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-4"
o
o
00
"-.-
Caldeirão brasileiro
Esta edição da SUPERtraz para você uma expedição
por dois brasis. Enquanto uma parte da redação
se embrenhou pelo interior de São Paulo para entender
a magia dos rodeios, outra visitava Minas Gerais para
compreender a sofisticada arte que começou a ser
produzida por lá trezentos anos atrás. Depois de
quatro meses de trabalho, 1 008 fotos, 45 pinturas
eletrônicas, trinta entrevistas e uma fuga em desabalada
carreira de um touro bravo em Barretos (SP),o Diretor
de Arte, Alceu Chiesorin Nunes, o info rafista luiz Iria
e as repórteres Ivonete lucírio e Gabriela A uerre
descobriram que o rodeio é bem mais do que um
fenômeno de importação recente. Apesar de reunir
multidões apaixonadas pelo jeito americano de ser, essa
festa já possui um inequívoco acento caipira. Essaé a graça
do esporte que você vai conhecer em detalhes em Montado
na Fúria, a partir da página 48: mal chegou e já está sendo
integrado ao grande caldeirão que é a cultura brasileira.
Na outra ponta da linha do tempo, a Editora Especial
Lúcia Helena de Oliveira, numa de suas últimas missões
na SUPERantes de ser promovida a Diretora de Redação
da revista SAÚDE, fez uma extensa reportagem sobre
uma importação antiga - tão velha que virou patrimônio
nacional: a arte barroca. Lúcia, uma jornalista com
alma de repórter, mais o fotógrafo Eugênio Sávio,
em Ouro Preto, e o jornalista Fernando Valeika de Barros,
em Lisboa, vasculharam a trajetória no Brasil do estilo
criado pela Igreja Católica para combater o protestantismo
na Europa. Em junho, o Editor Sênior Ricardo Arnt começou
a montar as peças do vasto quebra-cabeça de anjinhos
mulatos e profetas em pedra-sabão. Arnt conversou
com sete críticos e historiadores da Arte para.
arrematar o belo painel que você vai encontrar em
O renascimento do barroco (página 30). Agora é a sua
vez de aproveitar essasdeslumbrantes misturas entre o
forasteiro e o feito em casa que caracterizam este país.
4 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8
HISTÓRIA~------'
O renascimento
do barroco
o estilo original e
exuberante que dominou
a arte colonial brasileira
está em alta outra vez.
30
REPRODUÇÃO.•. ----'
Olhar dominante
Para algumas moscas,
bonito mesmo é quem
tem um olho bem
longe do outro.
58
lUGAR~ ~
SUPERINTERESSANTE
As ilhas de Darwin
Novas leis protegem
a fantástica fauna de
Galápagos, que inspirou
a Teoria da Evolução.
40
Da esquerda para a direita.
Gabriela. Alceu. Luize Ivonete
ESPORTE _
Montado· .
na fúria
Um espetáculo de .•
infografia agarra àlr.lhp
os saltos, galopes e
emoções do rodeio.
48
SUPERNOTíCIAS
10
UNIVERSO
69
SUPERINTRIGANTE
20
SUPERMULTIMíOIA
72
'----..,--------=------------ ....•.ASTERÓIDES
O falso
exterminador
Bombas nucleares para salvar a
Terra de um impacto espacial.
Cautela necessária ou só mais
um lance da indústria de armas?
60BIOQufMICA
Galeria
microscópica
Parecearte modema.
Mas são vitaminas,
proteínas e hormônios
vistos bem de perto.
©5 28
2+2
81
CARTAS
86
SUPEROIVERTlOO
82
DITO E FEITO
90
© 1 Eugênio Sávio Z Oiego Rueda 3 Caio Vilela 4 Fotomontagem de luiz Iria sobre iotos de Alceu Chiesorin Nunes
5 Heinz Günter Beer 6 Newton Verlangieri 7 Marlos Bakker AGOSTO 1998 SUPER 5
• Editora Abril
Fundador
VICTOR CIVITA
(1907 - 1990)
PRES[)OOE E EDITOR:Robcno Civita
ViCe-PRESIDENTEE DIRETOREDITORIAl: Tbomaz SoUlO Corrêa
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EDITORESSENIDRfS: Flávio Dicguez, Ricardo Arm
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CHEFE DEARTE: Nikn Santos
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ExECUTIVOSDE NEGÓCIOS:Crístíanc Tassouías, Sérgio
Ricardo Amaral. Rogério Gabrícl Comprido
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VENCAS RIO OE JANEIRO
GERENTEDEPust.ICIDADE: Leda Costa
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050, Angelo Cosü. iel.: (019) 233-7l75, tclefux: (019)232-7975
Curitiba: .W. Cândido de Abrca. 651. J1.•.•and .• Centro Ovico. CEP
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Rodrígues. rel.: (062) 241-3756. fax: (062) 281-6148
M:lringá: av. Brasil, 33. CEP 87050-000. Luiz Antonio Nazareth.
tclcfax: (1).14)223--1754
Porto Altgre: T. Antencr Lemos, 57, 8.°mld .. sl. 802. Menino Deus,
CEP9085()..JOO. Ana Lúcia R Figueira. tel.: (051) 231-5899. fax:
(OSl) 231-4S57
Recife: av. Damas Barrete, 1.I86, ,15.°and .. sl. 1501. São José, CFY
50021).000. Marcos T. Perucci. ielefax: (081) 424-32'101424-3333
Ribeirão Pn!to: r. João Pcmeado. 164. CEP 14025·010, Antonio F.
Cbammas. tel.: (016)635-9630. fax: (016) 635-9233
Rio de Janeiro: r. da Passagem. 123. 8.0
cnd.. B01afOgO.CEP
22290-030, Paulo Renato Stmõcs, tet: (021) 546-8282, fax:
(()2J) 275·9347
Salvador: avoTancrcdo Neves. J.485. 13.{)alld .. sl. BOI, Piruba. cal
4182().()21, Alfrcdc G. MOia Neto. tel.: (071)3414996. 1",: (071)
341-1765
'VItória: avo MaL Mascarenhas de Morses. 2562, 4.0
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York. N.Y. 10165/3403, tcls.: (OOl212) 557-599015993, telex (00)
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Publicações. Lda, Capa Rota. Tapada Nova.Linhõ, 2710 Sinrra.
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INTERESSE GERAL
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ECONOMIA E NEGOCIOS
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VIAGEM E TURISMO' Tt1<RA
esPORTES
PLACAR' fl.UrR
MASCULINAS
PLAYJlOY
FEMININAS
CLAUDIA' ELLE' NOVA· MANEQUIM
PONTO CRUZ· CAPRICHO -uox FORMA
ANAMARlA' HORÓSCOPO' CARiClA • SAÚDE
DECORAÇÃO E AROUIlITURA
CASA CLAUDIA' ARQUlTETURA & CONSTRUÇÃO
ARTE & DECORAÇÃO
ENTRETENIMENTO
CONTIGO' SHOW B=.SET
SUPERINTERESSANTE 131 (ISSN Ol04-1789). aro 12In"~, é uma
PJbI~ mõ!l"~~ ID Editora Abril SA 1987G + J Esplib SA "Muy h
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A linha Corsa 99 já chegou e traz
novidades. Agora toda a linha tem a
nova suspensão dianteira HPS (High
Performance Suspension). O que era
gostoso de dirigir ficou ainda melhor,
mais macio e fácil de manobrar.
A segurança também vai aumentar,
porque a nova suspensão HPS
proporciona melhor estabilidade nas
curvas. Aliás, em matéria de segurança, a
linha Corsa 99 tem mais uma grande
novidade. Ou melhor, duas: duplo air bago
Corsa, um carro fora do sério, com
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O 8 O O, 1 7 1 784 Este veícuto esta em coníormicade com o PROCQNVE ' Programa de Controle de Pclulçác do AI: por Veiculos Automotores. Preserve a vida Use o cinto de segurança. ANDANDO NA FRENTE
------ ,---
Nos Estados Unidos,
caçadores de furacões
descobrem por que
essasventanias
monstruosas deixam
um rastro irregular
de destruição.
, I
10 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8
© Newton Verlangieri
SUPER AGOSTO 199811
· .
Ocaçador de planetas
fora do Sistema
Solar ataca de novo.
Geoffrey Marcy, da
Universidade Estadual
de San Francisco,
anunciou a descoberta
de um corpo gasoso,
duas vezes maior
que Júpiter, orbitando
uma estrela a apenas
15 anos-luz da Terra
(1 ano-luz mede
9,5 trilhões de
quilõmetros). Segundo
Marcy, que já topou
com outros sete
candidatos a planetas
distantes, o achado
indica que pode haver
muito mais corpos como
esse, perto da Terra.
Agora parece que
é para valer. Uma
equipe de cientistas
americanos está se
reunindo para averiguar
histórias de discos
voadores. Os detetives
de UFOs estão
analisando fotos
e narrativas sobre
aparições. Para
Peter Sturrock, da
Universidade Stanford,
a tecnologia de hoje
vai ajudar a separar
a verdade da fraude.
Mas, nada ingênuo,
ele sabe que a mesma
tecnologia ajuda
tambéma elaborar
fraudes mais difíceis de
serem desmascaradas.
AIOS
O vírus sai
para a
revanche
Doisanos depois da
descoberta de um
coquetel de drogas
sensacional,capaz de
destruir 99% dos vírus
HIV no organismo de um
paciente, os especialistas
anunciam que o otimismo
era exagerado. O bicho
é mais forte do que
parecia, dizem médicos,
microbiologistas e
epidemiologistas reunidos
em junho, em Genebra,
Suíça,para a 12"
Conferência Mundial
sobre a Aids. O fato é
que os novos remédios só
conseguem esmagar o HIV
em alguns casos.Em mais
da metade dos testesfeitos
até agora, o agente do mal
resisteao ataque e retoma
a ofensiva. Essesresultados
foram divulgados pelo
virologista David Ho, do
Centro de PesquisasAaron
Diamond, de Nova York,
que criou o coquetel de
drogas, em 1996. •
12 SUPER AGOSTO 1998
---======:::::=:-::- --=··-~=--::;-l
AMBIENTE
Um calor
de derreter
os miolos
Uma cidade com
cerca de 220 000
habitantes, como
Baton Rouge, no Estado
americano da Louisiana,
tem pontos em que
a temperatura do ar
chega a 65 graus Celsius.
É o que mostra a
foto à direita, batida
com uma câmera da
Nasa que detecta
raios infravermelhos. O
flagrante foi feito no início
de uma tarde de maio,
de um jato que sobrevoou
EVOLUÇÃO
O homem
faz das tripas
cérebro
-
Segundo uma lei natural
da evolução, quanto
maior (ou mais pesado)
for o cérebro de um animal,
maior seu corpo. É que,
para manter um cérebro
grande funcionando, é
preciso um corpo também
grande, capaz de absorver
bastante energia. Só que,
no homem, o cérebro é três
vezesmaior que o dos nossos
ancestraisde 3 milhões de
anos atrás, enquanto o corpo
nem chegou a duplicar de
tamanho. Então, de onde
vem a energia necessária
para estabeleceras ligações
entre bilhões de neurônios?
Baton Rouge a uma
altura de 2 quilômetros.
As chamadas ilhas de
calor são bolhas de
ar superaquecido que
se criam sobre as
construções de concreto
e o asfalto das ruas e
estradas, e que ajudam
a esquentar o ambiente.
Elasaparecem durante
o dia, quando o sol bate
forte. Mas, ao contrário
das áreas com vegetação
e água, não se resfriam
à noite. Segundo
Jeff Luvall, que coordena
a pesquisa, a melhor
solução para reduzir
tanto calor é mesmo
plantar árvores. • ©2
O antropólogo LeslieAiello,
da UniversidadeCollege
London, comparou o
organismo humano com o
dos chimpanzés. Everificou
que, nos dois casos,
70% da energia adquirida
dos alimentos é consumida
por cérebro, coração, fígado,
rins e intestinos. Mas o
cérebro dos chimpanzés
pesa um terço do cérebro
do homem, enquanto os
intestinos pesam mais que
o dobro. Conclusão: o
homem faz uma contenção
no consumo de energia
pelos intestinos. •
© 1GammaIPatrick Mesmer 2 Brian Parsons 3lUlz Iria 4 RogérioMaroia
Frescura vegetal
As áreas pintadas de verde
representam a vegetação.
Parques e praças têm
temperaturas por volta
de 25 graus Celsius.
Estrada
o amarelo mostra estradas
e ruas, onde a pavimentação
faz a temperatura atingir pelo
menos 45 graus Celsius.
Inferno no telhado
A cor vermelha indica o
topo de prédios. Por causa
do concreto, a temperatura
nessas áreas chega a
65 graus Celsius.
Para cada cabeça, um peso
Os órgãos dos animais variam em proporção,
conforme a necessidade de cada um.
o homem
Comparado com o tamanho total do corpo, o
cérebro do homem é o maior entre os animais
nascidos de placenta. Para pensar, ele retira energia
dos intestinos, que são pequenos.
ochimpanzé
o cérebro do macaco pesa cerca de um terço do
cérebro humano. A maior parte da energia que ele
extrai dos alimentos é absorvida pelos intestinos,
que são duas vezes maiores que os nossos.
A ave
Nos pássaros, o cérebro é pequeno e õ intestino
também, em relação ao tamanho total da ave.
Mas o coração é enorme. Ali é consumida a maior
parte da energia, para voar.
©4
SÉRIE VES11BUlANDO
ÚNGUA PORTUGUESA (28 FITAS)
MATEMÁTICA (10 FITAS)
GEOGRAFIA (10 FITAS)
HISTÓRIA (1 FITAS)
FísiCA (10 FITAS)
QUíMICA (10 FITAS)
BIOLOGIA (10 FITAS)
INGLÊS (5 FITAS)
SÉRIE DIDÁnCA
ASTRONOMIA (S ATAS)
ALFABETIZAÇÃO (7 FITAS)
ANATOMIA CORPO HUMANO (12 FITAS)
EDUCAÇAo SEXUAL (5 FITAS)
CIÊNCIAS (1 ATAS)
BIOLOGIA (6 FITAS)
LíNGUA PORTUGUESA (12 FITAS)
LITERATURA BRASILEIRA (1 FITAS)
HISTÓRIA
GEOGRARA
MATEMÁTICA
FíSICA (8 FITAS)
QUíMICA (6 FITAS)
IDIOMAS
SÉRIE AurO-CONHECIMENTO
COMO VENCER A TIMIDEZ
MEGAMEMÓRIA
LEITURA DINÂMICA
INTEUGÊNCIA EMOCIONAL
ÉTICA (2 FITAS)
ED FISICA: VOLEIBOL (2 FITAS)
ED FíSICA: NATAÇÃO (2 FITAS)
.ED FíSICA: HANDEBOL (2 FITAS)
ED FíSICA: FUTSAL ( 2 FITAS)
ED FíSICA: BASQUETEBOL (2 FITAS)
ED FísiCA PARA CRIANÇAS (3 FITAS)
ED FíSICA PARA DEFICIENTES (3 FITAS)
ED FíSICA PARA 3" IDADE (3 FITAS)
TAl CHI CHUAN
ENERGIA (3 FITAS)
GINÁS11CA TERAPÊUTICA (2 FITAS)
MASSAGEM
WORD 97 (3 FITAS)
ACCESS 97 (3 FITAS)
O~FICE 97 (S FITAS)
VISUAL BASIC 4.0 (6 FITAS)
PHOTOSHOP 4.0 (2 FITAS)
COREL DRAW 7.0 (3 FITAS)
AUTOCAD R.13 (6 FITAS)
BORLAND DELPHI 3.0
SÉRIE ATIVIDADES FíSICAS
SÉRIE INFORMÁncA
SÉRIE EDUCA CÃO ARTÍsnCA
EDUCAÇAO ARnsncA (7 FITAS)
EMBALAGENS DE CAIXAS
CESTAS - FLORES & SABORES
DESENHO À MÃO UVRE (3 FITAS)
BALÓES MÁGICOS
- MATEMÁTICA (6 DISQUETES)
FíSICA (6 DISQUETES)
QUíMICA (6 DISQUETES)
SUPER PROFESSOR (DISQUETE)
NOSSA ÚNGUA - Prot. Posquole (CD-ROM)
ENCICLOPÉDIA DELTA (CD-ROM)
SOFTWARES DIDÁncos 2' GRAU
I
-
I I
I
L
Comprovado:
os agrotóxicos
prejudic:am a memória
e a coordenação
motora e visual
dos jovens.
E o que indicam
testes com 33 crianças
de 4 e 5 anos de idade,
da região de Sonora,
México: as que
ficaram mais expostas
aos produtos, usados
nas lavouras e no
combate a insetos
caseiros, tiveram mais
problemas. Elizabeth
Guillette, antropóloga
da Universidade do
Arizona, autora da
pesquisa, acha que
crianças de outras áreas
agrícolas sofrem os
mesmos danos.
Pasme: o fumo
pode reduzir a
incidência de câncer
de mama em mulheres
vulneráveis à doença
por mutação genética.
Os cientistas americanos
e canadenses que
fizeram a descoberta
acreditam que o cigarro
inibe a produção de
estrógeno, o hormônio
relacionado ao câncer
de mama. Mas os
próprios autores do
trabalho fazem questão
de não recomendar
o fumo como solução
para nenhum mal
da saúde.
5 quilômetros
ASTRONOMIA
Uma poça
seca em
Marte
~ ~L- __ ~ ~~ ~©
A cratera marciana tem marcas escuras na superfície, semelhantes
aos sedimentoscomunsnafonnação de lagosterrestres.
14 SUPER A G OS T O 1 998
1 sonda Mars Global
Msurveyor, da Nasa,
em órbita de Marte, tem
fotografado alguns pontos
que já haviam sido vistos
por sua antecessora, a nave
Viking 2, em 1978. Mais
nítidas, as novas imagens
revelam detalhes que
as antigas não podiam
captar. Desta vez, a sonda
fotografou uma cratera de
50 quilômetros de diâmetro,
que fica no hemisfério
sul marciano. Edescobriu
que um dia ela pode
ter abrigado um lago.
A desconfiança vem
das marcas de canais
nas bordas do buraco e da
diferença de cores entre as
paredes e o fundo. Apesar
de não descartar outras
hipóteses - GOmolava
escorrida -, os especialistas
da Nasa crêem que o
terreno escuro é formado
por sedimentos depositados
por enxurradas que um dia
fluíram pelas bordas.•
SAÚDE
Americanos
estão ficando
alternativos
convencionais, nessepaís,
não impediu que 42%
dos adultos, no Estado
da Califórnia, tivessem
buscado métodos não-
ortodoxos, no ano passado.
Essedado explica por que
cada vez mais hospitais e
planos de saúde estão
incluindo essasterapias em
seusserviços.Veja abaixo as
técnicas mais populares.•
I evantarnento feito pela
Lempresa Landmark
Healthcare indica que a
Medicina Alternativa tem
força surpreendente nos
EstadosUnidos. A alta
qualidade dos tratamentos
Para além dos consultórios
Uma pesquisa realizada com 1500 americanos
aponfou guais as cinco terapias mais procuradas.
Terapia por ervas 17%
----
Quiroprática (recolocação da coluna)
--"'----'
Massagens
Vitaminas 13%
Homeopatia 5%
© 1 Malin Space Science Systems/ NASA 2 Image 8ank
---------------------------~~~=~~--=-~~=-=--=---==============~~I
©2
Sabe aquela mulher que você está de olho? ~
Vista uma Pool que você vai ver IIQm~
aqueles olhos piscando para você.
Fique bem.
Fique Pool.
PAlEONTOLOGIA
Está provado.
Os dinos
tinham penas
Agora não há mais
dúvidas. As aves
não foram os únicos bichos
que se recobriram de
penas durante a evolução.
Pelo menos dois dinossauros
também enfeitavam
o corpo com plumas.
Os paleontólogos têm certeza
disso porque, pela primeira
vez, viram restos indiscutíveis
de penas em dois fósseis,
o Protoarcheopterix e o
Caudipterix. A descoberta
foi anunciada no final de
junho pelo chinês Ji Qiang,
do Museu Geológico Nacional
da China, e mais três
especialistas. Não quer dizer
que os bichos tiveram asas
verdadeiras, pois tanto os
braços como os dedos eram
bem menores que os das
aves. Ou seja, os dinos não
usavam as penas para voar.
Essa mesma conclusão vale
para o Sinosauropterix,
que também parece ter
tido penas (ainda sem
comprovação). As penas
talvez tenham evoluído, como
os pêlos, para proteger do
frio. Ou podem ter sido uma
marca, para identificar os
animais da mesma espécie.
Seja como for, os novos
fósseis tendem a confirmar
que as aves realmente são
descendentes dos grandes
répteis pré-históricos.
Eles inventaram as penas;
as aves tiraram partido disso
para deslizar no ar.•
3 Quase no ar
Do.chão. para O ar
oancestral das aves teria surgido entre os
celurossauros, o grupo dos répteis mais velozes.
1Arrancada letal
o Velociraptor foi um
celurossauro típico.
Seus braços, bem
flexíveis, já eram um
indício da evolução
que levaria às asas.
16 SUPER AGOSTO 1998
2 Equilibrista
O Unenlagia nunca voou.
Mas suas patas frontais
moviam-se como asas.
Talvez para dar
equilíbrio a .
esse corredor.
Com penas em várias
partes do corpo, o
Caudipterix só não saía
do chão porque seus
membros frontais
eram curtos.
4 Saltos mortais
o Arqueopterix já tinha
penas de formato
diferente em cada
região do corpo.
Com isso, era mais
fácil dar grandes pulos,
ensaiando o vôo.
5 Detalhe certo
Há indícios de que o
polegar do Eoalulavis
tinha um tufo de penas,
chamado alula, que é
essencial ao vôo das
aves de hoje.
6 Decolagem
Imagina-se que, há uns
50 milhões de anos,
algum réptil emplumado,
cujo fóssil ainda não foi
encontrado, finalmente
bateu asas e voou.
Dinheiro falso
não entra.
As máquinas
de auto-serviço
usam mecanismos
sofisticados para
testar cédulas
e moedas.
20 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8
Olhos eletrônicos
à prova de fraude
.,Como as máquinas
• de auto-serviço
reconhecem o valor
de notas e moedas?
INão adianta tentar enga-
• nar com uma chapinha de
metal. As máquinas estão
programadas para procurar
tantas informações no di-
nheiro que é pouco provável
que alguma falcatrua funcio-
ne. "Os fabricantes vão à
Casa da Moeda e discutem
as características de cada cé-
dula e moeda para criar os
mecanismos de reconheci-
mento", diz o engenheiro
Celso Gitelman, da Auto-
vending Brasil, distribuidora
de máquinas de auto-serviço
no país. As notas passam
por lâmpadas que emitem
luzes de cores diferentes
(verdes e brancas) e radiação
infravermelha (veja infográfi-
co ao lado). Assim, o apare-
lho verifica a correção do de-
senho, da marca d' água, do
Como ela sabe quanto vale?
As máquinas de auto-serviço submetem notas
e moedas a várias provas.
Três luzes diferentes
atravessam as notas
verificando sua transparência
e características do desenho,
espessura e tipo de papel.
Parafraudar a máquina, um
falsário teria de enganar a leitura de
todas as lâmpadasao mesmo tempo.
~
V
As moedas
passam por
sensores que
medem seu
tamanho e
, condutividade
elétrica.
©1
tipo do papel, da espessura e
da cor da cédula, que tam-
bém tem resíduos magnéti-
cos, captados por sensores.
Já as moedas passam por im-
pulsos elétricos que detec-
tam sua condutividade, indi-
Precisamos de água
para respirar melhor
to com o gás carbõnico se
condensam no vidro. Quem
sofre de doenças respiratórias,
como asma e bronquite, preci-
safazer um esforço maior pa-
ra absorver o oxigênio e,
quando fica ofegante, perde
mais água do que o normal.
"Por isso, o catarro resseca e
endurece no pulmão", conta
o pneumologista Hélio Romal-
dini, da Universidade Federal
cando a composição da liga
metálica de que é feita. Além
disso, um sistema óptico me-
de o tamanho da sua sombra
para verificar o diãmetro e a
espessura da placa deposita-
da no aparelho. •
de São Paulo. "A secreçãoaca-
ba virando uma espécie de ro-
lha na traquéia, dificultando
ainda mais a respiração."
Nessecaso, o melhor a fazer é
uma inalação, ou seja, aspirar
vapor d'água. Na falta de um
inalador, o remédio é beber
muito líquido, que será absor-
vido pelo sistema digestivo e
ajudará a hidratar os brõn-
quios, dissolvendo o catarro.•
© 1 LuizIria e Maurício lara 2 PauloJares 3 André Penner 4 Gamma/ Saola 5 Alexandre Degre
"Por que os médicos
• recomendam
beber água para quem
sofre de problemas
respiratórios?
IVocê sabia que perdemos
• água quando respiramos?
Por isso o espelho fica emba-
çado se o olhamos muito de
perto. É que o vapor d'água e
asgotículas que liberamos jun-
o ouro aparece quando
o mercúrio dá as caras
",Por que o mercúrio
• é usado para
encontrar ouro?
I"Porque é útil para sepa-
• rá-Io das impurezas",
afirma a química Elizabeth
de Oliveira, da Universida-
de de São Paulo. Quando o
garimpeiro pega um mon-
te de terra molhada na ba-
téia, não sabe exatamente
o que está no meio dela.
Então, joga mercúrio líqui-
do, que atrai o ouro pulve-
rizado na lama e forma
com ele uma liga visível.
Mas se houver também
outros metais nobres, co-
mo o paládio ou a platina,
o mercúrio também vai
atraí-Ios. Aquecendo a liga
com um maça rico, a cerca
de 300 graus Celsius, os
metais derretem e o mer-
cúrio vira vapor. O ouro,
entretanto, continua mis-
turado aos outros metais.
Para separá-Io, a liga tem
que passar por um compli-
cado processo posterior
em laboratório .•
Elefante velho acaba
ficando para trás
",Por que o elefante
• se afasta da
manada para morrer?
1Issoé lenda. Acontece que
• esses bichos comem mais
de 100 quilos de plantas, ca-
pim e folhagem por dia. Por
essarazão são nômades. Têm
que mudar de lugar para con-
seguir novas refeições. Quan-
do atingem a idade de mor-
rer, em torno dos 60 nos,
não conseguem mais acom-
panhar o ritmo da manada e
vão ficando para trás. Se um
animal novo estiver ferido,
seuscompanheiros são solidá-
rios, interrompem a caminha-
da para cuidar dele e chegam
até a ampará-Io para andar.
