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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO
               SERVIÇO SOCIAL

          PEDRO FERREIRA NUNES




O SERVIÇO SOCIAL E A POLÍTICA DE REFORMA
      AGRÁRIA NO ESTADO DE GOIÁS




                  Goiânia
                   2011
PEDRO FERREIRA NUNES




O SERVIÇO SOCIAL E A POLÍTICA DE REFORMA
      AGRÁRIA NO ESTADO DE GOIÁS




                Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
                Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
                requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel
                em Serviço Social.

                Orientador: Prof. Rodrigo Eduardo Zambon




                 Goiânia
                  2011
Dedico este trabalho a minha Mãe Maria Lucia,
e a toda a minha família, que me deram todo o
apoio para que eu superasse mais essa etapa,
como também a todo o campesinato sem terra,
espero que esse seja mais um instrumento
para luta da classe trabalhadora.
    Londrina, _____de ___________de 20___.
AGRADECIMENTOS


               A todos os meus professores que contribuíram direta e indiretamente
para que eu superasse esta etapa da minha vida acadêmica, dês do primário a o
ensino superior.

               As    minhas    fontes   inspiradoras:   Ernesto   Guevara,   Camilo
Cienfuegos, José Porfírio assim como a todos aqueles que dedicaram suas vidas
pela emancipação da classe trabalhadora.

               Aos meus companheiros de luta tanto no partido como no
movimento sem terra, lutando por um mundo verdadeiramente justo e igualitário, que
muito contribuíram para o meu aprendizado.

               A todos aqueles que são explorados pelo capital e oprimidos pelo
sistema vigente, a classe trabalhadora em breve triunfará.
“Os poderosos podem matar uma, duas ou três
rosas, mas jamais conseguirão deter a
primavera inteira”. Ernesto Guevara
Nunes, Pedro Ferreira. O Serviço Social e a luta por reforma agrária no Estado
de Goiás. 2011. Nº 71. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Serviço
Social) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte
do Paraná, Goiânia, 2011.



                                     RESUMO




A Luta pela reforma agrária é uma luta histórica de milhares de camponeses que
foram expulsos de suas terras e seguirão rumo à cidade em busca de melhores
condições de vidas. No entanto a realidade que encontraram foi de exclusão e
exploração. No Brasil ao longo da história sempre teve levantes e lutas populares
pela posse da terra, no entanto o estado brasileiro nunca teve uma política de fato
de reforma agrária. Hoje milhares de famílias vivem em situações precárias nas
margens das rodovias, vivendo em barracas de lona preta, em uma condição de vida
extremamente precárias, longe de qualquer política de saúde, educação, cultura e
lazer. Uma reforma agrária no Brasil não é só possível como necessária. Por tanto o
Serviço Social deve lutar para que as famílias que estão em luta pela reforma agrária
possam ser atendidas com políticas públicas que atendam as necessidades dessa
população que sobrevive de forma excludente, sobre tudo no estado de Goiás, um
estado que tem sua base econômica nos grandes latifúndios, na monocultura e no
agronegócio. O assistente social deve também atuar potencializando a luta dos
movimentos populares que organizam o campesinato sem terra em luta pela reforma
agrária.




Palavras-chave: Reforma Agrária. Serviço Social. Movimentos Populares. Classe
Trabalhadora.
Nunes, Pedro Ferreira. THE Social Service and the struggle for land reform in
the State of Goiás. 2011. PARAGRAPH 71. Work on Completion of the Course
(Bachelor in Social Service) - Center for Business Sciences and Applied Social,
University of the North of Parana, Goiânia, 2011.




                                      ABSTRACT




The Struggle for land reform and a historic struggle of thousands of peasants who
were expelled from their land and follow toward the city in search of better conditions
of life. However, the fact that they found was of exclusion and exploitation. In Brazil
over the course of history has always had lift and people's struggles for possession of
the land, however, the brazilian state has never had a policy of fact of agrarian
reform. Today thousands of families living in precarious conditions in the margins of
the highways, living in tents, canvas black, in a condition of life extremely precarious,
far from any health policy, education, culture and leisure. Agrarian reform in Brazil is
not only possible but also necessary. For both the Social Service must fight to ensure
that the families that are in struggle for land reform can be treated with public policies
that meet the needs of the population that survives in a exclusionary on everything in
the state of Goiás, a state that has its economic base in large estates, the
monoculture and agribusiness. The social worker should also act potentiating the
struggle of the popular movements that organise the peasantry without land in
struggle for land reform.




.




keyword : agrarian reform. social service . Popular Movement. Working class.
3.1 TABELAS


TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS ASSENTAMENTOS EM GOIÁS POR
REGIÕES...................................................................................................................32




TABELAS           2      –     TABELA          2-      UTILIZAÇÃO             DOS         ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS EM GOIÁS.................................................................................33



TABELA 3 – ESTRUTUTA AGRÁRIA DE GOIÁS DE 1970 A 2006 .........................33
3.2 FOTOS


FOTO 1 – LAVOURA DIVERSIFICADA NO PA PEQUENA VANESSA II, MUNICIPIO
DE BOM JESUS DE GOIÁS......................................................................................47


FOTO 2 – PRODUÇÃO DE LEITE NO PA NOVA CONQUISTA EM LAGOA SANTA
– GO ..........................................................................................................................48


FOTO 3 - DE OCUPAÇÃO DE LATIFUNDIO IMPRODUTIVO EM GOIÁS...............49


FOTO 4 - DA OCUPAÇÃO DO INCRA DE GOIÁS EM 2011....................................49
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS


ABNT           A A Associação Brasileira de Normas Técnicas

UNOPAR             Universidade Norte do Paraná

PT                  Partido dos Trabalhadores

INCRA              Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

REUNI              Programa    Nacional     de   Ampliação    das Universidades
                   Federais
PROUNI
                   Programa Universidade para Todos
CPT
                   Comissão Pastoral da Terra
IBGE
                   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PCB
                   Partido Comunista Brasileiro
TL
                   Teologia da Libertação
MST
                   Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MLST
                   Movimento de Libertação dos Sem Terra
FETAEG
                   Federação dos Trabalhadores na agricultura do Estado de
FETRAF             Goiás

MVTC        PT Pa Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

MBTR               Movimento de Volta do Trabalhador ao Campo

MPA                Movimento Brasileiro dos Trabalhadores Rurais

MCP                Movimento dos Pequenos Agricultores
MMC                Movimento Camponês Popular

MAB                Movimento das Mulheres Camponesas

FECOSOL            Movimento dos Atingidos por Barragens

FGE                Fórum Estadual de Economia Solidaria de Goiás

ANDES              Fórum do Grito dos Excluídos

CUT                Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior
CSP-               Central Única dos Trabalhadores
CONLUTAS
DCE         Central Sindical e Popular – Coordenação Nacional de Lutas

UFG         Diretório Central dos Estudantes

SINDSÁUDE   Universidade Federal de Goiás

SINTSEPE    Sindicato dos Trabalhadores no Sistema Único de Saúde de
            Goiás
SINDAGRI
            Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público em Goiás
UDR
            Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura em Goiás
PRONERA
            União Democrática Rural
PAA
            Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
CPMI
            Programa de Aquisição Alimentar
CFESS
            Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
SUAS
            Conselho Federal de Serviço Social
Ha
            Sistema Único de Assistência Social
PA
            Hectares

            Projeto de Assentamento
SUMÁRIO


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 DESENVOLVIMENTO ......................................................................................... 166
2.1 O Serviço Social e a questão agrária..................................................................
Erro! Indicador não definido.6
2.1.1 A luta por Reforma Agrária no Estado de Goiás Erro! Indicador não definido.9
2.1.1.1 O Serviço Social no processo de Reforma Agrária............... ........................ 24
2.1.1.1.1 Movimentos sociais: Caso de Policia ou caso de Política? ....................... 28
2.1.1.1.1.1 A Importância do Assistente Social na luta por Reforma Agrária ............30

3 ELEMENTOS DE APOIO AO TEXTO .................................................................. 32
3.1 Tabelas................................................................................................................ 32
3.2 Fotos ....................................................................................................................47

4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 51

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53

APÊNDICES ............................................................................................................. 55
14

1 INTRODUÇÃO


               Mesmo com o discurso predominante sobre a superação da
necessidade de se fazer uma reforma agrária no Brasil, sobre tudo pela ausência de
uma política por parte do governo de desapropriação de áreas improdutivas e
assentamento de milhares de famílias que se encontram acampadas nas margens
das rodovias na luta por um pedaço de chão, e que muitas vezes são obrigados a
radicalizar suas ações para que possam ser atendidas as suas reivindicações. O que
vemos é cada dia mais uma necessidade de se fazer uma verdadeira reforma
agrária neste país, não só para que milhares de famílias que estão acampadas
possam conseguir um pedaço de chão para dali tirar sua subsistência como
também, pela necessidade de milhares de famílias que estão nas periferias das
grandes cidades as margens das políticas públicas. Como também pela preservação
do meio ambiente e a produção saudável de alimentos. Sendo que o atual modelo
agrícola brasileiro com base na monocultura, e na agroexportação, com intenso uso
de agrotóxico é extremamente prejudicial ao meio ambiente.
               Nestes    quase   09   anos   de   governo    do   PT   (Partido   dos
Trabalhadores), o que vemos é a reforma agrária saindo da pauta do governo, com á
cooptação de lideranças dos movimentos populares, fazendo com que esses vivam
um período de descenso das lutas populares. Por outro lado o governo tem tido um
amplo apoio popular, em grande parte devido há uma conjuntura interna favorável, e
devido às políticas assistencialistas do governo como Bolsa Família, PROUNI,
REUNI entre outros. Nestes quase 09 anos de governo petista nenhuma mudança
estrutural foi realizada no Brasil, é por isso que vemos a reforma agrária saindo da
pauta do governo e sendo substituídas por políticas assistencialistas, que não muda
a situação de exploração da classe trabalhadora, mais apenas maquia uma
realidade de extrema exclusão social, exploração e subserviência ao grande capital.
               A Política de Reforma Agrária deve ser encarada como uma política
social, e deve ser assumida como uma política pública pelo estado brasileiro, que
tem tratada a mesma como uma questão fora de contexto. A reforma agrária é uma
política que dá a possibilidade de emancipação para as famílias que conseguem
após longos anos de luta um pedaço de chão. Pois passam a depender apenas dos
seus esforços, assim é de primordial importância que os assistentes sociais
potencializem a luta pela reforma agrária sendo essa uma política pública
15


emancipatória e não compensatória.
                O Serviço Social deve por tanto cada vez mais ocupar espaços
dentro das organizações que organizam os trabalhadores em luta pela reforma
agrária, lutando para que ás milhares de famílias que estão acampadas nas
margens das rodovias lutando por um pedaço de chão em uma situação precária
possam ter minimamente seus direito em quanto cidadão, que é de ter acesso a
políticas públicas fundamentais como educação, saúde entre outros possam ser
atendidos.
                Ás   milhares   de   família   que   estão   acampadas   sobrevivem
precariamente, com dificuldade de ter acesso a educação, mesmo a pública que não
é de qualidade, não tem acesso a saúde, mesmo a de péssima qualidade que é
ofertada pelo estado, acesso a cultura e lazer também é um privilegio que não é
garantido a esses trabalhadores, que sobrevivem vendendo a sua mão de obra em
condições de trabalho precarizado e sem nenhum direito trabalhista, é por tanto
normal ouvirmos falar em trabalho escravo em pleno século XXI no Brasil.
                 Há uma crescente criminalização da pobreza, dos movimentos e de
lutadores populares, assim mais uma vez voltamos ao inicio do século XX onde as
expressões da questão social eram resolvidas como caso de policia e não de
política. A cada dia vemos o estado brasileiro cada vez mais ausente do seu dever
de elaborar e executar políticas públicas que de fato atendam a necessidade da
população, em contra partida tem feito uma ação militarizada e de criminalização das
minorias em luta por garantia de direito.
                É por tanto fundamental que o Serviço Social como parte do seu
compromisso histórico de construir e apoiar a luta da classe trabalhadora por sua
emancipação seja de fato efetivado, ocupando todos os espaços estratégicos de
construção dessa luta. Não só nos espaços públicos onde acabam desempenhando
simplesmente o papel de executor de políticas terminais, em empresas privadas
onde desempenham apenas o papel de um simples mediador de conflitos, que
acaba sempre pendendo para o lado do patrão. Dessa forma os movimentos
populares verdadeiramente de luta são um espaço fundamental de atuação do
assistente social comprometido com a emancipação da classe trabalhadora.
                Lutar pela reforma agrária no Brasil e em Goiás é lutar de fato por
direito para milhares de famílias que estão às margens das políticas públicas
fundamentais, para que tenham acesso às mesmas e por garantia de direitos.
16

2- DESENVOLVIMENTO


2.1 O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO AGRÁRIA
          Netto e Sant’Ana, referência na profissão, afirmam que “A questão agrária
é uma das expressões da questão social, pois reflete as contradições postas pelo
capitalismo no meio rural, e no Brasil com particularidades históricas extremamente
perversas” (2004:2).

                 Sendo por tanto uma das expressões da questão social, é por tanto
um campo onde o assistente social deve atuar lutando para superar essa realidade,
sobretudo no Brasil onde a questão agrária ainda tem tabus colonialistas, onde o
coronelismo anda de mãos dadas com a modernidade do agronegócio. A questão
social foco de atuação do assistente social também esta presente na zona rural, e
suas expressões são as milhares de famílias acampadas nas margens das rodovias
morando em baixo de barracas de lona, excluídas de varias políticas públicas,
submetidas a trabalhos análogos a escravidão entre outros.

          Segundo Canesqui “o debate da questão agrária, historicamente
polêmico, recompõe-se na atualidade, seja pela não efetivação da reforma agrária,
[...] seja pelo modelo de agricultura hegemônico” (2007:1).

                 Mesmo sendo a reforma agrária uma política reformista no Brasil
ela ganha um grande contorno de luta de classes, no Brasil há uma burguesia rural
que não abre mão de suas posses ursupadas historicamente dos povos indígenas.
Dessa forma a reforma agrária no Brasil ganha contornos de uma guerrilha como
mostra o caderno de conflitos no campo elaborado todos os anos pela CPT
(Comissão Pastoral da Terra).

             Para Rodrigo, “a denominada Questão Agrária Brasileira se apresenta
no cenário histórico nacional desde há muito com diferentes facetas e denominação,
mas, como pano de fundo” (2001:1).

                 Dês do inicio de sua história aconteceram vários levantes
populares na luta pela posse da terra, podemos citar alguns mais famosos como:
Canudos, As ligas Camponesas, Trombas e formoso entre outros. Por trás desses
17


levantes estava uma situação de exploração e exclusão no campo, no entanto o
estado brasileiro sempre atuou reprimindo as lutas populares para proteger a
burguesia rural brasileira.

                   Oliveira e Martins também escrevem que a questão agrária se
arrasta no Brasil desde o tempo da colonização (2004:1). Carvalho e Sant’Ana
afirmam que o ímpeto pela apropriação e concentração de imensas extensões de
terras iniciaram com a colonização portuguesa e perduram até hoje (2007:1).
Moreira, como os outros, escreve que a questão agrária não é nova no Brasil e que
tem sua gênese na colonização e ainda existe (2007:1).

