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Numa Varanda do Labirinto
2008 - 2009
A única maneira de nos livrarmos da tentação é ceder-lhe. Oscar Wilde - "O Retrato de Dorian Gray"
Não queria acordar, um dia, num saguão escuro, e descobrir minha sombra esvaída a resvalar na encruzilhada do poente, ou então, moribunda, numa poça suja da valeta, acorrentada a um corpo decrépito. Não queria acordar, algures, num agonizante dia de Outono, sem antes me libertar da imensidão sufocante deste ciclo vicioso. 2008-09-14 Ciclo Vicioso
Rotina 2008-08-16 A morder a poeira Rojando o ventre no chão A vida inteira Escravos de uma ilusão Às voltas com os dias Num perpétuo labor Pegadas vazias Nos círculos sem cor Sem guia nem alento Perdidos na escuridão Chapinhando no cimento Seguindo a procissão
Um desejo de olhos encovados envolto numa espiral de fumo baço espreita-me numa janela de sombras assobiando sua angustia dentro da noite. Um velho sonho de felicidade uivando e ganindo em silêncio, jaz, esventrado numa poça de ferrugem, com o corpo embrulhado em gelo. No fundo do corredor pantanoso um espelho de lama negra reflecte a agonia dos fantasmas moribundos que, descalços, mergulham na penumbra. Sentado sobre o abismo dos meus pensamentos, a cavar trincheiras no vazio, continuo à procura de uma razão para levar adiante esta farsa. À Procura de uma Razão 2009-04-06
2008-04-09 Mas nada poderá quebrar a chama Podem tapar-me a boca com lama E toldar o espírito com excremento Que arde, quando liberto o pensamento
Carregando o peso desta máscara que me tolda os movimentos, arrasto as asas na escuridão, deixando no asfalto ensanguentado o rasto fragmentado da minha dor. A casa onde se esconde teu coração é toda de mármore sem janelas e à porta, dois lobos em chamas, devoram-me com o olhar, sem me deixarem chegar-me a ti. Grito teu nome, em desespero, ao ver-me a afundar no cascalho, mas é o silêncio quem me devolve seu vago cântico decapitado nas ondas tristes do vento. Se, ao menos, pudesse arrancar esta máscara e mostrar-te quem sou, talvez meus lábios gretados fossem capazes de quebrar o gelo e num murmúrio arrebatado, te pudessem dizer o quanto te quero. 2009-02-08 Homem  Máscara
Na desolada paisagem Através dos lençóis de lama A caravana segue viagem Recolhendo os corpos sem chama Cruzando as ruas desertas Rompe o cerco do nevoeiro E das campas recém abertas As almas arrasta em cativeiro Negros véus se agitam Do outro lado da margem As sombras que ali habitam Acenam à sua passagem Lentamente o lúgubre cortejo Afasta-se para lá das muralhas Ouve-se ainda o rumorejo Dos destinados ao pó e às fornalhas Uma ultima luz se esvai Ao longe, amordaçada Ninguém sabe para onde vai A caravana que cruza a estrada A Caravana 2008-08-31
Ele sabia que não podia mudar o mundo com as suas ideias. Por mais que pensasse e nelas se concentrasse, depurando-as e engrandecendo-as, até à exaustão, jamais poderia mudar o mundo. No entanto, continuava, como se não o soubesse, a abrir sulcos na terra e a semeá-las. Quem sabe, um dia, alguém viesse para as colher. Semeando Ideais 2008-03-22
Tentação Miragem ardente Estranha sensação  De queda iminente Ferida aberta Desejo sangrento Porta secreta Batida pelo vento Lábios gretados Aroma turbulento Dentes aguçados Rasgando alento Sonho obsceno Vertigem febril Doce veneno Num corpo de réptil No peito sepultas Um desejo profundo Quanto mais te ocultas Mais eu me afundo Tentação 2009-03-15
A vida é um imenso novelo de múltiplas pontas. Uma amálgama de destinos que se cruzam e confundem numa estranha sinfonia de sentimentos e contradições. Ponta por ponta, encruzilhada após encruzilhada, vou desfiando o sombrio emaranhado de caminhos, sem conseguir encontrar aquilo que procuro, sem saber sequer o que quero e o que me faz mover. Incapaz de escapar ao sortilégio deste labirinto, limito-me, apenas, a caminhar a eito tentando, à toa, decifrar as pontas soltas. 2009-05-17 Pontas Soltas
Cada um de nós Estrelas 2008/02/15 Cadentes É uma pequena estrela cadente Que riscou os céus E se despenhou no firmamento Um anjo privado de asas Que tombou na escuridão E como um raio de luz Aqui vem testar o seu esplendor
Vivo aqui escondido Num buraco escavado na lama A espreitar pelas grades do postigo A ilusão que ao longe me chama Vivo aqui esquecido Nesta tumba de solidão À espera que o sonho arrefecido Me liberte da tua recordação  2008-04-05 Coração Cativo
Quem és tu?  – Perguntou a sombra emboscada na noite. Quem és tu?  – Voltou ela a perguntar, impacientando-se com o meu silêncio. Que haveria eu de responder? Ela não queria saber o meu nome, queria simplesmente saber quem eu era. Como se explica isso, a alguém que vive na escuridão? Sou a luz!  – Respondi, finalmente, sem saber ao certo o que estava a dizer. A Luz!?  – Retorquiu ela. – O  que é isso? A luz é o poder supremo. A luz é a força que ilumina a escuridão e aniquila as sombras!  – Disse, olhando-a nos olhos, subitamente possuído por uma estranha força interior, que eu próprio desconhecia. Levando a mão direita ao peito, dei um passo em frente e vi-a, apavorada, dobrar o flanco e rodopiar sobre si mesma, diluída no esplendor do meu brilho. A Luz 2008-03-22
Não devemos nunca desistir de um sonho, por mais estranho e impossível que pareça. Mas também não o podemos precipitar. O destino nos dará, um dia, a força e o momento oportuno para o poder abraçar e levantar bem alto, como um troféu arduamente conquistado. 2009-06-07 Sonhos
Tens as mãos frias, disse ela, fugindo para um canto da cama. Afundado nos abismos da flanela, sou incapaz de manter acesa a chama. 2009-02-22 Mãos Frias
“ É sempre em frente!”  – Diz-me uma voz interior, vinda do fundo de mim mesmo. Um universo paralelo, muitas vezes inacessível, mas que, de quando em vez, se revela e me vai dando umas dicas, sussurrando-me ao ouvido aquilo que devo fazer. Continuo caminho, rasgando o corpo rude da distância. Olhos perdidos no horizonte. Sempre em frente. Até chegar ao próximo cruzamento. Até chegar ao próximo cruzamento 2009-07-05
Flores frescas na laje fria decoram a solidão dos sepultados, o luto saiu em romaria celebrando o dia de finados. Faces de dor tatuadas, pequenos corações em pranto, no mármore das campas seladas o epitáfio triste do desencanto. Mãos fechadas contra o rosto, altar de sonhos vencidos, orações e silêncio deposto em honra dos entes perdidos. Na névoa da manhã que esfacela ressoa o cortejo do sofrimento e o ranger aflitivo da cancela batida pelos punhos do vento. Dia dos Mortos 2009-05-31
Embrulhado em secretas conspirações abandono o gelo solitário das catacumbas e mergulho nos véus diáfanos do luar para saciar minha sede de prazer Abrindo disformes asas sobrevoo as colinas mórbidas do limbo farejando o brilho mortiço do teu rosto em busca de sangue quente Negros violinos decoram o frio nocturno com uivos e queixumes alucinados vibrantes acordes que emanam do febril impulso de te sugar o corpo Preciso que alimentes este desejo moribundo, maldição que me queima as entranhas, antes que se esgote o alento e o esplendor do sol me aniquile Desejos de Vampiro 2009-05-01
