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ESTRANHAMENTOS: REPRESENTAÇÕES SOBRE GÊNERO E ETNIA NO
                           FILME “A MASSAI BRANCA”


 Texto publicado nos Anais do II Congresso Nacional de Gênero e Representações
realizado no Centro de Educaçao da Universidade Estadual da Paraíba (junho de
                                          2011)


                                          Prof.ª Ms. Érica Patrícia Barbosa (CAp-UFPE)
                   Prof.ª Ms. Natália Barros (CAp-UFPE/ FUNDAJ/ NUPEGE-UFRPE)




Uma mulher em busca do desejo, descobrindo novos horizontes, saindo da monotonia
da cidade, assumindo o modo de gerir sua vida. Uma mulher disputando o poder com os
homens, desestabilizando uma tradição secular, desrespeitando a autoridade social e
historicamente estabelecida. Um guerreiro preso às tradições, numa sociedade
falocrática e patrilinear. Um guerreiro capaz de ser diferente, dividido entre a tradição e
o amor. Imagens, discursos, cores e sons do filme “A Massai Branca” contribuem na
construção de representações múltiplas e, por vezes, contraditórias sobre o encontro de
uma mulher suíça e de um homem Samburu. Povo originário de Núbia-Kush (região do
Médio Vale do Rio Nilo), os Samburu se estabeleceram ao norte do Monte Quênia e ao
sul do Lago Turkana, desde o século XV. Caracterizam-se por uma existência de
seminomadismo e a sua economia está baseada no pastoreio. Possuem uma linhagem
vinculada a dos massais, sendo confundidos com estes facilmente, como ocorre na
citada obra. O filme nos apresenta a etnia Samburu gerida por regras sociais que teriam
como base a necessidade do controle demográfico, como a circuncisão feminina e o
sexo anal. O objetivo desse texto é apresentar as representações sobre gênero e sobre
etnia que emergem das diferentes narrativas do filme e, simultaneamente, situar
geográfica e historicamente a etnia Samburu. Destacamos que a imagem
cinematográfica não ilustra nem reproduz a realidade, mas a reconstrói com base em
uma linguagem própria, produzida em determinado contexto histórico.
ESTRANHAMENTOS: REPRESENTAÇÕES SOBRE GÊNERO E ETNIA NO
                        FILME “A MASSAI BRANCA”


                                      Prof.ª Ms. Érica Patrícia Barbosa (CAp-UFPE)
                Prof.ª Ms. Natália Barros (CAp-UFPE/ FUNDAJ/ NUPEGE-UFRPE)




