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Relatório de Expedição
Baía Castelhanos – Ilha Bela/SP
Junho 2016
Foto: Marcos Credie
Apoio:
Patrocínio:
Parceria:
Foto: Marcos Credie
Resumo
Este relatório detalha as atividades dos dias 2 a 5 de junho, onde o S.A.S. Brasil
(Saúde e Alegria nos Sertões) rodou mais de 620km rumo à comunidade da Baía de
Castelhanos, no município de Ilhabela/SP, em sua primeira ação do grupo em 2016.
Foi a quarta visita do grupo à comunidade, com o intuito de dar continuidade ao
trabalho iniciado em 2015 e incentivar o desenvolvimento pleno da comunidade. Para
tanto, enxergamos a necessidade de focarmos nossos esforços nos próprios
moradores da comunidade.
O destaque da ação foi o Projeto Anariá, um mutirão de saúde para
esclarecimento, prevenção e exames de HPV nas mulheres da comunidade, com a
parceria da prefeitura de Ilhabela.
Mais uma vez, a equipe era multidisciplinar – característica que avaliamos ser
importante para que as atividades sejam complementares. No entanto, observamos que
o impacto das ações do S.A.S. Brasil não transforma apenas ao espaço da comunidade
e seus moradores, mas também essa equipe formada. Por isso, o processo seletivo
para os participantes sofreu (e ainda sofrerá) alterações ao longo deste ano, de
maneira que os participantes sejam cada vez mais complementares uns aos outros e
às comunidades, uma vez que buscamos destacar os melhores talentos de cada um. O
trabalho com a equipe, bem como as atividades desenvolvidas junto à comunidade,
teve parceria direta com o Acupuntura Urbana.
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Sumário
1. Cenário da comunidade
2. Descrição da expedição
3. Objetivos da expedição
4. Principais conquistas
5. Atividades realizadas e resultados
6. Desafios e lições aprendidas
7. Relatório financeiro
Foto: Marcos Credie
1. Cenário da comunidade
A Baía de Castelhanos está localizada no município de Ilhabela, litoral norte do
Estado de São Paulo. A região atrai cerca de 50 mil turistas por ano (números do Parque
Estadual de Ilhabela), que procuram a tranquilidade e a beleza dos seus cenários naturais
através das agências de turismo e invadem suas areias por lanchas no mar ou por uma
estrada íngreme e acidentada de 17km que corta o Parque Estadual (PEIb) da cidade em
veículos 4x4, enquanto a comunidade sofre de vulnerabilidade social. geradores
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Foto: Marcos Credie
Foto: Marcos Credie
São180 moradores, entre eles 45 crianças (0 a 14 anos), 38 jovens (15 e 25 anos),
28 mulheres, 53 homens e 16 idosos, da comunidade tradicional da Baía de Castelhanos,
composta pelas Praia da Figueira, Praia Mansa, Praia Vermelha, Saco do Sombrio, Codó
e Praia de Castelhanos (Canto da Lagoa e Canto do Ribeirão).
As informações a seguir foram coletadas nas visitas realizadas pelo S.A.S. Brasil em
2015, em documentos oficiais e através da experiência prática in loco de membros da
equipe nas funções de Orientador Social pela Secretaria de Desenvolvimento Social de
Ilhabela e Professor do Ensino Médio pela Sec. de Estado da Educação de SP:
1. Saneamento – A região não possui energia elétrica, água tratada, esgoto e antenas de
sinal. A comunicação se faz através de rádios amadores e de dois orelhões que
funcionam com placa solar via satélite e frequentemente necessitam de manutenção,
que muitas vezes demora a chegar. Alguns moradores são contratados pela prefeitura
para realizar a limpeza diária da praia e separar o lixo. A coleta é feita semanalmente
por um caminhão. A água da cachoeira é canalizada de forma artesanal até as casas.
Algumas casas não possuem banheiros. A energia elétrica é obtida através de
geradores particulares e poucas placas solares que, por falta de orientação adequada,
quase sempre falham.
2. Vida social – Embora tenham laços de parentesco, há pouca interação entre os
núcleos familiares gerando conflitos que atravessam gerações. Os problemas não são
debatidos em grupo, o que os impede de se fortalecerem enquanto comunidade.
Muitos núcleos familiares têm as mães ausentes, que abandonaram o lar por causa de
maus tratos e alcoolismo dos homens e deixam as crianças para viverem na cidade. s
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Foto: Marcos Credie
As crianças sofrem de subnutrição, carência afetiva, déficit de atenção, problemas de
aprendizagem, cáries, além de serem agressivas e hiperativas. Há muitos jovens e
adolescentes com deficiência física e mental (mudez, dislexia) causada por
relacionamentos consanguíneos entre os pais. Os moradores estão expostos a uma
variedade de riscos como alcoolismo e drogas, subnutrição, sexualidade precoce,
fragmentação familiar, violência, relacionamentos consanguíneos, deficiências físicas
ou mentais, infecções crônicas e outras fontes de estresse.
3. Saúde – Não há posto de saúde, mas uma equipe médica visita o lugar a cada 45 dias
e atende os pacientes de forma improvisada. Poucas casas possuem geladeira e a
agricultura de subsistência, que era a principal atividade da região no século passado,
já não existe mais. A alimentação dos moradores é fraca em nutrientes o que causa
dificuldade de aprendizagem, depressão e redução da capacidade cognitiva. As
crianças sofrem de desnutrição, carência afetiva, déficit de atenção, problemas de
aprendizagem, cáries, além de serem agressivas e agitadas. Há casos de hanseníase,
amputações, diabetes, deslocamento de retina e cegueira, devido às condições da
atividade pesqueira.