"No caso dos animais velhos,
isso não acontece", explica o
zoólogo Sérgio Rangel Pinhei-
ro, do Zoológico de Sorocaba,
interior de São Paulo. "Muitas
Na batéia, o mercúrio
separa o ouro da terra
e das impurezas. Mas atrai
o paládio e a platina junto.
Como calor do rnaçarico,
o mercúrio vira gás e o
ouro fica nofundo, junto
com os outros metais
Os elefantes andam em
bando. Guando um deles
é jovem e se machuca
(foto meRor' a manada
pára para ajudar
vezes o elefante idoso acaba
por sejunta a outros na mes-
ma situação, formando ban-
dos que praticamente não se
movem. Elesficam lá, no mes-
mo lugar, até morrer", diz a
bióloga Ana Maria Beresca,da
Fundação Parque Zoológico
de São Paulo. Dai surgiu a len-
da do cemitério dos elefantes,
um local para onde os animais
se dirigiriam ao perceber a
proximidade da morte. •
o que o ouvido não
escuta o cérebro não sente
,Por que uma criança
• tem mais facilidade
para aprender idiomas
do que um adulto?
Io aprendizado depende do
• estímulo sonoro. As fibras
nervosas que levam os sons
do ouvido ao cérebro são for-
madas de neurônios. Elesen-
tram em ligação entre si por
nas sinapses,verdadeiras pon-
tes químicas por onde as men-
sagens neurológicas passam.
n Nas crianças, as ligações es-
tão em processo de constitui-
ção e asfibras são maleáveis e
estão disponíveis", diz a to-
noaudióloga Ana Maria Maaz
Álvares, do Hospital das
Clínicas da Universidade de
São Paulo. Por isso, se forem
estimuladas pela repetição de
sons, formam estradas sono-
rasaté o cérebro. Depois dos
10 anos, a capacidade de es-
tabelecer novas ligações di-
minui e o aprendizado torna-
se mais difícil.
A criança nasce também
com o aparelho fonador
pronto para falar qualquer
idioma. Mas, pelos mesmos
motivos que dificultam o
aprendizado, depois dos 10
anos ela começa a perder a
capacidade de pronunciar
alguns sons para os quais
não tenha sido treinada. Isso
não quer dizer que não se
possa aprender alemão com
40 anos. Quer dizer apenas
que vai demorar mais tem-
po. E que o sotaque prova-
velmente vai ser forte. Para
falar perfeitamente, talvez
seja necessário passar por
um fonoaudiólogo .•
©1
Na criança,os neurônios que formam_
as fibras nervosas ainda estão se
ligando e são receptivos a novas
informações sonoras. No adulto, a
capacidade de estabelecer ligações
diminui e também a receptividade.
A estrada do som, com escalas
O estímulo sonoro chega ao cérebro por meio
de fibras nervosas.
Dentro do ouvido, o som é transformado
em impulso elétrico, levado
até o cérebro por fibras
nervosas, que passam
pelo tronco cerebral.
membrana
do tímpano
22 SUPER AGOSTO 1998
tronco
cerebral
Reis cruéis
se divertiam
com a dor
dos bobos
'Ouem eram os
• bobos da corte?
IÉ sinistro. Quase sempre
• eram loucos, anões, cor-
cundas e outros defi-
cientes físicos. "Às vezes
até quebravam a coluna do
sujeito para que ele fizesse
melhor figura frente ao rei",
conta Jonatas Batista Neto,
professor de História Medie-
val da Universidade de São
Paulo. A função era entreter
os monarcas, que riam das
palhaçadas e, principalmen-
te, das deformidades físicas.
Essaterrível profissão era co-
mum no final da Idade
Média, entre os séculos XIV
e XVI. Os bobos trabalha-
vam para o rei e para os no-
bres. A zombaria macabra
não era o único motivo para
mantê-Ias nos castelos; acre-
ditava-se que os coitados
davam sorte e afastavam
mau-olhado. Não era um
trabalho dos mais prestigia-
Os bobos sofriam
para entreter os nobres
da Idade Média
dos. O genial dramaturgo in-
glês William Shakespeare
(1564-1616) ajudou a reabi-
litar a figura dos bobos, dan-
do a eles importantes fun-
ções em suas peças. Em Rei
Lear, o protagonista, desti-
tuído do poder, acaba che-
gando à conclusão de que
ele é mais tolo do que o bo-
bo que o acompanha.
Shakespeare usou os bobos
para fazer críticas aos pode-
rosos, aproveitando a liber-
dade que essespersonagens
tinham. Nas peças, eles aca-
bavam falando verdades que
ninguém ousava dizer. •
© 1 Luiz Iria / Rogério Maroja 2 Reprodução (Trades and Occupations - a pictorial archive
from early sources - selected and arranged by Carol Belanger Grafton)
o Sol muda de cor
por causa da atmosfera
I,
l :;
")por que o Sol muda
• de cor durante o dia?
IA luz solar não é amarela
• nem vermelha, é branca. O
branco resulta da soma das
sete cores do arco-íris - o
violeta, o azul, o anil, o verde,
o amarelo, o laranja e o ver-
melho. Nós enxergamos o
Sol com tonalidades diferen-
tes, ao longo de um dia, por-
que a atmosfera filtra os seus
raios, separando as cores. "A
nossa percepção do Sol mu-
da por causa das irregularida-
des na camada de ar que en-
volve a Terra e pela distância
que a luz percorre na atmos-
fera", explica o físico Hen-
rique Fleming, da Univer-
sidade de São Paulo. Existem
partículas de poeira, poluição
e gotículas d'água infiltradas
entre as moléculas de gás
que compõem a atmosfera.
Quando o Sol está alto, as co-
res formadas por ondas de
maior amplitude contornam
essas partículas e as molécu-
las. Mas as menores (o viole-
ta, o azul e o anil) não conse-
guem se desviar e trombam,
espalhando-se. Com isso, tin-
gem o céu de azul e o Sol fica
amarelo, que é a soma das
cores restantes: o verde, o
amarelo, o laranja e o verme-
lho. À medida que o Sol vai
se pondo, seus raios têm que
atravessar um pedaço maior
da atmosfera, colidindo com
mais obstáculos. Afinal, no
crepúsculo, até as ondas lon-
gas, laranja e vermelho, aca-
bam trombando e se des-
viando, avermelhando grada-
tivamente o horizonte (em-
bora o resto do céu continue
azul). A vermelha é a última
onda de luz que consegue
cruzar a atmosfera e nos
atingir, por isso o astro-rei fi-
ca vermelho no pôr-do-sol.
Por fim, o céu fica preto com
a ausência de luz: não chega
mais nenhuma cor e nem se
vê mais nenhum espalha-
mento, pois o Sol está abaixo
do horizonte .•
Palheta celestial -
Entenda como o ângulo entre a luz do Sol e a Terra muda a cor do céu e do Sol.
A luz branca
do Sol é
composta de
todas as cores.
•
Ao meio-dia, a luz
do Sol atravessa
um trecho menor
de atmosfera.
O violeta,
o azul e o anil
se espalham
pelo céu e os
raios solares
chegam amarelos
aos nossos olhos.
OOndas compridas
de luz, como
o vermelho,
contornam os
obstáculos sem
dificuldades.
24 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 7
No final da tarde,
a luz entra inclinada
e passa por um
••••lfI!1!!!"1 longo pedaço
de atmosfera,
trombando nas
partículas. O verde
e o amarelo também
se espalham,
e só o laranja e o
vermelho chegam
aos nossos olhos.
Ondas curtas,
violetas, anis e azuis,
batem e se espalham
pelo céu, pintando-o.
O Sol é amarelo
porque essa cor é a
mistura das ondas
longas que chegam:
verde, amarelo, laranja
e vermelho.
NA INTERNET
super.atleitor@email
abril.com.br
http://www2.uol.com.
br/super
Essesaí em cima são
os nossos endereços
eletrônicos. Para
o primeiro, você
pode mandar
perguntas para a seção
SUPERINTRIGANTE.
No segundo, você
encontra a versão
on-line da SUPER
e envia perguntas
exclusivas para ela.
Vamos lá!
Se preferir, mande
a sua carta pelo correio
mesmo. Envie a carta
para SUPERINTRIGANTE
Avenida das Nações Unidas,
72221 - Pinheiros
CEP 05477-000
São Paulo, SP.
Se a sua pergunta
for selecionada, você
receberá em casa uma
camiseta da SUPER!
© Luiz Iria / Rogério Maroja
uando o pequeno
abala um gigante
'Como uma ave pode
• derrubar um avião?
quatro delas. Quem corre mais
risco são os monomotores. Há
partes da aeronave que, se fo-
Uma trombada pode dar rem atingidas, podem tornar
• muito trabalho para a tripu- uma viagem ou um pouso difí-
lação, mas dificilmente derruba ceis (vejainfográfico). Os riscos
uma aeronave grande. A parte são mais sérios quando o avião
mais vulnerável é a turbina, está voando baixo, pois as aves
que pode até parar de funcio- não passam dos 3 000 metros
nar, mas os aviões maiores têm de altura. Vários aeroportos
Os piores lugares para uma trombada
Há partes da aeronave em que o impacto com um pássaro é perigoso.
Se o leme for danificado, a
dirigibilidadEl.da aeronave.
fica comprometida
Uma avaria na
cauda pode
destruir um
profundor, a peça
que faz o avião
subir e descer.
~~~~~~:t~.~------------------Y O choque do pássaro com a turbina
Um impacto com o aileron, entorta as pás que puxam o ar,
que inclina o avião na hora provocando vibração. Se uma delas
da curva, pode destruí-Io. quebrar, pode bater no motor e travá-Io.
©1
adotam técnicas de proteção,
como aparelhos que emitem
sons para afastar os bichos.
"Além disso, as aeronaves pas-
sam por testes para verificar se
sua estrutura suporta impac-
tos", conta o engenheiro me-
cânico Fernando Franchi, da
Empresa Brasileira de Aero-
náutica (Embraer).•
Na frente, um impacto
pode romper o vidro e
atingir o piloto, além de
causar despressurização.
+c6
Na cozinha, tamanho
de chapéu é documento
Quanto maior o
chapéu, melhor,
supostamente,
o cozinheiro
,Porqueos
• cozinheiros usam
aquele chapéu
comprido?
IFaça biquinho e repita em
• francês: toque blanche.
Touca branca. Esseé o nome
original do chapéu comprido.
Segundo o chef francês
Laurent Suaudeau, que usa
uma toque blanche 1)0 Res-
taurante Laurent, em São
Paulo, e é tido como um dos
melhores cozinheiros do
Brasil, o formato do chapéu
foi herdado dos monges. "Na
Idade Média", diz ele, "os
© 1 LuizIria / Rogério Maroja 2 Rogério Montenegro
maiores cozinheiros estavam
nos monastérios." Quem ins-
tituiu o uniforme branco foi
o rei francês Luís XIII (1601-
1643). No seu reinado, e no
de seus sucessores, LuísXIV e
Luís XV, os cozinheiros ti-
nham tanta importância que
seu título era de officiel de
bouche (oficial da boca),
uma patente militar. Com o
tempo, o tamanho dos cha-
péus tornou-se sinal de pres-
tígio e indicador de hierar-
quia. A equipe da cozinha
vai desde o chef, com o cha-
peuzão, até o último ajudan-
te, de bonezinho .•
A seguir, os autores
das perguntas
escolhidas nesta
edição. Todos
receberão suas
camisetas em casa.
Carlos Eduardo Viero
Botucatu, SP
Oamião Gomes Correia
Guarulhos, SP
Enzo Pote I Quaglio
Itajaí, SC
Júlio César Azevedo
de Medeiros
Bauru, SP
Lidiani Zeni
Juina, MT
Luciano Ferrari
Osasco, SP
Maria José Gomes
Uchoa,SP
Marlon Trachta
Bataiporã, MS
83658015 superinteressante-agosto-1998
oo pó é misturado
com álcool ou
_com aetil-acetato,
e aquecido.
Ao esfriar, vira
cristal branco.
• Quando iluminado
por luz polarizada,
o cristal ganha cor
e aí é fotografado por
uma câmara acoplada
ao microscópio. 0
83658015 superinteressante-agosto-1998
o renascimento
barr
No ano em que Ouro
Preto, a capital nacional do
barroco, completa três séculos de
existência, o estilo artístico e religioso
que dominou o período colonial dá a
dolta por cima. Aqui você vai entender ..~
-------por que, para alguns, esse foi o gênero ..........•.........,.fY..
que formou e define, até hoje,
a cultura brasileira.
POR RICARDO ARNT,
LUOA HELENA DE OLIVEIRA, DE OURO PRETO,
E FERNANDO VALEIKA DE BARROS, DE USBOA
H
á 300 anos, emjunho de 1698,quando o acampa-
mento de Ouro Preto foi fundado no alto de um
morro perdido na Serra do Espinhaço, em Minas
Gerais, nada prenunciava seu glorioso futuro. O clima
era sombrio, esmagado por muralhas de montanhas, e o
arraial equilibrava-se sobre solo escorregadio. "Aprimei-
ra coisa que se fazia ao criar uma cidade", disse à SUPER
o historiador português VitorSerrão, professor de Histó-
ria da Arte na Universidade de Lisboa, "era construir
uma capela. A maior preocupação era não faltar igreja
para as festas santas como o Natal."
E foi de capela em capela, cada vez mais próspero
com a descoberta de vários depósitos de ouro nas ime-
diações, que, em 1711,o povoado virou a VilaRi-
ca do Ouro Preto, a capital do barroco - o
estilo artístico exuberante que domi-
nou a arquitetura, a pintura, a escul-
tura, a literatura, a música, o mobi-
lário, a ourivesaria e a mentalidade do país durante 100
anos. Tanto tempo que, para muitos historiadores, o bar-
roco não só fundou a cultura brasileira, como continua a
influenciá-Ia até hoje - apesar de ser o avesso das mo-
das minimalistas pós-modernas. A idéia é apaixonante.
E controversa, como você vai ver nesta reportagem.
O certo é que o barroco brasileiro está em alta. Cento
e vinte mil pessoas já visitaram em São Paulo a exposi-
ção O Universo Mágíco do Barroco, que reúne, pela pri-
meíra vez, 400 peças deslumbrantes do período colonial.
O sucesso é tanto que a mostra foi prorrogada até 18 de
outubro. Em maio, a Chrístíes de Londres, a mais famo-
sa casa de leilões do mundo, vendeu, pelo preço recorde
de 420 000 dólares, uma imagem de Nossa Senhora das
Dores esculpida por Aleijadinho, o príncípal artista
brasileiro do período. Quer dizer, se alguma vez
o b31TOCOesteve em declínio por .
aqui, ele agora está renascendo.
Os símbolos da
fé revigorada
Ofuscar os sentidos. Afirmar o esplen-
dor divino. Conquistar a alma e a imagina-
ção com a exuberância da fé. Maravilhar.
Extasiar. Ao recomendar novas diretri-
zes estéticas à Arte, os cardeais reuni-
dos na última sessão do 19° Concílio
Ecumênico da Igreja Católica Romana,
em 1563, na cidade de Trento, na Itália,
não estavam brincando. O Vaticano precisa-
va reagir à expansão da Reforma protestante
na Europa, iniciada por Lutero, na Alemanha, em
1517. O barroco - termo derivado da palavra espa-
nhola barueco, que significa pérola irregular - foi
um dos principais instrumentos de propaganda do
movimento da Contra-Reforma. Não por acaso, um
dos primeiros edifícios com decoração nesse estilo
foi a Igreja de Jesus, em Roma, de 1575, construida
para sediar a Companhia de Jesus, a ordem dos je-
suítas, fundada para combater o protestantismo.
"A Igreja queria parecer moderna e não ultra-
passada", explicou à SUPER o historiador Carlos
José Aparecido, da Fundação do Museu de Arte Sa-
cra de Ouro Preto, em Minas Gerais. "A pompa e a
exuberância barrocas quebravam a línearídade e a
rigidez dos estilos vigentes, o renascentísta, har-
mônico e equilibrado, e o maneirista, superficial e
artífícíoso. E impressionavam." Daí o seu apego à
curva, ao movimento, ao drama, à decoração feérí-
ca e, paradoxalmente - em se tratando de uma ar-
te religiosa -, à sensualidade.
ANJINHOS
Os anjos meninos eram
símbolos do amor divino
ATlANTESE
CARIÁTIDES
Figuras míticas
da Antigüidade,
atlantes (homens) e
cariátides (mulheres),
serviam como suporteS
de colunas
FLORES
São representações da
beleza da alma e da
fugacidade das coisas
©2
O barroco foi uma reafirmação do
poder da fé. Diante do protestantismo,
que pregava austeridade e rigidez, o catolicismo rea-
giu alardeando a exaltação mística e o delírio dos sen-
tidos. A vítóría da emoção sobre a razão.
Atraso luso
O Concílio de Trento e suas idéias estéticas aju-
daram os reis católicos a impor seu poder sobre os
nobres locais e a consolidar as monarquias absolutas.
Por isso, no século XVII,o período barroco por exce-
lência na Europa, surgiram palácios monumentais e
hiperdecorados, como o de Versailles (1655), na
França, reafirmando a grandeza do Estado.
Mas Portugal já estava em decadência quando o
barroco surgiu. Perdera importantes entrepostos co-
merciais e, em 1580, o próprio rei, d. Sebastião, morna
em batalha, no Marrocos, sem deixar herdeiros. A tra-
gédia redundou em outra, maior, quando as complica-
ções dinásticas levaram à anexação das terras lusita-
nas pela Espanha. "Esse período, de 1580 a 1640", de-
fine o historiador Nicolau Sevcenko, professor de His-
tória Contemporânea na Universidade de São Paulo,
"constitui o maior pesadelo da história portuguesa."
A perda de poder político e financeiro refletiu-se
na cultura. É a época da "arte chã", que, na Arquite-
tura, produziu igrejas singelas, com torres quase co-
mo guaritas e interiores ornamentados em madeira
talhada. "Uma vez que não havia mármore ou pedras
nobres, como nos países ricos", explica Vitor Sertão,
"a solução foi trabalhar com azulejo, madeira e pai-
néis pintados". Só em 1640, com a reconquista da in-
dependência, o barroco português deslanchou, com
quase um século de atraso.
CONCHAS
Conchas de vieira e
coquil/es de saint-jacques.
pregadas no peito.
identificavam os peregrinos
que iam ao santuário de
Santiago de Compostela,
na Espanha. no século XI
ESPINHOS
Os emaranhados ásperos
lembravam a consciência
da dor do pecado
PALMAS
Osfeixes de folhas sugeriam o
triunfo de Jesus sobre o martírio
lil
Período
nacional
português
(1700 -1730)
Os três ciclos do
barroco colonial
No Brasil, a ascensão do novo gênero artístico acom-
panhou a descoberta do ouro em Minas - a primeira
corrida do ouro do Ocidente. Em cinqüenta anos, 600 000
portugueses emigraram para cá. Desses, calcula o histo-
riador Jaelson Brítan Trindade, do Instituto do Patrimô-
nio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) , de São Paulo,
"pelo menos 800 eram artistas".
No final do século XVII,descontados os índios, a po-
pulação brasileira de origem européia contava 40 000 ha-
bitantes. _TO fim do século XVIII,pulou para 1,5 milhão.
Nas cidades litorâneas, sob maior influência da metrópo-
le, o barroco foi mais português. Já no interior de Minas,
isolado pela distância e pela precariedade das comunica-
ções, ganharia cada vez mais característícas próprías.
Um século de evolução
Quando surgiu, em Salvador e em Recife, o estilo
mudou o interior das igrejas, não o exterior. Nesse pe-
ríodo inaugural, chamado de nacional português, as fa-
chadas e plantas continuam retilíneas, mas, por dentro,
os templos viraram suntuosas "cavernas douradas",
com paredes e tetos inteiramente revestidos de madei-
ra esculpida em alto ou baixo-relevo (a talha), e pintu-
ras encaixadas em molduras (os caixotões). Os painéis
que ficam atrás e acima do altar (os retábulos) apresen-
tam colunas torcidas e decoração profusa. É o caso da
Capela Dourada (1695), em Recife, da Igreja de São
Francisco de Assis (1703), em Salvador, e da capela de
o retábulo do altar. esculpido
em madeira. formava uma
verdadeira caverna dourada
Todos os espaços disponíveis
em paredes e tetos eram
profusamente decorados.
Nossa Senhora do , em Sabará (1719), Minas Gerais.
A partir de 1730, nota-se uma mudança. É o períod
joanino, marcado pela gosto italiano do rei português, <f
João V.As estátuas se integram à madeira dos retábulo
e os caíxotões desaparecem, substituídos por pintur
ilusionistas (que provocam ilusão de óptica), recobrind
o teto. A arquitetura adota linhas curvas, naves alonga-
das e torres circulares, como nas igrejas de Nossa Senho-
ra da Conceição da Praia (1758), em Salvador, Nossa Se-
nhora do Pilar (1734) e Nossa Senhora do Rosán
(1750), ambas em Ouro Preto.
Outras mudanças cristalizam-se a partir de 1760,com
o ciclo rococó. Aí,as fachadas tornam-se mais leves e au-
daciosas, com curvas e contra-curvas, elegantes torres
redondas e portadas com relevo de pedra-sabão. Os am-
bientes são claros e arejados, e a luz natural enfatiza aor-
namentação sobre fundos caiados de branco. Ostemplos
projetados por Aleijadinho, como a Igreja de Nossa Se-
nhora do Carmo (1766), em Ouro Preto, e a de São Fran-
cisco de Assis (1774), em São João del Rey, são obras-
primas da época. "O interior dessas igrejas", diz Myriam
Ribeiro de Oliveira, professora de História da Arte na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, "são verdadei-
ros poemas sinfônicos de luz e de cor".
orsa
Pintura ilusionista
sugerindo o céu
infinito no teto
da Igreja de Nossa
Senhora da Conceição
da Praia, em Salvador
dossel
nicho
Período
joanino
(1730 -7760)
©1
o retábulo da Igreja de
N. Senhora do Rosário,
de Ouro Preto, ressalta
a ornamentação
das esculturas.
Período
rococó
(7760 -7800)
o retábulo da Igreja de São
Francisco, em São João Dei
Rey, sobre fundo branco
O estilo rococó aliviava
o exagero ornamental
e proporcionava maior
moderação arquitetõnica.
A Igreja de
São Francisco.
em São João
dei Rey, com
torres redondas
e fachada
trabalhada
sineira
, I
oímã do ouro tornou Minas a capítanía mais populo-
sa do Brasil. De 1711 a 1730, começando por Ouro Preto
brotaram nove vilas na Serra do Espinhaço - e Sã
João DeI Rey, no sul, a Sabará, no norte. No fim do sécu-
lo XVITI, a região já tinha 500 000 habitantes. Para se ~eJ
uma idéia, em 1762,oRiotinha apenas 30 000 habítant ;
Salvador, em 1797, 50000; e VilaRica, 100000. our
criou um mercado interno para o gado do Sul, f e
açúcar do Nordeste e escravos do Rio. Com a abertuiade
Caminho Novo das Gerais, em 1715, os tropeiros pa
ram a viajar entre o Rio e VIlaRica em "apenas" doze dias.
Acivilizaçãoque levou o barroco brasileiro ao apogeu
era aventureira e precária, A Coroa confiscava um quinto
do ouro extraído e, por isso, o contrabando era crônico.
Os costumes eram promíscuos e as leis, pouco respeita-
das. A falta de mulheres tornava a prostituição rendosa.
Até os padres envolviam-se em escândalos sexuais.
Para controlar a expansão da Igreja nessa região tão
rica, a Coroa proibiu a instalação elas Ordens Primeiras
(de frades e monges) e Segundas (de freiras), em 1738.
"Em conseqüência", explica Ana Maria Monteiro de
Carvalho, professora de História da Arte na Universidade
Católica eloRio, "proliferaram as Ordens Terceiras, as Ir-
mandades e as Confrarias que congregavam leigos. Foi a
devoção laica que encheu Minas de obras barrocas."
Cada corporação de ofício tinha a sua Ordem. Havia
irmandades ele elite e populares. A Orelem Terceira de
São Franciso de Assis de VIlaRica, por exemplo, proibia
"mulatos, negros, judeus, mouros e heréticos ou seus
descendentes até a quarta geração". A Ordem Terceira
do Rosário dos Pretos congregava escravos. Cada uma ti-
nha seu santo, suas festas e construía sua igreja exclusi-
va, competindo com as outras em prestígio. Para o devo-
to, o prêmio era ser enterrado pela confraria - garantin-
do o céu após a morte.
lombo das mulas, foi tróca por paír is pin dos. Ape-
dra-sabão substituiu o ármore e a perua de lioz. As
igrejas e capelas tornaram-se menores, já que eram
construídas para atender a uma só confraria.
Aos poucos, na medida em que tiveram filhos com
escravas, os artistas portugueses repassaram as técnicas
a artesãos mestiços. Foi o mestre-de-obras Manuel
Francisco Lisboa, branco e português, que formou Antô-
nio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, seu filho.
Em 1790, os artistas mulatos e livres já predornina-
vam nos cargos de "oficial"e de "mestre". Asintonia com
a terra e a cultura artística local filtrava a reinterpreta-
ção dos modelos europeus. As paredes curvas se mistu-
raram às retas. As cores avivaram-se com a luz dos trópi-
cos. Os santos ganharam feições amulatadas. E os anji-
nhos morenos receberam viçosas perucas loiras.
óculos
frontão
Síntese original
Impulsionado pelo ouro e pela multiplicação de igre-
jas, o barroco português aos poucos adquiriu traços bra-
sileiros. Oazuleja, que não suportava a subida da serra no
I1
ri ©3
Ouro Preto foi tombada pelas Nações Unidas em 1980,
Fundada em 1698.tem 25 igrejas do século XVIII preservadas
CORTE LATERAL
11Il
39 metros
I VISTA POR DENTRO
arco-cruzeironave
sacristiacoro
altar
(I J
retábulo
PLANTA BAIXA
capela-mor retábulopúlpito
15 metros
Obra-prima da
arte mineira
Conheça as características da
Igreja de São Francisco de Assis.
