada vez mais a única coisa que valorizava no ―miúdo‖ era a facilidade em fazer aparecer fogo com as lâminas das nossas espadas. Fora isso era um simples miúdo amedrontado e não um guerreiro experiente a engrossar a nossa força.Mas em primeiro lugar, a minha preocupação era com os olhos que nos rodeavam. Algo de muito maligno e que nitidamente não gostava de nós estava prestes a atacar. Sor Vannigan já tinha notado e o miúdo também, daí a expressão de medo que tinha no rosto. Por minha vez eu já tinha a espada na mão e mantinha a minha posição. Não iria cair assim. Se queriam alguma coisa de nós que a viessem buscar. Eu encarregava-me de cobrir o perímetro. Sabia também que todos nós quereríamos estar em segurança dentro do castelo. Mas esta não era a hora para partilhar o medo com os outros. Eu tinha de os proteger e assim seria. Fosse como fosse.Estava preparado para morrer. E acreditava que além de mim haveria mais alguém pronto para partir, se isso significasse uma morte dignaO nosso reino era a chave de tudo.―Aposto que não te vais mover se aparecer alguma coisa. Ai aposto sim.‖ Dissera um dos colegas do miúdo quando momentos antes tinhamos visto as folhas dos arbusto a mexer e nem uma palavra trocamos, com receio. A verdade é que o medo estava com todos. ―É dificil avançar sem sabermos o que nos espera ali‖. Refletieu a tremer. Correriam todos dali se fosse dada uma ordem e nem pensariam em olhar para trás. Eu apenas queria que a patrulha terminasse. - Gary deu-nos a entender que tinhamos de permanecer até ao fim – Disse Patric, pela primeira vez que ganhou coragem para falar. – Senão morremos à mesma. Não passaríamos de hoje. Sei que é dificil de aguentar. Se realmente aquilo que ali está nos quer atacar deve estar com receio pois já passou tempo demais parada. Devemos atacar, senhor? Sor Vannigan levantou-lhe uma mão. Olhava fixamente para o arbusto .Patric sabia que quando ele estava assim pensava em algo importante. – Quero saber o que acham que é. Falem claro e rapidamente. Não se acobardem em fazer som algum. Patric era bastante melhor em forjar espadas do que em falar. As palavras custavam-lhe a sair quando estava calmo mas em contrário mostrava-se falador em momentos apartados. Ninguém tinha tanta habilidade como ele em esconder o seu nervosismo, e os seus colegas aida pensavam que ele falava sempre quando devia e queria. Pelo som que ouvimos, para lá daqueles fetos estará um lobo faminto. – Disse eu. – Seriamos capazes de o capturer sem inguém saber, senhor. Fariamos um casaco. Um casaco com a sua pele. O tempo frio está para durar, e temos de ter roupa quente. Não a cho que alguém possa confrontá-lo quanto a isso. Ninguém se atreveria. Posso avançar se assim quiser. – Irá sangrá-lo? – Não. Não haveria necessidade. O corpo sera jogado fora e sumirá. – O que utilizará?
  • 4. – O arco. Depois deitarei o corpo ao lago cheio de pedra lá dentro. – Já reparou no tamanho? Encolheu os ombros. - Ainda nem viu o animal e já pensa como poderá atacá-lo? Isso é muita imprudência. – Ou astúcia – Sugeriu Patric. – Astúcia – Repetiu Sor Vannigan. – Há uma besta atrás destes arbustos, entre a nossa vida e a nossa morte. Ela já sabe o que quer. – Sorriu levemente. Assegurai-vos de que esse miúdo não se aproxima dos ramos – e saiu dali a galopar em direcção à casa que tinhamos visto. – Vocês darão ouvidos a um cobarde? – peruntou o miúdo enquanto era capturado. – Eu não. Mas, são ordens. – Murmurou-lhe um dos seus antigos companheiros. – São ordens rapaz. O miúdo tentoutirar um punhal para ameaçar quem o segurava. Passos pesados na neve disseram-nos que mais alguém estava com o grupo mas não vimos ninguém chegar. - Calem-se todos que temos alguém a vigiar-nos. Vocês vêm alguém? – Sussurei enquanto via os outros três com um ar gelado no rosto, tentando suster a respiração - De onde veio este vento? – Perguntou ele ao tentar soltar-se da neve espessa que lhe pesava nos pés. – Que raio de pergunta do rapaz. Não acha chefe? – Perguntaram os dois homens que me acompanhavam e mais o miúdo. – Também o sinto, Homem. – Tirei por um instante o meu capuz para olhar bem em redor. – Tenho frio desde a ponta das orelhas até aos pés. Mas estamos bem, não estamos? – Têm