Desafios da liderança da IELB e entrevista com músico pioneiro João Wilson Faustini
1.
2. Novembro2014 Leia nesta edição
Os desafios da liderança da IELB
Mensageiro | Novembro 2014 3
MENSA GEIRO LUTERANO | Ano 97 | Nº 1.197
entrevista
20
04 ao leitor
05 mensagem do presidente
06 estudo da lllb
08 datas especiais
10 capa
26 mml
28 origem das palavras
29 dia da bíblia
34 virando a página
09
Em foco
Vale a pena
ser cristão?
voluntariado
Dia do
Voluntário 16
missão e testemunho
Empresário
distribui
devocionários 32
Integrantes do Conselho
Diretor da IELB reuniram-se
em Curitiba, PR, entre
os dias 9 e 12 de outubro,
para discutir e avaliar
os desafios da liderança
da IELB. Conduzido pelo
presidente Frederico da
Silva Reis, o Conselho
contou ainda com
palestra do professor
dr. Vilson Scholz sobre
o tema: “A respeito
de Igreja, pastores e
liderança eclesiástica:
Uma perspectiva à luz do
Novo Testamento”.
Entrevista com João
Wilson Faustini
30
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4. | entrevista |
20 de Novembro – Dia do Músico Evangélico
Entrevista com
João Wilson Faustini
O mês de novembro pode ser
considerado o mês dos músicos,
não apenas pelo fato do dia
22 ser o Dia de Santa Cecília
(“padroeira” dos músicos) e, por
esse motivo, Dia do Músico. Mas
também pelo fato do dia 20 de
novembro (de 1931) ser a data de
nascimento do Rev. João Wilson
Faustini, “pioneiro da música
sacra evangélica no Brasil”, sendo
escolhida pela Igreja Presbiteriana
Independente (IPI) como “Dia
do Músico Evangélico”, em sua
homenagem.
Não é por menos que se faça
esta devida homenagem:
dos 573 hinos que figuram
em nosso Hinário Luterano,
aproximadamente 36 são de sua
autoria (seja como autor dos
textos, tradutor, compositor ou
arranjador). Seus hinos estão
presentes em diversos hinários
brasileiros, além de ser o editor
de grandes coleções de músicas
em Língua Portuguesa em seu
tempo (dentre elas, pode-se
destacar a coletânea Os Céus
Proclamam). Para marcar essa
data, o Mensageiro Luterano faz
entrevista com o Rev. Faustini.
foto: arquivo pessoal joão wilson faustini
20 Mensageiro | Novembro 2014
5. Mensageiro Luterano – Rev. Faus-tini,
quando o senhor se interes-sou
pela música?
João Wilson Faustini – Minha irmã
mais velha, Martha, foi pianista e sempre
se reunia com suas amigas e amigos para
cantar em nossa casa. Ela foi minha primei-ra
professora de música e cantou no coro
do antigo Instituto José Manoel da Concei-ção
(JMC), uma instituição que existia na
cidade de Jandira, subúrbio de São Paulo.
Eu me lembro de que esse coro, regido por
Evelina Harper, visitou a cidade de Pirajuí,
onde morávamos, e com 8 anos de idade me
encantei ao ouvi-lo se apresentando em um
culto. Entre as músicas, ouvi, deslumbrado,
pela primeira vez, o “Aleluia” do oratório
“O Messias” de Händel. Aos 12 anos eu
cantava contralto no coro regido pela mi-nha
irmã. Aos 13 eu era o único organista
da Igreja Presbiteriana Independente de
Pirajuí, SP. Já nessa idade me interessava
muito pelos hinos. Fui estudar no Institu-to
JMC, a mesma escola pré-teológica que
minhas irmãs haviam frequentado, e onde
eu também seria aluno de Evelina Harper,
excelente musicista e dedicada missionária
americana.
Onde o senhor realizou seus
estudos, na área, aqui no Brasil?
E nos EUA?
Como já disse, iniciei os meus estu-dos
de piano com minha irmã. Éramos 8
irmãos, e Martha sempre nos estimulou
e deu aulas, praticamente para todos.
