O documento discute o último romance de Eça de Queiróz, A Cidade e As Serras. A obra contrasta a cidade (Paris e civilização moderna) com as serras (tradição portuguesa). Eça critica os efeitos negativos da vida moderna sobre o bem-estar humano, representados no personagem Jacinto. Quando Jacinto é forçado a viver nas serras sem tecnologia, ele gradualmente se recupera e se sente mais feliz, sugerindo que a tradição pode proporcionar maior felicidade do que a civilização modern
1. O caso especial de A Cidade e As Serras
Felipe Nogueira de Sousa
A Cidade e As Serras foi o último romance do autor português Eça de Queiróz, no qual Eça se
afasta um pouco de suas tendências anteriores, como o realismo e a pesada crítica que fazia à
sociedade portuguesa, e caminha para uma tendência diferente, inclusive observável em diversos
dos autores mais famosos da literatura portuguesa: a da valorização e exaltação da tradição e
símbolos portugueses. Porém Eça não abandona suas críticas a sociedade, presentes em obras
anteriores, mas agora direciona-as à Paris, à civilização e à modernidade. Não obstante, Eça
continua a manter suas críticas à sociedade portuguesa e o seu conservadorismo que soava muitas
vezes hipócrita e retrógrado.
Mas o que parece paradoxal em Eça de Queiróz, isto é, as ideias modernistas que o influenciam por
um lado e a admiração e exaltação da tradição por outro, pode ser mais facilmente compreendido se
buscarmos por novas definições e pontos de vista acerca dos dois elementos que compõem o
conflito principal que move o enredo: a cidade - civilização e modernidade - contra as serras -
tradição e raízes.
A civilização, entendida aqui como o progresso tecnológico desenfreado, o avanço de novas ideias,
a destruição da tradição e a perda de raízes, é o tema central de A Cidade e As Serras. Eça de
Queiróz, como um homem de seu tempo, foi influenciado pelas novas ideias, como o positivismo, o
socialismo e o darwinismo, porém, como afirma João de Scantimburgo¹:
“Eça cultuou a tradição. Opôs à cidade e à Civilização burguesas, de fins do
século XIX, a serra, a natureza, onde se formou a gente brava.
[…]
O último livro de Eça de Queiróz, o livro que ele não chegou a revisar, a polir e
repolir, é um dos mais belos tributos que o incomparável romancista prestou a
autêntica, à genuína tradição. Esse, o superior sentido do regresso de Jacinto à
terra-mãe.”
Mas como um intelectual de fins do século XIX, influenciado pelas ideias progressistas que
dominavam sua época, pode ter sido um defensor da tradição através de sua obra?
Para esclarecer essa questão, precisamos entender o significado de tradição, da verdadeira tradição,
como afirma Scantimburgo, assim como o significado do que seria o seu oposto, a civilização em A
Cidade e As Serras. Para isso, podemos ver abordagens de autores que se dedicaram a delinear o
significado da tradição, a tradição que está no cerne da identidade dos povos, que impõe os seus
princípios, que os guia e os orienta no mundo, na marcha rumo ao futuro. E como a tradição
portuguesa é tema presente não só em A Cidade e As Serras, mas também em diversas obras da
literatura portuguesa, vale a pena nos aprofundarmos sobre o significado da tradição, pois não
poderíamos fazer leituras profundas de obras portuguesas sem identificarmos o que constitui a
identidade especial da arte portuguesa e a sua relação com a identidade do povo português.
Sobre a tradição, o autor Julius Evola, filósofo que teve sua obra dedicada ao assunto, ferrenho
crítico da modernidade e que se afirmava como um tradicionalista radical, afirma³:
“Já discuti a respeito do que o termo tradição significa no sentido maior da
palavra: é a forma concedida por forças acima das possibilidades gerais de uma
determinada área cultural e período específico, através de valores supra-
2. individuais e até mesmo anti-históricos e por elites que sabem como derivar a
autoridade e o prestígio natural de tais valores.”
