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PRECIFICAÇÃO DE INGRESSOS PARA ESPETÁCULOS DE MÚSICA
                               POPULAR NO BRASIL

- UM ESTUDO SOBRE ALTERNATIVAS DE MENSURAÇÃO E CAPTURA DO
                        EXCEDENTE DO CONSUMIDOR –




                                                                 Thiago Thot de Carvalho

                                                     Prof. Dr. José Giesbrecht da Silveira




Resumo



O setor de promoção de espetáculos musicais passou por grandes modificações durante
esta década, catalisadas por fenômenos como o advento da Internet e o aumento da
concorrência no setor. Embora estas mudanças forçaram as empresas a se
profissionalizarem, as companhias brasileiras de promoção de shows ainda falham ao
precificar os ingressos para seus espetáculos musicais. Como resultado, há confusão no
processo de compra dos ingressos para shows de grandes artistas internacionais, como
queda no sistema de vendas, formação de grandes filas para comprar os ingressos e
entrar na casa de shows, ingressos esgotados e a presença constante de cambistas. Este
trabalho analisa todas as práticas de precificação do setor, e, com base na revisão teórica
e em análises desenvolvidas no trabalho, sugere novos métodos de precificação. Por
fim, também é desenvolvido um modelo matemático de precificação de ingressos, que
busca maximizar o faturamento dos promotores de shows.

Palavras-chave: precificação de ingressos, promoção de shows



Abstract



The sector of live music shows has passed through big changes during this decade,
which were accelerated by phenomenons such as the popularization of the Internet and
the stronger competition in the sector. Although these changes forced the companies to
be more efficient, the brazilian show promoters still fail to price the tickets for their own
shows. As a result, buying tickets for such events in Brazil is not an easy process. Huge
queues, sold out tickets and the presence of scalpers are only some of the problems the
fans currently face. This paper analyses the typical strategies used by brazilian
promoters to price their tickets and, base on the ticket pricing theory available,
develops new ticket pricing strategies. To finish, it is also developed a mathematic
model of show revenue maximization.

Key-words: ticket pricing, show promotion



   1. Introdução


Como mencionado no resumo do trabalho, o setor de promoção de shows musicais,
tanto americano quanto brasileiro, passaram por grandes transformações nos últimos
anos. Essas mudanças quebraram antigos paradigmas e criou um novo cenário de
competição. Embora tais mudanças forçaram as empresas a se tornarem mais
competitivas, elas ainda exibem falhas em um processo-chave de seus negócios, a
precificação dos ingressos para os shows que organizam. Desta forma, este trabalho visa
desenvolver métodos para auxiliar estas empresas a precificar os ingressos de uma
forma mais eficiente e eficaz. Para se chegar a tal objetivo, o trabalho realizou uma
análise de todo o setor musical, para entender qual é a realidade destas empresas e seus
principais desafios. Após esta análise, foi feita uma revisão sobre os principais livros e
artigos publicados que tratam do tema de precificação de ingressos, além de um
benchmarking com empresas semelhantes em outros países. Estas análises permitiram
desenvolver idéias que podem melhorar a política de precificação de ingressos das
promotoras de shows brasileiras. Por fim, foi desenvolvido um modelo matemático que
maximiza o faturamento dos shows. Em conjunto, todas as análises e ferramentas
desenvolvidas no trabalho permitem que as empresas de promoção de shows brasileiras
consigam precificar seus ingressos de uma maneira mais eficiente e eficaz, impactando
diretamente o lucro líquido dessas organizações.
2. Metodologia



Inicialmente foi realizado um levantamento das atuais práticas de precificação utilizadas
pelos promotores de shows brasileiros e americanos. Também foi realizada uma revisão
bibliográfica para verificar se, com base nos conceitos pesquisados, seria possível
desenvolver novas formas de precificação. Por fim, com base em outros artigos
pesquisados, foi desenvolvido um modelo matemático que é capaz de maximizar o
faturamento de um show. A base teórica do modelo foi retirada da pesquisa
bibliográfica. Já a implantação do mesmo foi realizada usando o software Microsoft
Excel e um plugin para o mesmo, chamado Risk Solver Platform, da empresa Frontline
Systems. Para simular o funcionamento do modelo, foi criado um questionário que
perguntava os preços de reserva das pessoas para um show da cantora pop americana
Britney Spears. Tal cantora foi escolhida, pois, como nunca realizou um show próprio
no Brasil, haveria uma possibilidade menor de as pessoas ancorarem as respostas nos
preços de um eventual show passado. Além disso, ela também foi escolhida porque o
escopo do trabalho são os grandes shows de música popular, mercado no qual a cantora
atua. Além disso, a cantora possui grande projeção no Brasil, o que facilitou a aplicação
do questionário. Vale ressaltar que foi necessário definir um artista em particular
justamente para simular o funcionamento do modelo com valores os mais realistas
possíveis, incluindo pessoas que são fãs do artista e outras que não apreciam tanto sua
música.




    3. O setor de promoção de shows americano e brasileiro



O setor de promoção de shows sofreu grandes mudanças nas duas últimas décadas. De
um setor descentralizado, com players regionais, o mesmo passou a ser concentrado, o
que levou ao surgimento das grandes empresas de promoção de shows, que possuem
presença global. Essa integração foi ocasionada devido a uma dificuldade que havia,
com a estrutura descentralizada anterior, de promover grandes turnês globais, que,
devido à queda na venda de música, passaram a ser uma importante fonte de renda para
os artistas.
Figura 1 - Atividades do setor de promoção de shows


            Agencias             Planejamento              Local físico                Venda de
             artistas            e organização              do show                    ingressos




Tradicionalmente o setor operava da seguinte forma: o promotor de shows entrava em
contato com o agente do artista e negociava um valor para que a banda fizesse uma
apresentação. Em seguida, o promotor reservava um espaço físico para viabilizar o
show. Assim, ele realizaria outra negociação com os donos das casas de shows, arenas e
estádios. Em seguida, o promotor deveria decidir o preço dos ingressos, e como eles
seriam vendidos (vendas somente na porta da casa ou terceirização do serviço). Além
destas atividades, o promotor também era responsável por promover o show, seja
através de anúncios em rádios e canais de TV, distribuição de folhetos e outros
métodos. Durante um longo período de tempo a maioria destas essas atividades eram
realizadas por players distintos, realidade que mudou nos últimos anos, como pode ser
visto no quadro abaixo:



    Figura 2 - Cadeia atual do setor de promoção de shows musicais no Estados
                                                  Unidos

            ARTISTA                                                                   CONSUMIDOR


  Agenciar artistas                                    Realização de shows

       Agenciar artistas           Planejamento            Local físico do show      Venda de ingressos

  Agentes                     Promotor de shows                                   Venda de ingressos




  Promotor de shows
A figura acima mostra duas grandes mudanças no setor de promoção de shows. A
primeira é a integração à montante realizada pelas empresas promotoras de shows, que
agora também são donas da maioria das casas de espetáculos. No entanto, a mudança
mais importante foi a integração vertical realizada pela empresa de promoção de shows
americana Live Nation. Atualmente a empresa possui uma divisão responsável por
agenciar artistas, chamada Artists Nation. Além de agenciar os artistas, a empresa
também assumiu o papel de gravadora, sendo responsável por todo o processo de
gravação de álbuns e distribuição de música de alguns de seus artistas agenciados, como
a cantora Madonna. Além de todas estas atividades, a Live Nation também é a maior
promotora de shows do mundo. Além de organizar as turnês, a empresa também é dona
de várias casas de shows no Estados Unidos, e também possui seu próprio site de venda
de ingressos, o www.livenation.com. Desta forma, a empresa, além de se tornar
totalmente verticalizada no setor de promoção de shows, também entrou no mercado de
venda de música, passando a ser concorrente das gravadoras e agências de artistas.

