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generosidade
Conheça Roberto Carlos, ex-interno da Febem que teve
seu caminho modificado por um encontro. Hoje ele é
pai de 13 filhos adotivos, viaja o mundo para contar essa
história e vai estar, em breve, nas telas do cinema
O contadorde histórias
p o r t h a i s l a z z e r i
>>
CF187_p73a75.indd 73 27/5/2009 22:17:41
74 C r e s c e r j u n h o 2 0 0 9
robertocarlosramos,43anos,pareceainda
não acreditar que a sua história de vida vai ser contada, em
breve, nas telas do cinema. Ele é o personagem principal
dolongaOContadordeHistórias(WarnerBros.Pictures),
dirigido pelo cineasta Luiz Villaça, 43 anos, e produzido
pela atriz Denise Fraga, 44 anos, com estreia prevista para
agosto deste ano. Poderia ser mais uma trajetória de aban-
dono vivido por uma criança carente que esteve na Febem
(atual Fundação Casa). Mas não é. Mostra como a solidariedade deu um
novo rumo à vida de Roberto (no filme, interpretado por Marcos Ribeiro,
Paulinho Mendes e Cleiton Santos), pedagogo e pai de 13 jovens, todos
frutos da adoção. Generosidade gerou generosidade.
Luiz conheceu Roberto graças a um livro. Nino, 11 anos, filho mais
velho dele com Denise, ganhou da avó no Natal de 2001 O Contador de
Histórias (Ed. Leitura, fora de catálogo), um livro para crianças escrito
por Roberto. Luiz surpreendeu-se especialmente com o último capítu-
lo, com a trajetória do contador e percebeu ali um filme. Conversaram
pouco depois, em 2 de janeiro. Em 2007 começaram a rodar.
TudooqueerafilmadoLuizassistia,ànoite,nacompanhiadosfilhos.A
vidadeRobertoCarlosemumfilmefoiumaformadeabordarcomsutileza
temas complicados para as crianças. Perguntas nada fáceis de explicar.
“Uma vez falei que criança não trabalha. Aí você sai de casa e tem uma
garotada no farol. É explicar o inexplicável”, diz Denise.
A trajetória
Roberto é desenvolto, não tem aquele jeito discreto pelo qual os mi-
neiros são reconhecidos. Sua trajetória não começa no seu nascimento,
e sim aos 6 anos de idade, quando entrou
na Febem. Na década de 70 vivia com a
mãeemaisoitoirmãosnaperiferiadeBelo
Horizonte (MG), quando uma assistente
social visitou a casa da família. “Ela con-
venceuminhamãequenaquelainstituição
euteriaumaprofissão.Faloucomosefosse
umcolégioparticulardogoverno.Masmi-
nha mãe não imaginava que lá as crianças
sofreriam maus-tratos. Só recebia visitas
uma vez por mês”, afirma Roberto. Por
tudo isso, ele diz, fugiu pela primeira vez
com7anos.Aos9foitransferidoparaoin-
terioreperdeuocontatocomamãe.Com
13, bateu o recorde de fugas, 132 vezes, e
ficou conhecido como “irrecuperável”.
Roberto não poderia prever, mas um
encontro mudaria sua história. Margue-
rit Duvas, pedagoga francesa, visitou a
Imagens de bastidores e cenas
do filme, que foi acompanhado de
perto pelos filhos de Luiz e Denise. Ela
diz que todos aprenderam com esse
convívio. Na página ao lado, Roberto
Carlos diverte adultos e crianças
contando histórias em uma praça
] ]
CF187_p73a75.indd 74 27/5/2009 22:17:46
75c r e s c e r . g l o b o . c o m
Febem e conheceu o lugar pelos olhos dos funcionários. Por isso ficou
surpresa quando encontrou Roberto sentado em um banco do lado de
fora da instituição. Ela queria entender por que o garoto fugia tanto.
Ele não titubeou. “Perguntei: ‘Eles mostraram o pau de arara para a
senhora? As celas?’ Foi a primeira vez que alguém me ouviu e acreditou
em mim.” Nesse encontro, Marguerit perguntou como poderia mudar
a realidade daquele menino. E mudou.