Olhos fixos no vazio, encurralados a um canto da sala. Não falam nem escutam, imóveis, a rodopiar na vertigem dos sentidos. Olhos moribundos resvalando na escuridão, estupidificados, na crista da onda gigante. Estupidificados 2008-09-14
As recordações são pequenas viagens no tempo, vãs tentativas de resgatar o passado e trazer de volta aquilo que há muito se esfumou Todos sabemos disso, mas continuamos a fingir, a esgravatar na penumbra e a desenterrar imagens perdidas Qualquer coisa é melhor do que mergulhar no silêncio Recordações 2009-07-16
Acendo outro cigarro, para queimar mais uns minutinhos de tempo inútil, e fico a observar o alcatrão a transformar-se em cinza, que vou sacudindo no cinzeiro, e o fumo a esgueirar-se por entre os meus dedos e a sair em catadupas de névoa serpenteante, da minha boca entreaberta. Absorto neste gesto mecânico e perfeitamente patético, imagino a quantidade de tempo que já queimei ao longo de todos estes anos e dou comigo a pensar como é que há pessoas que, estando à beira da morte, ainda continuam a debater-se e a tentar, desesperadamente, agarrar-se a esta miséria sem encanto a quem chamam vida. Queimando o Tempo 2009-07-05
Passo dias a fio Incapaz de escrever coisa alguma, Árido como o vento do deserto, Completamente desinspirado Dou voltas e voltas no papel Rabisco coisas sem sentido Mas nada me soa bem, Nada de jeito me vem à ideia Um dia, sem perceber como, Acordo com os sentidos despertos E, praticamente do nada, Componho três ou quatro poemas Quem é capaz de entender Os estranhos mecanismos da mente? 2009-07-16 Os Estranhos Mecanismos da Mente
Tenho o peito a transbordar de cinza e fragmentos dispersos de velhos amores que nunca floriram. E  lá no fundo, encarquilhado e sombrio, um coração sem asas acorrentado à loucura dos próprios sonhos. 2009-04-06 Coração sem Asas
A ilusão é um sentimento vago e estéril, não tem corpo nem substância e é incapaz de substituir a satisfação de um sonho realizado. No entanto, enquanto dura, alimenta o espírito faminto, dá asas ao ego cativo, e mantém afastado o espectro do pesadelo. Ilusão 2009-07-16
O cântico ruidoso das vagas soluçando sua dor profunda esbarra no gelo do areal, e chama por ti... Estranhas formas sombrias quebrando a muralha do poente dançam no dorso do vento, e chamam por ti... Nuvens de cinza gris riscando a ardósia negra dos céus desenham um dolente adeus, e chamam por ti... Espessas lágrimas de orvalho derramadas na face pálida da madrugada extinguem as derradeiras labaredas da fogueira, e chamam por ti... Estendendo os braços exaustos segues o caminho da luz que desponta iluminando o quarto obscurecido e, quebrando o murmúrio das sombras, uma vez mais... chama por ti Cântico Final 2008-08-07
Sentei-me numa varanda do labirinto, a ver a noite desfiar um rosário de sombras vagas e a arrastar no assoalho dos céus o vestido rasgado pelas mãos sujas da ventania. É meia noite e chove. Espreitando entre véus de algodão pardo a Lua devora um naco de escuridão. Um cutelo de água fria, esventra o corpo adormecido da calçada, repetidamente o esfaqueia, até se cansar, e, num ápice, se transforma num lençol transparente. Um caranguejo de lama, vagueia pelas esquinas, batendo a todas as portas. Num enregelado delírio, palmilha os rochedos de alcatrão, espirra nas margens de uma sarjeta, e vai desovar no seio das vielas. Ao longe, um rumor de vozes fervilha, como inquieto lamento de mil tambores, e eu, aqui, numa varanda do labirinto, hesitante, entre esperar o amanhecer ou me render aos fantasmas do sono. Numa Varanda do labirinto 2008-09-18
A chuva geme de encontro à vidraça com os nós dos dedos encharcados, fugindo ao vento que a abraça, despenha-se do cimo dos telhados. Acendo um cigarro e deixo-me ficar, a vê-la mover-se com destreza, a observar seu estranho suicidar contaminado pela sombra da tristeza. A luz da manhã na janela embaciada subitamente, esgota o feitiço da sua melodia. Lesta, escapa-se nos seios da calçada com a promessa de voltar outro dia. Abro a janela desse teu olhar que chega nos braços da maré, e deixo o sol me embalar, enquanto preparas o primeiro café. Alheia ao amanhecer deprimente, abandonas teu castelo de cobertores, e, vestindo um sorriso inocente, acendes um arco íris de mil cores. 2008-09-07 Chuva de Setembro
Se fossemos todos cegos, e nada pudéssemos ver para lá da cortina de trevas, não teríamos de nos preocupar com imagens nem de usar máscaras de gelo para iludir os reflexos doentios que constantemente nos devolvem os espelhos deformados da visão. Se fossemos todos mudos, e das nossas bocas rasgadas palavra alguma pudesse escapar, não teríamos de nos preocupar com discursos nem de viver amordaçados aos sons estranhos da mentira e aos sentimentos profundos que nos habitam e não ousamos proferir. Se todos fossemos cegos e mudos, incapazes de ver ou articular sons, bastar-nos-ia ser nós próprios para ver o mundo com os olhos da alma e falar com a voz cristalina do coração. Se todos fossemos Cegos e Mudos 2009-05-03
Acordei, a meio da noite, sacudido por um forte abalo interior, como se tudo dentro de mim se estivesse a desmoronar. Uma implosão não programada que me arrastava da cama, por entre um mar de sensações e destroços. Todo o meu corpo se revoltava e se transformava em intensas ondas de choque que me sacudiam da cabeça aos pés, e ruidosamente se manifestavam na voz trovejante dos intestinos em fúria, a transbordar de gases putrefactos que envenenavam a atmosfera circundante. Agarrado à barriga, num pânico crescente, tentava a todo o custo conter a rebelião interior, serpenteando através do corredor, pés descalços no mosaico frio, em busca de uma porta aberta na escuridão. Tropecei num objecto escondido na sombra e cai. Levantei-me e continuei a correr. Sempre agarrado à barriga. Completamente desvairado. O corpo todo a estalar, num desconcertante fogo de artificio interior. Um ininterrupto rebentar de foguetes. Até que, miraculosamente, encontrei uma porta aberta. Ofegante, sentei o cu flagelado na pedra redonda da sanita e, qual exorcista em transe, comecei a expulsar os demónios que me possuíam as entranhas.  Exorcismo 2009-07-05
Cansado de arrastar as asas, o coração faminto contemplou, com profunda tristeza, as chagas de um amor ausente. Pressentindo o triunfo da dor no hálito mórbido do Inverno, afastou-se das margens errantes, deixou cair os braços e, abrindo mão de seus secretos sonhos, descalço se entregou no regaço das aguas frias. Coração sem Dono 2009-03-01
Quando o tempo passa por nós num lento desfilar arrastando-se penosamente no asfalto como um caracol de chumbo e nada acontece,  que podemos fazer senão esperar sentados à sombra do vazio por um amanhã diferente? Quando os dias passam sem deixar rasto, uns atrás dos outros, embrulhados em silêncio e nada muda, que mais nos resta senão esperar...? À espera do tempo 2009-06-20
Já me cansei de lamentar aquilo que ficou para trás, as oportunidades que desperdicei, os raros momentos de felicidade, as pequenas coisas perdidas e tudo o que se despenhou nas ravinas do passado. Só me interessa agora aquilo que está à minha frente. Sigo a voz interior que me guia e o destino traçado nas pedras do caminho, sem abrir os olhos nem olhar para trás. Sem Olhar Para Trás 2009-04-16