Alguns irmãos se destacaram na música,
como Loyde, que desenvolveu linda voz
de soprano, e Zuinglio, “basso profondo”,
que foi cantor profissional, estudou na
França e atuou em muitos concertos no
Brasil e exterior até a sua morte. Aos 17
anos fui estudar no mesmo Instituto JMC,
onde Martha e Loyde haviam estudado e
cantado sob a regência de Evelina Harper,
e eu também tive esse privilégio. Com ela,
iniciei o meu aprendizado de regência e
hinologia. Fui seu auxiliar e substituto na
direção do Departamento de Música e dos
coros do Instituto JMC a partir de 1951,
quando o casal Harper voltou de férias aos
Estados Unidos. O primeiro coro que regi foi
o da 1a Igreja Presbiteriana Independente
de Osasco, subúrbio de São Paulo. Evelina
Harper sempre me estimulou. Ela ouviu o
coro de Osasco regido por mim e, perceben-do
meu interesse e talento, conseguiu da
Igreja Presbiteriana Americana (The Board
of Foreign Missions) uma bolsa de estudos
no Westminster Choir College, em Prince-ton,
New Jersey, nos Estados Unidos, onde
ela mesma havida estudado. Como minha
bolsa era para apenas dois anos, trabalhei
lavando pratos na universidade e também
em um restaurante da cidade, e nos fins
de semana tomava conta de crianças como
baby sitter. Até defunto carreguei para ga-nhar
uns troquinhos e poder custear mais
um ano de estudos, e assim poder comple-tar
as exigências do curso. No meu último
ano no Westminster, recebi uma taça pela
melhor composição de um canto de Natal
entre os alunos formandos, intitulada Only
a Manger Cold and Bare (publicada em por-tuguês
pela SOEMUS, na coleção Dádiva Di-vina,
p. 10, sob o título de “Ele nasceu num
pobre lugar”). Em junho de 1955, recebi o
meu Bacharelado em Música Sacra, com es-pecialização
em canto e órgão, voltando ao
Brasil nesse mesmo ano. Fiz depois o curso
de Canto Orfeônico e Canto, no Instituto
Musical de São Paulo e na Escola Paulista
de Música, requisito da época para poder
lecionar em escolas brasileiras de nível
superior. Nove anos mais tarde, voltei aos
Estados Unidos para fazer o Mestrado em
Música, com especialização em composição,
no Union Theological Seminary School of
Music, de Nova York, também com bolsa
de estudos. Participei também de oficinas
e seminários de música coral com grandes
regentes, como John Finley Williamson,
Robert Shaw e Wilhelm Ehman.
Como organista, quais foram
seus maiores desafios?
Uma das exigências do programa de
Mestrado no UTS de Nova York era demons-trar,
na prática, o que estudávamos em
sala de aula. Assim foi que em outubro de
64 assumi o cargo de Ministro de Música
e organista-regente na St. Paul’s Presbyte-rian
Church, de Newak, NJ, uma igreja com
americanos, brasileiros e portugueses, com
cultos nas duas línguas. Exerci esse cargo
até voltar ao Brasil, em 1972. Nesse período,
compilei o hinário bilíngue Seja Louvado,
traduzindo muitos hinos do calendário
cristão até então inexistentes em nossa
língua. Dez anos mais tarde, em 1982,
voltei novamente aos Estados Unidos, mas
desta vez como pastor da mesma igreja que
havia servido anos antes como Ministro
de Música.
A partir de 1996, depois de ter servido a
Igreja St. Paul’s como pastor por 14 anos e
de ter ser sido jubilado e recebido o título de
pastor emérito, assumi o cargo de Ministro
de Música na Second Presbyterian Church,
de Elizabeth, New Jersey, onde eu residia.
Essa igreja possui um órgão de tubos e
um órgão eletrônico Rodgers. Depois de
tantos anos exercendo um pastorado para
uma congregação de imigrantes, com múl-tiplas
atividades, pude novamente voltar à
prática da música, sentar no banco desses
órgãos e reativar minhas antigas técnicas.