Roberto foi morar com ela na França. Aprendeu a ler e escrever. No
começo, conta, sentia medo de dizer que gostava dela. Aos poucos reco-
nheceu que tinha um amor por ela parecido com o que sentimos por uma
mãe.“Ela adorava ouvir minhas histórias. Os professores e meus colegas
da escola diziam que eu tinha talento para fazer aquilo. Eu, que antes era
considerado delinquente, passei a ser talentoso (risos).”
Depois de contar muitas histórias decidiu que era a hora de retomar a
dele, e, com 19 anos, retornou ao Brasil. Estudou Pedagogia
na Universidade Federal de Minas Gerais e decidiu come-
çar por onde poucas vezes ouviu uma história: na Febem.
Roberto ri quando lembra desse momento. “Tinha gente
achando que eu estava tramando algo (risos).” A primeira
turma abrigava nove alunos. Depois da hora do intervalo,
apareceram mais de 30 vindos de outras classes. Assim as
crianças aprenderam matemática e português.
Por um momento mágico
Depois de trabalhar em alguns lugares, como colégios par-
ticulares e faculdades, Roberto decidiu que queria alcançar
mais pessoas. Viajou para Minas e algumas capitais com um
carro (que se transformava em palco) pa-
ra contar histórias. Chegou a reunir 4
mil pessoas em uma praça. Agora as via-
gens são pelo mundo inteiro, e ele entre-
tem adultos e crianças. “É um momento
mágico entre quem conta e quem ouve.
Os pais sabem disso. O filho não quer só
que você repita, quer também a emoção
de estar junto. A criança que ouve uma
história nunca esquece”, diz.
Foi contando histórias que Rober-
to conheceu Alessandro, ex-aluno na
Febem. Os outros professores diziam
que era “irrecuperável”. Roberto reco-
nheceu a própria história no
menino. Foi o primeiro dos
13 filhos que adotaria. Todos
eles fizeram um acordo com
o pai. Quando tivessem con-
dições emocionais e finan-
ceiras para ajudar alguém, ca-
da um “adotaria” uma criança
carente até ela conseguir
ajudar outra, e assim por
diante. Roberto diz que esse
projeto não tem nome. Tem,
sim. Chama-se família.
NO SITE CRESCER
Acesse o site do
Projeto generosidade
©Fotos:Divulgação
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A história de Roberto Carlos, pai de 13 filhos adotivos

  • 1. 73c r e s c e r . g l o b o . c o m generosidade Conheça Roberto Carlos, ex-interno da Febem que teve seu caminho modificado por um encontro. Hoje ele é pai de 13 filhos adotivos, viaja o mundo para contar essa história e vai estar, em breve, nas telas do cinema O contadorde histórias p o r t h a i s l a z z e r i >> CF187_p73a75.indd 73 27/5/2009 22:17:41
  • 2. 74 C r e s c e r j u n h o 2 0 0 9 robertocarlosramos,43anos,pareceainda não acreditar que a sua história de vida vai ser contada, em breve, nas telas do cinema. Ele é o personagem principal dolongaOContadordeHistórias(WarnerBros.Pictures), dirigido pelo cineasta Luiz Villaça, 43 anos, e produzido pela atriz Denise Fraga, 44 anos, com estreia prevista para agosto deste ano. Poderia ser mais uma trajetória de aban- dono vivido por uma criança carente que esteve na Febem (atual Fundação Casa). Mas não é. Mostra como a solidariedade deu um novo rumo à vida de Roberto (no filme, interpretado por Marcos Ribeiro, Paulinho Mendes e Cleiton Santos), pedagogo e pai de 13 jovens, todos frutos da adoção. Generosidade gerou generosidade. Luiz conheceu Roberto graças a um livro. Nino, 11 anos, filho mais velho dele com Denise, ganhou da avó no Natal de 2001 O Contador de Histórias (Ed. Leitura, fora de catálogo), um livro para crianças escrito por Roberto. Luiz surpreendeu-se especialmente com o último capítu- lo, com a trajetória do contador e percebeu ali um filme. Conversaram pouco depois, em 2 de janeiro. Em 2007 começaram a rodar. TudooqueerafilmadoLuizassistia,ànoite,nacompanhiadosfilhos.A vidadeRobertoCarlosemumfilmefoiumaformadeabordarcomsutileza temas complicados para as crianças. Perguntas nada fáceis de explicar. “Uma