Como pode ser visto pela análise acima, o setor de promoção de shows passou por
grandes mudanças e atualmente enfrenta um aumento da concorrência. Além disso, este
setor é tradicionalmente conhecido por suas baixas margens de lucro, que giram em
torno de 2% no Estados Unidos. O aumento da agressividade da concorrência aliado às
baixas margens de lucro do setor torna necessário que essas empresas busquem maior
eficiência. Desta forma, é necessário desenvolver estratégias que aumentem as margens
de lucro dessas empresas, que é justamente o objetivo das estratégias e do modelo
desenvolvido neste trabalho.



   4. Estratégias de precificação de ingressos



Inicialmente foi feita uma pesquisa sobre quais estratégias de precificação já eram
utilizadas no setor de espetáculos musicais no Brasil. Essa análise revelou que a única
estratégia amplamente utilizada é a divisão da área interna da casa de shows em setores,
como pista, camarote e demais divisões. Embora esta estratégia permita cobrar preços
diferentes para um mesmo show, ainda é possível, com o auxílio de outras estratégias,
cobrar preços mais altos e distintos para cada fã.
A primeira estratégia que pode ser implementada é a venda dos ingressos em lotes. Caso
seja utilizada, pode auxiliar a empresa a lidar com a incerteza da demanda, já que, caso
a demanda pelos ingressos se mostre superior à inicialmente prevista, o segundo lote de
ingressos pode ser vendido por um preço maior que o do primeiro lote. Desta forma, é
possível capturar uma parcela maior do excedente do consumidor e evitar que os
ingressos se esgotem rapidamente.

Outra estratégia que pode ser utilizada é o leilão dos ingressos das alas mais luxuosas.
Com esta ferramenta, é possível capturar todo o excedente do consumidor dos maiores
fãs do artista, o que resulta em um aumento no faturamento do show.

Outra estratégia é agregar mais valor para os consumidores, particularmente aos maiores
fãs do artista, já que estes, teoricamente, tendem a desembolsar quantias grandes para
qualquer experiência que o aproxime mais do artista. Nesse sentido, podem ser
realizados eventos paralelos ao show, e que sejam destinados a um restrito grupo de
pessoas, como pré-shows com o artista, bate-papo com o(a) cantor(a), pré-festas
temáticas e outras atividades. Por fim, outra estratégia mencionada no trabalho visa
combater as filas que se formam na porta da casa de shows antes do início do
espetáculo. Essas filas chegam a se formar dias antes no caso de grandes shows
internacionais, que em São Paulo costumam ser realizados no Estádio do Morumbi.
Estas filas ocorrem porque, mesmo que o fã tenha comprado um ingresso para a melhor
ala do show, ele ainda terá que chegar antes e aguardar na fila caso deseje ficar no
melhor lugar da ala que escolheu. Caso fosse ofertado ao fã a possibilidade de pagar um
valor a mais para que não precisasse ficar na fila e mesmo assim conseguisse ficar no
melhor lugar da ala que escolheu, a maioria provavelmente estaria disposta a pagar
mais. Dessa forma, poderia ser comercializado um serviço de entrada antecipada para
uma porcentagem de cada ala. Por exemplo, se uma ala possui 10.000 lugares, 1.000
ingressos com o serviço de entrada antecipada poderiam ser vendidos. Dessa forma,
estas mil pessoas não precisariam ficar na fila para garantir um bom lugar no setor, e o
promotor do show também aumentaria o faturamento do evento.




   5. O modelo de maximização do faturamento de espetáculos musicais
A lógica do modelo desenvolvido no trabalho advém de um estudo realizado por Rosen
e Rosenfield (1997). Os autores propõem um modelo de precificação de ingressos para
até duas classes de assentos. Para facilitar o entendimento, considere uma casa de shows
com capacidade fixa e com dois tipos de assentos, os de alta qualidade (primeira classe),
H, e os de baixa qualidade (segunda classe), L. O número de assentos para cada classe é
nh e nl. Os autores também fazem as seguintes restrições: Os compradores não podem
escolher quando comprar os ingressos – é tudo ou nada. Esta condição é próxima à
realidade de shows musicais, onde em geral é feita uma única apresentação em
determinada cidade, ou uma pequena quantidade em datas próximas, de modo que não
há diferenças significativas na demanda para cada show. Além disso, cada tipo de
assento é conhecido e percebido da mesma maneira por todos os consumidores
potenciais. Todos preferem a primeira classe em detrimento da segunda, entretanto os
preços de reserva variam para cada pessoa. Nesse caso, rh e rl serão os preços de reserva
de uma pessoa para os assentos H e L.


O promotor do show sabe que os preços de reserva estão distribuídos de acordo com
uma freqüência f(rh, rl), mas não consegue identificar a demanda individual de cada
pessoa. Os preços precisam ser determinados antecipadamente e praticados igualmente
para todos os potenciais consumidores. A empresa escolhe preços que maximizem o
faturamento do show, prevendo o comportamento dos consumidores dado os preços
praticados. Os autores também admitem que a revenda de ingressos não é permitida no
exemplo.


Se ph e p l são os preços cobrados para cada tipo de assento, um comprador com valores
específicos de reserva (rh, rl) escolhe comprar um ingresso caso rh – ph > 0 ou rl – pl >0.
Quando o excedente do consumidor não é negativo e um ingresso é comprado, o cliente
escolhe o tipo de assento H ou L de acordo com a equação abaixo:


   (1)                              Max (rh – ph, rl – pl)


Da equação (1), uma política de preços (ph, pl) divide o gráfico (rh, rl) em três regiões,
mostradas na figura abaixo:
Gráfico 1 – Comportamento dos consumidores dado preços Pl e Ph para os
                                              ingressos

                    rh


                            Primeira classe

                                  H



                    P
                        h
                                                      Segunda classe

                            Não compra                      L




                                              P                        rl
                                                  l




FONTE: ROSEN, Sherwin; ROSENFIELD, Andy. Ticket Pricing. The University of
Chicago. [Chicago], 1997.



Todas as pessoas cujos preços de reserva são menores que ph e p l não compram nenhum
ingresso. Os consumidores cujos preços de reserva ficam na área maracá H compram
um ingresso para a primeira classe, e as pessoas cujos preços de reserva a situam na área
marcada L adquirem um ingresso para segunda classe.


A figura abaixo mostra como a mudança nos preços de cada tipo de ingresso afeta o
comportamento dos consumidores. Caso p h seja aumentado para ph´ e p l´ seja mantido
constante, algumas pessoas que anteriormente haviam comprado ingressos para a
primeira classe decidem não ir ao show (consumidores cujos preços de reserva ficaram
na região 1 da figura abaixo). Outras pessoas, cujos preços de reserva superam o preço
do ingresso para a segunda classe, trocam da primeira para a segunda classe (área
marcada 2 da figura). Caso pl seja aumentado para pl´ e ph seja mantido constante,
algumas pessoas que previamente haviam comprado ingressos para a segunda classe
agora decidem não ir ao show (área 3 da figura), e outras pessoas que haviam adquirido
ingressos para a segunda classe agora trocam para a primeira classe (área 4 da figura).
Gráfico 2 - Mudanças no comportamento dos consumidores devido a mudança no
                                  preço dos ingressos

                    rh




                                                        2
                                                            3
                    P´
                        h
                              1
                    P
                        h




                                               4




                                       P           P´
                                                                rl
                                           l        l




FONTE: ROSEN, Sherwin; ROSENFIELD, Andy. Ticket Pricing. The University of
Chicago. [Chicago], 1997.