Ao redor do vazio dançam sombras descalças enquanto a chuva cai e o vento, resmungando, mastiga as entranhas do horizonte De quando em vez um zumbido de carros apressados empapados em agua fria risca o alcatrão negro e se dilui num eco distante Num estranho circulo místico, destilando o frio solitário, os putos continuam a enrolar ganzas e a respirar pelos poros entreabertos da noite, acorrentados ao alpendre do prédio, enquanto esperam pela concretização dos seus sonhos Circulo Mistico 2009-06-10
Eu não te curto, disse-me ela, um dia, com um sorriso sincero no rosto tentando não me ferir o orgulho, enquanto um alicate de cortar aço lhe saía pelas pupilas dilatadas e em mil pedaços desfazia o sonho que meu coração embalava Não te curto! 2009-07-10
Sexta feira à noite os bonecos de cera ganham vida. Mergulhando nos trilhos do poente, escapam do gelo do pedestal. Por alguns momentos, hipnotizados, esquecem que não têm vida própria e se fundem nas areias do horizonte, envoltos numa nuvem de fumo. Envoltos numa nuvem de fumo. 2008-09-20
Da cinza conturbada das nuvens desceu um pássaro negro, pousando numa das estacas da cerca, a olhar para mim. Sem uma palavra, sem um pio, sustendo a respiração, mudo e quieto, apenas a observar-me. Olhei-o fixamente nos olhos; duas bolas brancas, vidradas, carregadas de angustia; à espera de um sinal, de uma mensagem, qualquer coisa capaz de me surpreender. Durante algum tempo assim permanecemos, imóveis, contemplando-nos um ao outro, como duas estatuas suspensas, à espera que um movimento quebrasse a muralha de gelo. Subitamente, rompendo o silêncio, ele agitou as asas, estalando as cartilagens sombrias, e grasnando levantou voo, desaparecendo de novo na cinza conturbada dos céus, com ele levando para outras paragens a sombra disforme da morte. Mau Agouro 2009-06-10
2009-07-05 Toda a gente procura afirmar as suas convicções, como se fossem detentores exclusivos da verdade e sentissem a necessidade premente de serem reconhecidos como tal, ou, quem sabe, procuram apenas convencerem-se a si próprios. Raramente as suas convicções se assemelham às minhas, mas permaneço calado, evitando revelá-las, como se fossem um tesouro secreto de incalculável valor, e tenha receio em as revelar. O estúpido receio que eles as tomem para eles e façam delas suas, ou que simplesmente as achem bizarras e mas apontem como um ponto fraco. E continuo calado. Enrosco-me no seio vago do silêncio, aninhado num estranho mutismo, escutando apenas o que eles dizem, transbordantes de emotividade e aspirações. Fingindo partilhar dos mesmos sentimentos. Ao menos, reconheço-lhes a coragem de vomitar em publico, tudo aquilo que pensam e sentem. Mais aliviados se devem sentir. Convicções
Até quando irei eu esperar, pergunta-me o coração destroçado? Até quando poderá ele suportar o fardo deste abraço gelado? Estou cansado de ser a preto e branco e de te ver fugir ao entardecer. Estou cansado deste futuro manco e de todos os dias te perder. Perdi-me num labirinto pantanoso acorrentado ao feitiço do teu olhar. No peito, um estranho sabor amargoso teima em não me abandonar. Não haverá nesse teu baú encantado um pincel magico perdido capaz de transformar este homem angustiado num sorridente amigo colorido? Amigo Colorido 2009-04-02
Todos os dias vejo o sol nascer e se suicidar no mesmo patíbulo sujo de sangue e entranhas dilaceradas, numa asfixiante perspectiva despida de qualquer encanto. Prisioneiro dos despojos das manhãs e duma estranha geometria do vazio vivo acorrentado ao pedestal gradeado, como uma estatua de asas de chumbo, sem respirar. Vivo numa fornalha de incandescentes sensações onde os sonhos se fundem, atrofiados, nas chagas rasgadas do entardecer, sem saber ainda, se será teu corpo passaporte para novas dimensões, ou apenas o secreto desejo de escapar, por momentos, desta teia que o destino me bordou. Passaporte Para Novas Dimensões 2009-04-25
Negros corvos debicam a esmo, vasculhando no cascalho frio alguma réstia de felicidade à deriva nos despojos da manhã. Uma cortina de poeira espessa cobre-lhes o luto carregado dos corpos e um vendaval de gemidos amordaçados sacode as margens desoladas. Negros corvos martelam o vazio, esvoaçando freneticamente, sem asas, numa estranha dança mutilada em busca do seu destino perdido. Nós, os Corvos 2009-03-01
Incapaz de dormir, levanto-me da cama. São seis da manhã. Dói-me um dente. Bebo um copo de água e vou até à janela fumar um cigarro, a ver se me passa a dor. Nos prédios em frente já há gente de pé debruçada sobre os estendais a apanhar roupa. Um coxo atravessa a estrada matraqueando o asfalto com o seu passo manco. Dois pombos levantam voo de cima de um telhado e descrevem um circulo no céu. São seis da manhã. Acabo o cigarro, tranco a janela e volto para a cama. Continua a doer-me o dente. Dor de Dentes 2009-06-11
Pedra, solidão, apatia Corações rejeitados, alma exangue Gelo, lágrimas e agonia Faces medonhas vertendo sangue Estátuas de Sangue 2009-04-11
Depuração Muitas vezes já morri nesta vida, muitos corpos já enterrei, dentro de mim, para renascer novamente, do próprio sangue, das cinzas e dos véus das mortalhas, num outro eu, a cada morte revigorado. 2009-04-04
2008-03-22 Ao terceiro dia O esplendor se libertou Do cárcere da carne fria E seu reino reclamou
Sonhei que era um velho e feio cão preto A arrastar-se na penumbra da noite Com um buraco aberto no peito rasgado E o coração vertendo lágrimas e sangue Vagueava, perdido dentro do meu sonho, Em círculos, à roda de um imenso vazio, Acorrentado ao odor enfeitiçado do teu rasto, Única luz na escuridão parda deste labirinto Seguindo um instinto sedento e cego Tropecei nos abismos desérticos da solidão, Corri atrás de uma mirÍade de falsas pistas E mergulhei nas areias de todas as miragens Até que, uma rajada fortuita do vento Me soprou o perfume da tua respiração E, de novo, os esconsos desígnios do destino Te atravessaram no meu caminho E aqui estou eu agora, perdido, Tentando manter-me desperto dentro do sonho, Sussurrando-te meu nome esquecido, À espera que acordes e me reconheças... 2009-09-06 Velho Cão Preto
Montados nas suas bicicletas coloridas, os putos cruzam a estrada enlameada, com os cabelos a dançar ao vento e o coração a galgar as margens. A toda a velocidade desaparecem nas entranhas do horizonte, sem metas nem objectivos traçados, apenas pelo prazer de pedalar a vida. Pedalando a vida 2009-03-01
Ecoando com estridência Escuto o ranger do coração Nos recantos da tua ausência De mãos dadas com a solidão No feitiço dos teus olhos Resvalo ainda, perdido Por detrás de cadeias e ferrolhos Buscando um amor proibido Amor Proibido 2009-04-11
Por vezes, sinto-me como se fosse uma parte insignificante de um todo sem sentido, completamente desprovido de lógica e essência. Um maquiavélico plano, elaborado por mentes perversas, com o único objectivo de nos condicionar e subjugar a sinistros fins. Sinto-me, como se fosse apenas uma estaca anónima, plantada ao longo da cerca, com os pés enterrados no chão húmido e os braços atrofiados. Alinhado com as outras estacas da cerca. Completamente castrado. 2009-07-06 Uma estaca da cerca
