2. O QUE É O SURREALISMO?
O Surrealismo, um dos principais movimentos artísticos do século XX,
surgiu na França, em 1948, após a Primeira Guerra Mundial.
Foi liderado por escritores como André Breton, Paul Éluard e
Pierre Reverdy. Em 1924, após o estudo da pintura de Giorgio De
Chirico, André Breton publica aquele que se tornaria o
ato fundador e o programa estético do movimento, o "Manifesto do
Surrealismo“, através do qual defendeu um processo criativo assente no
automatismo psíquico. A partir daí o poeta assumiu-se como o principal
ideólogo do movimento, publicando um segundo manifesto em 1929.
Entre os artistas que integraram o grupo fundador do movimento dest
acaram-se Marcel Duchamp, Francis Picabia, Max Ernst,
Hans Arp e Man Ray. De acordo com os artistas surrealistas, a
arte deve fluir a partir do inconsciente, sem qualquer controlo da
razão, o pensamento deve acontecer e ser expresso livre de
qualquer influência exterior ou lógica. Está presente nas obras
surrealistas: a fantasia, o devaneio e a loucura. As obras literárias
seguiam o procedimento de que as palavras deveriam ser escritas
conforme viessem ao pensamento, sem seguir nenhuma estrutura
coerente.
“A Persistência da Memória” Salvador Dalí, 1931
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3. O QUE É O SURREALISMO? continuação
Em 1929 juntaram-se Pierre Roy, Georges Malkine, os
espanhóis Salvador Dali e Joan Miró e o suíço Giacometti.
Em simultâneo, formaram-se grupos de artistas surrealistas
em vários países, como a Bélgica, Portugal, Estados Unidos,
Japão, etc. Em Portugal a assimilação desta corrente
foi mais tardia, manifestando-se na primeira metade da
década de 40, em plena Segunda Guerra Mundial. Teve como
principais representantes os pintores António Pedro,
António Dacosta e Cândido da Costa Pinto.
Apesar do carácter vanguardista e revolucionário e da
aparente rutura com a história, os surrealistas apoiaram-se
em trabalhos de artistas como Bosch, Piranesi, Goya,
Chagall ou Klee e em movimentos como o Romantismo, o
Simbolismo, a Pintura Metafísica e o Dadaísmo. Deste último
retomaram algumas experiências como a criação através de
processos automáticos ou aleatórios) que levaram a um nível
mais radical.
“Os Amantes” Magritte, 1928
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4. O QUE É O SURREALISMO? continuação
O Surrealismo procurou ultrapassar a perceção convencional e tradicional da realidade,
desenvolvendo pesquisas estéticas fundamentadas nas descobertas freudianas do valor do
inconsciente enquanto complemento da vida consciente e da capacidade comunicativa do sonho.
Desta forma conseguem ultrapassar o niilismo redutor do Dadaísmo, procurando então associar
elementos díspares, através da dissociação dos objetos dos seus contextos convencionais de forma a
obter significações inesperadas.
Recusando uma rígida unidade estilística, o surrealismo concretizou-se num espetro muito alargado de
linguagens que iam desde o realismo mais minucioso de Dalí, de Magritte e de Paul Delvaux,
às tendências mais abstratas de Miró ou de Hans Arp, englobando expressões como a pintura,
a escultura, a fotografia ou o cinema. Desaparecendo enquanto movimento organizado com o eclodir
da Segunda Guerra Mundial, o Surrealismo teve repercussões consideráveis para o desenvolvimento
de muitas das correntes artísticas da segunda metade do século XX, como a Pop Art, a
Performance Art, ou os grupos Cobra e Fluxus.
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6. BIOGRAFIA
António Pedro da Costa nasceu a 9 de Dezembro de 1909, na Cidade da Praia,
Cabo Verde, descendente de uma família do Alto Minho pelo lado paterno e
irlando-galesa pela mãe. A sua ação cultural extravasou as especializações
disciplinares: criou pintura, cerâmica, dramaturgia, poesia, litografia,
cenografia, e trabalhou para jornais, revistas, rádio e televisão.
Com dezasseis anos realizou uma primeira exposição de desenhos e caricaturas
(de professores seus do liceu) em Viana do Castelo, e no ano seguinte publicou o
seu primeiro livro de poesia, intitulado ”Os meus sete pecados capitais”. Foi um
dos organizadores do 1º Salão dos Independentes (1930) e participou nas
exposições do Secretariado de Propaganda Nacional em 1939, 1942 e 1944.
Em 1932 cria a Galeria UP, um espaço dedicado à arte moderna, onde
apresenta a primeira exposição de Maria Helena Vieira da Silva em
Portugal (1935).
Com António Dacosta e a escultora britânica Pamela Boden realiza, em
Novembro de 1940, uma exposição de pintura na Casa Repe, onde explora
propostas ligadas ao surrealismo. Depois de viver um ano entre S. Paulo e o Rio
de Janeiro (1941), aceita ser o correspondente da secção portuguesa da BBC
em Londres durante os dois derradeiros anos da IIª Guerra Mundial (Janeiro de
1944 a Outubro de 1945).
“Nocturno”, 1940
“Escultura de Bronze”, 1952
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7. BIOGRAFIA continuação
Neste período, mantém-se ligado ao Grupo Surrealista de Londres, participando na exposição Surrealist Diversity realizada na
Arcade Gallery, que contou com a participação de artistas como Jean Arp, Giorgio de Chirico, Max Ernst, Miró, Victor
Brauner, Paul Delvaux, René Magritte, Paul Klee, Alberto Giacometti, Man Ray e Pablo Picasso. Regressando em
1946 a Portugal, integra o Grupo Surrealista Português, fundado em 1947, e colabora na 1ª Exposição Surrealista de 1949.
No Verão de 1951 António Pedro abandona Lisboa para se instalar na sua casa familiar em Moledo do Minho, onde se dedica à
produção de cerâmica. Envolveu-se também na encenação, sobretudo desde finais dos anos 40, criando e dirigindo vários grupos
teatrais, entre os quais o Teatro Experimental do Porto (1953-1962). Paralelamente a estas atividades manteve colaborações
constantes com revistas (Mundo Literário, Horizonte, Presença, ABC, Cadernos de Poesia, a série Córnio) e jornais (Diário de
Lisboa, Diário de Notícias, Comércio do Porto). Criou em 1942 a Variante – «revista de arte viva», como escreveu no primeiro
número, no mesmo ano em que publica a novela surrealista ”Apenas uma Narrativa”. Em 1965 escreve o texto «Sentido e
expressão do nu no Renascimento e no Barroco», para a obra ”O Nu na Arte Ocidental”, publicado em 1975. Em 1966 publica
o seu último livro, ”Pequeno Tratado de Encenação”. Morre neste ano, a 17 de Agosto, com 57 anos de idade.
Em 1979 a sua pintura foi alvo de uma grande retrospetiva organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1982 a
Biblioteca Nacional de Portugal organizou uma exposição de Desenhos e Manuscritos, a partir do espólio de António Pedro que a
biblioteca conserva desde Julho de 1980.
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