O problema do promotor de shows é descobrir quais preços de reserva maximizam o
faturamento, considerando as restrições na quantidade de assentos em cada classe.
Embora a solução seja fácil quando há poucos consumidores ou suas demandas são
semelhantes, o problema se torna complexo quando há várias classes de assentos e
muitos compradores com demandas distintas, que é o caso dos shows musicais. Assim,
o modelo desenvolvido acima será utilizado no trabalho. No entanto, para lidar com as
especificidades da realidade, alguns incrementos serão feitos no modelo, como a
inserção da política de meia-entrada e a criação de vários pacotes diferentes. Para que
tal modelo seja aplicado, utilizou-se neste trabalho recursos computacionais (plugin
Risk Solver Platform, para o software Microsoft Excel). Tal plugin foi utilizado, pois, o
Solver do próprio Excel possui limitações no número de variáveis analisadas que
inviabilizam a resolução de problemas da magnitude do proposto neste trabalho.
Enquanto o Solver do Excel suporta problemas com até 200 variáveis, o problema em
questão possui 6.622 variáveis, conforme será explicado mais adiante.



   6. Estruturação do modelo, aplicação e resultados
Para se aplicar o modelo, é necessário antes definir como será feita a divisão interna da
casa de shows. Como o escopo do trabalho são os grandes shows de música popular, o
local escolhido para a realização do show foi o Estádio do Morumbi. Já em relação à
divisão interna, a quantidade de alas utilizadas foi a mesma do show da cantora
Madonna, realizado em 2008 no próprio Estádio do Morumbi. Optou-se por manter esse
layout porque, caso fossem criadas mais alas, poderia ser difícil garantir que as pessoas
não pulassem as grades e invadissem outras alas, o que poderia ocorrer devido às
próprias limitações físicas do Estádio. Assim, foram utilizadas as seguintes divisões:
Pista VIP, Pista Normal, Arquibancada Laranja, Arquibancada Azul e Vermelha e
Cadeiras Inferiores. Como as arquibancadas azul e vermelha são simétricas, visando
reduzir o número de perguntas do questionário, considerou-se que o preço pago nas
duas alas é o mesmo.


Após a definição das alas é necessário definir quais serão os pacotes vendidos. Além
das alas listadas acima, também foram criados novos pacotes, visando capturar uma
maior parte do excedente do consumidor. O primeiro pacote é o mais completo,
oferecendo, além de um ingresso para a Pista VIP, acesso a um show intimista para
somente 600 pessoas, com a cantora Britney Spears. O segundo pacote também oferece
um ingresso para a Pista VIP, no entanto, além do ingresso, também oferece acesso a
uma pré-festa temática da cantora, também exclusiva para os compradores deste pacote.
Como observação, vale ressaltar que os respondentes foram informados de que o preço
das bebidas/comidas consumidas nas festas não estava incluso no preço do pacote.


Além de todas as alas e pacotes, a pesquisa também abordou a venda de outro serviço,
chamado de Entrada Antecipada. Quem adquirir este serviço terá o direito de entrar no
Estádio antes das outras pessoas, de modo que, as pessoas que comprarem esse serviço
ficarão nos melhores lugares da ala que escolheram, conforme já comentado
anteriormente no texto. Também é importante citar que o modelo considera a questão da
meia-entrada. A lei em vigência na cidade de São Paulo determina que 30% dos
ingressos de cada pacote do show sejam vendidos com 50% de desconto para
estudantes, professores, aposentados e outras classes. Deste modo, o número de pacotes
dobrará, já que, para cada pacote criado, também deverá existir a sua versão com
desconto.
Com base em todas as opções de vendas detalhadas acima, chegou-se a um total de 22
pacotes diferentes. Como serão 22 variáveis por entrevistado e um total de 301
questionários respondidos, o modelo maximizará o faturamento do show com base na
otimização de 6.622 variáveis.


O modelo a ser utilizado diz respeito à maximização de uma função-objetivo que
representa a soma dos excedentes do consumidor para todas as pessoas que irão ao
show. Inicialmente há uma tabela onde constam os preços de reserva de cada
entrevistado para cada pacote do show. No caso da meia-entrada, o preço de reserva de
quem respondeu no questionário que não era estudante foi zerado para os pacotes de
meia-entrada, já que essas pessoas na realidade não podem adquirir ingressos com meia-
entrada. Nessa tabela há também o preço de venda do ingresso de cada pacote. Para os
pacotes que utilizam a meia-entrada, o preço de venda do ingresso era 50% menor que o
respectivo pacote sem meia-entrada. Em outra tabela da mesma planilha é calculada a
diferença entre o preço de venda e o preço de reserva de cada entrevistado para cada
pacote do show, valor conhecido como excedente do consumidor. Por fim, há outra
tabela em que constam as variáveis do modelo, que são todas binárias, ou seja, se o
computador decidir que a combinação ótima inclui que o entrevistado de número 35
compre o pacote 11, essa célula deixará de ter o valor zero para ter o valor um. Isto
permite que o computador descubra, através de simulações, qual é a combinação que
maximiza o excedente do consumidor de todo o show. Com base neste modelo de
otimização, é possível mudar o preço de venda dos ingressos até descobrir qual é a
combinação que maximiza o faturamento do espetáculo.


O modelo também possui restrições. A primeira restrição é sobre a lotação máxima de
cada pacote do show. Além das restrições físicas, há também restrições quanto a meia-
entrada e o serviço de entrada antecipada. A restrição física foi calculada através da
estimativa da lotação real do Estádio do Morumbi. Há uma tabela no adiante no trabalho
que sintetiza todas as informações sobre a lotação do show. Outra restrição adotada no
modelo é permitir que cada pessoa seja alocada somente para um pacote. Dessa forma o
modelo não colocará a mesma pessoa em vários pacotes, o que é impossível ocorrer na
realidade.
Abaixo segue uma tabela com os preços encontrados pelo modelo e os valores cobrados
pelos mesmos pacotes no show da cantora Madonna, realizado no Estádio do Morumbi
em dezembro de 2008. Além disso, nesta tabela também constam informações sobre a
lotação do Estádio, que serão explicadas mais adiante.



