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Lembrando Manuel da Fonseca no centenário do nascimento (1911-2011)
O Sindicato dos Professores da Grande Lisboa que sendo fundamentalmente uma organização que luta por uma escola
democrática da mais alta qualidade e pelos direitos dos educadores e professores de todos os graus de ensino, do sector
público e privado, é também um espaço de cultura e um pólo de solidariedade.
Esta singela homenagem à memória de Manuel da Fonseca, um dos mais significativos poetas do movimento neorrealista,
autor de alguns dos melhores contos escritos em língua portuguesa ao longo dos séculos, criador de personagens ines-
quecíveis como o velho Armando Carrusca, de Seara de Vento, que com grande lucidez reconheceu que a neta tinha razão
quando afirmou que um homem só não vale nada (frase que contém em si a afirmação do seu contrário – todos unidos
valemos muito) inscreve-se justamente naquela última vertente do dia a dia de um sindicato que se pode orgulhar dos seus
37 anos de história.
Manuel da Fonseca inicia a sua carreira literária com o livro de poemas Rosa dos Ventos (1940) de onde é extraído o poema
Os olhos do poeta, que os artistas plásticos representados na exposição patente no Espaço António Borges Coelho leram com
a sensibilidade, a inteligência, o talento artístico de cada um. Em 1941, publica, integrado na coleção Novo Cancioneiro, o
segundo livro de poesia, intitulado Planície. Em 1942, sai Aldeia Nova, livro de contos, e no ano seguinte, Cerromaior, o seu
primeiro romance. Só em 1951, Manuel da Fonseca surge novamente nas livrarias com O Fogo e as Cinzas, livro de contos
recolhidos em várias publicações pelo escritor e seu amigo Carlos de Oliveira, auxiliado por sua mulher Maria Ângela.
Em 1958 publica o romance Seara de Vento e Poemas Completos. Assistimos depois a um longo hiato interrompido com a
publicação do livro de contos O Anjo no Trapézio, em 1968. Cinco anos depois, em 1973, publica Tempo de Solidão, contos.
Ainda em vida, publica Obra Poética, 1984, Antologia de Fialho de Almeida, 1984, com um notável estudo sobre o escritor
alentejano, Crónicas Algarvias, 1986. Postumamente, foram publicadas, pela editorial Caminho, os livros de contos À Lareira,
1911-2011
nos Fundos da Casa onde o Retorta tem o café, 2000, com um prefácio de Urbano Tavares Rodrigues, O Vagabundo na Cidade, 100anos
2001, com um prefácio de Luís Augusto Costa Dias e Pessoas na Paisagem, 2002, com um prefácio de Paulo Sucena. doNascimento
Num tempo em que uma profunda amargura percorre tantos milhares de famílias portuguesas, ergue-se, neste espaço de
solidariedade que é o SPGL, a voz solidária de Manuel da Fonseca incentivando-nos mesmo que tão-só metaforicamente:
Ó meus amigos desgraçados
se a vida é curta e a morte infinita desenho os olhos do poeta l Ana Galvão l Carlos Mendes l Carlos Teixeira l Dominguez l Eduardo Santos Neves
despertemos e vamos l Fernando Leal l J. Narciso l Joaquim Lourenço l Jorge Bandeira l Laranjeira Santos l Lúcio l Luís Ferreira l Luís Filipe Gomes
l Luís Guilherme Teves l Manuel Passinhas l Margarida Lourenço l Paulo Barreto l Ribeiro Farinha l Rui A. Pereira l Vitoralves
eia!
vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era a Tuna do Zé Jacinto
tocando a marcha Almadanim! 23 Jan. a 15 Fev. 2012 - Espaço António Borges Coelho
Sindicato dos Professores da Grande Lisboa Sede do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa -|R. Fialho de Almeida nº3, 1070 -128, Lisboa
|2ª a 6ªf. das 10 às 20h |email: spgl@spgl.pt |tel. 21 381 91 00
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Manuel da Fonseca
Os olhos do poeta
O poeta tem olhos de água para reflectirem todas as cores do mundo,
e as formas e as proporções exactas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem.