    1. “A Massai Branca”: aproximações


    Baseado no autobiográfico livro homônimo da suíça Corinne Hofmann, o filme
 “A Massai Branca”, uma produção alemã de 2005, dirigida por Hermine
 Huntgeburth, conta a história de Carola, uma jovem suíça que numa visita de férias
 ao Quênia, acompanhada de seu então namorado Stefan, tem a oportunidade de
 conhecer um guerreiro Samburu (na narrativa fílmíca nomeado de Massai). A cena
 que descreve o primeiro encontro da mulher branca com o negro africano mostra o
 olhar insistente de Carola sobre Lemalian, um olhar simultaneamente curioso e
 desejoso, retribuído, desde o começo, pelo jovem guerreiro. Enquanto a postura de
 Stefan é de reserva e apreensão, mesmo depois de Lemalian e seu companheiro
 salvarem o casal de um possível assalto, ao irem procurar maconha na periferia de
 Mombasa, a atitude de Carola é oposta; ela é extremamente simpática, receptiva e
 procura se aproximar ao máximo dos Samburu, saindo pra beber e dançar com os
 guerreiros, deixando o namorado no hotel. Embora estes saibam falar inglês, a
 convivência de Carola com os guerreiros é marcada por um silêncio profundo, uma
 ausência de diálogo, de troca de repertório. Carola, então, “quebra o gelo”
 chamando Lemalian pra dançar. É o momento em que percebemos que o diálogo
 entre esses sujeitos dar-se-á no plano corpóreo, no âmbito do carnal, o que os une é
 o desejo físico. A chegada de Stefan no bar interrompe abruptamente a atmosfera de
 envolvimento entre Carola e Lemalian e numa cena típica de ciúmes o namorado
 arrasta a jovem para o hotel.
    As próximas cenas mostram o gradativo distanciamento entre Carola e Stefan,
 culminando com a decisão da jovem de não embarcar com o namorado, decidida a
 ficar no Quênia e procurar Lemalian. Carola decide permanecer na África, abrindo
mão da estabilidade de sua vida na Suíça, sem consultas ou despedidas familiares.
Mas, será que essa decisão poderia ser apenas sua? O namorado de Carola, abalado,
revoltado e sem entender sua decisão afirma categoricamente: você quer sexo!
   Sem saber quase nada sobre Lemalian, Carola peregrina pelas ruas de Mombasa
com uma foto do guerreiro, a sua procura. Depois de muitas investidas, é orientada a
seguir para Maralal e procurar Elizabeth, mulher que poderia ajudá-la. Elizabeth,
como Carola, é branca, européia e casada com um homem queniano. É esta mulher
que explica a jovem o estilo de vida dos Samburu, povo que, segundo sua descrição,
não vive o futuro nem o passado. A mulher explica a Carola que ela deve esperar o
guerreiro, pois, ele saberá de sua permanência na cidade e somente a ele caberá a
decisão de ficarem juntos. Elizabeth também deixa clara a percepção dos massai
sobre as mulheres, para eles “as mulheres vem depois das cabras”, “o que você quer
não importa pra um Samburu”.
   Após longas semanas, finalmente, numa noite, Lemalian aparece e, sem
nenhuma troca de palavras, Carola o segue. Num pequeno quarto, sem nenhum
afago, eles tem sua segunda aproximação física, uma relação sexual anal, rápida e
intensa, com a visível extenuação do guerreiro, típica do pós-gozo masculino.
Carola, muda, perplexa, levanta, se veste e vai pra fora. O guerreiro a procura, ela
parece ter chorado. O que teria passado na cabeça de Carola após aquele sexo? Será
que se sentiu violentada? Terá sido um choro de dúvida e arrependimento por sua
decisão? Lemalian a interroga: “está tudo bem?” Carola afirma que sim, está tudo
bem. Lemalian, então, concretiza o momento tão esperado por Carola: ela ficará
com ele, seguirão para Barsaloi, povoado onde mora seu grupo étnico. As cenas
seguintes descreverão a convivência entre o casal, inseridos num ambiente
geográfico, social e cultural absolutamente diferente do mundo europeu de Carola.
   Aproximações superficiais, porém intensas, muito provavelmente guiadas pelo
desejo, direcionam a decisão do guerreiro e da jovem suíça. Ambos são sujeitos que
ousam experimentar a troca cultural, que parecem entender que antes de serem suíça
ou samburu, são homem e mulher, que amam, desejam, tem dúvidas e hesitações.
Mas, pode-se romper com a cultura na qual se está inserido? Conseguimos nos
desvencilhar dos papéis sociais que cada cultura constrói sobre o ser homem e ser
mulher? Até onde chega nossa alteridade, tolerância e capacidade de aprendizado
com a cultura do “outro”? Após meses de convivência com os Samburu e com
Lemalian, a certa altura do filme Carola afirma para Elizabeth: “Quanto mais fico
aqui, menos o compreendo”. O filme “A Massai Branca” mostrará as tentativas de
compreensão, não apenas de Carola, mas, de todos os envolvidos na narrativa, da
maneira de experimentarem relações sociais marcadas pelas diferenças culturais.


