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Objetivo
Acolher o enlutado.
Ano Pré-escola.
Tempo estimado
De 15 a 30 minutos, quando morrer um parente de uma criança, um membro da equipe
escolar ou alguém conhecido de todos.
Desenvolvimento
Aproxime-se com delicadeza, sem intervir diretamente e sem forçar o enlutado a abraçar,
falar ou participar de atividades. Mas não o deixe sozinho. O importante é ele perceber
que há uma pessoa adulta atenta ao seu sofrimento.
Mais do que dizer algo para consolá-lo, deixe que ele expresse suas emoções e só ouça.
Se a criança fizer perguntas, seja o mais objetivo possível. Diga o que realmente
aconteceu, com as palavras certas, e não use eufemismos como foi viajar, está
dormindo ou foi para o céu.
Pergunte se ela quer contar aos colegas o que aconteceu ou prefere que você o faça.
Nas duas hipóteses, reúna todos em roda e, depois de comunicado o fato, pergunte se
alguém já passou pela mesma situação. A troca de experiência conforta e é um incentivo
para deixar aflorar os sentimentos. Sugira que a turma chame esse colega para brincar,
mas sem insistir.
Leve filmes como Bambi e O Rei Leão para a sala. Depois, dê lápis de cor ou giz de cera
para que todos desenhem algo sobre o que sentiram diante das cenas de morte.
Incentive os comentários e opiniões.
Em caso de haver agressão por parte do enlutado, deixe claro a ele que todos entendem
e respeitam sua dor, mas que isso não lhe dá o direito de agir com violência e descontar
nos colegas.
Quando falecer alguém conhecido (artista ou pessoa importante na comunidade), não
perca a oportunidade de conversar sobre o assunto. Explique o que é um cemitério, por
que as pessoas são enterradas, por que os vivos visitam os mortos no feriado de
Finados, o que é um velório etc.
Se a escola perder um funcionário ou professor, organize um ritual de homenagem com
a participação de todos. A cerimônia pode ser simples, como o plantio de uma árvore.
Assim, sempre que alguém olhar para ela poderá lembrar com carinho de quem se foi.
Em sala, sugira fazer um desenho (coletivo ou individual) ou pensar em algumas
palavras que poderiam ser ditas para a pessoa.
Se a perda foi de um familiar da criança sugira que ela, se quiser, leve uma foto para a
escola. Isso pode diminuir o desconforto da ausência.
Se ela chorar muito, explique aos colegas dela o motivo. Oriente-os como agir quando se
vê alguém aos prantos: ficar perto e oferecer ajuda ou um lenço de papel. Incentive-os a
falar da tristeza e da raiva que surgem pela perda ou do que cada um sentiu quando
alguém morreu.
Nunca reprima ou tente conter o choro, pois as emoções fazem parte da vida e precisam
ser expressadas.
http://revistaescola.abril.com.br/online/planosdeaula/educacao-
infantil/PlanoAula_283516.shtml
Um farol só meu
Se vieres a minha casa, da janela do meu quarto verás o mar, a praia e muitos barcos de
pesca. Um deles, o mais bonito, é o do meu papá. O meu papá é pescador. Quando regressa,
traz sempre muito peixe, e a minha mamã apressa-se a ir vendê-lo.
— As pessoas gostam de peixe fresquinho — diz ela.
Na sala, debaixo do quadro com os nós, está a minha fotografia preferida: o papá, a
mamã, e eu no meio.
Por vezes, o meu papá parte durante vários dias, quando o peixe está muito longe, e eu
sonho com o mar.
Às vezes são sonhos feios em que o mar está mau, e o meu papá está sozinho no
barco… Eu acordo com muito, muito medo.
Hoje foi uma dessas noites; fui a correr ter com a minha mamã e contei-lhe o meu
sonho mau. Ela falou-me dos faróis, como eles ajudam os pescadores, e deu-me um livro
para ver, com muitas imagens de faróis.
Eu acho que ela também tem medo. Passei muito tempo a ver todas aquelas imagens:
faróis grandes, faróis pequenos, faróis coloridos… Vocês sabiam que há pessoas que vivem
em faróis?
Eu gostava de viver num farol, para ajudar o meu papá a voltar para casa. Vou construir
eu mesma um farol! O maior e mais alto farol do mundo! Pedirei ajuda aos meus
brinquedos preferidos e vamos todos trazer de volta o meu papá.
Os brinquedos ficaram contentíssimos com a novidade, mesmo o Ronaldo, o meu
preguiçoso pato amarelo.
Incansáveis, durante horas arrastámos e sobrepusemos os cubos de madeira que me
foram dados pela tia Joaninha. Já estava tão alto que saía pela janela.
Subi… Subi… passei pelas nuvens, e continuei a subir até chegar perto da estrela mais
brilhante, aquela que a mamã disse que era só para mim… Pedi-lhe para se sentar no meu
colo e ajudar-me. Ela sentou-se, e ajudou-me.
Estava agora em cima do meu farol, com a minha estrela ao colo.
Por muito longe que estivesse o meu papá, por muito escuro que fosse… não poderia deixar
de ver a minha luz, o farol que eu tinha construído só para ele.
Se hoje o meu papá chegar a casa, da janela do meu quarto verá o mar, a praia e muitos
barcos de pesca… E o meu farol de amor.
Francisco Cunha
Um farol só meu
Porto, Ambar, 2004
Adaptação
Onde está o Jaime?
Certo dia, na escola, a carteira do Jaime estava vazia.
O Jaime não era desses meninos que ficam na cama por causa de uma gripe ou
de uma queda. Não era desses meninos que arranjam desculpas para ficar na
cama. O Jaime adorava a escola. Gostava de participar em tudo.
Mas o melhor de tudo era que o Jaime gostava de cultivar plantas.
Tinha sempre alguma coisa a crescer num vaso ou um pacote de sementes no
bolso.
Se fosse mandado embora da aula de Matemática, por estar a conversar,
escapava-se sempre para ajudar o jardineiro.
Mas o Jaime nunca faltava à escola.
Aquilo era muito, muito estranho.
No dia seguinte, a carteira do Jaime estava outra vez vazia.
… e no outro dia a seguir também.
Quando, no final da semana, a carteira dela ainda estava vazia, Milly, Molly e
todos os amigos do Jaime estavam mesmo muito preocupados.
Sentiram-se reconfortados, quando a Professora Adelaide lhes disse que o Jaime
devia estar com papeira ou com sarampo. Todos esperavam que ele voltasse
depressa para a sua carteira.
Mas, certa manhã, a Professora Adelaide parecia diferente. Sentou-se na pequena
cadeira, no meio da sala, e pediu a todos que se juntasse à volta dela.
Explicou com voz suave que o Jaime não ia voltar à escola. Baixinho, contou-lhes
que o Jaime tinha sido levado para o hospital e que tinha morrido, em paz, durante
a noite.
A Professora Adelaide abriu os braços à volta deles e todos choraram.
