Este documento apresenta duas reportagens da revista SUPER sobre aspectos culturais do Brasil: o rodeio no interior de São Paulo e a arte barroca em Minas Gerais. A reportagem sobre o rodeio descreve como ele já se integrou à cultura brasileira apesar de ter origens americanas, enquanto a reportagem sobre arte barroca explora como esse estilo importado da Europa se tornou patrimônio nacional no Brasil colonial.
2. Caldeirão brasileiro
Esta edição da SUPERtraz para você uma expedição
por dois brasis. Enquanto uma parte da redação
se embrenhou pelo interior de São Paulo para entender
a magia dos rodeios, outra visitava Minas Gerais para
compreender a sofisticada arte que começou a ser
produzida por lá trezentos anos atrás. Depois de
quatro meses de trabalho, 1 008 fotos, 45 pinturas
eletrônicas, trinta entrevistas e uma fuga em desabalada
carreira de um touro bravo em Barretos (SP),o Diretor
de Arte, Alceu Chiesorin Nunes, o info rafista luiz Iria
e as repórteres Ivonete lucírio e Gabriela A uerre
descobriram que o rodeio é bem mais do que um
fenômeno de importação recente. Apesar de reunir
multidões apaixonadas pelo jeito americano de ser, essa
festa já possui um inequívoco acento caipira. Essaé a graça
do esporte que você vai conhecer em detalhes em Montado
na Fúria, a partir da página 48: mal chegou e já está sendo
integrado ao grande caldeirão que é a cultura brasileira.
Na outra ponta da linha do tempo, a Editora Especial
Lúcia Helena de Oliveira, numa de suas últimas missões
na SUPERantes de ser promovida a Diretora de Redação
da revista SAÚDE, fez uma extensa reportagem sobre
uma importação antiga - tão velha que virou patrimônio
nacional: a arte barroca. Lúcia, uma jornalista com
alma de repórter, mais o fotógrafo Eugênio Sávio,
em Ouro Preto, e o jornalista Fernando Valeika de Barros,
em Lisboa, vasculharam a trajetória no Brasil do estilo
criado pela Igreja Católica para combater o protestantismo
na Europa. Em junho, o Editor Sênior Ricardo Arnt começou
a montar as peças do vasto quebra-cabeça de anjinhos
mulatos e profetas em pedra-sabão. Arnt conversou
com sete críticos e historiadores da Arte para.
arrematar o belo painel que você vai encontrar em
O renascimento do barroco (página 30). Agora é a sua
vez de aproveitar essasdeslumbrantes misturas entre o
forasteiro e o feito em casa que caracterizam este país.
4 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8
HISTÓRIA~------'
O renascimento
do barroco
o estilo original e
exuberante que dominou
a arte colonial brasileira
está em alta outra vez.
30
REPRODUÇÃO.•. ----'
Olhar dominante
Para algumas moscas,
bonito mesmo é quem
tem um olho bem
longe do outro.
58
lUGAR~ ~
SUPERINTERESSANTE
As ilhas de Darwin
Novas leis protegem
a fantástica fauna de
Galápagos, que inspirou
a Teoria da Evolução.
40
Da esquerda para a direita.
Gabriela. Alceu. Luize Ivonete
4. • Editora Abril
Fundador
VICTOR CIVITA
(1907 - 1990)
PRES[)OOE E EDITOR:Robcno Civita
ViCe-PRESIDENTEE DIRETOREDITORIAl: Tbomaz SoUlO Corrêa
VlcE-PRESIDOOE ExECUTIVO:Luiz Gabrie! Rico
VICE-PRESIDENTEOEOPERAÇOES:Gilbeno Fischcl
DIRETORDEDESENVOL"""ENTOEDITORIAl.:Celso Nucei Filho
DIRETORDEI'wfJAMENlO ECOOITlIl1F.Celso Tomanik
DIRETORDEREcuRsos HUMNIOS:Egberto de Meôeiros
SECRETÁRIO EOOORW.:Eugênio Bucci
DIRETORDESERIIICOSEorroRtAlS: Hcnri Kobata
DIRETOREorroIllAi AoJJNlO:MOlinas Suzuki Jr.
DIRETORDEPumJ:mAoe: MihOll Longobanli
DIRETOR SUPERINTEN~NTE: Nicotino Spina
EDITORCONTRIlUINlE Carlos Civna
DIRfTOR DEREDAÇAO:Eugênio Bucci
OtRETORDEIu:m: Alceu Chiesorin Nunes
REDATOR-CHEFE: André Singer
EDITORESSENIDRfS: Flávio Dicguez, Ricardo Arm
EDITORAS EsPEcws:Tbercza Vcnturoli. Wanda Nestlchner
RmímRes: Denis Russo Burgierman. Gabrela Aguerre. Ivooete
D. Lucírio. Regina Célla A. Pereira (Atendimento ao Leitor)
CHEFE DEARTE: Nikn Santos
INfOORAAA: Luiz Iria
DIAGRAMADOftEs:Bisa Cardoso. Maurício de Lara G;U"dO_
Robson Quínafélix
CoLABmAOORES:João Steíner, Lu.izBarco. Luíz Dal Monte Neto
APoiO EOTOAIAL
DEPTo. DEDocuMENTAÇAo: Susana Camargc;
AeRL PRESs: José Carlos Aueusto: NOVA yOfU(: Grace de Souza:
PARIS: Pedro de Souza -
PUBUCIDAOE
DmoRA DEVENlAs: Thais Chede Soares B. Barrete
VENDAS SÃo PAULO
ExECUTIVOSDE NEGÓCIOS:Crístíanc Tassouías, Sérgio
Ricardo Amaral. Rogério Gabrícl Comprido
GERENTEDE PuBLICIDADE:Aldo S. Palco
ExEa.mvos [E CoNTAS; Luciano C, Rike. Março A. Mezzacapa
GERENTEDEMARKET1NGPuBLICITÁRIO:Elizabcth de Mcnczcs Rocha
VENCAS RIO OE JANEIRO
GERENTEDEPust.ICIDADE: Leda Costa
CoNTATOSDEAliNclAS: Leonardo Rangcl. Lúcia Angélica
AssINAlURAS
DIRfTOR DEOPERAÇ/Es ESERVIÇOS:Antonio A lrncida
OFElOR DE'JEHoAs: Willi.m Pereira
CIRCULAÇÃO
Claudia Suada (Assinaturas), Marcelo Jucá (Bancas.
Prom~"ÕCS c Eventos)
PRoJETOS ESPEClAls
Adriana Naves. Cetio Leme
PlANEJAMENTO E CoNTRoLE
Glüncio C. Barros
PROCESSOS
Gilsoo De.I Caríc
DmrroR EscRIlÓRIO BRASÍllA: Luiz Edgar P. Tostes
DIRETOR ESCRITÓRIOS REGIONAIS:Marc~ Venturoso
DIRfTOR ESCRITÓRIORIO DEJANEIRO: Paulo Renato Símões
9-Grupo Abril
PRESIDÊNCIA: Robcrto Civita, Presidente e Editor.