aqui uns corpos Senhor. Todos tivemos vontade de vomitar. – Não deviam brincar com coisas dessas seus palermas. – Disse-lhes ao entrar com eles dentro de uma brecha de arbustos ali perto. Harry olhou-me cheio de medo e eu vi que um dos seus olhos estava a sangrar. – verão que não significa nada. Devem ter-se perdido e congelaram. – Puxei de novo o capuz e senti um calor a subir pelo meu corpo. Fiquei em silencio. – Se alguém vê isto… - Vocês já tinham visto algo assim? - Nunca chefe. - Eles pareciam aterrorizados com aquilo. Como teria acontecido? - Como acham que eles estão? - Mortos? - George respondeu a franzir uma sobrancelha. Agora que tinha visto já podia acreditar. Se eles estavam ali era verdade. Estava verdadeiramente alguém atrás de nós e aquilo era um aviso. O outro assentiu quando percebeu o meu raciocinio. – Vocês são esquisitos. Conseguem ver um monte de corpos empilhados na neve e não fogem, mas com um barulhido atrás das folhas quase que se cagam. Mas estes não nos pertencem. Pelo menos à patrulha porque usam roupas de camponês. – Eu tinha a certeza do que falava porque eles faziam parte dos terrenos do castelo e trabalhavam-nos dia e noite. – Agora acabou a patrulha. Temos de decider o que fazer com eles. Com aquela frase eles sabiam que aquela era uma ordem do chefe do grupo. O medo obrigara-os a ceder. As suas cabeças estariam a prémio se outros soubessem. Harry foi o primeiro a arrepiar caminho por entre a neve. Era quase invero e na colina do leão cada inverno trazia novas particularidades. Este que estava à
  • 5. espreita podia bem ser um sinal de fome e de doenças para todos. Devido ao pedido proveniente do Reino da Onça onde pediam para não caçarmos próximos das suas terras. O que queria dizer que durante uns tempos, não havia festividades para ninguém e por causa disso, o nosso rei andava aborrecido e irritado. Uma palavra a mais e zás, cabeça num espeto às portas do castelo. Atrás deles estava eu esperando mais que nunca para não sermos vistos ou algo nos denunciar. Aqueles olhos que antes nos estavam a ver não nos seguia agora, mas tinhamos de estar a tentos a tudo. Os dois que tinham visto os corpos não se tinham esquecido do que ficara lá atrás. EEstavam sempre a falar nisso. A noite estava a chegar. O céu tinha mudado de um cinza pálido para um azulado morto e escuro. As nivens misturavam-se com a noite e faziam figuras horriveis no céu. Uma caveira apareceu. Depois foi a lua que não tinha cormuita ou quase nenhuma cor. – Podemos avançar já para o interior do castelo – Disse George depois de se levantar. - Com os corpos aqui, nunca – Respondi-lhe de pronto. Ele já não conseguia esperar nem mais um minute. - Vou avisar Sor Vannigan do sucedido. Nem precisei de lhe responder quando meti a mão em cima da minha espada e lhe dirigi um olhar feroz. Harry encaminhou o companheiro até uma árvore ali perto a fim de lhe chamar a atenção. Ele sim, era um bom cavaleiro para o grupo. ―- Para quê sacrificarmos tudo com este maluco?‖- Ouvi as palavras de George a ecoarem nos meus ouvidos. Ele podia não se ter apercebido, mas a sua voz gritante ouvia-se a quilometros de distância. - É melhor arranjarmosuma maneira de sairmos daqui chefe. O lugar não é est+avel. Podemos estar cercados de ursos, lobos, ou outros animais esfomeados. Os corpos chamam a atenção. Harry fez uma cara muito estranha. Quase como aquela que Patric fizera com o frio. Mas desta vez a respiração falhara-lhe completamente e começava a ter convulsões. Um género de sussuro veio ter perto de nós vindo sabe-se lá de onde. As folhas quase que queria espetar-se nos nossos mantos e o vento ficou agressivo para cortar a nossa carne. Aquele lugar era amaldiçoado, ou se não o fosse parecia. Seria da presença dos corpos? - Temos de sair daqui, senhor. –GritouPatric quando finalmente se conseguiu soltar das cordas. Precipitous-se para cima de mim para protecção. - O que se passa?