4. Trabalho – Os homens vivem da pesca artesanal com rede e com cercos flutuantes
(técnica japonesa) em condições informais. O pescado é vendido ao turista ou aos
restaurantes da praia ou armazenado em caixas de isopor com gelo e transportados
por canoas a motor até São Sebastião ou Caraguatatuba. Recentemente a
comunidade foi contemplada com uma máquina de gelo através de um projeto de
compensação da Petrobras. Outra fonte de renda é o turismo de massa, embora os
moradores não trabalhem diretamente com os turistas em cargos como cozinheiro,
garçon, auxiliar de cozinha, operador de lancha de desembarque. Os três restaurantes
que recebem a clientela das agências de turismo são administrados por empresários
da cidade. Apenas 5 famílias trabalham com comércio (restaurante, lanchonete,
mercearias, camping). A maioria das mulheres e dos jovens vive na ociosidade.
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Foto: Marcos Credie
da cidade. Apenas 5 famílias trabalham com comércio (restaurante, lanchonete,
mercearias, camping). A maioria das mulheres e dos jovens vive na ociosidade.
5. Educação - A vida escolar da comunidade é recente, a primeira turma do Ensino Médio
se formou em 2014. As classes são multisseriadas e unidocentes e não existe um
projeto político-pedagógico específico e apropriado às reais necessidades da
comunidade. As escolas funcionam em casas alugadas sem espaços adequados
(quadra poliesportiva, refeitório) e sem manutenção (tetos sem forro, fossas abertas,
carteiras quebradas). As crianças e adolescentes da comunidade apresentam baixa
capacidade comunicativa e dificuldade em expressar opiniões e escrever frases com
coerência, são dependentes da voz de comando do professor e incapazes de atingir as
competências mínimas de leitura e escrita.
6. Cultura – O artesanato que representa a cultura tradicional caiçara é feito com bambú
(balaios, cestos) e madeira (canoas e remos em miniatura) e são poucos os que ainda
dominam as técnicas. A feitura da farinha de mandioca quase não existe mais, apenas
uma família possui uma casa de farinha em atividade. As casas de pau-a-pique estão
quase extintas e as poucas que restam estão degradadas. Os jovens gostam de surfar
e escutar música. O gênero musical mais escutado é o funk e o sertanejo universitário,
trazido por turistas que acampam na região. A presença da igreja evangélica (Deus é
Amor e Congregação Cristã) é forte e os religiosos obedecem a doutrina a risca
(mulheres não cortam os cabelos e não usam calça, a música “mundana” e a televisão
são proibidas).
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Foto: Marcos Credie
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Foto: Marcos Credie
7. Turismo - Cerca de 200 turistas frequentam a praia diariamente através de agências de
turismo da cidade que exploram a região através da venda de passeios com Jeep 4x4
ou lanchas. Na temporada de verão e feriados prolongados o número de visitantes
chega a 400 por dia. Os “jipeiros” acompanham os turistas até a Cachoeira do Gato e
em seguida os encaminham a um dos três restaurantes que mantêm convênio com as
agências. Sem conhecimento e treinamento adequados, a maioria os “jipeiros” não
informa os turistas sobre as características e curiosidades da região, o que faz com
que os passeios muitas vezes não sejam caracterizados como atividade turística.
Poucos moradores tem contato com o turista.
Vê-se com todos esses pontos, portanto, que o cenário da comunidade de
Castelhanos é de uma população socialmente vulnerável.
O engajamento nas atividades realizadas em 2015 não alcançou as expectativas do
grupo, tendo em vista que os moradores são tristes, apáticos e pouco abertos para o
diálogo e para novidades.
No entanto, observamos grande interesse por parte das crianças, que estavam
sempre por perto, querendo descobrir, ajudar e fazer/receber companhia. Acreditamos que
elas são importantes no processo de dar continuidade às atividades que aprenderam –
principalmente se continuarem a receber estímulos, pois acabam por difundir as ideias
com os adultos.
2. Descrição da expedição
Em junho de 2015 o S.A.S. Brasil decidiu trocar o sertão pelo mar e criou a sua
primeira ação recorrente na Baía de Castelhanos, mantendo a identidade e as
características das ações de Saúde, Alegria e Sustentabilidade.
Entre junho e dezembro de 2015 foi possível criar ações de desenvolvimento
comunitário em parceria com as lideranças da comunidade e da prefeitura de Ilhabela que
tinham como objetivos:
1. Fortalecer a atuação voluntária e colaborativa, através de uma equipe multiprofissional;
2. Promover ações de curto prazo e impacto duradouro junto à comunidade;
3. Transformar a realidade local com informações e tecnologias de impacto positivo;
4. Avaliar o impacto de atuações recorrentes para aprimorar o planejamento e as ações.
Para dar continuidade ao trabalho iniciado em 2015 e incentivar o desenvolvimento
pleno da comunidade, enxergamos a necessidade de focarmos nossos esforços nos
próprios moradores da comunidade, tendo como forte aliados, as crianças.
Sabemos que a força e o potencial de uma comunidade está nas pessoas e nas
suas relações. Tecendo novos sonhos e fortalecendo redes de parcerias, o retorno à
comunidade traz novos desafios de articulação comunitária e mais possibilidades de
engajamento da população como um todo, por meio da valorização e celebração das
histórias únicas das pessoas que habitam este lugar.
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Foto: Marcos Credie
Foto: Marcos Credie
3. Objetivos da expedição
1. Fortalecer a atuação colaborativa, através de uma equipe multiprofissional.
2. Revelar os melhores talentos da equipe e da própria comunidade em prol de um
desenvolvimento pessoal e coletivo.
3. Promover ações de curto prazo e impacto duradouro que fazem sentido à comunidade.
4. Testar novos projetos pilotos.
5. Transformar a realidade da comunidade visitada, levando informações e tecnologias
que gerem impactos positivos.