José Augusio Pinto Moreira e Thomaz $0010 Coma,
Yice-Presidentes Executivos
VICE-PRESIDENTES: Angelo Rossí, Fatima Ali.
José Wilson Armani Paschoal, Luiz Gabriel Rico,
Peter Roseuwald
~ Editora Abril
EM SÃO PAULO:
Redação e Ccrrespondêncier avo Nações Unidas. 7221. 140
andar. Pinheiros, CEP 05.:125-902. tcl.: (011) 3037-2000. Iax:
(011) 3037-563S
Publicidade: TbaísCtctc Soares de B. Barrete (011) 3037-5474
Crísdane Tassoulas (01 I) 3037-5679 .
Moecyr Guírnarãcs Iül I) 3037-5773
Rogério Gabriel Comprido (01 I) 3037-5241
Marcos Vcmuroso (011) 3037-5759
EscRlTÓllOS NOBRAsIl
.&10Horíeoete: r. Paraíba, tl22. 18~and.. funcionâríos. (B> 30 13()..
14l, Sãvana Grisi. tel.: (031) 261-6104. 1"" (031) 261-71 14
BlunM.'Slau: r. I-1orianópoUs. 279, Bairro da Velha, CEP 8S)36-150,
Mauro Marchi, 1e1.: (047) 329-3820. telefax: (0·17) 329-6191
BrosiJia:SCN - Q.l BI. Ed Brasílla Trade CCnI<r.CEl' 70710-902.
Solange 'Iavares. rcl.: (061) 3 15-7575. fax: (061) 315-7539
~ r. Concci,m. 233, 26.°and .. coojs. 261:V2614,CEI' 13100·
050, Angelo Cosü. iel.: (019) 233-7l75, tclefux: (019)232-7975
Curitiba: .W. Cândido de Abrca. 651. J1.•.•and .• Centro Ovico. CEP
SOS3OmO. M:m.'OA. Pi=cna.leJ.: (041) 352-2426.1a." r.nmI2225
FIorianópotis:av. OsmarCunna, 15.m A.sl. 303,Cci"'Center. Gl'
88015-100. Francisco Gorgônio, tet.: (048) 222-4709, tclefax:
(048) 224-6228
Fort:tkza: r. Silva Jatahy. 15_ si. 606, Melreles. CEP 60165-070.
Simone Ribeiro Couro. tclcfax: (085) 261-9106
Goüinia: r. 1.127.220. Setor Martsta. CEP 74175·060, Rodrigc
Rodrígues. rel.: (062) 241-3756. fax: (062) 281-6148
M:lringá: av. Brasil, 33. CEP 87050-000. Luiz Antonio Nazareth.
tclcfax: (1).14)223--1754
Porto Altgre: T. Antencr Lemos, 57, 8.°mld .. sl. 802. Menino Deus,
CEP9085()..JOO. Ana Lúcia R Figueira. tel.: (051) 231-5899. fax:
(OSl) 231-4S57
Recife: av. Damas Barrete, 1.I86, ,15.°and .. sl. 1501. São José, CFY
50021).000. Marcos T. Perucci. ielefax: (081) 424-32'101424-3333
Ribeirão Pn!to: r. João Pcmeado. 164. CEP 14025·010, Antonio F.
Cbammas. tel.: (016)635-9630. fax: (016) 635-9233
Rio de Janeiro: r. da Passagem. 123. 8.0
cnd.. B01afOgO.CEP
22290-030, Paulo Renato Stmõcs, tet: (021) 546-8282, fax:
(()2J) 275·9347
Salvador: avoTancrcdo Neves. J.485. 13.{)alld .. sl. BOI, Piruba. cal
4182().()21, Alfrcdc G. MOia Neto. tel.: (071)3414996. 1",: (071)
341-1765
'VItória: avo MaL Mascarenhas de Morses. 2562, 4.0
and, si. 401 Ed
Espaço Um. Bento Pcrreira, CEP 29052-120. Susana Daartc,
iclctax: (027) 315-3329
EscRlTÓllOS NO ErnRIOR
Novn York: LincclnBullding,60 East 4211<1Strect. suíte 3403, New
York. N.Y. 10165/3403, tcls.: (OOl212) 557-599015993, telex (00)
237670. fax (ooUl2) 983-0172
P:ui<: 33. rue de Mlrorresnít, 750081':lris, tel.: (00331) 426631.18.
Iax: (00331)42.66.13.99
Portugal - Importação Exclus-iv':l e ComerdaliZ3~: Abril-
Controljomal-Edhora. Lda.. Largo da Lagoa. 15C. 2795 Linda-
a-Velha. tcl.: (00351 I) 416-8700. fax: (003511) 416-8701.
Dlstrlbulçãc: Deltapress-Socíedade Distrfbuidora de
Publicações. Lda, Capa Rota. Tapada Nova.Linhõ, 2710 Sinrra.
leI.: (00351 I) 924-9940. fax: (003511) 924-0429
PUBLICAÇÕES DA EDITOR~ ABRIL
INTERESSE GERAL
VEJA' ALMANi'Q.JE ABRil_
Súl'ERINTERESSAl'ITE' INFORi1Á TlCA EXAME
VlP EXAME' GUIA AIlRlL DO ESTUDANtE
ECONOMIA E NEGOCIOS
EXAME
AuTOMOBILISMO E TURISMO
QUATRO RODAS' GUIA QUATRO RODAS
VIAGEM E TURISMO' Tt1<RA
esPORTES
PLACAR' fl.UrR
MASCULINAS
PLAYJlOY
FEMININAS
CLAUDIA' ELLE' NOVA· MANEQUIM
PONTO CRUZ· CAPRICHO -uox FORMA
ANAMARlA' HORÓSCOPO' CARiClA • SAÚDE
DECORAÇÃO E AROUIlITURA
CASA CLAUDIA' ARQUlTETURA & CONSTRUÇÃO
ARTE & DECORAÇÃO
ENTRETENIMENTO
CONTIGO' SHOW B=.SET
SUPERINTERESSANTE 131 (ISSN Ol04-1789). aro 12In"~, é uma
PJbI~ mõ!l"~~ ID Editora Abril SA 1987G + J Esplib SA "Muy h
«rcsamc" C'MuitO 1~'OrnC")- E..~.Assin:tbJrn: SlIJSo111Sfaçãoé a
sua garJn1.ia.você pede ímeromper a assírauua a qwlqucr rrouemo, sem
S(!frcrnenhum ênus. Medianté sua sotící •.~ você reã direitc à cevoíuçãc
do valor COI'T1!SP.::rWIII!'~ exemplares a receber, devidamente conigioo
de acordo com o írrlice oflciul apucãveí. Com sua assinatura. seu nome
possa a ser incluído na lisul de cucmes prclCrcnciais da Editora Abril. que
poderá ccôê-ía e Ctnpn..-~ ",i(:('('a~parn êns di! diulg<lÇão c peomcçêo de
poenos de seu interesse. Caso não cpcira fazer parte dessa lista escreva
para Editora Abril - Assírercras, A". Oevaro Atves de Uma, 4400 4"
amar. r'TI;~UcskdoÓ·Cf:]>o..~900· S~ Paulo- SI'.Números ntm-
sacias: (as seis últimas edições recoífudas, meâamc dísponíbuídaée de
estoque): ao peço da úJ!.ima edtçêc em banca, mais CUStOdi; posregem, por
mtcrrnédío de seu jornaleiro (lj no t1i.~tritx:lid(){ Dina:p S/A· OUN) Postar
1505. ÚSJ.= - SP. CEPlló053·9<)(). '01.: (Oll) 811J.48OO.Iax: (011) 868·
3018. pelo emaü: dinap.na@eI1l31I.abril.com.br. via imernet
htqTJ/ww.'.dlnlp.com.hr. HeclrlO de arendiIDl!mo: de ? a &. eas S!1 às:
211130. sãbcôo eis 8h ês 13h. O pagamento padcrJ ser feito através de
cheque nominal oo pelos cartões vísa. Credrcard, Diners, AnlCTÍC3ll
E~ c Solo. Todos os direitos reservados. Disríbnra cem cxclusrvída ..