                  O ultimo censo agropecuário apresentado pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2006 mostra que nos últimos anos
aumentou a concentração de terras no Brasil, mesmo com a criação de vários
assentamentos, no entanto o governo nunca assumiu de fato a questão da reforma
agrária, enquanto por um lado são criados alguns projetos de assentamentos, por
outro lado a maioria dos recursos são destinados para o agronegócio exportador.
Mesmo assim a cada dia surgem novos movimentos sociais lutando pela terra, tanto
que segundo Ariovaldo Umbelino a luta pela posse da terra tem aumentado no
ultimo período.

                  Para Souza:[...]os movimentos sociais representam uma nova
ordem política, na construção de sua organização em vista à solução de suas
necessidades sociais e o Serviço Social, em sintonia com o projeto ético-político,
tendo como um dos princípios a construção de uma nova ordem social tem o dever
de apoiar tais movimentos (2007:4).

                  Reafirmando o que diz Souza, os movimentos populares de luta é
um espaço onde o assistente social pode atuar com autonomia e em sintonia com o
projeto ético-político da profissão, na busca pela emancipação da classe
trabalhadora. No Brasil os movimentos de luta pela reforma agrária tem uma
organização histórica e mesmo no período de descenso de luta da classe
trabalhadora, tem sido nas ultimas décadas protagonistas no enfrentamento das
políticas neoliberais implementadas pelo estado brasileiro. Além de conseguirem
18


importantes vitórias para os trabalhadores, lutando para que de fato o direito dos
mesmos sejam atendidos.

                 A questão agrária no país tem possibilitado ao Serviço Social
ampliar o seu campo de pesquisa e, consequentemente o seu foco de intervenção
profissional. O acirramento da questão social expressa na questão agrária tem se
caracterizado como um elemento de requisição a prática do (a) assistente social
pelas instituições e organizações que atuam na área rural. É por tanto importante
que o Serviço Social a cada dia mais se aproprie desse espaço, contribuindo e
dando subsidio aos movimentos populares em luta. Não devendo atuar
simplesmente como apoio mais construindo a luta.

                 Canesqui afirma que apresentar a temática da questão agrária à
política de assistência social representa uma forma de compreender as
especificidades que esta imprimi no desenvolvimento das políticas sociais, já que,
contribuiu na efetivação de propostas de trabalho condizentes com a realidade
social. Estas especificidades ganham maior relevância quando o perfil dos
municípios brasileiros é analisado: grande parte deles são de pequeno porte, cuja
estrutura ocupacional e produtiva depende fortemente da agricultura(2007:3).

                 É inegável a importância desse tema             para aqueles que
verdadeiramente defendem e lutam por inclusão social e emancipação de fato da
classe trabalhadora. Lutar por reforma agrária é lutar contra uma situação de
exclusão e exploração de milhares de famílias que não são atendidas por políticas
públicas, que não estão na maioria dos projetos e programas sociais do governo, é
lutar pela camada da população mais pauperizada, que violentados cotidianamente
e criminalizado quando ousam a se levantar pelos seus direitos. Discutir e lutar por
reforma agrária no Brasil é lutar por milhares de famílias que estão em uma situação
de exclusão extrema.

          Albuquerque e Sant’ana (2007:3) escrevem: É flagrante o distanciamento
do Serviço Social com os problemas oriundos da questão agrária. Mesmo sabendo
que uma boa parte dos assistentes sociais atuam em municípios de porte médio e
pequeno e cotidianamente se confrontam com casos dessa natureza. Uma das
explicações para tal fato nos remete a história da profissão, que tradicionalmente foi
19


solicitada para intervir na questão social urbana relacionada com o surgimento da
classe operária no cenário político. Em grande parte a formação do assistente social
é voltada para pensar os problemas da cidade e formular políticas para o espaço
urbano, subordinando a discussão do campo a segundo plano. Eles ainda escrevem
que a categoria dos Assistentes Sociais tem estado ausente na discussão dessa
temática, sendo indispensável atentar-se para ela.


2.1.1 A LUTA POR REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DE GOIÁS


                 Segundo Maia: A Reforma Agrária nos remete necessariamente á
compreensão histórica do processo de construção do latifúndio no Brasil, no caso, a
resposta do motivo de sermos vice-campeão mundial em concentração de terra. É
comum em reconstituições históricas que analisam esse processo, ressaltar a
vocação latifundiária do Brasil, recuando a tempos históricos imemoráveis, como a
formação das capitanias hereditárias, para justificar esta vocação. O problema deste
tipo de interpretação é que, feito desta forma, a constatação da presença do
latifúndio, acaba tendo uma resposta naturalizada, como se este modelo fundiário
fosse algo inerente a nossa nação ou uma característica herdada que lutaríamos
para os livrarmos, mas que, pela natureza intrínseca a nossa formação, seria muito
difícil fazê-lo. (Maia, 2010).
                 Goiás é um estado que dês de sua formação política, social e
econômica têm sua base na agropecuária, sobretudo na criação de gado e na
monocultura. Por tanto não é diferente da maioria dos estados do interior do Brasil,
no entanto essa formação não se deu sem luta dos povos tradicionais verdadeiros
donos dessas terras, como também dos campesinos posseiros que tiveram
posteriormente suas terras ursupadas. No entanto mesmo com essa resistência ao
longo da história do Estado percebemos hoje uma naturalização da atual estrutura
fundiária, mesmo com a luta dos movimentos populares pela reforma agrária.
                 Goiás é um estado onde existe uma elite conservadora mais radical
que tomou posse das terras e hoje esta a serviço das grandes agroindústrias
multinacionais que também ocuparam o meio rural, cada vez mais inibindo e
expulsando os pequenos agricultores, sendo que o grande agronegócio conta com
total apoio do estado ao contrario da agricultura familiar e camponesa que tem
pouco apoio.
20


                Para Maia a concepção latifundiária de nossas classes proprietárias
de terra, na qual se constituiu uma noção muito comum entre estas, de que toda
terra disponível é de propriedade exclusiva dos latifundiários, tendo a existência da
pequena propriedade apenas uma existência subsidiária ou como concessão. (Maia,
2010).
                A lei de terras aprovada em 1850 colaborou para consolidação
dessa concepção citada acima, lei essa que legalizou todas as terras que foram
ursupadas ilegalmente dos povos tradicionais e do campesinato pelos grandes
proprietários. No entanto não podemos dizer que foi o marco da consolidação dos
latifúndios. Mais segundo Maia construiu seu fundamento jurídico.
                Goiás teve e tem importância histórica na luta dos povos
tradicionais, do campesinato pelo direito a um pedaço de terra. Podemos citar a luta
de Santa Dica ainda na década de 40 na cidade de Goiás (Líder religiosa espécie de
Antonio Conselheiro do cerrado) que liderou centenas de famílias camponesas sem
terra que eram expulsas de suas propriedades ou que trabalhavam para grande
latifundiário sem ter direitos, criando uma espécie de uma grande colônia agrícola
ocupando terras improdutivas da região.
                Foi em Goiás que aconteceu também a importante luta camponesa
de Trombas e Formoso, sob a liderança de José Porfírio, que em 1949, aos 36 partiu
de sua terra natal, o norte de Goiás (Cidade de Pedro Afonso, hoje Estado do
Tocantins) juntamente com um grupo de camponeses em busca de terras
agricultáveis. Estabeleceram-se numa região de serras e córregos na margem
esquerda do rio Tocantins, mais camponeses foram chegando, atraídos pela
propaganda sobre colonização agrícola em Goiás (Programa realizado pelo governo
de Getulio Vargas). Por volta de 1951, foram iniciadas manobras cartoriais de
grilagem de terras ocupadas pelos posseiros, que reagiram, sobretudo pegando em
armas a todas as tentativas de expulsa-los.
                Entre 1954 e 1957, a área foi palco de persistentes conflitos, muitas
vezes com enfrentamento armado, e um número não conhecido de mortos, entre
camponeses, jagunços e policiais a serviço dos latifundiários. As lutas só tiveram
desfecho quando Mauro Borges, eleito governador de Goiás, em 1962, iniciou a
distribuição de cerca de 20 mil títulos de propriedade.
                José Porfírio que se tornaria militante do PCB (Partido Comunista
Brasileiro) e é eleito o primeiro deputado estadual camponês, com o golpe militar em
21


1964 é cassado, preso, torturado e desaparece, sendo que até hoje não há
informações sobre o seu paradeiro.
                E é no período mais nebuloso da história do Brasil (Ditadura Militar
de 1964 a 1985), que começa com mais intensidade a organização dos camponeses
na luta pela terra, são criados os primeiros sindicatos rurais, é também neste período
que impulsionado pela ala progressista da Igreja Católica (Teologia da Libertação),
que surge a CPT (Comissão Pastoral da Terra) motor propulsor da organização dos
camponeses sem terra pela posse da mesma. É este grupo coordenado pela
arquidiocese da cidade de Goiás comandada até então por Dom Tomás Balduino,
que lideram a primeira ocupação de terra em Goiás, que se tornou hoje o Projeto de
Assentamento Mosquito que em 2011 completou 25 anos de sua conquista.
                Segundo Dom Tomás “Os mais incomodados com o surgimento da
organização dos trabalhadores no campo foram os latifundiários. Antes eles eram os
donos exclusivos das terras. Quando precisavam ampliar seus domínios tinham a
seu favor os poderes públicos constituídos. Bastava cercar mais terra. Além disso,
contavam com jagunços, ás vezes ex-militares, que garantiam a manutenção do seu
poder absoluto no campo. Os acampados e assentados, ao pesquisarem nos
cartórios verificaram que muitos latifúndios eram simplesmente invasões de terras
devolutas do Estado”. (Dom Tomás, 2010)
                Partindo da fala de Dom Tomás e da afirmação de Maia,
reafirmamos que a formação de latifúndios no Estado de Goiás se deu a partir da
combinação entre ações estatais para a ocupação das fronteiras, com a ausência de
qualquer medida de controle sobre as terras devolutas. Dessa forma os grandes
latifundiários foram se apropriando dessas terras pertencentes ao estado através
dos mecanismos criados na lei de terras em 1850.
                Mais é apenas na ditadura militar, no ano de 1965, com uma política
do governo voltada para esse setor que o latifúndio torna se uma viabilidade
econômica, o que não era até então, e isso se dá com a integração do latifúndio a
indústria.
                Para Maia: As políticas agrícolas do regime militar, combinadas com
uma forte repressão sobre todas as formas de movimentos sociais, que visavam a
proteção do pequeno proprietário dos efeitos destas mesmas medidas, consolidaram
definitivamente o espaço do latifúndio no Brasil, garantindo não somente a
integração da grande propriedade ao mercado, como também direcionando toda a
22


força do Estado e dos fundos públicos para a viabilização de um tipo especifico de
produto agrícola e forma de produção, passível de ser realizada somente num
espaço agrário desenhado pelo latifúndio(Maia, 2010).
                Na década de 80 sobre tudo com o fim da ditadura militar surge os
primeiros movimentos populares que organizam a luta dos camponeses sem terra,
tal qual conhecemos hoje. Hoje em Goiás temos mais de 10 organizações que
organizam diretamente a luta dos camponeses sem terra por reforma agrária. Alguns
tem uma atuação nacional, outros só no estado. Na sua maioria se organização no
Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no campo do Estado de Goiás,
sendo que este é composto não só pelos movimentos que atuam diretamente na
organização e luta pela reforma agrária, como também por organizações que apóiam
e contribuem na luta indiretamente.
                O Fórum pela Reforma Agrária e Justiça no campo do Estado de
Goiás é atualmente o principal espaço de articulação das organizações que direta e
indiretamente lutam pela reforma agrária no Estado de Goiás. É hoje composto pela
CPT, MST, MLST, FETAEG, FETRAF, TERRA LIVRE, MVTC, MBTR, MPA, MCP,
MMC, MAB, FECOSOL, FGE, ANDES, CUT, CSP-CONLUTAS, DCE-UFG,
SINDSAÚDE, SINTSEPE, SINDIAGRI.
                “O Sonho de acesso a terra se reavivou com a elaboração da
Constituição Federal de 1988 a qual, inobstante os avanços em diversos aspectos,
levou a política agrária de acesso á terra a intervenções pontuais e, ainda assim, por
falta de vontade política, por anos a fio, as ações de governo neste sentido
continuaram letra morta.” (Fórum Estadual pela Reforma Agrária e justiça no campo
do Estado de Goiás, 2010).
                Neste sentido tudo que se conseguiu de conquista em relação à
criação de milhares de projetos de assentamentos com o assentamento de milhares
de famílias só foi possível pela organização dos camponeses sem terra, e sobre o
sangue, suor e sacrifício de muitos dessas. Pois mesmo com a constituição federal
nos garantindo a desapropriação de toda propriedade rural improdutiva e que não
esteja cumprindo sua função social, sejam desapropriadas e destinadas para o
processo de reforma agrária.
                No entanto se não fosse os acampamentos nas margens das
rodovias, mostrando as veias abertas de uma sociedade desigual, as ocupações de
latifúndios improdutivos que não estão cumprindo a sua função social, as marchas e
23


as mobilizações pressionando o governo, e o sacrifício de centenas de lutadores que
tombaram na luta, com certeza nenhum projeto de assentamento teria saído do
papel e nenhuma família estaria assentada hoje.
               ...Precisamos nos conscientizar de que a proposta de redesenhar o
espaço agrário, através de uma reforma agrária, foi uma proposta que mudou muito,
ao longo de nossa história, assumindo feições diferenciadas na atualidade. O próprio
aumento da violência registrado nos últimos anos, que atravessa governos de
matizes e cores políticas variadas, é uma prova disto. Além do que, o próprio
processo de execução da reforma agrária na atualidade está inserido dentro dos
limites da agricultura que se formou na segunda metade do século XX, o que pode
ser constatado pela distribuição dos assentamentos no Estado de Goiás. (Maia,
2010).
               A maioria dos assentamentos no Estado de Goiás foram criados na
região norte e oeste, é lá que se concentra 71,99% de toda a área distribuída e
66,21% das famílias assentadas, se juntarmos a região noroeste, os percentuais são
respectivamente de 81,40% e de 76,77%. Esses dados pode ser explicado por
vários fatores, no entanto se formos analisar, é possível perceber uma concentração
da distribuição das terras de assentamento, nas regiões menos ligadas ao
agronegócio, isto principalmente quando identificamos os tipos de produtos que
dominam a agropecuária em cada região.
               A produção em toneladas de soja das regiões norte, oeste e
noroeste, com a maioria dos assentamentos, é somente 13,50% da produção das
regiões centro, sudoeste, sudeste e sul, que concentram somente 18,34% das áreas
distribuídas em assentamento.
               Segundo Maia: As sobreposições dos dados de distribuição dos
assentamentos por região, com os dados dos principais produtos da pauta de
produção agropecuária do Estado de Goiás, indicam que a reforma agrária avança
em Goiás nas regiões de menor interesse para o agronegócio. (Maia, 2010)
               Segundo dados do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) do ano de 2011, existe em Goiás cerca de 14.458 mil famílias
assentadas em cerca de 269 projetos de assentamentos criados de 1900 a 2011 no
estado. Ocupando uma área de cerca de 670.403,5841 hectares.
               Segundo o Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no
campo de Goiás, há cerca de 10 mil famílias acampadas, espalhada por vários
24


acampamentos, nas margens das rodovias, em baixo de barracas de lona preta na
luta para serem assentadas. Sobrevivendo em condições degradantes longe do
acesso a qualquer política pública.
                “O Programa de reforma agrária brasileiro segundo a constituição
federa de 1988 é de responsabilidade da união, mais por outro lado, é importante
que o estado de Goiás apóie concretamente sua implementação, fortalecendo com
políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, bem como a pesca e
aquicultura familiar”. (Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no Campo de
Goiás, 2010).
                As elites goianas tem sua origem e poder na posse da terra, e isso
não tem sido alterado historicamente, ao contrario, as elites latifundiárias continuam
comandando os espaços de poder, e tendo forte influência nos espaços de tomada
de poder. Goiás é um dos estados mais reacionários no combate a luta por reforma
agrária, tendo importantes figuras a nível nacional que dissemina essa lógica, se por
um lado Goiás foi um estado onde teve importantes levantes e mobilizações
populares, por outro lado também é o berço da UDR (União Democrática Rural),
organização dos latifundiários e ruralistas.
                Em Goiás segundo o Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça
no Campo de Goiás: Grandes partes das legislações e do conjunto das políticas
públicas são direcionadas para o agronegócio, apenas executando de forma
precária, as políticas públicas direcionadas para a agricultura familiar e camponesa
oriundas do governo federal. (Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no
Campo de Goiás, 2010).
                Por tanto em uma situação extremamente difícil, sem apoio total do
governo federal, o público da reforma agrária ainda enfrenta o descaso do poder
estadual e também da maioria dos poderes municipais. Sendo de primordial
importância para o avanço da reforma agrária e consolidação das famílias em luta
por um pedaço de chão ou para produzir assim que conquista o seu é preciso o
apoio tanto dos governos Federal, estaduais e municipais.