2009-06-20 Torrões de terra Revolvida Lençóis escuros De silêncio e apatia É aqui Que o sonho finda Arrefecido Metro e meio de fundura Embrulhado num manto de gelo E esquecimento Legado
Q ueria gravar minha imagem no coração dos teus sonhos, e deitar meu dorso retalhado nos esconderijos quentes do teu corpo. Q ueria adormecer, à noite, na quietude das tuas águas e sepultar meus medos antigos nas areias finas dos teus cabelos, mas sou uma barca errante sem lugar para ancorar; vivendo ao sabor das marés e das correntes que me arrastam. E  tu, brilhando ao longe, és apenas mais uma estátua plantada no meu caminho. 2009-03-02 Uma Estátua no meu caminho
balouço 2009-03-07 A cadeira de balouço não mais balança, mudamente cristalizada no gelo da tua ausência. A um canto da sala, soluça todas as noites, e vai morrendo, também, afogada em sonhos de poeira. Cadeira de
A felicidade é feita de pequenos momentos. Pequenos flashes de luz que brilham por instantes e, depois, desaparecem no bojo labiríntico das noites, deixando apenas sua sombra vaga a decorar as paredes frias da nossa memória. Pequenos Momentos 2009-04-02
Asas negras reluzentes , garras cravadas no peito, lambendo o sangue das feridas regresso aos trilhos da realidade. Por momentos fizeste-me sonhar, esquecer tudo quanto aprendi. Atordoado pelo cristal do teu sorriso desfraldei as asas de uma ilusão, e uma vez mais me deixei levar pela voz angustiada do coração. Deixei cair a máscara e o escudo de gelo que me cobria, baixei os braços, indefeso, e ele, de novo, atacou... Estropiado, arrasto agora o corpo para o abrigo, digerindo o amargo da derrota, preso à dor que me esmaga, enquanto o destino, saciado se eleva no horizonte distante, grasnando alegremente com o meu escalpe preso nas garras. 2009-05-01 Nas Garras do Destino
Quando o tempo se cumprir e se esgotar a luz que me anima, vou pegar nas minhas coisas e partir seguindo o apelo que vem de cima. Embalado por uma nova canção, rumarei por entre o nevoeiro, levando minha frágil embarcação para bem longe deste cativeiro. 2009-05-24 Para Longe do Cativeiro
Carregando o fardo dos sonhos e de uma estranha ilusão que me consumia tentei iludir o destino, fugindo da linha traçada no pó negro do alcatrão. Arrisquei viver uma realidade não planeada longe das garras pegajosas e frias de leis rígidas e pré-determinadas, mergulhando nas sombras de um novo caminho. Quando o pó e as sombras se dissiparam na luz difusa de um novo dia, retrocedi meu olhar na linha do horizonte para contemplar o caminho desbravado, e não escutei o bater de tuas asas nem vi o rasto perfumado da tua sombra; vi, apenas, o vazio profundo da tua ausência e meus passos perdidos no labirinto. 2009-04-12 Tentando iludir o Destino
Vivia um fantasma dentro de mim. Um espantalho de asas murchas e braços esticados no vazio a afugentar a sombra dos sonhos. Alimentava-se de desejos moribundos e das ossadas de velhas paixões. Num dia de raiva, com um espigão de cinzas abriu-me um buraco no peito. Lentamente, desfez-me o coração, e partiu. O Espantalho 2009-03-15
Acendo mais um cigarro para iludir os ponteiros do destino, rufar de asas queimadas a derreter no parapeito do labirinto. Cinzeiros de alcatrão sujo aparam sonhos vagos, luzes murchas sobre o abismo digerindo o oxigénio da ilusão. Pó, cinza e escarros, estranhos beijos de nicotina, alucinados fantasmas em combustão agonizam nos véus da neblina. Solitárias lágrimas de carvão numa espiral de envenenados braços, tesouras de aço enferrujadas cuspindo sangue e fumaça. Acendo mais um cigarro ...enquanto não se apaga a chama. +1 cigarro 2009-04-19
A ave solitária, arrastando a asa ferida, atravessou a neblina matinal e se deteve, diante das ruínas de um sonho. Entre o pó e as cinzas, arduamente vasculhou, tentando recuperar ainda algum fragmento de seu coração destroçado. Asas Destroçadas 2009-04-21
Quando se esgotarem as áridas paginas deste livro e finalmente me liberte desta trama sem sentido, de novo estenderei minhas asas enrugadas e retomarei meu secreto voo através das brancas planícies, resgatando minha alma, recuperando o fôlego. Durante algum tempo voarei apenas, ao acaso, sem rumo traçado, livre do vago desfolhar de páginas e do sortilégio rígido do guião que me acorrentam aos rochedos e me impedem de mostrar quem sou. Deixar-me-ei levar pelos ventos e pelas marés serenas do esquecimento, atravessando o esplendor das neblinas e o arrastar vagaroso dos séculos, até que, de novo, me sinta purificado e cresça em mim o incontrolável desejo de voltar, numa diferente historia, encarnando um novo personagem. 2009-07-16 Novo Personagem
Passaste por mim ao entardecer, quando o vento te fez mudar de direcção e nas tua velas de linho branco desfraldado um novo alento soprou. Trazias o brilho das manhãs nas águas serenas do teu olhar, estendendo uma ponte sobre o vazio onde, ao sabor das ondas, eu naufragava. Aproveitando esta pausa da tempestade, durante algum tempo, segui teu rasto ondulante e tua luz que me guiava na névoa, em silêncio, deslizando na corrente amena, empurrando minha velha embarcação atrás de um sonho em crescendo. Quando a tempestade de novo se levantar e nossos caminhos se estreitarem, o mesmo vento que nos juntou, acabará por nos afastar e empurrar para direcções opostas, e tu seguirás viagem, continuando tua secreta demanda em busca de um porto longínquo. E eu, de novo à deriva, arrastarei minhas velas esfarrapadas através das vastidões sombrias do oceano, rumando a lugar algum, à espera que o mar me engula novamente e me dissolva nas águas profundas do esquecimento. E apenas sobrará a recordação dos breves momentos em que viajámos lado a lado, e os destroços dispersos do meu coração nas ondas tristes e frias que, um dia, rebentarão numa qualquer praia perdida na imensidão deste mar e num recanto gelado do areal para sempre repousarão.  Caprichos do Vento 2009-06-07
Quantas vezes pode um sonho ser rasgado e continuar, no escuro, a respirar e a alimentar-se de esperanças vãs? Quantas vezes pode um coração remendado com linha e pano cru ser capaz de sacudir a cinza e continuar a agitar as asas? Quantas Vezes? 2009-05-01
Lentamente fui perdendo o pé num éter de estranhas sensações, perdi o brilho e a cor, dispersei-me nas asas do vento. Afogado no gelo do vazio, para lá da linha do horizonte, entreguei meu corpo retalhado às aves famintas do pântano, segui o eco da tua ausência e, finalmente, tornei-me invisível. Invisivel 2009-03-08
O amor é cheio de armadilhas. Quando se quer manifestar, mostra apenas a sua luz e não nos permite ver as sombras que esta luz provoca. Paulo Coelho
 

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Numa Varanda Do Labirinto

  • 1. Numa Varanda do Labirinto
  • 3. A única maneira de nos livrarmos da tentação é ceder-lhe. Oscar Wilde - "O Retrato de Dorian Gray"