6. Avaliar o impacto do S.A.S. Brasil em uma comunidade de contato mais duradouro,
aprimorando ações e desenvolvendo novas.
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Foto: Marcos Credie
4. Principais conquistas
a) Parceria com a prefeitura da Ilhabela para o piloto do Projeto Anariá – Mutirão de
HPV: o projeto de HPV é de extrema relevância por conta da gravidade do Câncer de
Colo de Útero e alta incidência na sociedade brasileira. Existe uma dificuldade de
acesso ao exame, que é somada ao tempo longo de leitura do exame e de início de
tratamento quando necessário. Com o propósito de garantir que mais mulheres façam
o exame, e que tenham acesso ao resultado mais rapidamente, o S.A.S. iniciou uma
parceria com a Roche para ter acesso aos kits de coleta do exame.
O projeto recebe o nome de Anariá, em homenagem à Anariá Recchia (1983 – 2016),
mulher, ativista e guerreira, que sempre acreditou na valorização das mulheres e na força
feminina. O S.A.S. Brasil compartilha e luta pela realização desse sonho.
b) Parceria com o laboratório Daza para leitura dos exames de HPV: também
fechamos parceria com o Laboratório Daza para leitura dos exames de HPV colhidos,
para que possamos dar encaminhamento nos tratamentos que forem necessários.
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Foto: Marcos Credie
c) Parceria com Acupuntura Urbana: o AU é um negócio social que tem como missão
transformar espaços públicos de forma ativa e participativa, fortalecendo relações que
estimulem o protagonismo da sociedade civil na construção de uma cidade mais
humana.Consolidou-se em 2013, depois de encontros pessoais e o despertar de três
mentes inquietas e prontas para colocar a mão na massa.
A primeira parceria com o S.A.S. Brasil aconteceu na expedição da Chapada do
Araripe, em novembro de 2015, onde foi possível ver que nossos trabalhos se
complementavam.
Saiba mais: acupunturaurbana.com.br/
Acompanhe: www.fb.com/acupunturaurbana.au
d) Parceria com o grupo de teatro Passajero: a parceria com o grupo de teatro foi
importante para diversificar as atividades de alegria durante a expedição. Principalmente
em comunidades isoladas do Brasil, existe uma dificuldade de acesso à programas
culturais variados.
Com a parceria com um grupo de teatro, o S.A.S. passa a oferecer um momento
único e diferente para as crianças dessas comunidades, que passarão a ter uma vivência
com outra opção de lazer.
Saiba mais: https://m.facebook.com/Grupo-Passarejo-1071469549543765/
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Foto: Marcos Credie
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Foto: Marcos Credie
5. Atividades realizadas e resultados
O carro chefe dessa expedição foi na área da Saúde, com a realização do piloto do
Projeto Anariá, de prevenção de HPV. Com o apoio da Roche, levamos os testes
(Cobas®) para realizar o diagnóstico da doença, em formato de mutirão. A parceria com a
equipe de saúde da prefeitura de Ilhabela também foi essencial para que mais mulheres
pudessem ser examinadas.
Após a leitura dos exames, a ser realizada pelo parceiro Laboratório Daza,
tomaremos as devidas ações e procedimentos para que os tratamentos necessários
sejam realizados.
“Foi uma sensação única oferecer a essas mulheres uma coleta de exames
adequada usando um material de primeira linha, que tem como principal vantagem, o fato
de resultados negativos fazerem com que essas mulheres só refaçam o teste em 5 anos.
Além disso, a parceria com a prefeitura de Ilhabela foi muito importante e bem vinda”, diz
Adriana Mallet, médica e coordenadora geral do S.A.S. Brasil.
“O consultório montado pelo S.A.S. devolveu a autoestima às mulheres da Baía de
Castelhanos pois pela primeira vez elas foram tratadas com dignidade e respeito. Sem um
posto de saúde na comunidade, a maioria delas desistia dos exames pela dificuldade de
acesso à cidade de Ilhabela. Desta vez elas tiveram até momentos de descontração na
sala de espera, onde a atuação da equipe S.A.S. fez toda a diferença. Durante todo o dia,
o bate-papo foi alto-astral e inspirador!”, Carol Dias, moradora da comunidade e
intermediadora S.A.S.-comunidade.
13
Foto: Marcos Credie
Ao longo dos dias 2 e 3 de junho, Adriana coordenou a equipe (que contou com o
apoio da prefeitura de Ilhabela) que fez as coletas dos exames. Um dos ganhos de
realizar esse teste, é que as mulheres que tiverem o resultado negativo podem ficar por 5
anos sem realizar o Papanicolau. Isso é importante para a comunidade de Castelhanos
por conta da dificuldade de conseguir acessar o outro lado da Ilha, que tem toda a
estrutura de saúde.
Como a proposta do S.A.S. é a de trazer uma visão multidisciplinar, integramos essa
ação de saúde a uma ação de alegria. As mulheres que passaram pelos exames
ganharam kits de maquiagem e uma sessão de cuidados com os cabelos e unhas. Essa
atividade foi proposta pela voluntária Elisângela Ribeiro, que além de médica, mostrou-se
super criativa e cuidadosa.
A ideia dessa atuação conjunta da saúde com a estética foi a de trazer o conceito de
cuidado e valorização da mulher a partir de um olhar mais amplo, além de trabalhar a
autoestima dessas mulheres.
Mulheres examinadas 32
Kits de maquiagem distribuídos 23
Fotos: Sarah Garrido
15
Foto: Marcos Credie
Na área da Alegria, tivemos a parceria com o grupo de teatro Passarejo, que fez a
apresentação de um teatro infantil bastante interativo, com uma linda mensagem de
amizade e valorização de cada ser.