2.1.1.1 O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE REFORMA AGRÁRIA
                Mesmo com a constituição federal de 1988, legislar sobre como
deve desenvolver o processo de reforma agrária no Brasil, na realidade não vemos
isso concretizar sem a organização, mobilização e pressão dos movimentos sociais
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organizados sobre os governos. Todas as conquistas obtidas pelos milhares de
famílias camponesas sem terra organizadas em movimentos sociais se deram a
partir de sua luta, e não das benesses de nenhum governo. Conquistas estas
obtidas sob sangue, suor e muita luta.
                  No entanto se muito foi feito, há muito ainda o que se fazer, sendo
que o Serviço Social pode contribuir imensamente com essa luta, se inserindo nos
movimentos populares, e contribuindo dês de subsidiando a luta através de
pesquisas na universidade, assim também como contribuindo para que essa abra as
portas para os movimentos populares. Por outro lado deve contribuir na organização
e formação dessas organizações, como também e, sobretudo lutando junto ao
estado por políticas públicas que atendam as necessidades dessa população.
                  Há varias fases do processo de organização e luta dos movimentos
populares pela reforma agrária o qual deve ser potencializado pela atuação do
Serviço Social:
                  a) Fase de acampamento: No período de acampamento, as famílias
                     vivem precariamente nas margens de rodovias e estradas,
                     morando de baixo de barracos de lona, em uma completa
                     condição subumana, não são reconhecidos oficialmente pelo
                     Governo, sendo que de vez enquanto o INCRA encaminha uma
                     cesta básica para as famílias, as famílias sobrevivem prestando
                     serviços nas grandes fazendas ou através dos chamados bicos,
                     em situações precárias, sem direitos trabalhistas. As famílias
                     demoram em média 6 anos para serem assentados, período que
                     vivem nesta situação, claro os que não desistem.
                  b) Fase de pré-assentamento: Neste período as famílias já
                     conseguiram a posse da área, no entanto ainda não é liberado
                     nenhum recurso por parte do governo para a estruturação do
                     assentamento, as famílias continuam ainda morando em
                     barracos, no entanto em uma condição um pouco melhor pois já
                     tem a terra para produzir, mais nada é definitivo, assim muitos
                     continuam trabalhando fora, pois a licença para as famílias
                     começarem a plantar sua lavoura demora, como também a
                     divisão dos lotes. Continuam sem acesso as políticas públicas de
                     educação, saúde, assistência social entre outros, para conseguir
26


                   as mesmas precisam se deslocar por vários quilômetros.
               c) Fase de assentamento: As famílias já estão produzindo, já
                   receberam seus créditos moradia, fomento, já tem energia
                   elétrica, o assentamento já tem um mínimo de estrutura. No
                   entanto ainda é precário o acesso a política pública de saúde,
                   educação, sobretudo com o transporte escolar, e estrutura para o
                   escoamento da produção, como também falta de assistência
                   técnica.
               - Em Goiás temos hoje cerca de 10 mil famílias acampadas nas
margens das rodovias, é necessário lutar para que essas famílias tenham
minimamente os seus direitos fundamentais sejam garantidos, e neste processo é de
primordial importância a atuação de um assistente social, atuando no sentido de
fazer com que os programas sociais do governo cheguem até esse público, que na
fase de assentamento não é reconhecido e nem assistido. É o período mais precário
enfrentado por aqueles que estão na luta por um pedaço de chão, no entanto é um
período primordial para a conquista da terra, sendo que os acampamentos é uma
forma de mostrar para sociedade a veias de uma sociedade desigual, como também
de resistência e persistência. É o período onde as famílias também aprendem a viver
coletivamente, dividindo as misérias e derrotas como também as vitorias e alegrias.
               - A fase de pré-assentamento também não é reconhecida
oficialmente pelo estado, assim que as famílias entram para a área já são
consideradas assentadas, no entanto os movimentos denominam este período de
pré-assentamento, pois as famílias ainda vivem em barracos, sem condição de
produzir, sem ainda terem recebido nenhum credito. As famílias continuam sem ter
nenhuma política pública especifica para atender suas necessidades.
               -Na fase de assentamento já encontramos as famílias em uma
situação melhor, neste período encontramos alguns programas sociais de apoio as
famílias, como os créditos para construir moradias, o credito fomento para ajudar na
produção, o Programa de Aquisição Alimentar (PAA), o Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária (PRONERA), e assistência técnica mesmo que muito
precária. Todos estes conquistas histórica dos movimentos populares. É neste
período onde mais se necessita de apoio dos governos municipais e estaduais, o
que não acontece na maioria dos municípios, o recurso destinado mesmo com todos
estes programas são insignificantes, demoram anos para que as famílias consigam
27


acessar algum, devido à burocracia muitos nem acessam, falta assistência técnica, a
que existe é precária e deficitária. Todos os projetos de assentamentos criados são
em regiões de difícil escoamento da produção, não há transporte e falta estrutura
para as famílias comercializar a produção. Também continua sendo precário o
acesso as políticas públicas fundamentais de saúde e educação. Em um período
onde as escolas no campo têm sido fechadas, as famílias são obrigadas a mandar
seus filhos a estudar na cidade, uma parte enfrenta um transporte escolar precário,
outra parte desiste e vai morar na cidade.
                Por tanto em todas as fases do processo de reforma agrária é de
primordial importância a atuação de um profissional do Serviço Social, na
elaboração, execução e operacionalização de políticas públicas para o público da
reforma agrária, atuando tanto nos órgãos públicos a nível municipal, estadual e
federal, mais sobre tudo nos movimentos sociais que fazem a luta por essa
importante política de inclusão social e emancipação tanto social quanto econômica
de milhares de famílias que estão nas margens das rodovias ou mesmo nos guetos
das grandes cidades.
                A Reforma Agrária não pode continuar sendo como é hoje no Brasil,
feita sem nenhum planejamento, onde aqueles que suportam em média 6 anos nas
margens de uma rodovia sem nenhuma política pública especifica, e depois em
média 3 anos em um período de pré-assentamento, para então após quase 10 anos
chegar em um período de assentamento, onde são dadas algumas migalhas. Mais
em relação ao agronegócio exportador os recursos são infinitamente inferior.
                No entanto mesmo com as dificuldades e limites a reforma agrária
tem se mostrado na prática uma política de inclusão social e emancipação de fato de
milhões de trabalhadores que se encontram em situação miserável. O censo
agropecuário de 2006 mostra que 72% do que chega à mesa do brasileiro é oriundo
da agricultura familiar e camponesa, uma produção feita em harmonia com o meio
ambiente, sem degradá-lo ou devastá-lo, ao contrario do agronegócio exportador
que para produzir contamina o solo e os alimentos com agrotóxico. Lutar pela
reforma agrária é lutar por um novo modelo agrícola brasileiro, que não agride o
meio ambiente, e nem envenena os alimentos que chegam a nossa mesa. Lutar pela
reforma agrária no Brasil é lutar de fato por justiça social, por tanto o Serviço Social
não pode ficar de fora dessa luta.
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2.1.1.1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS: CASO DE POLICIA OU CASO DE POLÍTICA?


                Vivemos atualmente um processo intenso de criminalização da
pobreza, dos movimentos populares e de suas lideranças, sobretudo aqueles que
lutam por reforma agrária. Todos os anos a Comissão Pastoral da Terra elabora o
caderno de conflitos que mostra um retrato dos conflitos por terra em todo o Brasil. E
todos os anos podemos ver uma crescente ação contra aqueles que lutam por
reforma agrária neste país. Muitos lutadores são executados sumariamente por
jagunços a mando de latifundiários, e a justiça que é tão rápida para liberar um
liminar de desocupação de uma área não tem a mesma velocidade para julgar e
condenar estes assassinos.
                O Estado que se coloca ausente na elaboração e execução de
políticas públicas para as milhares de famílias que estão na luta por reforma agrária,
esta muito presente reprimindo e criminalizando aqueles que ousam a lutar por uma
condição de vida mais digna.
                No ano de 2009 foi instalada no congresso nacional uma CPMI dos
movimentos sociais segundo a bancada ruralista (antiga UDR) o objetivo era
investigar desvios de dinheiro público para financiar a luta dos movimentos sociais,
no entanto sabemos que o objetivo de fato era intimidar a luta dos movimentos
populares pela revisão dos índices de produtividade que são da década de 70, e que
se alterado destinaria mais áreas que hoje são consideradas produtivas para o
processo de reforma agrária. Não conseguiram provar nada com CPMI, mais
conseguiram barrar a discussão sobre a alteração dos índices de produtividade.
                Varias lideranças de movimentos populares foram presos em
ocupações de terras, simplesmente por que cometeram o crime de desafiar os
latifundiários, ação essa decorrente da campanha dos movimentos sociais por um
projeto de lei que limite o tamanho das propriedades rurais no Brasil, o governo
tampou os olhos, os ruralistas bateram o pé e nada saiu do papel.
                Mais recentemente entrou em pauta no congresso nacional o projeto
de revisão do código florestal brasileiro, que em um momento onde a questão
ambiental esta em pauta em todo o globo, vemos ser apresentado no congresso
nacional um projeto que é um estimulo a ampliação da devastação da nossa flora e
fauna. Extremamente prejudicial à agricultura familiar e camponesa, e aos povos
tradicionais, mais totalmente favorável ao grande agronegócio exportador e para os
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latifundiários.
                  Em decorrência da aprovação desse projeto nefasto para o povo
brasileiro, varias lideranças camponesas e ambientalistas foram assassinadas no
norte do país. A Comissão Pastoral da Terra mais uma vez apresentou a justiça uma
lista com mais de 80 nomes de lideranças em todo o país que estão ameaçados de
morte.
                  O Estado brasileiro em todos os níveis tem estado presente na
repressão e criminalização dos movimentos sociais, no entanto não esta presente na
elaboração e execução de políticas públicas. Isso nos faz remeter a década de 20
do século passado onde a questão social era tratada como caso de policia e não de
política. Devido à atuação e crescimento do Serviço Social conseguimos superar ao
longo das décadas essa lógica, que infelizmente tem pautado a atuação dos
governantes hoje.
                  No entanto ao analisarmos a questão agrária brasileira percebemos
que esta nunca foi encarada pelos governantes como caso de política, ao contrario o
Estado sempre atuou na repressão e criminalização, por tanto encarando um
problema social como caso de policia.
                  Milhares de famílias foram expulsas de suas terras, obrigadas a
tomar as periferias das grandes cidades, enquanto os latifundiários que usurparam
essas terras têm o total apoio do estado. Lutar por direitos hoje no Brasil tem sido
crime, e aqueles que cometeram e comentem crime contam com o apoio do estado
e muitas vezes controlam o mesmo.
                  É necessário que o Serviço Social atue no sentido de colaborar para
que a questão agrária no Brasil seja vista pelo Estado brasileiro como um caso de
política e não de policia. Que os milhares de lutadores que estão na luta por reforma
agrária não são criminosos são sujeitos de direitos que devem ser visto pelo Estado
quando da elaboração de políticas públicas e não em processo de repressão.
                  As famílias que estão acampadas ou assentadas necessitam de
políticas públicas como saúde, educação, cultura, lazer, assistência técnica,
condição para escoar sua produção entre outros. Não queremos mais ver massacres
como o do Eldorado dos Carajás, onde vários camponeses sem terra foram
sumariamente assassinados por jagunços e agentes policiais do estado. E neste
sentido o Serviço Social deve lutar e colaborar para que esse processo de
criminalização seja superado.
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2.1.1.1.1.1 A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NA LUTA POR REFORMA
AGRÁRIA