- Não me ouviu lá atrás? Veja bem o que está a acontecer. Patric parecia certo no que dizia. Em tanto tempo de cavaleiro e nunca vira algo tão negro. Seria mesmo assombração? - É o fogo, o vento e as folhas. O que acha que eles fazem aqui? – Apontou para os corpos que agora rolavam na neve por causa do vento. Estavam quase a voar com a velocidade do vento por cima deles. Depois o miúdo colocou-me dentro de uma pequena gruta que tinha ali perto. Afastado dos corpos e dos outros dois palermas que pareciam estar já congelados pelo frio. - Aqui estará seguro. Use a sua espada para abrir mais um pouco de espaço para mim. - Eu não te deixarei rapaz! – Disse-lhe em alta voz. – Vem e aquece-te. Podes sobreviver. Não te preocupes com eles. O miúdo discordou. - Nunca deixo ninguém para trás, Senhor! Apenas precisamos de nos aquecer. Trate de arranjar fogo. Faça com uns paus e umas pedras que encontre por aí. Se fizer como lhe digo, sobreviveremos. - Tu não aprendes pois não miúdo? És teimoso como o teu pai era. Não vês que se acender uma fogueira atrairei mais atenção indesejada?
  • 6. - Não acenda o fogo e terá uma morte ainda pior que a deles. As vestes de Patrice ficamvam-lhe grandes. Mas apesar de o seu capuz lhe tapar quase a visão ele dava tudo para ser bem sucedido. Por um momento tive receio que ele se perdesse com tanta neve e vento à sua volta.Era algo aflito de se ver pois toda a sua vida dependia de nos tirar dali ou ser morto pela morte de um superior e mais dois colegas.Seria isto como assasino dos corpos que nos acompanhavam e por fim seria queimado numa fogueira como se fosse um bruxo. Por fim ele parou e olhou-me com algum custo por baixo do capuz. - Nada de fogo. – Sussurrei-lhe rapidamente. Patric tomou aquilo a mal e virou-se de costas. - Apenas haverá um caminho. Forçou os arbustos cerrados a abrirem-se à nossa passagem, sempre com a espada em punho para cortar a vegetação mais forte e alguns ramos. Depois passou ao largo do ponto de vigia do castelo e andamos curvados sob um manto de lama espessa onde costumavam pôr os restos das refeições ou os bocados de carne podre. Enquanto isso Patric olhava à nossa volta em busca de guardas distraídos e atirava-lhes pedras certeiras na nuca, fazendo-os deslizar em silêncio pelas rampas do castelo. Depois, pegava neles com cuidados e encostava-os à parede, para parecerem estar a dormir. A Torre maior estava mesmo no cimo do castelo onde Patric sabia serem os meus aposentos. Mais uma vez ele se curvou para deslizar pela neve e abriu-me a porta que dava acesso à escadaria principal da torre. O meu coração parecia ter desaparecido. Não consegui reagir a tamanha façanha. Mas também a tamanho erro. Por cima de nós as nuvens pareciam estar de volta e sobre o pequeno monte de carne podre lá em baixo, eu não vi os corpos que traziamos connosco. Tinham desaparecido. - Eles voltaram! – Ouvi uma voz a gritar atrás de nós quando Sor Vannigan acabara de subir o ultimo bocado de caminho que nos separava. Depois parou de espanha em punho com o manto sobre as suas costas a nodular no vento da noite agora cerrada. - Não fique aí Senhor! – Gritou o miúdo ao tentar corer na direcção do seu mestre. Sor Vannigan não entendera o sentido daquelaurgência e mergulhou a lamina da sua espada na barriga do rapaz. Olhou para ele e apercebeu-se do erro que tinha acabdo de cometer quando Patric ainda lhe segredou qualquer coisa, enquanto escorregava até ao chão. - Parece que temos aqui um traidor, meus senhores. O coração de ambos os nossos corpos saiu do peito e desapareceu. Procuramos explicação naquilo que não havia. Não podia ser. Os meus olhos olhavam simultaneamente para a frente e para o chão. Um grande erro cometido e sem perdão. Um erro pago inocentemente… - Virem-se os dois e não façam movimentos bruscos. – Ordenou Sor Catriga. - Não ousem mexer em vossas armas sequer. Não quero ver mais sangue derramado. Hoje. - Não podem dizer que sou um traidor sem provas fiáveis. Podemos defender-nos pelo menos? É o mínimo que merecemos, Senhor. Sor Catriga virou-se de costas a conferenciar com aqueles que o acompanhavam. Depois dirigiu-se na nossa direcção com toda a sua sentinel a segui-lo de perto para o poder proteger. O medo tomara posse do homem e via nele um temor incrivelmente notório em cada passo desiquilibrado que dava. Murmurou qualquer coisa antes mesmo de se chegar perto. Depois retirou a espada de Sor Vannigan das mãos. Eu senti o cheiro do ferro com o sangue misturado. Após isto gritaram: - Assasino! Aqui, Aqui!