A Professora Adelaide não se importou com as lições de Matemática e de
Gramática desse dia.
E ninguém teve vontade de cantar ou de brincar durante o recreio.
A Professora Adelaide queria conversar com os seus alunos, responder às suas
perguntas e dar-lhes muitos abraços.
Milly e Molly sentiram-se tristes ao ver a carteira vazia do Jaime. Mas também não
queriam que a Professora Adelaide a tirasse dali.
Decidiram colocar um ramo de flores na carteira do Jaime e isso ajudou, durante
algum tempo. Todos levavam flores dos seus jardins e mantinham o ramo do
Jaime sempre muito bonito.
Quando todos estavam preparados, retiraram a carteira do Jaime.
Milly e Molly arrumaram, com muito cuidado, os livros e os objectos do Jaime
numa caixa, para a mãe dele levar.
Num cantinho da carteira do Jaime, no meio dos lápis e canetas, Milly e Molly
encontraram um pacote de sementes.
Com o acordo da mãe do Jaime, Milly e Molly colocaram as sementes no jardim da
escola, num dia quente e cheio de sol.
Regaram e esperaram…
e esperaram e regaram.
Ao décimo segundo dia, uma fila de pequenas plantas verdes começou a romper o
solo. Lentamente, todos os dias iam crescendo.
De repente, a planta do meio tornou-se muito mais alta.
Cresceu tanto, que teve de ser atada à vedação. E depois, como se fosse milagre,
de um dia para o outro… floriu um grande girassol com uma face redonda e
risonha! Milly, Molly e todos os amigos do Jaime ficaram muito contentes.
O Jaime estava de volta, no meio de todos os seus amigos.
História de uma folha
Era uma vez uma folha, que crescera muito. A parte intermediária era larga e forte, as cinco
pontas eram firmes e afiladas. Surgira na primavera, como um pequeno broto num galho
grande, perto do topo de uma árvore alta.
A Folha estava cercada por centenas de outras folhas, iguais a ela.
Ou pelo menos assim parecia.
Mas não demorou muito para que descobrisse que não havia duas folhas iguais,
apesar de estarem na mesma árvore.
Alfredo era a folha mais próxima. Mário era a folha à sua direita.
Clara era a linda folha por cima. - Todos haviam crescido juntos.
Aprenderam a dançar à brisa da primavera, esquentar indolentemente ao
sol do verão, a se lavar na chuva fresca. Mas Daniel era seu melhor amigo.
Era a folha maior no galho e parecia que estava lá antes de qualquer outra.
A Folha achava que Daniel era também o mais sábio.
Foi Daniel quem lhe contou que eram parte de uma árvore.
Foi Daniel quem explicou que estavam crescendo num parque público.
Foi Daniel quem revelou que a árvore tinha raízes fortes, escondidas na terra lá embaixo. Foi
Daniel quem falou dos passarinhos que vinham pousar no galho e cantar pela manhã. Foi
Daniel quem contou sobre o sol, a lua, as estrelas e as estações.
A primavera passou. E o verão também. Fred adorava ser uma folha.
Amava o seu galho, os amigos, o seu lugar bem alto no céu, o vento que o sacudia,
os raios do sol que o esquentavam, a lua que o cobria de sombras suaves.
O verão fora excepcionalmente ameno. Os dias quentes e compridos eram agradáveis, as
noites suaves eram serenas e povoadas por sonhos. Muitas pessoas foram ao parque
naquele verão. E sentavam sob as árvores. Daniel contou à Folha que proporcionar sombra
era um dos propósitos das árvores.
- O que é um propósito? - perguntou a Folha.
- Uma razão para existir - respondeu Daniel.
- Tornar as coisas mais agradáveis para os outros é uma razão para existir. Proporcionar
sombra aos velhinhos que procuram escapar do calor de suas casas é uma razão para existir.
A Folha tinha um encanto todo especial pelos velhinhos. Sentavam em silêncio na relva
fresca, mal se mexiam. E quando conversavam eram aos sussurros, sobre os tempos
passados. As crianças também eram divertidas, embora às vezes abrissem buracos na casa
da árvore ou esculpissem seus nomes. Mesmo assim, era divertido observar as crianças. Mas
o verão da Folha não demorou a passar. E chegou ao fim numa noite de inverno.
A Folha nunca sentira tanto frio. Todas as outras folhas estremeceram com o frio. Ficaram
todas cobertas por uma camada fina de branco, que num instante se derreteu e deixou-as
encharcadas de orvalho, faiscando ao sol. Mais uma vez, foi Daniel quem explicou que
haviam experimentado a primeira geada, o sinal que era o inverno que estava chegando.
- Por que ficamos com cores diferentes, se estamos na mesma árvore? -
perguntou a Folha.
- Cada um de nós é diferente. Tivemos experiências diferentes. Recebemos o sol de maneira
diferente. Projetamos a sombra de maneira diferente. Por que não teríamos cores diferentes?
Foi Daniel, como sempre, quem falou. E Daniel contou ainda que aquela estação maravilhosa
se chamava inverno. E um dia aconteceu uma coisa estranha.
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/amizade/historia-de-uma-folha-
leo-buscaglia/?PHPSESSID=5d786b78efb4bf623054787cadb133b5#ixzz2WPKwR074
A mesma brisa que, no passado, os fazia dançar começou a empurrar e puxar suas hastes,
quase como se estivesse zangada. Isso fez com que algumas folhas fossem arrancadas de
seus galhos e levadas pela brisa, reviradas pelo ar, antes de caírem suavemente ao solo.
Todas as folhas ficaram assustadas.
- O que está acontecendo? - perguntaram umas às outras, aos sussurros.
- É isso que acontece no inverno - explicou Daniel - É o momento em que as folhas mudam
de casa. Algumas pessoas chamam isso de morrer.
- E todos nós vamos morrer?- perguntou Folha
- Vamos sim - respondeu Daniel - tudo morre. Grande ou pequeno, fraco ou forte, tudo
morre. Primeiro cumprimos a nossa missão. Experimentamos o sol e a lua, o vento e a
chuva. Aprendemos a dançar e a rir. E, depois morremos.
- Eu não vou morrer! - exclamou Folha, com determinação - Você vai, Daniel?
- Vou sim... Quando chegar meu momento.
- E quando será isso?
- Ninguém sabe com certeza. - respondeu Daniel
A Folha notou que as outras folhas continuavam a cair. E pensou: "Deve ser o momento
delas". Ela viu que algumas folhas reagiam ao vento, outras simplesmente se entregavam e
caíam suavemente Não demorou muito para que a árvore estivesse quase despida.
- Tenho medo de morrer. - disse Folha a Daniel - Não sei o que tem lá embaixo.
- Todos temos medo do que não conhecemos.
Isso é natural. - disse Daniel para animá-la - Mas você não teve medo quando a primavera
se transformou em verão. E também não teve medo quando o verão se transformou em
outono. Eram mudanças naturais. Por que deveria estar com medo da estação do inverno?
- A árvore também morre? - perguntou - Para onde vamos quando morrermos?