Uma das carências das crianças da comunidade é o acesso a programas culturais
variados, uma vez que elas ficam restritas ao espaço e estilo de vida da comunidade.
Pensando nesse contexto, a parceria com o grupo de teatro foi relevante para dar
oportunidade às crianças de vivenciarem algo diferente e especial, que ficasse guardado
na memória delas.
O teatro foi realizado na noite de sábado, e teve a participação não só das crianças,
como também dos adultos da comunidade. Com muitos sorrisos e diversão da plateia,
ficou nítido o quanto uma opção de lazer diferente foi bem recebida por todos.
“O grupo Passajero teve o cuidado de usar linguagem adequada às crianças e com
um repertório inédito foi capaz de prender a atenção de todos os presentes”, diz
Elisângela Ribeiro, médica voluntária participante da expedição.
Para aproveitar o momento de descontração e as crianças reunidas, nossos super
heróis distribuíram a super-fórmula (vermífugo). A interação com as personagens do teatro
só deixou a ação ainda mais rica.
Espectadores do teatro 30
Super-fórmula 30
Foto: Marcos Credie
Foto: Marcos Credie
O S.A.S. levou mais doação de livros (infantis) para a Biblioteca Ondas do Saber.
Eles foram doados pelo Itaú e Livraria Cultura.
Na área da Sustentabilidade, o S.A.S. buscou uma parceria com a empresa
Acupuntura Urbana. A proposta idealizada pela equipe foi a de trazer um olhar para o
resgate da cultura, das histórias e dos valores da comunidade.
Durante visitas prévias à expedição (somado ao trabalho do S.A.S. ao longo de
2015), ficou nítido o quanto a comunidade estava perdendo parte da sua essência pela
falta de troca de histórias e de diálogo entre as pessoas de que vivem em praias
diferentes. É uma comunidade que tem uma cultura muito rica, com rituais de pesca
típicos, com práticas de artesanato e interação com a natureza.
No sábado de manhã, o protagonismo das crianças na atividade de reconhecimento
do território e coleta das histórias de seus moradores foi um dos pontos mais fortes. Pela
primeira vez elas tiveram contato direto com depoimentos dos anciãos mais antigos da
comunidade. Esta experiência trouxe a elas a percepção de que o passado que lhes
pertence é valioso e precisa ser propagado, para que o conhecimento que atravessa
gerações continue a mover as tradições do lugar. Registramos suas histórias e tiramos
fotos de seus autores. “Com olhos brilhantes pelo entusiasmo da descoberta, elas
reproduziram as histórias que ouviram naquela manhã com riqueza de detalhes e orgulho
de pertencerem àquele lugar." Carol Dias.
No período da tarde de sábado, com fotos e histórias em mãos, fizemos um painel
com a proposta de ter um espaço de reconhecimento das pessoas que fazem parte da
cultura da comunidade. Esse painel foi montado em uma das escolas locais, com a ideia
de que as crianças estejam em contato constante e aprendam a valorizar a riqueza da
sociedade do grupo de pessoas do qual fazem parte.
18
Foto: Marcos Credie
19
Foto: Marcos Credie
Crianças participantes 35
Histórias ouvidas 10
Fotos impressas 10
Placas feitas 30
Além do painel, construímos junto com as crianças, placas que indicavam quais as
referências de cada espaço. Por exemplo, onde encontrar artesanato, onde estão os
restaurantes dos moradores da comunidade, onde estão os pescadores e etc.
A proposta das placas é a de mostrar para os turistas quais as belezas culturais que
interagem com as belezas naturais do espaço.
Importante dizer que a comunicação das mesmas era não violenta: ao invés de falar
"proibido jogar lixo", falamos "a praia é mais linda sem lixo".
Ao término de cada dia, houve rodas de conversa e fogueira para feedbacks sobre
as atividades, para ouvirmos a comunidade e vice-versa sobre as percepções e
aprendizados.
“Minha conclusão é que dá sim pra ter um impacto positivo nessa comunidade, mas
precisamos nos esforçar para engajar mais os adultos. Foi muito especial ver a mudança
de comportamento das crianças, que ficaram super carinhosas e mais comportadas. Eles
se engajaram bastante nas atividades, de crianças a adolescentes”, diz Renata Minerbo,
coordenadora do AU.
Foto: Marcos Credie
Foto: Marcos Crediec
Fotos: Márton Pederneiras
Foto: Marcos Crediec
Foto: Marcos Credie
25
Foto: Marcos Credie
6. Desafios e lições aprendidas
A visita à Castelhanos nos trouxe novas resoluções, desafios e lições aprendidas, dada
nossa persistência em visitar e conhecer cada vez mais a comunidade, a fim de
aperfeiçoarmos nossas ações:
● As visitas continuadas gera confiança no nosso trabalho por parte da comunidade (por
exemplo, as mulheres já sabiam o nome da médica (Adriana) e conheciam a organização
e por isso, participaram sem grandes receios);
● Reforçamos que propor atividades em que as crianças (e toda a comunidade em geral)
se engajam em todo o ciclo: construção e vivência, funciona muito bem e desperta o
interesse;
● O S.A.S. Brasil reforçou a importância de selecionar projetos coerentes às
necessidades da comunidade. A ideia foi selecionar os voluntários a partir de suas ideias
para complementar as ações;
● Notamos a necessidade de uma pessoa encarregada única e exclusivamente pela
logística da expedição, para que todas as informações sobre deslocamento de materiais,
cronograma e etc sejam sempre atualizadas e passadas aos presentes na expedição –
evitando mal entendidos e gerindo quaisquer mudanças que surjam no meio do caminho.