  • 4. Não queria acordar, um dia, num saguão escuro, e descobrir minha sombra esvaída a resvalar na encruzilhada do poente, ou então, moribunda, numa poça suja da valeta, acorrentada a um corpo decrépito. Não queria acordar, algures, num agonizante dia de Outono, sem antes me libertar da imensidão sufocante deste ciclo vicioso. 2008-09-14 Ciclo Vicioso
  • 5. Rotina 2008-08-16 A morder a poeira Rojando o ventre no chão A vida inteira Escravos de uma ilusão Às voltas com os dias Num perpétuo labor Pegadas vazias Nos círculos sem cor Sem guia nem alento Perdidos na escuridão Chapinhando no cimento Seguindo a procissão
  • 6. Um desejo de olhos encovados envolto numa espiral de fumo baço espreita-me numa janela de sombras assobiando sua angustia dentro da noite. Um velho sonho de felicidade uivando e ganindo em silêncio, jaz, esventrado numa poça de ferrugem, com o corpo embrulhado em gelo. No fundo do corredor pantanoso um espelho de lama negra reflecte a agonia dos fantasmas moribundos que, descalços, mergulham na penumbra. Sentado sobre o abismo dos meus pensamentos, a cavar trincheiras no vazio, continuo à procura de uma razão para levar adiante esta farsa. À Procura de uma Razão 2009-04-06
  • 7. 2008-04-09 Mas nada poderá quebrar a chama Podem tapar-me a boca com lama E toldar o espírito com excremento Que arde, quando liberto o pensamento
  • 8. Carregando o peso desta máscara que me tolda os movimentos, arrasto as asas na escuridão, deixando no asfalto ensanguentado o rasto fragmentado da minha dor. A casa onde se esconde teu coração é toda de mármore sem janelas e à porta, dois lobos em chamas, devoram-me com o olhar, sem me deixarem chegar-me a ti. Grito teu nome, em desespero, ao ver-me a afundar no cascalho, mas é o silêncio quem me devolve seu vago cântico decapitado nas ondas tristes do vento. Se, ao menos, pudesse arrancar esta máscara e mostrar-te quem sou, talvez meus lábios gretados fossem capazes de quebrar o gelo e num murmúrio arrebatado, te pudessem dizer o quanto te quero. 2009-02-08 Homem Máscara
  • 9. Na desolada paisagem Através dos lençóis de lama A caravana segue viagem Recolhendo os corpos sem chama Cruzando as ruas desertas Rompe o cerco do nevoeiro E das campas recém abertas As almas arrasta em cativeiro Negros véus se agitam Do outro lado da margem As sombras que ali habitam Acenam à sua passagem Lentamente o lúgubre cortejo Afasta-se para lá das muralhas Ouve-se ainda o rumorejo Dos destinados ao pó e às fornalhas Uma ultima luz se esvai Ao longe, amordaçada Ninguém sabe para onde vai A caravana que cruza a estrada A Caravana 2008-08-31
  • 10. Ele sabia que não podia mudar o mundo com as suas ideias. Por mais que pensasse e nelas se concentrasse, depurando-as e engrandecendo-as, até à exaustão, jamais poderia mudar o mundo. No entanto, continuava, como se não o soubesse, a abrir sulcos na terra e a semeá-las. Quem sabe, um dia, alguém viesse para as colher. Semeando Ideais 2008-03-22
  • 11. Tentação Miragem ardente Estranha sensação De queda iminente Ferida aberta Desejo sangrento Porta secreta Batida pelo vento Lábios gretados Aroma turbulento Dentes aguçados Rasgando alento Sonho obsceno Vertigem febril Doce veneno Num corpo de réptil No peito sepultas Um desejo profundo Quanto mais te ocultas Mais eu me afundo Tentação 2009-03-15
  • 12. A vida é um imenso novelo de múltiplas pontas. Uma amálgama de destinos que se cruzam e confundem numa estranha sinfonia de sentimentos e contradições. Ponta por ponta, encruzilhada após encruzilhada, vou desfiando o sombrio emaranhado de caminhos, sem conseguir encontrar aquilo que procuro, sem saber sequer o que quero e o que me faz mover. Incapaz de escapar ao sortilégio deste labirinto, limito-me, apenas, a caminhar a eito tentando, à toa, decifrar as pontas soltas. 2009-05-17 Pontas Soltas
  • 13. Cada um de nós Estrelas 2008/02/15 Cadentes É uma pequena estrela cadente Que riscou os céus E se despenhou no firmamento Um anjo privado de asas Que tombou na escuridão E como um raio de luz Aqui vem testar o seu esplendor
  • 14. Vivo aqui escondido Num buraco escavado na lama A espreitar pelas grades do postigo A ilusão que ao longe me chama Vivo aqui esquecido Nesta tumba de solidão À espera que o sonho arrefecido Me liberte da tua recordação 2008-04-05 Coração Cativo
  • 15. Quem és tu? – Perguntou a sombra emboscada na noite. Quem és tu? – Voltou ela a perguntar, impacientando-se com o meu silêncio. Que haveria eu de responder? Ela não queria saber o meu nome, queria simplesmente saber quem eu era. Como se explica isso, a alguém que vive na escuridão? Sou a luz! – Respondi, finalmente, sem saber ao certo o que estava a dizer. A Luz!? – Retorquiu ela. – O que é isso? A luz é o poder supremo. A luz é a força que ilumina a escuridão e aniquila as sombras! – Disse, olhando-a nos olhos, subitamente possuído por uma estranha força interior, que eu próprio desconhecia. Levando a mão direita ao peito, dei um passo em frente e vi-a, apavorada, dobrar o flanco e rodopiar sobre si mesma, diluída no esplendor do meu brilho. A Luz 2008-03-22
  • 16. Não devemos nunca desistir de um sonho, por mais estranho e impossível que pareça. Mas também não o podemos precipitar. O destino nos dará, um dia, a força e o momento oportuno para o poder abraçar e levantar bem alto, como um troféu arduamente conquistado. 2009-06-07 Sonhos
  • 17. Tens as mãos frias, disse ela, fugindo para um canto da cama. Afundado nos abismos da flanela, sou incapaz de manter acesa a chama. 2009-02-22 Mãos Frias
  • 18. “ É sempre em frente!” – Diz-me uma voz interior, vinda do fundo de mim mesmo. Um universo paralelo, muitas vezes inacessível, mas que, de quando em vez, se revela e me vai dando umas dicas, sussurrando-me ao ouvido aquilo que devo fazer. Continuo caminho, rasgando o corpo rude da distância. Olhos perdidos no horizonte. Sempre em frente. Até chegar ao próximo cruzamento. Até chegar ao próximo cruzamento 2009-07-05
  • 19. Flores frescas na laje fria decoram a solidão dos sepultados, o luto saiu em romaria celebrando o dia de finados. Faces de dor tatuadas, pequenos corações em pranto, no mármore das campas seladas o epitáfio triste do desencanto. Mãos fechadas contra o rosto, altar de sonhos vencidos, orações e silêncio deposto em honra dos entes perdidos. Na névoa da manhã que esfacela ressoa o cortejo do sofrimento e o ranger aflitivo da cancela batida pelos punhos do vento. Dia dos Mortos 2009-05-31
  • 20. Embrulhado em secretas conspirações abandono o gelo solitário das catacumbas e mergulho nos véus diáfanos do luar para saciar minha sede de prazer Abrindo disformes asas sobrevoo as colinas mórbidas do limbo farejando o brilho mortiço do teu rosto em busca de sangue quente Negros violinos decoram o frio nocturno com uivos e queixumes alucinados vibrantes acordes que emanam do febril impulso de te sugar o corpo Preciso que alimentes este desejo moribundo, maldição que me queima as entranhas, antes que se esgote o alento e o esplendor do sol me aniquile Desejos de Vampiro 2009-05-01