- Ninguém sabe com certeza... É o grande mistério.
- Voltaremos na primavera?
- Talvez não, mas a Vida voltará.
- Então qual é a razão para tudo isso? - insistiu a Folha - Por que viemos pra cá, se no fim
teríamos de cair e morrer?
Daniel respondeu no seu jeito calmo de sempre:
- Pelo sol e pela lua. Pelos tempos felizes que passamos juntos. Pela sombra, pelos
velhinhos, pelas crianças. Pelas cores do outono, pelas estações. Não é razão suficiente?
Ao final daquela tarde, na claridade dourada do crepúsculo, Daniel se foi. E caiu a flutuar.
Parecia sorrir enquanto caía.
- Adeus por enquanto. disse ele à Folha.
E depois, a Folha ficou sozinha, a única folha que restava no galho. A primeira neve caiu na
manhã seguinte. Era macia, branca e suave. Mas era muito fria. Quase não houve sol
naquele dia... E foi um dia muito curto. A Folha se descobriu a perder a cor, a ficar cada vez
mais frágil. Havia sempre frio e a neve passava sobre ela. E quando amanheceu veio vento
que arrancou a Folha de seu galho.
Não doeu. Ela sentiu que flutuava no ar, muito serena. E, enquanto caía, ela viu a árvore
inteira pela primeira vez. Como era forte e firme! Teve a certeza de que a árvore viveria por
muito tempo, compreendeu que fora parte de sua vida. E isso deixou-a orgulhosa. A Folha
pousou num monte de neve. Estava macio, até mesmo aconchegante. Naquela nova posição,
a Folha estava mais confortável do que jamais se sentira.
Ela fechou os olhos e adormeceu. Não sabia que a primavera se seguiria ao inverno, que a
neve se derreteria e viraria água. Não sabia que a folha que fora, seca e aparentemente
inútil, se juntaria com a água e serviria para tornar a árvore mais forte. E, principalmente,
não sabia que ali, na árvore e no solo, já havia planos para novas folhas de primavera.
Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/amizade/historia-de-uma-folha-
leo-buscaglia/?PHPSESSID=5d786b78efb4bf623054787cadb133b5#ixzz2WPL3Ixko
Vo Nana e Neta moravam juntas há muito, muito tempo.
Elas compartilhavam tudo, inclusive as tarefas.
Todos os dias Neta cortava a lenha enquanto Vó Nana limpava as cinzas do fogão.
Neta varria e Vó Naná espanava.
Vó Nana arrumava as camas enquanto neta estendia a roupa.
Neta fazia o mingau, o chá e as torradas para o café da manhã.
Vó Nana picava as cenouras e nabos para o almoço.
E juntas, Vó Nana e Neta preparavam seu jantar de milho e aveia.
Neta sempre dizia o quanto detestava milho e aveia mas, Vó Nana dizia que, enquanto ela
fosse viva Neta haveria de comer milho e aveia tos os dias pois era muito bom pra saúde.
Por isso, Neta parou de reclamar. Ela comeria milho e aveia no café, almoço e jantar se
com isso, Vó Nana fosse viver para sempre.
Um dia, Vó Nana não se levantou como de costume para tomar o café da manhã.
- Estou me sentindo cansada – ela disse – Acho que vou tomar o café na cama hoje.
- Mas você nunca come na cama! – exclamou Neta – Você não gosta de migalhas de pão
nos seus lençóis.
- Estou cansada. – Vó Nana repetiu.
E quando Neta trouxe a bandeja com o mingau, a torrada e o chá, Vó Nana estava
dormindo e continuou assim durante o almoço e o jantar também.
Enquanto Vó Naná dormia, Neta cortou lenha, limpou as cinzas do fogão, varreu, espanou,
estendeu a roupa e arrumou sua cama. Ela tentou assobiar enquanto trabalhava, mas tudo
o que conseguiu fazer foi soltar um fraco “óinc”.
Na manhã seguinte, Vó Nana ainda estava cansada, mas, com muito esforço se levantou.
Comeu uma colher de mingau, um pedaço de torrada e tomou um gole de chá.
- Isso não é suficiente nem para alimentar uma andorinha. Quanto mais uma porca adulta
como você – ralhou Neta fazendo uma cara de zangada.
Mas Vó Nana só fechou os olhos por um instante, depois levantou-se pegou o chapéu e a
bolsa.
- Tenho muito oque fazer hoje – ela disse – Tenho de estar preparada.
- Preparada para quê? – perguntou Neta.
Vó Nana não respondeu, nem precisava. Neta já sabia a resposta e isso fez com que ela
sentisse uma enorme vontade de chorar.
Vó Nana devolveu os livros à biblioteca e não pegou mais nenhum emprestado. Ela foi ao
banco, retirou todo o seu dinheiro e fechou sua conta.
Depois foi ao armazém e pagou o que devia. Pagou também as contas da luz, do
Verdureiro e da lenha.
Quando chegou em casa enfiou o resto do dinheiro na bolsa de Neta.
- Guarde-o bem e gaste com cuidado.
- Sim Vó. – falou Neta tentando sorrir mas, com os lábios tremendo.
- Pronto, pronto. Nada de lágrimas. – disse Vó Nana abraçando-a.
- Eu prometo. – disse Neta mas, era a promessa mais difícil que ela já fizera na vida.
- Agora, - falou Vó Nana – quero me fartar.
- Seu apetite voltou? – perguntou Neta toda esperançosa.
- Não sinto fome de comida. Quero passear lentamente pela cidade e me fartar de olhar as
árvores, as flores, o céu, tudo!
E assim, Vó Nana e Neta saíram passeando tranquilamente pela cidade.
De vez em quando, Vó Nana tinha de parar para descansar. Mas não parava de olhar.
Apreciar, escutar, cheirar e saborear.
- Veja! Olhe como a luz brilha sobre as folhas!
- Veja! Olhe como as nuvens lá no céu parecem se juntar para fofocar!
- Olhe! Está vendo como o jardim se reflete na lagoa?
- Está ouvindo os periquitos discutindo?
- Está sentindo o perfume da terra molhada?
- Vamos experimentar a chuva?
Já era tarde quando Vó Nana e Neta voltaram pra casa.
Vó Nana estava tão cansada que Neta levou-a direto pra cama.
Neta preparou um pote de milho e aveia e comeu tudinho. Depois lavou e guardou a louça.
Então ela entrou no quarto de Vó Nana que ainda não estava dormindo.
Neta sentou-se ao seu lado na cama e perguntou: - Você se lembra quando eu era
pequena e tinha um pesadelo e você deitava na minha cama e me abraçava bem forte?
- Lembro. – respondeu Vó Nana.
- Pois hoje eu gostaria de deitar na sua cama e abraça-la bem forte. Posso?
- Claro que pode. – respondeu Vó Nana.
Então Neta apagou as luzes e abriu a janela para que entrasse o ar fresco e abriu as
cortinas para que entrasse o luar.