26
Foto: Marcos Credie
7. Relatório Financeiro
O detalhamento da prestação de contas do S.A.S. Brasil referente à terceira
expedição em Castelhanos está resumida na tabela a seguir:
27
Foto: Márton Pederneiras
Relatório 2016 - Expedição S.A.S. Brasil Castelhanos 4

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Relatório 2016 - Expedição S.A.S. Brasil Castelhanos 4

  • 1. Relatório de Expedição Baía Castelhanos – Ilha Bela/SP Junho 2016
  • 4. Foto: Marcos Credie Resumo Este relatório detalha as atividades dos dias 2 a 5 de junho, onde o S.A.S. Brasil (Saúde e Alegria nos Sertões) rodou mais de 620km rumo à comunidade da Baía de Castelhanos, no município de Ilhabela/SP, em sua primeira ação do grupo em 2016. Foi a quarta visita do grupo à comunidade, com o intuito de dar continuidade ao trabalho iniciado em 2015 e incentivar o desenvolvimento pleno da comunidade. Para tanto, enxergamos a necessidade de focarmos nossos esforços nos próprios moradores da comunidade. O destaque da ação foi o Projeto Anariá, um mutirão de saúde para esclarecimento, prevenção e exames de HPV nas mulheres da comunidade, com a parceria da prefeitura de Ilhabela. Mais uma vez, a equipe era multidisciplinar – característica que avaliamos ser importante para que as atividades sejam complementares. No entanto, observamos que o impacto das ações do S.A.S. Brasil não transforma apenas ao espaço da comunidade e seus moradores, mas também essa equipe formada. Por isso, o processo seletivo para os participantes sofreu (e ainda sofrerá) alterações ao longo deste ano, de maneira que os participantes sejam cada vez mais complementares uns aos outros e às comunidades, uma vez que buscamos destacar os melhores talentos de cada um. O trabalho com a equipe, bem como as atividades desenvolvidas junto à comunidade, teve parceria direta com o Acupuntura Urbana.
  • 5. ...................................................................... 1 ...................................................................... 7 ...................................................................... 9 ........................................................................ 10 ..................................................... 12 ............................................................. 25 .......................................................................... 26 Sumário 1. Cenário da comunidade 2. Descrição da expedição 3. Objetivos da expedição 4. Principais conquistas 5. Atividades realizadas e resultados 6. Desafios e lições aprendidas 7. Relatório financeiro Foto: Marcos Credie
  • 6. 1. Cenário da comunidade A Baía de Castelhanos está localizada no município de Ilhabela, litoral norte do Estado de São Paulo. A região atrai cerca de 50 mil turistas por ano (números do Parque Estadual de Ilhabela), que procuram a tranquilidade e a beleza dos seus cenários naturais através das agências de turismo e invadem suas areias por lanchas no mar ou por uma estrada íngreme e acidentada de 17km que corta o Parque Estadual (PEIb) da cidade em veículos 4x4, enquanto a comunidade sofre de vulnerabilidade social. geradores 1 Foto: Marcos Credie
  • 8. São180 moradores, entre eles 45 crianças (0 a 14 anos), 38 jovens (15 e 25 anos), 28 mulheres, 53 homens e 16 idosos, da comunidade tradicional da Baía de Castelhanos, composta pelas Praia da Figueira, Praia Mansa, Praia Vermelha, Saco do Sombrio, Codó e Praia de Castelhanos (Canto da Lagoa e Canto do Ribeirão). As informações a seguir foram coletadas nas visitas realizadas pelo S.A.S. Brasil em 2015, em documentos oficiais e através da experiência prática in loco de membros da equipe nas funções de Orientador Social pela Secretaria de Desenvolvimento Social de Ilhabela e Professor do Ensino Médio pela Sec. de Estado da Educação de SP: 1. Saneamento – A região não possui energia elétrica, água tratada, esgoto e antenas de sinal. A comunicação se faz através de rádios amadores e de dois orelhões que funcionam com placa solar via satélite e frequentemente necessitam de manutenção, que muitas vezes demora a chegar. Alguns moradores são contratados pela prefeitura para realizar a limpeza diária da praia e separar o lixo. A coleta é feita semanalmente por um caminhão. A água da cachoeira é canalizada de forma artesanal até as casas. Algumas casas não possuem banheiros. A energia elétrica é obtida através de geradores particulares e poucas placas solares que, por falta de orientação adequada, quase sempre falham. 2. Vida social – Embora tenham laços de parentesco, há pouca interação entre os núcleos familiares gerando conflitos que atravessam gerações. Os problemas não são debatidos em grupo, o que os impede de se fortalecerem enquanto comunidade. Muitos núcleos familiares têm as mães ausentes, que abandonaram o lar por causa de maus tratos e alcoolismo dos homens e deixam as crianças para viverem na cidade. s 3 Foto: Marcos Credie