                Albuquerque e Sant´ana escrevem: É flagrante o distanciamento do
Serviço Social com os problemas oriundos da questão agrária. Mesmo sabendo que
uma boa parte dos assistentes sociais atuam em municípios de porte médio e
pequeno e cotidianamente se confrontam com casos dessa natureza. Uma das
explicações para tal fato nos remete a história da profissão, que tradicionalmente foi
solicitada para intervir na questão social urbana relacionada com o surgimento da
classe operaria no cenário político. Em grande parte a formação do assistente social
é voltada para pensar os problemas da cidade e formula políticas para o espaço
urbano, subordinando a discussão do campo a segundo plano. Eles ainda escrevem
que a categoria dos Assistentes Sociais tem estado ausente na discussão dessa
temática, sendo indispensável atentar-se para ela. (Albuquerque e Sant´ana, 2003).
                O Serviço Social tem focado a sua atuação historicamente no
espaço urbano, o profissional tem sido formado e preparado para atuar neste
espaço, onde há minimamente uma rede de políticas sociais de assistência social.
Hoje o serviço público é o espaço sócio-ocupacional do Serviço Social
majoritariamente, isso é, mais de 70%, segundo pesquisa realizada pelo CFESS, por
tanto o assistente social pode ser caracterizado como um servidor público. E como
percebemos anteriormente o Estado brasileiro historicamente não tem assumido
políticas públicas voltadas para o público beneficiário da reforma agrária ou que
esteja em luta por esta. Assim no espaço de políticas públicas de assistência social
o profissional fica apenas no campo da discussão e execução de políticas na zona
urbana. Tanto no campo de políticas de educação, saúde, geração de renda, como
todas as políticas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
                O Serviço Social precisa perceber que a milhares de famílias que
vivem no campo, sobre tudo milhares que estão envolvidas diretamente com a
questão agrária brasileira, na luta direta pela reforma agrária e que não são
atendidas por políticas públicas especificas que atendam a sua condição de
exclusão social, é preciso lutar junto aos órgãos públicos por políticas especificas
para esses milhões de brasileiros que estão nesta situação.
                No campo da pesquisa e da produção acadêmica percebemos
poucos trabalhos no campo do Serviço Social que abordam a questão agrária de
31


forma mais profunda, e que minimamente subsidie os movimentos que estão em luta
pela democratização do acesso a terra no Brasil. Alguns autores como vimos acima
citam a importância do tema, a consonância com o nosso projeto ético - político, no
entanto não há um estudo especifico e nem um aprofundamento sobre o tema. Ao
contrario há um reconhecimento da deficiência da nossa profissão em se apropriar
dessa discussão, em realizar estudos e potencializar a luta dos movimentos
populares.
               É impossível falar em desigualdade social no Brasil e não se falar da
concentração de terra na mãos de poucas famílias, é impossível falar nos milhões de
miseráveis passando fome e não se lembrar das extensas áreas agricultáveis no
Brasil servindo para especulação ou exportação, é impossível se falar em proteção e
preservação do meio ambiente e não nos remeter a necessidade de discutirmos o
atual modelo de agrícola do Brasil. Por tanto é impossível se falar em mudar esse
país com inclusão social, empoderamento do povo, e a emancipação da classe
trabalhadora se não falarmos em reforma agrária.
               É importante que o Serviço Social discuta, elabore e intervenha
sobre a questão agrária, há milhares de famílias acampadas vivendo em uma
situação precária e que precisam de políticas públicas especificas, há também no
Brasil milhares de famílias assentadas pelo processo de reforma agrária e que
também precisam de políticas públicas especificas. O espaço cotidiano de atuação
profissional é os municípios,e é impensável falar que os assistentes sociais não se
deparam nos municípios rurais com questões relativas a reforma agrária.
               No entanto há poucas pesquisas, e trabalhos acadêmicos que
subsidia a atuação desses profissionais no enfrentamento das expressões da
questão social, sendo a questão agrária brasileira como bem coloca Netto uma
expressão da questão social, e que talvez seja hoje a mais complexa expressão da
questão social enfrentada pelos assistentes sociais, sobretudo por que ainda é
pouco discutida no seio da profissão. Ainda é um espaço de pouca atuação do
Serviço Social, tanto na pesquisa como na ação.
               Lutar por reforma agrária no Brasil é enfrentar o que se tem de mais
reacionário, no entanto se queremos lutar de fato pela liberdade e emancipação da
classe trabalhadora tal como trás o nosso código de ética profissional, não se pode
vacilar, não é a reforma agrária que transformará o Brasil, no entanto ela é
extremamente tática para que isso aconteça.
32

3 ELEMENTOS DE APOIO AO TEXTO



3.1 TABELA



TABELA 1 - DISTRIBUIÇÃO DOS ASSENTAMENTOS EM GOIÁS POR REGIÕES


Regiões            Hectares       Percentual        Famílias   Percentual
                                  Geral Total                  Total Geral
Norte              306.627,5601   46,85             5.984      41,79
Oeste Goiano       164.525,6508   25,14             3.498      24,42
Noroeste           61.583,4007    9,41              1.511      10,55
Centro Goiano      51.548,7434    7,87              1.231      8,59
Sudoeste           49.838,9450    7,61              1.494      10,43
Sudeste            10.684,0479    1,63              263        1,83
Sul                8.097,0805     1,23              292        2,03
Entorno do DF      1.463,4610     0,22              46         0,32
Total Geral        654.368,8894   99,96             14.319     99,96
Soma Norte e 471.153,2109         71,99             9.482      66,21
Oeste
Soma      Norte, 532.736,6116     81,40             10.993     76,77
Oeste          e
Noroeste
Demais             121.632,2778   18,56             3.326      23,22
Regiões
Fonte: INCRA – 2010.


TABELA 2- UTILIZAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUARIOS EM
GOIÁS


Total de Estabelecimentos                 136.244
Área Total em Hectares                    24.983,002
Lavouras
33


Estabelecimentos                            71.332
Áreas em hectares                           3.590,579
Pastagens
Estabelecimentos                            117.623
Áreas em hectares                           15.524,699
Matas e florestas
Estabelecimentos                            89.558
Áreas em hectares                           5.239,871
Fonte: IBGE – 2006.


                Em Goiás a maioria dos estabelecimentos rurais é utilizada para
criação de bovinos, onde é necessário devastar grandes áreas de terras para
pastagem. Por outro lado as lavouras são geralmente de monocultura tal como a
soja e a cana de açúcar.


TABELA 3 – ESTRUTUTA AGRÁRIA DE GOIÁS DE 1970 A 2006

Dados Estruturais            Estabelecimentos              Área em Hectares
Censo de 1970                107.540                       24.332,673
Censo de 1975                111.903                       27.689,998
Censo de 1980                110.652                       29.185,339
Censo de 1985                131.365                       29.864,104
Censo de 1995                111.791                       27.472,648
Censo de 2006                136.244                       24.983,002
Fonte: IBGE – 2006


                Mesmo com a heróica luta dos movimentos populares de luta pela
reforma agrária podemos ver que a estrutura fundiária do estado de Goiás pouco se
alterou sobre tudo se levarmos em consideração que até 1985 o censo agropecuário
de Goiás incorporava o que a região que é hoje o estado do Tocantins, por tanto se
formos analisar bem à estrutura fundiária de Goiás continua igual. Em todo este
período, sobretudo na década de 90 os movimentos de luta pela terra conseguiram,
através da luta conquistar várias áreas, mais isso não tem mudado a estrutura
fundiária do estado, devido a lentidão, burocracia e falta de vontade política.
34




                     Em Goiás tem hoje segundo dados do INCRA de 2011, 288
                     projetos de assentamentos, no entanto parte deles são
                     considerados ainda como pré-assentamentos, pois as famílias
                     ainda não receberam todos os créditos, e os assentamentos
                     ainda   não   estão   estruturados.   Esses   projetos   de
                     assentamentos    ocupam    uma   área   em    hectares   de
                     670.403,5841, com cerca de 14.458 famílias assentadas.




3.2 – FOTOS


Foto 1- Lavoura Diversificada – PA – Pequena Vanessa II, Município de Bom Jardim
de Goiás.




Foto do autor
FOTO 2 – Produção de Leite no PA – Nova Conquista em Lagoa Santa – GO
35




Foto do autor.
                 Mesmo com a falta de apoio e estrutura, os assentamentos de
reforma agrária é uma prova de inclusão social e econômica, assim que as famílias
ocupam uma área que antes era improdutiva já começam produzir, daí para frente
não necessitam mais de bolsas assistencialistas para sobreviverem, já não são
massas de manobra, as famílias passam a ter autonomia, pois passam a ter em
suas mãos instrumentos para sua própria sobrevivência, mesmo com toda a
dificuldade e falta de apoio segundo o censo agropecuário de 2006 realizado pelo
IBGE, mais de 70% do que chega à mesa do brasileiro é oriundo da agricultura
familiar e camponesa. Nos exemplos acima percebemos a diversidade da produção
nos assentamentos, respeitando o meio ambiente, as famílias mesmo sem uma
assistência técnica decente produzem em uma mesma área uma produção
diversificada, sem uso de agrotóxico e baseado na agroecologia, os projetos de
assentamento é um exemplo de que é possível um novo modelo agrícola no Brasil
sem agressão ao meio ambiente e sem a produção de alimentos envenenados, para
tanto reafirmamos a necessidade de uma reforma agrária de fato.
FOTO 3 – Ocupação de latifúndio improdutivo – Goiás
36




Foto do autor


FOTO 4 – Ocupação do INCRA de Goiás em 2011.




Foto do autor
                As conquistas historicamente alcançadas pela classe trabalhadora
37


são frutos da organização, mobilização e luta. Em relação às conquistas obtidas
pelos movimentos do campesinato sem terra também não é diferente, as conquistas
obtidas são resultado de muito sangue, suor e lagrima. Mesmo com a constituição
federal de 1988 garantido no papel que toda grande propriedade rural que não
esteja cumprindo a sua função social, isto é, que seja improdutiva, deve ser
desapropriada e destinada para reforma agrária.
                Porém sem a organização dos movimentos, sem os acampamentos
nas margens das rodovias mostrando a resistência no campesinato sem terra, como
também a necessidade de se fazer uma reforma agrária, sem as ocupações de
áreas improdutivas com o objetivo de pressionar as autoridades para agilizar o
processo, assim também como a ocupação dos órgãos governamentais que
executam o programa de reforma agrária, nada teria sido conquistada, nem uma
área de assentamento se quer.
                As duas fotos acima mostram a luta dos movimentos para pressionar
os governos no sentido de agilizar o processo de desapropriação de áreas
improdutivas para o assentamento de novas famílias, como também para pressionar
o órgão que executa a política de reforma agrária nos Estados, para que agilize
também a estruturação dos assentamentos já criados, dando condição para as
famílias produzirem, escoar e comercializar sua produção.
                Como também lutando para que nos assentamentos tenham
políticas públicas de saúde, educação, assistência técnica entre outros. Mesmo com
a reforma agrária tendo saído da pauta do governo federal, e não estando há muito
tempo na pauta dos governos estaduais e municipais, as famílias vão resistindo e
persistindo na luta, muito pouco avançou, mais o suficiente, para demonstrar a sua
eficiência e a sua necessidade.
                Assim temos visto um aumento da luta pela terra, agora também
com o protagonismo dos povos tradicionais que tiveram suas terras usurpadas pelos
latifundiários, com todo esse levante tem aumentado também a violência no campo
como mostra o caderno de conflitos elaborado pela CPT todos os anos, e temos
visto o estado brasileiro mostrar que esta a serviço do grande capital e não da classe
trabalhadora, novamente como na década de 20 do século passo, vemos a questão
social ser tratada como caso de policia e não de política.
38

4 CONCLUSÃO
               A questão agrária brasileira é uma expressão da questão social, no
entanto o seu enfrentamento não tem sido feito através de políticas mais sim de
policia, é necessário que o Serviço Social que pouco tem contribuído nesta
discussão se aproprie desse tema. Tanto na elaboração e execução de políticas
públicas que atendam as famílias que estão em luta por um pedaço de chão, e as
que se tornaram beneficiarias. Como no campo da pesquisa subsidiando os
movimentos populares que lutam por reforma agrária potencializando sua luta.
               Historicamente uma elite burguesa latifundiária foi se apropriando
ilegalmente, usurpando e expulsando de suas terras milhões de camponeses que
tiveram que migrar para as periferias das grandes cidades, no entanto esse
processo não se deu sem resistência dos campesinos e povos tradicionais pela
posse da terra, mas mesmo com toda essa luta percebemos que nos últimos anos a
concentração de terra aumentou no Brasil.
               No ultimo período tem sido desencadeado um processo intenso de
criminalização da pobreza e dos movimentos sociais que lutam pela garantia de
direitos, o Estado brasileiro que tem se ausentado na elaboração de políticas
públicas especificas para esses milhões de brasileiros que vivem em condições
subumanas, sem acesso a política de saúde, educação, cultura, lazer entre outros,
se submetendo a trabalho análogo ao da escravidão. Tem estado presente
criminalizando os movimentos populares e seus lideres.
               É preciso que o Serviço Social que tem sido preparado apenas para
atuar na cidade atendendo o público urbano possa se apropriar e se preparar para
atuar com ás milhões de famílias que estão na luta pela reforma agrária e os outros
milhões que são beneficiários.
               Os movimentos populares em luta pela reforma agrária deve ser um
espaço sócio-ocupacional do assistente social, sendo que a luta desses movimentos
vai em consonância com o projeto ético-político da profissão, por tanto a luta por
reforma agrária deve ser pautada pelo Serviço Social tanto do ponto de vista
cientifico, do ponto de vista acadêmica dentro da universidade como também no
cotidiano profissional elaborando e executando políticas públicas que atendam ao
público da reforma agrária. A questão agrária no Brasil não pode mais ser tratada
como um tabu no Serviço Social, e também não apenas apoiar, é necessário
fortalecer e construir a luta. Pois lutar por reforma agrária no Brasil é lutar
39


verdadeiramente por justiça social.
                A questão agrária no Brasil é uma luta tática para emancipação da
classe trabalhadora, por sua formação ela ganha contorno de uma guerra, é
necessário democratizar o acesso a terra no Brasil, lutar para que milhões de
brasileiros que vivem em situação precária possam ser assentados, e partindo daí
tenha educação de qualidade, saúde, assistência técnica, condição para produzir,
escoar e comercializar sua produção.
                A Reforma Agrária trás também a discussão sobre como em pleno
século XXI o estado brasileiro ainda encara algumas expressões da questão social,
tal como a reforma agrária como caso de policia e não de política. É também discutir
sobre a necessidade de um novo modelo agrícola, baseado na agroecologia e não
no agronegócio exportador e na monocultura.
                Por tanto é de fundamental importância que o Serviço Social se
aproprie desse tema e fortaleça a luta por reforma agrária neste país, pois sem
reforma agrária não teremos um país justo verdadeiramente. A reforma Agrária não
acabará com a questão social, pois ela é apenas uma expressão, no entanto é uma
expressão fundamental para transformação do Brasil.
40

                                 REFERÊNCIAS


ACCIOLY, Maria Stela Pereira. A reforma agrária em debate. X Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais. RJ: 2001.

ALBUQUERQUE, Valéria de Oliveira; SANT’ANA, Raquel Santos. O Plano Nacional
de Reforma Agrária e o Serviço Social. XI Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais. Fortaleza, 2004.

ANDRIOLI, Antonio Inácio. A Reforma Agrária e o Governo Lula: entre a expectativa
e a possibilidade. In Revista Espaço Acadêmico. n 31. Ano 2003. Disponível
em:<http://www.espacoacademico.com.br>. Acesso em: 05 out.2009.

ANJOS, Flávio Sacco dos; CALDAS, Nádia Velleda. A reforma agrária na
contramão. In Sociedade em Debate. V.10, n. 2. Pelotas: EDUCAT, 2004.

ARAÚJO, Brito de Castro. Assentamentos rurais do MST: objetivação – apropriação
de uma nova sociabilidade. X Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. RJ:
2001.

BRAGATO, Brice; SOUZA, Bruno Alvez de SILVA, Ângela Maria Campos da. A
Reforma Agrária e o Perfil Jurídico da Família do Assentado do INCRA / ES. XII
Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Foz de Iguaçu: 2007.

BRASIL. Constituição Federal de 1824. 25 de março de 1824. Disponível em:
<www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 out. 2009.