Depois, deitou-se na cama de Vó Nana, apertou-a em seus braços e, pela última vez, Vó
Nana e Neta ficaram bem abraçadinhas até o dia clarear.
A MONTANHA ENCANTADA DOS GANSOS SELVAGENS
Havia, certa vez, um bando de gansos selvagens….É preciso dizer que eram
selvagens, para não confundir com os gansos domésticos.
Gansos domésticos têm medo de voar, não gostam das alturas, preferem viver
fechados em cercadinhos de tela, desde que seus donos lhes dêem milho e verdura
picada.
Ah! Como são diferentes os gansos selvagens.
Não sabem o que é ser bicho de um dono. São livres.
Voam muito alto. Viajam para lugares desconhecidos, distantes, ainda que isso seja
perigoso…. São mais magros: devem ser livres para poder voar. E os seus olhos
são diferentes.
É que eles viram estrelas e pores-do-sol que os gansos domésticos não podem ver.
Nossos gansos eram selvagens.
Viviam livres, sem dono, numa linda planície. Havia florestas, e o cheiro das
árvores, pelas manhãs, era gostoso. Seus companheiros eram os outros bichos que
amam a liberdade: veados, esquilos, sabiás, pintassilgos, borboletas, abelhas….
No centro da planície havia um lago.
Era ali que os gansos brincavam. Era ali que eles ficavam mais bonitos. Todo o
mundo sabe que os gansos são desajeitados, bamboleantes e engraçados na terra
firme. Mas na água ficam serenos e calmos, como os navios….
Lá viviam eles, alimentando-se de bichinhos e brotos tenros de verdura. Botavam
seus ovinhos, chocavam gansinhos e os gansinhos cresciam….
MAS NEM TUDO ERA BOM. NADA É PERFEITO.
Às vezes o calor era demais. Ou frio demais. E havia os caçadores, com suas
espingardas, dando tiros, rindo quando uma ave morria…
Foi ali que nasceu um gansinho, bem pequeno, menor que um ovo. Tinha de ser.
Pois é dentro dos ovos que as gansas botam, que os gansinhos se formam, a pouco
e pouco.
Seu pai lhe contou no ouvido, como num segredo, o nome que havia escolhido para
ele.
Não…..não foi Roberto, nem Ricardo, nem Dirceu….Foi Cheiro-de-Jasmim."Porque
todo mundo que sente o cheiro de jasmim sorri, feliz… Quero que meu filho seja
feliz…..quero que ele faça os outros felizes", disse o papai Ganso.
"SE O PAI AMA O FILHO, o nome do filho deve ser algo que o pai TIRA DO FUNDO
DE SEU CORAÇÃO."
Havia muitos nomes lindos de gansos: Chuva-e-tarde-de-verão….Sombra-de-
árvore…..Liberdade….Vôo-Alto….Amigo…..Brilho-da-lua, etc…
Cheiro-de-Jasmim cresceu como todos os outros gansinhos. Não fez nada diferente.
Aprendeu a andar, aprendeu a nadar, experimentou o calor e teve que se abrigar
do frio, tremeu de medo ao ouvir o barulho das armas dos caçadores…. MAS HAVIA
ALGO DE MUITO ESPECIAL…..Ele gostava das horas que todos os gansos se
reuniam, quando o sol ia se pondo…..
O sol se refletia, dentro do lago. Parecia uma fogueira….E Cheiro-de-Jasmim não
entendia por que é que a água do lago não apagava o fogo do sol, lá no seu
fundo….
Esta era a hora em que os velhos se punham a contar estórias. E falavam
especialmente das montanhas mágicas…..
MONTANHAS MÁGICAS. Elas podem ser vistas lá longe, justo onde o sol estava se
pondo. Eram altas, misteriosas, encantadas, A primavera durava sempre..não havia
calor nem frio demais.
E havia um fruto encantado, vermelho como o sol e que, se comido, fazia com que
os gansos fossem jovens para sempre.
Até os velhos e aleijados voltavam a ter os corpos de outrora, perfeitos, fortes,
belos…..E, sobretudo, lá não havia caçadores.
- Se as montanhas mágicas são tão maravilhosas, por que é que não nos mudamos
para lá? – perguntou Cheiro-de-Jasmim.
- É que elas são altas demais – respondeu o velho ganso, contador de estórias.
Para se chegar até lá, o corpo tem que ficar leve, muito leve…..é preciso ser como
uma libélula……..um papagaio flutuando ao vento…..Somos pesados
demais…..sabem por quê?
É QUE TEMOS MEDO DE TANTA COISA. É O MEDO QUE NOS FAZ PESADOS.E
PORQUE SOMOS PESADOS FICAMOS COM AS CARAS TRISTES…CANSADAS….Quem
tem cara triste não pode voar….mas quando o tempo vai passando, os gansos vão
ficando leves, até que chega o dia do grande vôo….
Cheiro-de-Jasmim olhou para o seu pai.
Olhava este, para as montanhas encantadas. Já não havia mais o brilho do sol. Mas
o brilho da lua as tornava mais belas ainda.
E ele notou que seu pai, outrora pesado e sério, estava ficando mais leve. Pela
primeira vez ele sentiu uma tristeza de pensar que, um dia, eles se separariam.
Mas, por que partir, se a vida é tão boa?
- É NECESSÁRIO PARTIR PARA CONTINUAR A VIVER, respondeu o velho ganso,
adivinhando os pensamentos que passavam pela cabecinha de Cheiro-de-Jasmim….
- Quando se fica mais leve, fica difícil viver aqui. A comida, muito pesada, faz mal.
O ar, muito pesado, faz mal. O frio dói nos pulmões. As coisas mais leves são mais
belas e sobem mais.
Mas são mais frágeis. Precisam de um ar diferente. E por isso é necessário partir
para as montanhas encantadas…
UM DIA O CORAÇÃO DIZ QUE É PRECISO PARTIR PARA CONTINUAR A VIVER.
Quando isso acontece, chegou a hora da DESPEDIDA….
O tempo passou.
Cheiro-de-Jasmim cresceu. Vieram seus filhos. Ele ficou pesado como todos os
outros. Enquanto isso seu pai ficava mais leve….
Até que chegou o dia do adeus. Nada mais segurava aquele ganso, mais selvagem
e mais leve do que nunca.
Estava pronto para a viagem misteriosa.
Claro que havia algo que o prendia. O AMOR PELO LUGAR, O AMOR POR TODOS….E
especialmente, o amor por Cheiro-de-Jasmim. Como ele o amava!……
Cheiro-de-Jasmim chegou-se ao pai, abraçou-o e perguntou:
- Quando você partir, vai sentir saudades?
O velho ganso se calou.
Cheiro-de-Jasmim continuou:
- Não chore…..eu vou abraçar você….
E assim, ficaram juntos, muito tempo, pensando que a vida era tão boa, tão
bonita… O vento veio de mansinho, sem nenhum barulho. O velho ganso nem
precisou bater as asas. Ele estava leve, leve…. e ele partiu para a montanha
encantada.
