2. O séc. XIV foi um período marcado por sucessivas crises que, por toda a Europa,
semearam a fome, a doença, a guerra e a revolta. Mas foi também um período
prenunciador de grandes mudanças políticas, económicas e sociais.
Em Portugal, esta crise manifestou-se principalmente a partir de finais de 1348 , ano em
que a Peste Negra atinge e devasta o reino, matando em menos de um ano mais de um
terço da população portuguesa.
3. A Peste, doença contraída pelos
Cruzados no cerco a Jerusalém,
espalhou-se rapidamente por toda a
Europa, matando aproximadamente um
terço da sua população .A Peste negra
transmitia-se pelas pulgas que
infestavam o pelo dos ratos. Estes em
contacto com os alimentos propagavam
facilmente a doença entre os humanos.
O contágio das populações foi
alastrando à medida que os soldados,
gravemente doentes e em número cada
vez maior, regressavam aos seus reinos
de origem. As constantes viagens entre
o mediterrâneo ocidental e oriental,
feitas pelos mercadores venezianos
agravou o problema.
4. ► A primeira consequência, a nível económico, foi uma
diminuição acentuada da mão de obra disponível, que
atingiu sobretudo e em primeiro lugar, a agricultura e os
que dela viviam.
5. Pouco antes da Peste atingir
a Europa, secas e
inundações sucessivas tinham
arruinado, por vários anos, as
colheitas de extensas regiões,
diminuindo drasticamente os
rendimentos da Nobreza e do
Clero, e condenando à fome
grande parte dos
camponeses.
6. ► Assim, os campos, outrora férteis, estavam agora ao abandono,
pois os que tinham sobrevivido à fome e à Peste eram poucos e
exigiam melhores salários e condições de arrendamento, para
continuarem a trabalhar as terras da Nobreza e do Clero
7. Muitos foram, assim, os que
fugindo à miséria abandonaram os
campos, procurando nas cidades
ocupação no comércio e nos
ofícios.
Mas, apesar da prosperidade da
cidade, nem todos o conseguiam.
Ao excesso de oferta de mão de
obra, somava-se a falta de
experiência ou conhecimentos
desta gente do campo para se
adaptar a novas actividades como
o comércio ou o artesanato.
9. Esta fuga em massa do campo para
a cidade, onde as condições de
higiene eram muito más, contribuiu
também para que a Peste se
espalhasse aí de forma
extremamente rápida.
Foi, de facto, nas cidades e junto dos
mosteiros e abadias que a Peste fez
mais vítimas. Assistiu-se então a um
movimento no sentido contrário.
Agora eram os ricos, que fugiam da
cidade e procuravam protecção nas
suas propriedades rurais .
Mas a peste estava por todo o lado…
10. A fé, o consolo dos
familiares e a ajuda dos
monges eram o único
alívio dos que adoeciam
vítimas da Peste.
Quanto ao resto da
população, protegia-se
evitando o contacto com
os infectados e marcando
com uma cruz a morada
destes.
11. Desta forma, enquanto a cidade crescia
desordenadamente e a burguesia se
afirmava cada vez mais, os campos
desertificavam-se e a produção agrícola
diminuía.
E assim diminuíam também os
rendimentos, o poder e a influência da
Nobreza.
Lentamente, o dinheiro ganhava terreno
aos privilégios de nascimento, e o centro
da riqueza deslocava-se das actividades
tradicionais ligadas ao campo para as
novas actividades mais ligadas às
cidades, como o comércio externo e o
artesanato.
12. Sonhando com os tempos da
Reconquista, da ocupação
territorial e da pilhagem, a Nobreza
assistia à queda lenta do seu
mundo e dos seus valores.
Alguns nobres arruinados e mais
realistas , os fidalgos - mercadores,
tentavam adaptar-se aos novos
tempos competindo com a
Burguesia, em actividades que a
tradição lhes vedava, como o
comércio.
13. ► O Clero, entretanto,
aumentava significativamente
a sua riqueza, beneficiando
das dádivas dos que
atingidos pela Peste,
esperavam às portas da
morte, poder comprar com
donativos à Igreja, a
salvação das suas almas.
E como as terras e outros
bens do Clero não pagavam
impostos, com estas
“doações” diminuíam os
rendimentos da Coroa e dos
Concelhos.
14. ► As catedrais que por esta altura se construíram por toda a Europa,
reflectindo o crescente poder da Igreja, foram em grande parte
financiadas com o “comércio de Indulgências”. A venda de perdões.
► O Céu estava agora à disposição de quem o pudesse comprar.
A CONStRUçãO BULA PAPAL DE
DAS CAtEDRAIS INDULGÈNCIA
15. ► O clima de paz que perdurou durante a primeira metade
do séc. XIV em Portugal permitiu um desenvolvimento
considerável a nível económico, sobretudo nas
actividades ligadas à cidade.
16. ► As cidades ou burgos
cresceram muito, graças à
protecção e aos benefícios
que, desde cedo, os reis
portugueses concederam
aos seus moradores e às
actividades que
desenvolviam.
► A crescente importância do
comércio, tanto interno
como externo, para a
economia do país explica a
generosidade dos decretos
reais neste domínio.
17. Assim:
Feiras, mercados
continuaram a
espalhar-se por todo o
país, gozando de
protecção real.
A construção de
navios mercantes de
médio e grande porte
foi estimulada,
plantando-se pinhais,
reduzindo-se o preço
da madeira e os
impostos.
