O documento descreve o espetáculo teatral "A Batalha dos Encantados", que apresenta histórias e personagens da cultura afro-brasileira como Ifá, Euá, os meninos Ibejis e a Morte. O espetáculo usa bonecos, música e participação da plateia para contar essas histórias e suas lições morais de forma lúdica e acessível para crianças.
A Batalha dos Encantados: espetáculo de teatro infantil sobre mitos e orixás afro-brasileiros
1. A BATALHA DOS ENCANTADOS
No espetáculo A Batalha dos Encantados são encenadas as aventuras do sábio adivinhoIfá (- o babalaô – aquele que lê os
búzios); seu encontro com a bela deusa Euá – uma boneca feita com um longo tecido azul, usando turbante e colares em
tons de vermelho e rosa, cores que representam a orixá Euá. No decorrer do espetáculo a boneca se desmanchará, essa
alegoria é devido ao fato de Euá representar um rio africano; e as aventuras dos meninos Ibejis – os meninos gêmeos – os
quais são conhecidos também como Cosme e Damião.
A batalha desses personagens é travada contra a fome, a sede e a Morte, (Ikú) a qual, nos mitos originais, não é vista como
má ou ruim, mas no espetáculo mantém as características da morte judaico–cristã, vestida com seu manto de capuz negro.
No espetáculo “o capuz” é manipulado e possui braços feitos com grandes garfos de alumínio, a Morte é bem humorada e
é vencida pela astúcia das crianças. O espetáculo mantém o enfoque do grupo na narrativa, característica do teatro épico,
com a presença constante do narrador.
Bonecos artesanais, panos, brinquedos populares e objetos são manipulados e animados. A música ao vivo, composta por
cantigas de matizes africanas e outras do cancioneiro popular, acompanha toda a encenação e a participação das crianças é
solicitada em vários momentos do espetáculo.
Euá, Iansã, Oxóssi, Oxum, Ogum, Iemanjá, Xangô, dentre outros, são orixás responsáveis pela criação do mundo na cultura
e tradição oral afro-brasileira. Seus relatos míticos narram histórias as quais contêm questões morais e éticas universais.
São histórias que foram registradas por pesquisadores como Reginaldo Prandi e Carlos Eugênio Marcondes de Moura os
quais ressaltam a importância dessas narrativas para a cultura e arte brasileiras e que possibilitam a ressignificação dos
mitos africanos no Brasil.
Em 2003, a Caixa de Fuxico estreou, a partir desses contos afro-brasileiros, o espetáculo Histórias e Cânticos dos Reinos
Yorubá o qual ficou em cartaz no Teatro Ventoforte em São Paulo.
Por desconhecimento em relação aos elementos que compõem a cultura afro-brasileira, esses contos são geralmente
associados à questões religiosas e ritualísticas, o que limita sua riqueza cultural e estética. Por conta disso, o espetáculo
mudou de nome, passando a se chamar A Batalha dos Encantados, aproveitando assim para incluir o nome dado aos seres
sobrenaturais misturados no caldeirão da cultura popular brasileira. Essas histórias têm muito o que nos dizer hoje e, a
partir de uma adaptação, dialogam com o universo mágico e fantasioso das crianças.
A mudança de nome trouxe apresentações e temporadas em diferentes espaços, teatros e cidades e em 2008 o espetáculo
foi indicado ao prêmio FEMSA de Teatro Infantil na categoria especial pela pesquisa e resgate das histórias afro-brasileiras.