____ A Ditadura Militar em Goiás: Depoimentos para a História. 2010.


____ . II Plano Nacional de Reforma Agrária. 2004.

____ . Lei n°4.504. 30 de Novembro                   de   1964.   Disponível     em:
<www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 set. 2009.

_____ Realidades e Conflitos no Campo, 2010.


____ . ROSSETTO, Miguel; HACKBART. Apresentação. II Plano Nacional de
Reforma Agrária. Paz, Produção e Qualidade de Vida no Meio Rural. Brasília: S/d.

BRAVO, Maria Inês; MATOS, Maurílio Castro de. Assessoria, Consultoria e
Serviço Social. RJ: Ed. Viveiros de Castro, 2006.

CANESQUI, Flávia Gonçalves. Serviço Social e Questão Agrária: um debate
necessário. XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Foz de Iguaçu:
2007.
41

Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no Campo de Goiás. Documento
em Defesa da Reforma Agrária e Fortalecimento da Agricultura Familiar e
Camponesa. Goiânia. 2010.

Maia, Cláudio Lopes. Reforma Agrária: história, limites e possibilidades.
Realidades e Conflitos no Campo. Goiânia. 2010.

RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para alunos dos cursos de graduação e
pós-graduação. São Paulo: Stiliano, 1998.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para
apresentação de trabalhos. 2. ed. Curitiba: UFPR, 1992. v. 2.

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O Serviço Social e a Política de Reforma Agrária