Quanto à civilização moderna, do século XIX, que se alastrava por todas as metrópoles do ocidente,
João de Scantimburgo afirma²:
“A ideologia do século XIX; o princípio das nacionalidades; o
constitucionalismo; a subversão revolucionária; a ascensão da burguesia, com a
sua axiologia; a mediocridade política, gerada pelos partidos; o comércio de
honrarias; a perda de substância da monarquia, que se republicanizou; o
liberalismo jacobino; todos esses ingredientes da época engendraram a crise
política, em cujas vagas Portugal entrou a se debater, para acabar no regicídio
que eliminou D. Carlos, golpe que, em seguida, depôs D. Manoel, e, proclamada,
a República mergulhou em crise.”
João de Scantimburgo compartilha de uma visão da modernidade similar a autores críticos da
mesma, como Alexander Dugin4, Alain de Benoist5 e René Guénon6. Scantimburgo a vê como a
civilização construída a partir dos valores do individualismo burguês, consolidada principalmente
após a Revolução Francesa. Valores que tiraram o homem de uma visão holística de mundo, uma
concepção espiritual e heroica, que tornaram possível a construção do mundo capitalista e liberal,
baseado no individualismo e economicismo, o que por sua vez exigiram a criação de novas técnicas
e do desenvolvimento científico para acelerar o desenvolvimento industrial e a produção. E como
consequência desse desenvolvimento, nascem ideologias que criticam o liberalismo, mas partindo
das mesmas premissas materialistas e economicistas, como o socialismo e o marxismo. Logo, em A
Cidade e As Serras, podemos ver a modernidade e a civilização, como delineada acima,
personificada em Jacinto, enquanto este vive no grande centro cultural de sua época: Paris.
Paris, sendo a primeira cidade a ser totalmente iluminada pela energia elétrica, ganhando assim o
apelido de Cidade das Luzes, tornou-se o grande símbolo da modernidade; símbolo de progresso e
futuro, que persiste até hoje, pois foi exatamente de Paris que se originaram diversas revoluções
culturais de caráter progressista e anti-reacionário influentes no mundo todo, como a revolução
cultural dos anos 60. Porém, Eça aparentemente busca ironizar e criticar a ideia de superioridade
dos parisienses e da modernidade. A partir do seu estilo naturalista, mostrando como o ambiente
molda o homem, Eça retrata a Paris do fim do século XIX não como uma cidade que traz um grande
progresso e felicidade humanas, mas ao contrário, como uma cidade que potencializa misérias e
sofrimentos que antes não eram vivenciados pelas pessoas de um contexto rural ligado à natureza e
à tradição. Assim, Eça de Queiróz retrata os efeitos da tecnologia, da vida na metrópole, do ritmo
frenético da modernidade sobre a existência humana. Sobre o materialismo e o cientificismo da
modernidade, afirma René Guénon7:
“Os modernos, em geral, não concebem outra ciência que não seja a das coisas
que se medem, se contam e se pesam – em suma, das coisas materiais – porque
é apenas a estas que se pode aplicar o ponto de vista quantitativo; e a pretensão
de reduzir a qualidade à quantidade é muito característica da ciência moderna.
Neste sentido, chegou-se a crer que não existe ciência propriamente dita onde
não for possível introduzir a medida, e que não há leis científicas senão as que
exprimem relações quantitativas.” (A Crise do Mundo Moderno)
Jacinto, como um homem moderno, entusiasta de novas ideias, crê que esse mesmo progresso
técnico, científico e “civilizacional” da modernidade trará a solução dos problemas do homem.
Jacinto afirma:
3. “Ora nesse tempo Jacinto concebera uma Idéia... Este Príncipe concebera a
Idéia de que "o homem só é superiormente feliz quando é superiormente
civilizado". E por homem civilizado o meu camarada entendia aquele que,
robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas desde
Aristóteles, e multiplicando a potencia corporal dos seus órgãos com todos os
mecanismos inventados desde Terâmenes, criador da roda, se torna um
magnifico Adão, quase onipotente, quase onisciente, e apto portanto a recolher
dentro de uma sociedade e nos limites do Progresso (tal como ele se
comportava em 1875) todos os gozos e todos os proveitos que resultam de Saber
e de Poder... Pelo menos assim Jacinto formulava copiosamente a sua Idéia,
quando conversavamos de fins e destinos humanos, sorvendo bocks poeirentos,
sob o toldo das cervejarias filosóficas, no Boulevard Saint-Michel.”
