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ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES DE DESENHO E GEOMETRIA DESCRITIVA
Rua de Santa Catarina n.º 274 - 1º andar - Sala 103 4000-433 PORTO
Telemóvel: 91 627 02 79 / E-mail: aproged@aproged.pt / Site: www.aproged.pt
PARECER DA DIRECÇÃO DA APROGED SOBRE AS METAS CURRICULARES
DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO VISUAL DO 3º CICLO DO ENSINO BÁSICO,
EM RESPOSTA À DISCUSSÃO PÚBLICA PROPOSTA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA
Considerando, de acordo com o disposto no Despacho n.º 17169/2011, alínea d), que as Metas Curricula-
res propostas constituirão “documentos clarificadores das prioridades nos conteúdos fundamentais dos
programas”, a Direcção da Aproged apresenta a seguir as suas considerações sobre as Metas Curriculares
em discussão e alguns aspectos da legislação mais recente a propósito, na acepção do perfil desejável
para um aluno à saída do 3º ciclo do Ensino Básico.
Tendo em atenção que a alínea c) do Despacho supracitado determina que: “Os programas existentes e
os seus auxiliares constituem documentos orientadores do ensino”, afirmamos como imprescindível que as
Metas Curriculares tenham em consideração a carga horária lectiva da disciplina* e por referência única,
o actual programa de Educação Visual**, o que nem sempre transparece do documento em análise.
Importa clarificar qual a habilitação científica adequada (e, concretamente, que grau e escalão) para
que, aos Docentes que leccionam a disciplina de Educação Visual e Tecnológica possa (de acordo com
as “Orientações para a distribuição de serviço lectivo” publicadas a 17 de Julho último) ser distribuída
componente lectiva no âmbito das disciplinas do 3º ciclo. Tal esclarecimento impõe-se, em nosso enten-
der, pelo facto de nem todos os cursos que conferem habilitação própria para a docência do grupo de
recrutamento 240 serem equiparáveis aos cursos que conferem habilitação própria para a docência do
grupo de recrutamento 600.
Relativamente às Metas Curriculares | 7º ano, consideramos que:
 O Objectivo Geral (1): “Utilizar materiais básicos de desenho técnico para a representação e criação
de formas” se deveria restringir ao desenho expressivo e de tentativa de reprodução do real, uma vez
que é completamente prematuro (diríamos mesmo, inconsequente) propor, a alunos na faixa etária
entre os 12-13 anos, qualquer introdução aos sistemas de representação rigorosa propostos nas metas
1.4, 1.5 e 1.6 (sistemas de dupla e tripla projecção ortogonal ou perspectivas axonométricas). Tais con-
teúdos não deverão, em circunstância alguma, ser explorados em contexto de aula, senão a partir do
8º ano de escolaridade e, mesmo aí, com algumas reservas;
 No Objectivo Geral (3): “Construir, interpretar e planificar formas geométricas no âmbito dos elementos
da representação”: a Meta Curricular 3.1, propondo a identificação da posição relativa de duas rectas
no espaço, deveria incluir as não-complanares; para a Meta Curricular 3.4 e respectivo Exemplo de
Exercício, consideramos que a construção de Arcos como o Quebrado ou Abatido proporcionaria me
* Em média e sem contar com feriados: no 7º ano: 32 aulas de 90 minutos / no 8º ano: 32 aulas de 90 minutos / No 9º
ano de escolaridade: 32 aulas de 90 minutos + 32 aulas de 45 minutos.
** Que carece, em nossa opinião, de uma reformulação, no sentido da actualização dos conceitos, processos e orien-
tações metodológicas consignados no programa.
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lhores oportunidades de aplicação em contextos criativos se leccionados no 8º ano de escolaridade; a
Meta Curricular 3.5 deveria promover a distinção entre poliedros ou não-poliedros, destes distinguindo
os que são ou não planificáveis.