  • 1. SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL PEDRO FERREIRA NUNES O SERVIÇO SOCIAL E A POLÍTICA DE REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DE GOIÁS Goiânia 2011
  • 2. PEDRO FERREIRA NUNES O SERVIÇO SOCIAL E A POLÍTICA DE REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DE GOIÁS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Prof. Rodrigo Eduardo Zambon Goiânia 2011
  • 3. Dedico este trabalho a minha Mãe Maria Lucia, e a toda a minha família, que me deram todo o apoio para que eu superasse mais essa etapa, como também a todo o campesinato sem terra, espero que esse seja mais um instrumento para luta da classe trabalhadora. Londrina, _____de ___________de 20___.
  • 4. AGRADECIMENTOS A todos os meus professores que contribuíram direta e indiretamente para que eu superasse esta etapa da minha vida acadêmica, dês do primário a o ensino superior. As minhas fontes inspiradoras: Ernesto Guevara, Camilo Cienfuegos, José Porfírio assim como a todos aqueles que dedicaram suas vidas pela emancipação da classe trabalhadora. Aos meus companheiros de luta tanto no partido como no movimento sem terra, lutando por um mundo verdadeiramente justo e igualitário, que muito contribuíram para o meu aprendizado. A todos aqueles que são explorados pelo capital e oprimidos pelo sistema vigente, a classe trabalhadora em breve triunfará.
  • 5. “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira”. Ernesto Guevara
  • 6. Nunes, Pedro Ferreira. O Serviço Social e a luta por reforma agrária no Estado de Goiás. 2011. Nº 71. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Serviço Social) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paraná, Goiânia, 2011. RESUMO A Luta pela reforma agrária é uma luta histórica de milhares de camponeses que foram expulsos de suas terras e seguirão rumo à cidade em busca de melhores condições de vidas. No entanto a realidade que encontraram foi de exclusão e exploração. No Brasil ao longo da história sempre teve levantes e lutas populares pela posse da terra, no entanto o estado brasileiro nunca teve uma política de fato de reforma agrária. Hoje milhares de famílias vivem em situações precárias nas margens das rodovias, vivendo em barracas de lona preta, em uma condição de vida extremamente precárias, longe de qualquer política de saúde, educação, cultura e lazer. Uma reforma agrária no Brasil não é só possível como necessária. Por tanto o Serviço Social deve lutar para que as famílias que estão em luta pela reforma agrária possam ser atendidas com políticas públicas que atendam as necessidades dessa população que sobrevive de forma excludente, sobre tudo no estado de Goiás, um estado que tem sua base econômica nos grandes latifúndios, na monocultura e no agronegócio. O assistente social deve também atuar potencializando a luta dos movimentos populares que organizam o campesinato sem terra em luta pela reforma agrária. Palavras-chave: Reforma Agrária. Serviço Social. Movimentos Populares. Classe Trabalhadora.
  • 7. Nunes, Pedro Ferreira. THE Social Service and the struggle for land reform in the State of Goiás. 2011. PARAGRAPH 71. Work on Completion of the Course (Bachelor in Social Service) - Center for Business Sciences and Applied Social, University of the North of Parana, Goiânia, 2011. ABSTRACT The Struggle for land reform and a historic struggle of thousands of peasants who were expelled from their land and follow toward the city in search of better conditions of life. However, the fact that they found was of exclusion and exploitation. In Brazil over the course of history has always had lift and people's struggles for possession of the land, however, the brazilian state has never had a policy of fact of agrarian reform. Today thousands of families living in precarious conditions in the margins of the highways, living in tents, canvas black, in a condition of life extremely precarious, far from any health policy, education, culture and leisure. Agrarian reform in Brazil is not only possible but also necessary. For both the Social Service must fight to ensure that the families that are in struggle for land reform can be treated with public policies that meet the needs of the population that survives in a exclusionary on everything in the state of Goiás, a state that has its economic base in large estates, the monoculture and agribusiness. The social worker should also act potentiating the struggle of the popular movements that organise the peasantry without land in struggle for land reform. . keyword : agrarian reform. social service . Popular Movement. Working class.
  • 8. 3.1 TABELAS TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS ASSENTAMENTOS EM GOIÁS POR REGIÕES...................................................................................................................32 TABELAS 2 – TABELA 2- UTILIZAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS EM GOIÁS.................................................................................33 TABELA 3 – ESTRUTUTA AGRÁRIA DE GOIÁS DE 1970 A 2006 .........................33
  • 9. 3.2 FOTOS FOTO 1 – LAVOURA DIVERSIFICADA NO PA PEQUENA VANESSA II, MUNICIPIO DE BOM JESUS DE GOIÁS......................................................................................47 FOTO 2 – PRODUÇÃO DE LEITE NO PA NOVA CONQUISTA EM LAGOA SANTA – GO ..........................................................................................................................48 FOTO 3 - DE OCUPAÇÃO DE LATIFUNDIO IMPRODUTIVO EM GOIÁS...............49 FOTO 4 - DA OCUPAÇÃO DO INCRA DE GOIÁS EM 2011....................................49
  • 10. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT A A Associação Brasileira de Normas Técnicas UNOPAR Universidade Norte do Paraná PT Partido dos Trabalhadores INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária REUNI Programa Nacional de Ampliação das Universidades Federais PROUNI Programa Universidade para Todos CPT Comissão Pastoral da Terra IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PCB Partido Comunista Brasileiro TL Teologia da Libertação MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MLST Movimento de Libertação dos Sem Terra FETAEG Federação dos Trabalhadores na agricultura do Estado de FETRAF Goiás MVTC PT Pa Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar MBTR Movimento de Volta do Trabalhador ao Campo MPA Movimento Brasileiro dos Trabalhadores Rurais MCP Movimento dos Pequenos Agricultores MMC Movimento Camponês Popular MAB Movimento das Mulheres Camponesas FECOSOL Movimento dos Atingidos por Barragens FGE Fórum Estadual de Economia Solidaria de Goiás ANDES Fórum do Grito dos Excluídos CUT Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior CSP- Central Única dos Trabalhadores CONLUTAS
  • 11. DCE Central Sindical e Popular – Coordenação Nacional de Lutas UFG Diretório Central dos Estudantes SINDSÁUDE Universidade Federal de Goiás SINTSEPE Sindicato dos Trabalhadores no Sistema Único de Saúde de Goiás SINDAGRI Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público em Goiás UDR Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura em Goiás PRONERA União Democrática Rural PAA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária CPMI Programa de Aquisição Alimentar CFESS Comissão Parlamentar Mista de Inquérito SUAS Conselho Federal de Serviço Social Ha Sistema Único de Assistência Social PA Hectares Projeto de Assentamento
  • 12.
  • 13. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 2 DESENVOLVIMENTO ......................................................................................... 166 2.1 O Serviço Social e a questão agrária.................................................................. Erro! Indicador não definido.6 2.1.1 A luta por Reforma Agrária no Estado de Goiás Erro! Indicador não definido.9 2.1.1.1 O Serviço Social no processo de Reforma Agrária............... ........................ 24 2.1.1.1.1 Movimentos sociais: Caso de Policia ou caso de Política? ....................... 28 2.1.1.1.1.1 A Importância do Assistente Social na luta por Reforma Agrária ............30 3 ELEMENTOS DE APOIO AO TEXTO .................................................................. 32 3.1 Tabelas................................................................................................................ 32 3.2 Fotos ....................................................................................................................47 4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 51 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53 APÊNDICES ............................................................................................................. 55
  • 14. 14 1 INTRODUÇÃO Mesmo com o discurso predominante sobre a superação da necessidade de se fazer uma reforma agrária no Brasil, sobre tudo pela ausência de uma política por parte do governo de desapropriação de áreas improdutivas e assentamento de milhares de famílias que se encontram acampadas nas margens das rodovias na luta por um pedaço de chão, e que muitas vezes são obrigados a radicalizar suas ações para que possam ser atendidas as suas reivindicações. O que vemos é cada dia mais uma necessidade de se fazer uma verdadeira reforma agrária neste país, não só para que milhares de famílias que estão acampadas possam conseguir um pedaço de chão para dali tirar sua subsistência como também, pela necessidade de milhares de famílias que estão nas periferias das grandes cidades as margens das políticas públicas. Como também pela preservação do meio ambiente e a produção saudável de alimentos. Sendo que o atual modelo agrícola brasileiro com base na monocultura, e na agroexportação, com intenso uso de agrotóxico é extremamente prejudicial ao meio ambiente. Nestes quase 09 anos de governo do PT (Partido dos Trabalhadores), o que vemos é a reforma agrária saindo da pauta do governo, com á cooptação de lideranças dos movimentos populares, fazendo com que esses vivam um período de descenso das lutas populares. Por outro lado o governo tem tido um amplo apoio popular, em grande parte devido há uma conjuntura interna favorável, e devido às políticas assistencialistas do governo como Bolsa Família, PROUNI, REUNI entre outros. Nestes quase 09 anos de governo petista nenhuma mudança estrutural foi realizada no Brasil, é por isso que vemos a reforma agrária saindo da pauta do governo e sendo substituídas por políticas assistencialistas, que não muda a situação de exploração da classe trabalhadora, mais apenas maquia uma realidade de extrema exclusão social, exploração e subserviência ao grande capital. A Política de Reforma Agrária deve ser encarada como uma política social, e deve ser assumida como uma política pública pelo estado brasileiro, que tem tratada a mesma como uma questão fora de contexto. A reforma agrária é uma política que dá a possibilidade de emancipação para as famílias que conseguem após longos anos de luta um pedaço de chão. Pois passam a depender apenas dos seus esforços, assim é de primordial importância que os assistentes sociais potencializem a luta pela reforma agrária sendo essa uma política pública
  • 15. 15 emancipatória e não compensatória. O Serviço Social deve por tanto cada vez mais ocupar espaços dentro das organizações que organizam os trabalhadores em luta pela reforma agrária, lutando para que ás milhares de famílias que estão acampadas nas margens das rodovias lutando por um pedaço de chão em uma situação precária possam ter minimamente seus direito em quanto cidadão, que é de ter acesso a políticas públicas fundamentais como educação, saúde entre outros possam ser atendidos. Ás milhares de família que estão acampadas sobrevivem precariamente, com dificuldade de ter acesso a educação, mesmo a pública que não é de qualidade, não tem acesso a saúde, mesmo a de péssima qualidade que é ofertada pelo estado, acesso a cultura e lazer também é um privilegio que não é garantido a esses trabalhadores, que sobrevivem vendendo a sua mão de obra em condições de trabalho precarizado e sem nenhum direito trabalhista, é por tanto normal ouvirmos falar em trabalho escravo em pleno século XXI no Brasil. Há uma crescente criminalização da pobreza, dos movimentos e de lutadores populares, assim mais uma vez voltamos ao inicio do século XX onde as expressões da questão social eram resolvidas como caso de policia e não de política. A cada dia vemos o estado brasileiro cada vez mais ausente do seu dever de elaborar e executar políticas públicas que de fato atendam a necessidade da população, em contra partida tem feito uma ação militarizada e de criminalização das minorias em luta por garantia de direito. É por tanto fundamental que o Serviço Social como parte do seu compromisso histórico de construir e apoiar a luta da classe trabalhadora por sua emancipação seja de fato efetivado, ocupando todos os espaços estratégicos de construção dessa luta. Não só nos espaços públicos onde acabam desempenhando simplesmente o papel de executor de políticas terminais, em empresas privadas onde desempenham apenas o papel de um simples mediador de conflitos, que acaba sempre pendendo para o lado do patrão. Dessa forma os movimentos populares verdadeiramente de luta são um espaço fundamental de atuação do assistente social comprometido com a emancipação da classe trabalhadora. Lutar pela reforma agrária no Brasil e em Goiás é lutar de fato por direito para milhares de famílias que estão às margens das políticas públicas fundamentais, para que tenham acesso às mesmas e por garantia de direitos.
  • 16. 16 2- DESENVOLVIMENTO 2.1 O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO AGRÁRIA Netto e Sant’Ana, referência na profissão, afirmam que “A questão agrária é uma das expressões da questão social, pois reflete as contradições postas pelo capitalismo no meio rural, e no Brasil com particularidades históricas extremamente perversas” (2004:2). Sendo por tanto uma das expressões da questão social, é por tanto um campo onde o assistente social deve atuar lutando para superar essa realidade, sobretudo no Brasil onde a questão agrária ainda tem tabus colonialistas, onde o coronelismo anda de mãos dadas com a modernidade do agronegócio. A questão social foco de atuação do assistente social também esta presente na zona rural, e suas expressões são as milhares de famílias acampadas nas margens das rodovias morando em baixo de barracas de lona, excluídas de varias políticas públicas, submetidas a trabalhos análogos a escravidão entre outros. Segundo Canesqui “o debate da questão agrária, historicamente polêmico, recompõe-se na atualidade, seja pela não efetivação da reforma agrária, [...] seja pelo modelo de agricultura hegemônico” (2007:1). Mesmo sendo a reforma agrária uma política reformista no Brasil ela ganha um grande contorno de luta de classes, no Brasil há uma burguesia rural que não abre mão de suas posses ursupadas historicamente dos povos indígenas. Dessa forma a reforma agrária no Brasil ganha contornos de uma guerrilha como mostra o caderno de conflitos no campo elaborado todos os anos pela CPT (Comissão Pastoral da Terra). Para Rodrigo, “a denominada Questão Agrária Brasileira se apresenta no cenário histórico nacional desde há muito com diferentes facetas e denominação, mas, como pano de fundo” (2001:1). Dês do inicio de sua história aconteceram vários levantes populares na luta pela posse da terra, podemos citar alguns mais famosos como: Canudos, As ligas Camponesas, Trombas e formoso entre outros. Por trás desses
  • 17. 17 levantes estava uma situação de exploração e exclusão no campo, no entanto o estado brasileiro sempre atuou reprimindo as lutas populares para proteger a burguesia rural brasileira. Oliveira e Martins também escrevem que a questão agrária se arrasta no Brasil desde o tempo da colonização (2004:1). Carvalho e Sant’Ana afirmam que o ímpeto pela apropriação e concentração de imensas extensões de terras iniciaram com a colonização portuguesa e perduram até hoje (2007:1). Moreira, como os outros, escreve que a questão agrária não é nova no Brasil e que tem sua gênese na colonização e ainda existe (2007:1). O ultimo censo agropecuário apresentado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2006 mostra que nos últimos anos aumentou a concentração de terras no Brasil, mesmo com a criação de vários assentamentos, no entanto o governo nunca assumiu de fato a questão da reforma agrária, enquanto por um lado são criados alguns projetos de assentamentos, por outro lado a maioria dos recursos são destinados para o agronegócio exportador. Mesmo assim a cada dia surgem novos movimentos sociais lutando pela terra, tanto que segundo Ariovaldo Umbelino a luta pela posse da terra tem aumentado no ultimo período. Para Souza:[...]os movimentos sociais representam uma nova ordem política, na construção de sua organização em vista à solução de suas necessidades sociais e o Serviço Social, em sintonia com o projeto ético-político, tendo como um dos princípios a construção de uma nova ordem social tem o dever de apoiar tais movimentos (2007:4). Reafirmando o que diz Souza, os movimentos populares de luta é um espaço onde o assistente social pode atuar com autonomia e em sintonia com o projeto ético-político da profissão, na busca pela emancipação da classe trabalhadora. No Brasil os movimentos de luta pela reforma agrária tem uma organização histórica e mesmo no período de descenso de luta da classe trabalhadora, tem sido nas ultimas décadas protagonistas no enfrentamento das políticas neoliberais implementadas pelo estado brasileiro. Além de conseguirem
  • 18. 18 importantes vitórias para os trabalhadores, lutando para que de fato o direito dos mesmos sejam atendidos. A questão agrária no país tem possibilitado ao Serviço Social ampliar o seu campo de pesquisa e, consequentemente o seu foco de intervenção profissional. O acirramento da questão social expressa na questão agrária tem se caracterizado como um elemento de requisição a prática do (a) assistente social pelas instituições e organizações que atuam na área rural. É por tanto importante que o Serviço Social a cada dia mais se aproprie desse espaço, contribuindo e dando subsidio aos movimentos populares em luta. Não devendo atuar simplesmente como apoio mais construindo a luta. Canesqui afirma que apresentar a temática da questão agrária à política de assistência social representa uma forma de compreender as especificidades que esta imprimi no desenvolvimento das políticas sociais, já que, contribuiu na efetivação de propostas de trabalho condizentes com a realidade social. Estas especificidades ganham maior relevância quando o perfil dos municípios brasileiros é analisado: grande parte deles são de pequeno porte, cuja estrutura ocupacional e produtiva depende fortemente da agricultura(2007:3). É inegável a importância desse tema para aqueles que verdadeiramente defendem e lutam por inclusão social e emancipação de fato da classe trabalhadora. Lutar por reforma agrária é lutar contra uma situação de exclusão e exploração de milhares de famílias que não são atendidas por políticas públicas, que não estão na maioria dos projetos e programas sociais do governo, é lutar pela camada da população mais pauperizada, que violentados cotidianamente e criminalizado quando ousam a se levantar pelos seus direitos. Discutir e lutar por reforma agrária no Brasil é lutar por milhares de famílias que estão em uma situação de exclusão extrema. Albuquerque e Sant’ana (2007:3) escrevem: É flagrante o distanciamento do Serviço Social com os problemas oriundos da questão agrária. Mesmo sabendo que uma boa parte dos assistentes sociais atuam em municípios de porte médio e pequeno e cotidianamente se confrontam com casos dessa natureza. Uma das explicações para tal fato nos remete a história da profissão, que tradicionalmente foi
  • 19. 19 solicitada para intervir na questão social urbana relacionada com o surgimento da classe operária no cenário político. Em grande parte a formação do assistente social é voltada para pensar os problemas da cidade e formular políticas para o espaço urbano, subordinando a discussão do campo a segundo plano. Eles ainda escrevem que a categoria dos Assistentes Sociais tem estado ausente na discussão dessa temática, sendo indispensável atentar-se para ela. 2.1.1 A LUTA POR REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DE GOIÁS Segundo Maia: A Reforma Agrária nos remete necessariamente á compreensão histórica do processo de construção do latifúndio no Brasil, no caso, a resposta do motivo de sermos vice-campeão mundial em concentração de terra. É comum em reconstituições históricas que analisam esse processo, ressaltar a vocação latifundiária do Brasil, recuando a tempos históricos imemoráveis, como a formação das capitanias hereditárias, para justificar esta vocação. O problema deste tipo de interpretação é que, feito desta forma, a constatação da presença do latifúndio, acaba tendo uma resposta naturalizada, como se este modelo fundiário fosse algo inerente a nossa nação ou uma característica herdada que lutaríamos para os livrarmos, mas que, pela natureza intrínseca a nossa formação, seria muito difícil fazê-lo. (Maia, 2010). Goiás é um estado que dês de sua formação política, social e econômica têm sua base na agropecuária, sobretudo na criação de gado e na monocultura. Por tanto não é diferente da maioria dos estados do interior do Brasil, no entanto essa formação não se deu sem luta dos povos tradicionais verdadeiros donos dessas terras, como também dos campesinos posseiros que tiveram posteriormente suas terras ursupadas. No entanto mesmo com essa resistência ao longo da história do Estado percebemos hoje uma naturalização da atual estrutura fundiária, mesmo com a luta dos movimentos populares pela reforma agrária. Goiás é um estado onde existe uma elite conservadora mais radical que tomou posse das terras e hoje esta a serviço das grandes agroindústrias multinacionais que também ocuparam o meio rural, cada vez mais inibindo e expulsando os pequenos agricultores, sendo que o grande agronegócio conta com total apoio do estado ao contrario da agricultura familiar e camponesa que tem pouco apoio.
