Trecho do Livro "Sinergia Fator de Sucesso nas Realizações Humanas" da autoria de Sérgio Lins e Publicado pela Elsevier Campus em 2005.
Considerar Sinergia associada ao clichê “o todo é maior que a soma das partes” é uma visão muito estreita e limitada e até mesmo distorcida, pois algumas vezes o todo não é maior e sim diferente e em outros casos o todo não poderia ser obtido sem a comunhão das partes. Entretanto, mesmo após toda uma vasta exposição de conceitos e exemplos de Sinergia, talvez ainda não tenha sido formada uma percepção da importância do tema que, para alguns, ainda parecerá apenas um modismo, ou uma forma contemplativa de teorizar algo que é tão comum na natureza.
1. Sinergia Organizacional
O conceito por trás da palavra Sinergia
Considerar Sinergia associada ao clichê “o todo é maior que a soma
das partes” é uma visão muito estreita e limitada e até mesmo distorcida, pois
algumas vezes o todo não é maior e sim diferente e em outros casos o todo
não poderia ser obtido sem a comunhão das partes. Entretanto, mesmo após
toda uma vasta exposição de conceitos e exemplos de Sinergia, talvez ainda
não tenha sido formada uma percepção da importância do tema que, para
alguns, ainda parecerá apenas um modismo, ou uma forma contemplativa de
teorizar algo que é tão comum na natureza. Cabe aqui lembrar que o
importante é desenvolver um trabalho colaborativo, visando um efeito
sinérgico mais significativo, já que, entre humanos, não se consegue Sinergia
tão espontaneamente como na natureza.
Peter Corning[04] chama atenção para a sinergia em algo tão comum
quanto uma parede de tijolos. Sem um projeto e sem argamassa, que por sua
vez é uma combinação sinérgica cimento–cal–areia–água, uma pilha de tijolos
não passará de uma pilha de tijolos. Contudo quando os tijolos são arrumados
em padrões e colados uns nos outros, eles ‘colaboram’ para formar uma
enorme variedade de estruturas: fábricas, lareiras, canais, igrejas, prisões,
torres de observação, rodovias, lares e até mesmo fornos para fazer mais
tijolos. Corning também nos enriquece com exemplos de sinergia na culinária,
na lingüística, na engenharia, etc.
§ Na culinária uma receita combina manteiga, ovos, suco de limão, açúcar, sal e farinha de
trigo, para obter uma torta de limão. Trocando a farinha por pimenta e vinagre, e mudando
a forma de combinar os ingredientes, se obtém um molho holandês, demonstrando que
nosso paladar responde ao efeito sinérgico da combinação dos ingredientes. A sinergia
acontece também quando um cozinheiro, preocupado com uma alimentação mais protéica,
mistura feijão e farinha obtendo 33% a mais de proteínas úteis devido à complementaridade
dos aminoácidos.
§ Na lingüística a sinergia ocorre na mente do leitor e não nas palavras escritas, pois elas
podem ter significados bem distintos dependendo do contexto. Por exemplo quando, na
exagerada repetição, se escreve: “Como como? Como como como. Ora como como!” a
palavra “como” tem significados bem diferentes em cada posição da frase. É também o
caso da leitura do folclórico telegrama “Papai mande dinheiro”. Enquanto o rigoroso pai
interpreta o texto como uma intolerável exigência, a afetuosa mãe percebe-o como uma
evidente carência. Nesse caso, a sinergia não se faz com a posição das palavras e sim com o
sentido atribuído pelo modelo mental de quem lê.
§ Na engenharia existe sinergia num sistema de cogeração que pode produzir tanto a energia
elétrica para mover máquinas quanto o vapor quente e água aquecida para os diversos
propósitos de uma instalação industrial. Um sistema de produção de energia elétrica isolado
tem uma eficiência que raramente excede 40%. Um sistema de aquecimento convencional
de água tem uma eficiência em torno de 65%. Em ambos os casos, a energia é
desperdiçada. A sinergia conseguida com a combinação destes dois processos em um só
sistema eleva a eficiência energética para 95% e pode ser alcançada a um custo bem mais
baixo.
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2. Epílogo
Com relação aos exemplos anteriores, pode-se dizer que: uma
construção de tijolos pode ter seu efeito sinérgico destruído por uma
demolição; produtos culinários diferentes ocorrem para pequenas mudanças
de receitas; energia elétrica é desperdiçada sem a cogeração; e palavras ou
frases mudam de sentido em função do contexto ou do modelo mental de
quem lê. De forma semelhante, um grupo sinérgico de humanos pode não se
formar se faltar um dos ingredientes;1 não se mantém sem espírito de
confiança e colaboração; e pode ocorrer disergia2 num grupo
reconhecidamente sinérgico, quando se muda o contexto, troca-se um de seus
componentes, ou o encaminhamos para resolver problemas em outras áreas.