Todos se reuniram, como sempre faziam quando isso acontecia….Todos falavam da
saudade e choravam…..
O mundo já não era o mesmo….
Mas Cheiro-de-Jasmim podia jurar haver ouvido os risos de seu pai, tais como
ouvira muitos anos atrás, quando era jovem e belo."
Rubem Alves
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Acolher o enlutado na pré-escola

  • 1. Objetivo Acolher o enlutado. Ano Pré-escola. Tempo estimado De 15 a 30 minutos, quando morrer um parente de uma criança, um membro da equipe escolar ou alguém conhecido de todos. Desenvolvimento Aproxime-se com delicadeza, sem intervir diretamente e sem forçar o enlutado a abraçar, falar ou participar de atividades. Mas não o deixe sozinho. O importante é ele perceber que há uma pessoa adulta atenta ao seu sofrimento. Mais do que dizer algo para consolá-lo, deixe que ele expresse suas emoções e só ouça. Se a criança fizer perguntas, seja o mais objetivo possível. Diga o que realmente aconteceu, com as palavras certas, e não use eufemismos como foi viajar, está dormindo ou foi para o céu. Pergunte se ela quer contar aos colegas o que aconteceu ou prefere que você o faça. Nas duas hipóteses, reúna todos em roda e, depois de comunicado o fato, pergunte se alguém já passou pela mesma situação. A troca de experiência conforta e é um incentivo para deixar aflorar os sentimentos. Sugira que a turma chame esse colega para brincar, mas sem insistir. Leve filmes como Bambi e O Rei Leão para a sala. Depois, dê lápis de cor ou giz de cera para que todos desenhem algo sobre o que sentiram diante das cenas de morte. Incentive os comentários e opiniões. Em caso de haver agressão por parte do enlutado, deixe claro a ele que todos entendem e respeitam sua dor, mas que isso não lhe dá o direito de agir com violência e descontar nos colegas. Quando falecer alguém conhecido (artista ou pessoa importante na comunidade), não perca a oportunidade de conversar sobre o assunto. Explique o que é um cemitério, por que as pessoas são enterradas, por que os vivos visitam os mortos no feriado de Finados, o que é um velório etc. Se a escola perder um funcionário ou professor, organize um ritual de homenagem com a participação de todos. A cerimônia pode ser simples, como o plantio de uma árvore. Assim, sempre que alguém olhar para ela poderá lembrar com carinho de quem se foi. Em sala, sugira fazer um desenho (coletivo ou individual) ou pensar em algumas palavras que poderiam ser ditas para a pessoa. Se a perda foi de um familiar da criança sugira que ela, se quiser, leve uma foto para a escola. Isso pode diminuir o desconforto da ausência. Se ela chorar muito, explique aos colegas dela o motivo. Oriente-os como agir quando se vê alguém aos prantos: ficar perto e oferecer ajuda ou um lenço de papel. Incentive-os a
  • 2. falar da tristeza e da raiva que surgem pela perda ou do que cada um sentiu quando alguém morreu. Nunca reprima ou tente conter o choro, pois as emoções fazem parte da vida e precisam ser expressadas. http://revistaescola.abril.com.br/online/planosdeaula/educacao- infantil/PlanoAula_283516.shtml Um farol só meu Se vieres a minha casa, da janela do meu quarto verás o mar, a praia e muitos barcos de pesca. Um deles, o mais bonito, é o do meu papá. O meu papá é pescador. Quando regressa, traz sempre muito peixe, e a minha mamã apressa-se a ir vendê-lo. — As pessoas gostam de peixe fresquinho — diz ela. Na sala, debaixo do quadro com os nós, está a minha fotografia preferida: o papá, a mamã, e eu no meio. Por vezes, o meu papá parte durante vários dias, quando o peixe está muito longe, e eu sonho com o mar. Às vezes são sonhos feios em que o mar está mau, e o meu papá está sozinho no barco… Eu acordo com muito, muito medo. Hoje foi uma dessas noites; fui a correr ter com a minha mamã e contei-lhe o meu sonho mau. Ela falou-me dos faróis, como eles ajudam os pescadores, e deu-me um livro para ver, com muitas imagens de faróis. Eu acho que ela também tem medo. Passei muito tempo a ver todas aquelas imagens: faróis grandes, faróis pequenos, faróis coloridos… Vocês sabiam que há pessoas que vivem em faróis? Eu gostava de viver num farol, para ajudar o meu papá a voltar para casa. Vou construir eu mesma um farol! O maior e mais alto farol do mundo! Pedirei ajuda aos meus brinquedos preferidos e vamos todos trazer de volta o meu papá. Os brinquedos ficaram contentíssimos com a novidade, mesmo o Ronaldo, o meu preguiçoso pato amarelo. Incansáveis, durante horas arrastámos e sobrepusemos os cubos de madeira que me foram dados pela tia Joaninha. Já estava tão alto que saía pela janela. Subi… Subi… passei pelas nuvens, e continuei a subir até chegar perto da estrela mais brilhante, aquela que a mamã disse que era só para mim… Pedi-lhe para se sentar no meu colo e ajudar-me. Ela sentou-se, e ajudou-me. Estava agora em cima do meu farol, com a minha estrela ao colo.
  • 3. Por muito longe que estivesse o meu papá, por muito escuro que fosse… não poderia deixar de ver a minha luz, o farol que eu tinha construído só para ele. Se hoje o meu papá chegar a casa, da janela do meu quarto verá o mar, a praia e muitos barcos de pesca… E o meu farol de amor. Francisco Cunha Um farol só meu Porto, Ambar, 2004 Adaptação Onde está o Jaime? Certo dia, na escola, a carteira do Jaime estava vazia. O Jaime não era desses meninos que ficam na cama por causa de uma gripe ou de uma queda. Não era desses meninos que arranjam desculpas para ficar na cama. O Jaime adorava a escola. Gostava de participar em tudo. Mas o melhor de tudo era que o Jaime gostava de cultivar plantas. Tinha sempre alguma coisa a crescer num vaso ou um pacote de sementes no bolso. Se fosse mandado embora da aula de Matemática, por estar a conversar, escapava-se sempre para ajudar o jardineiro. Mas o Jaime nunca faltava à escola. Aquilo era muito, muito estranho. No dia seguinte, a carteira do Jaime estava outra vez vazia. … e no outro dia a seguir também. Quando, no final da semana, a carteira dela ainda estava vazia, Milly, Molly e todos os amigos do Jaime estavam mesmo muito preocupados. Sentiram-se reconfortados, quando a Professora Adelaide lhes disse que o Jaime devia estar com papeira ou com sarampo. Todos esperavam que ele voltasse depressa para a sua carteira. Mas, certa manhã, a Professora Adelaide parecia diferente. Sentou-se na pequena cadeira, no meio da sala, e pediu a todos que se juntasse à volta dela.