  • 21. Olhos fixos no vazio, encurralados a um canto da sala. Não falam nem escutam, imóveis, a rodopiar na vertigem dos sentidos. Olhos moribundos resvalando na escuridão, estupidificados, na crista da onda gigante. Estupidificados 2008-09-14
  • 22. As recordações são pequenas viagens no tempo, vãs tentativas de resgatar o passado e trazer de volta aquilo que há muito se esfumou Todos sabemos disso, mas continuamos a fingir, a esgravatar na penumbra e a desenterrar imagens perdidas Qualquer coisa é melhor do que mergulhar no silêncio Recordações 2009-07-16
  • 23. Acendo outro cigarro, para queimar mais uns minutinhos de tempo inútil, e fico a observar o alcatrão a transformar-se em cinza, que vou sacudindo no cinzeiro, e o fumo a esgueirar-se por entre os meus dedos e a sair em catadupas de névoa serpenteante, da minha boca entreaberta. Absorto neste gesto mecânico e perfeitamente patético, imagino a quantidade de tempo que já queimei ao longo de todos estes anos e dou comigo a pensar como é que há pessoas que, estando à beira da morte, ainda continuam a debater-se e a tentar, desesperadamente, agarrar-se a esta miséria sem encanto a quem chamam vida. Queimando o Tempo 2009-07-05
  • 24. Passo dias a fio Incapaz de escrever coisa alguma, Árido como o vento do deserto, Completamente desinspirado Dou voltas e voltas no papel Rabisco coisas sem sentido Mas nada me soa bem, Nada de jeito me vem à ideia Um dia, sem perceber como, Acordo com os sentidos despertos E, praticamente do nada, Componho três ou quatro poemas Quem é capaz de entender Os estranhos mecanismos da mente? 2009-07-16 Os Estranhos Mecanismos da Mente
  • 25. Tenho o peito a transbordar de cinza e fragmentos dispersos de velhos amores que nunca floriram. E lá no fundo, encarquilhado e sombrio, um coração sem asas acorrentado à loucura dos próprios sonhos. 2009-04-06 Coração sem Asas
  • 26. A ilusão é um sentimento vago e estéril, não tem corpo nem substância e é incapaz de substituir a satisfação de um sonho realizado. No entanto, enquanto dura, alimenta o espírito faminto, dá asas ao ego cativo, e mantém afastado o espectro do pesadelo. Ilusão 2009-07-16
  • 27. O cântico ruidoso das vagas soluçando sua dor profunda esbarra no gelo do areal, e chama por ti... Estranhas formas sombrias quebrando a muralha do poente dançam no dorso do vento, e chamam por ti... Nuvens de cinza gris riscando a ardósia negra dos céus desenham um dolente adeus, e chamam por ti... Espessas lágrimas de orvalho derramadas na face pálida da madrugada extinguem as derradeiras labaredas da fogueira, e chamam por ti... Estendendo os braços exaustos segues o caminho da luz que desponta iluminando o quarto obscurecido e, quebrando o murmúrio das sombras, uma vez mais... chama por ti Cântico Final 2008-08-07
  • 28. Sentei-me numa varanda do labirinto, a ver a noite desfiar um rosário de sombras vagas e a arrastar no assoalho dos céus o vestido rasgado pelas mãos sujas da ventania. É meia noite e chove. Espreitando entre véus de algodão pardo a Lua devora um naco de escuridão. Um cutelo de água fria, esventra o corpo adormecido da calçada, repetidamente o esfaqueia, até se cansar, e, num ápice, se transforma num lençol transparente. Um caranguejo de lama, vagueia pelas esquinas, batendo a todas as portas. Num enregelado delírio, palmilha os rochedos de alcatrão, espirra nas margens de uma sarjeta, e vai desovar no seio das vielas. Ao longe, um rumor de vozes fervilha, como inquieto lamento de mil tambores, e eu, aqui, numa varanda do labirinto, hesitante, entre esperar o amanhecer ou me render aos fantasmas do sono. Numa Varanda do labirinto 2008-09-18
  • 29. A chuva geme de encontro à vidraça com os nós dos dedos encharcados, fugindo ao vento que a abraça, despenha-se do cimo dos telhados. Acendo um cigarro e deixo-me ficar, a vê-la mover-se com destreza, a observar seu estranho suicidar contaminado pela sombra da tristeza. A luz da manhã na janela embaciada subitamente, esgota o feitiço da sua melodia. Lesta, escapa-se nos seios da calçada com a promessa de voltar outro dia. Abro a janela desse teu olhar que chega nos braços da maré, e deixo o sol me embalar, enquanto preparas o primeiro café. Alheia ao amanhecer deprimente, abandonas teu castelo de cobertores, e, vestindo um sorriso inocente, acendes um arco íris de mil cores. 2008-09-07 Chuva de Setembro
  • 30. Se fossemos todos cegos, e nada pudéssemos ver para lá da cortina de trevas, não teríamos de nos preocupar com imagens nem de usar máscaras de gelo para iludir os reflexos doentios que constantemente nos devolvem os espelhos deformados da visão. Se fossemos todos mudos, e das nossas bocas rasgadas palavra alguma pudesse escapar, não teríamos de nos preocupar com discursos nem de viver amordaçados aos sons estranhos da mentira e aos sentimentos profundos que nos habitam e não ousamos proferir. Se todos fossemos cegos e mudos, incapazes de ver ou articular sons, bastar-nos-ia ser nós próprios para ver o mundo com os olhos da alma e falar com a voz cristalina do coração. Se todos fossemos Cegos e Mudos 2009-05-03
  • 31. Acordei, a meio da noite, sacudido por um forte abalo interior, como se tudo dentro de mim se estivesse a desmoronar. Uma implosão não programada que me arrastava da cama, por entre um mar de sensações e destroços. Todo o meu corpo se revoltava e se transformava em intensas ondas de choque que me sacudiam da cabeça aos pés, e ruidosamente se manifestavam na voz trovejante dos intestinos em fúria, a transbordar de gases putrefactos que envenenavam a atmosfera circundante. Agarrado à barriga, num pânico crescente, tentava a todo o custo conter a rebelião interior, serpenteando através do corredor, pés descalços no mosaico frio, em busca de uma porta aberta na escuridão. Tropecei num objecto escondido na sombra e cai. Levantei-me e continuei a correr. Sempre agarrado à barriga. Completamente desvairado. O corpo todo a estalar, num desconcertante fogo de artificio interior. Um ininterrupto rebentar de foguetes. Até que, miraculosamente, encontrei uma porta aberta. Ofegante, sentei o cu flagelado na pedra redonda da sanita e, qual exorcista em transe, comecei a expulsar os demónios que me possuíam as entranhas. Exorcismo 2009-07-05
  • 32. Cansado de arrastar as asas, o coração faminto contemplou, com profunda tristeza, as chagas de um amor ausente. Pressentindo o triunfo da dor no hálito mórbido do Inverno, afastou-se das margens errantes, deixou cair os braços e, abrindo mão de seus secretos sonhos, descalço se entregou no regaço das aguas frias. Coração sem Dono 2009-03-01
  • 33. Quando o tempo passa por nós num lento desfilar arrastando-se penosamente no asfalto como um caracol de chumbo e nada acontece, que podemos fazer senão esperar sentados à sombra do vazio por um amanhã diferente? Quando os dias passam sem deixar rasto, uns atrás dos outros, embrulhados em silêncio e nada muda, que mais nos resta senão esperar...? À espera do tempo 2009-06-20
  • 34. Já me cansei de lamentar aquilo que ficou para trás, as oportunidades que desperdicei, os raros momentos de felicidade, as pequenas coisas perdidas e tudo o que se despenhou nas ravinas do passado. Só me interessa agora aquilo que está à minha frente. Sigo a voz interior que me guia e o destino traçado nas pedras do caminho, sem abrir os olhos nem olhar para trás. Sem Olhar Para Trás 2009-04-16