De 1766 a 1794, a Ordem Terceira de
São Francisco de Assis da Penitência,
que congregava muitos intelectuais
de Vila Rica, pagou os melhores
artistas para construir seu templo.
O projeto arquitetõnico, o altar-mór, o
retábulo, os púlpitos e os frontões da
fachada foram feitos por Aleijadinho.
Sete entalhadores esculpiram a
madeira. O mestre-de-obras foi
Domingos Moreira de Oliveira, o
melhor da época. A pintura do teto é
de autoria de Manoel da Costa Ataíde,
um dos grandes artistas da região.
TOQUE DE GÊNIO
A talha do Aleijadinho extravasa do
retábulo e se expande pela cúpula e
pelas paredes laterais
DETALHE SUTIL
Apesar do arredondamento
dos ângulos. as paredes laterais
da nave não são curvilíneas
Sotaque brasileiro,
gramática portuguesa
Formalmente, o barroco termina em 1816, com a
chegada da Missão Artística Francesa e do estilo neo-
clássico, em voga na Europa, ao Rio. Mas, para muitos, a
influência barroca não acabou ai. "O Brasil nasceu sob
signo barroco", disse à SUPER o hístoríador Nicolau
Sevcenko, da Universidade de São Paulo. "Afisionomia
e alma brasileiras foram compostas por esse sopro lTÚS-
tico. Ele não foi um estilo passageiro, mas a substância
básica da síntese cultural do país." Para Sevcenko, há
marcas "latentemente barrocas" na identidade brasilei-
ra, no catolicismo popular em especial, como "extremos
de fé, ilusão de grandeza, exaltação dos sentidos, êxtase
de festa, pendor pelo monumental, convivência com dis-
paridades e compulsão de esperança".
Essa associação do barroco à identidade nacional
surgiu há cinqüenta anos com escritores como OlavoBi-
lac (1865-1918) e Mário de Andrade (1893-1945). Ado-
tada pelo Serviço do Patrímônío Histórico e Artístico,
fundado em 1937, a tese inspirou pesquisadores como
GermainBazin (1901-1990), Lúcio Costa (1902-1998) e
o diretor da Pinacoteca Municipal de São Paulo, Ema-
noel Araújo, que defende "a existência de uma estética
própria do barroco brasileiro, a despeito de raízes e mes-
tres portugueses". Para Araújo, obarroco brasileiro car-
rega "a tropicalidade, a permissividade e a sensualidade
da miscigenação das culturas. Aqui, as ordens religiosas
incorporaram o negro e o índio", ressalta. "Era a Igreja
que promovia a festa.negra do Rei do Congo."
o regional e o universal
Mas se formou a identidade brasileira, o estilo tam-
bém formou a dos outros países latíno-arnerícanos, que
reinterpretaram o barroco espanhol. "Lá, muito mais",
ressalta Myríam Ribeiro de Oliveira, "pois as civilizações
pré-colombianas da América espanhola tinham mais
tradição cultural e poder de reelaboração do que as cul-
turas indígenas brasileiras. Na verdade, o barroco brasi-
leiro é o mais europeu da América. No México, no Peru
e na Bolíviahá mais sincretismo do que aqui." Para a es-
I
I
! I
pecialista, a genialidade do Aleijadinho não caiu do céu.
"As fontes e modelos que ele usou chegavam de gravu-
ras e livros vindos de Lisboa, Paris, Antuérpia e Roma.
Ele conjugava muitas influências." De Lisboa, Vitor Ser-
rão reitera: "Por mais genial que a talha do Aleijadinho
seja, a gramática era portuguesa".
Há controvérsia, também, sobre a idéia de nacionali-
dade. Para o pesquisador Jorge Coli,professor de Histó-
ria da Arte e da Cultura na Uníversídade Estadual de
Campinas, "a identidade é um processo: com o tempo, o
que parecia essencial revela-se aparente". Colidesconfia
da herança "genética" do barroco. Para ele, "o barroco
foi universal, com muitos sotaques e acentos regionais".
Ainda parece faltar uma análise que ilumine a fusão
da influência universal com a local, como sugere Myriam
Ribeiro: "Falta uma síntese que una a tradição européia
das igrejas mineiras com a sua incontestável originalida-
de". Só assim será possível entender o sorriso maroto do
anjinho mulato com peruca loira. ~
PARA SABER MAIS
o Universo Mágico do Barroco Brasileiro. Emanoel Araújo (org.).
São Paulo, Serviço Social da Indústria, 1998.
A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Germain Bazin.
Rio de Janeiro, Record, 1983.
Painéis de
retábulo, do
carioca Mestre
Valentimda
Fonseca e Silva.
11750-1813)
otorturado Cristo na
Coluna, do baiano
Francisco das
Chagas, "O Cabra",
(século XVIII)
Uma ousada cariátide
desnuda, em pleno
século XVII, da
Arquidiocese de São
Salvador,na 8ahia
Cômoda..papeleira,.de
jacarandá, de Minas
Gerais, do século XVIII
Os primeiros gênios
Aleijadinho (1730-1814)
Antônio FranciscoLisboa era um artista famoso em Vila Rica,
que gostava de U mesa farta U e U danças vulgaresU r segundo seu
biográfo. Mas, aos 40 anos, pegou lepra. Tornou-se amargurado e
recluso. Com um cinzel amarrado no punho, fez obras-primas como
o santuário de Bom Jesusde Matozinhos, em Congonhas (MG).
Padre Antonio Vieira (1608-1697)
Jesuíta,veio para o Brasilcom 18 anos. Na Bahia, pregou contra
as invasões holandesas. Em Lisboa, foi diplomata e amigo do rei
d. João IV.No Maranhão, defendeu os índios contra a escravização.
De volta à Europa, virou confessor da rainha da Suécia. Escreveu
Os Sermões, monumento da literatura portuguesa.
Gregório de Matos (1633-1696)
Escritor baiano, filho de senhor de engenho português. Estudou em
Coirnbra, foi juiz em Portugal e tesoureiro do Arcebispado da Bahia.
Abandonou a advocacia e virou poeta, famoso pela sátira e pelo
erotismo. Seu livro Boca do Inferno valeu-lhe a deportação para Angola.
Morreu em Pernarnbuco, impedido de voltar à Bahia. .
Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830)
Músico e compositor carioca. Escreveupeças para canto baseadas
em harmonia seqüencial (a repetição da frase em outro tom). Tocava
em igrejas e na Corte. Até o século XIX não se imprimia música no
Brasil.As partituras eram importadas ou copiadas à mão. Até hoje,
foram descobertas apenas 100 peças do período colonial brasileiro.
83658015 superinteressante-agosto-1998
Novas leis de proteção
ambiental asseguram
a sobrevivência dos
animais das Galápagos,
onde o inglês Charles
Darwin buscou
inspiração para escrever
a Teoria da Evolução.
POR FLÁvIo DIEGUEZ
V
isitar Galápagos é, até certo
ponto, como fazer uma via-
gem a outro planeta. Pri-
meiro, porque é um mundo novo.
Af:, ilhas foram criadas por erup-
ções vulcânicas submarinas há
apenas quatro milhões de anos-
um tempo muito curto, em termos
geológicos. Em segundo lugar, elas
abrigam animais que evoluíram só
lá, em mais nenhum lugar da Terra.
Das 5 000 espécies, quase 2 000
constituem uma fauna exclusiva,
que provoca a admiração dos turis-
tas e dos pesquisadores. O prímeíro
a perceber isso foi o criador da Teo-
ria da Evolução, o inglês Charles
Darwin (1809-1882). Em 1835,
Darwín estudou os habitantes do lu-
gar, concluindo que, há milhões de
anos, espécies do continente teriam
migrado para as ilhas recém-forma-
das. Então, ao se readaptar num
ambiente isolado e tranqüilo, a fau-
na migrante gerou espécies novas,
que não se desenvolveriam em ne-
nhuma outra parte. Daí a importân-
cia das leis editadas agora pelo go-
verno do Equador, que tem a sobe-
rania sobre essa região. Elas asse-
guram que esse mundo fantástico,
perdido no Pacífico, poderá conti-
nuar a evoluir sem ser perturbado.
© 1GAMMA / NASA / LlAISDN 2 Diego Rueda
UGAR SUPERINTERESSANTE
CAMPEÃO VEGETAL
O arbusto chamado paio santo
está em toda parte. Um herói. Brota
no solo pobre que se criou sobre
a lava desde a formação das ilhas
Direto das
profundezas
do planeta
o Arquipélago de Galápagos é
um dos lugares mais jovens do pla-
neta, com mais ou menos quatro
milhões de anos de existência.
Brotou direto do fundo do mar,
num período em que o leito oceâ-
nico foi sacudido por erupções
particularmente violentas. Os vul-
cões cresceram até despontar aci-
ma da superfície e, com o tempo,
se acalmaram, transformando-se
em ilhas. Até hoje, as ilhas mais jo-
vens, como Fernandina e Isabela,
com cerca de um milhão de anos,
têm vulcões ativos. O motivo é que
o arquipélago fica bem na divisa de
duas massas rochosas gigantes,
chamadas de Placa do Pacífico e .
Placa de Nazca. Entre as placas há
uma fenda por onde sobe lava ar-
dente do interior do planeta. Foram
esses vazamentos que produziram
os vulcões, há cerca de quatro mi-
lhões de anos. E eles continuam a
gerar calor. Mas, agora, seu princi-
pal efeito é empurrar a Placa de
Fogo cercado de mar por todos os lados
As Galápagos nasceram das lavas
lançadas por vulcões submarinos.
Oito deles são ativos ainda.
No meio do
Oceano Pacífico
há uma fenda no
subsolo marinho, por
onde escapa lava do
interior do planeta. Foram
elas que formaram as ilhas,
há quatro mihões de anos.
42 SUPER AGOSTO 1998
ALMOÇO COLORIDO
Caranguejos são essenciais na
cadeia ecológica. Abundantes.
são um dos pratos principais dos
vários iguanas adaptados às ilhas
Nazca, sobre a qual ficam as ilhas,
na direção do continente america-
no. Aí, a massa bate na Placa da
América do Sul, que a vai engolindo
lentamente. Estima-se que, dentro
de vinte milhões de anos, o arqui-
pélago vai mergulhar inteiro de vol-
ta para os subterrâneos do planeta,
de onde saiu.
A área total
das oito ilhas
grandes e cinco
menores é de
8 000 quilõmetros
quadrados, equivalente
a 1,5 vez o tamanho
do Distrito Federal.
© Fotos: Oiego Rueda Infográfico: Newton Verlangieri
VISITANTESAssíDUOS
Leões-marinhos
(à esquerda) não são
moradores fixos, mas
aparecem para pescar
os peixes cirujanos
(no detalhe), que são
fartos no arquipélago
NAVEGANTESDEALTOMAR
As ilhas são um dos poucos
lugares onde as tartarugas-
verdes ainda podem pôr
ovos com segurança e
tranqüilidade. Grandes
nadadoras, entre uma
desova e outra elas
passeiam por vastas
áreas do Pacífico
RÉPTEISEM FAMíUA
Os iguanas são todos
descendentes de um
mesmo bicho, que é o
iguana da América do Sul.
Só que, depois de migrar
para as ilhas, o réptil
original evoluiu e gerou
nove espécies diferentes.
Cinco se adaptaram
à terra e quatro ao mar,
como os desta foto
A G O 5 T O 1 9 9 8 SUPER 43
LUGAR SUPERINTERESSANTE
PESCADORAS EXCLUSIVAS
As garças-azuis são parentes
próximas das que moram nas
Américas do Norte e do Sul. As
migrantes originais geraram uma
subespécie que só pesca nas ilhas
Um mundo
feito de bichos
desgarrados
Depois que o choque das pla-
cas tectônicas levantou as primei-
ras ilhas, elas começaram a rece-
ber migrantes vindos do continen-
te americano. Os pássaros, os in-
setos e as sementes das plantas
devem ter sido arrastados pelo
vento. Já os iguanas e as tartaru-
gas podem ter sido transportados
por correntes marinhas, flutuando
em troncos perdidos. Apanhados
de surpresa pela cheia de um rio,
teriam terminado no mar. Aí, uma
vez nas ilhas, essa fauna perdida
se readaptou com rapidez. Alguns
biólogos estimam que os pássaros
chamados tentilhões de Darwin
evoluíram em apenas 100 000
anos. Éuma mudança bem rápida,
em termos evolutivos. Ainda mais
porque, a partír de um único ances-
tral vindo do continente, surgiram
nada menos que treze espécies no-
vas. E algumas metamorfoses foram
radicais, como a dos iguanas. Uma
das espécies das Galápagos é hoje a
PREDADORES DO AR
As corujas se deram bem nos hábitats
oceânicos. Como não há grandes
mamíferos com que concorrer na caça,
essas caçadoras carnívoras dividem o
posto de predadores máximos com os
iguanas terrestres
única do mundo capaz de procurar
comida no mar, em mergulhos de
até 40 metros o de profundidade.
Gostaram tanto do novo estilo de
sobrevivência que sua população
atual está estimada em 200 000 a
300 000 répteis.
De acordo com as circunstâncias
Os bichos migrantes se adaptaram ao ambiente
das Galápagos criando novas espécies.
o tentilhão vindo
das Américas deu
origem a treze
espécies novas.
Uma delas tem o
bico próprio para
catar sementes ...
As tartarugas que
comem capinrmantiveram
a cabeça baixa
As que devoram plantas
mais altas espicharam
o pescoço
o •• outra,
para colher
frutos ...
... e uma
terceira, para
caçar insetos.
Das nove espécies
de iguana, cinco são terrestres... ... e quatro são marinhas.
44 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 8
© Fotos: Oiego Rueda Infográfico: Newton Verlanqieri
NO REINO DOS CÉUS
Estas. sim. são aves raras.
Espécies como a gaivota
cola de golondrina (no
detalhe) são exclusividade
em Galápagos. Também
é exclusivo o mergulhão.
que faz um sapateado de
casamento para atrair a fêmea
ARTESÃO ALADO
Uma das treze espécies
de tentilhões aprendeu
a manipular espinhos de
cactus com o bico. É como
se o pássaro fizesse um
instrumento. com o qual
cutuca troncos podres e
arranca larvas para comer
AR QUENTE E ÁGUA FRIA
Até o pingüim (esquerda)
se adaptou às condições
climáticas. por causa das
correntes frias que sobem
da Antártida. A calandria
(ao lado) mudou tanto em
relação a seus parentes do
continente que passou
para outro gênero. Existem
quatro espécies diferentes
vivendo em ilhas distintas
AGOSTO 1998 SUPER 45
. - - - - . --- ----.. ..•
LUGAR SUPERINTERESSANTE
SíMBOLO LERDO
Galápagos significa "tartarugas", em
espanhol, e dá nome a essas gigantes,
que são um símbolo das ilhas. Elas
chegam aos 270 quilos e a 1,5 metro de
ponta a ponta (passando sobre o casco).
Sua digestão demora três semanas
Dos incas e
piratas aos
imigrantes
Não é possível ter certeza de
quanto tempo as Galápagos evoluí-
ram isoladas da intromissão huma-
na. O registro histórico assinala que
a primeira viagem às ilhas foi feita
pelos espanhóis, no século XVI,sob
a orientação do inca Tupac Yupan-
qui, avô do célebre Atahualpa Yu-
panqui, um grande líder desse povo,
no Peru. O fato é que, nessa época e
nos séculos seguintes, a região per-
maneceu deserta. No máximo, ser-
viu como esconderijo de grandes pi-
ratas, no século XVII.E depois co-
mo posto de reabastecimento para
caçadores de baleias (que, por sinal,
capturaram um número incalculá-
vel de tartarugas para alimentar a
tripulação). Ainda assim, a ocupa-
ção humana só começou para valer
no início deste século. Daí para a
frente, a presença humana tornou-
se uma ameaça para as Galápagos,
que já abrigam 15 000 habitantes.
Tanto é assim que esse foi o ponto
mais importante das leis aprovadas
ROEDORESPENETRAS
Os ratos entraram nas ilhas
de contrabando, escondidos
nas embarcações. Proliferaram
muito, alterando em parte o
ecossistema natural. Mas, até
onde se saiba, não representam
uma interferência significativa
este ano: elas agora proíbem a mi-
gração, numa tentativa extrema de
evitar o povoamento desordenado
das ilhas. Os cientistas agradecem,
pois ainda estão longe de aprender
tudo o que a natureza tem para lhes
ensinar em Galápagos.
Um paraíso longe do mundo
As Galápagos permaneceram em isolamento quase completo até o início do século XX.
SÉCULO XVI
Colonizadores espanhóis
tornam-se os primeiros
europeus a pisar em
Galápagos.
1832
O Equador toma posse
do território e estabelece
a primeira colônia
.permanente.
SÉCULO XVII
No meio do mar, as ilhas
servem de esconderijo
ideal para os piratas.
1835
Charles Darwin chega
em setembro e passa cinco
semanas estudando
a fauna do lugar.
SÉCULO XVIII
Caçadores de baleias
tiram proveito da fauna
excepcional para se
reabastecer de carne.
Nas ilhas, Darwin encontrou
argumentos para defender
a Teoria da Evolução
46 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8
1959
O governo do Equador
resolve transformar as
ilhas em parque nacional.
1979
A Organização das Nações
Unidas declara Galápagos
um patrimônio da
humanidade.
1998
Novas leis de proteção
proíbem a pesca comercial
e limitam a entrada
de novos colonizadores.
© 1GAMMA / LAURENTBILlARO 2 Oiego Rueda 3 AE·Person
ESPORTE
48
A
bre-se a porteira. O touro
escapa feito um dragão en-
furecido, corcoveando e sol-
tando baforadas pelas ventas. So-
bre seu lombo, o homem se segura
como pode, um braço levantado, a
respiração presa, as esporas sem
ponta batendo nos flancos do ani-
mal. Durante 8 segundos, o público
vibra numa torcida unânime para o
representante da espécie humana .
.Até que toca a sirene: peão e rnon-
..ma se separam. Como o peão não
-,espatifou na arena, a audiência
, .a o herói, sem pensar na po-
.ecoluna do boiadeiro nem no ín-
.ot:o:modo que o animal possa estar
:;J:.:sentindo com a cinta de lã que lhe
. -. aperta o ventre. Isso não importa.
.; O que interessa é o show.
A cena acima se repete com
. freqüência cada vez maior no inte-
rior do Brasil. Segundo a Federa-
ção Nacional do Rodeio Completo,
as 1200 competições realizadas no
Brasil no ano passado reuniram
24 milhões de espectadores - se-
te vezes mais que os jogos do Cam-
peonato Brasileiro de Futebol de
1997. E entre os dias 21 e 30 deste
mês o festival continua: em Barre-
tos, interior de São Paulo, aconte-
ce a Festa do Peão de Boíadeíro, a
maior do país, que vai ter um mi-
lhão de adeptos do estilo countru
acompanhando aos gritos o duelo
entre homens e bichos. Apeie nas
páginas seguintes para ver e en-
tender, em detalhe, esse espetácu-
lo que reúne habilidade, coragem,
poeira e muita adrenalina.
A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 49
ESPORTE
Prova de resistência
Como em toda prova de montaria,
o peão tem que se manter 8 segundos
sobre o animal. Só assim ele ganha uma
nota, que varia de Oa 100 - a soma dos
pontos dados pelos dois juizes. Quanto
mais o touro corcovear e o
peão esporear, maior a nota.
o sedém é uma tira feita
de lã ou de rabo do cavalo.
Atado à virilha do bicho,
estimula os pulos.
Com uma luva, o peão
segura a corda americana
(de náilon ou rami, uma
fibra vegetal), presa
no touro.
É proibido fixar
as esporas
na corda que
envolve o corpo
do bicho,
Para não ferir, a
espora não tem
pontas nem gira
quando é esfregada
no animal.
o colete é
fundamental porque
protege o tronco do
peão ao descer ou cair.
50 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 8 © 1 Alceu Chiesorin Nunes
Botando pra quebrar
Um estudo do preparador físico Denilson
Santiago, da Federação Nacional do
Rodeio, mostra que são freqüentes as
distensões enquanto o peão está montado,
e as torções e fraturas quando ele cai.
Tipos de acidentes mais freqüentes:
fratura
torção
distensão muscular 14%
É preciso muita força e agili a e para
dominar o touro, que pode ser quinze
vezes mais pesado que o peão.
os
Raças: nelore, holandês, caracu, red buli
Peso: de 600 a 1 100 quilos
Comprimento: 2,3 metros
Altura: 1,6 metro
Cada pulo do animal é sentido
pela coluna do peão como se ele
tivesse caído sentado no chão.
A repetição dos impactos
ressiona os discos elatinosos
que separam as vértebras,
principalmente as da região
lombar. Por isso, é comum
ele ter hérnia de disco.
Ao final da prova,
o peão escolhe o
melhor momento
para pular fora.
o peão-palhaço
é também chamado
de salva-vidas. Fica na
frente do touro, distraindo
o animal depois que
o peão desmonta.
Isso é que é herói.
.•••
E O bicho,
o.que pensa?
"Os homens se
divertem às custas do
sofrimento do animal",
afirma a veterinária lrvênia
de Santis Prada, da
Universidade de São
Paulo. "Além da dor física,
eu estou convencida de
que o barulho, as luzes,
e as cordas causam
estresse." O ponto mais
polêmico é o sedém,
a faixa amarrada perto
da virilha Elotouro
e do cavalo para
fazê-Ios pular.
Mas, segundo
um laudo da
Universidade
Estadual
Paulista (Unespl.
a amarra não causa
lesão alguma. © 1
Só que, para lrvênia,
mesmo sem machucados
aparentes é impossível
provar que o bicho não
sinta dor. De acordo com
ela, o sistema neNOSO
dos bovinos e dos eqüinos
é parecido com o humano.
E um homem, com uma
faixa espremendo o
baixo-ventre, ficaria
bem incomodado.
Os organizadores dos
rodeios se defendem:
"Nenhum dono de tropa
quer que seu animal
sofra e, sim, que
permaneça saudável",
raciocina Flávio Silva Filho,
presidente do grupo
Os Independentes,
que organiza a festa de
Barretos. Para ele, o touro
e o cavalo pulam porque
o sedém incomoda um
pouco, como se fosse
um relógio de pulso
apertado demais.
"Com certeza, esses
bichos são mais
bem tratados
do que os que
não participam
de competições",
. garante Plávio .
.( , A G o-s'ro 1998 SUPER 51
ESPORTE
Cavalo na mira
Contando os pontos
...-
No cutiano, o peão também precisa ficar
em cima do cavalo por 8 segundos.
Mas o que conta ponto são as esporeadas
que ele dá no animal. Cada um dos três
juizes da prova dá notas de O a 100,
avaliando a montaria e o cavaleiro.
A nota intermediária é a que vale .
As esporasllão c "M"
têm ponta. Mas. .'
ao cootr.ário .•.
das usadas na
montaria em boi.
elas giram.
Peão a cavalo
A mão de apoio
segura as rédeas,
formadas por duas
tiras de corda de sisal.
Os pés apoiados nos
estribos ajudam a ••
manter o equilíbrio.
É usado o mesmo
tipo de sedém do
bul/riding, preso na
virilha do animal.
O arreio é de
couro, tipicamente
brasileiro.
52 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 8 © llvonete D. Lucfrio .'
,
.
o jeito americano
Sela
Também chamada de saddle bronc,
é-a modalidade mais antiga nos
Estados Unidos. O peão se apóia
nos estribos, senta sobre uma sela
e se segura num cabo de 1,20 rnetro
de comprimento. sela
No velho Oeste
ele nasceu
O rodeio surgiu nas
fazendas, como atividade
de exibição e disputa
entre os trabalhadores
depois da lida. Foi assim
no Oeste americano, em
1867, GOm os cowboys,
que passavam o.tempo
livre brincando de
montaria e laço. Foi
assim também em
Barretes, no interior de
5,ªo Paulo, cuja atividade
econômica principal
é a agropecuária.
O primeiro registro de
rodeios na cidade é de
19S§. Enquanto o gado
era levado das fazendas
para os frigoríficos,
os peões competiam
entre si "para sair da
rotina", conta Flávio Silva
Filho, do grupo
Os Independentes. No
começo, as competições
eram realizadas
em circos
improvisados,
e o cutiano
era a prova
da moda.
Só nos anos
80 é que a coisa
pegou fogo. Regras e
estilos foram copiados do
rodeio americano e
descobriu-se um filão
comercial. Caipira
virou country,
peão virou
cowboy.
Mas, para
quem acha
que o rodeio daqui
é igual ao ianque, um
lembrete: "Os brasileiros
parecem se divertir muito
mais que os americanos",
diz Jerry Beagley, um
CQwboy do Kansas que
presta consultoria aos
rodeios brasileiros.
Menor e mais leve do que o
. touro, o cavalo se agita com vigor na arena.
Raças: árabe, crioulo, manga-larga
e quarto-de-milha
Peso; 400 quilos
Comprimento; 2,3 metros
Altura: 1,6 metro
Bareback
É o teste que exige maior
preparo físico. Sem estribos,
o único apoio é uma pequena
alça, onde o peão se .segura.
Sobre uma sela pequena,
fica quase deitado nas
costas do cavalo.
Mesmo sem apoio
sob os pés, o
cavaleiro não
•. pode parar de
esporear
';
A G O S T O 1 998 SUPER 53
barrigueira
É preciso manter
um braço no ar,
sem encostar em
nenhuma parte
do animal.
Ao final da prova, um
personagem chamado
madrinheiro salva o
cavaleiro. É ele
também quem retira o
sedém do cavalo.
ESPORTE
A presa ao lado do predador
Laçador e bezerro ficam em cercados separados.
Ganha o mais rápido
Três juízes cronometram o tempo da
prova. Vale a marcação intermediária e
ela não pode ser maior que 2 minutos.
Se o laçador sair do box antes do bezerro,
é penalizado com 5 segundos a mais
na contagem do tempo final.
o laçador começa a
perseguir o bezerro,
com três ou quatro
meses de idade,
assim que atravessa
a porteira.
O peão laça a
cabeça do animal,
que no mesmo
instante é puxado
para trás e pára
de correr.
Com outra corda,
carregada na
boca,olaçador
amarra três patas
do bezerro.
O peão desce
rapidamente do
cavalo e levanta
o bicho até a
• _ âlturã d1tcintura .
-- "
•..
•
Dois contra um, em sintonia fina
Em dupla, no team ropíng, o que vale é a cooperação entre os peões.