  • 4. Explicou com voz suave que o Jaime não ia voltar à escola. Baixinho, contou-lhes que o Jaime tinha sido levado para o hospital e que tinha morrido, em paz, durante a noite. A Professora Adelaide abriu os braços à volta deles e todos choraram. A Professora Adelaide não se importou com as lições de Matemática e de Gramática desse dia. E ninguém teve vontade de cantar ou de brincar durante o recreio. A Professora Adelaide queria conversar com os seus alunos, responder às suas perguntas e dar-lhes muitos abraços. Milly e Molly sentiram-se tristes ao ver a carteira vazia do Jaime. Mas também não queriam que a Professora Adelaide a tirasse dali. Decidiram colocar um ramo de flores na carteira do Jaime e isso ajudou, durante algum tempo. Todos levavam flores dos seus jardins e mantinham o ramo do Jaime sempre muito bonito. Quando todos estavam preparados, retiraram a carteira do Jaime. Milly e Molly arrumaram, com muito cuidado, os livros e os objectos do Jaime numa caixa, para a mãe dele levar. Num cantinho da carteira do Jaime, no meio dos lápis e canetas, Milly e Molly encontraram um pacote de sementes. Com o acordo da mãe do Jaime, Milly e Molly colocaram as sementes no jardim da escola, num dia quente e cheio de sol. Regaram e esperaram… e esperaram e regaram. Ao décimo segundo dia, uma fila de pequenas plantas verdes começou a romper o solo. Lentamente, todos os dias iam crescendo. De repente, a planta do meio tornou-se muito mais alta. Cresceu tanto, que teve de ser atada à vedação. E depois, como se fosse milagre, de um dia para o outro… floriu um grande girassol com uma face redonda e risonha! Milly, Molly e todos os amigos do Jaime ficaram muito contentes. O Jaime estava de volta, no meio de todos os seus amigos.
  • 5.
  • 6. História de uma folha Era uma vez uma folha, que crescera muito. A parte intermediária era larga e forte, as cinco pontas eram firmes e afiladas. Surgira na primavera, como um pequeno broto num galho grande, perto do topo de uma árvore alta. A Folha estava cercada por centenas de outras folhas, iguais a ela. Ou pelo menos assim parecia. Mas não demorou muito para que descobrisse que não havia duas folhas iguais, apesar de estarem na mesma árvore. Alfredo era a folha mais próxima. Mário era a folha à sua direita. Clara era a linda folha por cima. - Todos haviam crescido juntos. Aprenderam a dançar à brisa da primavera, esquentar indolentemente ao sol do verão, a se lavar na chuva fresca. Mas Daniel era seu melhor amigo. Era a folha maior no galho e parecia que estava lá antes de qualquer outra. A Folha achava que Daniel era também o mais sábio. Foi Daniel quem lhe contou que eram parte de uma árvore. Foi Daniel quem explicou que estavam crescendo num parque público. Foi Daniel quem revelou que a árvore tinha raízes fortes, escondidas na terra lá embaixo. Foi Daniel quem falou dos passarinhos que vinham pousar no galho e cantar pela manhã. Foi Daniel quem contou sobre o sol, a lua, as estrelas e as estações. A primavera passou. E o verão também. Fred adorava ser uma folha. Amava o seu galho, os amigos, o seu lugar bem alto no céu, o vento que o sacudia, os raios do sol que o esquentavam, a lua que o cobria de sombras suaves. O verão fora excepcionalmente ameno. Os dias quentes e compridos eram agradáveis, as noites suaves eram serenas e povoadas por sonhos. Muitas pessoas foram ao parque naquele verão. E sentavam sob as árvores. Daniel contou à Folha que proporcionar sombra era um dos propósitos das árvores. - O que é um propósito? - perguntou a Folha. - Uma razão para existir - respondeu Daniel. - Tornar as coisas mais agradáveis para os outros é uma razão para existir. Proporcionar sombra aos velhinhos que procuram escapar do calor de suas casas é uma razão para existir. A Folha tinha um encanto todo especial pelos velhinhos. Sentavam em silêncio na relva fresca, mal se mexiam. E quando conversavam eram aos sussurros, sobre os tempos passados. As crianças também eram divertidas, embora às vezes abrissem buracos na casa da árvore ou esculpissem seus nomes. Mesmo assim, era divertido observar as crianças. Mas o verão da Folha não demorou a passar. E chegou ao fim numa noite de inverno. A Folha nunca sentira tanto frio. Todas as outras folhas estremeceram com o frio. Ficaram todas cobertas por uma camada fina de branco, que num instante se derreteu e deixou-as encharcadas de orvalho, faiscando ao sol. Mais uma vez, foi Daniel quem explicou que haviam experimentado a primeira geada, o sinal que era o inverno que estava chegando. - Por que ficamos com cores diferentes, se estamos na mesma árvore? - perguntou a Folha. - Cada um de nós é diferente. Tivemos experiências diferentes. Recebemos o sol de maneira
  • 7. diferente. Projetamos a sombra de maneira diferente. Por que não teríamos cores diferentes? Foi Daniel, como sempre, quem falou. E Daniel contou ainda que aquela estação maravilhosa se chamava inverno. E um dia aconteceu uma coisa estranha. Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/amizade/historia-de-uma-folha- leo-buscaglia/?PHPSESSID=5d786b78efb4bf623054787cadb133b5#ixzz2WPKwR074 A mesma brisa que, no passado, os fazia dançar começou a empurrar e puxar suas hastes, quase como se estivesse zangada. Isso fez com que algumas folhas fossem arrancadas de seus galhos e levadas pela brisa, reviradas pelo ar, antes de caírem suavemente ao solo. Todas as folhas ficaram assustadas. - O que está acontecendo? - perguntaram umas às outras, aos sussurros. - É isso que acontece no inverno - explicou Daniel - É o momento em que as folhas mudam de casa. Algumas pessoas chamam isso de morrer. - E todos nós vamos morrer?