                                        Tabela 1 – Valores obtidos pelo modelo
                                                                   Preço cobrado
                                                      Preço de      pelo mesmo
                                                                                     Lotação     Lotação Lotação     Lotação   Lotação
 Setor do                                               venda      pacote no show
                        Pacote do show                                              máxima (301 ideal (301 máxima    máxima ideal/Lotação
  show                                               encontrado      da cantora
                                                                                     pessoas)    pessoas)   (real)    (ideal)  máxima
                                                     pelo modelo    Madonna em
                                                                        2008

              Pré-show                                4.600,00           -               2          2        561       561      100%
              Pré-show - meia -entrada                2.300,00           -               0          0        168       168         -
              Pré-festa                               1.200,00           -               8          8       2.246     2.246     100%
 Pista VIP
              Pré-festa - meia-entrada                 600,00            -               3          3        842       842      100%
              Pista VIP                                890,00          600,00            2          2        561       561      100%
              Pista VIP - meia-entrada                 445,00          300,00            1          1        281       281      100%
              Pista Normal                             240,00          250,00           47         42      13.194    11.791      89%
              Pista Normal - meia-entrada              120,00          125,00           14         14       3.930     3.930     100%
   Pista
  Normal      Pista Normal - entrada antecipada        410,00            -               7          7       1.965     1.965     100%
              Pista Normal - entrada antecipada -
                                                       205,00            -               2          2       561       561       100%
              meia -entrada
              Setor Laranja                            290,00          160,00           44          0      12.352       0        0%
              Setor Laranja - meia-entrada             145,00           80,00           13          8       3.649     2.246      62%
  Setor
 Laranja      Setor Laranja - entrada antecipada       395,00             -              6          3       1.684      842       50%
              Setor Laranja - entrada antecipada -
                                                       197,50            -               2          2       561       561       100%
              meia-entrada
              Setor AV                                 350,00          180,00           87          0      24.424       0        0%
Setor AV      Setor AV - meia-entrada                  175,00           90,00           25         13       7.018     3.649      52%
 (Azul e      Setor AV - entrada antecipada            900,00             -             13          0       3.649       0        0%
Vermelho)     Setor AV - entrada antecipada -
                                                       450,00            -               4          1       1.123     281        25%
              meia-entrada
              Cadeiras Inferiores                     4.005,00         250,00           14          0       3.930      0         0%
              Cadeiras Inferiores - meia-entrada      2.002,50         125,00            4          1       1.123     281        25%
 Cadeiras     Cadeiras Inferiores - entrada
 Inferiores                                           5.000,00           -               2          0       561        0         0%
              antecipada
              Cadeiras Inferiores - entrada
                                                      2.500,00           -               1          1       281       281       100%
              antecipada - meia-entrada

                                         TOTAIS           -              -              301        110     84.668    31.049      37%




Conforme pode ser visto na tabela acima, com exceção do pacote “Cadeira Inferior”,
todos os valores de venda sugeridos pelo modelo ficaram próximos ao cobrados no
show da cantora Madonna em 2008, realizado também no Estádio do Morumbi e com a
mesma divisão de alas. Também é válido ressaltar que, com exceção da Pista Normal,
todos os outros valores sugeridos pelo modelo foram superiores aos praticados no show
da cantora Madonna.

Agora seguem explicações sobre as restrições de lotação do Estádio. O site do São
Paulo Futebol Clube afirma que a lotação máxima do Estádio é de 84.500, mas este
valor não computa a utilização do gramado como platéia. No entanto, como para o
show, aproximadamente 25% das arquibancadas ficam inutilizadas, pois ficam atrás do
palco, baseando-se na proximidade entre a área inutilizada e o tamanho do gramado, foi
feita a suposição de que a lotação máxima do Estádio para o show também seria de
84.500 pessoas. A seguir foram estimadas quantas pessoas caberiam em cada área do
show, e chegou-se aos valores de 20.000 pessoas na pista, 4.500 na pista VIP, 6.000 nas
cadeiras inferiores e 18.000 por arquibancada, de modo que a soma total chega
novamente a 84.500 pessoas. A seguir foi feita uma proporção de 84.500 para 301
pessoas, que foi o número de questionários utilizados no modelo. Assim, a lotação de
cada área foi encontrada e os valores foram aplicados como restrições no modelo. Dessa
forma, caso o modelo acusasse que todas as 301 pessoas iriam ao show, isso equivaleria
à lotação máxima de 84.500. No entanto, o resultado apontado pelo modelo afirma que,
das 301 pessoas, somente 110 iriam efetivamente ao show. Segundo o modelo, essa é a
quantidade que maximiza o faturamento do show. Caso mais pessoas fossem ao show, o
preço dos ingressos teria que ser reduzido para valores que não maximizam o
faturamento, o que justifica que a maioria das pessoas não vá ao show segundo o
resultado do modelo. A tabela vista acima, além de mostrar os preços de venda obtidos
pelo modelo também permite verificar que a lotação sugerida pelo modelo está abaixo
da lotação máxima. Segundo o modelo, a lotação que maximiza o faturamento
representa 37% da capacidade do Estádio. Com essa lotação, o faturamento total do
show seria de R$ 13.428.061,00. Embora os pacotes mais caros tenham obtido lotação
ideal máxima, como no caso de todos os pacotes que envolviam a Pista VIP, as
arquibancadas e as cadeiras inferiores obtiveram baixa lotação. No entanto, é válido
citar que todos os pacotes de meia-entrada obtiveram lotação máxima ou superior ao seu
respectivo pacote de preço integral. A diferença entre a lotação de pacotes tradicionais
versus os de meia-entrada fica mais nítida nas arquibancadas. Para exemplificar,
podemos visualizar a lotação da Arquibancada Azul e Vermelha. Embora o pacote
normal tenha ficado com lotação zero, o pacote de meia-entrada para essas
arquibancadas ficou com 52% de lotação.


Também é importante ressaltar que o resultado obtido pelo modelo é coerente com a
teoria já existente sobre precificação de ingressos. Rosen e Rosenfield (1997) afirmam
que, independentemente dos preços e pacotes utilizados em um show, nunca é ótimo
deixar lugares vazios no pacote de maior preço. Tal exigência foi seguida pelo modelo
já que, conforme pode visto na tabela 9, houve lotação máxima para todos os pacotes da
Pista VIP.



         1.1   Conclusão


O trabalho se inicia realizando uma análise do setor de promoção shows americano e
brasileiro. Através dessa análise podemos observar que o setor passou por mudanças
estruturais nos últimos anos, que mudaram os paradigmas do setor. Essas mudanças
pressionam os lucros das empresas, que por sua vez necessitam ser tornar mais
eficientes para não sucumbir à competição. O objetivo do trabalho é desenvolver
ferramentas e estratégias que auxiliem os promotores de shows brasileiros a atuar com
mais eficiência. Os principais resultados obtidos foram o funcionamento correto do
modelo matemático de precificação de ingressos e o desenvolvimento de várias
estratégias que auxiliam o promotor de shows a aumentar o faturamento de seus
espetáculos, como a venda de ingresso em lotes, o leilão dos ingressos das alas mais
luxuosas e outras estratégias. Com base em todo o conhecimento revisto e gerado neste
trabalho, podemos afirmar que o mesmo é capaz de auxiliar as empresas brasileiras de
promoção de shows a aumentar seus lucros, visto que muitas delas ainda não utilizam as
estratégias elaboradas neste trabalho.