Ali havia um coro de semiprofissionais, que
liam música muito bem, e pude fazer um
trabalho bastante compensador, apesar
de eu mesmo ser o acompanhista. Nessa
época, também comecei a publicar nos
Estados Unidos músicas brasileiras para
órgão de tubos (Brazilian Organ Music, em
cinco volumes) e três coleções de hinos de
minha composição (When Breaks the Dawn,
The Heavens Are Telling e Adoro Te) Esses hi-nários
contém hinos de minha composição
com textos em inglês, escritos por autores
pertencentes à Sociedade Hinológica Ame-ricana,
muitos dos quais já traduzi também
para o português.
Traduzir sempre é mais
complicado do que criar
um novo texto, embora
um novo texto exija mais
criatividade. Podemos
criar textos em prosa ou
poesia. Para criar é preciso
ter o que dizer.
Mensageiro | Novembro 2014 21
6. Conte-nos um pouco de sua
vivência como regente coral,
no Brasil e nos Estados unidos.
De agosto de 1955 a junho de 1964 fui
regente e organista da Primeira Igreja
Presbiteriana Independente de São Paulo
(Catedral Evangélica) e também lecionei e
dirigi o Departamento de Música do Insti-tuto
José Manuel da Conceição, em Jandira,
SP. Após o meu Mestrado, a partir de 1972,
voltei ao cargo da Catedral Evangélica e, a
seu pedido, em 1974, fui ordenado o primei-ro
Ministro de Música pelo Presbitério de
São Paulo, da IPI, podendo exercer todas as
funções pastorais. Passei, também, a dirigir
o Departamento de Música da Faculdade de
Teologia da IPI, enquanto também lecio-nava
em duas outras faculdades paulistas
(Alcântara Machado e Santa Marcelina).
Durante os anos que morei nos Estados
Unidos, continuei vindo ao Brasil para par-ticipar
dos Seminários de Música Sacra re-alizados
em São Paulo, a compor e publicar
música sacra. Estes seminários de música
coral encorajaram alguns ex-alunos meus a
fundar a SOEMUS, Sociedade Evangélica de
Música Sacra. Todos os anos eu preparava
coleções musicais novas para a rotina da
música coral nas igrejas, que eram lançadas
nos eventos mencionados. Os primeiros vo-lumes
da coleção Os Céus Proclamam foram
lançados ainda quando eu dirigia o Depar-tamento
de Música no Instituto JMC, entre
fotos: arquivo pessoal joão wilson faustini
os anos 1957 e 1964. Os outros volumes e
outras coleções foram publicadas quando
ainda residia nos Estados Unidos. Assim
surgiram as coleções Ecos de Louvor, em dez
volumes, o Hinário Seja Louvado, Louvemos
a Deus, em três volumes, Sempre Louvarei,
25 Hinos Novos para Um Novo Dia, e uma
quantidade enorme de músicas avulsas.
O senhor é autor e tradutor
de diversas músicas e hinos na
Língua Portuguesa. Quais são
os desafios e dificuldades desse
ofício?
Traduzir sempre é mais complicado
do que criar um novo texto, embora um
novo texto exija mais criatividade. Pode-mos
criar textos em prosa ou poesia. Para
criar é preciso ter o que dizer. A prosa é de
uma estrutura menos rigorosa, enquanto
que a forma poética para canto estrófico
é mais rígida, porque exige as mesmas
acentuações em cada verso de cada es-trofe,
além das rimas, que dão beleza aos
versos. Por outro lado, a forma da poesia
métrica facilita ao compositor, dando-lhe
já uma forma musical estética proveniente
da regularidade dos acentos métricos, o
que não acontece com os textos em prosa.
Os italianos dizem que os tradutores são
na realidade ‘traidores’... Isto porque é
muito difícil de dizer exatamente o que
um original em outra língua diz, porque
o português, como o alemão, é uma lín-gua
com palavras de muitas sílabas. O
inglês, por exemplo, tem muitas palavras
monossilábicas, como “church”, “Christ”,
“love” “hope”. Estas e muitas outras, em
português, exigem três, quatro ou mais
sílabas (i-gre-ja, Cris-to, a-mor, es-pe-ran-
-ça). É óbvio que não poderemos encaixar
nenhuma palavra multissilábica numa
melodia que tenha apenas uma nota para
uma sílaba, para que a tradução possa ser
cantada com a mesma música. Temos que
usar outros recursos, como sinônimos,
apanhar a ideia geral, usar ordem inversa,
etc. Não há dúvida de que é um grande
desafio.
