2. O jovem Aquilino tinha o desígnio de buscar a verdade e a honra. Seu questionamento era: “Como ser um homem honrado em meio a tanta inverdade?”. Ele queria encontrar a chama da sabedoria, para dissipar as sombras da dúvida.
3. Preparou-se para a aventura; montado em seu cavalo adentrou a florestaem busca do fogo libertador. A escuridão o cegava, e o cavalo se cansara de tanto ter de adivinhar o caminho.
4. Resolveu parar para o merecido repouso. No domínio da noite não teria chance de continuar.Assim adormeceu, e teve a recompensa do descanso.
5. Ao primeiro sinal da claridade do dia, levantou-se e fez a montaria. Percorreu horas até se deparar com um gigantesco umbral de pedra.
6. Cautelosamente atravessou o umbral, e as ninfas da floresta vieram ao encontro dele. Elas dançavam, seduzindo-o com gestos ritmados e beleza complacente. Ele, incrédulo e prudente, continuou mantendo o cavalo em marcha. Logo à frente, avistou a grande deusa, que o saudava.
7. Ela proferiu:“Os jovens buscam o abismo do risco,Com coração valente e imaginação fecunda.Porém, as opiniões dos homens não convêm lembrar.Na estrada da fé, não existe cruzamento.Tu terás de atravessar a ti mesmo, como o punhal a perfurar a carne.Caso contrário nada aprenderás.”
8. Aquilino não compreendeu e se afastou em pensamento. A pertinácia era asua espada, a razão o seu escudo. Ele perguntou à deusa: “Pelo poder de minharazão, posso alcançar a verdade e a honra?”.A deusa balançou a cabeça em negativa e disse: “De todos os caminhos apercorrer somente um te levará à verdade e a honra”.
9. Em um ímpeto de empolgação, ele a interrompeu: “E qual é o caminho?”.O silêncio imperou até se ouvir o nobre soprar do vento.
10. A deusa retomou:“Se queres conhecer terá de ser pelo centro.Na indecisão nada se vê,Tudo se sobrepõe.Somente os corações afortunados pelo silêncioPoderão encontrar a verdade e ser honrados.”Aquilino subitamente arguiu:“Mas e a palavra como diálogo,E os olhos e ouvidos como testemunhas?”
11. A deusa retirou a tocha por trás do trono e ofereceu a ele, dizendo:“A palavra é perecível,Os olhos são solitários,E os ouvidos ingênuos.Ao pensar, o intrépido cavalheiro perde a meta,A lança cai por terra e o escudo fenece.O pensamento reverbera em ilusões. Tu ainda és muitos, repleto de opiniões incrustadas.”
12. Ela continuou:“Tu ainda não és o que deverás ser.O fluxo existe nos regatos do instante.A verdadeira visão da compreensão é ulterior,Como seta certeira a encontrar o fim.Lá, as amarras serão afrouxadas, e os sentidos, amenizados.Viverás somente em uma instância, a tua própria.Sem divisão, sem dúvida, sem regateio.”
14. A deusa se levantou num gesto simples e finalizou:“Quando conseguires ser nem maior, que impeça de seres tu mesmo,Nem menor, que interfira em tua plenitude,Compreenderás o ser inacabado que és.Viverás em calmaria e apto à transcendência.A honra do homem irrompe nele mesmo,Nada é o que se julga ser.Portanto, pequeno e grande cavalheiro,Tu terás de seguir o insondável ocaso para vislumbrar o mesmo no mesmo,E ficar, sem parar, sem partir.Na permanência da Fé.”