   7. Referências


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA: Critério de
Classificação      Econômica       Brasil.         Disponível     em:     <
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  • 1. PRECIFICAÇÃO DE INGRESSOS PARA ESPETÁCULOS DE MÚSICA POPULAR NO BRASIL - UM ESTUDO SOBRE ALTERNATIVAS DE MENSURAÇÃO E CAPTURA DO EXCEDENTE DO CONSUMIDOR – Thiago Thot de Carvalho Prof. Dr. José Giesbrecht da Silveira Resumo O setor de promoção de espetáculos musicais passou por grandes modificações durante esta década, catalisadas por fenômenos como o advento da Internet e o aumento da concorrência no setor. Embora estas mudanças forçaram as empresas a se profissionalizarem, as companhias brasileiras de promoção de shows ainda falham ao precificar os ingressos para seus espetáculos musicais. Como resultado, há confusão no processo de compra dos ingressos para shows de grandes artistas internacionais, como queda no sistema de vendas, formação de grandes filas para comprar os ingressos e entrar na casa de shows, ingressos esgotados e a presença constante de cambistas. Este trabalho analisa todas as práticas de precificação do setor, e, com base na revisão teórica e em análises desenvolvidas no trabalho, sugere novos métodos de precificação. Por fim, também é desenvolvido um modelo matemático de precificação de ingressos, que busca maximizar o faturamento dos promotores de shows. Palavras-chave: precificação de ingressos, promoção de shows Abstract The sector of live music shows has passed through big changes during this decade, which were accelerated by phenomenons such as the popularization of the Internet and
  • 2. the stronger competition in the sector. Although these changes forced the companies to be more efficient, the brazilian show promoters still fail to price the tickets for their own shows. As a result, buying tickets for such events in Brazil is not an easy process. Huge queues, sold out tickets and the presence of scalpers are only some of the problems the fans currently face. This paper analyses the typical strategies used by brazilian promoters to price their tickets and, base on the ticket pricing theory available, develops new ticket pricing strategies. To finish, it is also developed a mathematic model of show revenue maximization. Key-words: ticket pricing, show promotion 1. Introdução Como mencionado no resumo do trabalho, o setor de promoção de shows musicais, tanto americano quanto brasileiro, passaram por grandes transformações nos últimos anos. Essas mudanças quebraram antigos paradigmas e criou um novo cenário de competição. Embora tais mudanças forçaram as empresas a se tornarem mais competitivas, elas ainda exibem falhas em um processo-chave de seus negócios, a precificação dos ingressos para os shows que organizam. Desta forma, este trabalho visa desenvolver métodos para auxiliar estas empresas a precificar os ingressos de uma forma mais eficiente e eficaz. Para se chegar a tal objetivo, o trabalho realizou uma análise de todo o setor musical, para entender qual é a realidade destas empresas e seus principais desafios. Após esta análise, foi feita uma revisão sobre os principais livros e artigos publicados que tratam do tema de precificação de ingressos, além de um benchmarking com empresas semelhantes em outros países. Estas análises permitiram desenvolver idéias que podem melhorar a política de precificação de ingressos das promotoras de shows brasileiras. Por fim, foi desenvolvido um modelo matemático que maximiza o faturamento dos shows. Em conjunto, todas as análises e ferramentas desenvolvidas no trabalho permitem que as empresas de promoção de shows brasileiras consigam precificar seus ingressos de uma maneira mais eficiente e eficaz, impactando diretamente o lucro líquido dessas organizações.
  • 3. 2. Metodologia Inicialmente foi realizado um levantamento das atuais práticas de precificação utilizadas pelos promotores de shows brasileiros e americanos. Também foi realizada uma revisão bibliográfica para verificar se, com base nos conceitos pesquisados, seria possível desenvolver novas formas de precificação. Por fim, com base em outros artigos pesquisados, foi desenvolvido um modelo matemático que é capaz de maximizar o faturamento de um show. A base teórica do modelo foi retirada da pesquisa bibliográfica. Já a implantação do mesmo foi realizada usando o software Microsoft Excel e um plugin para o mesmo, chamado Risk Solver Platform, da empresa Frontline Systems. Para simular o funcionamento do modelo, foi criado um questionário que perguntava os preços de reserva das pessoas para um show da cantora pop americana Britney Spears. Tal cantora foi escolhida, pois, como nunca realizou um show próprio no Brasil, haveria uma possibilidade menor de as pessoas ancorarem as respostas nos preços de um eventual show passado. Além disso, ela também foi escolhida porque o escopo do trabalho são os grandes shows de música popular, mercado no qual a cantora atua. Além disso, a cantora possui grande projeção no Brasil, o que facilitou a aplicação do questionário. Vale ressaltar que foi necessário definir um artista em particular justamente para simular o funcionamento do modelo com valores os mais realistas possíveis, incluindo pessoas que são fãs do artista e outras que não apreciam tanto sua música. 3. O setor de promoção de shows americano e brasileiro O setor de promoção de shows sofreu grandes mudanças nas duas últimas décadas. De um setor descentralizado, com players regionais, o mesmo passou a ser concentrado, o que levou ao surgimento das grandes empresas de promoção de shows, que possuem presença global. Essa integração foi ocasionada devido a uma dificuldade que havia, com a estrutura descentralizada anterior, de promover grandes turnês globais, que, devido à queda na venda de música, passaram a ser uma importante fonte de renda para os artistas.
  • 4. Figura 1 - Atividades do setor de promoção de shows Agencias Planejamento Local físico Venda de artistas e organização do show ingressos Tradicionalmente o setor operava da seguinte forma: o promotor de shows entrava em contato com o agente do artista e negociava um valor para que a banda fizesse uma apresentação. Em seguida, o promotor reservava um espaço físico para viabilizar o show. Assim, ele realizaria outra negociação com os donos das casas de shows, arenas e estádios. Em seguida, o promotor deveria decidir o preço dos ingressos, e como eles seriam vendidos (vendas somente na porta da casa ou terceirização do serviço). Além destas atividades, o promotor também era responsável por promover o show, seja através de anúncios em rádios e canais de TV, distribuição de folhetos e outros métodos. Durante um longo período de tempo a maioria destas essas atividades eram realizadas por players distintos, realidade que mudou nos últimos anos, como pode ser visto no quadro abaixo: Figura 2 - Cadeia atual do setor de promoção de shows musicais no Estados Unidos ARTISTA CONSUMIDOR Agenciar artistas Realização de shows Agenciar artistas Planejamento Local físico do show Venda de ingressos Agentes Promotor de shows Venda de ingressos Promotor de shows
  • 5. A figura acima mostra duas grandes mudanças no setor de promoção de shows. A primeira é a integração à montante realizada pelas empresas promotoras de shows, que agora também são donas da maioria das casas de espetáculos. No entanto, a mudança mais importante foi a integração vertical realizada pela empresa de promoção de shows americana Live Nation. Atualmente a empresa possui uma divisão responsável por agenciar artistas, chamada Artists Nation. Além de agenciar os artistas, a empresa também assumiu o papel de gravadora, sendo responsável por todo o processo de gravação de álbuns e distribuição de música de alguns de seus artistas agenciados, como a cantora Madonna. Além de todas estas atividades, a Live Nation também é a maior promotora de shows do mundo. Além de organizar as turnês, a empresa também é dona de várias casas de shows no Estados Unidos, e também possui seu próprio site de venda de ingressos, o www.livenation.com. Desta forma, a empresa, além de se tornar totalmente verticalizada no setor de promoção de shows, também entrou no mercado de venda de música, passando a ser concorrente das gravadoras e agências de artistas. Como pode ser visto pela análise acima, o setor de promoção de shows passou por grandes mudanças e atualmente enfrenta um aumento da concorrência. Além disso, este setor é tradicionalmente conhecido por suas baixas margens de lucro, que giram em torno de 2% no Estados Unidos. O aumento da agressividade da concorrência aliado às baixas margens de lucro do setor torna necessário que essas empresas busquem maior eficiência. Desta forma, é necessário desenvolver estratégias que aumentem as margens de lucro dessas empresas, que é justamente o objetivo das estratégias e do modelo desenvolvido neste trabalho. 4. Estratégias de precificação de ingressos Inicialmente foi feita uma pesquisa sobre quais estratégias de precificação já eram utilizadas no setor de espetáculos musicais no Brasil. Essa análise revelou que a única estratégia amplamente utilizada é a divisão da área interna da casa de shows em setores, como pista, camarote e demais divisões. Embora esta estratégia permita cobrar preços diferentes para um mesmo show, ainda é possível, com o auxílio de outras estratégias, cobrar preços mais altos e distintos para cada fã.
  • 6. A primeira estratégia que pode ser implementada é a venda dos ingressos em lotes. Caso seja utilizada, pode auxiliar a empresa a lidar com a incerteza da demanda, já que, caso a demanda pelos ingressos se mostre superior à inicialmente prevista, o segundo lote de ingressos pode ser vendido por um preço maior que o do primeiro lote. Desta forma, é possível capturar uma parcela maior do excedente do consumidor e evitar que os ingressos se esgotem rapidamente. Outra estratégia que pode ser utilizada é o leilão dos ingressos das alas mais luxuosas. Com esta ferramenta, é possível capturar todo o excedente do consumidor dos maiores fãs do artista, o que resulta em um aumento no faturamento do show. Outra estratégia é agregar mais valor para os consumidores, particularmente aos maiores fãs do artista, já que estes, teoricamente, tendem a desembolsar quantias grandes para qualquer experiência que o aproxime mais do artista. Nesse sentido, podem ser realizados eventos paralelos ao show, e que sejam destinados a um restrito grupo de pessoas, como pré-shows com o artista, bate-papo com o(a) cantor(a), pré-festas temáticas e outras atividades. Por fim, outra estratégia mencionada no trabalho visa combater as filas que se formam na porta da casa de shows antes do início do espetáculo. Essas filas chegam a se formar dias antes no caso de grandes shows internacionais, que em São Paulo costumam ser realizados no Estádio do Morumbi. Estas filas ocorrem porque, mesmo que o fã tenha comprado um ingresso para a melhor ala do show, ele ainda terá que chegar antes e aguardar na fila caso deseje ficar no melhor lugar da ala que escolheu. Caso fosse ofertado ao fã a possibilidade de pagar um valor a mais para que não precisasse ficar na fila e mesmo assim conseguisse ficar no melhor lugar da ala que escolheu, a maioria provavelmente estaria disposta a pagar mais. Dessa forma, poderia ser comercializado um serviço de entrada antecipada para uma porcentagem de cada ala. Por exemplo, se uma ala possui 10.000 lugares, 1.000 ingressos com o serviço de entrada antecipada poderiam ser vendidos. Dessa forma, estas mil pessoas não precisariam ficar na fila para garantir um bom lugar no setor, e o promotor do show também aumentaria o faturamento do evento. 5. O modelo de maximização do faturamento de espetáculos musicais
  • 7. A lógica do modelo desenvolvido no trabalho advém de um estudo realizado por Rosen e Rosenfield (1997). Os autores propõem um modelo de precificação de ingressos para até duas classes de assentos. Para facilitar o entendimento, considere uma casa de shows com capacidade fixa e com dois tipos de assentos, os de alta qualidade (primeira classe), H, e os de baixa qualidade (segunda classe), L. O número de assentos para cada classe é nh e nl. Os autores também fazem as seguintes restrições: Os compradores não podem escolher quando comprar os ingressos – é tudo ou nada. Esta condição é próxima à realidade de shows musicais, onde em geral é feita uma única apresentação em determinada cidade, ou uma pequena quantidade em datas próximas, de modo que não há diferenças significativas na demanda para cada show. Além disso, cada tipo de assento é conhecido e percebido da mesma maneira por todos os consumidores potenciais. Todos preferem a primeira classe em detrimento da segunda, entretanto os preços de reserva variam para cada pessoa. Nesse caso, rh e rl serão os preços de reserva de uma pessoa para os assentos H e L. O promotor do show sabe que os preços de reserva estão distribuídos de acordo com uma freqüência f(rh, rl), mas não consegue identificar a demanda individual de cada pessoa. Os preços precisam ser determinados antecipadamente e praticados igualmente para todos os potenciais consumidores. A empresa escolhe preços que maximizem o faturamento do show, prevendo o comportamento dos consumidores dado os preços praticados. Os autores também admitem que a revenda de ingressos não é permitida no exemplo. Se ph e p l são os preços cobrados para cada tipo de assento, um comprador com valores específicos de reserva (rh, rl) escolhe comprar um ingresso caso rh – ph > 0 ou rl – pl >0. Quando o excedente do consumidor não é negativo e um ingresso é comprado, o cliente escolhe o tipo de assento H ou L de acordo com a equação abaixo: (1) Max (rh – ph, rl – pl) Da equação (1), uma política de preços (ph, pl) divide o gráfico (rh, rl) em três regiões, mostradas na figura abaixo:
  • 8. Gráfico 1 – Comportamento dos consumidores dado preços Pl e Ph para os ingressos rh Primeira classe H P h Segunda classe Não compra L P rl l FONTE: ROSEN, Sherwin; ROSENFIELD, Andy. Ticket Pricing. The University of Chicago. [Chicago], 1997. Todas as pessoas cujos preços de reserva são menores que ph e p l não compram nenhum ingresso. Os consumidores cujos preços de reserva ficam na área maracá H compram um ingresso para a primeira classe, e as pessoas cujos preços de reserva a situam na área marcada L adquirem um ingresso para segunda classe. A figura abaixo mostra como a mudança nos preços de cada tipo de ingresso afeta o comportamento dos consumidores. Caso p h seja aumentado para ph´ e p l´ seja mantido constante, algumas pessoas que anteriormente haviam comprado ingressos para a primeira classe decidem não ir ao show (consumidores cujos preços de reserva ficaram na região 1 da figura abaixo). Outras pessoas, cujos preços de reserva superam o preço do ingresso para a segunda classe, trocam da primeira para a segunda classe (área marcada 2 da figura). Caso pl seja aumentado para pl´ e ph seja mantido constante, algumas pessoas que previamente haviam comprado ingressos para a segunda classe agora decidem não ir ao show (área 3 da figura), e outras pessoas que haviam adquirido ingressos para a segunda classe agora trocam para a primeira classe (área 4 da figura).
  • 9. Gráfico 2 - Mudanças no comportamento dos consumidores devido a mudança no preço dos ingressos rh 2 3 P´ h 1 P h 4 P P´ rl l l FONTE: ROSEN, Sherwin; ROSENFIELD, Andy. Ticket Pricing. The University of Chicago. [Chicago], 1997. O problema do promotor de shows é descobrir quais preços de reserva maximizam o faturamento, considerando as restrições na quantidade de assentos em cada classe. Embora a solução seja fácil quando há poucos consumidores ou suas demandas são semelhantes, o problema se torna complexo quando há várias classes de assentos e muitos compradores com demandas distintas, que é o caso dos shows musicais. Assim, o modelo desenvolvido acima será utilizado no trabalho. No entanto, para lidar com as especificidades da realidade, alguns incrementos serão feitos no modelo, como a inserção da política de meia-entrada e a criação de vários pacotes diferentes. Para que tal modelo seja aplicado, utilizou-se neste trabalho recursos computacionais (plugin Risk Solver Platform, para o software Microsoft Excel). Tal plugin foi utilizado, pois, o Solver do próprio Excel possui limitações no número de variáveis analisadas que inviabilizam a resolução de problemas da magnitude do proposto neste trabalho. Enquanto o Solver do Excel suporta problemas com até 200 variáveis, o problema em questão possui 6.622 variáveis, conforme será explicado mais adiante. 6. Estruturação do modelo, aplicação e resultados
  • 10. Para se aplicar o modelo, é necessário antes definir como será feita a divisão interna da casa de shows. Como o escopo do trabalho são os grandes shows de música popular, o local escolhido para a realização do show foi o Estádio do Morumbi. Já em relação à divisão interna, a quantidade de alas utilizadas foi a mesma do show da cantora Madonna, realizado em 2008 no próprio Estádio do Morumbi. Optou-se por manter esse layout porque, caso fossem criadas mais alas, poderia ser difícil garantir que as pessoas não pulassem as grades e invadissem outras alas, o que poderia ocorrer devido às próprias limitações físicas do Estádio. Assim, foram utilizadas as seguintes divisões: Pista VIP, Pista Normal, Arquibancada Laranja, Arquibancada Azul e Vermelha e Cadeiras Inferiores. Como as arquibancadas azul e vermelha são simétricas, visando reduzir o número de perguntas do questionário, considerou-se que o preço pago nas duas alas é o mesmo. Após a definição das alas é necessário definir quais serão os pacotes vendidos. Além das alas listadas acima, também foram criados novos pacotes, visando capturar uma maior parte do excedente do consumidor. O primeiro pacote é o mais completo, oferecendo, além de um ingresso para a Pista VIP, acesso a um show intimista para somente 600 pessoas, com a cantora Britney Spears. O segundo pacote também oferece um ingresso para a Pista VIP, no entanto, além do ingresso, também oferece acesso a uma pré-festa temática da cantora, também exclusiva para os compradores deste pacote. Como observação, vale ressaltar que os respondentes foram informados de que o preço das bebidas/comidas consumidas nas festas não estava incluso no preço do pacote. Além de todas as alas e pacotes, a pesquisa também abordou a venda de outro serviço, chamado de Entrada Antecipada. Quem adquirir este serviço terá o direito de entrar no Estádio antes das outras pessoas, de modo que, as pessoas que comprarem esse serviço ficarão nos melhores lugares da ala que escolheram, conforme já comentado anteriormente no texto. Também é importante citar que o modelo considera a questão da meia-entrada. A lei em vigência na cidade de São Paulo determina que 30% dos ingressos de cada pacote do show sejam vendidos com 50% de desconto para estudantes, professores, aposentados e outras classes. Deste modo, o número de pacotes dobrará, já que, para cada pacote criado, também deverá existir a sua versão com desconto.
  • 11. Com base em todas as opções de vendas detalhadas acima, chegou-se a um total de 22 pacotes diferentes. Como serão 22 variáveis por entrevistado e um total de 301 questionários respondidos, o modelo maximizará o faturamento do show com base na otimização de 6.622 variáveis. O modelo a ser utilizado diz respeito à maximização de uma função-objetivo que representa a soma dos excedentes do consumidor para todas as pessoas que irão ao show. Inicialmente há uma tabela onde constam os preços de reserva de cada entrevistado para cada pacote do show. No caso da meia-entrada, o preço de reserva de quem respondeu no questionário que não era estudante foi zerado para os pacotes de meia-entrada, já que essas pessoas na realidade não podem adquirir ingressos com meia- entrada. Nessa tabela há também o preço de venda do ingresso de cada pacote. Para os pacotes que utilizam a meia-entrada, o preço de venda do ingresso era 50% menor que o respectivo pacote sem meia-entrada. Em outra tabela da mesma planilha é calculada a diferença entre o preço de venda e o preço de reserva de cada entrevistado para cada pacote do show, valor conhecido como excedente do consumidor. Por fim, há outra tabela em que constam as variáveis do modelo, que são todas binárias, ou seja, se o computador decidir que a combinação ótima inclui que o entrevistado de número 35 compre o pacote 11, essa célula deixará de ter o valor zero para ter o valor um. Isto permite que o computador descubra, através de simulações, qual é a combinação que maximiza o excedente do consumidor de todo o show. Com base neste modelo de otimização, é possível mudar o preço de venda dos ingressos até descobrir qual é a combinação que maximiza o faturamento do espetáculo. O modelo também possui restrições. A primeira restrição é sobre a lotação máxima de cada pacote do show. Além das restrições físicas, há também restrições quanto a meia- entrada e o serviço de entrada antecipada. A restrição física foi calculada através da estimativa da lotação real do Estádio do Morumbi. Há uma tabela no adiante no trabalho que sintetiza todas as informações sobre a lotação do show. Outra restrição adotada no modelo é permitir que cada pessoa seja alocada somente para um pacote. Dessa forma o modelo não colocará a mesma pessoa em vários pacotes, o que é impossível ocorrer na realidade.
  • 12. Abaixo segue uma tabela com os preços encontrados pelo modelo e os valores cobrados pelos mesmos pacotes no show da cantora Madonna, realizado no Estádio do Morumbi em dezembro de 2008. Além disso, nesta tabela também constam informações sobre a lotação do Estádio, que serão explicadas mais adiante. Tabela 1 – Valores obtidos pelo modelo Preço cobrado Preço de pelo mesmo Lotação Lotação Lotação Lotação Lotação Setor do venda pacote no show Pacote do show máxima (301 ideal (301 máxima máxima ideal/Lotação show encontrado da cantora pessoas) pessoas) (real) (ideal) máxima pelo modelo Madonna em 2008 Pré-show 4.600,00 - 2 2 561 561 100% Pré-show - meia -entrada 2.300,00 - 0 0 168 168 - Pré-festa 1.200,00 - 8 8 2.246 2.246 100% Pista VIP Pré-festa - meia-entrada 600,00 - 3 3 842 842 100% Pista VIP 890,00 600,00 2 2 561 561 100% Pista VIP - meia-entrada 445,00 300,00 1 1 281 281 100% Pista Normal 240,00 250,00 47 42 13.194 11.791 89% Pista Normal - meia-entrada 120,00 125,00 14 14 3.930 3.930 100% Pista Normal Pista Normal - entrada antecipada 410,00 - 7 7 1.965 1.965 100% Pista Normal - entrada antecipada - 205,00 - 2 2 561 561 100% meia -entrada Setor Laranja 290,00 160,00 44 0 12.352 0 0% Setor Laranja - meia-entrada 145,00 80,00 13 8 3.649 2.246 62% Setor Laranja Setor Laranja - entrada antecipada 395,00 - 6 3 1.684 842 50% Setor Laranja - entrada antecipada - 197,50 - 2 2 561 561 100% meia-entrada Setor AV 350,00 180,00 87 0 24.424 0 0% Setor AV Setor AV - meia-entrada 175,00 90,00 25 13 7.018 3.649 52% (Azul e Setor AV - entrada antecipada 900,00 - 13 0 3.649 0 0% Vermelho) Setor AV - entrada antecipada - 450,00 - 4 1 1.123 281 25% meia-entrada Cadeiras Inferiores 4.005,00 250,00 14 0 3.930 0 0% Cadeiras Inferiores - meia-entrada 2.002,50 125,00 4 1 1.123 281 25% Cadeiras Cadeiras Inferiores - entrada Inferiores 5.000,00 - 2 0 561 0 0% antecipada Cadeiras Inferiores - entrada 2.500,00 - 1 1 281 281 100% antecipada - meia-entrada TOTAIS - - 301 110 84.668 31.049 37% Conforme pode ser visto na tabela acima, com exceção do pacote “Cadeira Inferior”, todos os valores de venda sugeridos pelo modelo ficaram próximos ao cobrados no show da cantora Madonna em 2008, realizado também no Estádio do Morumbi e com a mesma divisão de alas. Também é válido ressaltar que, com exceção da Pista Normal, todos os outros valores sugeridos pelo modelo foram superiores aos praticados no show da cantora Madonna. Agora seguem explicações sobre as restrições de lotação do Estádio. O site do São Paulo Futebol Clube afirma que a lotação máxima do Estádio é de 84.500, mas este
  • 13. valor não computa a utilização do gramado como platéia. No entanto, como para o show, aproximadamente 25% das arquibancadas ficam inutilizadas, pois ficam atrás do palco, baseando-se na proximidade entre a área inutilizada e o tamanho do gramado, foi feita a suposição de que a lotação máxima do Estádio para o show também seria de 84.500 pessoas. A seguir foram estimadas quantas pessoas caberiam em cada área do show, e chegou-se aos valores de 20.000 pessoas na pista, 4.500 na pista VIP, 6.000 nas cadeiras inferiores e 18.000 por arquibancada, de modo que a soma total chega novamente a 84.500 pessoas. A seguir foi feita uma proporção de 84.500 para 301 pessoas, que foi o número de questionários utilizados no modelo. Assim, a lotação de cada área foi encontrada e os valores foram aplicados como restrições no modelo. Dessa forma, caso o modelo acusasse que todas as 301 pessoas iriam ao show, isso equivaleria à lotação máxima de 84.500. No entanto, o resultado apontado pelo modelo afirma que, das 301 pessoas, somente 110 iriam efetivamente ao show. Segundo o modelo, essa é a quantidade que maximiza o faturamento do show. Caso mais pessoas fossem ao show, o preço dos ingressos teria que ser reduzido para valores que não maximizam o faturamento, o que justifica que a maioria das pessoas não vá ao show segundo o resultado do modelo. A tabela vista acima, além de mostrar os preços de venda obtidos pelo modelo também permite verificar que a lotação sugerida pelo modelo está abaixo da lotação máxima. Segundo o modelo, a lotação que maximiza o faturamento representa 37% da capacidade do Estádio. Com essa lotação, o faturamento total do show seria de R$ 13.428.061,00. Embora os pacotes mais caros tenham obtido lotação ideal máxima, como no caso de todos os pacotes que envolviam a Pista VIP, as arquibancadas e as cadeiras inferiores obtiveram baixa lotação. No entanto, é válido citar que todos os pacotes de meia-entrada obtiveram lotação máxima ou superior ao seu respectivo pacote de preço integral. A diferença entre a lotação de pacotes tradicionais versus os de meia-entrada fica mais nítida nas arquibancadas. Para exemplificar, podemos visualizar a lotação da Arquibancada Azul e Vermelha. Embora o pacote normal tenha ficado com lotação zero, o pacote de meia-entrada para essas arquibancadas ficou com 52% de lotação. Também é importante ressaltar que o resultado obtido pelo modelo é coerente com a teoria já existente sobre precificação de ingressos. Rosen e Rosenfield (1997) afirmam que, independentemente dos preços e pacotes utilizados em um show, nunca é ótimo deixar lugares vazios no pacote de maior preço. Tal exigência foi seguida pelo modelo
  • 14. já que, conforme pode visto na tabela 9, houve lotação máxima para todos os pacotes da Pista VIP. 1.1 Conclusão O trabalho se inicia realizando uma análise do setor de promoção shows americano e brasileiro. Através dessa análise podemos observar que o setor passou por mudanças estruturais nos últimos anos, que mudaram os paradigmas do setor. Essas mudanças pressionam os lucros das empresas, que por sua vez necessitam ser tornar mais eficientes para não sucumbir à competição. O objetivo do trabalho é desenvolver ferramentas e estratégias que auxiliem os promotores de shows brasileiros a atuar com mais eficiência. Os principais resultados obtidos foram o funcionamento correto do modelo matemático de precificação de ingressos e o desenvolvimento de várias estratégias que auxiliam o promotor de shows a aumentar o faturamento de seus espetáculos, como a venda de ingresso em lotes, o leilão dos ingressos das alas mais luxuosas e outras estratégias. Com base em todo o conhecimento revisto e gerado neste trabalho, podemos afirmar que o mesmo é capaz de auxiliar as empresas brasileiras de promoção de shows a aumentar seus lucros, visto que muitas delas ainda não utilizam as estratégias elaboradas neste trabalho. 7. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA: Critério de Classificação Econômica Brasil. Disponível em: < http://www.abep.org/codigosguias/CCEB2008-Base2006e2007.pdf>. Acesso em: 15 out. 2009. C BESANKO, David; DRANOVE, David; SHANLEY, Mark; SCHAEFER, Scott. A Economia da Estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2006 C BUVAT, Jerome. Capgemini Report: Music Labels. Capgemini Consulting - Telecom, Media & Entertainment Department. 2008. COURTY, Pascal. An Economic Guide to Ticket Pricing in the Entertainment Industry. London Business School. Londres, 2000. C
  • 15. DIAMOND, Thomas A. Ticket Scalping: A New Look at an Old Problem. University of Miami Law Review. Miami, 1982. C HAPPEL, S. JENNINGS, M. Herd them together and Scalp them. The Wall Street Journal. [Nova York], 1995. C HUNTINGTON, Paul. Ticket Pricing Policy and Box Office Revenue. Journal of Cultural Economics. 1993. C INTERNATIONAL FEDERATION OF THE PHONOGRAPHIC INDUSTRY: Digital Music Report 2009. Disponível em: < http://www.ifpi.org/content/library/DMR2009.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2009. C KREPS, David M. Microeconomics for Managers. Londres: WW Norton, 2004. C KOTLER, P. Administração de Marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. C LAKATOS, E. MARCONI, M A. Fundamentos de metodologia científica. 6ed. São Paulo: Atlas, 2005. C LESLIE, Phillip. A Structural Econometric Analysis of Price Discrimination in Broadway Theater. Yale University. 1998. C LEVINE, D. M; BERENSON, M. L; STEPHAN, David. Estatística: Teoria e Aplicações usando Microsoft Excel em Português. Rio de Janeiro: LTC, 2005. C PINDYCK, Robert S; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. São Paulo: Atlas, 2006. C PORTER, Michael. Estratégia Competitiva. São Paulo: Campus, 2001. C ROSEN, Sherwin; ROSENFIELD, Andy. Ticket Pricing. The University of Chicago. [Chicago], 1997. C SÁ, Rafael. Comércio Eletrônico na Indústria Brasileira de Eletrodomésticos. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006. C STEINER, Faye. Optimal Pricing of Museum Admission. Journal of Cultural Economics. 1997. C WILLIAMS, Andrew. Do Anti-Ticket Scalping Laws Make a Difference? Managerial and Decision Economics. 1994.