Este conceito de Jacinto impressionára os nossos camaradas de cenáculo, que
tendo surgido para a vida intelectual, de 1866 a 1875, entre a batalha de
Sadowa e a batalha de Sedan, e ouvindo constantemente, desde então, aos
técnicos e aos filósofos, que fora a espingarda-de-agulha que vencera em
Sadowa e fera o mestre-escola quem vencera em Sedan, estavam largamente
preparados a acreditar que a felicidade dos indivíduos, como a das nações, se
realiza pelo ilimitado desenvolvimento da Mecânica e da Erudição. Um desses
moços mesmo, o nosso inventivo Jorge Carlande, reduzira a theoria de Jacinto,
para lhe facilitar a circulação e lhe condensar o brilho, a uma forma algébrica:
Suma ciência X Suma potência = Suma felicidade” cap. I
Portanto, no personagem de Jacinto, Eça aborda os temas centrais da modernidade, temas que
continuarão a repercutir no século seguinte e que até hoje são correntes. É como se Eça antecipasse
vanguardas modernistas, porém, não com a paixão pelo progresso e pela modernidade que estas
apresentavam, mas com uma crítica realista característica ao seu estilo.
Se por um lado os modernistas buscavam romper com o romantismo, a visão romantizada da
realidade, um ideal de beleza e arte, por outro romantizavam o papel do progresso tecnológico e dos
valores da modernidade. Mesmo que tivessem destruído a estética burguesa do romantismo,
continuariam com seus valores de individualismo, de construção de um mundo ideal, de exaltação
de emoções e, assim como o romantismo, romperiam com uma estética consolidada rumo à
construção de uma nova, uma marcha irrefreável rumo ao progresso, ao futuro, e a ruptura com a
tradição. Se ainda criticavam fundamentos da modernidade, como o liberalismo burguês, se
apoiavam sobre críticas modernistas da própria modernidade, como, por exemplo, o socialismo e
marxismo. Exemplo disso é a vanguarda futurista, que queria destruir o mundo com seus carros,
máquinas e metralhadoras, e construir um novo, idealizado em seus valores de barbárie em formas
totalitárias. Entretanto, Eça de Queiróz em A Cidade e as Serras, talvez por estar localizado
justamente no período de tempo que ficou entre as duas tendências artísticas e, mais especialmente,
por ter produzido tal obra no período antecedente ao surgimento das vanguardas modernistas,
parece ter trilhado uma síntese entre as duas tendências artísticas em sua obra.
Jacinto, personagem principal da A Cidade e as Serras, representa o típico homem da modernidade,
entusiasta de novas ideias, apaixonado pelo progresso, obcecado pela tecnologia e, ao mesmo
tempo, em constante distimia e cada vez mais cansado pelo ritmo de vida do novo mundo. Não
parece lidar com as contradições de sua filosofia que vê a civilização, representada pelo progresso
tecnológico, tendo o papel de trazer a felicidade humana e suprimir o lado animalesco e bárbaro dos
homens, representado, por exemplo, na passagem em que seu amigo das serras portuguesas, Zé
4. Fernandes, narrador do romance, se apaixona por uma prostituta parisiense chamada Madame
Coulomb.
Zé Fernandes vê seu amigo Jacinto cada vez mais triste e depressivo com a modernidade de Paris,
vivendo no reino da quantidade, a ponto de que Jacinto sequer tem tempo para se dedicar a si
mesmo, devido aos seus diversos compromissos com seus amigos parisienses e à velocidade da
comunicação trazida pelo telefone.
“Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris: - e na
Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora
gritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborear
plenamente a “delícia de viver”, ele não encontrava agora forma de vida,
espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço duma corrida
curta numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! Um jornal velho, setenta vezes relido
desde a Crônica até aos Anúncios, com a tinta delida, as dobras roídas, não
enfastiaria mais o Solitário, que só possuísse na sua Solidão esse alimento
intelectual, do que o Parisianismo enfastiava o meu doce camarada!” cap. V.