   2. Samburu: história e tradição

       Os Samburu descendem dos mesmos ancestrais dos massai, sendo
   confundidos com estes facilmente, como ocorre no filme “A Massai Branca”.
   Não há dúvida que a linguagem é similar, derivado do “Maa”. Os costumes são
   praticamente idênticos, mas é preciso assinalar uma característica peculiar dos
   Samburu: os seus guerreiros trazem argolas de marfim nas orelhas. Ainda é uma
   incógnita para os historiadores como a linhagem se separou. Os anciãos
   asseguram que os Samburu são originários de Núbia-Kush (região do Médio
   Vale do Rio Nilo, atual Sul do Sudão) e se estabeleceram ao norte do Monte
   Quênia e ao sul do Lago Turkana (mapa 1), na área do Vale do Rift Africanoi
   (mapa 2), desde o século XV. Caracterizam-se por uma existência de semi-
   nomadismo e a sua economia está baseada no pastoreio de cabras e vacas. Como
   na maioria dos povos pastores africanos, a carne é pouco consumida: só em
   cerimônias especiais, enterros, ritos, festas da circuncisão, casamentos, entre
   outras. Com exceção de animais mortos, naturalmente, doentes ou roubados. A
   dieta alimentar desta etnia está baseada no leite e, às vezes, o sangue de suas
   vacas, refletindo a dependência deste tipo de economia. O sangue é coletado
   através de uma pequena abertura na jugular do animal, após drenar o sangue
   necessário, a ferida é rapidamente selada com cinzas quentes. A dieta Samburu é
   complementada com as raízes, legumes e tubérculos.

       A província de Rift Valley, no Quênia, é caracterizada por uma terra árida e
   semi-árida. Sendo necessário que esta etnia desloque-se periodicamente para
   assegurar alimento fresco aos animais. Suas cabanas são construídas de barro,
   couro e tapetes de grama, amarrado sobre os pólos. Uma cerca espinhosa é
   construída em torno das cabanas para proteção de animais selvagens. Os
   barracos são construídos de modo que são facilmente desmontados, quando
   ocorre o movimento de Samburu para um novo local. Esse povo geralmente vive
   em grupo de cinco a dez famílias. Os homens cuidam do gado e também são
   responsáveis pela segurança do grupo. Os guerreiros defendem a tribo do ataque
de homens de outros grupos e de animais selvagens. Eles também vão tentar
invadir as terras de clãs rivais Samburu para levar o gado.

    Os meninos aprendem a cuidar do gado desde a mais tenra idade e também
são ensinados a caçar. As meninas geralmente ajudam as mães com seus
afazeres domésticos. Tanto as meninas como os meninos passam pela
circuncisão, numa cerimônia de iniciação que marca suas entradas na vida
adulta. As mulheres são responsáveis pela coleta de raízes, legumes e água,
cuidando das crianças. São também responsáveis pela manutenção das casas. A
lista de atividades da mulher Samburu inclui: Construir a casa e realizar longas
caminhadas para conseguir os materiais necessários; Fazer a manutenção da casa
no período mais úmido, utilizando material argiloso molhado misturado com
esterco de vaca; Tirar o leite da vaca; Monitorar e relatar ao marido as vacas
doentes e grávidas; Preparar comida para todos da casa, incluindo qualquer
visitante; Coletar água, lenha, raízes, ervas (para tratamento de doentes);
Certificar-se que o fogo não se apague, para preparação de alimentos e para o
aquecimento da casa; Lavar roupas; Fazer arte decorativa para ela, marido e
filhos, entre outras atividades.

    Outra marca dessa linhagem é ser um grupo étnico falocrático e patrilinear,
isto é baseado nos ditames da figura masculina. A poligamia e a gerontocracia
também caracteriza este grupo, sendo permitido ao homem casar-se com quantas
mulheres puder sustentar e os anciãos gerenciadores da estrutura social. Todos
esses aspectos são passíveis de identificação na citada película. Entretanto, de
uma forma geral, os povos africanos tem na ampliação do sistema de linhagem a
representação do poder, ou seja, pessoa é riqueza. Inclusive essa foi uma das
muitas dificuldades de compreensão dos povos europeus em relação aos
africanos da área Subsaariana, quando se depararam com os grupos étnicos
menos complexos do ponto de vista da organização social. Para os europeus a
propriedade privada da terra era o sinônimo de riqueza. No entanto, a obra nos
apresenta a etnia Samburu gerida por regras sociais que teriam como base a
necessidade do controle demográfico. Ações como a circuncisão feminina e o
sexo anal remetem a práticas que fundamentam o controle populacional. Tendo a
primeira, o objetivo de retirada do prazer feminino com a finalidade do “controle
da mulher”. Já a segunda teria como fim a prática do sexo sem a possibilidade de
procriação, sendo o sexo vaginal realizado quando este fosse o objetivo. Decisão
que caberia ao homem, já que para a mulher o prazer sexual foi usurpado. Sendo
uma sociedade de pastores, a necessidade de mão-de-obra é bastante reduzida
em relação aos grupos de vivem da agricultura.