Conte-nos sobre o seu
pseudônimo, J. Costa.
Pouco tempo depois que voltei ao Brasil
após o meu Bacharelado em Música, trou-xe
comigo algumas traduções de hinos
bastante conhecidos na América do Norte,
mas desconhecidos aqui no Brasil. Essas
foram as minhas primeiras traduções. Um
desses hinos era o “Deus dos antigos” (God
of Our Fathers). O coro do JMC introduziu
esse hino no Brasil com a minha primei-ra
tradução e sob a minha regência, em
uma grande igreja de São Paulo. O texto
começava assim: “Desde o passado Deus
nos protegeu”. O hino vibrante e marcial
empolgou a congregação, mas, na saída do
| entrevista |
Faustini, com Abner Campos, no Trinity Lutheran Seminary, e com a esposa, Rosy
22 Mensageiro | Novembro 2014
7. templo, o pastor dessa igreja, um iminente
pregador que gostava de música e, mesmo
sem entender as regras de prosódia e
acentuação musical, tentava escrever suas
letras para hinos, disse-me: “Faustini, eu
acho que você é um bom músico. Mas eu
acho que você deve deixar que os poetas
escrevam as letras. Cuide da música, que
eles farão os textos.” Algum tempo depois,
voltamos a visitar essa mesma igreja, e en-tão
entreguei ao pastor uma nova tradução
que eu havia feito do mesmo hino, agora
como “Deus dos antigos”, mas desta vez
usando o pseudônimo de J. Costa. O referido
pastor leu o texto em voz alta com grande
empolgação, e depois me disse: “Este sim!
Vê-se que é um bom poeta!” A partir desta
experiência, continuei a usar esse pseudô-nimo,
porque compreendi que, apesar de
ter crescido na prática de traduzir, o meu
nome era um empecilho para as pessoas
aceitarem minhas traduções, simplesmente
pelo fato de eu ser músico... Uma experiên-cia
semelhante também ocorreu quando
o Concílio Mundial de Igrejas enviou-me
uma lista de hinos conhecidos para saber
quais deles já haviam sido traduzidos para
o português. Eu enviei ao CMI todos os que
eu tinha na época, e traduzi alguns da lista
que ainda não tínhamos em nossa língua.
Alguns tinham o meu nome como tradutor,
e outros o pseudônimo de J. Costa. Para
minha surpresa, todos os de J. Costa foram
aceitos pela comissão de brasileiros que
participavam da compilação do hinário, e
apenas um hino de Faustini foi aceito!
Qual a importância do texto
da música para a fixação de
verdades bíblicas nas mentes do
povo de Deus?
Lutero, em poucos anos, fez com que a
Alemanha fosse doutrinada na Palavra de
Deus. A música, indubitavelmente, contri-buiu
muito para isso. Os hinos da época da
Reforma e os hinos tradicionais da Igreja
geralmente focalizam em Deus, seu caráter,
sua obra salvadora, e nas doutrinas básicas
da fé, como o arrependimento, o perdão,
a Vida Eterna. Os cânticos populares de
hoje tendem a focalizar no homem e suas
experiências e sentimentos pessoais. Como
consequência disso, nossa geração não co-nhece
os fundamentos da doutrina cristã.
As pessoas não sabem bem o que creem, e
mudam de uma denominação para outra
sem ter convicção e nem poder articular
oralmente a sua fé.
Como compositor de antemas
(obras sacras para coros) e
hinos, quais são os desafios e
dificuldades?
O desafio é grande. As pessoas de nossa
geração estão acostumadas a terem tudo
instantâneo e descartável. A música can-tada
nos cultos, nos dias de hoje, de modo
geral, retrata isto, tanto nos regentes como
nos cantores. Músicas novas sempre são
necessárias, e as mais usadas se tornam
descartáveis. Ficamos acostumados aos
resultados imediatos em tudo. Há exceções,
naturalmente. Mas poucos são os que se
interessam em fazer um preparo musical
longo e adequado para poder produzir
música coral de qualidade. Poucos coros
se preocupam com a técnica vocal, com a
produção de som vocal bonito e artístico.