 Pela maturidade necessária à exploração dos conteúdos propostos no Objectivo geral (4): Explorar e
desenvolver princípios básicos do Design e da sua metodologia” e respectivo Exemplo de Exercício, fa-
ria muito mais sentido a sua exploração no 8º ou mesmo 9º ano de escolaridade. Em sua substituição,
parece-nos mais adequado propor a exploração dos elementos estruturais da linguagem plástica (ex-
cepto a Cor, que é um Objectivo Geral do 8º ano de escolaridade) conjugada com a experimentação
de materiais e técnicas de expressão plástica, basilares para o desenvolvimento dos conteúdos subse-
quentes do programa da disciplina.
Das Metas Curriculares | 8º ano, consideramos que:
 O Objectivo Geral (8): Explorar e desenvolver princípios básicos da Arquitectura e da sua metodolo-
gia” está completamente desfasado do perfil do aluno neste ciclo de escolaridade. Consideramos,
inclusive, que poderia estar incluído no programa da disciplina de Desenho do Ensino Secundário,
mediante um desenvolvimento programático concebido de modo a aproveitar todas as potenciali-
dades dos temas propostos. Em sua substituição e na sequência da breve abordagem à Geometria
no 7º ano de escolaridade, propomos a exploração de construções elementares de Geometria Eucli-
diana Plana, fundamentais para o desenvolvimento do raciocínio lógico-dedutivo nos alunos. A cons-
trução de Arcos Arquitectónicos (referida a propósito da Meta Curricular 3.4) ou de Curvas Cónicas,
poderia também estar integrada no estudo que agora se propõe, não deixando de constituir poten-
cial para a exploração da criatividade dos alunos em resposta, por exemplo, a Metas aventadas no
Objectivo Geral (7).
Nas Metas Curriculares | 9º ano, consideramos que:
 O Objectivo geral (9): Explorar e dominar técnicas de representação da perspectiva só faz sentido se
precedido (desejavel e imediatamente) das Metas Curriculares que, no 7º ano de escolaridade, propu-
nham que o aluno reconhecesse e utilizasse os princípios e sistematizações dos sistemas de representa-
ção rigorosa (de que o Sistema de Perspectiva Cónica é um exemplo). Propomos, assim, que as Metas
Curriculares 1.1, 1.2 e 1.3 transitem, se não para o 9º ano de escolaridade, pelo menos para o final do 8º
ano, de modo a que a compreensão da pertinência dos sistemas de representação técnica dos objec-
tos seja gradual e efectivamente compreendida pelos alunos. Ainda neste âmbito, não compreende-
mos a exequibilidade da Meta 9.4: “Dominar a linguagem da perspectiva cónica, no âmbito da repre-
sentação manual e da rigorosa”;
 O Objectivo geral (11): Reconhecer e reflectir sobre a importância da Arte no âmbito das suas manifes-
tações culturais deveria ser uma Meta Curricular transversal a todos os anos de escolaridade, desde
que concebida de forma adequada à faixa etária dos alunos e sempre no âmbito das actividades
propostas em contexto de aula. Integrado neste Objectivo Geral, não compreendemos o que se en-
tende, na Meta Curricular 11.6, por “Utilizar procedimentos geométricos para identificar e analisar obras
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de arte portuguesa de diversas épocas (pintura; escultura; arquitectura; Primitivos Portugueses; Manei-
rismo; Barroco; Neoclássico; Romantismo; Impressionismo; Naturalismo; Modernismo; etc.) ” – se tais pro-
cedimentos geométricos se referirem a Estudos de Composição, destacaremos esta proposta de Meta
Curricular como perfeitamente irrealista.
 De modo idêntico ao referido para o Objectivo Geral (8), consideramos muito prematuro propor aos
alunos deste ano de escolaridade o Objectivo Geral (12): Desenvolver princípios básicos da Engenharia
e da sua metodologia. Em seu lugar, consideramos ser muito mais útil, a vários níveis de desenvolvimen-
to, que o aluno apreenda noções essenciais de Geometria no Espaço, a bem de uma produtiva abor-
dagem interdisciplinar com a disciplina de Matemática e como pré-requisito de conteúdos fundamen-
tais para o prosseguimento de estudos à saída do 9º ano de escolaridade.