  • 20. 20 Para Maia a concepção latifundiária de nossas classes proprietárias de terra, na qual se constituiu uma noção muito comum entre estas, de que toda terra disponível é de propriedade exclusiva dos latifundiários, tendo a existência da pequena propriedade apenas uma existência subsidiária ou como concessão. (Maia, 2010). A lei de terras aprovada em 1850 colaborou para consolidação dessa concepção citada acima, lei essa que legalizou todas as terras que foram ursupadas ilegalmente dos povos tradicionais e do campesinato pelos grandes proprietários. No entanto não podemos dizer que foi o marco da consolidação dos latifúndios. Mais segundo Maia construiu seu fundamento jurídico. Goiás teve e tem importância histórica na luta dos povos tradicionais, do campesinato pelo direito a um pedaço de terra. Podemos citar a luta de Santa Dica ainda na década de 40 na cidade de Goiás (Líder religiosa espécie de Antonio Conselheiro do cerrado) que liderou centenas de famílias camponesas sem terra que eram expulsas de suas propriedades ou que trabalhavam para grande latifundiário sem ter direitos, criando uma espécie de uma grande colônia agrícola ocupando terras improdutivas da região. Foi em Goiás que aconteceu também a importante luta camponesa de Trombas e Formoso, sob a liderança de José Porfírio, que em 1949, aos 36 partiu de sua terra natal, o norte de Goiás (Cidade de Pedro Afonso, hoje Estado do Tocantins) juntamente com um grupo de camponeses em busca de terras agricultáveis. Estabeleceram-se numa região de serras e córregos na margem esquerda do rio Tocantins, mais camponeses foram chegando, atraídos pela propaganda sobre colonização agrícola em Goiás (Programa realizado pelo governo de Getulio Vargas). Por volta de 1951, foram iniciadas manobras cartoriais de grilagem de terras ocupadas pelos posseiros, que reagiram, sobretudo pegando em armas a todas as tentativas de expulsa-los. Entre 1954 e 1957, a área foi palco de persistentes conflitos, muitas vezes com enfrentamento armado, e um número não conhecido de mortos, entre camponeses, jagunços e policiais a serviço dos latifundiários. As lutas só tiveram desfecho quando Mauro Borges, eleito governador de Goiás, em 1962, iniciou a distribuição de cerca de 20 mil títulos de propriedade. José Porfírio que se tornaria militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e é eleito o primeiro deputado estadual camponês, com o golpe militar em
  • 21. 21 1964 é cassado, preso, torturado e desaparece, sendo que até hoje não há informações sobre o seu paradeiro. E é no período mais nebuloso da história do Brasil (Ditadura Militar de 1964 a 1985), que começa com mais intensidade a organização dos camponeses na luta pela terra, são criados os primeiros sindicatos rurais, é também neste período que impulsionado pela ala progressista da Igreja Católica (Teologia da Libertação), que surge a CPT (Comissão Pastoral da Terra) motor propulsor da organização dos camponeses sem terra pela posse da mesma. É este grupo coordenado pela arquidiocese da cidade de Goiás comandada até então por Dom Tomás Balduino, que lideram a primeira ocupação de terra em Goiás, que se tornou hoje o Projeto de Assentamento Mosquito que em 2011 completou 25 anos de sua conquista. Segundo Dom Tomás “Os mais incomodados com o surgimento da organização dos trabalhadores no campo foram os latifundiários. Antes eles eram os donos exclusivos das terras. Quando precisavam ampliar seus domínios tinham a seu favor os poderes públicos constituídos. Bastava cercar mais terra. Além disso, contavam com jagunços, ás vezes ex-militares, que garantiam a manutenção do seu poder absoluto no campo. Os acampados e assentados, ao pesquisarem nos cartórios verificaram que muitos latifúndios eram simplesmente invasões de terras devolutas do Estado”. (Dom Tomás, 2010) Partindo da fala de Dom Tomás e da afirmação de Maia, reafirmamos que a formação de latifúndios no Estado de Goiás se deu a partir da combinação entre ações estatais para a ocupação das fronteiras, com a ausência de qualquer medida de controle sobre as terras devolutas. Dessa forma os grandes latifundiários foram se apropriando dessas terras pertencentes ao estado através dos mecanismos criados na lei de terras em 1850. Mais é apenas na ditadura militar, no ano de 1965, com uma política do governo voltada para esse setor que o latifúndio torna se uma viabilidade econômica, o que não era até então, e isso se dá com a integração do latifúndio a indústria. Para Maia: As políticas agrícolas do regime militar, combinadas com uma forte repressão sobre todas as formas de movimentos sociais, que visavam a proteção do pequeno proprietário dos efeitos destas mesmas medidas, consolidaram definitivamente o espaço do latifúndio no Brasil, garantindo não somente a integração da grande propriedade ao mercado, como também direcionando toda a
  • 22. 22 força do Estado e dos fundos públicos para a viabilização de um tipo especifico de produto agrícola e forma de produção, passível de ser realizada somente num espaço agrário desenhado pelo latifúndio(Maia, 2010). Na década de 80 sobre tudo com o fim da ditadura militar surge os primeiros movimentos populares que organizam a luta dos camponeses sem terra, tal qual conhecemos hoje. Hoje em Goiás temos mais de 10 organizações que organizam diretamente a luta dos camponeses sem terra por reforma agrária. Alguns tem uma atuação nacional, outros só no estado. Na sua maioria se organização no Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no campo do Estado de Goiás, sendo que este é composto não só pelos movimentos que atuam diretamente na organização e luta pela reforma agrária, como também por organizações que apóiam e contribuem na luta indiretamente. O Fórum pela Reforma Agrária e Justiça no campo do Estado de Goiás é atualmente o principal espaço de articulação das organizações que direta e indiretamente lutam pela reforma agrária no Estado de Goiás. É hoje composto pela CPT, MST, MLST, FETAEG, FETRAF, TERRA LIVRE, MVTC, MBTR, MPA, MCP, MMC, MAB, FECOSOL, FGE, ANDES, CUT, CSP-CONLUTAS, DCE-UFG, SINDSAÚDE, SINTSEPE, SINDIAGRI. “O Sonho de acesso a terra se reavivou com a elaboração da Constituição Federal de 1988 a qual, inobstante os avanços em diversos aspectos, levou a política agrária de acesso á terra a intervenções pontuais e, ainda assim, por falta de vontade política, por anos a fio, as ações de governo neste sentido continuaram letra morta.” (Fórum Estadual pela Reforma Agrária e justiça no campo do Estado de Goiás, 2010). Neste sentido tudo que se conseguiu de conquista em relação à criação de milhares de projetos de assentamentos com o assentamento de milhares de famílias só foi possível pela organização dos camponeses sem terra, e sobre o sangue, suor e sacrifício de muitos dessas. Pois mesmo com a constituição federal nos garantindo a desapropriação de toda propriedade rural improdutiva e que não esteja cumprindo sua função social, sejam desapropriadas e destinadas para o processo de reforma agrária. No entanto se não fosse os acampamentos nas margens das rodovias, mostrando as veias abertas de uma sociedade desigual, as ocupações de latifúndios improdutivos que não estão cumprindo a sua função social, as marchas e
  • 23. 23 as mobilizações pressionando o governo, e o sacrifício de centenas de lutadores que tombaram na luta, com certeza nenhum projeto de assentamento teria saído do papel e nenhuma família estaria assentada hoje. ...Precisamos nos conscientizar de que a proposta de redesenhar o espaço agrário, através de uma reforma agrária, foi uma proposta que mudou muito, ao longo de nossa história, assumindo feições diferenciadas na atualidade. O próprio aumento da violência registrado nos últimos anos, que atravessa governos de matizes e cores políticas variadas, é uma prova disto. Além do que, o próprio processo de execução da reforma agrária na atualidade está inserido dentro dos limites da agricultura que se formou na segunda metade do século XX, o que pode ser constatado pela distribuição dos assentamentos no Estado de Goiás. (Maia, 2010). A maioria dos assentamentos no Estado de Goiás foram criados na região norte e oeste, é lá que se concentra 71,99% de toda a área distribuída e 66,21% das famílias assentadas, se juntarmos a região noroeste, os percentuais são respectivamente de 81,40% e de 76,77%. Esses dados pode ser explicado por vários fatores, no entanto se formos analisar, é possível perceber uma concentração da distribuição das terras de assentamento, nas regiões menos ligadas ao agronegócio, isto principalmente quando identificamos os tipos de produtos que dominam a agropecuária em cada região. A produção em toneladas de soja das regiões norte, oeste e noroeste, com a maioria dos assentamentos, é somente 13,50% da produção das regiões centro, sudoeste, sudeste e sul, que concentram somente 18,34% das áreas distribuídas em assentamento. Segundo Maia: As sobreposições dos dados de distribuição dos assentamentos por região, com os dados dos principais produtos da pauta de produção agropecuária do Estado de Goiás, indicam que a reforma agrária avança em Goiás nas regiões de menor interesse para o agronegócio. (Maia, 2010) Segundo dados do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) do ano de 2011, existe em Goiás cerca de 14.458 mil famílias assentadas em cerca de 269 projetos de assentamentos criados de 1900 a 2011 no estado. Ocupando uma área de cerca de 670.403,5841 hectares. Segundo o Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no campo de Goiás, há cerca de 10 mil famílias acampadas, espalhada por vários
  • 24. 24 acampamentos, nas margens das rodovias, em baixo de barracas de lona preta na luta para serem assentadas. Sobrevivendo em condições degradantes longe do acesso a qualquer política pública. “O Programa de reforma agrária brasileiro segundo a constituição federa de 1988 é de responsabilidade da união, mais por outro lado, é importante que o estado de Goiás apóie concretamente sua implementação, fortalecendo com políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, bem como a pesca e aquicultura familiar”. (Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no Campo de Goiás, 2010). As elites goianas tem sua origem e poder na posse da terra, e isso não tem sido alterado historicamente, ao contrario, as elites latifundiárias continuam comandando os espaços de poder, e tendo forte influência nos espaços de tomada de poder. Goiás é um dos estados mais reacionários no combate a luta por reforma agrária, tendo importantes figuras a nível nacional que dissemina essa lógica, se por um lado Goiás foi um estado onde teve importantes levantes e mobilizações populares, por outro lado também é o berço da UDR (União Democrática Rural), organização dos latifundiários e ruralistas. Em Goiás segundo o Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no Campo de Goiás: Grandes partes das legislações e do conjunto das políticas públicas são direcionadas para o agronegócio, apenas executando de forma precária, as políticas públicas direcionadas para a agricultura familiar e camponesa oriundas do governo federal. (Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no Campo de Goiás, 2010). Por tanto em uma situação extremamente difícil, sem apoio total do governo federal, o público da reforma agrária ainda enfrenta o descaso do poder estadual e também da maioria dos poderes municipais. Sendo de primordial importância para o avanço da reforma agrária e consolidação das famílias em luta por um pedaço de chão ou para produzir assim que conquista o seu é preciso o apoio tanto dos governos Federal, estaduais e municipais. 2.1.1.1 O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE REFORMA AGRÁRIA Mesmo com a constituição federal de 1988, legislar sobre como deve desenvolver o processo de reforma agrária no Brasil, na realidade não vemos isso concretizar sem a organização, mobilização e pressão dos movimentos sociais
  • 25. 25 organizados sobre os governos. Todas as conquistas obtidas pelos milhares de famílias camponesas sem terra organizadas em movimentos sociais se deram a partir de sua luta, e não das benesses de nenhum governo. Conquistas estas obtidas sob sangue, suor e muita luta. No entanto se muito foi feito, há muito ainda o que se fazer, sendo que o Serviço Social pode contribuir imensamente com essa luta, se inserindo nos movimentos populares, e contribuindo dês de subsidiando a luta através de pesquisas na universidade, assim também como contribuindo para que essa abra as portas para os movimentos populares. Por outro lado deve contribuir na organização e formação dessas organizações, como também e, sobretudo lutando junto ao estado por políticas públicas que atendam as necessidades dessa população. Há varias fases do processo de organização e luta dos movimentos populares pela reforma agrária o qual deve ser potencializado pela atuação do Serviço Social: a) Fase de acampamento: No período de acampamento, as famílias vivem precariamente nas margens de rodovias e estradas, morando de baixo de barracos de lona, em uma completa condição subumana, não são reconhecidos oficialmente pelo Governo, sendo que de vez enquanto o INCRA encaminha uma cesta básica para as famílias, as famílias sobrevivem prestando serviços nas grandes fazendas ou através dos chamados bicos, em situações precárias, sem direitos trabalhistas. As famílias demoram em média 6 anos para serem assentados, período que vivem nesta situação, claro os que não desistem. b) Fase de pré-assentamento: Neste período as famílias já conseguiram a posse da área, no entanto ainda não é liberado nenhum recurso por parte do governo para a estruturação do assentamento, as famílias continuam ainda morando em barracos, no entanto em uma condição um pouco melhor pois já tem a terra para produzir, mais nada é definitivo, assim muitos continuam trabalhando fora, pois a licença para as famílias começarem a plantar sua lavoura demora, como também a divisão dos lotes. Continuam sem acesso as políticas públicas de educação, saúde, assistência social entre outros, para conseguir
  • 26. 26 as mesmas precisam se deslocar por vários quilômetros. c) Fase de assentamento: As famílias já estão produzindo, já receberam seus créditos moradia, fomento, já tem energia elétrica, o assentamento já tem um mínimo de estrutura. No entanto ainda é precário o acesso a política pública de saúde, educação, sobretudo com o transporte escolar, e estrutura para o escoamento da produção, como também falta de assistência técnica. - Em Goiás temos hoje cerca de 10 mil famílias acampadas nas margens das rodovias, é necessário lutar para que essas famílias tenham minimamente os seus direitos fundamentais sejam garantidos, e neste processo é de primordial importância a atuação de um assistente social, atuando no sentido de fazer com que os programas sociais do governo cheguem até esse público, que na fase de assentamento não é reconhecido e nem assistido. É o período mais precário enfrentado por aqueles que estão na luta por um pedaço de chão, no entanto é um período primordial para a conquista da terra, sendo que os acampamentos é uma forma de mostrar para sociedade a veias de uma sociedade desigual, como também de resistência e persistência. É o período onde as famílias também aprendem a viver coletivamente, dividindo as misérias e derrotas como também as vitorias e alegrias. - A fase de pré-assentamento também não é reconhecida oficialmente pelo estado, assim que as famílias entram para a área já são consideradas assentadas, no entanto os movimentos denominam este período de pré-assentamento, pois as famílias ainda vivem em barracos, sem condição de produzir, sem ainda terem recebido nenhum credito. As famílias continuam sem ter nenhuma política pública especifica para atender suas necessidades. -Na fase de assentamento já encontramos as famílias em uma situação melhor, neste período encontramos alguns programas sociais de apoio as famílias, como os créditos para construir moradias, o credito fomento para ajudar na produção, o Programa de Aquisição Alimentar (PAA), o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), e assistência técnica mesmo que muito precária. Todos estes conquistas histórica dos movimentos populares. É neste período onde mais se necessita de apoio dos governos municipais e estaduais, o que não acontece na maioria dos municípios, o recurso destinado mesmo com todos estes programas são insignificantes, demoram anos para que as famílias consigam
  • 27. 27 acessar algum, devido à burocracia muitos nem acessam, falta assistência técnica, a que existe é precária e deficitária. Todos os projetos de assentamentos criados são em regiões de difícil escoamento da produção, não há transporte e falta estrutura para as famílias comercializar a produção. Também continua sendo precário o acesso as políticas públicas fundamentais de saúde e educação. Em um período onde as escolas no campo têm sido fechadas, as famílias são obrigadas a mandar seus filhos a estudar na cidade, uma parte enfrenta um transporte escolar precário, outra parte desiste e vai morar na cidade. Por tanto em todas as fases do processo de reforma agrária é de primordial importância a atuação de um profissional do Serviço Social, na elaboração, execução e operacionalização de políticas públicas para o público da reforma agrária, atuando tanto nos órgãos públicos a nível municipal, estadual e federal, mais sobre tudo nos movimentos sociais que fazem a luta por essa importante política de inclusão social e emancipação tanto social quanto econômica de milhares de famílias que estão nas margens das rodovias ou mesmo nos guetos das grandes cidades. A Reforma Agrária não pode continuar sendo como é hoje no Brasil, feita sem nenhum planejamento, onde aqueles que suportam em média 6 anos nas margens de uma rodovia sem nenhuma política pública especifica, e depois em média 3 anos em um período de pré-assentamento, para então após quase 10 anos chegar em um período de assentamento, onde são dadas algumas migalhas. Mais em relação ao agronegócio exportador os recursos são infinitamente inferior. No entanto mesmo com as dificuldades e limites a reforma agrária tem se mostrado na prática uma política de inclusão social e emancipação de fato de milhões de trabalhadores que se encontram em situação miserável. O censo agropecuário de 2006 mostra que 72% do que chega à mesa do brasileiro é oriundo da agricultura familiar e camponesa, uma produção feita em harmonia com o meio ambiente, sem degradá-lo ou devastá-lo, ao contrario do agronegócio exportador que para produzir contamina o solo e os alimentos com agrotóxico. Lutar pela reforma agrária é lutar por um novo modelo agrícola brasileiro, que não agride o meio ambiente, e nem envenena os alimentos que chegam a nossa mesa. Lutar pela reforma agrária no Brasil é lutar de fato por justiça social, por tanto o Serviço Social não pode ficar de fora dessa luta.