A modalidade nasceu
com os americanos, que
precisavam laçar bois
adultos. Como a missão
era difícil para um homem
só, trabaíhava-se em dupla.
Na prova, é usado um boi
jovem, mas de uma
raça que tenha
chifres, com média . .'
de 2 anos e peso ...~
de 90 a 150 quilos.
3Estaé a posição final, com
os laçadores de frente um
para o outro e as cordas
que prendem o boi,
esticadas.
2O peseiro, que
deve laçar
os"s
traseiros do
animal,sai
logo após o
cabeceiro.
peseiro
Com sotaque
americano, uai
A indumentâria é
de cowboy: calça jeans
importada, chapéu
made in Iexss, e fivela~=----,
com a inscrição
Champion Bullriding.
Mas por dentro
da roupa, o
peão é bem
brasileiro.
Rogério
Ferreira,
campeão de
montaria em
touro, que compete
no circuito de Las
Vegas, Estados Unidos,
nasceu em São João das
Duas Pontas, interior de
São Paulo. Mal sabe
falar inglês. Ele é um
exemplo do rninqau de
culturas que embala o
rodeio no Brasil. "A
Festa do Peão é um
evento mundial",
analisa a antropóloga
Maria Celeste Mira, da
Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo,
que está trabalhando
em uma tese sobre
rodeio. Essafesta tem,
sim, características
do rodeio americano,
"mas isso não tira
a brasilidade das
nossas competições",
diz ela. A cultura local
aparece nas tradicionais
modas de viola
sertanejas, na
religíosidade, no uso do
berrante e nas comidas
típicas. Entretanto, o
know-howamericano
entra de novo nas
estratégias de
marketing para a venda
de COs, roupas de grife
e acessórios,
importados
ou não.
- .~
'.. 1OcalNtc:!iro éo
I~or que deve
pegar a cabeça. Ele é
o primeiro a sair em
disparada atrás do boi.
Osbraços levantados são
o sinal de que a prova
terminou. Restacontar o
tempo que ele levou para
dominar o bicho.
©1
SUPER 55
ESPORTE
Tudo para derrubar o boi
Quanto antes ele cair, melhor.
box do touro ..--~
box do bulldogueiro •... ---*--"
!!~!~!!~'-~u~m~auXiliarfaz O
trabalho de cerca,
que é impedir o boi
de se desviar da
rota prevista.
A prova termina
quando o boi, porfim,
é derrubado. Ele pode
pesar até 150 quilos,
praticamente o dobro
do peso do peão. ......_ •• __
.••
f .
•
56 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8 © 1 Cornélio Júnior 2 Alceu Chiesorin Nunes .
Para as mulheres, o que conta é habilidade
o teste dos três tambores é exclusivamente feminino.
Na arena, três tambores são
dispostos formando um triângulo
(veja ao lado). Quando o juiz dá a
largada, a amazona parte em direção
ao primeiro tambor, dando uma volta
completa nele. Depois repete a
manobra no segundo e no terceiro
tambores. Dar vai em disparada
até a linha de chegada.
Obstáculos precisos
Tudo é minuciosamente disposto em cena.
Acavaleira
usa seu
próprio cavalo
e demonstra
domínio sobre
o animal
Brilho da amazona
Ganha quem fizer o
menor tempo. Cada
tambor derrubado é
penalizado com
5 segundos a mais
na marca final da
competidora.
Os rodeios ocorrem nas regiões
Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
• principais
competições
• rodeios
menores
Goiinia--=:---~---:----:,.:.:--
o Parque
do Peão foi
projetado pelo
arquiteto Oscar
Niemeyer para
abrigar a Festa
do Peão de
Boiadeiro de
Barretos
Preside11f8 Pruden18 -=:::.:::-----:~
Mariagá ----"--
Fonte: Federação Nacional do Rodeio Completo
A festa, dentro
e fora da arena
Em um país onde
diversão é quase palavra
de ordem, o rodeio é mais
que uma competição. Há
dança, música sertaneja,
tudo num clima de
quermesse. Quem
dá o tom da
festa é o
locutor, com
seusversos.
"Dizem que
ocowboytem
vida boa.
Entendam como quisé.
Cada semana numa
cidade. Ecada noite com
uma muié" r
declama Barra Mansa,
um dos mais tradicionais
animadores, na abertura
dos rodeios. A devoção
tem sua vez. Ao se
apresentar para o público,
os peões rezam, pedindo
proteção aos santos.
É aí que entra em cena
Pedro Andarilho-
©2
figurinha carimbada
das maiores competições.
Ninguém sabe seu nome
verdadeiro nem de onde
ele vem, mas se houver
um boi pulando por perto,
é certeza: ele vai aparecer,
com a imagem de Nossa
Senhora Aparecida
a ser beijada pelos
peões. Fora da
arena, vende-se de
tudo: botas de couro,
chapéus e comida.
Enão pode faltar
a queima do alho,
o momento em que os
participantes do rodeio
se reúnem para comer
ao ar livre pratos da época
em que os boiadeiros
ainda tocavam o gado
pelo sertão. Antes que as
trilhas fossem substituídas
pelas rodovias.
A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 57
1centímetro
t----i
T
Vem cá, meu bem
Galã, entre as moscas diopsidas,
é isso aí: ter seis patas, alguns pêlos
pelo corpo e olhos espetados em
dois palitos. Nos leonardos di caprio
da espécie, a distância entre os olhos
tem 1 centímetro, o mesmo tamanho
do bicho inteiro. Nos menos dotados,
a distância é inferior a 0,5 centímetro.
•
man e
Cara peculiar atrai
fêmeas e cria muitas mais
Não é antena, não.
São os olhos de uma mosca
macho que você está vendo nesta
foto. Elesseduzem as fêmeas em
benefício de um gene egoísta que
quer sobreviver a qualquer custo.
Combate mortal de
espermatozóides
Os espermatozóides dos
machos têm cromossomos
X (rosa) ou Y (azul). Mas só
os espermatozóides com X
carregam o gene dos olhos
compridos. Para evitar
concorrência, ele liquida
os espermatozóides
com cromossomo Y.
omesmo gene que estica os olhos das
moscas diopsidas também interfere com
os cromossomos e aumenta a população
feminina. Veja como funciona.
POR FLÁvIo DIEGUEZ
P
ar'ã algumas moscas, chamadas diopsi-
das, charme, mesmo, é ter os olhos o mais
longe possível da cabeça, na ponta de has-
tes enormes. Quanto maiores as hastes de um ma-
cho, mais sucesso ele faz com as fêmeas. É o mes-
mo efeito provocado pela cauda do pavão e por
outros atrativos em muitas espécies. Este ano, ao
estudar as díopsidas, o especialista Gerald Wil-
ki.nson, da Universidade de Maryland, tornou-se
o primeiro a dar uma explicação para esse com-
portamento feminino. Parece absurdo, mas a
atração sexual é só um meio, não um fim.
A verdadeira função das hastes, segundo aWilkinson, é garantir a sobrevivência de um
grupo de genes da mosca. Isso mesmo. Um fragmento
de DNA "usa" o corpo do inseto em seu próprio bene-
fício. "São genes egoístas", explicou à SUPER o biólo-
go Andrew Pomiankowskí, da Universidade College
London, na Inglaterra. "Ainda não sabemos como es-
ses blocos de DNA trabalham, mas eles são podero-
sos." Prova disso é que, nas díopsídas, eles sempre fi-
cam no corpo dos machos de haste comprida - os
. que geralmente são escolhidos para acasalar. Em ou-
tras palavras, existe algum tipo de ligação entre a
preferência das fêmeas pelos olhudos e os genes
egoístas. E é dessa maneira que eles dominam a
reprodução dos insetos para se perpetuar. 0
Discriminação
sexual
Ainda não foi possível
determinar de que maneira
o gene egoísta destrói
os espermatozóides.
O fato é que, durante
o acasaiamento, só aparecem
espermatozóides do tipo X,
que se juntam ao X que
está no óvulo feminino.
Por isso, nascem fêmeas.
Vítima do
próprio feitiço
Em geral, a proporção
feminina nos grupos de moscas
diopsidas é de 60%. Mas,
às vezes sobe para 100%.
Aí, o tiro sai pela culatra:
não há mais acasalamento
e o gene desaparece.
·1 j
"
I
:[
, I
•••
© 1 Newton Verlangíerí
U
mapedra gigantesca voa em direção à Terra. Se
viesse de mansinho, seria suficiente "apenas"
para esmagar os Estados de Minas Gerais, Rio
de Janeiro e Espírito Santo e bons pedaços de seus vizi-
nhos. Mas ela risca o céu a 32500 quilômetros por hora.
Deve bater no planeta azul em dezoito dias, abrindo um
rombo do tamanho do BrasiL Inevitavelmente atingirá
os oceanos, que ocupam 70% da superfície do planeta.
Ondas de 1quilômetro de altura se levantarão, inundan-
do cidades inteiras. Por anos, a luz do Sol permanecerá
encoberta pela grossa nuvem de poeira levantada na
hora do impacto. As plantações morrerão. Haverá fome.
Ébem Possível que a espécie humana não resista. Só há
uma saída: mandar lá para cima uma poderosa carga
atômica, que explodirá parte do asteróide assassino, ti-
rando-o de sua rota ameaçadora.
Ainda bem que a descrição acima é só ficção. E, do
ponto de vista da correção científica, bem ruinzinha.
Não existe, em possível rota de colisão com a Terra, um
asteróide do tamanho do mostrado emAnnageddan, a
produção da Disney que estréia este mês no Brasil. Os
maiores, que os astrônomos chamam de "exterminado-
res", têm 10 quilômetros, o quejá não é pouco, enquan-
to o do filme tem cerca de 1000 quilômetros. "Não é só
que eles tenham errado demais. Em termos de massa,
eles erraram um milhão de vezes demais", disse à
SUPER o chefe da divisão espacial do Centro de Pesqui-
sas Ames, da Nasa, na Califómia, David Morrison.
Exagero danoso
Corno trata de um perigo real, a licença dramática é
arriscada. Quanta gente não sairá do cinema pensando
que é boa idéia começar desde já a engrossar o estoque
de armas nucleares? Desde 1995, o físico húngaro radi-
cado nos Estados Unidos, Edward Teller,conhecido co-
rno o pai da bomba de hidrogênio, vem defendendo a te-
se. Houve quem sugerisse, na época, que o cientista es-
tava era querendo um objetivo nobre que pudesse tirar
do buraco o Lawrence Livermore National Laboratory
- o centro de pesquisa de armas nucleares que ele di-
rígíu por anos e que teve suas verbas cortadas pela me-
tade desde o final da Guerra Fria. O próprio Teller disse
à SUPER, com seu jeito caracteristícamente brusco,
achar improvável que um objeto com mais de 1 quilô-
metro de diâmetro atinja a Terra no próximo milhão de
anos. "Mas se e quando ele vier, deverá ser desviado
com explosivos nucleares." Muitos cientistas concor-
dam com ele, mas acham que vale a pena pesquisar ou-
tras maneiras de livrar a Terra do perígo. Ainda mais
nesses tempos em que novos países - corno Índia e Pa-
quistão - entram para o perigoso clube atômico.
A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 61
Perigo poderá ser
previsto vinte anos antes
Nenhum astrônomo nega que o risco existe. Mas as
probabilidades de um impacto de grandes proporções
são pequenas, ao contrário do que a onda de filmes so-
bre o assunto parece querer mostrar. É bom lembrar
que Armageddon chega imediatamente depois de
Impacto Profundo e da série de televisão Asteroide,
que foi ao ar em fevereiro de 1997 nos Estados Unidos
e chegou em março às locadoras de vídeo brasileiras.
Para completar o quadro de pânico, um asteróide
de verdade, com 1,6 quilômetro de diâmetro, passou
um tremendo susto nos astrônomos, em março passa-
62 SUPER A G o S T o 1 9 9 8
do. Brian Marsden, do Harvard Smithsonian Center
for Astrophysics, em Massachusetts, Estados Unidos,
considerado o mais importante calculador de órbitas
de asteróides próximos da Terra, deu o alarme: o 1997
XF11 passaria dramaticamente perto da Terra, no dia
26 de outubro de 2028.
Por sorte, as contas foram refeitas e o fim do mun-
do adiado. Se não tivesse sido, o caso se encaixaria
perfeitamente no que os astrônomos acreditam que
poderia ser uma situação real de perigo. "O mais pro-
vável é que seremos capazes de prever o risco - e
nos preparar para enfrentá-Ia - com pelo menos dez
ou vinte anos, e não alguns dias, de antecedência",
explicou à SUPER Paul Chodas, do Laboratório de
Propulsão a Jato, da Nasa, na Califórnia.
© 1 Newton Verlangieri 2 Sygma
Outras alternativas
Algumas idéias difundidas entre os pesquisadores
a respeito de como desviar um asteróide.
Reflexo
Enormes espelhos poderiam ser
colocados no espaço, de forma a
refletir a luz solar sobre um lado do
bólido. Para asteróides de 1 a 10
quilômetros, o espelho deveria ter .
uns 5 quilômetros de diâmetro. O .
aquecimento provocaria a vaporizaçâo
da superfície e a saída de órbita (como no
caso de uma explosão nuclear próxima).
Laser
Uma nave nâo-tripulada e carregada
com um poderoso emissor de laser
seria posicionada de forma
a bombardear o asteróide com
enormes quantidades de energia.
Seriam necessários 10 megawatts
(a potência de umas 100 000 lâmpadas
elétricas) por metro quadrado para
vaporizar a superfície e desviá-lo.
Britadeira
Uma nave não-tripulada levaria uma
superbritadeira robótica que poderia
quebrar pequenos pedaços do
asteróide, jogando-os no espaço.
Com a diminuiçâo significativa da
massa, o corpo se desestabilizaria
e sairia da rota. O probleminha é que
num asteróide de 1 quilômetro de
diâmetro, a máquina teria de trabalhar pelo
menos dez anos.
Cientistas sabem pouco
sobre supostos infmiqos
É consenso entre os pesquisadores que a única al-
ternativa para defender a Terra acurto prazo seria o
uso de anuas nucleares. O problema é que ninguém
tem certeza de que isso funcionaria. A desconfiança
cresceu depois da análise de fotos batidas no ano pas-
sado pela sonda Near. Elas revelaram que o asteróide
Mathilde, um monstro de 61 quilômetros de diâmetro
que anda perto da Terra, mas em uma órbita que não
oferece perigo, parece um amontoado de pedregu-
lhos unidos por força gravitacíonal. Levando esse da-
do novo em conta, o astrônomo Eríc Asphaug, da Uni-
versidade da Califórnia, em Santa Cruz, fez simula-
ções em computador e mostrou que o cutucão nu-
clear pode ser um furo n'água, porque um objeto co-
mo o Mathilde absorvería o impacto da explosão
(veja o injográfico ao lado). "Muito mais trabalho é
necessário antes de decidirmos se os engenhos nu-
cleares são uma saída viável", escreveu o pesquisador
na revista inglesa Nature.
O alerta não desanima os defensores das bombas.
O capitão da Força Aérea americana William Glascoe
lidera uma campanha na defesa da criação de uma
Força Espacial para coordenar os esforços militares
do país no espaço, contra inimigos humanos ou natu-
rais. No mesmo time, o deputado Dana Rohrabacher,
do Partido Republicano da Califórnia, vem atacando o
presidente Bill Clinton por ter vetado o projeto Cle-
mentíne 2, do Departamento de Defesa, que também
estudaria estratégias contra os asteróides.
i
I
!
:1
I
I
Os menores são
quase imprevisíveis
Asteróides assustam e não é sem razão. De acordo
com Brian Marsden, "os números são incertos, mas deve
haver algumas dúzias deles com mais de 5 quilômetros
de diâmetro próximos da Terra, algo como 2 000 com
mais de 1 quilômetro e cerca de 200 000 entre 500 me-
tros e 1quilômetro". Esses são os que podem serestuda-
dos. "Com os telescópios atuais não conseguimos acom-
panhar COlpOS com menos de 100 metros", explica Paul
Chodas. E há centenas de milhares deles. Eventualmen-
te até poderiam ser vistos, mas, para estabelecer as órbi-
tas, seriam necessárias muitas observações, em pontos
64 SUPER A G o S T o 1 9 9 8
variados da sua trajetória. Vários desse tamanho já caí-
ram na Terra. Um abriu uma cratera de 1,2 quilômetro
no Arizona, há 50 000 anos. Outro explodiu 80 metros
antes de bater no solo e devastou 2 quilômetros quadra-
dos de florestas em Tugunska, na Sibéría, em 1908.Cen-
tenas de renas morreram. Gente de diversos países da
Europa afirmou ter visto o clarão no céu.
Mas a preocupação com os bólidos aumentou mes-
mo a partir de 1981, quando foi descoberta a cratera
de Chícxulub, no Golfo do México, com 192 quilôme-
tros de diâmetro. Estudiosos acreditam que ela é a CÍ-
catríz deixada por um asteróide de 10 quilômetros,
que teria sido o responsável pela extinção dos dínos-
sauros há 65 milhões de anos.
© 1 Newton Verlangieri 2 Divulgação
Empresário quer unir
o útil ao lucrativo
. -se que a queda
corpo celeste de
ilômetros de diâmetro
.ia os dinossauros
milbões de anos.
o globo tenestre tem cerca de 150 marcas de im-
pacto de asteróides. Isso sem contar as que devem es-
tar no fundo dos oceanos. Mas foi o susto pregado pelo
1989FC, em 1989, que começou a acordar as autorida-
des para o problema. A pedra, do tamanho de um por-
ta-aviões, cruzou a órbita terrestre num ponto onde o
planeta havia estado apenas seis horas antes. E °fato
só foi constatado depois de ter oconido.
Hoje, a Nasa investe cerca de 2 milhões de dólares
por ano na identificação dos asteróides com mais de
1 quilômetro de diâmetro que apresentam risco de co-
lidir com a Terra. Cerca de 15% do total que se supõe
existir já foi rastreado. Mas isso é muito pouco. Para
aprender a desviar asteróides, é preciso, antes, conhe-
cer sua constituição e estrutura, o que só se consegue
mandando naves para olhá-los de perto. Por isso, a
maior esperança dos cientistas está na espaçonave
Near (sigla para Encontro com Asteróides Próximos
da Terra, em inglês), quejá visitou o Mathílde, e, a par-
tir de janeiro, se aproximará do Eras, outro gigante, de
40 quilômetros de diâmetro, que ronda a Terra, mas em
órbita inofensiva. Outra alternativa será apelar para a
iniciativa privada. A empresa americana SpaceDev já
está vendendo espaço na nave que pretende mandar
ao asteróide Nereus, de 1 quilômetro de diâmetro, em
2002. Além do lucro com o empreendimento, pretende
ir treinando para, no futuro, explorar substâncias como
carbono, alumínio, potássio, magnésío e cálcio nesses
corpos celestes. Um jeito de unir o útil ao economica-
mente agradável.
ências: semelhantes
asteróide de 1 quilômetro,
muito mais ampliadas.
i
I,I
I
I
ASTERÓIDES
Tragédias no cinema e na TV
Conheça as principais produções que abordaram a
possibilidade de choque de asteróides com a Terra.
AS1FRÓIOE(1998)
Minissérie de 1V que
virou video (Cannes
Home Vídeo). Uma
astrônoma descobre
que um asteróide de
4 quilômetros de
diâmetro e vários
fragmentos estão a
caminho. Mísseis são
enviados, mas alguns •..••••..•.,.=
pedaços acabam
caindo. As cidades de
Kansas City e Dallas,
onde estavam o pai e
o filho da astrônoma,
são destruídas.
Um dramalhão danado
WHEN WORWS COlliOE(1951)
Um planeta se move em direção
à Terra e uma arca de Noé com
quarenta pessoas parte em
busca de outro lugar no
Universo para povoar. Ganhou o
Oscar de efeitos especiais. Não
há versão em vídeo no Brasil
© 1 ME1FORO (1979)
.Um asteróide se choca com um
cometa e um fragmento, de 8
quilômetros de diâmetro, se dirige
para a Terra. OsEstados Unidos e
a União Soviética unem forças
atômicas contra o monstro.
ComSean Connery e Nathalie
-Wood.Saiu-$l-vídeo.pelaWarner
Quem vê o perigo no céu - um cometa - é um
adolescente. Informado, o governo americano resolve
bombardear o objeto com armas nucleares. Em troca
da exclusividade da informação, uma repórter de TV
concorda em esconder um caso sexual do presidente.
Entre os preparativos para o impacto, são construídas
enormes cavernas para abrigar 1 000 felizardos:
800 cidadãos comuns, sorteados, e 200 médicos,
cientistas e artistas. Deve chegar às locadoras em breve.
Armageddon (1998)
Estréia este mês no
Brasil. Um asteróide
"do tamanho do Estado
do Iexas". que tem área
de 692 244 quilômetros
quadrados e 1 200
quilômetros em seu ponto
mais largo, se dirige para
a Terra. Com dezoito dias
de prazo para resolver o
drama, o diretor da Nasa
convoca um prospector de
petróleo, o durão Bruce
Willis, e o transforma em
astronauta em poucos
dias. Willis deve chefiar
uma equipe que vai até
o asteróide para implantar
nele, a 250 metros de
profundidade, explosivos
nucleares. Feito com
a colaboração da Força
Aérea americana e da
Nasa, o filme custou
140 milhões de dólares
e é a mais cara produção
de ficção científica já feita-
Rendeu 9,5 milhões de
dólares no primeiro dia
de exibição nos EUA.
© 1 Warner Bros 2 Divulgação 3 Stills
4 Touchstone Pictures and Jerry Bruckheimer 5 Sygms
Filmes trazem erros
aos borbotões
David Morrison, da Nasa, costuma dizer que o nú-
mero de gente que se esforça, na vida real, para identi-
ficar os corpos celestes próximos da Terra para ver se
eles correm o risco de bater no planeta é menor do que
a equipe de uma lanchonete do McDonald's. Esse pes-
soal tem sentimentos contraditórios com relação aos
filmes que andam saindo sobre seu trabalho. "Eles são
bons porque o público toma consciência do problema e
pode ajudar a pressionar as autoridades para aumentar
as verbas da pesquisa na área", diz Morrison. "Mas os
erros que apresentam tiram parte desse valor."
Morrison, assim como outros pesquisadores, não
gosta da maneira "fácil" como se desviam asteróides
com bombas nos filmes. "É como se já tivéssemos
certeza de que esse método funcionaria, o que não é
verdade."
Talvez os únicos cientistas que lucrem com os fil-
mes sejam os que participam deles, como consulto-
res. É um tipo de trabalho novo, que não existia
quando o primeiro da série dedicada ao assunto,
When Worlds Collide, foi feito, em 1951. Hoje, tor-
nou-se indispensável na sofisticada indústria cine-
matográfica.
Simplificação barata
em esses, no entanto, devem estar completamen-
te satisfeitos, pois não conseguem eliminar das histó-
rias certas licenças dramáticas. Ivan Bekey, que se
aposentou recentemente do cargo de diretor de pro-
gramas avançados da Nasa e deu consultoria para
Armageddon, sabe muito bem que um asteróide da-
quele tamanho jamais estaría na rota da Terra. Numa
situação real, admite ele, seriam necessários quatro ou
cinco anos de alerta para preparar uma missão similar
à do filme, de seis a doze meses para chegar ao asterói-
de e um longo período para cavar os buracos e deixar
as bombas. "Se o alerta viesse apenas algumas sema-
nas antes do impacto, só nos restaria rezar", afirma.
O principal concorrente de Arrrwgeddon, Impac-
to Profundo, também teve consultores. Mesmo assim
mostra britadeiras furando um cometa, cuja densida-
de na vida real é similar à de um floco de neve. Além
de conseguir a proeza de calcular a órbita do objeto
em 15 segundos, quando seriam necessários pelo me-
nos alguns meses. Para completar, a interceptação se
dá próxima demais da Terra. Se fosse de verdade, a
explosão seria tão danosa quanto uma trombada.
A G o 5 Tal 998 SUPER 67
ASTERÓIDES
o remédio atômico
é perigoso dema-is
Não custa lembrar àqueles que querem preparar
a defesa da Terra contra asteróídes que a ameaça
de uma hecatombe nuclear - que parecia riscada
da lista de perigos potenciais de extínção da raça
humana - voltou à tona este ano.
Índia e Paquistão elevaram para sete o número
de países capazes de detonar bombas atômicas. E
mesmo que os dois rivais não tivessem realizado
seus testes, o mundo não estaria menos ameaçado.
Os veteranos do clube atômico estão longe de
ter aberto mão de seus arsenais, apesar de todas as
promessas. Além disso, o sistema de controle sobre
as armas russas está muito mais deteriorado do que
nos tempos da União Soviética, o que aumenta o
risco de venda ilegal de artefatos nucleares para
países ou organizações políticas.
Dinheiro a rodo
Nos Estados Unidos, o orçamento prevê o gasto
de 35,1 bilhões de dólares em projetos relativos a
armas nucleares em 1998_E, embora os acordos de
desarmamento proíbam o desenvolvimento de no-
vas armas, os americanos acabam de criar a B-61-
11, uma bomba que penetra na terra antes de ex-
plodir, desenhada para arrasar bunkers.