Mas um acontecimento muda a sua vida: após um deslizamento de terras na cidade de origem de
sua família, Jacinto deve ir até Portugal, nas serras, para cuidar da reconstrução do cemitério e sua
família e das construções destruídas pelo deslizamento. Era a terra de seus ancestrais, a raça
jacíntica, que o chamava. Jacinto decide levar em caixotes todas as maravilhas da civilização
consigo, mas devido a uma confusão quanto ao destino da viagem, Jacinto perde todos seus caixotes
e é obrigado a viver sem a tecnologia à qual estava acostumado em Paris.
Após um choque com a sua nova realidade, o naturalismo de Eça de Queiróz se manifesta
novamente, Jacinto, gradualmente, parece se recuperar de suas perturbações mentais, começa a se
sentir mais feliz e até mesmo bucólico em meio às serras portuguesas.
Dessa forma, temos duas ideias opostas na obra, a ideia da civilização e progresso, representada por
Paris e Jacinto, e a ideia de tradição e passado, representada pelas serras e Zé Fernandes. Contudo,
ocorre uma síntese, realizada por Eça no desfecho da narrativa. Jacinto casa-se com a prima de Zé
Fernandes, Joaninha, uma moça típica das serras, e logo Jacinto tem filhos e começa a trazer o
progresso para as serras. Jacinto está preocupado com a pobreza dos habitantes serranos e quer levar
a medicina, a higiene e as comunicações para solucionar os problemas serranos. Inclusive, isso
deixa a elite local preocupada, pois temem que Jacinto seja um monarquista que trará de novo aos
portugueses a guerra e as forcas. Um velho de uma aldeia até mesmo vê Jacinto como uma
reencarnação de Sebastião, o mítico herói português. Este é um sinal importante, pois a admiração e
estima tidas por Eça em relação a Sebastião revelam-nos a tradição portuguesa arraigada em sua
alma. Assim, Jacinto parece finalmente encontrar um ponto de equilíbrio entre a modernidade e a
tradição.
Poderíamos ver ainda, no conflito entre a elite local das serras e Jacinto, uma crítica ao
conservadorismo retrógrado da sociedade portuguesa, um conservadorismo que simplesmente busca
manter o status quo, preso a repetição de formas, de valores anacrônicos e não de princípios guias.
Como afirma Evola³:
“Atualmente, acontece muitas vezes de haver um desejo confuso de se retornar à
“tradição” propositadamente manifestado em uma forma de “tradicionalismo”.
O conteúdo desse “tradicionalismo” consiste de hábitos, rotinas, resíduos
restantes e vestígios de tempos passados, sem um verdadeiro entendimento do
5. mundo espiritual e do que em tais coisas não é apenas factual, mas possui um
caráter de valor perene.”
Nesse ponto da narrativa, Eça abandona o seu realismo anterior e dá um final romântico a sua obra.
Um casamento, um final feliz, um momento de produção de vida e uma conciliação entre opostos.
Apesar das críticas tanto ao progressismo parisiense quanto ao conservadorismo português, Eça
parece encontrar e propor um caminho otimista, uma solução, uma conciliação entre ideias opostas,
algo que se assemelha a ideia de arqueofuturismo proposta pelo autor francês Guillaume Faye8:
“Lutamos por uma visão de mundo que é tanto tradicional
quanto Faustiana, que alia o enraizamento ao movimento, as
liberdades civis e o serviço imperial à comunidade como um
povo, criatividade apaixonada e razão crítica, uma lealdade
firme e uma curiosidade aventurosa.”
Jacinto encontra um verdadeiro equilíbrio em sua vida:
“O Progresso, que, à intimação de Jacinto, subira a Tormes a estabelecer
aquela sua maravilha, pensando talvez que conquistara mais um reino para
desfear, desceu, silenciosamente, desiludido, e não avistamos mais sobre a serra
a sua hirta sombra cor de ferro e de fuligem. Então compreendi que,
verdadeiramente, na alma de Jacinto se estabelecera o equilíbrio da vida, e
com ele a Grã-Ventura, de que tanto tempo ele fora o Príncipe sem
Principado.” cap. XIV.
Além disso, em A Cidade e As Serras, podemos fazer paralelos interessantes com obras românticas,
como As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis e Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett.