   Conforme os costumes dos Samburu do Quênia, meninas são iniciadas no já
citado ritual de passagem, onde ocorre a retirada do clitóris, na preparação para o
casamento, geralmente com homens bem mais velhos, nos moldes tradicionais
das suas antepassadas. A vida das mulheres Samburu, de acordo com a tradição,
deve ser integralmente submissa ao pai e ao esposo.

   Muitas consequências do processo de colonização vem trazendo alterações
definitivas nos padrões culturais deste grupo étnico. Um exemplo destas
transformações foram os ataques de soldados ingleses sediados no Quênia, nas
proximidades onde vivem os Samburu. Estes realizavam exercícios militares nos
anos 80 e 90. Mais de cinqüenta mulheres foram estupradas pelos soldados
enquanto recolhiam a lenha. Apesar dos protestos e reivindicações destas
mulheres, que tinham como base o argumento de que foram violentadas pela
ineficácia da proteção dos homens, responsáveis tradicionalmente por conferir a
proteção das aldeias e das áreas de onde retiram a sobrevivência, as mulheres
foram ridicularizadas, espancadas e obrigadas a abandonar o grupo étnico.

   Inúmeras mulheres vítimas do patriarcalismo e das injustiças fundaram uma
vila que se tornou símbolo de abrigo contra o casamento forçado, do desprezo
após serem estupradas, da mutilação genital feminina, entre outras injustiças.
Vivem das atividades tradicionais, mas também da atividade turística agregada a
venda de artesanato Samburu.

   Tal como ocorre com muitas outras etnias da África Subsaariana, os
Samburu estão sob forte pressão de seu governo para se instalarem em povoados
permanentes. Eles tem resistido ao estabelecimento permanente, pois isto,
obviamente, iria alterar todo o seu modo de vida. As características naturais da
área em que vivem dificultam o cultivo, pois são áreas áridas e semi-áridas. Isto
significa que a etnia iria ficar dependente de ações governamentais para
complementação de renda. Uma vez que o status de riqueza da cultura Samburu
está atrelado a quantidade de gado que é dono, uma vida sedentária agrícola
destruiria a estrutura social em que este grupo está assentado. Alguns integrantes
   deste clã foram forçados a resolver a problemática enviando os homens adultos
   para as cidades para trabalhar como guardas. Este é um tipo de trabalho que
   evoluiu naturalmente por causa de sua forte reputação como guerreiros.