  • 9. As crianças sofrem de subnutrição, carência afetiva, déficit de atenção, problemas de aprendizagem, cáries, além de serem agressivas e hiperativas. Há muitos jovens e adolescentes com deficiência física e mental (mudez, dislexia) causada por relacionamentos consanguíneos entre os pais. Os moradores estão expostos a uma variedade de riscos como alcoolismo e drogas, subnutrição, sexualidade precoce, fragmentação familiar, violência, relacionamentos consanguíneos, deficiências físicas ou mentais, infecções crônicas e outras fontes de estresse. 3. Saúde – Não há posto de saúde, mas uma equipe médica visita o lugar a cada 45 dias e atende os pacientes de forma improvisada. Poucas casas possuem geladeira e a agricultura de subsistência, que era a principal atividade da região no século passado, já não existe mais. A alimentação dos moradores é fraca em nutrientes o que causa dificuldade de aprendizagem, depressão e redução da capacidade cognitiva. As crianças sofrem de desnutrição, carência afetiva, déficit de atenção, problemas de aprendizagem, cáries, além de serem agressivas e agitadas. Há casos de hanseníase, amputações, diabetes, deslocamento de retina e cegueira, devido às condições da atividade pesqueira. 4. Trabalho – Os homens vivem da pesca artesanal com rede e com cercos flutuantes (técnica japonesa) em condições informais. O pescado é vendido ao turista ou aos restaurantes da praia ou armazenado em caixas de isopor com gelo e transportados por canoas a motor até São Sebastião ou Caraguatatuba. Recentemente a comunidade foi contemplada com uma máquina de gelo através de um projeto de compensação da Petrobras. Outra fonte de renda é o turismo de massa, embora os moradores não trabalhem diretamente com os turistas em cargos como cozinheiro, garçon, auxiliar de cozinha, operador de lancha de desembarque. Os três restaurantes que recebem a clientela das agências de turismo são administrados por empresários da cidade. Apenas 5 famílias trabalham com comércio (restaurante, lanchonete, mercearias, camping). A maioria das mulheres e dos jovens vive na ociosidade. 4 Foto: Marcos Credie
  • 10. da cidade. Apenas 5 famílias trabalham com comércio (restaurante, lanchonete, mercearias, camping). A maioria das mulheres e dos jovens vive na ociosidade. 5. Educação - A vida escolar da comunidade é recente, a primeira turma do Ensino Médio se formou em 2014. As classes são multisseriadas e unidocentes e não existe um projeto político-pedagógico específico e apropriado às reais necessidades da comunidade. As escolas funcionam em casas alugadas sem espaços adequados (quadra poliesportiva, refeitório) e sem manutenção (tetos sem forro, fossas abertas, carteiras quebradas). As crianças e adolescentes da comunidade apresentam baixa capacidade comunicativa e dificuldade em expressar opiniões e escrever frases com coerência, são dependentes da voz de comando do professor e incapazes de atingir as competências mínimas de leitura e escrita. 6. Cultura – O artesanato que representa a cultura tradicional caiçara é feito com bambú (balaios, cestos) e madeira (canoas e remos em miniatura) e são poucos os que ainda dominam as técnicas. A feitura da farinha de mandioca quase não existe mais, apenas uma família possui uma casa de farinha em atividade. As casas de pau-a-pique estão quase extintas e as poucas que restam estão degradadas. Os jovens gostam de surfar e escutar música. O gênero musical mais escutado é o funk e o sertanejo universitário, trazido por turistas que acampam na região. A presença da igreja evangélica (Deus é Amor e Congregação Cristã) é forte e os religiosos obedecem a doutrina a risca (mulheres não cortam os cabelos e não usam calça, a música “mundana” e a televisão são proibidas). 5 Foto: Marcos Credie
  • 11. 6 Foto: Marcos Credie 7. Turismo - Cerca de 200 turistas frequentam a praia diariamente através de agências de turismo da cidade que exploram a região através da venda de passeios com Jeep 4x4 ou lanchas. Na temporada de verão e feriados prolongados o número de visitantes chega a 400 por dia. Os “jipeiros” acompanham os turistas até a Cachoeira do Gato e em seguida os encaminham a um dos três restaurantes que mantêm convênio com as agências. Sem conhecimento e treinamento adequados, a maioria os “jipeiros” não informa os turistas sobre as características e curiosidades da região, o que faz com que os passeios muitas vezes não sejam caracterizados como atividade turística. Poucos moradores tem contato com o turista. Vê-se com todos esses pontos, portanto, que o cenário da comunidade de Castelhanos é de uma população socialmente vulnerável. O engajamento nas atividades realizadas em 2015 não alcançou as expectativas do grupo, tendo em vista que os moradores são tristes, apáticos e pouco abertos para o diálogo e para novidades. No entanto, observamos grande interesse por parte das crianças, que estavam sempre por perto, querendo descobrir, ajudar e fazer/receber companhia. Acreditamos que elas são importantes no processo de dar continuidade às atividades que aprenderam – principalmente se continuarem a receber estímulos, pois acabam por difundir as ideias com os adultos.