  • 28. 28 2.1.1.1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS: CASO DE POLICIA OU CASO DE POLÍTICA? Vivemos atualmente um processo intenso de criminalização da pobreza, dos movimentos populares e de suas lideranças, sobretudo aqueles que lutam por reforma agrária. Todos os anos a Comissão Pastoral da Terra elabora o caderno de conflitos que mostra um retrato dos conflitos por terra em todo o Brasil. E todos os anos podemos ver uma crescente ação contra aqueles que lutam por reforma agrária neste país. Muitos lutadores são executados sumariamente por jagunços a mando de latifundiários, e a justiça que é tão rápida para liberar um liminar de desocupação de uma área não tem a mesma velocidade para julgar e condenar estes assassinos. O Estado que se coloca ausente na elaboração e execução de políticas públicas para as milhares de famílias que estão na luta por reforma agrária, esta muito presente reprimindo e criminalizando aqueles que ousam a lutar por uma condição de vida mais digna. No ano de 2009 foi instalada no congresso nacional uma CPMI dos movimentos sociais segundo a bancada ruralista (antiga UDR) o objetivo era investigar desvios de dinheiro público para financiar a luta dos movimentos sociais, no entanto sabemos que o objetivo de fato era intimidar a luta dos movimentos populares pela revisão dos índices de produtividade que são da década de 70, e que se alterado destinaria mais áreas que hoje são consideradas produtivas para o processo de reforma agrária. Não conseguiram provar nada com CPMI, mais conseguiram barrar a discussão sobre a alteração dos índices de produtividade. Varias lideranças de movimentos populares foram presos em ocupações de terras, simplesmente por que cometeram o crime de desafiar os latifundiários, ação essa decorrente da campanha dos movimentos sociais por um projeto de lei que limite o tamanho das propriedades rurais no Brasil, o governo tampou os olhos, os ruralistas bateram o pé e nada saiu do papel. Mais recentemente entrou em pauta no congresso nacional o projeto de revisão do código florestal brasileiro, que em um momento onde a questão ambiental esta em pauta em todo o globo, vemos ser apresentado no congresso nacional um projeto que é um estimulo a ampliação da devastação da nossa flora e fauna. Extremamente prejudicial à agricultura familiar e camponesa, e aos povos tradicionais, mais totalmente favorável ao grande agronegócio exportador e para os
  • 29. 29 latifundiários. Em decorrência da aprovação desse projeto nefasto para o povo brasileiro, varias lideranças camponesas e ambientalistas foram assassinadas no norte do país. A Comissão Pastoral da Terra mais uma vez apresentou a justiça uma lista com mais de 80 nomes de lideranças em todo o país que estão ameaçados de morte. O Estado brasileiro em todos os níveis tem estado presente na repressão e criminalização dos movimentos sociais, no entanto não esta presente na elaboração e execução de políticas públicas. Isso nos faz remeter a década de 20 do século passado onde a questão social era tratada como caso de policia e não de política. Devido à atuação e crescimento do Serviço Social conseguimos superar ao longo das décadas essa lógica, que infelizmente tem pautado a atuação dos governantes hoje. No entanto ao analisarmos a questão agrária brasileira percebemos que esta nunca foi encarada pelos governantes como caso de política, ao contrario o Estado sempre atuou na repressão e criminalização, por tanto encarando um problema social como caso de policia. Milhares de famílias foram expulsas de suas terras, obrigadas a tomar as periferias das grandes cidades, enquanto os latifundiários que usurparam essas terras têm o total apoio do estado. Lutar por direitos hoje no Brasil tem sido crime, e aqueles que cometeram e comentem crime contam com o apoio do estado e muitas vezes controlam o mesmo. É necessário que o Serviço Social atue no sentido de colaborar para que a questão agrária no Brasil seja vista pelo Estado brasileiro como um caso de política e não de policia. Que os milhares de lutadores que estão na luta por reforma agrária não são criminosos são sujeitos de direitos que devem ser visto pelo Estado quando da elaboração de políticas públicas e não em processo de repressão. As famílias que estão acampadas ou assentadas necessitam de políticas públicas como saúde, educação, cultura, lazer, assistência técnica, condição para escoar sua produção entre outros. Não queremos mais ver massacres como o do Eldorado dos Carajás, onde vários camponeses sem terra foram sumariamente assassinados por jagunços e agentes policiais do estado. E neste sentido o Serviço Social deve lutar e colaborar para que esse processo de criminalização seja superado.
  • 30. 30 2.1.1.1.1.1 A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NA LUTA POR REFORMA AGRÁRIA Albuquerque e Sant´ana escrevem: É flagrante o distanciamento do Serviço Social com os problemas oriundos da questão agrária. Mesmo sabendo que uma boa parte dos assistentes sociais atuam em municípios de porte médio e pequeno e cotidianamente se confrontam com casos dessa natureza. Uma das explicações para tal fato nos remete a história da profissão, que tradicionalmente foi solicitada para intervir na questão social urbana relacionada com o surgimento da classe operaria no cenário político. Em grande parte a formação do assistente social é voltada para pensar os problemas da cidade e formula políticas para o espaço urbano, subordinando a discussão do campo a segundo plano. Eles ainda escrevem que a categoria dos Assistentes Sociais tem estado ausente na discussão dessa temática, sendo indispensável atentar-se para ela. (Albuquerque e Sant´ana, 2003). O Serviço Social tem focado a sua atuação historicamente no espaço urbano, o profissional tem sido formado e preparado para atuar neste espaço, onde há minimamente uma rede de políticas sociais de assistência social. Hoje o serviço público é o espaço sócio-ocupacional do Serviço Social majoritariamente, isso é, mais de 70%, segundo pesquisa realizada pelo CFESS, por tanto o assistente social pode ser caracterizado como um servidor público. E como percebemos anteriormente o Estado brasileiro historicamente não tem assumido políticas públicas voltadas para o público beneficiário da reforma agrária ou que esteja em luta por esta. Assim no espaço de políticas públicas de assistência social o profissional fica apenas no campo da discussão e execução de políticas na zona urbana. Tanto no campo de políticas de educação, saúde, geração de renda, como todas as políticas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O Serviço Social precisa perceber que a milhares de famílias que vivem no campo, sobre tudo milhares que estão envolvidas diretamente com a questão agrária brasileira, na luta direta pela reforma agrária e que não são atendidas por políticas públicas especificas que atendam a sua condição de exclusão social, é preciso lutar junto aos órgãos públicos por políticas especificas para esses milhões de brasileiros que estão nesta situação. No campo da pesquisa e da produção acadêmica percebemos poucos trabalhos no campo do Serviço Social que abordam a questão agrária de
  • 31. 31 forma mais profunda, e que minimamente subsidie os movimentos que estão em luta pela democratização do acesso a terra no Brasil. Alguns autores como vimos acima citam a importância do tema, a consonância com o nosso projeto ético - político, no entanto não há um estudo especifico e nem um aprofundamento sobre o tema. Ao contrario há um reconhecimento da deficiência da nossa profissão em se apropriar dessa discussão, em realizar estudos e potencializar a luta dos movimentos populares. É impossível falar em desigualdade social no Brasil e não se falar da concentração de terra na mãos de poucas famílias, é impossível falar nos milhões de miseráveis passando fome e não se lembrar das extensas áreas agricultáveis no Brasil servindo para especulação ou exportação, é impossível se falar em proteção e preservação do meio ambiente e não nos remeter a necessidade de discutirmos o atual modelo de agrícola do Brasil. Por tanto é impossível se falar em mudar esse país com inclusão social, empoderamento do povo, e a emancipação da classe trabalhadora se não falarmos em reforma agrária. É importante que o Serviço Social discuta, elabore e intervenha sobre a questão agrária, há milhares de famílias acampadas vivendo em uma situação precária e que precisam de políticas públicas especificas, há também no Brasil milhares de famílias assentadas pelo processo de reforma agrária e que também precisam de políticas públicas especificas. O espaço cotidiano de atuação profissional é os municípios,e é impensável falar que os assistentes sociais não se deparam nos municípios rurais com questões relativas a reforma agrária. No entanto há poucas pesquisas, e trabalhos acadêmicos que subsidia a atuação desses profissionais no enfrentamento das expressões da questão social, sendo a questão agrária brasileira como bem coloca Netto uma expressão da questão social, e que talvez seja hoje a mais complexa expressão da questão social enfrentada pelos assistentes sociais, sobretudo por que ainda é pouco discutida no seio da profissão. Ainda é um espaço de pouca atuação do Serviço Social, tanto na pesquisa como na ação. Lutar por reforma agrária no Brasil é enfrentar o que se tem de mais reacionário, no entanto se queremos lutar de fato pela liberdade e emancipação da classe trabalhadora tal como trás o nosso código de ética profissional, não se pode vacilar, não é a reforma agrária que transformará o Brasil, no entanto ela é extremamente tática para que isso aconteça.
  • 32. 32 3 ELEMENTOS DE APOIO AO TEXTO 3.1 TABELA TABELA 1 - DISTRIBUIÇÃO DOS ASSENTAMENTOS EM GOIÁS POR REGIÕES Regiões Hectares Percentual Famílias Percentual Geral Total Total Geral Norte 306.627,5601 46,85 5.984 41,79 Oeste Goiano 164.525,6508 25,14 3.498 24,42 Noroeste 61.583,4007 9,41 1.511 10,55 Centro Goiano 51.548,7434 7,87 1.231 8,59 Sudoeste 49.838,9450 7,61 1.494 10,43 Sudeste 10.684,0479 1,63 263 1,83 Sul 8.097,0805 1,23 292 2,03 Entorno do DF 1.463,4610 0,22 46 0,32 Total Geral 654.368,8894 99,96 14.319 99,96 Soma Norte e 471.153,2109 71,99 9.482 66,21 Oeste Soma Norte, 532.736,6116 81,40 10.993 76,77 Oeste e Noroeste Demais 121.632,2778 18,56 3.326 23,22 Regiões Fonte: INCRA – 2010. TABELA 2- UTILIZAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUARIOS EM GOIÁS Total de Estabelecimentos 136.244 Área Total em Hectares 24.983,002 Lavouras
  • 33. 33 Estabelecimentos 71.332 Áreas em hectares 3.590,579 Pastagens Estabelecimentos 117.623 Áreas em hectares 15.524,699 Matas e florestas Estabelecimentos 89.558 Áreas em hectares 5.239,871 Fonte: IBGE – 2006. Em Goiás a maioria dos estabelecimentos rurais é utilizada para criação de bovinos, onde é necessário devastar grandes áreas de terras para pastagem. Por outro lado as lavouras são geralmente de monocultura tal como a soja e a cana de açúcar. TABELA 3 – ESTRUTUTA AGRÁRIA DE GOIÁS DE 1970 A 2006 Dados Estruturais Estabelecimentos Área em Hectares Censo de 1970 107.540 24.332,673 Censo de 1975 111.903 27.689,998 Censo de 1980 110.652 29.185,339 Censo de 1985 131.365 29.864,104 Censo de 1995 111.791 27.472,648 Censo de 2006 136.244 24.983,002 Fonte: IBGE – 2006 Mesmo com a heróica luta dos movimentos populares de luta pela reforma agrária podemos ver que a estrutura fundiária do estado de Goiás pouco se alterou sobre tudo se levarmos em consideração que até 1985 o censo agropecuário de Goiás incorporava o que a região que é hoje o estado do Tocantins, por tanto se formos analisar bem à estrutura fundiária de Goiás continua igual. Em todo este período, sobretudo na década de 90 os movimentos de luta pela terra conseguiram, através da luta conquistar várias áreas, mais isso não tem mudado a estrutura fundiária do estado, devido a lentidão, burocracia e falta de vontade política.
  • 34. 34 Em Goiás tem hoje segundo dados do INCRA de 2011, 288 projetos de assentamentos, no entanto parte deles são considerados ainda como pré-assentamentos, pois as famílias ainda não receberam todos os créditos, e os assentamentos ainda não estão estruturados. Esses projetos de assentamentos ocupam uma área em hectares de 670.403,5841, com cerca de 14.458 famílias assentadas. 3.2 – FOTOS Foto 1- Lavoura Diversificada – PA – Pequena Vanessa II, Município de Bom Jardim de Goiás. Foto do autor FOTO 2 – Produção de Leite no PA – Nova Conquista em Lagoa Santa – GO
  • 35. 35 Foto do autor. Mesmo com a falta de apoio e estrutura, os assentamentos de reforma agrária é uma prova de inclusão social e econômica, assim que as famílias ocupam uma área que antes era improdutiva já começam produzir, daí para frente não necessitam mais de bolsas assistencialistas para sobreviverem, já não são massas de manobra, as famílias passam a ter autonomia, pois passam a ter em suas mãos instrumentos para sua própria sobrevivência, mesmo com toda a dificuldade e falta de apoio segundo o censo agropecuário de 2006 realizado pelo IBGE, mais de 70% do que chega à mesa do brasileiro é oriundo da agricultura familiar e camponesa. Nos exemplos acima percebemos a diversidade da produção nos assentamentos, respeitando o meio ambiente, as famílias mesmo sem uma assistência técnica decente produzem em uma mesma área uma produção diversificada, sem uso de agrotóxico e baseado na agroecologia, os projetos de assentamento é um exemplo de que é possível um novo modelo agrícola no Brasil sem agressão ao meio ambiente e sem a produção de alimentos envenenados, para tanto reafirmamos a necessidade de uma reforma agrária de fato. FOTO 3 – Ocupação de latifúndio improdutivo – Goiás
  • 36. 36 Foto do autor FOTO 4 – Ocupação do INCRA de Goiás em 2011. Foto do autor As conquistas historicamente alcançadas pela classe trabalhadora
  • 37. 37 são frutos da organização, mobilização e luta. Em relação às conquistas obtidas pelos movimentos do campesinato sem terra também não é diferente, as conquistas obtidas são resultado de muito sangue, suor e lagrima. Mesmo com a constituição federal de 1988 garantido no papel que toda grande propriedade rural que não esteja cumprindo a sua função social, isto é, que seja improdutiva, deve ser desapropriada e destinada para reforma agrária. Porém sem a organização dos movimentos, sem os acampamentos nas margens das rodovias mostrando a resistência no campesinato sem terra, como também a necessidade de se fazer uma reforma agrária, sem as ocupações de áreas improdutivas com o objetivo de pressionar as autoridades para agilizar o processo, assim também como a ocupação dos órgãos governamentais que executam o programa de reforma agrária, nada teria sido conquistada, nem uma área de assentamento se quer. As duas fotos acima mostram a luta dos movimentos para pressionar os governos no sentido de agilizar o processo de desapropriação de áreas improdutivas para o assentamento de novas famílias, como também para pressionar o órgão que executa a política de reforma agrária nos Estados, para que agilize também a estruturação dos assentamentos já criados, dando condição para as famílias produzirem, escoar e comercializar sua produção. Como também lutando para que nos assentamentos tenham políticas públicas de saúde, educação, assistência técnica entre outros. Mesmo com a reforma agrária tendo saído da pauta do governo federal, e não estando há muito tempo na pauta dos governos estaduais e municipais, as famílias vão resistindo e persistindo na luta, muito pouco avançou, mais o suficiente, para demonstrar a sua eficiência e a sua necessidade. Assim temos visto um aumento da luta pela terra, agora também com o protagonismo dos povos tradicionais que tiveram suas terras usurpadas pelos latifundiários, com todo esse levante tem aumentado também a violência no campo como mostra o caderno de conflitos elaborado pela CPT todos os anos, e temos visto o estado brasileiro mostrar que esta a serviço do grande capital e não da classe trabalhadora, novamente como na década de 20 do século passo, vemos a questão social ser tratada como caso de policia e não de política.
  • 38. 38 4 CONCLUSÃO A questão agrária brasileira é uma expressão da questão social, no entanto o seu enfrentamento não tem sido feito através de políticas mais sim de policia, é necessário que o Serviço Social que pouco tem contribuído nesta discussão se aproprie desse tema. Tanto na elaboração e execução de políticas públicas que atendam as famílias que estão em luta por um pedaço de chão, e as que se tornaram beneficiarias. Como no campo da pesquisa subsidiando os movimentos populares que lutam por reforma agrária potencializando sua luta. Historicamente uma elite burguesa latifundiária foi se apropriando ilegalmente, usurpando e expulsando de suas terras milhões de camponeses que tiveram que migrar para as periferias das grandes cidades, no entanto esse processo não se deu sem resistência dos campesinos e povos tradicionais pela posse da terra, mas mesmo com toda essa luta percebemos que nos últimos anos a concentração de terra aumentou no Brasil. No ultimo período tem sido desencadeado um processo intenso de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais que lutam pela garantia de direitos, o Estado brasileiro que tem se ausentado na elaboração de políticas públicas especificas para esses milhões de brasileiros que vivem em condições subumanas, sem acesso a política de saúde, educação, cultura, lazer entre outros, se submetendo a trabalho análogo ao da escravidão. Tem estado presente criminalizando os movimentos populares e seus lideres. É preciso que o Serviço Social que tem sido preparado apenas para atuar na cidade atendendo o público urbano possa se apropriar e se preparar para atuar com ás milhões de famílias que estão na luta pela reforma agrária e os outros milhões que são beneficiários. Os movimentos populares em luta pela reforma agrária deve ser um espaço sócio-ocupacional do assistente social, sendo que a luta desses movimentos vai em consonância com o projeto ético-político da profissão, por tanto a luta por reforma agrária deve ser pautada pelo Serviço Social tanto do ponto de vista cientifico, do ponto de vista acadêmica dentro da universidade como também no cotidiano profissional elaborando e executando políticas públicas que atendam ao público da reforma agrária. A questão agrária no Brasil não pode mais ser tratada como um tabu no Serviço Social, e também não apenas apoiar, é necessário fortalecer e construir a luta. Pois lutar por reforma agrária no Brasil é lutar
  • 39. 39 verdadeiramente por justiça social. A questão agrária no Brasil é uma luta tática para emancipação da classe trabalhadora, por sua formação ela ganha contorno de uma guerra, é necessário democratizar o acesso a terra no Brasil, lutar para que milhões de brasileiros que vivem em situação precária possam ser assentados, e partindo daí tenha educação de qualidade, saúde, assistência técnica, condição para produzir, escoar e comercializar sua produção. A Reforma Agrária trás também a discussão sobre como em pleno século XXI o estado brasileiro ainda encara algumas expressões da questão social, tal como a reforma agrária como caso de policia e não de política. É também discutir sobre a necessidade de um novo modelo agrícola, baseado na agroecologia e não no agronegócio exportador e na monocultura. Por tanto é de fundamental importância que o Serviço Social se aproprie desse tema e fortaleça a luta por reforma agrária neste país, pois sem reforma agrária não teremos um país justo verdadeiramente. A reforma Agrária não acabará com a questão social, pois ela é apenas uma expressão, no entanto é uma expressão fundamental para transformação do Brasil.
  • 40. 40 REFERÊNCIAS ACCIOLY, Maria Stela Pereira. A reforma agrária em debate. X Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. RJ: 2001. ALBUQUERQUE, Valéria de Oliveira; SANT’ANA, Raquel Santos. O Plano Nacional de Reforma Agrária e o Serviço Social. XI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Fortaleza, 2004. ANDRIOLI, Antonio Inácio. A Reforma Agrária e o Governo Lula: entre a expectativa e a possibilidade. In Revista Espaço Acadêmico. n 31. Ano 2003. Disponível em:<http://www.espacoacademico.com.br>. Acesso em: 05 out.2009. ANJOS, Flávio Sacco dos; CALDAS, Nádia Velleda. A reforma agrária na contramão. In Sociedade em Debate. V.10, n. 2. Pelotas: EDUCAT, 2004. ARAÚJO, Brito de Castro. Assentamentos rurais do MST: objetivação – apropriação de uma nova sociabilidade. X Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. RJ: 2001. BRAGATO, Brice; SOUZA, Bruno Alvez de SILVA, Ângela Maria Campos da. A Reforma Agrária e o Perfil Jurídico da Família do Assentado do INCRA / ES. XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Foz de Iguaçu: 2007. BRASIL. Constituição Federal de 1824. 25 de março de 1824. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 out. 2009. ____ A Ditadura Militar em Goiás: Depoimentos para a História. 2010. ____ . II Plano Nacional de Reforma Agrária. 2004. ____ . Lei n°4.504. 30 de Novembro de 1964. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 18 set. 2009. _____ Realidades e Conflitos no Campo, 2010. ____ . ROSSETTO, Miguel; HACKBART. Apresentação. II Plano Nacional de Reforma Agrária. Paz, Produção e Qualidade de Vida no Meio Rural. Brasília: S/d. BRAVO, Maria Inês; MATOS, Maurílio Castro de. Assessoria, Consultoria e Serviço Social. RJ: Ed. Viveiros de Castro, 2006. CANESQUI, Flávia Gonçalves. Serviço Social e Questão Agrária: um debate necessário. XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Foz de Iguaçu: 2007.
  • 41. 41 Fórum Estadual pela Reforma Agrária e Justiça no Campo de Goiás. Documento em Defesa da Reforma Agrária e Fortalecimento da Agricultura Familiar e Camponesa. Goiânia. 2010. Maia, Cláudio Lopes. Reforma Agrária: história, limites e possibilidades. Realidades e Conflitos no Campo. Goiânia. 2010. RAMPAZZO, Lino. Metodologia científica: para alunos dos cursos de graduação e pós-graduação. São Paulo: Stiliano, 1998. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para apresentação de trabalhos. 2. ed. Curitiba: UFPR, 1992. v. 2.