Muitas das músicas das igrejas de hoje são
cantadas por pequenos grupos de louvor,
que, para substituir uma boa técnica vocal,
utilizam-se de microfones individuais.
Processo imediato, para supostamente se
conseguir projeção vocal. O volume e som
fazem sucesso imediato, mas dificilmente
estas músicas permanecerão para a pos-teridade,
devido à sua qualidade popular.
Normalmente, as músicas populares duram
uma geração. As eruditas permanecem,
justamente pela sua qualidade e pelo seu
valor artístico.
Quais as coleções de músicas
(entre hinários e livretos) que
senhor editou?
Para dizer a verdade, são tantas as mú-sicas
que publiquei que não tenho a conta
exata. Procuro adicionar as publicações
num programa de dados no meu computa-dor,
e já passam de mil hinos (1.170), mas
isto não inclui ainda os hinos do Hinário
Seja Louvado e nem as publicações dos
últimos dois anos, que precisam ser atu-alizadas.
Muitas das minhas publicações
permanecem nas prateleiras de duas salas
da SOEMUS (Sociedade Evangélica de Mú-sica)
em São Paulo, por diversas razões. A
primeira delas é porque muitas igrejas, em
todas as denominações, já não têm coros,
e por optarem por um tipo de música mais
popular e imediato. Nada contra a música
popular. Ela tem o seu lugar, mas com esta
tendência, os coros tendem a desaparecer.
Outra razão para as publicações ficarem
nas prateleiras é que o brasileiro, de modo
geral, não respeita as leis de copyright
(direitos autorais). Os regentes compram
uma cópia e fazem 40 fotocópias para os
seus coristas. As cópias publicadas e im-pressas
deixam de ser vendidas! Pela lei,
essas pessoas podem ser processadas, como
acontece frequentemente no mundo musi-cal.
Sabemos de muitas igrejas que foram
processadas por fazerem cópias ilegais ou
gravarem CDs sem a devida permissão dos
proprietários. Os crentes, que deviam ser
exemplos, muitas vezes são os que mais
burlam essa lei, até quando compilam os
hinários denominacionais! Em 2003, uma
grande denominação brasileira editou um
novo hinário e incluiu muitos dos cânticos
atuais, pertencentes a grandes publicado-ras
americanas, sem a devida permissão.
Toda a edição de milhares de cópias com
música, em magnífica encadernação, e
uma edição só com a letra, tiveram de ser
recolhidas a fim de que a Igreja não fosse
processada! Uma nova edição teve de ser
totalmente refeita e publicada, com per-missões
obtidas e pagas conforme a lei,
para evitar um escandaloso processo. Eu
mesmo poderia processar muitos coros e
diversas denominações que usam minhas
Mensageiro | Novembro 2014 23
8. músicas cobertas pela lei de copyright em
seus hinários ou fazem gravação dos hinos
sem a devida permissão.
Qual é o seu sentimento ao ver
suas composições entoadas na
Igreja Luterana e em outras
igrejas no Brasil?
Sinto me feliz por ter contribuído, mes-mo
dentro das minhas limitações, para a
música, o louvor e a edificação do Reino de
Deus. Vejo que há muito para ser feito em
nosso país. Procuro contribuir para que a
Igreja de Cristo, independente de sua cor
denominacional, busque a excelência no
ministério da música. Procuro ajudar e
orientar jovens neste sentido. Enquanto o
Senhor me der vida, saúde e lucidez, con-tinuarei
a trabalhar por isto.
Pela quantidade e qualidade
das suas obras e atividades, o
senhor é considerado por muitos
como “o pioneiro da Música Sacra
Evangélica no Brasil”. De que
forma isso marcou a sua vida?
Eu tive um chamado bem claro do
Senhor para isso, desde os meus 12 anos.
Não acho que tenha sido realmente pio-neiro.
