O documento discute a deterioração da assistência materno-infantil em Ilhéus, Brasil devido à falta de recursos financeiros e condições precárias nos hospitais. A assistência pré-natal deficiente sobrecarrega a única maternidade da cidade. Falta de médicos e enfermeiros ameaça fechar a maternidade, comprometendo a saúde da comunidade. Investimentos urgentes são necessários para melhorar a situação.
1. Carlos Alberto de Lira
Médico Ginecologista & Obstetra (CREMEB: 5813)
Diretor Técnico do Hospital São José e Maternidade Santa Helena
Assistência Materno-Infantil em ILHÉUS
Dentro do conceito de hierarquização e regionalização do SUS, constitui
aassistência hospitalar a ATENÇÃO TERCIÁRIA em saúde. Precedem-na a
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE(APS) e a ATENÇÃO SECUNDÁRIA ou ATENÇÃO
ESPECIALIZADA.
A qualidade da prestação de saúde à comunidade pelo SUS está
vinculada primordialmente à eficiência do funcionamento da cadeia simples:
atenção primária, secundária e terciária.
A adequada integração desse sistema – sem exclusão de nenhum deles –
propicia o bem-estar mínimo necessário. Para tanto, necessária se faz a aplicação
adequada e em quantitativo justo dos recursos financeiros.
No item Atenção Terciária ou Hospitalar, no quesito específico de
assistência materno-infantil em ILHÉUS, deparamo-nos com uma progressiva e
inexorável deterioração na qualidade da assistência às gestantes e recém-nascidos,
não obstante os esforços das equipes médicas e de enfermagem disponíveis para
tanto.
A deficiência notória da assistência pré-natalno município (atenção
primária em saúde - APS) sobrecarrega a única maternidade em Ilhéus,
transferindo para esta também a missão de prestar assistência em atenção básica,
responsabilidade que é dos postos de saúde, se efetivamente estivessemcom
equipe multiprofissional preparada e instalações funcionando a contento. A cadeia
é rompida e a qualidade de assistência à saúde da comunidade é comprometida.
Os parcos recursos que o SUS disponibiliza para as unidades
hospitalares, defasados ao longo de 15 anos, estão comprometendo sobremaneira
a assistência materno-infantil em nossa cidade, ameaçando em curto prazoo
funcionamento da única maternidade em funcionamento: a Maternidade Santa
Helena, vinculada ao Hospital São José. Médicos neonatologistas, de cujo labor
necessita-se para assistência especializada aos recém-nascidos, estão a se desligar
do vínculo hospitalar pelos aviltantes honorários que recebem e escassez de
recursos técnicos; médicos obstetras, responsáveis pela coordenação e assistência
às gestantes em trabalho de parto, também estão paulatinamente exonerando-se
dos plantões sem que a direção do hospital consiga substituí-los. Não há atrativos
para esses profissionais. Todavia, diuturnamente responsabilizados por eventuais
decessos. O bom exercício da prática médica perpassa pelos honorários adequados,
pelas condições de trabalho e material médico condizentes com a responsabilidade
de assistir vidas.
2. Deterioram-se as condições hospitalares ao exercício da medicina e de
enfermagem, desestimulando a prática profissional nos hospitais. No contexto,
evidenciam-se as possibilidades de atos médicos e de enfermagem inadequados,
aumentando infelizmente as estatísticas de erros. URGE a necessidade de
reequipar os hospitais, propiciar cursos de reciclagem de seu corpo técnico,
reorganizar administrativamente os métodos gerenciais. Ações estas capazes de
atrair profissionais para o exercício de uma atenção terciária digna. Em síntese,
sem investimentos adequados ― hoje inexistentes pela total ausência de recursos
próprios na rede hospitalar ― o caos está à vista.
A assistência materno-infantil na cidade de Ilhéus― que também atende
à microrregião que envolve as cidades circunvizinhas de Una, Canavieiras,
Uruçuca, Itacaré, Maraú, etc ―está seriamente comprometida. Esta
responsabilidade não pode ater-se tão somente à administração da Santa Casa de
Misericórdia de Ilhéus, mantenedora da Maternidade Santa Helena e do Hospital
São José. Na gestão plena de saúde em que Ilhéus está inserida, é responsabilidade
sobremaneira do município prover meios adequados para corrigir o rumo da
assistência materno-infantil. Não com o mero discurso doProjeto Rede Cegonha.
Relevante, porém sem resultados imediatos que venham corrigir as deficientes e
atuais condições de funcionamento da única maternidade em funcionamento.
Estamos inermes, e em decorrência, inertes, não por comodismo, porém
desprovidos de recursos financeiros condizentes com a importância da
Maternidade Santa Helena no contexto da hierarquização e regionalização que se
prever no Sistema Único de Saúde.
Se ações coletivas, envolvendo os órgãos e instituições diretamente
vinculados ao contexto assistencial efetivamente não forem estabelecidas,
caminharemos para a interrupção no funcionamento de nossa única maternidade.
Pagar para ver? Aguardemos os acontecimentos.
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