  • 7. Sor Vannigan ouvira com certeza aquele burburinho de passos certos a chegar. O chão desfez qualquer dúvida quando começou a tremer de leve. Os passos eram da guarda real. O rei estava a chegar ao local. Eu deixei-me estar na escuridão a fim de passar despercebido. Depois eu virei a face ao barulho que tinha ouvido na direção do pátio da torre. Após este gesto Ele apareceu. Joelhos ficaram no chão e espadas metidas nas bainha. Sor Vannigan tentou defender-se mas perante a imagem do rei qualquer palavra podia ser tomada a mal porque parecia perturbado. Talvez não fosse assim. Talvez a presence do rei ali fosse sinal de esperança para nós. Mas afinal, o que queria o rei? Senhor, diga-me o que se passou durante a patrulha que enviei em volta do castelo esta tarde. Eu estava estático perante tais palavras. Sentia o sangue quente nas orelhas que fervilhavam de preocupação. Um Segundo elemento da entidade real apareceu e colocou-se a par do rei. Era uma figura com bastante altura, forte e com cicatrizes feitas nas ínumeras batalhas que travara. Usava uma armadura negra que reluzia sb a luz lunar. A sua capa longa ia desde os ombros e arrastava-se pelo chão sem cuidado algum do dono que a usava. Sor Vannigan ouviu um expirar longo por parte de Gary, filho mais velho do rei que o acompanhava para todo o lado. – Acabe com isto logo, pai – pediu com voz nobre e calma. Depois tirou a sua capa e colocou-a em redor de seu pai que tremia com o frio do exterior. Mas de um momento para o outro tudo mudou. O vento parara e o frio apertava cada vez mais. Um dos guardas colocou-se abaixo do nosso nível de visão para procurar algo na neve. - Onde estão? – Perguntaramos dois com autoridade. – Onde os colocaram? –pareciam loucos a esfregar as mãos na neve, mais fundo e mais à superficie. E o que se via era um manto branco a cobrir-lhes as costas, o cabelo e as vestes. Mas de súbito pararam e puseram-se de pé. Parecia que se tinham lembrado de algo. Mas nada disseram, além destas palavras: – Claro que não podiam dizer onde os tinham colocado. Porque os destruiram! Mas não tinham razão. Se falavam dos corpos, e eu nem sabia como sabiam deles, estavamengandos ao pensar que nos tinhamos desfeito deles. Aliás, se soubessem da aflição que sentíamos pela sua perda… Sor Vannigan ouviu perfeitamente o ar de frustação que vinham deles. - Não fique demasiado preocupado com a situação, Senhor. Pelos vistos enganei-me e o meu colega tambéme por isso lhe peço desculpa pelos dois e por incomodar a sua noite. Assegurar-me-ei de que esta falha jamais se repita de novo. – A sua voz estava segura mas rápida. Voltarama recompor-se e dirigiram-se de novo às escadas. O meu coração finalmente sossegara. Há muito que não sentia tanta tranquilidade. O que tinha ido à frente fez de conta que estava a andar em bicos de pés, tamanha for a a vergonha. O melhor era mesmo não se meterem mais no nosso caminho pois com ou sem rei da próxima vez que os vise em tamanha falta de respeito e estariam os dois em muitos maus lençóis. Mas havia ali um resto de desconfiança que no olhar de ambos não me deixou sossegado. Por sua vez, Sor Vannigan perdera a postura e lançara a sua espada contra os dois guardas que estavam distraídos. Acabara de cometer um terrivel erro ao assassinar um membro da guarda real. - Parece que assim já não se levantarará tanto a crista daquele ali.