Antes de mim, na música coral bra-sileira,
houve Artur Lackschevitz, Alyna
Muyrhead, Evelina Harper, Albert Ream,
Henriqueta Rosa Fernandes Braga e muitos
outros. Cada um fez a sua parte. Pionei-ros
mesmo foram Robert e Sarah Kalley
e João Gomes da Rocha, que publicaram
os primeiros hinos e hinários na língua
portuguesa! Grandes autores também têm
contribuído de maneira significativa para
a nossa hinologia, como Jerônimo Gueiros,
Isaac Nicolau Salum, Antônio de Campos
Gonçalves, Porto Filho. Na própria Igreja
Luterana temos nomes importantes como
Rodolpho Hasse, Leonido Krey, Octacílio
Schüler, Donaldo Schüler, Bruno Rieth,
Hans Gerhard Rottmann e tantos outros!
O senhor é autor dos livros
“Música e Adoração” e “Música
e Teologia Hoje”. Quais são
os desafios da Música Sacra
Evangélica na atualidade?
Muitas pessoas que lideram a música
na Igreja, de modo geral, não demonstram
interesse em conhecer teoria musical,
| entrevista |
harmonia, solfejo, boa leitura musical, re-gência,
técnica vocal, hinologia, historia da
música, português, etc. Não temos escolas
significativas e qualificadas para o ensino
da Música Sacra. Muitas igrejas não têm vi-são
para isto. Muitos seminários brasileiros
não preparam os pastores para discernir o
que é bom e o que não serve para o culto
de adoração. Em decorrência disto, e de
modo geral, os jovens também não têm
uma visão correta do papel da música no
culto, e não têm grande disposição em
investir tempo, dinheiro e anos de estudo
para servir nesse ministério. É muito mais
fácil aprender meia dúzia de acordes no
violão ou no teclado, coletar alguns textos
piedosos e ter a pretensão de se apresentar
como os levitas bíblicos, que eram todos
mestres e instruídos no canto (1Cr 25.6-7).
Nada contra, mas naturalmente é muito
fácil de compor e cantar músicas popula-res.
Muitos podem fazer isto sem grandes
estudos e preparo musical adequado, e ela
tem o seu lugar. Mas, infelizmente, esse
grande dilúvio de músicas é muitas vezes
de qualidade inferior, pouco artístico, e
de conteúdo teologicamente duvidoso. Há
princípios bíblicos que devem ser obser-vados,
quanto ao uso da arte na adoração.
Por exemplo, o melhor para Deus. Ele é
digno de receber sempre o melhor, como
exigia do seu povo no passado: as primí-cias,
os primeiros frutos, o primogênito, a
ovelha sem defeito, são alguns exemplos.
O princípio da reverência, da moderação,
também são importantes: Deus não é um
Deus surdo, para que o louvemos com um
som exagerado, que tenha um índice de de-cibéis
mais elevados que o ouvido humano
possa suportar... Temos de voltar à beleza
e à simplicidade e a fazer da música uma
“serva”, e não um fim em si mesmo dentro
do culto de adoração. Isto é o que tento
ensinar e fazer.
O senhor sempre participa das
conferências da sociedade de
hinos dos EUA e Canadá. Qual é o
cenário da hinologia atual no
mundo e no Brasil?
Sim, sou membro vitalício dessa socie-dade
desde os anos 60. Eu vejo que o Brasil
acompanha e imita de maneira assustadora
o que ocorre no resto do mundo, particu-larmente
nas megaigrejas. Creio também
que a apostasia dos tempos do fim virá
através da deturpação e deterioração da
adoração, através da música irreverente
e da distorção teológica do seu conteúdo.
Atualmente alguns hinários
brasileiros estão sendo editados
e reeditados, por exemplo, o
Cantai Todos os Povos (Igreja
Presbiteriana Independente), o
nosso Hinário Luterano (IELB), o
da Igreja de Confissão Luterana
(IECLB) e o da Igreja Metodista
(Hinário Metodista Brasileiro).
Tais hinários seguirão padrões
internacionais, com partituras
a quatro vozes e cifras para
acompanhamentos no violão
e teclado, que sirvam ao
mesmo tempo aos músicos e à
congregação. Qual a sua opinião
sobre essas iniciativas?