Nesse cenário, o argumento dos asteróides cai
como uma luva nas mãos dos lobbistas nucleares. E
o remédio proposto por Edward Teller pode resul-
tar mais perigoso do que o provável perigo repre-
sentado pelos asteróides. Tomara que a Unispace
3, conferência sobre o espaço que a Organização
das Nações Unidas (ONU) está preparando para ju-
lho do ano que vem, em Viena, discuta o assunto. e
Estoque explosivo
A última contagem, em 1996, mostrou que o mundo
tinha 24 227 armas nucleares prontas para serem usada
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  • 2. Caldeirão brasileiro Esta edição da SUPERtraz para você uma expedição por dois brasis. Enquanto uma parte da redação se embrenhou pelo interior de São Paulo para entender a magia dos rodeios, outra visitava Minas Gerais para compreender a sofisticada arte que começou a ser produzida por lá trezentos anos atrás. Depois de quatro meses de trabalho, 1 008 fotos, 45 pinturas eletrônicas, trinta entrevistas e uma fuga em desabalada carreira de um touro bravo em Barretos (SP),o Diretor de Arte, Alceu Chiesorin Nunes, o info rafista luiz Iria e as repórteres Ivonete lucírio e Gabriela A uerre descobriram que o rodeio é bem mais do que um fenômeno de importação recente. Apesar de reunir multidões apaixonadas pelo jeito americano de ser, essa festa já possui um inequívoco acento caipira. Essaé a graça do esporte que você vai conhecer em detalhes em Montado na Fúria, a partir da página 48: mal chegou e já está sendo integrado ao grande caldeirão que é a cultura brasileira. Na outra ponta da linha do tempo, a Editora Especial Lúcia Helena de Oliveira, numa de suas últimas missões na SUPERantes de ser promovida a Diretora de Redação da revista SAÚDE, fez uma extensa reportagem sobre uma importação antiga - tão velha que virou patrimônio nacional: a arte barroca. Lúcia, uma jornalista com alma de repórter, mais o fotógrafo Eugênio Sávio, em Ouro Preto, e o jornalista Fernando Valeika de Barros, em Lisboa, vasculharam a trajetória no Brasil do estilo criado pela Igreja Católica para combater o protestantismo na Europa. Em junho, o Editor Sênior Ricardo Arnt começou a montar as peças do vasto quebra-cabeça de anjinhos mulatos e profetas em pedra-sabão. Arnt conversou com sete críticos e historiadores da Arte para. arrematar o belo painel que você vai encontrar em O renascimento do barroco (página 30). Agora é a sua vez de aproveitar essasdeslumbrantes misturas entre o forasteiro e o feito em casa que caracterizam este país. 4 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8 HISTÓRIA~------' O renascimento do barroco o estilo original e exuberante que dominou a arte colonial brasileira está em alta outra vez. 30 REPRODUÇÃO.•. ----' Olhar dominante Para algumas moscas, bonito mesmo é quem tem um olho bem longe do outro. 58 lUGAR~ ~ SUPERINTERESSANTE As ilhas de Darwin Novas leis protegem a fantástica fauna de Galápagos, que inspirou a Teoria da Evolução. 40 Da esquerda para a direita. Gabriela. Alceu. Luize Ivonete
  • 3. ESPORTE _ Montado· . na fúria Um espetáculo de .• infografia agarra àlr.lhp os saltos, galopes e emoções do rodeio. 48 SUPERNOTíCIAS 10 UNIVERSO 69 SUPERINTRIGANTE 20 SUPERMULTIMíOIA 72 '----..,--------=------------ ....•.ASTERÓIDES O falso exterminador Bombas nucleares para salvar a Terra de um impacto espacial. Cautela necessária ou só mais um lance da indústria de armas? 60BIOQufMICA Galeria microscópica Parecearte modema. Mas são vitaminas, proteínas e hormônios vistos bem de perto. ©5 28 2+2 81 CARTAS 86 SUPEROIVERTlOO 82 DITO E FEITO 90 © 1 Eugênio Sávio Z Oiego Rueda 3 Caio Vilela 4 Fotomontagem de luiz Iria sobre iotos de Alceu Chiesorin Nunes 5 Heinz Günter Beer 6 Newton Verlangieri 7 Marlos Bakker AGOSTO 1998 SUPER 5
  • 4. • Editora Abril Fundador VICTOR CIVITA (1907 - 1990) PRES[)OOE E EDITOR:Robcno Civita ViCe-PRESIDENTEE DIRETOREDITORIAl: Tbomaz SoUlO Corrêa VlcE-PRESIDOOE ExECUTIVO:Luiz Gabrie! Rico VICE-PRESIDENTEOEOPERAÇOES:Gilbeno Fischcl DIRETORDEDESENVOL"""ENTOEDITORIAl.:Celso Nucei Filho DIRETORDEI'wfJAMENlO ECOOITlIl1F.Celso Tomanik DIRETORDEREcuRsos HUMNIOS:Egberto de Meôeiros SECRETÁRIO EOOORW.:Eugênio Bucci DIRETORDESERIIICOSEorroRtAlS: Hcnri Kobata DIRETOREorroIllAi AoJJNlO:MOlinas Suzuki Jr. DIRETORDEPumJ:mAoe: MihOll Longobanli DIRETOR SUPERINTEN~NTE: Nicotino Spina EDITORCONTRIlUINlE Carlos Civna DIRfTOR DEREDAÇAO:Eugênio Bucci OtRETORDEIu:m: Alceu Chiesorin Nunes REDATOR-CHEFE: André Singer EDITORESSENIDRfS: Flávio Dicguez, Ricardo Arm EDITORAS EsPEcws:Tbercza Vcnturoli. Wanda Nestlchner RmímRes: Denis Russo Burgierman. Gabrela Aguerre. Ivooete D. Lucírio. Regina Célla A. Pereira (Atendimento ao Leitor) CHEFE DEARTE: Nikn Santos INfOORAAA: Luiz Iria DIAGRAMADOftEs:Bisa Cardoso. Maurício de Lara G;U"dO_ Robson Quínafélix CoLABmAOORES:João Steíner, Lu.izBarco. Luíz Dal Monte Neto APoiO EOTOAIAL DEPTo. DEDocuMENTAÇAo: Susana Camargc; AeRL PRESs: José Carlos Aueusto: NOVA yOfU(: Grace de Souza: PARIS: Pedro de Souza - PUBUCIDAOE DmoRA DEVENlAs: Thais Chede Soares B. Barrete VENDAS SÃo PAULO ExECUTIVOSDE NEGÓCIOS:Crístíanc Tassouías, Sérgio Ricardo Amaral. Rogério Gabrícl Comprido GERENTEDE PuBLICIDADE:Aldo S. Palco ExEa.mvos [E CoNTAS; Luciano C, Rike. Março A. Mezzacapa GERENTEDEMARKET1NGPuBLICITÁRIO:Elizabcth de Mcnczcs Rocha VENCAS RIO OE JANEIRO GERENTEDEPust.ICIDADE: Leda Costa CoNTATOSDEAliNclAS: Leonardo Rangcl. Lúcia Angélica AssINAlURAS DIRfTOR DEOPERAÇ/Es ESERVIÇOS:Antonio A lrncida OFElOR DE'JEHoAs: Willi.m Pereira CIRCULAÇÃO Claudia Suada (Assinaturas), Marcelo Jucá (Bancas. Prom~"ÕCS c Eventos) PRoJETOS ESPEClAls Adriana Naves. Cetio Leme PlANEJAMENTO E CoNTRoLE Glüncio C. Barros PROCESSOS Gilsoo De.I Caríc DmrroR EscRIlÓRIO BRASÍllA: Luiz Edgar P. Tostes DIRETOR ESCRITÓRIOS REGIONAIS:Marc~ Venturoso DIRfTOR ESCRITÓRIORIO DEJANEIRO: Paulo Renato Símões 9-Grupo Abril PRESIDÊNCIA: Robcrto Civita, Presidente e Editor. José Augusio Pinto Moreira e Thomaz $0010 Coma, Yice-Presidentes Executivos VICE-PRESIDENTES: Angelo Rossí, Fatima Ali. José Wilson Armani Paschoal, Luiz Gabriel Rico, Peter Roseuwald ~ Editora Abril EM SÃO PAULO: Redação e Ccrrespondêncier avo Nações Unidas. 7221. 140 andar. Pinheiros, CEP 05.:125-902. tcl.: (011) 3037-2000. Iax: (011) 3037-563S Publicidade: TbaísCtctc Soares de B. Barrete (011) 3037-5474 Crísdane Tassoulas (01 I) 3037-5679 . Moecyr Guírnarãcs Iül I) 3037-5773 Rogério Gabriel Comprido (01 I) 3037-5241 Marcos Vcmuroso (011) 3037-5759 EscRlTÓllOS NOBRAsIl .&10Horíeoete: r. Paraíba, tl22. 18~and.. funcionâríos. (B> 30 13().. 14l, Sãvana Grisi. tel.: (031) 261-6104. 1"" (031) 261-71 14 BlunM.'Slau: r. I-1orianópoUs. 279, Bairro da Velha, CEP 8S)36-150, Mauro Marchi, 1e1.: (047) 329-3820. telefax: (0·17) 329-6191 BrosiJia:SCN - Q.l BI. Ed Brasílla Trade CCnI<r.CEl' 70710-902. Solange 'Iavares. rcl.: (061) 3 15-7575. fax: (061) 315-7539 ~ r. Concci,m. 233, 26.°and .. coojs. 261:V2614,CEI' 13100· 050, Angelo Cosü. iel.: (019) 233-7l75, tclefux: (019)232-7975 Curitiba: .W. Cândido de Abrca. 651. J1.•.•and .• Centro Ovico. CEP SOS3OmO. M:m.'OA. Pi=cna.leJ.: (041) 352-2426.1a." r.nmI2225 FIorianópotis:av. OsmarCunna, 15.m A.sl. 303,Cci"'Center. Gl' 88015-100. Francisco Gorgônio, tet.: (048) 222-4709, tclefax: (048) 224-6228 Fort:tkza: r. Silva Jatahy. 15_ si. 606, Melreles. CEP 60165-070. Simone Ribeiro Couro. tclcfax: (085) 261-9106 Goüinia: r. 1.127.220. Setor Martsta. CEP 74175·060, Rodrigc Rodrígues. rel.: (062) 241-3756. fax: (062) 281-6148 M:lringá: av. Brasil, 33. CEP 87050-000. Luiz Antonio Nazareth. tclcfax: (1).14)223--1754 Porto Altgre: T. Antencr Lemos, 57, 8.°mld .. sl. 802. Menino Deus, CEP9085()..JOO. Ana Lúcia R Figueira. tel.: (051) 231-5899. fax: (OSl) 231-4S57 Recife: av. Damas Barrete, 1.I86, ,15.°and .. sl. 1501. São José, CFY 50021).000. Marcos T. Perucci. ielefax: (081) 424-32'101424-3333 Ribeirão Pn!to: r. João Pcmeado. 164. CEP 14025·010, Antonio F. Cbammas. tel.: (016)635-9630. fax: (016) 635-9233 Rio de Janeiro: r. da Passagem. 123. 8.0 cnd.. B01afOgO.CEP 22290-030, Paulo Renato Stmõcs, tet: (021) 546-8282, fax: (()2J) 275·9347 Salvador: avoTancrcdo Neves. J.485. 13.{)alld .. sl. BOI, Piruba. cal 4182().()21, Alfrcdc G. MOia Neto. tel.: (071)3414996. 1",: (071) 341-1765 'VItória: avo MaL Mascarenhas de Morses. 2562, 4.0 and, si. 401 Ed Espaço Um. Bento Pcrreira, CEP 29052-120. Susana Daartc, iclctax: (027) 315-3329 EscRlTÓllOS NO ErnRIOR Novn York: LincclnBullding,60 East 4211<1Strect. suíte 3403, New York. N.Y. 10165/3403, tcls.: (OOl212) 557-599015993, telex (00) 237670. fax (ooUl2) 983-0172 P:ui<: 33. rue de Mlrorresnít, 750081':lris, tel.: (00331) 426631.18. Iax: (00331)42.66.13.99 Portugal - Importação Exclus-iv':l e ComerdaliZ3~: Abril- Controljomal-Edhora. Lda.. Largo da Lagoa. 15C. 2795 Linda- a-Velha. tcl.: (00351 I) 416-8700. fax: (003511) 416-8701. Dlstrlbulçãc: Deltapress-Socíedade Distrfbuidora de Publicações. Lda, Capa Rota. Tapada Nova.Linhõ, 2710 Sinrra. leI.: (00351 I) 924-9940. fax: (003511) 924-0429 PUBLICAÇÕES DA EDITOR~ ABRIL INTERESSE GERAL VEJA' ALMANi'Q.JE ABRil_ Súl'ERINTERESSAl'ITE' INFORi1Á TlCA EXAME VlP EXAME' GUIA AIlRlL DO ESTUDANtE ECONOMIA E NEGOCIOS EXAME AuTOMOBILISMO E TURISMO QUATRO RODAS' GUIA QUATRO RODAS VIAGEM E TURISMO' Tt1<RA esPORTES PLACAR' fl.UrR MASCULINAS PLAYJlOY FEMININAS CLAUDIA' ELLE' NOVA· MANEQUIM PONTO CRUZ· CAPRICHO -uox FORMA ANAMARlA' HORÓSCOPO' CARiClA • SAÚDE DECORAÇÃO E AROUIlITURA CASA CLAUDIA' ARQUlTETURA & CONSTRUÇÃO ARTE & DECORAÇÃO ENTRETENIMENTO CONTIGO' SHOW B=.SET SUPERINTERESSANTE 131 (ISSN Ol04-1789). aro 12In"~, é uma PJbI~ mõ!l"~~ ID Editora Abril SA 1987G + J Esplib SA "Muy h «rcsamc" C'MuitO 1~'OrnC")- E..~.Assin:tbJrn: SlIJSo111Sfaçãoé a sua garJn1.ia.você pede ímeromper a assírauua a qwlqucr rrouemo, sem S(!frcrnenhum ênus. Medianté sua sotící •.~ você reã direitc à cevoíuçãc do valor COI'T1!SP.::rWIII!'~ exemplares a receber, devidamente conigioo de acordo com o írrlice oflciul apucãveí. Com sua assinatura. seu nome possa a ser incluído na lisul de cucmes prclCrcnciais da Editora Abril. que poderá ccôê-ía e Ctnpn..-~ ",i(:('('a~parn êns di! diulg<lÇão c peomcçêo de poenos de seu interesse. Caso não cpcira fazer parte dessa lista escreva para Editora Abril - Assírercras, A". Oevaro Atves de Uma, 4400 4" amar. r'TI;~UcskdoÓ·Cf:]>o..~900· S~ Paulo- SI'.Números ntm- sacias: (as seis últimas edições recoífudas, meâamc dísponíbuídaée de estoque): ao peço da úJ!.ima edtçêc em banca, mais CUStOdi; posregem, por mtcrrnédío de seu jornaleiro (lj no t1i.~tritx:lid(){ Dina:p S/A· OUN) Postar 1505. ÚSJ.= - SP. CEPlló053·9<)(). '01.: (Oll) 811J.48OO.Iax: (011) 868· 3018. pelo emaü: dinap.na@eI1l31I.abril.com.br. via imernet htqTJ/ww.'.dlnlp.com.hr. 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  • 5. A linha Corsa 99 já chegou e traz novidades. Agora toda a linha tem a nova suspensão dianteira HPS (High Performance Suspension). O que era gostoso de dirigir ficou ainda melhor, mais macio e fácil de manobrar. A segurança também vai aumentar, porque a nova suspensão HPS proporciona melhor estabilidade nas curvas. Aliás, em matéria de segurança, a linha Corsa 99 tem mais uma grande novidade. Ou melhor, duas: duplo air bago Corsa, um carro fora do sério, com conforto e segurança levados a sério. www.chevrolet.com.br Selnne o seu grâlis: Alguns itens são opcionais. Consulte sua Concessionária Chevrotet para maiores informações sobre equipamentos originais e opcionais disponíveis para a linha Corsa. O 8 O O, 1 7 1 784 Este veícuto esta em coníormicade com o PROCQNVE ' Programa de Controle de Pclulçác do AI: por Veiculos Automotores. Preserve a vida Use o cinto de segurança. ANDANDO NA FRENTE ------ ,---
  • 6. Nos Estados Unidos, caçadores de furacões descobrem por que essasventanias monstruosas deixam um rastro irregular de destruição. , I 10 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8
  • 8. · . Ocaçador de planetas fora do Sistema Solar ataca de novo. Geoffrey Marcy, da Universidade Estadual de San Francisco, anunciou a descoberta de um corpo gasoso, duas vezes maior que Júpiter, orbitando uma estrela a apenas 15 anos-luz da Terra (1 ano-luz mede 9,5 trilhões de quilõmetros). Segundo Marcy, que já topou com outros sete candidatos a planetas distantes, o achado indica que pode haver muito mais corpos como esse, perto da Terra. Agora parece que é para valer. Uma equipe de cientistas americanos está se reunindo para averiguar histórias de discos voadores. Os detetives de UFOs estão analisando fotos e narrativas sobre aparições. Para Peter Sturrock, da Universidade Stanford, a tecnologia de hoje vai ajudar a separar a verdade da fraude. Mas, nada ingênuo, ele sabe que a mesma tecnologia ajuda tambéma elaborar fraudes mais difíceis de serem desmascaradas. AIOS O vírus sai para a revanche Doisanos depois da descoberta de um coquetel de drogas sensacional,capaz de destruir 99% dos vírus HIV no organismo de um paciente, os especialistas anunciam que o otimismo era exagerado. O bicho é mais forte do que parecia, dizem médicos, microbiologistas e epidemiologistas reunidos em junho, em Genebra, Suíça,para a 12" Conferência Mundial sobre a Aids. O fato é que os novos remédios só conseguem esmagar o HIV em alguns casos.Em mais da metade dos testesfeitos até agora, o agente do mal resisteao ataque e retoma a ofensiva. Essesresultados foram divulgados pelo virologista David Ho, do Centro de PesquisasAaron Diamond, de Nova York, que criou o coquetel de drogas, em 1996. • 12 SUPER AGOSTO 1998 ---======:::::=:-::- --=··-~=--::;-l AMBIENTE Um calor de derreter os miolos Uma cidade com cerca de 220 000 habitantes, como Baton Rouge, no Estado americano da Louisiana, tem pontos em que a temperatura do ar chega a 65 graus Celsius. É o que mostra a foto à direita, batida com uma câmera da Nasa que detecta raios infravermelhos. O flagrante foi feito no início de uma tarde de maio, de um jato que sobrevoou EVOLUÇÃO O homem faz das tripas cérebro - Segundo uma lei natural da evolução, quanto maior (ou mais pesado) for o cérebro de um animal, maior seu corpo. É que, para manter um cérebro grande funcionando, é preciso um corpo também grande, capaz de absorver bastante energia. Só que, no homem, o cérebro é três vezesmaior que o dos nossos ancestraisde 3 milhões de anos atrás, enquanto o corpo nem chegou a duplicar de tamanho. Então, de onde vem a energia necessária para estabeleceras ligações entre bilhões de neurônios? Baton Rouge a uma altura de 2 quilômetros. As chamadas ilhas de calor são bolhas de ar superaquecido que se criam sobre as construções de concreto e o asfalto das ruas e estradas, e que ajudam a esquentar o ambiente. Elasaparecem durante o dia, quando o sol bate forte. Mas, ao contrário das áreas com vegetação e água, não se resfriam à noite. Segundo Jeff Luvall, que coordena a pesquisa, a melhor solução para reduzir tanto calor é mesmo plantar árvores. • ©2 O antropólogo LeslieAiello, da UniversidadeCollege London, comparou o organismo humano com o dos chimpanzés. Everificou que, nos dois casos, 70% da energia adquirida dos alimentos é consumida por cérebro, coração, fígado, rins e intestinos. Mas o cérebro dos chimpanzés pesa um terço do cérebro do homem, enquanto os intestinos pesam mais que o dobro. Conclusão: o homem faz uma contenção no consumo de energia pelos intestinos. • © 1GammaIPatrick Mesmer 2 Brian Parsons 3lUlz Iria 4 RogérioMaroia
  • 9. Frescura vegetal As áreas pintadas de verde representam a vegetação. Parques e praças têm temperaturas por volta de 25 graus Celsius. Estrada o amarelo mostra estradas e ruas, onde a pavimentação faz a temperatura atingir pelo menos 45 graus Celsius. Inferno no telhado A cor vermelha indica o topo de prédios. Por causa do concreto, a temperatura nessas áreas chega a 65 graus Celsius. Para cada cabeça, um peso Os órgãos dos animais variam em proporção, conforme a necessidade de cada um. o homem Comparado com o tamanho total do corpo, o cérebro do homem é o maior entre os animais nascidos de placenta. Para pensar, ele retira energia dos intestinos, que são pequenos. ochimpanzé o cérebro do macaco pesa cerca de um terço do cérebro humano. A maior parte da energia que ele extrai dos alimentos é absorvida pelos intestinos, que são duas vezes maiores que os nossos. A ave Nos pássaros, o cérebro é pequeno e õ intestino também, em relação ao tamanho total da ave. Mas o coração é enorme. Ali é consumida a maior parte da energia, para voar. ©4 SÉRIE VES11BUlANDO ÚNGUA PORTUGUESA (28 FITAS) MATEMÁTICA (10 FITAS) GEOGRAFIA (10 FITAS) HISTÓRIA (1 FITAS) FísiCA (10 FITAS) QUíMICA (10 FITAS) BIOLOGIA (10 FITAS) INGLÊS (5 FITAS) SÉRIE DIDÁnCA ASTRONOMIA (S ATAS) ALFABETIZAÇÃO (7 FITAS) ANATOMIA CORPO HUMANO (12 FITAS) EDUCAÇAo SEXUAL (5 FITAS) CIÊNCIAS (1 ATAS) BIOLOGIA (6 FITAS) LíNGUA PORTUGUESA (12 FITAS) LITERATURA BRASILEIRA (1 FITAS) HISTÓRIA GEOGRARA MATEMÁTICA FíSICA (8 FITAS) QUíMICA (6 FITAS) IDIOMAS SÉRIE AurO-CONHECIMENTO COMO VENCER A TIMIDEZ MEGAMEMÓRIA LEITURA DINÂMICA INTEUGÊNCIA EMOCIONAL ÉTICA (2 FITAS) ED FISICA: VOLEIBOL (2 FITAS) ED FíSICA: NATAÇÃO (2 FITAS) .ED FíSICA: HANDEBOL (2 FITAS) ED FíSICA: FUTSAL ( 2 FITAS) ED FíSICA: BASQUETEBOL (2 FITAS) ED FísiCA PARA CRIANÇAS (3 FITAS) ED FíSICA PARA DEFICIENTES (3 FITAS) ED FíSICA PARA 3" IDADE (3 FITAS) TAl CHI CHUAN ENERGIA (3 FITAS) GINÁS11CA TERAPÊUTICA (2 FITAS) MASSAGEM WORD 97 (3 FITAS) ACCESS 97 (3 FITAS) O~FICE 97 (S FITAS) VISUAL BASIC 4.0 (6 FITAS) PHOTOSHOP 4.0 (2 FITAS) COREL DRAW 7.0 (3 FITAS) AUTOCAD R.13 (6 FITAS) BORLAND DELPHI 3.0 SÉRIE ATIVIDADES FíSICAS SÉRIE INFORMÁncA SÉRIE EDUCA CÃO ARTÍsnCA EDUCAÇAO ARnsncA (7 FITAS) EMBALAGENS DE CAIXAS CESTAS - FLORES & SABORES DESENHO À MÃO UVRE (3 FITAS) BALÓES MÁGICOS - MATEMÁTICA (6 DISQUETES) FíSICA (6 DISQUETES) QUíMICA (6 DISQUETES) SUPER PROFESSOR (DISQUETE) NOSSA ÚNGUA - Prot. Posquole (CD-ROM) ENCICLOPÉDIA DELTA (CD-ROM) SOFTWARES DIDÁncos 2' GRAU
  • 10. I - I I I L Comprovado: os agrotóxicos prejudic:am a memória e a coordenação motora e visual dos jovens. E o que indicam testes com 33 crianças de 4 e 5 anos de idade, da região de Sonora, México: as que ficaram mais expostas aos produtos, usados nas lavouras e no combate a insetos caseiros, tiveram mais problemas. Elizabeth Guillette, antropóloga da Universidade do Arizona, autora da pesquisa, acha que crianças de outras áreas agrícolas sofrem os mesmos danos. Pasme: o fumo pode reduzir a incidência de câncer de mama em mulheres vulneráveis à doença por mutação genética. Os cientistas americanos e canadenses que fizeram a descoberta acreditam que o cigarro inibe a produção de estrógeno, o hormônio relacionado ao câncer de mama. Mas os próprios autores do trabalho fazem questão de não recomendar o fumo como solução para nenhum mal da saúde. 5 quilômetros ASTRONOMIA Uma poça seca em Marte ~ ~L- __ ~ ~~ ~© A cratera marciana tem marcas escuras na superfície, semelhantes aos sedimentoscomunsnafonnação de lagosterrestres. 14 SUPER A G OS T O 1 998 1 sonda Mars Global Msurveyor, da Nasa, em órbita de Marte, tem fotografado alguns pontos que já haviam sido vistos por sua antecessora, a nave Viking 2, em 1978. Mais nítidas, as novas imagens revelam detalhes que as antigas não podiam captar. Desta vez, a sonda fotografou uma cratera de 50 quilômetros de diâmetro, que fica no hemisfério sul marciano. Edescobriu que um dia ela pode ter abrigado um lago. A desconfiança vem das marcas de canais nas bordas do buraco e da diferença de cores entre as paredes e o fundo. Apesar de não descartar outras hipóteses - GOmolava escorrida -, os especialistas da Nasa crêem que o terreno escuro é formado por sedimentos depositados por enxurradas que um dia fluíram pelas bordas.• SAÚDE Americanos estão ficando alternativos convencionais, nessepaís, não impediu que 42% dos adultos, no Estado da Califórnia, tivessem buscado métodos não- ortodoxos, no ano passado. Essedado explica por que cada vez mais hospitais e planos de saúde estão incluindo essasterapias em seusserviços.Veja abaixo as técnicas mais populares.• I evantarnento feito pela Lempresa Landmark Healthcare indica que a Medicina Alternativa tem força surpreendente nos EstadosUnidos. A alta qualidade dos tratamentos Para além dos consultórios Uma pesquisa realizada com 1500 americanos aponfou guais as cinco terapias mais procuradas. Terapia por ervas 17% ---- Quiroprática (recolocação da coluna) --"'----' Massagens Vitaminas 13% Homeopatia 5% © 1 Malin Space Science Systems/ NASA 2 Image 8ank
  • 11. ---------------------------~~~=~~--=-~~=-=--=---==============~~I ©2 Sabe aquela mulher que você está de olho? ~ Vista uma Pool que você vai ver IIQm~ aqueles olhos piscando para você. Fique bem. Fique Pool.