  • 35. Ao redor do vazio dançam sombras descalças enquanto a chuva cai e o vento, resmungando, mastiga as entranhas do horizonte De quando em vez um zumbido de carros apressados empapados em agua fria risca o alcatrão negro e se dilui num eco distante Num estranho circulo místico, destilando o frio solitário, os putos continuam a enrolar ganzas e a respirar pelos poros entreabertos da noite, acorrentados ao alpendre do prédio, enquanto esperam pela concretização dos seus sonhos Circulo Mistico 2009-06-10
  • 36. Eu não te curto, disse-me ela, um dia, com um sorriso sincero no rosto tentando não me ferir o orgulho, enquanto um alicate de cortar aço lhe saía pelas pupilas dilatadas e em mil pedaços desfazia o sonho que meu coração embalava Não te curto! 2009-07-10
  • 37. Sexta feira à noite os bonecos de cera ganham vida. Mergulhando nos trilhos do poente, escapam do gelo do pedestal. Por alguns momentos, hipnotizados, esquecem que não têm vida própria e se fundem nas areias do horizonte, envoltos numa nuvem de fumo. Envoltos numa nuvem de fumo. 2008-09-20
  • 38. Da cinza conturbada das nuvens desceu um pássaro negro, pousando numa das estacas da cerca, a olhar para mim. Sem uma palavra, sem um pio, sustendo a respiração, mudo e quieto, apenas a observar-me. Olhei-o fixamente nos olhos; duas bolas brancas, vidradas, carregadas de angustia; à espera de um sinal, de uma mensagem, qualquer coisa capaz de me surpreender. Durante algum tempo assim permanecemos, imóveis, contemplando-nos um ao outro, como duas estatuas suspensas, à espera que um movimento quebrasse a muralha de gelo. Subitamente, rompendo o silêncio, ele agitou as asas, estalando as cartilagens sombrias, e grasnando levantou voo, desaparecendo de novo na cinza conturbada dos céus, com ele levando para outras paragens a sombra disforme da morte. Mau Agouro 2009-06-10
  • 39. 2009-07-05 Toda a gente procura afirmar as suas convicções, como se fossem detentores exclusivos da verdade e sentissem a necessidade premente de serem reconhecidos como tal, ou, quem sabe, procuram apenas convencerem-se a si próprios. Raramente as suas convicções se assemelham às minhas, mas permaneço calado, evitando revelá-las, como se fossem um tesouro secreto de incalculável valor, e tenha receio em as revelar. O estúpido receio que eles as tomem para eles e façam delas suas, ou que simplesmente as achem bizarras e mas apontem como um ponto fraco. E continuo calado. Enrosco-me no seio vago do silêncio, aninhado num estranho mutismo, escutando apenas o que eles dizem, transbordantes de emotividade e aspirações. Fingindo partilhar dos mesmos sentimentos. Ao menos, reconheço-lhes a coragem de vomitar em publico, tudo aquilo que pensam e sentem. Mais aliviados se devem sentir. Convicções
  • 40. Até quando irei eu esperar, pergunta-me o coração destroçado? Até quando poderá ele suportar o fardo deste abraço gelado? Estou cansado de ser a preto e branco e de te ver fugir ao entardecer. Estou cansado deste futuro manco e de todos os dias te perder. Perdi-me num labirinto pantanoso acorrentado ao feitiço do teu olhar. No peito, um estranho sabor amargoso teima em não me abandonar. Não haverá nesse teu baú encantado um pincel magico perdido capaz de transformar este homem angustiado num sorridente amigo colorido? Amigo Colorido 2009-04-02
  • 41. Todos os dias vejo o sol nascer e se suicidar no mesmo patíbulo sujo de sangue e entranhas dilaceradas, numa asfixiante perspectiva despida de qualquer encanto. Prisioneiro dos despojos das manhãs e duma estranha geometria do vazio vivo acorrentado ao pedestal gradeado, como uma estatua de asas de chumbo, sem respirar. Vivo numa fornalha de incandescentes sensações onde os sonhos se fundem, atrofiados, nas chagas rasgadas do entardecer, sem saber ainda, se será teu corpo passaporte para novas dimensões, ou apenas o secreto desejo de escapar, por momentos, desta teia que o destino me bordou. Passaporte Para Novas Dimensões 2009-04-25
  • 42. Negros corvos debicam a esmo, vasculhando no cascalho frio alguma réstia de felicidade à deriva nos despojos da manhã. Uma cortina de poeira espessa cobre-lhes o luto carregado dos corpos e um vendaval de gemidos amordaçados sacode as margens desoladas. Negros corvos martelam o vazio, esvoaçando freneticamente, sem asas, numa estranha dança mutilada em busca do seu destino perdido. Nós, os Corvos 2009-03-01
  • 43. Incapaz de dormir, levanto-me da cama. São seis da manhã. Dói-me um dente. Bebo um copo de água e vou até à janela fumar um cigarro, a ver se me passa a dor. Nos prédios em frente já há gente de pé debruçada sobre os estendais a apanhar roupa. Um coxo atravessa a estrada matraqueando o asfalto com o seu passo manco. Dois pombos levantam voo de cima de um telhado e descrevem um circulo no céu. São seis da manhã. Acabo o cigarro, tranco a janela e volto para a cama. Continua a doer-me o dente. Dor de Dentes 2009-06-11
  • 44. Pedra, solidão, apatia Corações rejeitados, alma exangue Gelo, lágrimas e agonia Faces medonhas vertendo sangue Estátuas de Sangue 2009-04-11
  • 45. Depuração Muitas vezes já morri nesta vida, muitos corpos já enterrei, dentro de mim, para renascer novamente, do próprio sangue, das cinzas e dos véus das mortalhas, num outro eu, a cada morte revigorado. 2009-04-04
  • 46. 2008-03-22 Ao terceiro dia O esplendor se libertou Do cárcere da carne fria E seu reino reclamou
  • 47. Sonhei que era um velho e feio cão preto A arrastar-se na penumbra da noite Com um buraco aberto no peito rasgado E o coração vertendo lágrimas e sangue Vagueava, perdido dentro do meu sonho, Em círculos, à roda de um imenso vazio, Acorrentado ao odor enfeitiçado do teu rasto, Única luz na escuridão parda deste labirinto Seguindo um instinto sedento e cego Tropecei nos abismos desérticos da solidão, Corri atrás de uma mirÍade de falsas pistas E mergulhei nas areias de todas as miragens Até que, uma rajada fortuita do vento Me soprou o perfume da tua respiração E, de novo, os esconsos desígnios do destino Te atravessaram no meu caminho E aqui estou eu agora, perdido, Tentando manter-me desperto dentro do sonho, Sussurrando-te meu nome esquecido, À espera que acordes e me reconheças... 2009-09-06 Velho Cão Preto
  • 48. Montados nas suas bicicletas coloridas, os putos cruzam a estrada enlameada, com os cabelos a dançar ao vento e o coração a galgar as margens. A toda a velocidade desaparecem nas entranhas do horizonte, sem metas nem objectivos traçados, apenas pelo prazer de pedalar a vida. Pedalando a vida 2009-03-01
  • 49. Ecoando com estridência Escuto o ranger do coração Nos recantos da tua ausência De mãos dadas com a solidão No feitiço dos teus olhos Resvalo ainda, perdido Por detrás de cadeias e ferrolhos Buscando um amor proibido Amor Proibido 2009-04-11