- perguntou Folha - Vamos sim - respondeu Daniel - tudo morre. Grande ou pequeno, fraco ou forte, tudo morre. Primeiro cumprimos a nossa missão. Experimentamos o sol e a lua, o vento e a chuva. Aprendemos a dançar e a rir. E, depois morremos. - Eu não vou morrer! - exclamou Folha, com determinação - Você vai, Daniel? - Vou sim... Quando chegar meu momento. - E quando será isso? - Ninguém sabe com certeza. - respondeu Daniel A Folha notou que as outras folhas continuavam a cair. E pensou: "Deve ser o momento delas". Ela viu que algumas folhas reagiam ao vento, outras simplesmente se entregavam e caíam suavemente Não demorou muito para que a árvore estivesse quase despida. - Tenho medo de morrer. - disse Folha a Daniel - Não sei o que tem lá embaixo. - Todos temos medo do que não conhecemos. Isso é natural. - disse Daniel para animá-la - Mas você não teve medo quando a primavera se transformou em verão. E também não teve medo quando o verão se transformou em outono. Eram mudanças naturais. Por que deveria estar com medo da estação do inverno? - A árvore também morre? - perguntou - Para onde vamos quando morrermos? - Ninguém sabe com certeza... É o grande mistério. - Voltaremos na primavera? - Talvez não, mas a Vida voltará. - Então qual é a razão para tudo isso? - insistiu a Folha - Por que viemos pra cá, se no fim teríamos de cair e morrer? Daniel respondeu no seu jeito calmo de sempre: - Pelo sol e pela lua. Pelos tempos felizes que passamos juntos. Pela sombra, pelos velhinhos, pelas crianças. Pelas cores do outono, pelas estações. Não é razão suficiente? Ao final daquela tarde, na claridade dourada do crepúsculo, Daniel se foi. E caiu a flutuar. Parecia sorrir enquanto caía. - Adeus por enquanto. disse ele à Folha. E depois, a Folha ficou sozinha, a única folha que restava no galho. A primeira neve caiu na manhã seguinte. Era macia, branca e suave. Mas era muito fria. Quase não houve sol naquele dia... E foi um dia muito curto. A Folha se descobriu a perder a cor, a ficar cada vez mais frágil. Havia sempre frio e a neve passava sobre ela. E quando amanheceu veio vento
  • 8. que arrancou a Folha de seu galho. Não doeu. Ela sentiu que flutuava no ar, muito serena. E, enquanto caía, ela viu a árvore inteira pela primeira vez. Como era forte e firme! Teve a certeza de que a árvore viveria por muito tempo, compreendeu que fora parte de sua vida. E isso deixou-a orgulhosa. A Folha pousou num monte de neve. Estava macio, até mesmo aconchegante. Naquela nova posição, a Folha estava mais confortável do que jamais se sentira. Ela fechou os olhos e adormeceu. Não sabia que a primavera se seguiria ao inverno, que a neve se derreteria e viraria água. Não sabia que a folha que fora, seca e aparentemente inútil, se juntaria com a água e serviria para tornar a árvore mais forte. E, principalmente, não sabia que ali, na árvore e no solo, já havia planos para novas folhas de primavera. Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/amizade/historia-de-uma-folha- leo-buscaglia/?PHPSESSID=5d786b78efb4bf623054787cadb133b5#ixzz2WPL3Ixko Vo Nana e Neta moravam juntas há muito, muito tempo. Elas compartilhavam tudo, inclusive as tarefas. Todos os dias Neta cortava a lenha enquanto Vó Nana limpava as cinzas do fogão. Neta varria e Vó Naná espanava. Vó Nana arrumava as camas enquanto neta estendia a roupa. Neta fazia o mingau, o chá e as torradas para o café da manhã. Vó Nana picava as cenouras e nabos para o almoço. E juntas, Vó Nana e Neta preparavam seu jantar de milho e aveia. Neta sempre dizia o quanto detestava milho e aveia mas, Vó Nana dizia que, enquanto ela fosse viva Neta haveria de comer milho e aveia tos os dias pois era muito bom pra saúde. Por isso, Neta parou de reclamar. Ela comeria milho e aveia no café, almoço e jantar se com isso, Vó Nana fosse viver para sempre. Um dia, Vó Nana não se levantou como de costume para tomar o café da manhã. - Estou me sentindo cansada – ela disse – Acho que vou tomar o café na cama hoje. - Mas você nunca come na cama! – exclamou Neta – Você não gosta de migalhas de pão nos seus lençóis. - Estou cansada. – Vó Nana repetiu. E quando Neta trouxe a bandeja com o mingau, a torrada e o chá, Vó Nana estava
  • 9. dormindo e continuou assim durante o almoço e o jantar também. Enquanto Vó Naná dormia, Neta cortou lenha, limpou as cinzas do fogão, varreu, espanou, estendeu a roupa e arrumou sua cama. Ela tentou assobiar enquanto trabalhava, mas tudo o que conseguiu fazer foi soltar um fraco “óinc”. Na manhã seguinte, Vó Nana ainda estava cansada, mas, com muito esforço se levantou. Comeu uma colher de mingau, um pedaço de torrada e tomou um gole de chá. - Isso não é suficiente nem para alimentar uma andorinha. Quanto mais uma porca adulta como você – ralhou Neta fazendo uma cara de zangada. Mas Vó Nana só fechou os olhos por um instante, depois levantou-se pegou o chapéu e a bolsa. - Tenho muito oque fazer hoje – ela disse – Tenho de estar preparada. - Preparada para quê? – perguntou Neta. Vó Nana não respondeu, nem precisava. Neta já sabia a resposta e isso fez com que ela sentisse uma enorme vontade de chorar. Vó Nana devolveu os livros à biblioteca e não pegou mais nenhum emprestado. Ela foi ao banco, retirou todo o seu dinheiro e fechou sua conta. Depois foi ao armazém e pagou o que devia. Pagou também as contas da luz, do Verdureiro e da lenha. Quando chegou em casa enfiou o resto do dinheiro na bolsa de Neta. - Guarde-o bem e gaste com cuidado. - Sim Vó. – falou Neta tentando sorrir mas, com os lábios tremendo. - Pronto, pronto. Nada de lágrimas. – disse Vó Nana abraçando-a. - Eu prometo. – disse Neta mas, era a promessa mais difícil que ela já fizera na vida. - Agora, - falou Vó Nana – quero me fartar. - Seu apetite voltou? – perguntou Neta toda esperançosa. - Não sinto fome de comida. Quero passear lentamente pela cidade e me fartar de olhar as árvores, as flores, o céu, tudo! E assim, Vó Nana e Neta saíram passeando tranquilamente pela cidade. De vez em quando, Vó Nana tinha de parar para descansar. Mas não parava de olhar. Apreciar, escutar, cheirar e saborear. - Veja! Olhe como a luz brilha sobre as folhas! - Veja! Olhe como as nuvens lá no céu parecem se juntar para fofocar! - Olhe! Está vendo como o jardim se reflete na lagoa? - Está ouvindo os periquitos discutindo? - Está sentindo o perfume da terra molhada? - Vamos experimentar a chuva? Já era tarde quando Vó Nana e Neta voltaram pra casa. Vó Nana estava tão cansada que Neta levou-a direto pra cama. Neta preparou um pote de milho e aveia e comeu tudinho. Depois lavou e guardou a louça. Então ela entrou no quarto de Vó Nana que ainda não estava dormindo. Neta sentou-se ao seu lado na cama e perguntou: - Você se lembra quando eu era pequena e tinha um pesadelo e você deitava na minha cama e me abraçava bem forte? - Lembro. – respondeu Vó Nana. - Pois hoje eu gostaria de deitar na sua cama e abraça-la bem forte. Posso? - Claro que pode. – respondeu Vó Nana. Então Neta apagou as luzes e abriu a janela para que entrasse o ar fresco e abriu as cortinas para que entrasse o luar. Depois, deitou-se na cama de Vó Nana, apertou-a em seus braços e, pela última vez, Vó Nana e Neta ficaram bem abraçadinhas até o dia clarear.