Ambas as obras apresentam uma valorização do interior português, uma admiração pela vida rural
e, no caso de Júlio Dinis, um otimismo quanto ao seu futuro. Júlio Dinis e Almeida Garrett não
foram pegos pelas novas ideias darwinistas e positivistas que ascenderiam mais tarde no século
XIX, entretanto, pode-se dizer que eram também entusiastas de novas ideias, como o liberalismo,
que ainda penetrava em Portugal e, consequentemente, trazia consigo o individualismo que mais
tarde seria dominante. Talvez essas sejam algumas das razões de, frequentemente, classificarem A
Cidade e As Serras mais como uma obra romântica que uma obra realista. Porém tais classificações
de escola são incapazes de sintetizar as ideias de A Cidade e As Serras, pois podemos ver traços
tanto realistas quanto românticos na mesma.
O que é possível afirmar com maior segurança é que A Cidade e As Serras é uma obra naturalista,
pois vemos claramente o estilo típico naturalista de longas descrições do ambiente e da construção
do personagem a partir das influências externas que ele sofre, porém, podemos ainda afirmar com
segurança que A Cidade e As Serras é um caso especial. Assim, é necessária uma análise diferente,
pois se trata de uma obra de caráter especial que não pode ser encaixada definitivamente em uma
escola literária.
Talvez, foi em A Cidade e As Serras que Eça de Queiróz finalmente encontrou um estilo mais
original, mais único e mais distante das críticas anteriores de cópia9 de outros autores realistas,
como Gustav Flaubert, por parte de seus críticos contemporâneos. Apesar de inacabada, isto é, sem
um polimento final, pelo menos é possível visualizarmos uma maturidade de ideias em Eça de
Queiróz nessa obra. Enfim, em A Cidade e As Serras, Jacinto não só representa a conciliação de
ideias opostas e a maturidade, mas também representa o próprio autor, Eça de Queiróz, encontrando
sua originalidade, realizando finalmente uma síntese de suas influências e chegando a sua
identidade, assim como Jacinto ao se reencontrar com suas raízes, com a terra de seus antepassados.
6. Dessa forma, fazendo leituras mais detalhadas, buscando novas referências e definições e nos
desprendendo de concepções que soam por vezes insuficientes para classificar uma obra tão
especial como A Cidade e As Serras, como definições modernistas de tradição ou civilização.
Podemos ver a especialidade de tal obra e a localizarmos mais precisamente no tempo e no espaço.
Tal tarefa é muito importante, pois criou-se em nossas escolas e cursos o costume de se dividir
muito rigidamente as escolas literárias e seus respectivos autores em posições muito fixas e não
flexíveis. Tais divisões, apesar de possuírem certo valor didático, também podem apresentar
problemas em leituras, pois os estudantes serão guiados por noções imprecisas acerca das obras que
lerão e que, inclusive, impedi-los-ão de absorver a obra com maior profundidade. Realizando
leituras diferenciadas, quem sabe assim poderíamos chegar a uma classificação mais precisa de
movimentos literários, pois apesar de localizado em um período diferente, Eça ainda mantém
diversos paralelos com seus autores conterrâneos anteriores, até mesmo posteriores, o que indica
tendências que transcendem o tempo na arte.
Referências:
1. SCANTIMBURGO, João de. Eça de Queiróz e a Tradição. São Paulo, 1995. Editora Siciliano.
Pag. 198.
2. Idem. Pag. 71.
3. EVOLA, Julius. Men Among the Ruins. Londres, 2002. Arktos.
4. DUGIN, Alexander. A Quarta Teoria Política. Porto Alegre, 2012. Editora Austral.
5. BENOIST, Alain de. Para Além dos Direitos Humanos. Porto Alegre, 2012. Editora Austral.
6. GUÉNON, René. A Crise do Mundo Moderno. Lisboa, 1977. Editorial Veiga.
7. Idem. Pág. 76-77.
8. FAYE, Guillaume. Why We Fight. Londres, 2011. Arktos. Pág. 267.
9. ASSIS, Machado de. Obra Completa de Machado de Assis. Rio de Janeiro, 1994. Nova Aguilar,
vol. III.
10. QUEIRÓZ, Eça de. A Cidade e As Serras. Jandira, SP, 2012. Ciranda Cultural.
11. ABDALA JR. Benjamim. Eça de Queiróz: Literatura Comentada. São Paulo, 1980. Abril
Educação.