  • 12. PAlEONTOLOGIA Está provado. Os dinos tinham penas Agora não há mais dúvidas. As aves não foram os únicos bichos que se recobriram de penas durante a evolução. Pelo menos dois dinossauros também enfeitavam o corpo com plumas. Os paleontólogos têm certeza disso porque, pela primeira vez, viram restos indiscutíveis de penas em dois fósseis, o Protoarcheopterix e o Caudipterix. A descoberta foi anunciada no final de junho pelo chinês Ji Qiang, do Museu Geológico Nacional da China, e mais três especialistas. Não quer dizer que os bichos tiveram asas verdadeiras, pois tanto os braços como os dedos eram bem menores que os das aves. Ou seja, os dinos não usavam as penas para voar. Essa mesma conclusão vale para o Sinosauropterix, que também parece ter tido penas (ainda sem comprovação). As penas talvez tenham evoluído, como os pêlos, para proteger do frio. Ou podem ter sido uma marca, para identificar os animais da mesma espécie. Seja como for, os novos fósseis tendem a confirmar que as aves realmente são descendentes dos grandes répteis pré-históricos. Eles inventaram as penas; as aves tiraram partido disso para deslizar no ar.• 3 Quase no ar Do.chão. para O ar oancestral das aves teria surgido entre os celurossauros, o grupo dos répteis mais velozes. 1Arrancada letal o Velociraptor foi um celurossauro típico. Seus braços, bem flexíveis, já eram um indício da evolução que levaria às asas. 16 SUPER AGOSTO 1998 2 Equilibrista O Unenlagia nunca voou. Mas suas patas frontais moviam-se como asas. Talvez para dar equilíbrio a . esse corredor. Com penas em várias partes do corpo, o Caudipterix só não saía do chão porque seus membros frontais eram curtos.
  • 13. 4 Saltos mortais o Arqueopterix já tinha penas de formato diferente em cada região do corpo. Com isso, era mais fácil dar grandes pulos, ensaiando o vôo. 5 Detalhe certo Há indícios de que o polegar do Eoalulavis tinha um tufo de penas, chamado alula, que é essencial ao vôo das aves de hoje. 6 Decolagem Imagina-se que, há uns 50 milhões de anos, algum réptil emplumado, cujo fóssil ainda não foi encontrado, finalmente bateu asas e voou.
  • 14. Dinheiro falso não entra. As máquinas de auto-serviço usam mecanismos sofisticados para testar cédulas e moedas. 20 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8 Olhos eletrônicos à prova de fraude .,Como as máquinas • de auto-serviço reconhecem o valor de notas e moedas? INão adianta tentar enga- • nar com uma chapinha de metal. As máquinas estão programadas para procurar tantas informações no di- nheiro que é pouco provável que alguma falcatrua funcio- ne. "Os fabricantes vão à Casa da Moeda e discutem as características de cada cé- dula e moeda para criar os mecanismos de reconheci- mento", diz o engenheiro Celso Gitelman, da Auto- vending Brasil, distribuidora de máquinas de auto-serviço no país. As notas passam por lâmpadas que emitem luzes de cores diferentes (verdes e brancas) e radiação infravermelha (veja infográfi- co ao lado). Assim, o apare- lho verifica a correção do de- senho, da marca d' água, do Como ela sabe quanto vale? As máquinas de auto-serviço submetem notas e moedas a várias provas. Três luzes diferentes atravessam as notas verificando sua transparência e características do desenho, espessura e tipo de papel. Parafraudar a máquina, um falsário teria de enganar a leitura de todas as lâmpadasao mesmo tempo. ~ V As moedas passam por sensores que medem seu tamanho e , condutividade elétrica. ©1 tipo do papel, da espessura e da cor da cédula, que tam- bém tem resíduos magnéti- cos, captados por sensores. Já as moedas passam por im- pulsos elétricos que detec- tam sua condutividade, indi- Precisamos de água para respirar melhor to com o gás carbõnico se condensam no vidro. Quem sofre de doenças respiratórias, como asma e bronquite, preci- safazer um esforço maior pa- ra absorver o oxigênio e, quando fica ofegante, perde mais água do que o normal. "Por isso, o catarro resseca e endurece no pulmão", conta o pneumologista Hélio Romal- dini, da Universidade Federal cando a composição da liga metálica de que é feita. Além disso, um sistema óptico me- de o tamanho da sua sombra para verificar o diãmetro e a espessura da placa deposita- da no aparelho. • de São Paulo. "A secreçãoaca- ba virando uma espécie de ro- lha na traquéia, dificultando ainda mais a respiração." Nessecaso, o melhor a fazer é uma inalação, ou seja, aspirar vapor d'água. Na falta de um inalador, o remédio é beber muito líquido, que será absor- vido pelo sistema digestivo e ajudará a hidratar os brõn- quios, dissolvendo o catarro.• © 1 LuizIria e Maurício lara 2 PauloJares 3 André Penner 4 Gamma/ Saola 5 Alexandre Degre "Por que os médicos • recomendam beber água para quem sofre de problemas respiratórios? IVocê sabia que perdemos • água quando respiramos? Por isso o espelho fica emba- çado se o olhamos muito de perto. É que o vapor d'água e asgotículas que liberamos jun-
  • 15. o ouro aparece quando o mercúrio dá as caras ",Por que o mercúrio • é usado para encontrar ouro? I"Porque é útil para sepa- • rá-Io das impurezas", afirma a química Elizabeth de Oliveira, da Universida- de de São Paulo. Quando o garimpeiro pega um mon- te de terra molhada na ba- téia, não sabe exatamente o que está no meio dela. Então, joga mercúrio líqui- do, que atrai o ouro pulve- rizado na lama e forma com ele uma liga visível. Mas se houver também outros metais nobres, co- mo o paládio ou a platina, o mercúrio também vai atraí-Ios. Aquecendo a liga com um maça rico, a cerca de 300 graus Celsius, os metais derretem e o mer- cúrio vira vapor. O ouro, entretanto, continua mis- turado aos outros metais. Para separá-Io, a liga tem que passar por um compli- cado processo posterior em laboratório .• Elefante velho acaba ficando para trás ",Por que o elefante • se afasta da manada para morrer? 1Issoé lenda. Acontece que • esses bichos comem mais de 100 quilos de plantas, ca- pim e folhagem por dia. Por essarazão são nômades. Têm que mudar de lugar para con- seguir novas refeições. Quan- do atingem a idade de mor- rer, em torno dos 60 nos, não conseguem mais acom- panhar o ritmo da manada e vão ficando para trás. Se um animal novo estiver ferido, seuscompanheiros são solidá- rios, interrompem a caminha- da para cuidar dele e chegam até a ampará-Io para andar. "No caso dos animais velhos, isso não acontece", explica o zoólogo Sérgio Rangel Pinhei- ro, do Zoológico de Sorocaba, interior de São Paulo. "Muitas Na batéia, o mercúrio separa o ouro da terra e das impurezas. Mas atrai o paládio e a platina junto. Como calor do rnaçarico, o mercúrio vira gás e o ouro fica nofundo, junto com os outros metais Os elefantes andam em bando. Guando um deles é jovem e se machuca (foto meRor' a manada pára para ajudar vezes o elefante idoso acaba por sejunta a outros na mes- ma situação, formando ban- dos que praticamente não se movem. Elesficam lá, no mes- mo lugar, até morrer", diz a bióloga Ana Maria Beresca,da Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Dai surgiu a len- da do cemitério dos elefantes, um local para onde os animais se dirigiriam ao perceber a proximidade da morte. •
  • 16. o que o ouvido não escuta o cérebro não sente ,Por que uma criança • tem mais facilidade para aprender idiomas do que um adulto? Io aprendizado depende do • estímulo sonoro. As fibras nervosas que levam os sons do ouvido ao cérebro são for- madas de neurônios. Elesen- tram em ligação entre si por nas sinapses,verdadeiras pon- tes químicas por onde as men- sagens neurológicas passam. n Nas crianças, as ligações es- tão em processo de constitui- ção e asfibras são maleáveis e estão disponíveis", diz a to- noaudióloga Ana Maria Maaz Álvares, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Por isso, se forem estimuladas pela repetição de sons, formam estradas sono- rasaté o cérebro. Depois dos 10 anos, a capacidade de es- tabelecer novas ligações di- minui e o aprendizado torna- se mais difícil. A criança nasce também com o aparelho fonador pronto para falar qualquer idioma. Mas, pelos mesmos motivos que dificultam o aprendizado, depois dos 10 anos ela começa a perder a capacidade de pronunciar alguns sons para os quais não tenha sido treinada. Isso não quer dizer que não se possa aprender alemão com 40 anos. Quer dizer apenas que vai demorar mais tem- po. E que o sotaque prova- velmente vai ser forte. Para falar perfeitamente, talvez seja necessário passar por um fonoaudiólogo .• ©1 Na criança,os neurônios que formam_ as fibras nervosas ainda estão se ligando e são receptivos a novas informações sonoras. No adulto, a capacidade de estabelecer ligações diminui e também a receptividade. A estrada do som, com escalas O estímulo sonoro chega ao cérebro por meio de fibras nervosas. Dentro do ouvido, o som é transformado em impulso elétrico, levado até o cérebro por fibras nervosas, que passam pelo tronco cerebral. membrana do tímpano 22 SUPER AGOSTO 1998 tronco cerebral Reis cruéis se divertiam com a dor dos bobos 'Ouem eram os • bobos da corte? IÉ sinistro. Quase sempre • eram loucos, anões, cor- cundas e outros defi- cientes físicos. "Às vezes até quebravam a coluna do sujeito para que ele fizesse melhor figura frente ao rei", conta Jonatas Batista Neto, professor de História Medie- val da Universidade de São Paulo. A função era entreter os monarcas, que riam das palhaçadas e, principalmen- te, das deformidades físicas. Essaterrível profissão era co- mum no final da Idade Média, entre os séculos XIV e XVI. Os bobos trabalha- vam para o rei e para os no- bres. A zombaria macabra não era o único motivo para mantê-Ias nos castelos; acre- ditava-se que os coitados davam sorte e afastavam mau-olhado. Não era um trabalho dos mais prestigia- Os bobos sofriam para entreter os nobres da Idade Média dos. O genial dramaturgo in- glês William Shakespeare (1564-1616) ajudou a reabi- litar a figura dos bobos, dan- do a eles importantes fun- ções em suas peças. Em Rei Lear, o protagonista, desti- tuído do poder, acaba che- gando à conclusão de que ele é mais tolo do que o bo- bo que o acompanha. Shakespeare usou os bobos para fazer críticas aos pode- rosos, aproveitando a liber- dade que essespersonagens tinham. Nas peças, eles aca- bavam falando verdades que ninguém ousava dizer. • © 1 Luiz Iria / Rogério Maroja 2 Reprodução (Trades and Occupations - a pictorial archive from early sources - selected and arranged by Carol Belanger Grafton)
  • 17. o Sol muda de cor por causa da atmosfera I, l :; ")por que o Sol muda • de cor durante o dia? IA luz solar não é amarela • nem vermelha, é branca. O branco resulta da soma das sete cores do arco-íris - o violeta, o azul, o anil, o verde, o amarelo, o laranja e o ver- melho. Nós enxergamos o Sol com tonalidades diferen- tes, ao longo de um dia, por- que a atmosfera filtra os seus raios, separando as cores. "A nossa percepção do Sol mu- da por causa das irregularida- des na camada de ar que en- volve a Terra e pela distância que a luz percorre na atmos- fera", explica o físico Hen- rique Fleming, da Univer- sidade de São Paulo. Existem partículas de poeira, poluição e gotículas d'água infiltradas entre as moléculas de gás que compõem a atmosfera. Quando o Sol está alto, as co- res formadas por ondas de maior amplitude contornam essas partículas e as molécu- las. Mas as menores (o viole- ta, o azul e o anil) não conse- guem se desviar e trombam, espalhando-se. Com isso, tin- gem o céu de azul e o Sol fica amarelo, que é a soma das cores restantes: o verde, o amarelo, o laranja e o verme- lho. À medida que o Sol vai se pondo, seus raios têm que atravessar um pedaço maior da atmosfera, colidindo com mais obstáculos. Afinal, no crepúsculo, até as ondas lon- gas, laranja e vermelho, aca- bam trombando e se des- viando, avermelhando grada- tivamente o horizonte (em- bora o resto do céu continue azul). A vermelha é a última onda de luz que consegue cruzar a atmosfera e nos atingir, por isso o astro-rei fi- ca vermelho no pôr-do-sol. Por fim, o céu fica preto com a ausência de luz: não chega mais nenhuma cor e nem se vê mais nenhum espalha- mento, pois o Sol está abaixo do horizonte .• Palheta celestial - Entenda como o ângulo entre a luz do Sol e a Terra muda a cor do céu e do Sol. A luz branca do Sol é composta de todas as cores. • Ao meio-dia, a luz do Sol atravessa um trecho menor de atmosfera. O violeta, o azul e o anil se espalham pelo céu e os raios solares chegam amarelos aos nossos olhos. OOndas compridas de luz, como o vermelho, contornam os obstáculos sem dificuldades. 24 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 7 No final da tarde, a luz entra inclinada e passa por um ••••lfI!1!!!"1 longo pedaço de atmosfera, trombando nas partículas. O verde e o amarelo também se espalham, e só o laranja e o vermelho chegam aos nossos olhos. Ondas curtas, violetas, anis e azuis, batem e se espalham pelo céu, pintando-o. O Sol é amarelo porque essa cor é a mistura das ondas longas que chegam: verde, amarelo, laranja e vermelho. NA INTERNET super.atleitor@email abril.com.br http://www2.uol.com. br/super Essesaí em cima são os nossos endereços eletrônicos. Para o primeiro, você pode mandar perguntas para a seção SUPERINTRIGANTE. No segundo, você encontra a versão on-line da SUPER e envia perguntas exclusivas para ela. Vamos lá! Se preferir, mande a sua carta pelo correio mesmo. Envie a carta para SUPERINTRIGANTE Avenida das Nações Unidas, 72221 - Pinheiros CEP 05477-000 São Paulo, SP. Se a sua pergunta for selecionada, você receberá em casa uma camiseta da SUPER! © Luiz Iria / Rogério Maroja
  • 18. uando o pequeno abala um gigante 'Como uma ave pode • derrubar um avião? quatro delas. Quem corre mais risco são os monomotores. Há partes da aeronave que, se fo- Uma trombada pode dar rem atingidas, podem tornar • muito trabalho para a tripu- uma viagem ou um pouso difí- lação, mas dificilmente derruba ceis (vejainfográfico). Os riscos uma aeronave grande. A parte são mais sérios quando o avião mais vulnerável é a turbina, está voando baixo, pois as aves que pode até parar de funcio- não passam dos 3 000 metros nar, mas os aviões maiores têm de altura. Vários aeroportos Os piores lugares para uma trombada Há partes da aeronave em que o impacto com um pássaro é perigoso. Se o leme for danificado, a dirigibilidadEl.da aeronave. fica comprometida Uma avaria na cauda pode destruir um profundor, a peça que faz o avião subir e descer. ~~~~~~:t~.~------------------Y O choque do pássaro com a turbina Um impacto com o aileron, entorta as pás que puxam o ar, que inclina o avião na hora provocando vibração. Se uma delas da curva, pode destruí-Io. quebrar, pode bater no motor e travá-Io. ©1 adotam técnicas de proteção, como aparelhos que emitem sons para afastar os bichos. "Além disso, as aeronaves pas- sam por testes para verificar se sua estrutura suporta impac- tos", conta o engenheiro me- cânico Fernando Franchi, da Empresa Brasileira de Aero- náutica (Embraer).• Na frente, um impacto pode romper o vidro e atingir o piloto, além de causar despressurização. +c6 Na cozinha, tamanho de chapéu é documento Quanto maior o chapéu, melhor, supostamente, o cozinheiro ,Porqueos • cozinheiros usam aquele chapéu comprido? IFaça biquinho e repita em • francês: toque blanche. Touca branca. Esseé o nome original do chapéu comprido. Segundo o chef francês Laurent Suaudeau, que usa uma toque blanche 1)0 Res- taurante Laurent, em São Paulo, e é tido como um dos melhores cozinheiros do Brasil, o formato do chapéu foi herdado dos monges. "Na Idade Média", diz ele, "os © 1 LuizIria / Rogério Maroja 2 Rogério Montenegro maiores cozinheiros estavam nos monastérios." Quem ins- tituiu o uniforme branco foi o rei francês Luís XIII (1601- 1643). No seu reinado, e no de seus sucessores, LuísXIV e Luís XV, os cozinheiros ti- nham tanta importância que seu título era de officiel de bouche (oficial da boca), uma patente militar. Com o tempo, o tamanho dos cha- péus tornou-se sinal de pres- tígio e indicador de hierar- quia. A equipe da cozinha vai desde o chef, com o cha- peuzão, até o último ajudan- te, de bonezinho .• A seguir, os autores das perguntas escolhidas nesta edição. Todos receberão suas camisetas em casa. Carlos Eduardo Viero Botucatu, SP Oamião Gomes Correia Guarulhos, SP Enzo Pote I Quaglio Itajaí, SC Júlio César Azevedo de Medeiros Bauru, SP Lidiani Zeni Juina, MT Luciano Ferrari Osasco, SP Maria José Gomes Uchoa,SP Marlon Trachta Bataiporã, MS
  • 20. oo pó é misturado com álcool ou _com aetil-acetato, e aquecido. Ao esfriar, vira cristal branco. • Quando iluminado por luz polarizada, o cristal ganha cor e aí é fotografado por uma câmara acoplada ao microscópio. 0
  • 22. o renascimento barr No ano em que Ouro Preto, a capital nacional do barroco, completa três séculos de existência, o estilo artístico e religioso que dominou o período colonial dá a dolta por cima. Aqui você vai entender ..~ -------por que, para alguns, esse foi o gênero ..........•.........,.fY.. que formou e define, até hoje, a cultura brasileira. POR RICARDO ARNT, LUOA HELENA DE OLIVEIRA, DE OURO PRETO, E FERNANDO VALEIKA DE BARROS, DE USBOA H á 300 anos, emjunho de 1698,quando o acampa- mento de Ouro Preto foi fundado no alto de um morro perdido na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, nada prenunciava seu glorioso futuro. O clima era sombrio, esmagado por muralhas de montanhas, e o arraial equilibrava-se sobre solo escorregadio. "Aprimei- ra coisa que se fazia ao criar uma cidade", disse à SUPER o historiador português VitorSerrão, professor de Histó- ria da Arte na Universidade de Lisboa, "era construir uma capela. A maior preocupação era não faltar igreja para as festas santas como o Natal." E foi de capela em capela, cada vez mais próspero com a descoberta de vários depósitos de ouro nas ime- diações, que, em 1711,o povoado virou a VilaRi- ca do Ouro Preto, a capital do barroco - o estilo artístico exuberante que domi- nou a arquitetura, a pintura, a escul- tura, a literatura, a música, o mobi- lário, a ourivesaria e a mentalidade do país durante 100 anos. Tanto tempo que, para muitos historiadores, o bar- roco não só fundou a cultura brasileira, como continua a influenciá-Ia até hoje - apesar de ser o avesso das mo- das minimalistas pós-modernas. A idéia é apaixonante. E controversa, como você vai ver nesta reportagem. O certo é que o barroco brasileiro está em alta. Cento e vinte mil pessoas já visitaram em São Paulo a exposi- ção O Universo Mágíco do Barroco, que reúne, pela pri- meíra vez, 400 peças deslumbrantes do período colonial. O sucesso é tanto que a mostra foi prorrogada até 18 de outubro. Em maio, a Chrístíes de Londres, a mais famo- sa casa de leilões do mundo, vendeu, pelo preço recorde de 420 000 dólares, uma imagem de Nossa Senhora das Dores esculpida por Aleijadinho, o príncípal artista brasileiro do período. Quer dizer, se alguma vez o b31TOCOesteve em declínio por . aqui, ele agora está renascendo.
  • 23. Os símbolos da fé revigorada Ofuscar os sentidos. Afirmar o esplen- dor divino. Conquistar a alma e a imagina- ção com a exuberância da fé. Maravilhar. Extasiar. Ao recomendar novas diretri- zes estéticas à Arte, os cardeais reuni- dos na última sessão do 19° Concílio Ecumênico da Igreja Católica Romana, em 1563, na cidade de Trento, na Itália, não estavam brincando. O Vaticano precisa- va reagir à expansão da Reforma protestante na Europa, iniciada por Lutero, na Alemanha, em 1517. O barroco - termo derivado da palavra espa- nhola barueco, que significa pérola irregular - foi um dos principais instrumentos de propaganda do movimento da Contra-Reforma. Não por acaso, um dos primeiros edifícios com decoração nesse estilo foi a Igreja de Jesus, em Roma, de 1575, construida para sediar a Companhia de Jesus, a ordem dos je- suítas, fundada para combater o protestantismo. "A Igreja queria parecer moderna e não ultra- passada", explicou à SUPER o historiador Carlos José Aparecido, da Fundação do Museu de Arte Sa- cra de Ouro Preto, em Minas Gerais. "A pompa e a exuberância barrocas quebravam a línearídade e a rigidez dos estilos vigentes, o renascentísta, har- mônico e equilibrado, e o maneirista, superficial e artífícíoso. E impressionavam." Daí o seu apego à curva, ao movimento, ao drama, à decoração feérí- ca e, paradoxalmente - em se tratando de uma ar- te religiosa -, à sensualidade. ANJINHOS Os anjos meninos eram símbolos do amor divino ATlANTESE CARIÁTIDES Figuras míticas da Antigüidade, atlantes (homens) e cariátides (mulheres), serviam como suporteS de colunas FLORES São representações da beleza da alma e da fugacidade das coisas ©2 O barroco foi uma reafirmação do poder da fé. Diante do protestantismo, que pregava austeridade e rigidez, o catolicismo rea- giu alardeando a exaltação mística e o delírio dos sen- tidos. A vítóría da emoção sobre a razão. Atraso luso O Concílio de Trento e suas idéias estéticas aju- daram os reis católicos a impor seu poder sobre os nobres locais e a consolidar as monarquias absolutas. Por isso, no século XVII,o período barroco por exce- lência na Europa, surgiram palácios monumentais e hiperdecorados, como o de Versailles (1655), na França, reafirmando a grandeza do Estado. Mas Portugal já estava em decadência quando o barroco surgiu. Perdera importantes entrepostos co- merciais e, em 1580, o próprio rei, d. Sebastião, morna em batalha, no Marrocos, sem deixar herdeiros. A tra- gédia redundou em outra, maior, quando as complica- ções dinásticas levaram à anexação das terras lusita-
  • 24. nas pela Espanha. "Esse período, de 1580 a 1640", de- fine o historiador Nicolau Sevcenko, professor de His- tória Contemporânea na Universidade de São Paulo, "constitui o maior pesadelo da história portuguesa." A perda de poder político e financeiro refletiu-se na cultura. É a época da "arte chã", que, na Arquite- tura, produziu igrejas singelas, com torres quase co- mo guaritas e interiores ornamentados em madeira talhada. "Uma vez que não havia mármore ou pedras nobres, como nos países ricos", explica Vitor Sertão, "a solução foi trabalhar com azulejo, madeira e pai- néis pintados". Só em 1640, com a reconquista da in- dependência, o barroco português deslanchou, com quase um século de atraso. CONCHAS Conchas de vieira e coquil/es de saint-jacques. pregadas no peito. identificavam os peregrinos que iam ao santuário de Santiago de Compostela, na Espanha. no século XI ESPINHOS Os emaranhados ásperos lembravam a consciência da dor do pecado PALMAS Osfeixes de folhas sugeriam o triunfo de Jesus sobre o martírio
  • 25. lil Período nacional português (1700 -1730) Os três ciclos do barroco colonial No Brasil, a ascensão do novo gênero artístico acom- panhou a descoberta do ouro em Minas - a primeira corrida do ouro do Ocidente. Em cinqüenta anos, 600 000 portugueses emigraram para cá. Desses, calcula o histo- riador Jaelson Brítan Trindade, do Instituto do Patrimô- nio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) , de São Paulo, "pelo menos 800 eram artistas". No final do século XVII,descontados os índios, a po- pulação brasileira de origem européia contava 40 000 ha- bitantes. _TO fim do século XVIII,pulou para 1,5 milhão. Nas cidades litorâneas, sob maior influência da metrópo- le, o barroco foi mais português. Já no interior de Minas, isolado pela distância e pela precariedade das comunica- ções, ganharia cada vez mais característícas próprías. Um século de evolução Quando surgiu, em Salvador e em Recife, o estilo mudou o interior das igrejas, não o exterior. Nesse pe- ríodo inaugural, chamado de nacional português, as fa- chadas e plantas continuam retilíneas, mas, por dentro, os templos viraram suntuosas "cavernas douradas", com paredes e tetos inteiramente revestidos de madei- ra esculpida em alto ou baixo-relevo (a talha), e pintu- ras encaixadas em molduras (os caixotões). Os painéis que ficam atrás e acima do altar (os retábulos) apresen- tam colunas torcidas e decoração profusa. É o caso da Capela Dourada (1695), em Recife, da Igreja de São Francisco de Assis (1703), em Salvador, e da capela de o retábulo do altar. esculpido em madeira. formava uma verdadeira caverna dourada Todos os espaços disponíveis em paredes e tetos eram profusamente decorados. Nossa Senhora do , em Sabará (1719), Minas Gerais. A partir de 1730, nota-se uma mudança. É o períod joanino, marcado pela gosto italiano do rei português, <f João V.As estátuas se integram à madeira dos retábulo e os caíxotões desaparecem, substituídos por pintur ilusionistas (que provocam ilusão de óptica), recobrind o teto. A arquitetura adota linhas curvas, naves alonga- das e torres circulares, como nas igrejas de Nossa Senho- ra da Conceição da Praia (1758), em Salvador, Nossa Se- nhora do Pilar (1734) e Nossa Senhora do Rosán (1750), ambas em Ouro Preto. Outras mudanças cristalizam-se a partir de 1760,com o ciclo rococó. Aí,as fachadas tornam-se mais leves e au- daciosas, com curvas e contra-curvas, elegantes torres redondas e portadas com relevo de pedra-sabão. Os am- bientes são claros e arejados, e a luz natural enfatiza aor- namentação sobre fundos caiados de branco. Ostemplos projetados por Aleijadinho, como a Igreja de Nossa Se- nhora do Carmo (1766), em Ouro Preto, e a de São Fran- cisco de Assis (1774), em São João del Rey, são obras- primas da época. "O interior dessas igrejas", diz Myriam Ribeiro de Oliveira, professora de História da Arte na Universidade Federal do Rio de Janeiro, "são verdadei- ros poemas sinfônicos de luz e de cor".