Não podemos aqui deixar de salientar a difícil exequibilidade dos níveis de consecução das Metas Curri-
culares agora propostas em turmas de 30 alunos e tudo o que de tal advém para o relacionamento Pro-
fessor- Aluno, a par dos previsíveis distúrbios de ordem comportamental entre Alunos. Consideramos, aliás,
que a concepção de um instrumento de apoio ao Ensino e à Aprendizagem como as Metas Curriculares
não pode deixar de considerar toda a problemática emergente desta situação, prevendo mecanismos
de verificação do grau de desempenho dos alunos. De outro modo, cremos, dificilmente será possível tes-
tar até que ponto um aluno será capaz de “distinguir”, “valorizar”, “analisar”, e muito menos “dominar”.
Finalmente, cabe-nos destacar como extremamente positivo, que nas Matrizes Curriculares em vigor a
partir de 2012/2013, a disciplina de Educação Visual tenha deixado de ser opcional para o 9º ano de es-
colaridade, o que, em nosso entender, vem suprir uma falha que há muito sentimos na formação integral
do aluno, particularmente dos que optam pelos Cursos Científico-Humanísticos de Artes Visuais e de Ciên-
cias e Tecnologias.
Cientes da maior atenção que o Grupo de Trabalho de Educação Visual votará ao contributo de todos
para a discussão pública em torno das Metas Curriculares da disciplina, desejamos, através do presente
Parecer, contribuir para que as Metas Curriculares se possam definir, em complemento do programa da
disciplina, como um meio privilegiado de apoio à planificação e organização do ensino e uma referência
para os Docentes da disciplina, Alunos e Encarregados de Educação.
Porto, 23 de Julho de 2012
Pela Direcção da Aproged,
Vera Viana

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  • 2. ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES DE DESENHO E GEOMETRIA DESCRITIVA Rua de Santa Catarina n.º 274 - 1º andar - Sala 103 4000-433 PORTO Telemóvel: 91 627 02 79 / E-mail: aproged@aproged.pt / Site: www.aproged.pt lhores oportunidades de aplicação em contextos criativos se leccionados no 8º ano de escolaridade; a Meta Curricular 3.5 deveria promover a distinção entre poliedros ou não-poliedros, destes distinguindo os que são ou não planificáveis.  Pela maturidade necessária à exploração dos conteúdos propostos no Objectivo geral (4): Explorar e desenvolver princípios básicos do Design e da sua metodologia” e respectivo Exemplo de Exercício, fa- ria muito mais sentido a sua exploração no 8º ou mesmo 9º ano de escolaridade. Em sua substituição, parece-nos mais adequado propor a exploração dos elementos estruturais da linguagem plástica (ex- cepto a Cor, que é um Objectivo Geral do 8º ano de escolaridade) conjugada com a experimentação de materiais e técnicas de expressão plástica, basilares para o desenvolvimento dos conteúdos subse- quentes do programa da disciplina. Das Metas Curriculares | 8º ano, consideramos que:  O Objectivo Geral (8): Explorar e desenvolver princípios básicos da Arquitectura e da sua metodolo- gia” está completamente desfasado do perfil do aluno neste ciclo de escolaridade. Consideramos, inclusive, que poderia estar incluído no programa da disciplina de Desenho do Ensino Secundário, mediante um desenvolvimento programático concebido de modo a aproveitar todas as potenciali- dades dos temas propostos. Em sua substituição e na sequência da breve abordagem à Geometria no 7º ano de escolaridade, propomos a exploração de construções elementares de Geometria Eucli- diana Plana, fundamentais para o desenvolvimento do raciocínio lógico-dedutivo nos alunos. A cons- trução de Arcos Arquitectónicos (referida a propósito da Meta Curricular 3.4) ou de Curvas Cónicas, poderia também estar integrada no estudo que agora se propõe, não deixando de constituir poten- cial para a exploração da criatividade dos alunos em resposta, por exemplo, a Metas aventadas no Objectivo Geral (7). Nas Metas Curriculares | 9º ano, consideramos que:  O Objectivo geral (9): Explorar e dominar técnicas de representação da perspectiva só faz sentido se precedido (desejavel e imediatamente) das Metas Curriculares que, no 7º ano de escolaridade, propu- nham que o aluno reconhecesse e utilizasse os princípios e sistematizações dos sistemas de representa- ção rigorosa (de que o Sistema de Perspectiva Cónica é um exemplo). Propomos, assim, que as Metas Curriculares 1.1, 1.2 e 1.3 transitem, se não para o 9º ano de escolaridade, pelo menos para o final do 8º ano, de modo a que a compreensão da pertinência dos sistemas de representação técnica dos objec- tos seja gradual e efectivamente compreendida pelos alunos. Ainda neste âmbito, não compreende- mos a exequibilidade da Meta 9.4: “Dominar a linguagem da perspectiva cónica, no âmbito da repre- sentação manual e da rigorosa”;  O Objectivo geral (11): Reconhecer e reflectir sobre a importância da Arte no âmbito das suas manifes- tações culturais deveria ser uma Meta Curricular transversal a todos os anos de escolaridade, desde que concebida de forma adequada à faixa etária dos alunos e sempre no âmbito das actividades propostas em contexto de aula. Integrado neste Objectivo Geral, não compreendemos o que se en- tende, na Meta Curricular 11.6, por “Utilizar procedimentos geométricos para identificar e analisar obras
  • 3. ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES DE DESENHO E GEOMETRIA DESCRITIVA Rua de Santa Catarina n.º 274 - 1º andar - Sala 103 4000-433 PORTO Telemóvel: 91 627 02 79 / E-mail: aproged@aproged.pt / Site: www.aproged.pt de arte portuguesa de diversas épocas (pintura; escultura; arquitectura; Primitivos Portugueses; Manei- rismo; Barroco; Neoclássico; Romantismo; Impressionismo; Naturalismo; Modernismo; etc.) ” – se tais pro- cedimentos geométricos se referirem a Estudos de Composição, destacaremos esta proposta de Meta Curricular como perfeitamente irrealista.  De modo idêntico ao referido para o Objectivo Geral (8), consideramos muito prematuro propor aos alunos deste ano de escolaridade o Objectivo Geral (12): Desenvolver princípios básicos da Engenharia e da sua metodologia. Em seu lugar, consideramos ser muito mais útil, a vários níveis de desenvolvimen- to, que o aluno apreenda noções essenciais de Geometria no Espaço, a bem de uma produtiva abor- dagem interdisciplinar com a disciplina de Matemática e como pré-requisito de conteúdos fundamen- tais para o prosseguimento de estudos à saída do 9º ano de escolaridade. Não podemos aqui deixar de salientar a difícil exequibilidade dos níveis de consecução das Metas Curri- culares agora propostas em turmas de 30 alunos e tudo o que de tal advém para o relacionamento Pro- fessor- Aluno, a par dos previsíveis distúrbios de ordem comportamental entre Alunos. Consideramos, aliás, que a concepção de um instrumento de apoio ao Ensino e à Aprendizagem como as Metas Curriculares não pode deixar de considerar toda a problemática emergente desta situação, prevendo mecanismos de verificação do grau de desempenho dos alunos. De outro modo, cremos, dificilmente será possível tes- tar até que ponto um aluno será capaz de “distinguir”, “valorizar”, “analisar”, e muito menos “dominar”. Finalmente, cabe-nos destacar como extremamente positivo, que nas Matrizes Curriculares em vigor a partir de 2012/2013, a disciplina de Educação Visual tenha deixado de ser opcional para o 9º ano de es- colaridade, o que, em nosso entender, vem suprir uma falha que há muito sentimos na formação integral do aluno, particularmente dos que optam pelos Cursos Científico-Humanísticos de Artes Visuais e de Ciên- cias e Tecnologias. Cientes da maior atenção que o Grupo de Trabalho de Educação Visual votará ao contributo de todos para a discussão pública em torno das Metas Curriculares da disciplina, desejamos, através do presente Parecer, contribuir para que as Metas Curriculares se possam definir, em complemento do programa da disciplina, como um meio privilegiado de apoio à planificação e organização do ensino e uma referência para os Docentes da disciplina, Alunos e Encarregados de Educação. Porto, 23 de Julho de 2012 Pela Direcção da Aproged, Vera Viana