Indústrias brasileiras querem acelerar redução de tarifas com países andinos
1. 30 de setembro de 2014
CNI
Valor Econômico
cni.empauta.com pg.4
Indústrias querem acelerar redução de tarifas na
exportação a países andinos
BRASIL
Por Marta Watanabe | De São Paulo
Enquanto o acordo entre o Mercado Comumdo Sul
(Mercosul )e a União Europeia (UE) avança len-
tamente, alguns setores da indústria brasileira acom-
panham uma retomada de negociações para
antecipar aredução azero detarifas decomércio pre-
vista para acontecer até 2019, em acordos de
complementação econômica já assinados entre Mer-
cosulediversos paísesandinos.A antecipação évista
como uma forma de elevar a exportação de ma-
nufaturados brasileiros para a região.
Entre os que estão defendendo a antecipação dessa
redução ou a retomada do cronograma da des-
gravação(para zerar astarifasdeimportação)estão
o setor automotivo, a indústria química e a têxtil e de
confecções. Entre as negociações mais citadas estão
o Acordo de Complementação Econômica (ACE) nº
59, hoje com cronograma válido entre Mercosul e
Colômbia e Equador, mas acordos semelhantes são
mantidospelo bloco com PerueBolívia."Senãocon-
seguimos fechar um acordo com a União Europeia,
precisamos trabalhar com a agenda que é possível",
diz o diretor de desenvolvimento da Confederação
Nacional da Indústria (CNI ),Carlos Abijaodi.
No setorautomotivo, umdos mercadosquemais cha-
mam a atenção na negociação dos acordos é a Co-
lômbia. Pedro Bentancourt, gerente regional de
assuntos institucionais da General Motors na Amé-
rica do Sul, explica que, para o segmento, o acordo
com os colombianos estacionou num corte de cerca
de metade da tarifa de importação.
Há,porém, diz ele,uma agendapositivaem queogo-
vernoestá engajado.A expectativa, segundoele,ére-
tomar umcronogramaderedução tarifária paralisado
desde 2011. Segundo Bentancourt, há grande ex-
pectativa nas negociações com a Colômbia.
"Trata-se de uma janela de oportunidade que temos
deaproveitar neste momentoporqueaColômbiapos-
sui acordos com México, União Europeia, Coreia e
Estados Unidos e em 2018 ou 2019 as tarifas do país
com alguns desses países ou blocos já estarão ze-
radas."
O ideal, diz ele, é que o cronograma possa ser ne-
gociado entre os países do grupo andino e o Mer-
cosul, mas não há impeditivo de adoção de
cronogramas bilaterais.
O secretário de Comércio Exterior (Secex/Mdic),
Daniel Godinho, diz que a antecipação da des-
gravação nos acordos de complementação, inclusive
o da Colômbia, tem sido negociada. Ele diz, porém,
que ainda não é possível falar em prazos.
Para Welber Barral, ex-secretário de comércio ex-
terior e sócio da Barral M Jorge Consultores As-
sociados, o resultado das negociações demanda um
engajamento político intenso do governo brasileiro,
já que os países andinos como Colômbia e Peru têm
feitoseus própriosacordos,oquejá temresultadoem
desvio de comércio.
Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit,
2. 30 de setembro de 2014
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Continuação: Indústrias querem acelerar redução de tarifas na exportação a países andinos
que reúne a indústria têxtil e de confecções, explica
que os acordos de complementação econômica com
os paísesandinos,deforma geral, estabeleceram cro-
nogramas de desgravação mais acelerados para os
parceiros do quepara o Brasil, umpaíscom uma eco-
nomia maior. A ideiaéacelerar aredução para o Bra-
sil e incrementar o que está programado, com
ampliação dos produtos, dentro do possível.
Por muito tempo, diz Pimentel, a política de co-
mércio exterior ficou concentrada no Mercosul.
"Mas em razão dadificuldade dealgunspaíses,o blo-
conãoestá mais funcionando. Agora os setoresestão
se voltando para outros acordos. Precisamos nos in-
tegrar numa cadeia regional de valor." Além da pro-
ximidade geográfica, a vantagem na parceria inclui
legislações similares, diz. Ele lembra que o esforço
para acelerar acordos, porém, precisa ser acom-
panhado de um projeto para integração física da in-
fraestrutura logística e de transporte, o que reduziria
custos, paralelamente à redução das tarifas. Segundo
Pimentel, os países do continente americano são res-
ponsáveispor 65% das exportaçõesbrasileirasdo se-
tor têxtil e de confecções.
DeniseNaranjo, diretoradeassuntos decomércio ex-
terior da Abiquim, que representa a indústria quí-
mica, diz que o setor acompanha de perto as
negociações sobre os acordos de complementação
econômica. Segundo ela, a atenção do setor não está
tão relacionada à exportação direta da indústria quí-
mica.
"Acompanhamos olhando mais para aexportação in-
diretadeprodutos químicos ajusante [àfrente] naca-
deia", diz. Denise explica que se houver redução a
zero para as indústrias quetem o setorquímicocomo
fornecedor, o mercado doméstico do segmento cres-
ce. Com o acordo com a União Europeia em ne-
gociação lenta,diz ela,épreciso uma agendaexterna.
Segundo ela, a aproximação maior em relação aos
países da Associação Latino-Americana de In-
tegração (Aladi) éimportante. No setorquímico,diz,
os países latino americanos representam cerca de
45% das exportações.
Abijaodi, daCNI, diz queháuma mudançaem curso
na forma como as empresas veem os acordos co-
merciais. Issose deve àpercepção daindústria deque
é preciso buscar a inserção em cadeias globais, com
acordos que não somente estabeleçam redução de ta-
rifas, mas também facilitem a internacionalização
das empresas brasileiras.
Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos
de Estratégias de Desenvolvimento (Cedes /Uerj),
diz que o agravamento da situação econômica da Ar-
gentina certamente tem levado as indústrias bra-
sileiras buscar mais intensamente novos destinos
para exportação de manufaturados. "E a situação da
Argentinanãoépassageira",completaLiaValls,pro-
fessora da Fundação Getulio Vargas (FGV). "É uma
iniciativa rara da indústria, mas, com o baixíssimo
crescimento da economia doméstica, a solução pa-
ra a indústria é procurar o mercado externo."