Acho os hinários nos padrões interna-cionais
extremamente importantes. Na re-alidade,
os hinários acabam sendo o único
manual de fé e doutrina que pode estar nas
mãos das pessoas leigas, especialmente
daquelas que raramente manuseiam a Bí-blia.
O uso de telas com textos projetados
está tirando os hinos das mãos do povo.
Mas os hinários, em geral, buscam a ex-celência
doutrinária e artística, e incluem
assuntos de todo o calendário litúrgico e
as doutrinas básicas do Cristianismo, o que
Os hinários acabam sendo
o único manual de fé e
doutrina que pode estar
nas mãos das pessoas
leigas, especialmente
daquelas que raramente
manuseiam a Bíblia. O
uso de telas com textos
projetados está tirando os
hinos das mãos do povo.
24 Mensageiro | Novembro 2014
9. Ábner Elpino Campos | Membro da comissão
técnica para a reedição do Hinário Luterano
Regente e Coordenador do Departamento de Música
na Congregação Da Cruz, Porto Alegre, RS
camposabner@gmail.com
não acontece com os cânticos populares. Os
hinários trazem hinos que foram frutos de
profundas reflexões e experiências cristãs
de irmãos nossos que viveram no passado,
unindo assim o corpo de Cristo, e consti-tuem
um verdadeiro cânone indispensável
para doutrinar o povo.
Qual recado que o senhor deixa
aos músicos evangélicos lutera-nos
do Brasil?
Invistam no estudo da música, em todas
as suas ramificações, dominem a leitura
musical, a teoria da música, a harmonia, o
contraponto, o piano, o órgão; estudem can-to,
técnica vocal e regência; estudem a Bí-blia
com os olhos de um músico e busquem
nela os princípios bíblicos importantes
para a vida cristã que se aplicam também à
música. Estudem hinologia,
desde os tempos apostólicos,
conheçam os autores de
hinos atuais de outras lín-guas,
aprendam a traduzir,
a compor e a escrever hinos
congregacionais; conheçam
a história da Igreja!
Alguns
participantes do
Congresso de
hinologia nos
Estados Unidos.
Entre eles, o professor
Raul Blum (E)
foto: arquivo pessoal joão wilson faustini
m
PROGRAMAÇÃO DE VERÃO em tramandaí, rs
Congregação Cristo
Tramandaí
Rua Ildebrando Pinheiro Veloso, 244 -
bairro Indianópolis (Referência: lombada
eletrônica da RS 030)
Fone (51)3684-4655
CULTOS
• Todos os domingos, às 9h
• Todas as quintas, às 20h30
Balneário Pinhal
Rua Navegantes, 728 - Centro
Dependências do Hotel Navegantes
Fone: (51) 3682-1379
CULTOS
• 13 e 27 de janeiro, às 18h
• 10 e 24 de fevereiro, às 18h
Cidreira
Rua Altemar Dutra, 1860 – Salinas
CULTOS
• 13 e 27 de janeiro, às 20h30
• 10 e 24 de fevereiro, às 20h30
Quintão
Av. Visconde de São Leopoldo, 189
CULTOS
• 13 e 27 de janeiro, às 16h
• 10 e 24 de fevereiro, às 16h
ESTUDOS BÍBLICOS
Farol da Solidão
Residência da sra. Clarice
• 04 e 18 de janeiro, às 15h
• 08 e 22 de fevereiro, às 15h
Granja Vargas
Residência do sr. Werner Pooch
• 04 e 18 de janeiro, às 18h
• 08 e 22 de fevereiro, às 18h
Programação disponível também em:
http://ielbtramandai.worpress.com
Pastores: Hélvio Ilmar Veide – helvioveide@
hotmail.com e Arnildo Schneider –
schneiderarnildo@gmail.com
Informações sobre outros locais e horários
de culto você encontra no Anuário Luterano
2015, disponível na Editora Concórdia –
www.editoraconcordia.com.br ou no site
da IELB – www.ielb.org.br
Mensageiro | Novembro 2014 25