Contudo, a grande diferença é que a obra de tijolos permanece enquanto não
for demolida; a iguaria mantém sabor dentro do prazo de validade; a
cogeração continua a economizar energia enquanto o sistema atuar; e as
palavras ou frases não perdem o significado dentro de um mesmo contexto
cultural. Mas a sinergia entre humanos precisa ter seus ingredientes
permanentemente estimulados, desenvolvidos e mantidos.
Habilidades e competências, mesmo complementadas com a
consciência da necessidade de compartilhar visão, o empenho individual e o
respeito às realidades alheias não são suficientes para conseguir um ambiente
sinérgico. O estímulo, o desenvolvimento e a manutenção da sinergia
dependem do entendimento do propósito específico e do tipo de esforço
conjunto que se quer desenvolver, seguido de uma dedicação a cuidados
posteriores para não deixar enfraquecer a ligação sinérgica conquistada. Esses
cuidados precisam ser redobrados, pois hoje as mudanças parecem ser mais
desafiantes do que nunca. Não dá mais para simplesmente aprimorar fórmulas
de sucesso, pois podem ocorrer situações em que se precisa de atitude mais
incisiva, algo como “trocar de marcha”, ou até mesmo “trocar de máquina”
para acompanhar as mudanças do ambiente. Essas trocas corresponderiam a
mudanças que mexem com os valores e os esquemas de compreensão da
realidade, ampliando o leque de possibilidades de agir em cada situação.[33]
Essa ordem de mudança cria novas formas de resgatar experiências e
desenvolve novos hábitos, reorganizando modelos mentais.[28] Essa
reorganização seria acompanhada por mudanças nos sistemas de
administração do conhecimento que, além de se beneficiarem da evolução
tecnológica, poderiam disparar uma transformação da cultura, visando um
maior alinhamento com as estratégias organizacionais.[10]
Os novos sistemas teriam que aproveitar a sinergia entre a
conectividade, a intangibilidade e a velocidade[06] no uso de ferramentas que
1
Ver capítulo ‘Ingredientes da Sinergia’
2
Disergia é o esforço conjunto produzindo um resultado inferior ao que se consegue em separado. Neste
termo, o prefixo “dis” exprime a idéia de 'mau estado', 'defeito', 'dificuldade',[41] dando ao termo um
significado de trabalho de grupo em que os elementos têm relutância em sinergizar.
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3. Sinergia Organizacional
possibilitassem vigiar constantemente o meio ambiente. Essa vigilância
deveria fornecer dados úteis para avaliar o impacto das mudanças em termos
de alterações do mercado, atuação da concorrência, e evolução da tecnologia.
O resultado dessa avaliação serviria para corrigir a visão de mundo e de
negócios, ajustando o plano estratégico em função da análise do ambiente
externo e das forças e fraquezas do ambiente interno.[08]
Esta análise SWOT3 do ambiente poderia nos levar a uma busca por
parcerias que compensassem fraquezas e amplificassem forças. O ideal é que
estas parcerias colaborativas produzam resultados sinérgicos, tão
significativos, que consigam reverter a resultante das forças transformadoras
do ambiente4 em benefício dos próprios parceiros.
Referências
[04] CORNING, Peter A. Nature’s Magic: Synergy in Evolution and the Fate of Humankind.
Cambridge, MA: Cambridge University Press, 2003.
[06] DAVIS, Stan & MEYER, Christopher. BLUR: a velocidade da mudança numa economia
integrada. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999.
[08] Diversos Autores. Estratégia e Planejamento: O melhor do pensamento contemporâneo
em Gestão Empresarial. Coletânea HSM Management. São Paulo: PubliFolha, 2002.
[10] EARL, Michael J. Management Strategies for Information Technology. New York:
Prentice Hall. 1989.
[28] SENGE, Peter. A quinta disciplina: caderno de campo. Rio de Janeiro: Editora
QualityMark, 1994.
[33] WATZLAWICK, Paul & WEAKLAND, John & FISH, Richard. Mudança: princípio de
formação e resolução de problema. São Paulo: São Paulo, 1977.
[35] JULIAN, Scott D. & JUSTIS, Robert T. SWOT, Swot, or swOT? MI: Saginaw Valley
State University. Acessado em 25-01-2005.
www.sba.muohio.edu/management/mwAcademy/2000/31b.pdf
[39] www.gartnerg2.com/fw/fw-swotAnalysis.asp/ acessado em 03-03-2005. Frameworks
We Love. Corporate Strategy and Planning. SWOT Analysis. Gartner Inc. 2005.
[40] www.netmba.com/strategy/swot/ acessado em 03-03-2005. Strategic Management. Swot
Analysis. NetMBA Business Knowledge Center, 2004.
[41] BARROSO, Ellery Girão. Dicionário Aurélio Eletrônico. Rio de Janeiro: Lacerda &
Geiger, 1996.
3
SWOT é o acrônimo para “Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats,” que se tornou um dos mais
usados[39] modelos de análise situacional para identificar Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades em
planejamento estratégico.[35] Atribui-se o termo a Kenneth Andrews.[40]
4
Três forças associadas à letra ‘C’: rapid Change, rising Complexity, power of Competition.[32]
mencionadas em diversos capítulos.
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