vez falei que criança não trabalha. Aí você sai de casa e tem uma garotada no farol. É explicar o inexplicável”, diz Denise. A trajetória Roberto é desenvolto, não tem aquele jeito discreto pelo qual os mi- neiros são reconhecidos. Sua trajetória não começa no seu nascimento, e sim aos 6 anos de idade, quando entrou na Febem. Na década de 70 vivia com a mãeemaisoitoirmãosnaperiferiadeBelo Horizonte (MG), quando uma assistente social visitou a casa da família. “Ela con- venceuminhamãequenaquelainstituição euteriaumaprofissão.Faloucomosefosse umcolégioparticulardogoverno.Masmi- nha mãe não imaginava que lá as crianças sofreriam maus-tratos. Só recebia visitas uma vez por mês”, afirma Roberto. Por tudo isso, ele diz, fugiu pela primeira vez com7anos.Aos9foitransferidoparaoin- terioreperdeuocontatocomamãe.Com 13, bateu o recorde de fugas, 132 vezes, e ficou conhecido como “irrecuperável”. Roberto não poderia prever, mas um encontro mudaria sua história. Margue- rit Duvas, pedagoga francesa, visitou a Imagens de bastidores e cenas do filme, que foi acompanhado de perto pelos filhos de Luiz e Denise. Ela diz que todos aprenderam com esse convívio. Na página ao lado, Roberto Carlos diverte adultos e crianças contando histórias em uma praça ] ] CF187_p73a75.indd 74 27/5/2009 22:17:46
  • 3. 75c r e s c e r . g l o b o . c o m Febem e conheceu o lugar pelos olhos dos funcionários. Por isso ficou surpresa quando encontrou Roberto sentado em um banco do lado de fora da instituição. Ela queria entender por que o garoto fugia tanto. Ele não titubeou. “Perguntei: ‘Eles mostraram o pau de arara para a senhora? As celas?’ Foi a primeira vez que alguém me ouviu e acreditou em mim.” Nesse encontro, Marguerit perguntou como poderia mudar a realidade daquele menino. E mudou. Roberto foi morar com ela na França. Aprendeu a ler e escrever. No começo, conta, sentia medo de dizer que gostava dela. Aos poucos reco- nheceu que tinha um amor por ela parecido com o que sentimos por uma mãe.“Ela adorava ouvir minhas histórias. Os professores e meus colegas da escola diziam que eu tinha talento para fazer aquilo. Eu, que antes era considerado delinquente, passei a ser talentoso (risos).” Depois de contar muitas histórias decidiu que era a hora de retomar a dele, e, com 19 anos, retornou ao Brasil. Estudou Pedagogia na Universidade Federal de Minas Gerais e decidiu come- çar por onde poucas vezes ouviu uma história: na Febem. Roberto ri quando lembra desse momento. “Tinha gente achando que eu estava tramando algo (risos).” A primeira turma abrigava nove alunos. Depois da hora do intervalo, apareceram mais de 30 vindos de outras classes. Assim as crianças aprenderam matemática e português. Por um momento mágico Depois de trabalhar em alguns lugares, como colégios par- ticulares e faculdades, Roberto decidiu que queria alcançar mais pessoas. Viajou para Minas e algumas capitais com um carro (que se transformava em palco) pa- ra contar histórias. Chegou a reunir 4 mil pessoas em uma praça. Agora as via- gens são pelo mundo inteiro, e ele entre- tem adultos e crianças. “É um momento mágico entre quem conta e quem ouve. Os pais sabem disso. O filho não quer só que você repita, quer também a emoção de estar junto. A criança que ouve uma história nunca esquece”, diz. Foi contando histórias que Rober- to conheceu Alessandro, ex-aluno na Febem. Os outros professores diziam que era “irrecuperável”. Roberto reco- nheceu a própria história no menino. Foi o primeiro dos 13 filhos que adotaria. Todos eles fizeram um acordo com o pai. Quando tivessem con- dições emocionais e finan- ceiras para ajudar alguém, ca- da um “adotaria” uma criança carente até ela conseguir ajudar outra, e assim por diante. Roberto diz que esse projeto não tem nome. Tem, sim. Chama-se família. NO SITE CRESCER Acesse o site do Projeto generosidade ©Fotos:Divulgação CF187_p73a75.indd 75 27/5/2009 22:17:51