18. Os incentivos concedidos à
criação de bolsas ( bancos )
de mercadores ( D. Dinis ),
e seguros que cobriam os
negócios de grande risco,
tinham como objectivo não
só aumentar as exportações
portuguesas, mas também
assegurar, pela importação,
de forma mais duradoura, o
acesso aos produtos de que
o país mais precisava,
principalmente os cereais.
19. Foram-se , então, multiplicando os contactos dos mercadores
portugueses com o estrangeiro. A norte, através do Atlântico e a sul
cruzando o Mediterrâneo, tornou-se habitual a presença de
negociantes portugueses nas grandes feiras internacionais.
20. ► Mas estas medidas de apoio à
Burguesia se, por um lado,
respondiam a necessidades reais
de um país em desenvolvimento,
tinham também um outro
objectivo
► Fortalecer um grupo social - a
Burguesia, e por arrastamento o
Povo - em que o rei se pudesse
apoiar, para mais facilmente
afirmar o seu poder face à
crescente importância das
principais famílias nobres.
21. ► Entretanto, nos campos durante
os séculos XIII e XIV, a política
dos reis portugueses tentou
promover e intensificar a
produção de cereais,
aumentando a área cultivada,
através de arroteamentos e
queimadas de bosques e
matas , secando pântanos, e
publicando leis que puniam o
abandono ou
subaproveitamento dos terrenos
agrícolas.
22. ► D. Fernando, para combater o
abandono dos campos que se
verificou durante o seu reinado,
publicou em 1375, a chamada “
Lei das Sesmarias” que, entre
outras medidas, obrigava os
camponeses a aceitar os salários
fixados pelos Terratenentes e
Homens-Bons da região.
► Pretendia-se, assim, impedir a
súbita subida dos salários exigidos
pelos camponeses que agora
queriam ser pagos como na cidade,
em dinheiro e não em géneros,
lutando por escolher livremente o
seu empregador, ofício ou tarefa.
23. ► A progressiva quebra dos laços
feudais, assentes na servidão e na
dependência, acentua-se nesta altura
e está na origem da criação de uma
nova mão de obra livre, desenraizada
e não especializada que trabalha à
tarefa, conforme as ofertas lhe vão ou
não surgindo.
► A estes trabalhadores podemos
chamar os primeiros “proletários”.
► Serão os descendentes destes
jornaleiros do campo e dos
construtores das igrejas e catedrais
da época que, mais tarde,
assegurarão o funcionamento das
fábricas e máquinas durante a
revolução industrial.
25. ► O estilo Gótico, que se afirma na
Europa entre os séculos XII e XV,
marca uma evolução significativa em
termos do domínio das formas e das
técnicas por parte dos artistas da
época face ao período românico.
► No novo gosto tudo é diferente.
► Se a Arquitectura Românica com o
seu ar sólido e rústico, com as suas
figuras toscas e ingénuas tinha sido
erguida à escala humana, a
Arquitectura Gótica pela sua altura,
pela elegância das suas proporções e
pela sua verticalidade parecia querer
atingir o céu e aproximar-se de Deus.
26. ► O interior das igrejas góticas,
com as suas altas e
elegantes naves separadas
por colunas e arcos em
forma de ogiva, cobre-se de
cúpulas e abóbadas de
nervuras.
► Pelas rosáceas e vitrais
entram focos de luz que se
cruzam e provocam a
admiração dos presentes.
27. ► No exterior, as esculturas do pórtico
afirmavam a supremacia de Deus
perante os homens e os demónios que
com eles viviam.
► Mas agora não se confinam ao tímpano
e capiteis. A parte esculpida distribui-se
por toda a fachada e, por vezes, nem
os arcos nem as colunas escapavam a
tanta liturgia.
► Anjos, santos, homens, demónios, as
gárgulas que do alto espreitam e o
próprio Satanás parecem seres
animados pelo realismo e pela
perfeição das formas e efeitos de luz e
sombra.
28. ► Os elegantes pináculos apontam
o caminho dos céus, mas a sua
altura sublinha também a
pequenez dos que os observam.
► Este é de resto um dos objectivos
das suas imponentes fachadas e
da exuberância dos seus
elementos arquitectónicos e
decorativos :
► Promover o pasmo e a
consciência da sua insignificância
nos homens, assegurando a sua
obediência e passividade.
29. ► Mais do que locais de oração
e recolhimento, as igrejas
góticas foram construídas
para intimidar as
populações face ao poder
quer religioso quer
temporal.
► A grandiosidade e riqueza
do estilo gótico assinalam
um tempo em que a igreja
se afasta cada vez mais do
povo, exibindo pela
ostentação uma riqueza e
um poder que não parava
de crescer.
30. No entanto, a construção das
catedrais góticas constituía para
a igreja um pesado encargo. E
encargos, sobretudo
económicos, eram coisa a que o
Clero não estava habituado.
Exibir o poder ficava caro e,
quando se tratava de construir
catedrais significava pagar em
dinheiro a trabalhadores livres
que através da suas
organizações ( as Guildas ou
corporações ) ditavam o preço
por tarefa e dia de trabalho.
31. Apesar de toda a influência,
prestígio e poder de que a
Igreja gozava, a construção
destas catedrais só se tornou
possível graças a uma
generosa política de doações
por parte dos reis e dos
senhores feudais.
E, claro, a venda de
indulgências a que então
recorreu, ajudou muito.