  • 50. Por vezes, sinto-me como se fosse uma parte insignificante de um todo sem sentido, completamente desprovido de lógica e essência. Um maquiavélico plano, elaborado por mentes perversas, com o único objectivo de nos condicionar e subjugar a sinistros fins. Sinto-me, como se fosse apenas uma estaca anónima, plantada ao longo da cerca, com os pés enterrados no chão húmido e os braços atrofiados. Alinhado com as outras estacas da cerca. Completamente castrado. 2009-07-06 Uma estaca da cerca
  • 51. 2009-06-20 Torrões de terra Revolvida Lençóis escuros De silêncio e apatia É aqui Que o sonho finda Arrefecido Metro e meio de fundura Embrulhado num manto de gelo E esquecimento Legado
  • 52. Q ueria gravar minha imagem no coração dos teus sonhos, e deitar meu dorso retalhado nos esconderijos quentes do teu corpo. Q ueria adormecer, à noite, na quietude das tuas águas e sepultar meus medos antigos nas areias finas dos teus cabelos, mas sou uma barca errante sem lugar para ancorar; vivendo ao sabor das marés e das correntes que me arrastam. E tu, brilhando ao longe, és apenas mais uma estátua plantada no meu caminho. 2009-03-02 Uma Estátua no meu caminho
  • 53. balouço 2009-03-07 A cadeira de balouço não mais balança, mudamente cristalizada no gelo da tua ausência. A um canto da sala, soluça todas as noites, e vai morrendo, também, afogada em sonhos de poeira. Cadeira de
  • 54. A felicidade é feita de pequenos momentos. Pequenos flashes de luz que brilham por instantes e, depois, desaparecem no bojo labiríntico das noites, deixando apenas sua sombra vaga a decorar as paredes frias da nossa memória. Pequenos Momentos 2009-04-02
  • 55. Asas negras reluzentes , garras cravadas no peito, lambendo o sangue das feridas regresso aos trilhos da realidade. Por momentos fizeste-me sonhar, esquecer tudo quanto aprendi. Atordoado pelo cristal do teu sorriso desfraldei as asas de uma ilusão, e uma vez mais me deixei levar pela voz angustiada do coração. Deixei cair a máscara e o escudo de gelo que me cobria, baixei os braços, indefeso, e ele, de novo, atacou... Estropiado, arrasto agora o corpo para o abrigo, digerindo o amargo da derrota, preso à dor que me esmaga, enquanto o destino, saciado se eleva no horizonte distante, grasnando alegremente com o meu escalpe preso nas garras. 2009-05-01 Nas Garras do Destino
  • 56. Quando o tempo se cumprir e se esgotar a luz que me anima, vou pegar nas minhas coisas e partir seguindo o apelo que vem de cima. Embalado por uma nova canção, rumarei por entre o nevoeiro, levando minha frágil embarcação para bem longe deste cativeiro. 2009-05-24 Para Longe do Cativeiro
  • 57. Carregando o fardo dos sonhos e de uma estranha ilusão que me consumia tentei iludir o destino, fugindo da linha traçada no pó negro do alcatrão. Arrisquei viver uma realidade não planeada longe das garras pegajosas e frias de leis rígidas e pré-determinadas, mergulhando nas sombras de um novo caminho. Quando o pó e as sombras se dissiparam na luz difusa de um novo dia, retrocedi meu olhar na linha do horizonte para contemplar o caminho desbravado, e não escutei o bater de tuas asas nem vi o rasto perfumado da tua sombra; vi, apenas, o vazio profundo da tua ausência e meus passos perdidos no labirinto. 2009-04-12 Tentando iludir o Destino
  • 58. Vivia um fantasma dentro de mim. Um espantalho de asas murchas e braços esticados no vazio a afugentar a sombra dos sonhos. Alimentava-se de desejos moribundos e das ossadas de velhas paixões. Num dia de raiva, com um espigão de cinzas abriu-me um buraco no peito. Lentamente, desfez-me o coração, e partiu. O Espantalho 2009-03-15
  • 59. Acendo mais um cigarro para iludir os ponteiros do destino, rufar de asas queimadas a derreter no parapeito do labirinto. Cinzeiros de alcatrão sujo aparam sonhos vagos, luzes murchas sobre o abismo digerindo o oxigénio da ilusão. Pó, cinza e escarros, estranhos beijos de nicotina, alucinados fantasmas em combustão agonizam nos véus da neblina. Solitárias lágrimas de carvão numa espiral de envenenados braços, tesouras de aço enferrujadas cuspindo sangue e fumaça. Acendo mais um cigarro ...enquanto não se apaga a chama. +1 cigarro 2009-04-19
  • 60. A ave solitária, arrastando a asa ferida, atravessou a neblina matinal e se deteve, diante das ruínas de um sonho. Entre o pó e as cinzas, arduamente vasculhou, tentando recuperar ainda algum fragmento de seu coração destroçado. Asas Destroçadas 2009-04-21
  • 61. Quando se esgotarem as áridas paginas deste livro e finalmente me liberte desta trama sem sentido, de novo estenderei minhas asas enrugadas e retomarei meu secreto voo através das brancas planícies, resgatando minha alma, recuperando o fôlego. Durante algum tempo voarei apenas, ao acaso, sem rumo traçado, livre do vago desfolhar de páginas e do sortilégio rígido do guião que me acorrentam aos rochedos e me impedem de mostrar quem sou. Deixar-me-ei levar pelos ventos e pelas marés serenas do esquecimento, atravessando o esplendor das neblinas e o arrastar vagaroso dos séculos, até que, de novo, me sinta purificado e cresça em mim o incontrolável desejo de voltar, numa diferente historia, encarnando um novo personagem. 2009-07-16 Novo Personagem
  • 62. Passaste por mim ao entardecer, quando o vento te fez mudar de direcção e nas tua velas de linho branco desfraldado um novo alento soprou. Trazias o brilho das manhãs nas águas serenas do teu olhar, estendendo uma ponte sobre o vazio onde, ao sabor das ondas, eu naufragava. Aproveitando esta pausa da tempestade, durante algum tempo, segui teu rasto ondulante e tua luz que me guiava na névoa, em silêncio, deslizando na corrente amena, empurrando minha velha embarcação atrás de um sonho em crescendo. Quando a tempestade de novo se levantar e nossos caminhos se estreitarem, o mesmo vento que nos juntou, acabará por nos afastar e empurrar para direcções opostas, e tu seguirás viagem, continuando tua secreta demanda em busca de um porto longínquo. E eu, de novo à deriva, arrastarei minhas velas esfarrapadas através das vastidões sombrias do oceano, rumando a lugar algum, à espera que o mar me engula novamente e me dissolva nas águas profundas do esquecimento. E apenas sobrará a recordação dos breves momentos em que viajámos lado a lado, e os destroços dispersos do meu coração nas ondas tristes e frias que, um dia, rebentarão numa qualquer praia perdida na imensidão deste mar e num recanto gelado do areal para sempre repousarão. Caprichos do Vento 2009-06-07
  • 63. Quantas vezes pode um sonho ser rasgado e continuar, no escuro, a respirar e a alimentar-se de esperanças vãs? Quantas vezes pode um coração remendado com linha e pano cru ser capaz de sacudir a cinza e continuar a agitar as asas? Quantas Vezes? 2009-05-01
  • 64. Lentamente fui perdendo o pé num éter de estranhas sensações, perdi o brilho e a cor, dispersei-me nas asas do vento. Afogado no gelo do vazio, para lá da linha do horizonte, entreguei meu corpo retalhado às aves famintas do pântano, segui o eco da tua ausência e, finalmente, tornei-me invisível. Invisivel 2009-03-08
  • 65. O amor é cheio de armadilhas. Quando se quer manifestar, mostra apenas a sua luz e não nos permite ver as sombras que esta luz provoca. Paulo Coelho
  • 66.