Em seu olhar estão as distâncias sem mistério que há entre as estrelas,
e estão as estrelas luzindo na penumbra dos bairros da miséria,
com as silhuetas escuras dos meninos vadios esguedelhados ao vento. Ribeiro Farinha Luís Ferreira
Em seu olhar estão as neves eternas dos Himalaias vencidos
e as rugas maceradas das mães que perderam os filhos na luta entre as pátrias Carlos Mendes Eduardo Santos Neves Joaquim Lourenço
e o movimento ululante das cidades marítimas onde se falam todas as línguas da Terra
e o gesto desolado dos homens que voltam ao lar com as mãos vazias e calejadas
e a luz do deserto incandescente e trémula, e os gelos dos pólos, brancos, brancos,
e a sombra das pálpebras sobre o rosto das noivas que não noivaram
Fernando Leal Lúcio
e os tesouros dos oceanos desvendados maravilhando como contos-de-fadas à hora da infância
e os trapos negros das mulheres dos pescadores esvoaçando como bandeiras aflitas
e correndo pela costa de mãos jogadas pró mar amaldiçoando a tempestade:
- todas as cores, todas as formas do mundo se agitam e gritam nos olhos do poeta. Dominguez Manuel Passinhas Jorge Bandeira
Do seu olhar, que é um farol erguido do alto de um promontório,
sai uma estrela voando nas trevas
Vitoralves Margarida Lourenço
tocando de esperança o coração dos homens de todas as latitudes.
E os dias claros, inundados de vida, perdem o brilho nos olhos do poeta
que escreve poemas de revolta com tinta de sol na noite de angústia que pesa no mundo.
Luís Guilherme Teves Rui A. Pereira Paulo Barreto
O poema de Manuel da Fonseca "Os olhos do poeta", revela-nos uma extraordinária abrangência de conteúdos Laranjeira Santos J. Narciso
que serve de suporte a esta exposição de Desenho. Através da sensibilidade e imaginação dos seus desenhos,
os artistas plásticos presentes fazem apelo a uma interpretação que age através duma multiplicidade de signifi-
cações poéticas. A obra de arte não reside apenas na sua função representativa e expressiva, na sua autonomia, Desde o ano 2000, o Projeto Cultural +5 tem vindo a realizar várias exposições coletivas: Lisboa - Círculo das Letras; Instituto Franco-Português;
mas também no efeito que ela produz. O Projeto Cultural +5 valoriza o contributo de cada participante através Associação 25 de Abril; Galeria Municipal Gymnásio; Espaço Cultural dos Serviços Sociais do Montepio Geral; Átrio do Ministério das Finanças -
Terreiro do Paço; ART- Associação de Residentes de Telheiras; Moura - Galeria Municipal de Arte; Aljustrel - Biblioteca Municipal; Rio de Mouro;
da sua própria criação, conjugada de forma colectiva em verdadeira cumplicidade com o modelo fraternal e
Ana Galvão Castro Verde - Forum Cultural de Castro Verde; Almada - Instituto Superior Jean Piaget; Régua - Casa do Douro; Hotel Régua Douro; Barreiro - Sala
solidário, proporcionando uma aproximação entre artistas e público numa atitude que se pretende de dinâmica Polivalente do Edifício Américo Marinho, Parque da Cidade; Arruda dos Vinhos - Galeria Municipal; Cadaval - Galeria Municipal; Sintra - Galeria
cultural através da realização de exposições de artes plásticas e animação cultural como a poesia, o canto ou a música. Carlos Teixeira Luís Filipe Gomes Municipal de Fitares; Abrantes - Galeria Municipal; Campo Maior - Centro Cultural.
Coordenação José Narciso e Luís Ferreira