  • 12. 2. Descrição da expedição Em junho de 2015 o S.A.S. Brasil decidiu trocar o sertão pelo mar e criou a sua primeira ação recorrente na Baía de Castelhanos, mantendo a identidade e as características das ações de Saúde, Alegria e Sustentabilidade. Entre junho e dezembro de 2015 foi possível criar ações de desenvolvimento comunitário em parceria com as lideranças da comunidade e da prefeitura de Ilhabela que tinham como objetivos: 1. Fortalecer a atuação voluntária e colaborativa, através de uma equipe multiprofissional; 2. Promover ações de curto prazo e impacto duradouro junto à comunidade; 3. Transformar a realidade local com informações e tecnologias de impacto positivo; 4. Avaliar o impacto de atuações recorrentes para aprimorar o planejamento e as ações. Para dar continuidade ao trabalho iniciado em 2015 e incentivar o desenvolvimento pleno da comunidade, enxergamos a necessidade de focarmos nossos esforços nos próprios moradores da comunidade, tendo como forte aliados, as crianças. Sabemos que a força e o potencial de uma comunidade está nas pessoas e nas suas relações. Tecendo novos sonhos e fortalecendo redes de parcerias, o retorno à comunidade traz novos desafios de articulação comunitária e mais possibilidades de engajamento da população como um todo, por meio da valorização e celebração das histórias únicas das pessoas que habitam este lugar. 7 Foto: Marcos Credie
  • 14. 3. Objetivos da expedição 1. Fortalecer a atuação colaborativa, através de uma equipe multiprofissional. 2. Revelar os melhores talentos da equipe e da própria comunidade em prol de um desenvolvimento pessoal e coletivo. 3. Promover ações de curto prazo e impacto duradouro que fazem sentido à comunidade. 4. Testar novos projetos pilotos. 5. Transformar a realidade da comunidade visitada, levando informações e tecnologias que gerem impactos positivos. 6. Avaliar o impacto do S.A.S. Brasil em uma comunidade de contato mais duradouro, aprimorando ações e desenvolvendo novas. 9 Foto: Marcos Credie
  • 15. 4. Principais conquistas a) Parceria com a prefeitura da Ilhabela para o piloto do Projeto Anariá – Mutirão de HPV: o projeto de HPV é de extrema relevância por conta da gravidade do Câncer de Colo de Útero e alta incidência na sociedade brasileira. Existe uma dificuldade de acesso ao exame, que é somada ao tempo longo de leitura do exame e de início de tratamento quando necessário. Com o propósito de garantir que mais mulheres façam o exame, e que tenham acesso ao resultado mais rapidamente, o S.A.S. iniciou uma parceria com a Roche para ter acesso aos kits de coleta do exame. O projeto recebe o nome de Anariá, em homenagem à Anariá Recchia (1983 – 2016), mulher, ativista e guerreira, que sempre acreditou na valorização das mulheres e na força feminina. O S.A.S. Brasil compartilha e luta pela realização desse sonho. b) Parceria com o laboratório Daza para leitura dos exames de HPV: também fechamos parceria com o Laboratório Daza para leitura dos exames de HPV colhidos, para que possamos dar encaminhamento nos tratamentos que forem necessários. 10 Foto: Marcos Credie
  • 16. c) Parceria com Acupuntura Urbana: o AU é um negócio social que tem como missão transformar espaços públicos de forma ativa e participativa, fortalecendo relações que estimulem o protagonismo da sociedade civil na construção de uma cidade mais humana.Consolidou-se em 2013, depois de encontros pessoais e o despertar de três mentes inquietas e prontas para colocar a mão na massa. A primeira parceria com o S.A.S. Brasil aconteceu na expedição da Chapada do Araripe, em novembro de 2015, onde foi possível ver que nossos trabalhos se complementavam. Saiba mais: acupunturaurbana.com.br/ Acompanhe: www.fb.com/acupunturaurbana.au d) Parceria com o grupo de teatro Passajero: a parceria com o grupo de teatro foi importante para diversificar as atividades de alegria durante a expedição. Principalmente em comunidades isoladas do Brasil, existe uma dificuldade de acesso à programas culturais variados. Com a parceria com um grupo de teatro, o S.A.S. passa a oferecer um momento único e diferente para as crianças dessas comunidades, que passarão a ter uma vivência com outra opção de lazer. Saiba mais: https://m.facebook.com/Grupo-Passarejo-1071469549543765/ 11 Foto: Marcos Credie
  • 17. 12 Foto: Marcos Credie 5. Atividades realizadas e resultados O carro chefe dessa expedição foi na área da Saúde, com a realização do piloto do Projeto Anariá, de prevenção de HPV. Com o apoio da Roche, levamos os testes (Cobas®) para realizar o diagnóstico da doença, em formato de mutirão. A parceria com a equipe de saúde da prefeitura de Ilhabela também foi essencial para que mais mulheres pudessem ser examinadas. Após a leitura dos exames, a ser realizada pelo parceiro Laboratório Daza, tomaremos as devidas ações e procedimentos para que os tratamentos necessários sejam realizados. “Foi uma sensação única oferecer a essas mulheres uma coleta de exames adequada usando um material de primeira linha, que tem como principal vantagem, o fato de resultados negativos fazerem com que essas mulheres só refaçam o teste em 5 anos. Além disso, a parceria com a prefeitura de Ilhabela foi muito importante e bem vinda”, diz Adriana Mallet, médica e coordenadora geral do S.A.S. Brasil. “O consultório montado pelo S.A.S. devolveu a autoestima às mulheres da Baía de Castelhanos pois pela primeira vez elas foram tratadas com dignidade e respeito. Sem um posto de saúde na comunidade, a maioria delas desistia dos exames pela dificuldade de acesso à cidade de Ilhabela. Desta vez elas tiveram até momentos de descontração na sala de espera, onde a atuação da equipe S.A.S. fez toda a diferença. Durante todo o dia, o bate-papo foi alto-astral e inspirador!”, Carol Dias, moradora da comunidade e intermediadora S.A.S.-comunidade.