de 110país pela DI.NAJ>S/A - Dlstribuidcrd Nacioll<ll de P'Ub!~. São
Paoío, SUPERINTERESSAlTE nãoudmne publicídade redacíoraí.
ANERC<ntr.dd<Altn"""""O""A<sinan,e: 111.<::i:"anckSIDPaulo:3~2112 •••
Demais 10Cãlid.1cb:@:O-55-1112
IMPRESSA NA DIVISÃO GRÁFICA DA EDITORA ABRIL SoA.
5. A linha Corsa 99 já chegou e traz
novidades. Agora toda a linha tem a
nova suspensão dianteira HPS (High
Performance Suspension). O que era
gostoso de dirigir ficou ainda melhor,
mais macio e fácil de manobrar.
A segurança também vai aumentar,
porque a nova suspensão HPS
proporciona melhor estabilidade nas
curvas. Aliás, em matéria de segurança, a
linha Corsa 99 tem mais uma grande
novidade. Ou melhor, duas: duplo air bago
Corsa, um carro fora do sério, com
conforto e segurança levados a sério.
www.chevrolet.com.br
Selnne o seu grâlis: Alguns itens são opcionais. Consulte sua Concessionária Chevrotet para maiores informações sobre equipamentos originais e opcionais disponíveis para a linha Corsa.
O 8 O O, 1 7 1 784 Este veícuto esta em coníormicade com o PROCQNVE ' Programa de Controle de Pclulçác do AI: por Veiculos Automotores. Preserve a vida Use o cinto de segurança. ANDANDO NA FRENTE
------ ,---
6. Nos Estados Unidos,
caçadores de furacões
descobrem por que
essasventanias
monstruosas deixam
um rastro irregular
de destruição.
, I
10 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8
12. PAlEONTOLOGIA
Está provado.
Os dinos
tinham penas
Agora não há mais
dúvidas. As aves
não foram os únicos bichos
que se recobriram de
penas durante a evolução.
Pelo menos dois dinossauros
também enfeitavam
o corpo com plumas.
Os paleontólogos têm certeza
disso porque, pela primeira
vez, viram restos indiscutíveis
de penas em dois fósseis,
o Protoarcheopterix e o
Caudipterix. A descoberta
foi anunciada no final de
junho pelo chinês Ji Qiang,
do Museu Geológico Nacional
da China, e mais três
especialistas. Não quer dizer
que os bichos tiveram asas
verdadeiras, pois tanto os
braços como os dedos eram
bem menores que os das
aves. Ou seja, os dinos não
usavam as penas para voar.
Essa mesma conclusão vale
para o Sinosauropterix,
que também parece ter
tido penas (ainda sem
comprovação). As penas
talvez tenham evoluído, como
os pêlos, para proteger do
frio. Ou podem ter sido uma
marca, para identificar os
animais da mesma espécie.
Seja como for, os novos
fósseis tendem a confirmar
que as aves realmente são
descendentes dos grandes
répteis pré-históricos.
Eles inventaram as penas;
as aves tiraram partido disso
para deslizar no ar.•
3 Quase no ar
Do.chão. para O ar
oancestral das aves teria surgido entre os
celurossauros, o grupo dos répteis mais velozes.
1Arrancada letal
o Velociraptor foi um
celurossauro típico.
Seus braços, bem
flexíveis, já eram um
indício da evolução
que levaria às asas.
16 SUPER AGOSTO 1998
2 Equilibrista
O Unenlagia nunca voou.
Mas suas patas frontais
moviam-se como asas.
Talvez para dar
equilíbrio a .
esse corredor.
Com penas em várias
partes do corpo, o
Caudipterix só não saía
do chão porque seus
membros frontais
eram curtos.
13. 4 Saltos mortais
o Arqueopterix já tinha
penas de formato
diferente em cada
região do corpo.
Com isso, era mais
fácil dar grandes pulos,
ensaiando o vôo.
5 Detalhe certo
Há indícios de que o
polegar do Eoalulavis
tinha um tufo de penas,
chamado alula, que é
essencial ao vôo das
aves de hoje.
6 Decolagem
Imagina-se que, há uns
50 milhões de anos,
algum réptil emplumado,
cujo fóssil ainda não foi
encontrado, finalmente
bateu asas e voou.
15. o ouro aparece quando
o mercúrio dá as caras
",Por que o mercúrio
• é usado para
encontrar ouro?
I"Porque é útil para sepa-
• rá-Io das impurezas",
afirma a química Elizabeth
de Oliveira, da Universida-
de de São Paulo. Quando o
garimpeiro pega um mon-
te de terra molhada na ba-
téia, não sabe exatamente
o que está no meio dela.
Então, joga mercúrio líqui-
do, que atrai o ouro pulve-
rizado na lama e forma
com ele uma liga visível.
Mas se houver também
outros metais nobres, co-
mo o paládio ou a platina,
o mercúrio também vai
atraí-Ios. Aquecendo a liga
com um maça rico, a cerca
de 300 graus Celsius, os
metais derretem e o mer-
cúrio vira vapor. O ouro,
entretanto, continua mis-
turado aos outros metais.
Para separá-Io, a liga tem
que passar por um compli-
cado processo posterior
em laboratório .•
Elefante velho acaba
ficando para trás
",Por que o elefante
• se afasta da
manada para morrer?
1Issoé lenda. Acontece que
• esses bichos comem mais
de 100 quilos de plantas, ca-
pim e folhagem por dia. Por
essarazão são nômades. Têm
que mudar de lugar para con-
seguir novas refeições. Quan-
do atingem a idade de mor-
rer, em torno dos 60 nos,
não conseguem mais acom-
panhar o ritmo da manada e
vão ficando para trás. Se um
animal novo estiver ferido,
seuscompanheiros são solidá-
rios, interrompem a caminha-
da para cuidar dele e chegam
até a ampará-Io para andar.
"No caso dos animais velhos,
isso não acontece", explica o
zoólogo Sérgio Rangel Pinhei-
ro, do Zoológico de Sorocaba,
interior de São Paulo. "Muitas
Na batéia, o mercúrio
separa o ouro da terra
e das impurezas. Mas atrai
o paládio e a platina junto.
Como calor do rnaçarico,
o mercúrio vira gás e o
ouro fica nofundo, junto
com os outros metais
Os elefantes andam em
bando. Guando um deles
é jovem e se machuca
(foto meRor' a manada
pára para ajudar
vezes o elefante idoso acaba
por sejunta a outros na mes-
ma situação, formando ban-
dos que praticamente não se
movem. Elesficam lá, no mes-
mo lugar, até morrer", diz a
bióloga Ana Maria Beresca,da
Fundação Parque Zoológico
de São Paulo. Dai surgiu a len-
da do cemitério dos elefantes,
um local para onde os animais
se dirigiriam ao perceber a
proximidade da morte. •
20. oo pó é misturado
com álcool ou
_com aetil-acetato,
e aquecido.
Ao esfriar, vira
cristal branco.
• Quando iluminado
por luz polarizada,
o cristal ganha cor
e aí é fotografado por
uma câmara acoplada
ao microscópio. 0
22. o renascimento
barr
No ano em que Ouro
Preto, a capital nacional do
barroco, completa três séculos de
existência, o estilo artístico e religioso
que dominou o período colonial dá a
dolta por cima. Aqui você vai entender ..~
-------por que, para alguns, esse foi o gênero ..........•.........,.fY..
que formou e define, até hoje,
a cultura brasileira.
POR RICARDO ARNT,
LUOA HELENA DE OLIVEIRA, DE OURO PRETO,
E FERNANDO VALEIKA DE BARROS, DE USBOA
H
á 300 anos, emjunho de 1698,quando o acampa-
mento de Ouro Preto foi fundado no alto de um
morro perdido na Serra do Espinhaço, em Minas
Gerais, nada prenunciava seu glorioso futuro. O clima
era sombrio, esmagado por muralhas de montanhas, e o
arraial equilibrava-se sobre solo escorregadio. "Aprimei-
ra coisa que se fazia ao criar uma cidade", disse à SUPER
o historiador português VitorSerrão, professor de Histó-
ria da Arte na Universidade de Lisboa, "era construir
uma capela. A maior preocupação era não faltar igreja
para as festas santas como o Natal."
E foi de capela em capela, cada vez mais próspero
com a descoberta de vários depósitos de ouro nas ime-
diações, que, em 1711,o povoado virou a VilaRi-
ca do Ouro Preto, a capital do barroco - o
estilo artístico exuberante que domi-
nou a arquitetura, a pintura, a escul-
tura, a literatura, a música, o mobi-
lário, a ourivesaria e a mentalidade do país durante 100
anos. Tanto tempo que, para muitos historiadores, o bar-
roco não só fundou a cultura brasileira, como continua a
influenciá-Ia até hoje - apesar de ser o avesso das mo-
das minimalistas pós-modernas. A idéia é apaixonante.
E controversa, como você vai ver nesta reportagem.
O certo é que o barroco brasileiro está em alta. Cento
e vinte mil pessoas já visitaram em São Paulo a exposi-
ção O Universo Mágíco do Barroco, que reúne, pela pri-
meíra vez, 400 peças deslumbrantes do período colonial.
O sucesso é tanto que a mostra foi prorrogada até 18 de
outubro. Em maio, a Chrístíes de Londres, a mais famo-
sa casa de leilões do mundo, vendeu, pelo preço recorde
de 420 000 dólares, uma imagem de Nossa Senhora das
Dores esculpida por Aleijadinho, o príncípal artista
brasileiro do período. Quer dizer, se alguma vez
o b31TOCOesteve em declínio por .
aqui, ele agora está renascendo.
24. nas pela Espanha. "Esse período, de 1580 a 1640", de-
fine o historiador Nicolau Sevcenko, professor de His-
tória Contemporânea na Universidade de São Paulo,
"constitui o maior pesadelo da história portuguesa."
A perda de poder político e financeiro refletiu-se
na cultura. É a época da "arte chã", que, na Arquite-
tura, produziu igrejas singelas, com torres quase co-
mo guaritas e interiores ornamentados em madeira
talhada. "Uma vez que não havia mármore ou pedras
nobres, como nos países ricos", explica Vitor Sertão,
"a solução foi trabalhar com azulejo, madeira e pai-
néis pintados". Só em 1640, com a reconquista da in-
dependência, o barroco português deslanchou, com
quase um século de atraso.
CONCHAS
Conchas de vieira e
coquil/es de saint-jacques.
pregadas no peito.
identificavam os peregrinos
que iam ao santuário de
Santiago de Compostela,
na Espanha. no século XI
ESPINHOS
Os emaranhados ásperos
lembravam a consciência
da dor do pecado
PALMAS
Osfeixes de folhas sugeriam o
triunfo de Jesus sobre o martírio
25. lil
Período
nacional
português
(1700 -1730)
Os três ciclos do
barroco colonial
No Brasil, a ascensão do novo gênero artístico acom-
panhou a descoberta do ouro em Minas - a primeira
corrida do ouro do Ocidente. Em cinqüenta anos, 600 000
portugueses emigraram para cá. Desses, calcula o histo-
riador Jaelson Brítan Trindade, do Instituto do Patrimô-
nio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) , de São Paulo,
"pelo menos 800 eram artistas".
No final do século XVII,descontados os índios, a po-
pulação brasileira de origem européia contava 40 000 ha-
bitantes. _TO fim do século XVIII,pulou para 1,5 milhão.
Nas cidades litorâneas, sob maior influência da metrópo-
le, o barroco foi mais português. Já no interior de Minas,
isolado pela distância e pela precariedade das comunica-
ções, ganharia cada vez mais característícas próprías.
Um século de evolução
Quando surgiu, em Salvador e em Recife, o estilo
mudou o interior das igrejas, não o exterior. Nesse pe-
ríodo inaugural, chamado de nacional português, as fa-
chadas e plantas continuam retilíneas, mas, por dentro,
os templos viraram suntuosas "cavernas douradas",
com paredes e tetos inteiramente revestidos de madei-
ra esculpida em alto ou baixo-relevo (a talha), e pintu-
ras encaixadas em molduras (os caixotões). Os painéis
que ficam atrás e acima do altar (os retábulos) apresen-
tam colunas torcidas e decoração profusa. É o caso da
Capela Dourada (1695), em Recife, da Igreja de São
Francisco de Assis (1703), em Salvador, e da capela de
o retábulo do altar. esculpido
em madeira. formava uma
verdadeira caverna dourada
Todos os espaços disponíveis
em paredes e tetos eram
profusamente decorados.
Nossa Senhora do , em Sabará (1719), Minas Gerais.
A partir de 1730, nota-se uma mudança. É o períod
joanino, marcado pela gosto italiano do rei português, <f
João V.As estátuas se integram à madeira dos retábulo
e os caíxotões desaparecem, substituídos por pintur
ilusionistas (que provocam ilusão de óptica), recobrind
o teto. A arquitetura adota linhas curvas, naves alonga-
das e torres circulares, como nas igrejas de Nossa Senho-
ra da Conceição da Praia (1758), em Salvador, Nossa Se-
nhora do Pilar (1734) e Nossa Senhora do Rosán
(1750), ambas em Ouro Preto.
Outras mudanças cristalizam-se a partir de 1760,com
o ciclo rococó. Aí,as fachadas tornam-se mais leves e au-
daciosas, com curvas e contra-curvas, elegantes torres
redondas e portadas com relevo de pedra-sabão. Os am-
bientes são claros e arejados, e a luz natural enfatiza aor-
namentação sobre fundos caiados de branco. Ostemplos
projetados por Aleijadinho, como a Igreja de Nossa Se-
nhora do Carmo (1766), em Ouro Preto, e a de São Fran-
cisco de Assis (1774), em São João del Rey, são obras-
primas da época. "O interior dessas igrejas", diz Myriam
Ribeiro de Oliveira, professora de História da Arte na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, "são verdadei-
ros poemas sinfônicos de luz e de cor".
28. CORTE LATERAL
11Il
39 metros
I VISTA POR DENTRO
arco-cruzeironave
sacristiacoro
altar
(I J
retábulo
PLANTA BAIXA
capela-mor retábulopúlpito
15 metros
Obra-prima da
arte mineira
Conheça as características da
Igreja de São Francisco de Assis.
De 1766 a 1794, a Ordem Terceira de
São Francisco de Assis da Penitência,
que congregava muitos intelectuais
de Vila Rica, pagou os melhores
artistas para construir seu templo.
O projeto arquitetõnico, o altar-mór, o
retábulo, os púlpitos e os frontões da
fachada foram feitos por Aleijadinho.
Sete entalhadores esculpiram a
madeira. O mestre-de-obras foi
Domingos Moreira de Oliveira, o
melhor da época. A pintura do teto é
de autoria de Manoel da Costa Ataíde,
um dos grandes artistas da região.
TOQUE DE GÊNIO
A talha do Aleijadinho extravasa do
retábulo e se expande pela cúpula e
pelas paredes laterais
DETALHE SUTIL
Apesar do arredondamento
dos ângulos. as paredes laterais
da nave não são curvilíneas
29. Sotaque brasileiro,
gramática portuguesa
Formalmente, o barroco termina em 1816, com a
chegada da Missão Artística Francesa e do estilo neo-
clássico, em voga na Europa, ao Rio. Mas, para muitos, a
influência barroca não acabou ai. "O Brasil nasceu sob
signo barroco", disse à SUPER o hístoríador Nicolau
Sevcenko, da Universidade de São Paulo. "Afisionomia
e alma brasileiras foram compostas por esse sopro lTÚS-
tico. Ele não foi um estilo passageiro, mas a substância
básica da síntese cultural do país." Para Sevcenko, há
marcas "latentemente barrocas" na identidade brasilei-
ra, no catolicismo popular em especial, como "extremos
de fé, ilusão de grandeza, exaltação dos sentidos, êxtase
de festa, pendor pelo monumental, convivência com dis-
paridades e compulsão de esperança".
Essa associação do barroco à identidade nacional
surgiu há cinqüenta anos com escritores como OlavoBi-
lac (1865-1918) e Mário de Andrade (1893-1945). Ado-
tada pelo Serviço do Patrímônío Histórico e Artístico,
fundado em 1937, a tese inspirou pesquisadores como
GermainBazin (1901-1990), Lúcio Costa (1902-1998) e
o diretor da Pinacoteca Municipal de São Paulo, Ema-
noel Araújo, que defende "a existência de uma estética
própria do barroco brasileiro, a despeito de raízes e mes-
tres portugueses". Para Araújo, obarroco brasileiro car-
rega "a tropicalidade, a permissividade e a sensualidade
da miscigenação das culturas. Aqui, as ordens religiosas
incorporaram o negro e o índio", ressalta. "Era a Igreja
que promovia a festa.negra do Rei do Congo."
o regional e o universal
Mas se formou a identidade brasileira, o estilo tam-
bém formou a dos outros países latíno-arnerícanos, que
reinterpretaram o barroco espanhol. "Lá, muito mais",
ressalta Myríam Ribeiro de Oliveira, "pois as civilizações
pré-colombianas da América espanhola tinham mais
tradição cultural e poder de reelaboração do que as cul-
turas indígenas brasileiras. Na verdade, o barroco brasi-
leiro é o mais europeu da América. No México, no Peru
e na Bolíviahá mais sincretismo do que aqui." Para a es-
I
I
! I
pecialista, a genialidade do Aleijadinho não caiu do céu.
"As fontes e modelos que ele usou chegavam de gravu-
ras e livros vindos de Lisboa, Paris, Antuérpia e Roma.
Ele conjugava muitas influências." De Lisboa, Vitor Ser-
rão reitera: "Por mais genial que a talha do Aleijadinho
seja, a gramática era portuguesa".
Há controvérsia, também, sobre a idéia de nacionali-
dade. Para o pesquisador Jorge Coli,professor de Histó-
ria da Arte e da Cultura na Uníversídade Estadual de
Campinas, "a identidade é um processo: com o tempo, o
que parecia essencial revela-se aparente". Colidesconfia
da herança "genética" do barroco. Para ele, "o barroco
foi universal, com muitos sotaques e acentos regionais".
Ainda parece faltar uma análise que ilumine a fusão
da influência universal com a local, como sugere Myriam
Ribeiro: "Falta uma síntese que una a tradição européia
das igrejas mineiras com a sua incontestável originalida-
de". Só assim será possível entender o sorriso maroto do
anjinho mulato com peruca loira. ~
PARA SABER MAIS
o Universo Mágico do Barroco Brasileiro. Emanoel Araújo (org.).
São Paulo, Serviço Social da Indústria, 1998.
A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Germain Bazin.
Rio de Janeiro, Record, 1983.
30. Painéis de
retábulo, do
carioca Mestre
Valentimda
Fonseca e Silva.
11750-1813)
otorturado Cristo na
Coluna, do baiano
Francisco das
Chagas, "O Cabra",
(século XVIII)
Uma ousada cariátide
desnuda, em pleno
século XVII, da
Arquidiocese de São
Salvador,na 8ahia
Cômoda..papeleira,.de
jacarandá, de Minas
Gerais, do século XVIII
Os primeiros gênios
Aleijadinho (1730-1814)
Antônio FranciscoLisboa era um artista famoso em Vila Rica,
que gostava de U mesa farta U e U danças vulgaresU r segundo seu
biográfo. Mas, aos 40 anos, pegou lepra. Tornou-se amargurado e
recluso. Com um cinzel amarrado no punho, fez obras-primas como
o santuário de Bom Jesusde Matozinhos, em Congonhas (MG).
Padre Antonio Vieira (1608-1697)
Jesuíta,veio para o Brasilcom 18 anos. Na Bahia, pregou contra
as invasões holandesas. Em Lisboa, foi diplomata e amigo do rei
d. João IV.No Maranhão, defendeu os índios contra a escravização.
De volta à Europa, virou confessor da rainha da Suécia. Escreveu
Os Sermões, monumento da literatura portuguesa.
Gregório de Matos (1633-1696)
Escritor baiano, filho de senhor de engenho português. Estudou em
Coirnbra, foi juiz em Portugal e tesoureiro do Arcebispado da Bahia.
Abandonou a advocacia e virou poeta, famoso pela sátira e pelo
erotismo. Seu livro Boca do Inferno valeu-lhe a deportação para Angola.
Morreu em Pernarnbuco, impedido de voltar à Bahia. .
Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830)
Músico e compositor carioca. Escreveupeças para canto baseadas
em harmonia seqüencial (a repetição da frase em outro tom). Tocava
em igrejas e na Corte. Até o século XIX não se imprimia música no
Brasil.As partituras eram importadas ou copiadas à mão. Até hoje,
foram descobertas apenas 100 peças do período colonial brasileiro.
34. VISITANTESAssíDUOS
Leões-marinhos
(à esquerda) não são
moradores fixos, mas
aparecem para pescar
os peixes cirujanos
(no detalhe), que são
fartos no arquipélago
NAVEGANTESDEALTOMAR
As ilhas são um dos poucos
lugares onde as tartarugas-
verdes ainda podem pôr
ovos com segurança e
tranqüilidade. Grandes
nadadoras, entre uma
desova e outra elas
passeiam por vastas
áreas do Pacífico
RÉPTEISEM FAMíUA
Os iguanas são todos
descendentes de um
mesmo bicho, que é o
iguana da América do Sul.
Só que, depois de migrar
para as ilhas, o réptil
original evoluiu e gerou
nove espécies diferentes.
Cinco se adaptaram
à terra e quatro ao mar,
como os desta foto
A G O 5 T O 1 9 9 8 SUPER 43
36. NO REINO DOS CÉUS
Estas. sim. são aves raras.
Espécies como a gaivota
cola de golondrina (no
detalhe) são exclusividade
em Galápagos. Também
é exclusivo o mergulhão.
que faz um sapateado de
casamento para atrair a fêmea
ARTESÃO ALADO
Uma das treze espécies
de tentilhões aprendeu
a manipular espinhos de
cactus com o bico. É como
se o pássaro fizesse um
instrumento. com o qual
cutuca troncos podres e
arranca larvas para comer
AR QUENTE E ÁGUA FRIA
Até o pingüim (esquerda)
se adaptou às condições
climáticas. por causa das
correntes frias que sobem
da Antártida. A calandria
(ao lado) mudou tanto em
relação a seus parentes do
continente que passou
para outro gênero. Existem
quatro espécies diferentes
vivendo em ilhas distintas
AGOSTO 1998 SUPER 45
39. A
bre-se a porteira. O touro
escapa feito um dragão en-
furecido, corcoveando e sol-
tando baforadas pelas ventas. So-
bre seu lombo, o homem se segura
como pode, um braço levantado, a
respiração presa, as esporas sem
ponta batendo nos flancos do ani-
mal. Durante 8 segundos, o público
vibra numa torcida unânime para o
representante da espécie humana .
.Até que toca a sirene: peão e rnon-
..ma se separam. Como o peão não
-,espatifou na arena, a audiência
, .a o herói, sem pensar na po-
.ecoluna do boiadeiro nem no ín-
.ot:o:modo que o animal possa estar
:;J:.:sentindo com a cinta de lã que lhe
. -. aperta o ventre. Isso não importa.
.; O que interessa é o show.
A cena acima se repete com
. freqüência cada vez maior no inte-
rior do Brasil. Segundo a Federa-
ção Nacional do Rodeio Completo,
as 1200 competições realizadas no
Brasil no ano passado reuniram
24 milhões de espectadores - se-
te vezes mais que os jogos do Cam-
peonato Brasileiro de Futebol de
1997. E entre os dias 21 e 30 deste
mês o festival continua: em Barre-
tos, interior de São Paulo, aconte-
ce a Festa do Peão de Boíadeíro, a
maior do país, que vai ter um mi-
lhão de adeptos do estilo countru
acompanhando aos gritos o duelo
entre homens e bichos. Apeie nas
páginas seguintes para ver e en-
tender, em detalhe, esse espetácu-
lo que reúne habilidade, coragem,
poeira e muita adrenalina.
A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 49
43. ,
.
o jeito americano
Sela
Também chamada de saddle bronc,
é-a modalidade mais antiga nos
Estados Unidos. O peão se apóia
nos estribos, senta sobre uma sela
e se segura num cabo de 1,20 rnetro
de comprimento. sela
No velho Oeste
ele nasceu
O rodeio surgiu nas
fazendas, como atividade
de exibição e disputa
entre os trabalhadores
depois da lida. Foi assim
no Oeste americano, em
1867, GOm os cowboys,
que passavam o.tempo
livre brincando de
montaria e laço. Foi
assim também em
Barretes, no interior de
5,ªo Paulo, cuja atividade
econômica principal
é a agropecuária.
O primeiro registro de
rodeios na cidade é de
19S§. Enquanto o gado
era levado das fazendas
para os frigoríficos,
os peões competiam
entre si "para sair da
rotina", conta Flávio Silva
Filho, do grupo
Os Independentes. No
começo, as competições
eram realizadas
em circos
improvisados,
e o cutiano
era a prova
da moda.
Só nos anos
80 é que a coisa
pegou fogo. Regras e
estilos foram copiados do
rodeio americano e
descobriu-se um filão
comercial. Caipira
virou country,
peão virou
cowboy.
Mas, para
quem acha
que o rodeio daqui
é igual ao ianque, um
lembrete: "Os brasileiros
parecem se divertir muito
mais que os americanos",
diz Jerry Beagley, um
CQwboy do Kansas que
presta consultoria aos
rodeios brasileiros.
Menor e mais leve do que o
. touro, o cavalo se agita com vigor na arena.
Raças: árabe, crioulo, manga-larga
e quarto-de-milha
Peso; 400 quilos
Comprimento; 2,3 metros
Altura: 1,6 metro
Bareback
É o teste que exige maior
preparo físico. Sem estribos,
o único apoio é uma pequena
alça, onde o peão se .segura.
Sobre uma sela pequena,
fica quase deitado nas
costas do cavalo.
Mesmo sem apoio
sob os pés, o
cavaleiro não
•. pode parar de
esporear
';
A G O S T O 1 998 SUPER 53
barrigueira
É preciso manter
um braço no ar,
sem encostar em
nenhuma parte
do animal.
Ao final da prova, um
personagem chamado
madrinheiro salva o
cavaleiro. É ele
também quem retira o
sedém do cavalo.
44. ESPORTE
A presa ao lado do predador
Laçador e bezerro ficam em cercados separados.
Ganha o mais rápido
Três juízes cronometram o tempo da
prova. Vale a marcação intermediária e
ela não pode ser maior que 2 minutos.
Se o laçador sair do box antes do bezerro,
é penalizado com 5 segundos a mais
na contagem do tempo final.
o laçador começa a
perseguir o bezerro,
com três ou quatro
meses de idade,
assim que atravessa
a porteira.
O peão laça a
cabeça do animal,
que no mesmo
instante é puxado
para trás e pára
de correr.
Com outra corda,
carregada na
boca,olaçador
amarra três patas
do bezerro.
O peão desce
rapidamente do
cavalo e levanta
o bicho até a
• _ âlturã d1tcintura .
-- "
•..
•
48. 1centímetro
t----i
T
Vem cá, meu bem
Galã, entre as moscas diopsidas,
é isso aí: ter seis patas, alguns pêlos
pelo corpo e olhos espetados em
dois palitos. Nos leonardos di caprio
da espécie, a distância entre os olhos
tem 1 centímetro, o mesmo tamanho
do bicho inteiro. Nos menos dotados,
a distância é inferior a 0,5 centímetro.
49. •
man e
Cara peculiar atrai
fêmeas e cria muitas mais
Não é antena, não.
São os olhos de uma mosca
macho que você está vendo nesta
foto. Elesseduzem as fêmeas em
benefício de um gene egoísta que
quer sobreviver a qualquer custo.
Combate mortal de
espermatozóides
Os espermatozóides dos
machos têm cromossomos
X (rosa) ou Y (azul). Mas só
os espermatozóides com X
carregam o gene dos olhos
compridos. Para evitar
concorrência, ele liquida
os espermatozóides
com cromossomo Y.
omesmo gene que estica os olhos das
moscas diopsidas também interfere com
os cromossomos e aumenta a população
feminina. Veja como funciona.
POR FLÁvIo DIEGUEZ
P
ar'ã algumas moscas, chamadas diopsi-
das, charme, mesmo, é ter os olhos o mais
longe possível da cabeça, na ponta de has-
tes enormes. Quanto maiores as hastes de um ma-
cho, mais sucesso ele faz com as fêmeas. É o mes-
mo efeito provocado pela cauda do pavão e por
outros atrativos em muitas espécies. Este ano, ao
estudar as díopsidas, o especialista Gerald Wil-
ki.nson, da Universidade de Maryland, tornou-se
o primeiro a dar uma explicação para esse com-
portamento feminino. Parece absurdo, mas a
atração sexual é só um meio, não um fim.
A verdadeira função das hastes, segundo aWilkinson, é garantir a sobrevivência de um
grupo de genes da mosca. Isso mesmo. Um fragmento
de DNA "usa" o corpo do inseto em seu próprio bene-
fício. "São genes egoístas", explicou à SUPER o biólo-
go Andrew Pomiankowskí, da Universidade College
London, na Inglaterra. "Ainda não sabemos como es-
ses blocos de DNA trabalham, mas eles são podero-
sos." Prova disso é que, nas díopsídas, eles sempre fi-
cam no corpo dos machos de haste comprida - os
. que geralmente são escolhidos para acasalar. Em ou-
tras palavras, existe algum tipo de ligação entre a
preferência das fêmeas pelos olhudos e os genes
egoístas. E é dessa maneira que eles dominam a
reprodução dos insetos para se perpetuar. 0
Discriminação
sexual
Ainda não foi possível
determinar de que maneira
o gene egoísta destrói
os espermatozóides.
O fato é que, durante
o acasaiamento, só aparecem
espermatozóides do tipo X,
que se juntam ao X que
está no óvulo feminino.
Por isso, nascem fêmeas.
Vítima do
próprio feitiço
Em geral, a proporção
feminina nos grupos de moscas
diopsidas é de 60%. Mas,
às vezes sobe para 100%.
Aí, o tiro sai pela culatra:
não há mais acasalamento
e o gene desaparece.
·1 j
"
I
:[
51. U
mapedra gigantesca voa em direção à Terra. Se
viesse de mansinho, seria suficiente "apenas"
para esmagar os Estados de Minas Gerais, Rio
de Janeiro e Espírito Santo e bons pedaços de seus vizi-
nhos. Mas ela risca o céu a 32500 quilômetros por hora.
Deve bater no planeta azul em dezoito dias, abrindo um
rombo do tamanho do BrasiL Inevitavelmente atingirá
os oceanos, que ocupam 70% da superfície do planeta.
Ondas de 1quilômetro de altura se levantarão, inundan-
do cidades inteiras. Por anos, a luz do Sol permanecerá
encoberta pela grossa nuvem de poeira levantada na
hora do impacto. As plantações morrerão. Haverá fome.
Ébem Possível que a espécie humana não resista. Só há
uma saída: mandar lá para cima uma poderosa carga
atômica, que explodirá parte do asteróide assassino, ti-
rando-o de sua rota ameaçadora.
Ainda bem que a descrição acima é só ficção. E, do
ponto de vista da correção científica, bem ruinzinha.
Não existe, em possível rota de colisão com a Terra, um
asteróide do tamanho do mostrado emAnnageddan, a
produção da Disney que estréia este mês no Brasil. Os
maiores, que os astrônomos chamam de "exterminado-
res", têm 10 quilômetros, o quejá não é pouco, enquan-
to o do filme tem cerca de 1000 quilômetros. "Não é só
que eles tenham errado demais. Em termos de massa,
eles erraram um milhão de vezes demais", disse à
SUPER o chefe da divisão espacial do Centro de Pesqui-
sas Ames, da Nasa, na Califómia, David Morrison.
Exagero danoso
Corno trata de um perigo real, a licença dramática é
arriscada. Quanta gente não sairá do cinema pensando
que é boa idéia começar desde já a engrossar o estoque
de armas nucleares? Desde 1995, o físico húngaro radi-
cado nos Estados Unidos, Edward Teller,conhecido co-
rno o pai da bomba de hidrogênio, vem defendendo a te-
se. Houve quem sugerisse, na época, que o cientista es-
tava era querendo um objetivo nobre que pudesse tirar
do buraco o Lawrence Livermore National Laboratory
- o centro de pesquisa de armas nucleares que ele di-
rígíu por anos e que teve suas verbas cortadas pela me-
tade desde o final da Guerra Fria. O próprio Teller disse
à SUPER, com seu jeito caracteristícamente brusco,
achar improvável que um objeto com mais de 1 quilô-
metro de diâmetro atinja a Terra no próximo milhão de
anos. "Mas se e quando ele vier, deverá ser desviado
com explosivos nucleares." Muitos cientistas concor-
dam com ele, mas acham que vale a pena pesquisar ou-
tras maneiras de livrar a Terra do perígo. Ainda mais
nesses tempos em que novos países - corno Índia e Pa-
quistão - entram para o perigoso clube atômico.
A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 61
53. Outras alternativas
Algumas idéias difundidas entre os pesquisadores
a respeito de como desviar um asteróide.
Reflexo
Enormes espelhos poderiam ser
colocados no espaço, de forma a
refletir a luz solar sobre um lado do
bólido. Para asteróides de 1 a 10
quilômetros, o espelho deveria ter .
uns 5 quilômetros de diâmetro. O .
aquecimento provocaria a vaporizaçâo
da superfície e a saída de órbita (como no
caso de uma explosão nuclear próxima).
Laser
Uma nave nâo-tripulada e carregada
com um poderoso emissor de laser
seria posicionada de forma
a bombardear o asteróide com
enormes quantidades de energia.
Seriam necessários 10 megawatts
(a potência de umas 100 000 lâmpadas
elétricas) por metro quadrado para
vaporizar a superfície e desviá-lo.
Britadeira
Uma nave não-tripulada levaria uma
superbritadeira robótica que poderia
quebrar pequenos pedaços do
asteróide, jogando-os no espaço.
Com a diminuiçâo significativa da
massa, o corpo se desestabilizaria
e sairia da rota. O probleminha é que
num asteróide de 1 quilômetro de
diâmetro, a máquina teria de trabalhar pelo
menos dez anos.
Cientistas sabem pouco
sobre supostos infmiqos
É consenso entre os pesquisadores que a única al-
ternativa para defender a Terra acurto prazo seria o
uso de anuas nucleares. O problema é que ninguém
tem certeza de que isso funcionaria. A desconfiança
cresceu depois da análise de fotos batidas no ano pas-
sado pela sonda Near. Elas revelaram que o asteróide
Mathilde, um monstro de 61 quilômetros de diâmetro
que anda perto da Terra, mas em uma órbita que não
oferece perigo, parece um amontoado de pedregu-
lhos unidos por força gravitacíonal. Levando esse da-
do novo em conta, o astrônomo Eríc Asphaug, da Uni-
versidade da Califórnia, em Santa Cruz, fez simula-
ções em computador e mostrou que o cutucão nu-
clear pode ser um furo n'água, porque um objeto co-
mo o Mathilde absorvería o impacto da explosão
(veja o injográfico ao lado). "Muito mais trabalho é
necessário antes de decidirmos se os engenhos nu-
cleares são uma saída viável", escreveu o pesquisador
na revista inglesa Nature.
O alerta não desanima os defensores das bombas.
O capitão da Força Aérea americana William Glascoe
lidera uma campanha na defesa da criação de uma
Força Espacial para coordenar os esforços militares
do país no espaço, contra inimigos humanos ou natu-
rais. No mesmo time, o deputado Dana Rohrabacher,
do Partido Republicano da Califórnia, vem atacando o
presidente Bill Clinton por ter vetado o projeto Cle-
mentíne 2, do Departamento de Defesa, que também
estudaria estratégias contra os asteróides.
i
I
!
:1
I
I
55. Empresário quer unir
o útil ao lucrativo
. -se que a queda
corpo celeste de
ilômetros de diâmetro
.ia os dinossauros
milbões de anos.
o globo tenestre tem cerca de 150 marcas de im-
pacto de asteróides. Isso sem contar as que devem es-
tar no fundo dos oceanos. Mas foi o susto pregado pelo
1989FC, em 1989, que começou a acordar as autorida-
des para o problema. A pedra, do tamanho de um por-
ta-aviões, cruzou a órbita terrestre num ponto onde o
planeta havia estado apenas seis horas antes. E °fato
só foi constatado depois de ter oconido.
Hoje, a Nasa investe cerca de 2 milhões de dólares
por ano na identificação dos asteróides com mais de
1 quilômetro de diâmetro que apresentam risco de co-
lidir com a Terra. Cerca de 15% do total que se supõe
existir já foi rastreado. Mas isso é muito pouco. Para
aprender a desviar asteróides, é preciso, antes, conhe-
cer sua constituição e estrutura, o que só se consegue
mandando naves para olhá-los de perto. Por isso, a
maior esperança dos cientistas está na espaçonave
Near (sigla para Encontro com Asteróides Próximos
da Terra, em inglês), quejá visitou o Mathílde, e, a par-
tir de janeiro, se aproximará do Eras, outro gigante, de
40 quilômetros de diâmetro, que ronda a Terra, mas em
órbita inofensiva. Outra alternativa será apelar para a
iniciativa privada. A empresa americana SpaceDev já
está vendendo espaço na nave que pretende mandar
ao asteróide Nereus, de 1 quilômetro de diâmetro, em
2002. Além do lucro com o empreendimento, pretende
ir treinando para, no futuro, explorar substâncias como
carbono, alumínio, potássio, magnésío e cálcio nesses
corpos celestes. Um jeito de unir o útil ao economica-
mente agradável.
ências: semelhantes
asteróide de 1 quilômetro,
muito mais ampliadas.
i
I,I
I
I
58. ASTERÓIDES
o remédio atômico
é perigoso dema-is
Não custa lembrar àqueles que querem preparar
a defesa da Terra contra asteróídes que a ameaça
de uma hecatombe nuclear - que parecia riscada
da lista de perigos potenciais de extínção da raça
humana - voltou à tona este ano.
Índia e Paquistão elevaram para sete o número
de países capazes de detonar bombas atômicas. E
mesmo que os dois rivais não tivessem realizado
seus testes, o mundo não estaria menos ameaçado.
Os veteranos do clube atômico estão longe de
ter aberto mão de seus arsenais, apesar de todas as
promessas. Além disso, o sistema de controle sobre
as armas russas está muito mais deteriorado do que
nos tempos da União Soviética, o que aumenta o
risco de venda ilegal de artefatos nucleares para
países ou organizações políticas.
Dinheiro a rodo
Nos Estados Unidos, o orçamento prevê o gasto
de 35,1 bilhões de dólares em projetos relativos a
armas nucleares em 1998_E, embora os acordos de
desarmamento proíbam o desenvolvimento de no-
vas armas, os americanos acabam de criar a B-61-
11, uma bomba que penetra na terra antes de ex-
plodir, desenhada para arrasar bunkers.
Nesse cenário, o argumento dos asteróides cai
como uma luva nas mãos dos lobbistas nucleares. E
o remédio proposto por Edward Teller pode resul-
tar mais perigoso do que o provável perigo repre-
sentado pelos asteróides. Tomara que a Unispace
3, conferência sobre o espaço que a Organização
das Nações Unidas (ONU) está preparando para ju-
lho do ano que vem, em Viena, discuta o assunto. e
Estoque explosivo
A última contagem, em 1996, mostrou que o mundo
tinha 24 227 armas nucleares prontas para serem usada