  • 26. orsa Pintura ilusionista sugerindo o céu infinito no teto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador dossel nicho Período joanino (1730 -7760) ©1 o retábulo da Igreja de N. Senhora do Rosário, de Ouro Preto, ressalta a ornamentação das esculturas. Período rococó (7760 -7800) o retábulo da Igreja de São Francisco, em São João Dei Rey, sobre fundo branco O estilo rococó aliviava o exagero ornamental e proporcionava maior moderação arquitetõnica. A Igreja de São Francisco. em São João dei Rey, com torres redondas e fachada trabalhada
  • 27. sineira , I oímã do ouro tornou Minas a capítanía mais populo- sa do Brasil. De 1711 a 1730, começando por Ouro Preto brotaram nove vilas na Serra do Espinhaço - e Sã João DeI Rey, no sul, a Sabará, no norte. No fim do sécu- lo XVITI, a região já tinha 500 000 habitantes. Para se ~eJ uma idéia, em 1762,oRiotinha apenas 30 000 habítant ; Salvador, em 1797, 50000; e VilaRica, 100000. our criou um mercado interno para o gado do Sul, f e açúcar do Nordeste e escravos do Rio. Com a abertuiade Caminho Novo das Gerais, em 1715, os tropeiros pa ram a viajar entre o Rio e VIlaRica em "apenas" doze dias. Acivilizaçãoque levou o barroco brasileiro ao apogeu era aventureira e precária, A Coroa confiscava um quinto do ouro extraído e, por isso, o contrabando era crônico. Os costumes eram promíscuos e as leis, pouco respeita- das. A falta de mulheres tornava a prostituição rendosa. Até os padres envolviam-se em escândalos sexuais. Para controlar a expansão da Igreja nessa região tão rica, a Coroa proibiu a instalação elas Ordens Primeiras (de frades e monges) e Segundas (de freiras), em 1738. "Em conseqüência", explica Ana Maria Monteiro de Carvalho, professora de História da Arte na Universidade Católica eloRio, "proliferaram as Ordens Terceiras, as Ir- mandades e as Confrarias que congregavam leigos. Foi a devoção laica que encheu Minas de obras barrocas." Cada corporação de ofício tinha a sua Ordem. Havia irmandades ele elite e populares. A Orelem Terceira de São Franciso de Assis de VIlaRica, por exemplo, proibia "mulatos, negros, judeus, mouros e heréticos ou seus descendentes até a quarta geração". A Ordem Terceira do Rosário dos Pretos congregava escravos. Cada uma ti- nha seu santo, suas festas e construía sua igreja exclusi- va, competindo com as outras em prestígio. Para o devo- to, o prêmio era ser enterrado pela confraria - garantin- do o céu após a morte. lombo das mulas, foi tróca por paír is pin dos. Ape- dra-sabão substituiu o ármore e a perua de lioz. As igrejas e capelas tornaram-se menores, já que eram construídas para atender a uma só confraria. Aos poucos, na medida em que tiveram filhos com escravas, os artistas portugueses repassaram as técnicas a artesãos mestiços. Foi o mestre-de-obras Manuel Francisco Lisboa, branco e português, que formou Antô- nio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, seu filho. Em 1790, os artistas mulatos e livres já predornina- vam nos cargos de "oficial"e de "mestre". Asintonia com a terra e a cultura artística local filtrava a reinterpreta- ção dos modelos europeus. As paredes curvas se mistu- raram às retas. As cores avivaram-se com a luz dos trópi- cos. Os santos ganharam feições amulatadas. E os anji- nhos morenos receberam viçosas perucas loiras. óculos frontão Síntese original Impulsionado pelo ouro e pela multiplicação de igre- jas, o barroco português aos poucos adquiriu traços bra- sileiros. Oazuleja, que não suportava a subida da serra no I1 ri ©3 Ouro Preto foi tombada pelas Nações Unidas em 1980, Fundada em 1698.tem 25 igrejas do século XVIII preservadas
  • 28. CORTE LATERAL 11Il 39 metros I VISTA POR DENTRO arco-cruzeironave sacristiacoro altar (I J retábulo PLANTA BAIXA capela-mor retábulopúlpito 15 metros Obra-prima da arte mineira Conheça as características da Igreja de São Francisco de Assis. De 1766 a 1794, a Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência, que congregava muitos intelectuais de Vila Rica, pagou os melhores artistas para construir seu templo. O projeto arquitetõnico, o altar-mór, o retábulo, os púlpitos e os frontões da fachada foram feitos por Aleijadinho. Sete entalhadores esculpiram a madeira. O mestre-de-obras foi Domingos Moreira de Oliveira, o melhor da época. A pintura do teto é de autoria de Manoel da Costa Ataíde, um dos grandes artistas da região. TOQUE DE GÊNIO A talha do Aleijadinho extravasa do retábulo e se expande pela cúpula e pelas paredes laterais DETALHE SUTIL Apesar do arredondamento dos ângulos. as paredes laterais da nave não são curvilíneas
  • 29. Sotaque brasileiro, gramática portuguesa Formalmente, o barroco termina em 1816, com a chegada da Missão Artística Francesa e do estilo neo- clássico, em voga na Europa, ao Rio. Mas, para muitos, a influência barroca não acabou ai. "O Brasil nasceu sob signo barroco", disse à SUPER o hístoríador Nicolau Sevcenko, da Universidade de São Paulo. "Afisionomia e alma brasileiras foram compostas por esse sopro lTÚS- tico. Ele não foi um estilo passageiro, mas a substância básica da síntese cultural do país." Para Sevcenko, há marcas "latentemente barrocas" na identidade brasilei- ra, no catolicismo popular em especial, como "extremos de fé, ilusão de grandeza, exaltação dos sentidos, êxtase de festa, pendor pelo monumental, convivência com dis- paridades e compulsão de esperança". Essa associação do barroco à identidade nacional surgiu há cinqüenta anos com escritores como OlavoBi- lac (1865-1918) e Mário de Andrade (1893-1945). Ado- tada pelo Serviço do Patrímônío Histórico e Artístico, fundado em 1937, a tese inspirou pesquisadores como GermainBazin (1901-1990), Lúcio Costa (1902-1998) e o diretor da Pinacoteca Municipal de São Paulo, Ema- noel Araújo, que defende "a existência de uma estética própria do barroco brasileiro, a despeito de raízes e mes- tres portugueses". Para Araújo, obarroco brasileiro car- rega "a tropicalidade, a permissividade e a sensualidade da miscigenação das culturas. Aqui, as ordens religiosas incorporaram o negro e o índio", ressalta. "Era a Igreja que promovia a festa.negra do Rei do Congo." o regional e o universal Mas se formou a identidade brasileira, o estilo tam- bém formou a dos outros países latíno-arnerícanos, que reinterpretaram o barroco espanhol. "Lá, muito mais", ressalta Myríam Ribeiro de Oliveira, "pois as civilizações pré-colombianas da América espanhola tinham mais tradição cultural e poder de reelaboração do que as cul- turas indígenas brasileiras. Na verdade, o barroco brasi- leiro é o mais europeu da América. No México, no Peru e na Bolíviahá mais sincretismo do que aqui." Para a es- I I ! I pecialista, a genialidade do Aleijadinho não caiu do céu. "As fontes e modelos que ele usou chegavam de gravu- ras e livros vindos de Lisboa, Paris, Antuérpia e Roma. Ele conjugava muitas influências." De Lisboa, Vitor Ser- rão reitera: "Por mais genial que a talha do Aleijadinho seja, a gramática era portuguesa". Há controvérsia, também, sobre a idéia de nacionali- dade. Para o pesquisador Jorge Coli,professor de Histó- ria da Arte e da Cultura na Uníversídade Estadual de Campinas, "a identidade é um processo: com o tempo, o que parecia essencial revela-se aparente". Colidesconfia da herança "genética" do barroco. Para ele, "o barroco foi universal, com muitos sotaques e acentos regionais". Ainda parece faltar uma análise que ilumine a fusão da influência universal com a local, como sugere Myriam Ribeiro: "Falta uma síntese que una a tradição européia das igrejas mineiras com a sua incontestável originalida- de". Só assim será possível entender o sorriso maroto do anjinho mulato com peruca loira. ~ PARA SABER MAIS o Universo Mágico do Barroco Brasileiro. Emanoel Araújo (org.). São Paulo, Serviço Social da Indústria, 1998. A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Germain Bazin. Rio de Janeiro, Record, 1983.
  • 30. Painéis de retábulo, do carioca Mestre Valentimda Fonseca e Silva. 11750-1813) otorturado Cristo na Coluna, do baiano Francisco das Chagas, "O Cabra", (século XVIII) Uma ousada cariátide desnuda, em pleno século XVII, da Arquidiocese de São Salvador,na 8ahia Cômoda..papeleira,.de jacarandá, de Minas Gerais, do século XVIII Os primeiros gênios Aleijadinho (1730-1814) Antônio FranciscoLisboa era um artista famoso em Vila Rica, que gostava de U mesa farta U e U danças vulgaresU r segundo seu biográfo. Mas, aos 40 anos, pegou lepra. Tornou-se amargurado e recluso. Com um cinzel amarrado no punho, fez obras-primas como o santuário de Bom Jesusde Matozinhos, em Congonhas (MG). Padre Antonio Vieira (1608-1697) Jesuíta,veio para o Brasilcom 18 anos. Na Bahia, pregou contra as invasões holandesas. Em Lisboa, foi diplomata e amigo do rei d. João IV.No Maranhão, defendeu os índios contra a escravização. De volta à Europa, virou confessor da rainha da Suécia. Escreveu Os Sermões, monumento da literatura portuguesa. Gregório de Matos (1633-1696) Escritor baiano, filho de senhor de engenho português. Estudou em Coirnbra, foi juiz em Portugal e tesoureiro do Arcebispado da Bahia. Abandonou a advocacia e virou poeta, famoso pela sátira e pelo erotismo. Seu livro Boca do Inferno valeu-lhe a deportação para Angola. Morreu em Pernarnbuco, impedido de voltar à Bahia. . Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) Músico e compositor carioca. Escreveupeças para canto baseadas em harmonia seqüencial (a repetição da frase em outro tom). Tocava em igrejas e na Corte. Até o século XIX não se imprimia música no Brasil.As partituras eram importadas ou copiadas à mão. Até hoje, foram descobertas apenas 100 peças do período colonial brasileiro.
  • 32. Novas leis de proteção ambiental asseguram a sobrevivência dos animais das Galápagos, onde o inglês Charles Darwin buscou inspiração para escrever a Teoria da Evolução. POR FLÁvIo DIEGUEZ V isitar Galápagos é, até certo ponto, como fazer uma via- gem a outro planeta. Pri- meiro, porque é um mundo novo. Af:, ilhas foram criadas por erup- ções vulcânicas submarinas há apenas quatro milhões de anos- um tempo muito curto, em termos geológicos. Em segundo lugar, elas abrigam animais que evoluíram só lá, em mais nenhum lugar da Terra. Das 5 000 espécies, quase 2 000 constituem uma fauna exclusiva, que provoca a admiração dos turis- tas e dos pesquisadores. O prímeíro a perceber isso foi o criador da Teo- ria da Evolução, o inglês Charles Darwin (1809-1882). Em 1835, Darwín estudou os habitantes do lu- gar, concluindo que, há milhões de anos, espécies do continente teriam migrado para as ilhas recém-forma- das. Então, ao se readaptar num ambiente isolado e tranqüilo, a fau- na migrante gerou espécies novas, que não se desenvolveriam em ne- nhuma outra parte. Daí a importân- cia das leis editadas agora pelo go- verno do Equador, que tem a sobe- rania sobre essa região. Elas asse- guram que esse mundo fantástico, perdido no Pacífico, poderá conti- nuar a evoluir sem ser perturbado. © 1GAMMA / NASA / LlAISDN 2 Diego Rueda
  • 33. UGAR SUPERINTERESSANTE CAMPEÃO VEGETAL O arbusto chamado paio santo está em toda parte. Um herói. Brota no solo pobre que se criou sobre a lava desde a formação das ilhas Direto das profundezas do planeta o Arquipélago de Galápagos é um dos lugares mais jovens do pla- neta, com mais ou menos quatro milhões de anos de existência. Brotou direto do fundo do mar, num período em que o leito oceâ- nico foi sacudido por erupções particularmente violentas. Os vul- cões cresceram até despontar aci- ma da superfície e, com o tempo, se acalmaram, transformando-se em ilhas. Até hoje, as ilhas mais jo- vens, como Fernandina e Isabela, com cerca de um milhão de anos, têm vulcões ativos. O motivo é que o arquipélago fica bem na divisa de duas massas rochosas gigantes, chamadas de Placa do Pacífico e . Placa de Nazca. Entre as placas há uma fenda por onde sobe lava ar- dente do interior do planeta. Foram esses vazamentos que produziram os vulcões, há cerca de quatro mi- lhões de anos. E eles continuam a gerar calor. Mas, agora, seu princi- pal efeito é empurrar a Placa de Fogo cercado de mar por todos os lados As Galápagos nasceram das lavas lançadas por vulcões submarinos. Oito deles são ativos ainda. No meio do Oceano Pacífico há uma fenda no subsolo marinho, por onde escapa lava do interior do planeta. Foram elas que formaram as ilhas, há quatro mihões de anos. 42 SUPER AGOSTO 1998 ALMOÇO COLORIDO Caranguejos são essenciais na cadeia ecológica. Abundantes. são um dos pratos principais dos vários iguanas adaptados às ilhas Nazca, sobre a qual ficam as ilhas, na direção do continente america- no. Aí, a massa bate na Placa da América do Sul, que a vai engolindo lentamente. Estima-se que, dentro de vinte milhões de anos, o arqui- pélago vai mergulhar inteiro de vol- ta para os subterrâneos do planeta, de onde saiu. A área total das oito ilhas grandes e cinco menores é de 8 000 quilõmetros quadrados, equivalente a 1,5 vez o tamanho do Distrito Federal. © Fotos: Oiego Rueda Infográfico: Newton Verlangieri
  • 34. VISITANTESAssíDUOS Leões-marinhos (à esquerda) não são moradores fixos, mas aparecem para pescar os peixes cirujanos (no detalhe), que são fartos no arquipélago NAVEGANTESDEALTOMAR As ilhas são um dos poucos lugares onde as tartarugas- verdes ainda podem pôr ovos com segurança e tranqüilidade. Grandes nadadoras, entre uma desova e outra elas passeiam por vastas áreas do Pacífico RÉPTEISEM FAMíUA Os iguanas são todos descendentes de um mesmo bicho, que é o iguana da América do Sul. Só que, depois de migrar para as ilhas, o réptil original evoluiu e gerou nove espécies diferentes. Cinco se adaptaram à terra e quatro ao mar, como os desta foto A G O 5 T O 1 9 9 8 SUPER 43
  • 35. LUGAR SUPERINTERESSANTE PESCADORAS EXCLUSIVAS As garças-azuis são parentes próximas das que moram nas Américas do Norte e do Sul. As migrantes originais geraram uma subespécie que só pesca nas ilhas Um mundo feito de bichos desgarrados Depois que o choque das pla- cas tectônicas levantou as primei- ras ilhas, elas começaram a rece- ber migrantes vindos do continen- te americano. Os pássaros, os in- setos e as sementes das plantas devem ter sido arrastados pelo vento. Já os iguanas e as tartaru- gas podem ter sido transportados por correntes marinhas, flutuando em troncos perdidos. Apanhados de surpresa pela cheia de um rio, teriam terminado no mar. Aí, uma vez nas ilhas, essa fauna perdida se readaptou com rapidez. Alguns biólogos estimam que os pássaros chamados tentilhões de Darwin evoluíram em apenas 100 000 anos. Éuma mudança bem rápida, em termos evolutivos. Ainda mais porque, a partír de um único ances- tral vindo do continente, surgiram nada menos que treze espécies no- vas. E algumas metamorfoses foram radicais, como a dos iguanas. Uma das espécies das Galápagos é hoje a PREDADORES DO AR As corujas se deram bem nos hábitats oceânicos. Como não há grandes mamíferos com que concorrer na caça, essas caçadoras carnívoras dividem o posto de predadores máximos com os iguanas terrestres única do mundo capaz de procurar comida no mar, em mergulhos de até 40 metros o de profundidade. Gostaram tanto do novo estilo de sobrevivência que sua população atual está estimada em 200 000 a 300 000 répteis. De acordo com as circunstâncias Os bichos migrantes se adaptaram ao ambiente das Galápagos criando novas espécies. o tentilhão vindo das Américas deu origem a treze espécies novas. Uma delas tem o bico próprio para catar sementes ... As tartarugas que comem capinrmantiveram a cabeça baixa As que devoram plantas mais altas espicharam o pescoço o •• outra, para colher frutos ... ... e uma terceira, para caçar insetos. Das nove espécies de iguana, cinco são terrestres... ... e quatro são marinhas. 44 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 8 © Fotos: Oiego Rueda Infográfico: Newton Verlanqieri
  • 36. NO REINO DOS CÉUS Estas. sim. são aves raras. Espécies como a gaivota cola de golondrina (no detalhe) são exclusividade em Galápagos. Também é exclusivo o mergulhão. que faz um sapateado de casamento para atrair a fêmea ARTESÃO ALADO Uma das treze espécies de tentilhões aprendeu a manipular espinhos de cactus com o bico. É como se o pássaro fizesse um instrumento. com o qual cutuca troncos podres e arranca larvas para comer AR QUENTE E ÁGUA FRIA Até o pingüim (esquerda) se adaptou às condições climáticas. por causa das correntes frias que sobem da Antártida. A calandria (ao lado) mudou tanto em relação a seus parentes do continente que passou para outro gênero. Existem quatro espécies diferentes vivendo em ilhas distintas AGOSTO 1998 SUPER 45
  • 37. . - - - - . --- ----.. ..• LUGAR SUPERINTERESSANTE SíMBOLO LERDO Galápagos significa "tartarugas", em espanhol, e dá nome a essas gigantes, que são um símbolo das ilhas. Elas chegam aos 270 quilos e a 1,5 metro de ponta a ponta (passando sobre o casco). Sua digestão demora três semanas Dos incas e piratas aos imigrantes Não é possível ter certeza de quanto tempo as Galápagos evoluí- ram isoladas da intromissão huma- na. O registro histórico assinala que a primeira viagem às ilhas foi feita pelos espanhóis, no século XVI,sob a orientação do inca Tupac Yupan- qui, avô do célebre Atahualpa Yu- panqui, um grande líder desse povo, no Peru. O fato é que, nessa época e nos séculos seguintes, a região per- maneceu deserta. No máximo, ser- viu como esconderijo de grandes pi- ratas, no século XVII.E depois co- mo posto de reabastecimento para caçadores de baleias (que, por sinal, capturaram um número incalculá- vel de tartarugas para alimentar a tripulação). Ainda assim, a ocupa- ção humana só começou para valer no início deste século. Daí para a frente, a presença humana tornou- se uma ameaça para as Galápagos, que já abrigam 15 000 habitantes. Tanto é assim que esse foi o ponto mais importante das leis aprovadas ROEDORESPENETRAS Os ratos entraram nas ilhas de contrabando, escondidos nas embarcações. Proliferaram muito, alterando em parte o ecossistema natural. Mas, até onde se saiba, não representam uma interferência significativa este ano: elas agora proíbem a mi- gração, numa tentativa extrema de evitar o povoamento desordenado das ilhas. Os cientistas agradecem, pois ainda estão longe de aprender tudo o que a natureza tem para lhes ensinar em Galápagos. Um paraíso longe do mundo As Galápagos permaneceram em isolamento quase completo até o início do século XX. SÉCULO XVI Colonizadores espanhóis tornam-se os primeiros europeus a pisar em Galápagos. 1832 O Equador toma posse do território e estabelece a primeira colônia .permanente. SÉCULO XVII No meio do mar, as ilhas servem de esconderijo ideal para os piratas. 1835 Charles Darwin chega em setembro e passa cinco semanas estudando a fauna do lugar. SÉCULO XVIII Caçadores de baleias tiram proveito da fauna excepcional para se reabastecer de carne. Nas ilhas, Darwin encontrou argumentos para defender a Teoria da Evolução 46 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8 1959 O governo do Equador resolve transformar as ilhas em parque nacional. 1979 A Organização das Nações Unidas declara Galápagos um patrimônio da humanidade. 1998 Novas leis de proteção proíbem a pesca comercial e limitam a entrada de novos colonizadores. © 1GAMMA / LAURENTBILlARO 2 Oiego Rueda 3 AE·Person
  • 39. A bre-se a porteira. O touro escapa feito um dragão en- furecido, corcoveando e sol- tando baforadas pelas ventas. So- bre seu lombo, o homem se segura como pode, um braço levantado, a respiração presa, as esporas sem ponta batendo nos flancos do ani- mal. Durante 8 segundos, o público vibra numa torcida unânime para o representante da espécie humana . .Até que toca a sirene: peão e rnon- ..ma se separam. Como o peão não -,espatifou na arena, a audiência , .a o herói, sem pensar na po- .ecoluna do boiadeiro nem no ín- .ot:o:modo que o animal possa estar :;J:.:sentindo com a cinta de lã que lhe . -. aperta o ventre. Isso não importa. .; O que interessa é o show. A cena acima se repete com . freqüência cada vez maior no inte- rior do Brasil. Segundo a Federa- ção Nacional do Rodeio Completo, as 1200 competições realizadas no Brasil no ano passado reuniram 24 milhões de espectadores - se- te vezes mais que os jogos do Cam- peonato Brasileiro de Futebol de 1997. E entre os dias 21 e 30 deste mês o festival continua: em Barre- tos, interior de São Paulo, aconte- ce a Festa do Peão de Boíadeíro, a maior do país, que vai ter um mi- lhão de adeptos do estilo countru acompanhando aos gritos o duelo entre homens e bichos. Apeie nas páginas seguintes para ver e en- tender, em detalhe, esse espetácu- lo que reúne habilidade, coragem, poeira e muita adrenalina. A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 49
  • 40. ESPORTE Prova de resistência Como em toda prova de montaria, o peão tem que se manter 8 segundos sobre o animal. Só assim ele ganha uma nota, que varia de Oa 100 - a soma dos pontos dados pelos dois juizes. Quanto mais o touro corcovear e o peão esporear, maior a nota. o sedém é uma tira feita de lã ou de rabo do cavalo. Atado à virilha do bicho, estimula os pulos. Com uma luva, o peão segura a corda americana (de náilon ou rami, uma fibra vegetal), presa no touro. É proibido fixar as esporas na corda que envolve o corpo do bicho, Para não ferir, a espora não tem pontas nem gira quando é esfregada no animal. o colete é fundamental porque protege o tronco do peão ao descer ou cair. 50 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 8 © 1 Alceu Chiesorin Nunes
  • 41. Botando pra quebrar Um estudo do preparador físico Denilson Santiago, da Federação Nacional do Rodeio, mostra que são freqüentes as distensões enquanto o peão está montado, e as torções e fraturas quando ele cai. Tipos de acidentes mais freqüentes: fratura torção distensão muscular 14% É preciso muita força e agili a e para dominar o touro, que pode ser quinze vezes mais pesado que o peão. os Raças: nelore, holandês, caracu, red buli Peso: de 600 a 1 100 quilos Comprimento: 2,3 metros Altura: 1,6 metro Cada pulo do animal é sentido pela coluna do peão como se ele tivesse caído sentado no chão. A repetição dos impactos ressiona os discos elatinosos que separam as vértebras, principalmente as da região lombar. Por isso, é comum ele ter hérnia de disco. Ao final da prova, o peão escolhe o melhor momento para pular fora. o peão-palhaço é também chamado de salva-vidas. Fica na frente do touro, distraindo o animal depois que o peão desmonta. Isso é que é herói. .••• E O bicho, o.que pensa? "Os homens se divertem às custas do sofrimento do animal", afirma a veterinária lrvênia de Santis Prada, da Universidade de São Paulo. "Além da dor física, eu estou convencida de que o barulho, as luzes, e as cordas causam estresse." O ponto mais polêmico é o sedém, a faixa amarrada perto da virilha Elotouro e do cavalo para fazê-Ios pular. Mas, segundo um laudo da Universidade Estadual Paulista (Unespl. a amarra não causa lesão alguma. © 1 Só que, para lrvênia, mesmo sem machucados aparentes é impossível provar que o bicho não sinta dor. De acordo com ela, o sistema neNOSO dos bovinos e dos eqüinos é parecido com o humano. E um homem, com uma faixa espremendo o baixo-ventre, ficaria bem incomodado. Os organizadores dos rodeios se defendem: "Nenhum dono de tropa quer que seu animal sofra e, sim, que permaneça saudável", raciocina Flávio Silva Filho, presidente do grupo Os Independentes, que organiza a festa de Barretos. Para ele, o touro e o cavalo pulam porque o sedém incomoda um pouco, como se fosse um relógio de pulso apertado demais. "Com certeza, esses bichos são mais bem tratados do que os que não participam de competições", . garante Plávio . .( , A G o-s'ro 1998 SUPER 51
  • 42. ESPORTE Cavalo na mira Contando os pontos ...- No cutiano, o peão também precisa ficar em cima do cavalo por 8 segundos. Mas o que conta ponto são as esporeadas que ele dá no animal. Cada um dos três juizes da prova dá notas de O a 100, avaliando a montaria e o cavaleiro. A nota intermediária é a que vale . As esporasllão c "M" têm ponta. Mas. .' ao cootr.ário .•. das usadas na montaria em boi. elas giram. Peão a cavalo A mão de apoio segura as rédeas, formadas por duas tiras de corda de sisal. Os pés apoiados nos estribos ajudam a •• manter o equilíbrio. É usado o mesmo tipo de sedém do bul/riding, preso na virilha do animal. O arreio é de couro, tipicamente brasileiro. 52 SUPER A G O 5 T O 1 9 9 8 © llvonete D. Lucfrio .'