  • 18. 13 Foto: Marcos Credie Ao longo dos dias 2 e 3 de junho, Adriana coordenou a equipe (que contou com o apoio da prefeitura de Ilhabela) que fez as coletas dos exames. Um dos ganhos de realizar esse teste, é que as mulheres que tiverem o resultado negativo podem ficar por 5 anos sem realizar o Papanicolau. Isso é importante para a comunidade de Castelhanos por conta da dificuldade de conseguir acessar o outro lado da Ilha, que tem toda a estrutura de saúde. Como a proposta do S.A.S. é a de trazer uma visão multidisciplinar, integramos essa ação de saúde a uma ação de alegria. As mulheres que passaram pelos exames ganharam kits de maquiagem e uma sessão de cuidados com os cabelos e unhas. Essa atividade foi proposta pela voluntária Elisângela Ribeiro, que além de médica, mostrou-se super criativa e cuidadosa. A ideia dessa atuação conjunta da saúde com a estética foi a de trazer o conceito de cuidado e valorização da mulher a partir de um olhar mais amplo, além de trabalhar a autoestima dessas mulheres. Mulheres examinadas 32 Kits de maquiagem distribuídos 23
  • 20. 15 Foto: Marcos Credie Na área da Alegria, tivemos a parceria com o grupo de teatro Passarejo, que fez a apresentação de um teatro infantil bastante interativo, com uma linda mensagem de amizade e valorização de cada ser. Uma das carências das crianças da comunidade é o acesso a programas culturais variados, uma vez que elas ficam restritas ao espaço e estilo de vida da comunidade. Pensando nesse contexto, a parceria com o grupo de teatro foi relevante para dar oportunidade às crianças de vivenciarem algo diferente e especial, que ficasse guardado na memória delas. O teatro foi realizado na noite de sábado, e teve a participação não só das crianças, como também dos adultos da comunidade. Com muitos sorrisos e diversão da plateia, ficou nítido o quanto uma opção de lazer diferente foi bem recebida por todos. “O grupo Passajero teve o cuidado de usar linguagem adequada às crianças e com um repertório inédito foi capaz de prender a atenção de todos os presentes”, diz Elisângela Ribeiro, médica voluntária participante da expedição. Para aproveitar o momento de descontração e as crianças reunidas, nossos super heróis distribuíram a super-fórmula (vermífugo). A interação com as personagens do teatro só deixou a ação ainda mais rica. Espectadores do teatro 30 Super-fórmula 30
  • 23. O S.A.S. levou mais doação de livros (infantis) para a Biblioteca Ondas do Saber. Eles foram doados pelo Itaú e Livraria Cultura. Na área da Sustentabilidade, o S.A.S. buscou uma parceria com a empresa Acupuntura Urbana. A proposta idealizada pela equipe foi a de trazer um olhar para o resgate da cultura, das histórias e dos valores da comunidade. Durante visitas prévias à expedição (somado ao trabalho do S.A.S. ao longo de 2015), ficou nítido o quanto a comunidade estava perdendo parte da sua essência pela falta de troca de histórias e de diálogo entre as pessoas de que vivem em praias diferentes. É uma comunidade que tem uma cultura muito rica, com rituais de pesca típicos, com práticas de artesanato e interação com a natureza. No sábado de manhã, o protagonismo das crianças na atividade de reconhecimento do território e coleta das histórias de seus moradores foi um dos pontos mais fortes. Pela primeira vez elas tiveram contato direto com depoimentos dos anciãos mais antigos da comunidade. Esta experiência trouxe a elas a percepção de que o passado que lhes pertence é valioso e precisa ser propagado, para que o conhecimento que atravessa gerações continue a mover as tradições do lugar. Registramos suas histórias e tiramos fotos de seus autores. “Com olhos brilhantes pelo entusiasmo da descoberta, elas reproduziram as histórias que ouviram naquela manhã com riqueza de detalhes e orgulho de pertencerem àquele lugar." Carol Dias. No período da tarde de sábado, com fotos e histórias em mãos, fizemos um painel com a proposta de ter um espaço de reconhecimento das pessoas que fazem parte da cultura da comunidade. Esse painel foi montado em uma das escolas locais, com a ideia de que as crianças estejam em contato constante e aprendam a valorizar a riqueza da sociedade do grupo de pessoas do qual fazem parte. 18 Foto: Marcos Credie
  • 24. 19 Foto: Marcos Credie Crianças participantes 35 Histórias ouvidas 10 Fotos impressas 10 Placas feitas 30 Além do painel, construímos junto com as crianças, placas que indicavam quais as referências de cada espaço. Por exemplo, onde encontrar artesanato, onde estão os restaurantes dos moradores da comunidade, onde estão os pescadores e etc. A proposta das placas é a de mostrar para os turistas quais as belezas culturais que interagem com as belezas naturais do espaço. Importante dizer que a comunicação das mesmas era não violenta: ao invés de falar "proibido jogar lixo", falamos "a praia é mais linda sem lixo". Ao término de cada dia, houve rodas de conversa e fogueira para feedbacks sobre as atividades, para ouvirmos a comunidade e vice-versa sobre as percepções e aprendizados. “Minha conclusão é que dá sim pra ter um impacto positivo nessa comunidade, mas precisamos nos esforçar para engajar mais os adultos. Foi muito especial ver a mudança de comportamento das crianças, que ficaram super carinhosas e mais comportadas. Eles se engajaram bastante nas atividades, de crianças a adolescentes”, diz Renata Minerbo, coordenadora do AU.
  • 30. 25 Foto: Marcos Credie 6. Desafios e lições aprendidas A visita à Castelhanos nos trouxe novas resoluções, desafios e lições aprendidas, dada nossa persistência em visitar e conhecer cada vez mais a comunidade, a fim de aperfeiçoarmos nossas ações: ● As visitas continuadas gera confiança no nosso trabalho por parte da comunidade (por exemplo, as mulheres já sabiam o nome da médica (Adriana) e conheciam a organização e por isso, participaram sem grandes receios); ● Reforçamos que propor atividades em que as crianças (e toda a comunidade em geral) se engajam em todo o ciclo: construção e vivência, funciona muito bem e desperta o interesse; ● O S.A.S. Brasil reforçou a importância de selecionar projetos coerentes às necessidades da comunidade. A ideia foi selecionar os voluntários a partir de suas ideias para complementar as ações; ● Notamos a necessidade de uma pessoa encarregada única e exclusivamente pela logística da expedição, para que todas as informações sobre deslocamento de materiais, cronograma e etc sejam sempre atualizadas e passadas aos presentes na expedição – evitando mal entendidos e gerindo quaisquer mudanças que surjam no meio do caminho.
  • 31. 26 Foto: Marcos Credie 7. Relatório Financeiro O detalhamento da prestação de contas do S.A.S. Brasil referente à terceira expedição em Castelhanos está resumida na tabela a seguir: