Roberto Carlos era um menino que passou parte da infância em um instituto para menores infratores (Febem). Após um encontro com uma pedagoga francesa, Marguerit Duvas, ele foi morar com ela na França e teve a oportunidade de aprender a ler, escrever e descobrir seu talento para contar histórias. Hoje Roberto é pai de 13 filhos adotivos e viaja o mundo contando sua história de superação através da generosidade de Marguerit.
A história de Roberto Carlos, pai de 13 filhos adotivos
1. 73c r e s c e r . g l o b o . c o m
generosidade
Conheça Roberto Carlos, ex-interno da Febem que teve
seu caminho modificado por um encontro. Hoje ele é
pai de 13 filhos adotivos, viaja o mundo para contar essa
história e vai estar, em breve, nas telas do cinema
O contadorde histórias
p o r t h a i s l a z z e r i
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robertocarlosramos,43anos,pareceainda
não acreditar que a sua história de vida vai ser contada, em
breve, nas telas do cinema. Ele é o personagem principal
dolongaOContadordeHistórias(WarnerBros.Pictures),
dirigido pelo cineasta Luiz Villaça, 43 anos, e produzido
pela atriz Denise Fraga, 44 anos, com estreia prevista para
agosto deste ano. Poderia ser mais uma trajetória de aban-
dono vivido por uma criança carente que esteve na Febem
(atual Fundação Casa). Mas não é. Mostra como a solidariedade deu um
novo rumo à vida de Roberto (no filme, interpretado por Marcos Ribeiro,
Paulinho Mendes e Cleiton Santos), pedagogo e pai de 13 jovens, todos
frutos da adoção. Generosidade gerou generosidade.
Luiz conheceu Roberto graças a um livro. Nino, 11 anos, filho mais
velho dele com Denise, ganhou da avó no Natal de 2001 O Contador de
Histórias (Ed. Leitura, fora de catálogo), um livro para crianças escrito
por Roberto. Luiz surpreendeu-se especialmente com o último capítu-
lo, com a trajetória do contador e percebeu ali um filme. Conversaram
pouco depois, em 2 de janeiro. Em 2007 começaram a rodar.
TudooqueerafilmadoLuizassistia,ànoite,nacompanhiadosfilhos.A
vidadeRobertoCarlosemumfilmefoiumaformadeabordarcomsutileza
temas complicados para as crianças. Perguntas nada fáceis de explicar.
“Uma vez falei que criança não trabalha. Aí você sai de casa e tem uma
garotada no farol. É explicar o inexplicável”, diz Denise.
A trajetória
Roberto é desenvolto, não tem aquele jeito discreto pelo qual os mi-
neiros são reconhecidos. Sua trajetória não começa no seu nascimento,
e sim aos 6 anos de idade, quando entrou
na Febem. Na década de 70 vivia com a
mãeemaisoitoirmãosnaperiferiadeBelo
Horizonte (MG), quando uma assistente
social visitou a casa da família. “Ela con-
venceuminhamãequenaquelainstituição
euteriaumaprofissão.Faloucomosefosse
umcolégioparticulardogoverno.Masmi-
nha mãe não imaginava que lá as crianças
sofreriam maus-tratos. Só recebia visitas
uma vez por mês”, afirma Roberto. Por
tudo isso, ele diz, fugiu pela primeira vez
com7anos.Aos9foitransferidoparaoin-
terioreperdeuocontatocomamãe.Com
13, bateu o recorde de fugas, 132 vezes, e
ficou conhecido como “irrecuperável”.
Roberto não poderia prever, mas um
encontro mudaria sua história. Margue-
rit Duvas, pedagoga francesa, visitou a
Imagens de bastidores e cenas
do filme, que foi acompanhado de
perto pelos filhos de Luiz e Denise. Ela
diz que todos aprenderam com esse
convívio. Na página ao lado, Roberto
Carlos diverte adultos e crianças
contando histórias em uma praça
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