  • 43. , . o jeito americano Sela Também chamada de saddle bronc, é-a modalidade mais antiga nos Estados Unidos. O peão se apóia nos estribos, senta sobre uma sela e se segura num cabo de 1,20 rnetro de comprimento. sela No velho Oeste ele nasceu O rodeio surgiu nas fazendas, como atividade de exibição e disputa entre os trabalhadores depois da lida. Foi assim no Oeste americano, em 1867, GOm os cowboys, que passavam o.tempo livre brincando de montaria e laço. Foi assim também em Barretes, no interior de 5,ªo Paulo, cuja atividade econômica principal é a agropecuária. O primeiro registro de rodeios na cidade é de 19S§. Enquanto o gado era levado das fazendas para os frigoríficos, os peões competiam entre si "para sair da rotina", conta Flávio Silva Filho, do grupo Os Independentes. No começo, as competições eram realizadas em circos improvisados, e o cutiano era a prova da moda. Só nos anos 80 é que a coisa pegou fogo. Regras e estilos foram copiados do rodeio americano e descobriu-se um filão comercial. Caipira virou country, peão virou cowboy. Mas, para quem acha que o rodeio daqui é igual ao ianque, um lembrete: "Os brasileiros parecem se divertir muito mais que os americanos", diz Jerry Beagley, um CQwboy do Kansas que presta consultoria aos rodeios brasileiros. Menor e mais leve do que o . touro, o cavalo se agita com vigor na arena. Raças: árabe, crioulo, manga-larga e quarto-de-milha Peso; 400 quilos Comprimento; 2,3 metros Altura: 1,6 metro Bareback É o teste que exige maior preparo físico. Sem estribos, o único apoio é uma pequena alça, onde o peão se .segura. Sobre uma sela pequena, fica quase deitado nas costas do cavalo. Mesmo sem apoio sob os pés, o cavaleiro não •. pode parar de esporear '; A G O S T O 1 998 SUPER 53 barrigueira É preciso manter um braço no ar, sem encostar em nenhuma parte do animal. Ao final da prova, um personagem chamado madrinheiro salva o cavaleiro. É ele também quem retira o sedém do cavalo.
  • 44. ESPORTE A presa ao lado do predador Laçador e bezerro ficam em cercados separados. Ganha o mais rápido Três juízes cronometram o tempo da prova. Vale a marcação intermediária e ela não pode ser maior que 2 minutos. Se o laçador sair do box antes do bezerro, é penalizado com 5 segundos a mais na contagem do tempo final. o laçador começa a perseguir o bezerro, com três ou quatro meses de idade, assim que atravessa a porteira. O peão laça a cabeça do animal, que no mesmo instante é puxado para trás e pára de correr. Com outra corda, carregada na boca,olaçador amarra três patas do bezerro. O peão desce rapidamente do cavalo e levanta o bicho até a • _ âlturã d1tcintura . -- " •.. •
  • 45. Dois contra um, em sintonia fina Em dupla, no team ropíng, o que vale é a cooperação entre os peões. A modalidade nasceu com os americanos, que precisavam laçar bois adultos. Como a missão era difícil para um homem só, trabaíhava-se em dupla. Na prova, é usado um boi jovem, mas de uma raça que tenha chifres, com média . .' de 2 anos e peso ...~ de 90 a 150 quilos. 3Estaé a posição final, com os laçadores de frente um para o outro e as cordas que prendem o boi, esticadas. 2O peseiro, que deve laçar os"s traseiros do animal,sai logo após o cabeceiro. peseiro Com sotaque americano, uai A indumentâria é de cowboy: calça jeans importada, chapéu made in Iexss, e fivela~=----, com a inscrição Champion Bullriding. Mas por dentro da roupa, o peão é bem brasileiro. Rogério Ferreira, campeão de montaria em touro, que compete no circuito de Las Vegas, Estados Unidos, nasceu em São João das Duas Pontas, interior de São Paulo. Mal sabe falar inglês. Ele é um exemplo do rninqau de culturas que embala o rodeio no Brasil. "A Festa do Peão é um evento mundial", analisa a antropóloga Maria Celeste Mira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que está trabalhando em uma tese sobre rodeio. Essafesta tem, sim, características do rodeio americano, "mas isso não tira a brasilidade das nossas competições", diz ela. A cultura local aparece nas tradicionais modas de viola sertanejas, na religíosidade, no uso do berrante e nas comidas típicas. Entretanto, o know-howamericano entra de novo nas estratégias de marketing para a venda de COs, roupas de grife e acessórios, importados ou não. - .~ '.. 1OcalNtc:!iro éo I~or que deve pegar a cabeça. Ele é o primeiro a sair em disparada atrás do boi. Osbraços levantados são o sinal de que a prova terminou. Restacontar o tempo que ele levou para dominar o bicho. ©1 SUPER 55
  • 46. ESPORTE Tudo para derrubar o boi Quanto antes ele cair, melhor. box do touro ..--~ box do bulldogueiro •... ---*--" !!~!~!!~'-~u~m~auXiliarfaz O trabalho de cerca, que é impedir o boi de se desviar da rota prevista. A prova termina quando o boi, porfim, é derrubado. Ele pode pesar até 150 quilos, praticamente o dobro do peso do peão. ......_ •• __ .•• f . • 56 SUPER A G o 5 T o 1 9 9 8 © 1 Cornélio Júnior 2 Alceu Chiesorin Nunes .
  • 47. Para as mulheres, o que conta é habilidade o teste dos três tambores é exclusivamente feminino. Na arena, três tambores são dispostos formando um triângulo (veja ao lado). Quando o juiz dá a largada, a amazona parte em direção ao primeiro tambor, dando uma volta completa nele. Depois repete a manobra no segundo e no terceiro tambores. Dar vai em disparada até a linha de chegada. Obstáculos precisos Tudo é minuciosamente disposto em cena. Acavaleira usa seu próprio cavalo e demonstra domínio sobre o animal Brilho da amazona Ganha quem fizer o menor tempo. Cada tambor derrubado é penalizado com 5 segundos a mais na marca final da competidora. Os rodeios ocorrem nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. • principais competições • rodeios menores Goiinia--=:---~---:----:,.:.:-- o Parque do Peão foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para abrigar a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos Preside11f8 Pruden18 -=:::.:::-----:~ Mariagá ----"-- Fonte: Federação Nacional do Rodeio Completo A festa, dentro e fora da arena Em um país onde diversão é quase palavra de ordem, o rodeio é mais que uma competição. Há dança, música sertaneja, tudo num clima de quermesse. Quem dá o tom da festa é o locutor, com seusversos. "Dizem que ocowboytem vida boa. Entendam como quisé. Cada semana numa cidade. Ecada noite com uma muié" r declama Barra Mansa, um dos mais tradicionais animadores, na abertura dos rodeios. A devoção tem sua vez. Ao se apresentar para o público, os peões rezam, pedindo proteção aos santos. É aí que entra em cena Pedro Andarilho- ©2 figurinha carimbada das maiores competições. Ninguém sabe seu nome verdadeiro nem de onde ele vem, mas se houver um boi pulando por perto, é certeza: ele vai aparecer, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida a ser beijada pelos peões. Fora da arena, vende-se de tudo: botas de couro, chapéus e comida. Enão pode faltar a queima do alho, o momento em que os participantes do rodeio se reúnem para comer ao ar livre pratos da época em que os boiadeiros ainda tocavam o gado pelo sertão. Antes que as trilhas fossem substituídas pelas rodovias. A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 57
  • 48. 1centímetro t----i T Vem cá, meu bem Galã, entre as moscas diopsidas, é isso aí: ter seis patas, alguns pêlos pelo corpo e olhos espetados em dois palitos. Nos leonardos di caprio da espécie, a distância entre os olhos tem 1 centímetro, o mesmo tamanho do bicho inteiro. Nos menos dotados, a distância é inferior a 0,5 centímetro.
  • 49. • man e Cara peculiar atrai fêmeas e cria muitas mais Não é antena, não. São os olhos de uma mosca macho que você está vendo nesta foto. Elesseduzem as fêmeas em benefício de um gene egoísta que quer sobreviver a qualquer custo. Combate mortal de espermatozóides Os espermatozóides dos machos têm cromossomos X (rosa) ou Y (azul). Mas só os espermatozóides com X carregam o gene dos olhos compridos. Para evitar concorrência, ele liquida os espermatozóides com cromossomo Y. omesmo gene que estica os olhos das moscas diopsidas também interfere com os cromossomos e aumenta a população feminina. Veja como funciona. POR FLÁvIo DIEGUEZ P ar'ã algumas moscas, chamadas diopsi- das, charme, mesmo, é ter os olhos o mais longe possível da cabeça, na ponta de has- tes enormes. Quanto maiores as hastes de um ma- cho, mais sucesso ele faz com as fêmeas. É o mes- mo efeito provocado pela cauda do pavão e por outros atrativos em muitas espécies. Este ano, ao estudar as díopsidas, o especialista Gerald Wil- ki.nson, da Universidade de Maryland, tornou-se o primeiro a dar uma explicação para esse com- portamento feminino. Parece absurdo, mas a atração sexual é só um meio, não um fim. A verdadeira função das hastes, segundo aWilkinson, é garantir a sobrevivência de um grupo de genes da mosca. Isso mesmo. Um fragmento de DNA "usa" o corpo do inseto em seu próprio bene- fício. "São genes egoístas", explicou à SUPER o biólo- go Andrew Pomiankowskí, da Universidade College London, na Inglaterra. "Ainda não sabemos como es- ses blocos de DNA trabalham, mas eles são podero- sos." Prova disso é que, nas díopsídas, eles sempre fi- cam no corpo dos machos de haste comprida - os . que geralmente são escolhidos para acasalar. Em ou- tras palavras, existe algum tipo de ligação entre a preferência das fêmeas pelos olhudos e os genes egoístas. E é dessa maneira que eles dominam a reprodução dos insetos para se perpetuar. 0 Discriminação sexual Ainda não foi possível determinar de que maneira o gene egoísta destrói os espermatozóides. O fato é que, durante o acasaiamento, só aparecem espermatozóides do tipo X, que se juntam ao X que está no óvulo feminino. Por isso, nascem fêmeas. Vítima do próprio feitiço Em geral, a proporção feminina nos grupos de moscas diopsidas é de 60%. Mas, às vezes sobe para 100%. Aí, o tiro sai pela culatra: não há mais acasalamento e o gene desaparece. ·1 j " I :[
  • 50. , I ••• © 1 Newton Verlangíerí
  • 51. U mapedra gigantesca voa em direção à Terra. Se viesse de mansinho, seria suficiente "apenas" para esmagar os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo e bons pedaços de seus vizi- nhos. Mas ela risca o céu a 32500 quilômetros por hora. Deve bater no planeta azul em dezoito dias, abrindo um rombo do tamanho do BrasiL Inevitavelmente atingirá os oceanos, que ocupam 70% da superfície do planeta. Ondas de 1quilômetro de altura se levantarão, inundan- do cidades inteiras. Por anos, a luz do Sol permanecerá encoberta pela grossa nuvem de poeira levantada na hora do impacto. As plantações morrerão. Haverá fome. Ébem Possível que a espécie humana não resista. Só há uma saída: mandar lá para cima uma poderosa carga atômica, que explodirá parte do asteróide assassino, ti- rando-o de sua rota ameaçadora. Ainda bem que a descrição acima é só ficção. E, do ponto de vista da correção científica, bem ruinzinha. Não existe, em possível rota de colisão com a Terra, um asteróide do tamanho do mostrado emAnnageddan, a produção da Disney que estréia este mês no Brasil. Os maiores, que os astrônomos chamam de "exterminado- res", têm 10 quilômetros, o quejá não é pouco, enquan- to o do filme tem cerca de 1000 quilômetros. "Não é só que eles tenham errado demais. Em termos de massa, eles erraram um milhão de vezes demais", disse à SUPER o chefe da divisão espacial do Centro de Pesqui- sas Ames, da Nasa, na Califómia, David Morrison. Exagero danoso Corno trata de um perigo real, a licença dramática é arriscada. Quanta gente não sairá do cinema pensando que é boa idéia começar desde já a engrossar o estoque de armas nucleares? Desde 1995, o físico húngaro radi- cado nos Estados Unidos, Edward Teller,conhecido co- rno o pai da bomba de hidrogênio, vem defendendo a te- se. Houve quem sugerisse, na época, que o cientista es- tava era querendo um objetivo nobre que pudesse tirar do buraco o Lawrence Livermore National Laboratory - o centro de pesquisa de armas nucleares que ele di- rígíu por anos e que teve suas verbas cortadas pela me- tade desde o final da Guerra Fria. O próprio Teller disse à SUPER, com seu jeito caracteristícamente brusco, achar improvável que um objeto com mais de 1 quilô- metro de diâmetro atinja a Terra no próximo milhão de anos. "Mas se e quando ele vier, deverá ser desviado com explosivos nucleares." Muitos cientistas concor- dam com ele, mas acham que vale a pena pesquisar ou- tras maneiras de livrar a Terra do perígo. Ainda mais nesses tempos em que novos países - corno Índia e Pa- quistão - entram para o perigoso clube atômico. A G o 5 T o 1 9 9 8 SUPER 61
  • 52. Perigo poderá ser previsto vinte anos antes Nenhum astrônomo nega que o risco existe. Mas as probabilidades de um impacto de grandes proporções são pequenas, ao contrário do que a onda de filmes so- bre o assunto parece querer mostrar. É bom lembrar que Armageddon chega imediatamente depois de Impacto Profundo e da série de televisão Asteroide, que foi ao ar em fevereiro de 1997 nos Estados Unidos e chegou em março às locadoras de vídeo brasileiras. Para completar o quadro de pânico, um asteróide de verdade, com 1,6 quilômetro de diâmetro, passou um tremendo susto nos astrônomos, em março passa- 62 SUPER A G o S T o 1 9 9 8 do. Brian Marsden, do Harvard Smithsonian Center for Astrophysics, em Massachusetts, Estados Unidos, considerado o mais importante calculador de órbitas de asteróides próximos da Terra, deu o alarme: o 1997 XF11 passaria dramaticamente perto da Terra, no dia 26 de outubro de 2028. Por sorte, as contas foram refeitas e o fim do mun- do adiado. Se não tivesse sido, o caso se encaixaria perfeitamente no que os astrônomos acreditam que poderia ser uma situação real de perigo. "O mais pro- vável é que seremos capazes de prever o risco - e nos preparar para enfrentá-Ia - com pelo menos dez ou vinte anos, e não alguns dias, de antecedência", explicou à SUPER Paul Chodas, do Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa, na Califórnia. © 1 Newton Verlangieri 2 Sygma
  • 53. Outras alternativas Algumas idéias difundidas entre os pesquisadores a respeito de como desviar um asteróide. Reflexo Enormes espelhos poderiam ser colocados no espaço, de forma a refletir a luz solar sobre um lado do bólido. Para asteróides de 1 a 10 quilômetros, o espelho deveria ter . uns 5 quilômetros de diâmetro. O . aquecimento provocaria a vaporizaçâo da superfície e a saída de órbita (como no caso de uma explosão nuclear próxima). Laser Uma nave nâo-tripulada e carregada com um poderoso emissor de laser seria posicionada de forma a bombardear o asteróide com enormes quantidades de energia. Seriam necessários 10 megawatts (a potência de umas 100 000 lâmpadas elétricas) por metro quadrado para vaporizar a superfície e desviá-lo. Britadeira Uma nave não-tripulada levaria uma superbritadeira robótica que poderia quebrar pequenos pedaços do asteróide, jogando-os no espaço. Com a diminuiçâo significativa da massa, o corpo se desestabilizaria e sairia da rota. O probleminha é que num asteróide de 1 quilômetro de diâmetro, a máquina teria de trabalhar pelo menos dez anos. Cientistas sabem pouco sobre supostos infmiqos É consenso entre os pesquisadores que a única al- ternativa para defender a Terra acurto prazo seria o uso de anuas nucleares. O problema é que ninguém tem certeza de que isso funcionaria. A desconfiança cresceu depois da análise de fotos batidas no ano pas- sado pela sonda Near. Elas revelaram que o asteróide Mathilde, um monstro de 61 quilômetros de diâmetro que anda perto da Terra, mas em uma órbita que não oferece perigo, parece um amontoado de pedregu- lhos unidos por força gravitacíonal. Levando esse da- do novo em conta, o astrônomo Eríc Asphaug, da Uni- versidade da Califórnia, em Santa Cruz, fez simula- ções em computador e mostrou que o cutucão nu- clear pode ser um furo n'água, porque um objeto co- mo o Mathilde absorvería o impacto da explosão (veja o injográfico ao lado). "Muito mais trabalho é necessário antes de decidirmos se os engenhos nu- cleares são uma saída viável", escreveu o pesquisador na revista inglesa Nature. O alerta não desanima os defensores das bombas. O capitão da Força Aérea americana William Glascoe lidera uma campanha na defesa da criação de uma Força Espacial para coordenar os esforços militares do país no espaço, contra inimigos humanos ou natu- rais. No mesmo time, o deputado Dana Rohrabacher, do Partido Republicano da Califórnia, vem atacando o presidente Bill Clinton por ter vetado o projeto Cle- mentíne 2, do Departamento de Defesa, que também estudaria estratégias contra os asteróides. i I ! :1 I I
  • 54. Os menores são quase imprevisíveis Asteróides assustam e não é sem razão. De acordo com Brian Marsden, "os números são incertos, mas deve haver algumas dúzias deles com mais de 5 quilômetros de diâmetro próximos da Terra, algo como 2 000 com mais de 1 quilômetro e cerca de 200 000 entre 500 me- tros e 1quilômetro". Esses são os que podem serestuda- dos. "Com os telescópios atuais não conseguimos acom- panhar COlpOS com menos de 100 metros", explica Paul Chodas. E há centenas de milhares deles. Eventualmen- te até poderiam ser vistos, mas, para estabelecer as órbi- tas, seriam necessárias muitas observações, em pontos 64 SUPER A G o S T o 1 9 9 8 variados da sua trajetória. Vários desse tamanho já caí- ram na Terra. Um abriu uma cratera de 1,2 quilômetro no Arizona, há 50 000 anos. Outro explodiu 80 metros antes de bater no solo e devastou 2 quilômetros quadra- dos de florestas em Tugunska, na Sibéría, em 1908.Cen- tenas de renas morreram. Gente de diversos países da Europa afirmou ter visto o clarão no céu. Mas a preocupação com os bólidos aumentou mes- mo a partir de 1981, quando foi descoberta a cratera de Chícxulub, no Golfo do México, com 192 quilôme- tros de diâmetro. Estudiosos acreditam que ela é a CÍ- catríz deixada por um asteróide de 10 quilômetros, que teria sido o responsável pela extinção dos dínos- sauros há 65 milhões de anos. © 1 Newton Verlangieri 2 Divulgação
  • 55. Empresário quer unir o útil ao lucrativo . -se que a queda corpo celeste de ilômetros de diâmetro .ia os dinossauros milbões de anos. o globo tenestre tem cerca de 150 marcas de im- pacto de asteróides. Isso sem contar as que devem es- tar no fundo dos oceanos. Mas foi o susto pregado pelo 1989FC, em 1989, que começou a acordar as autorida- des para o problema. A pedra, do tamanho de um por- ta-aviões, cruzou a órbita terrestre num ponto onde o planeta havia estado apenas seis horas antes. E °fato só foi constatado depois de ter oconido. Hoje, a Nasa investe cerca de 2 milhões de dólares por ano na identificação dos asteróides com mais de 1 quilômetro de diâmetro que apresentam risco de co- lidir com a Terra. Cerca de 15% do total que se supõe existir já foi rastreado. Mas isso é muito pouco. Para aprender a desviar asteróides, é preciso, antes, conhe- cer sua constituição e estrutura, o que só se consegue mandando naves para olhá-los de perto. Por isso, a maior esperança dos cientistas está na espaçonave Near (sigla para Encontro com Asteróides Próximos da Terra, em inglês), quejá visitou o Mathílde, e, a par- tir de janeiro, se aproximará do Eras, outro gigante, de 40 quilômetros de diâmetro, que ronda a Terra, mas em órbita inofensiva. Outra alternativa será apelar para a iniciativa privada. A empresa americana SpaceDev já está vendendo espaço na nave que pretende mandar ao asteróide Nereus, de 1 quilômetro de diâmetro, em 2002. Além do lucro com o empreendimento, pretende ir treinando para, no futuro, explorar substâncias como carbono, alumínio, potássio, magnésío e cálcio nesses corpos celestes. Um jeito de unir o útil ao economica- mente agradável. ências: semelhantes asteróide de 1 quilômetro, muito mais ampliadas. i I,I I I
  • 56. ASTERÓIDES Tragédias no cinema e na TV Conheça as principais produções que abordaram a possibilidade de choque de asteróides com a Terra. AS1FRÓIOE(1998) Minissérie de 1V que virou video (Cannes Home Vídeo). Uma astrônoma descobre que um asteróide de 4 quilômetros de diâmetro e vários fragmentos estão a caminho. Mísseis são enviados, mas alguns •..••••..•.,.= pedaços acabam caindo. As cidades de Kansas City e Dallas, onde estavam o pai e o filho da astrônoma, são destruídas. Um dramalhão danado WHEN WORWS COlliOE(1951) Um planeta se move em direção à Terra e uma arca de Noé com quarenta pessoas parte em busca de outro lugar no Universo para povoar. Ganhou o Oscar de efeitos especiais. Não há versão em vídeo no Brasil © 1 ME1FORO (1979) .Um asteróide se choca com um cometa e um fragmento, de 8 quilômetros de diâmetro, se dirige para a Terra. OsEstados Unidos e a União Soviética unem forças atômicas contra o monstro. ComSean Connery e Nathalie -Wood.Saiu-$l-vídeo.pelaWarner
  • 57. Quem vê o perigo no céu - um cometa - é um adolescente. Informado, o governo americano resolve bombardear o objeto com armas nucleares. Em troca da exclusividade da informação, uma repórter de TV concorda em esconder um caso sexual do presidente. Entre os preparativos para o impacto, são construídas enormes cavernas para abrigar 1 000 felizardos: 800 cidadãos comuns, sorteados, e 200 médicos, cientistas e artistas. Deve chegar às locadoras em breve. Armageddon (1998) Estréia este mês no Brasil. Um asteróide "do tamanho do Estado do Iexas". que tem área de 692 244 quilômetros quadrados e 1 200 quilômetros em seu ponto mais largo, se dirige para a Terra. Com dezoito dias de prazo para resolver o drama, o diretor da Nasa convoca um prospector de petróleo, o durão Bruce Willis, e o transforma em astronauta em poucos dias. Willis deve chefiar uma equipe que vai até o asteróide para implantar nele, a 250 metros de profundidade, explosivos nucleares. Feito com a colaboração da Força Aérea americana e da Nasa, o filme custou 140 milhões de dólares e é a mais cara produção de ficção científica já feita- Rendeu 9,5 milhões de dólares no primeiro dia de exibição nos EUA. © 1 Warner Bros 2 Divulgação 3 Stills 4 Touchstone Pictures and Jerry Bruckheimer 5 Sygms Filmes trazem erros aos borbotões David Morrison, da Nasa, costuma dizer que o nú- mero de gente que se esforça, na vida real, para identi- ficar os corpos celestes próximos da Terra para ver se eles correm o risco de bater no planeta é menor do que a equipe de uma lanchonete do McDonald's. Esse pes- soal tem sentimentos contraditórios com relação aos filmes que andam saindo sobre seu trabalho. "Eles são bons porque o público toma consciência do problema e pode ajudar a pressionar as autoridades para aumentar as verbas da pesquisa na área", diz Morrison. "Mas os erros que apresentam tiram parte desse valor." Morrison, assim como outros pesquisadores, não gosta da maneira "fácil" como se desviam asteróides com bombas nos filmes. "É como se já tivéssemos certeza de que esse método funcionaria, o que não é verdade." Talvez os únicos cientistas que lucrem com os fil- mes sejam os que participam deles, como consulto- res. É um tipo de trabalho novo, que não existia quando o primeiro da série dedicada ao assunto, When Worlds Collide, foi feito, em 1951. Hoje, tor- nou-se indispensável na sofisticada indústria cine- matográfica. Simplificação barata em esses, no entanto, devem estar completamen- te satisfeitos, pois não conseguem eliminar das histó- rias certas licenças dramáticas. Ivan Bekey, que se aposentou recentemente do cargo de diretor de pro- gramas avançados da Nasa e deu consultoria para Armageddon, sabe muito bem que um asteróide da- quele tamanho jamais estaría na rota da Terra. Numa situação real, admite ele, seriam necessários quatro ou cinco anos de alerta para preparar uma missão similar à do filme, de seis a doze meses para chegar ao asterói- de e um longo período para cavar os buracos e deixar as bombas. "Se o alerta viesse apenas algumas sema- nas antes do impacto, só nos restaria rezar", afirma. O principal concorrente de Arrrwgeddon, Impac- to Profundo, também teve consultores. Mesmo assim mostra britadeiras furando um cometa, cuja densida- de na vida real é similar à de um floco de neve. Além de conseguir a proeza de calcular a órbita do objeto em 15 segundos, quando seriam necessários pelo me- nos alguns meses. Para completar, a interceptação se dá próxima demais da Terra. Se fosse de verdade, a explosão seria tão danosa quanto uma trombada. A G o 5 Tal 998 SUPER 67
  • 58. ASTERÓIDES o remédio atômico é perigoso dema-is Não custa lembrar àqueles que querem preparar a defesa da Terra contra asteróídes que a ameaça de uma hecatombe nuclear - que parecia riscada da lista de perigos potenciais de extínção da raça humana - voltou à tona este ano. Índia e Paquistão elevaram para sete o número de países capazes de detonar bombas atômicas. E mesmo que os dois rivais não tivessem realizado seus testes, o mundo não estaria menos ameaçado. Os veteranos do clube atômico estão longe de ter aberto mão de seus arsenais, apesar de todas as promessas. Além disso, o sistema de controle sobre as armas russas está muito mais deteriorado do que nos tempos da União Soviética, o que aumenta o risco de venda ilegal de artefatos nucleares para países ou organizações políticas. Dinheiro a rodo Nos Estados Unidos, o orçamento prevê o gasto de 35,1 bilhões de dólares em projetos relativos a armas nucleares em 1998_E, embora os acordos de desarmamento proíbam o desenvolvimento de no- vas armas, os americanos acabam de criar a B-61- 11, uma bomba que penetra na terra antes de ex- plodir, desenhada para arrasar bunkers. Nesse cenário, o argumento dos asteróides cai como uma luva nas mãos dos lobbistas nucleares. E o remédio proposto por Edward Teller pode resul- tar mais perigoso do que o provável perigo repre- sentado pelos asteróides. Tomara que a Unispace 3, conferência sobre o espaço que a Organização das Nações Unidas (ONU) está preparando para ju- lho do ano que vem, em Viena, discuta o assunto. e Estoque explosivo A última contagem, em 1996, mostrou que o mundo tinha 24 227 armas nucleares prontas para serem usada