  • 10. A MONTANHA ENCANTADA DOS GANSOS SELVAGENS Havia, certa vez, um bando de gansos selvagens….É preciso dizer que eram selvagens, para não confundir com os gansos domésticos. Gansos domésticos têm medo de voar, não gostam das alturas, preferem viver fechados em cercadinhos de tela, desde que seus donos lhes dêem milho e verdura picada. Ah! Como são diferentes os gansos selvagens. Não sabem o que é ser bicho de um dono. São livres. Voam muito alto. Viajam para lugares desconhecidos, distantes, ainda que isso seja perigoso…. São mais magros: devem ser livres para poder voar. E os seus olhos são diferentes. É que eles viram estrelas e pores-do-sol que os gansos domésticos não podem ver. Nossos gansos eram selvagens. Viviam livres, sem dono, numa linda planície. Havia florestas, e o cheiro das árvores, pelas manhãs, era gostoso. Seus companheiros eram os outros bichos que amam a liberdade: veados, esquilos, sabiás, pintassilgos, borboletas, abelhas…. No centro da planície havia um lago. Era ali que os gansos brincavam. Era ali que eles ficavam mais bonitos. Todo o mundo sabe que os gansos são desajeitados, bamboleantes e engraçados na terra firme. Mas na água ficam serenos e calmos, como os navios…. Lá viviam eles, alimentando-se de bichinhos e brotos tenros de verdura. Botavam seus ovinhos, chocavam gansinhos e os gansinhos cresciam…. MAS NEM TUDO ERA BOM. NADA É PERFEITO. Às vezes o calor era demais. Ou frio demais. E havia os caçadores, com suas espingardas, dando tiros, rindo quando uma ave morria… Foi ali que nasceu um gansinho, bem pequeno, menor que um ovo. Tinha de ser. Pois é dentro dos ovos que as gansas botam, que os gansinhos se formam, a pouco e pouco. Seu pai lhe contou no ouvido, como num segredo, o nome que havia escolhido para ele. Não…..não foi Roberto, nem Ricardo, nem Dirceu….Foi Cheiro-de-Jasmim."Porque todo mundo que sente o cheiro de jasmim sorri, feliz… Quero que meu filho seja feliz…..quero que ele faça os outros felizes", disse o papai Ganso. "SE O PAI AMA O FILHO, o nome do filho deve ser algo que o pai TIRA DO FUNDO DE SEU CORAÇÃO."
  • 11. Havia muitos nomes lindos de gansos: Chuva-e-tarde-de-verão….Sombra-de- árvore…..Liberdade….Vôo-Alto….Amigo…..Brilho-da-lua, etc… Cheiro-de-Jasmim cresceu como todos os outros gansinhos. Não fez nada diferente. Aprendeu a andar, aprendeu a nadar, experimentou o calor e teve que se abrigar do frio, tremeu de medo ao ouvir o barulho das armas dos caçadores…. MAS HAVIA ALGO DE MUITO ESPECIAL…..Ele gostava das horas que todos os gansos se reuniam, quando o sol ia se pondo….. O sol se refletia, dentro do lago. Parecia uma fogueira….E Cheiro-de-Jasmim não entendia por que é que a água do lago não apagava o fogo do sol, lá no seu fundo…. Esta era a hora em que os velhos se punham a contar estórias. E falavam especialmente das montanhas mágicas….. MONTANHAS MÁGICAS. Elas podem ser vistas lá longe, justo onde o sol estava se pondo. Eram altas, misteriosas, encantadas, A primavera durava sempre..não havia calor nem frio demais. E havia um fruto encantado, vermelho como o sol e que, se comido, fazia com que os gansos fossem jovens para sempre. Até os velhos e aleijados voltavam a ter os corpos de outrora, perfeitos, fortes, belos…..E, sobretudo, lá não havia caçadores. - Se as montanhas mágicas são tão maravilhosas, por que é que não nos mudamos para lá? – perguntou Cheiro-de-Jasmim. - É que elas são altas demais – respondeu o velho ganso, contador de estórias. Para se chegar até lá, o corpo tem que ficar leve, muito leve…..é preciso ser como uma libélula……..um papagaio flutuando ao vento…..Somos pesados demais…..sabem por quê? É QUE TEMOS MEDO DE TANTA COISA. É O MEDO QUE NOS FAZ PESADOS.E PORQUE SOMOS PESADOS FICAMOS COM AS CARAS TRISTES…CANSADAS….Quem tem cara triste não pode voar….mas quando o tempo vai passando, os gansos vão ficando leves, até que chega o dia do grande vôo…. Cheiro-de-Jasmim olhou para o seu pai. Olhava este, para as montanhas encantadas. Já não havia mais o brilho do sol. Mas o brilho da lua as tornava mais belas ainda. E ele notou que seu pai, outrora pesado e sério, estava ficando mais leve. Pela primeira vez ele sentiu uma tristeza de pensar que, um dia, eles se separariam. Mas, por que partir, se a vida é tão boa? - É NECESSÁRIO PARTIR PARA CONTINUAR A VIVER, respondeu o velho ganso, adivinhando os pensamentos que passavam pela cabecinha de Cheiro-de-Jasmim…. - Quando se fica mais leve, fica difícil viver aqui. A comida, muito pesada, faz mal.
  • 12. O ar, muito pesado, faz mal. O frio dói nos pulmões. As coisas mais leves são mais belas e sobem mais. Mas são mais frágeis. Precisam de um ar diferente. E por isso é necessário partir para as montanhas encantadas… UM DIA O CORAÇÃO DIZ QUE É PRECISO PARTIR PARA CONTINUAR A VIVER. Quando isso acontece, chegou a hora da DESPEDIDA…. O tempo passou. Cheiro-de-Jasmim cresceu. Vieram seus filhos. Ele ficou pesado como todos os outros. Enquanto isso seu pai ficava mais leve…. Até que chegou o dia do adeus. Nada mais segurava aquele ganso, mais selvagem e mais leve do que nunca. Estava pronto para a viagem misteriosa. Claro que havia algo que o prendia. O AMOR PELO LUGAR, O AMOR POR TODOS….E especialmente, o amor por Cheiro-de-Jasmim. Como ele o amava!…… Cheiro-de-Jasmim chegou-se ao pai, abraçou-o e perguntou: - Quando você partir, vai sentir saudades? O velho ganso se calou. Cheiro-de-Jasmim continuou: - Não chore…..eu vou abraçar você…. E assim, ficaram juntos, muito tempo, pensando que a vida era tão boa, tão bonita… O vento veio de mansinho, sem nenhum barulho. O velho ganso nem precisou bater as asas. Ele estava leve, leve…. e ele partiu para a montanha encantada. Todos se reuniram, como sempre faziam quando isso acontecia….Todos falavam da saudade e choravam….. O mundo já não era o mesmo…. Mas Cheiro-de-Jasmim podia jurar haver ouvido os risos de seu pai, tais como ouvira muitos anos atrás, quando era jovem e belo." Rubem Alves http://www.slideshare.net/galegaencarnada/tempos-de-vida