   3. Cinema e Práticas Discursivas sobre Gênero e Etnia


   O filme “A Massai Branca”, portador da linguagem cinematográfica, pode ser
entendido como prática discursiva, uma linguagem em ação (SPINK; MEDRADO,
2000). Por meio dessa linguagem a diretora Hermine Huntgeburth produz sentidos
sobre o feminino e o masculino, sobre a cultura européia e africana e posiciona-se
sobre as relações sociais trazidas nas cenas. A narrativa construída, enquanto prática
cultural e discursiva gera uma multiplicidade de representações e percepções sobre o
mundo e sobre ações dos sujeitos. É como mulher branca, feminista e diretora de
cinema, uma atividade ainda predominantemente masculina, que Huntgeburh
posiciona-se na elaboração da narrativa. No momento mesmo da sua escolha por
adaptar o livro ao cinema ela posiciona-se, ela toma o partido de Corinne e de
Carola. Podemos pensar que “A Massai Branca”, uma produção do começo do
século XXI, apresenta a potencialidade do feminino pós-feminista ao mostrar uma
mulher independente financeiramente e gerente de suas próprias decisões: ficar no
Quênia, seguir o Samburu, ter um carro e abrir um negócio próprio em Barsaloi e,
até mesmo, decidir voltar a Europa levando sua filha, rompendo com a vida de
casada. No entanto, não podemos deixar de ressaltar a permanência do ideal de amor
romântico que perpassa a narrativa e se impregna como motor da vida de Carola.
Todas as decisões citadas como possíveis práticas de autonomia do sujeito mulher
no mundo, perdem força na narrativa ao nos depararmos com o ideal romântico de
Carola. Lemalian, um amor à primeira vista, não seria como na maioria das
narrativas tradicionais voltadas a educação do gênero feminino, o príncipe
encantado de Carola? Mais uma vez, não seria o masculino o condutor das decisões
das mulheres? Carola e Elizabeth, as personagens femininas de maior destaque no
filme, são mulheres que abandonam família, amigos e estilos de vida próprios, na
busca do homem dos sonhos. Acrescido esse ideal do amor romântico, da própria
percepção das personagens sobre a África, para elas, a terra pura, exótica e calma,
perfeita para construírem suas vidas.
   Destacamos que na contemporaneidade homens e mulheres são ditos e
representados visual e textualmente de maneira complexa, demonstrando-nos a
existência de singularidades, de peculiaridades na produção dos gêneros, mas,
também, a permanência de ideais sobre o feminino e masculino que persistem na
produção audiovisual. Segundo Roger Chartier, as representações são matrizes de
discursos e de práticas diferenciadas, que têm por objetivo a construção do mundo
social (CHARTIER, 1990). Assim, investigá-las supõe-nas como estando sempre
colocadas num campo de concorrência e de competições, dentro de relações de
poder. Entendemos as práticas discursivas do cinema, da imprensa, da publicidade,
como produtoras de múltiplas representações e práticas e como articuladas entre si,
aspirando à universalidade daquilo que projetam nas páginas e nas telas,
fortalecendo e unificando entendimentos sobre os gêneros, fragmentariamente
presentes no social. Pensamos ainda estas narrativas como um conjunto de palavras
que usamos para significar, nomear, instituir espacialidades e relações sociais que,
sem dúvida, descrevem, mas toda descrição é um ato culturalmente criador.
Narrativas que produzem alterações sociais, pois, emitem signos e produzem
significados (CERTEAU, 2004).
   Emblemático do poder instituidor de percepções sobre o mundo, no caso
específico do filme aqui analisado, do mundo africano, é a primeira cena, quando a
personagem começa a contar sua história. Carola aparece deitada, numa praia, a
imagem é invertida, o seu olhar é captado e mostra-se os coqueiros de cabeça pra
baixo, o mundo é modificado pelo olhar de Carola, invertendo a ordem da natureza e
do social. Sutilmente, “A Massai Branca” constrói a personagem Carola como o
elemento de mudança, de transformação e a cultura africana aparece marcada pela
permanência, pela falta de dinamismo e, principalmente, pela ausência da
capacidade de aceitar o novo. Em poucos momentos percebe-se a disponibilidade de
Lemalian em aprender com Carola. A maior parte da narrativa não demonstra a
potência criativa dos grupos africanos apresentados. Respeito à tradição não implica
necessariamente em congelamento social. É tudo muito mais complexo e
problemático e a narrativa cinematográfica, e até mesmo a científica, nem sempre
consegue captar.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano. Vol. 1. 10ª Ed. RJ:Vozes, 2004.
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. 2ª Ed. Lisboa:
Difel; RJ: Bertrand, 1990.
SPINK, Mary Jane; MEDRADO, Benedito. Produção de sentidos no cotidiano: uma
abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas. In: SPINK, Mary
Jane (org.) Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. 2ª Ed. São Paulo:
Cortez,

i
 O Vale do Rift Africano é um complexo de falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de anos com
a separação das placas tectônicas africana e arábica. Esta estrutura estende-se no sentido norte-sul por
cerca de 5000 km, desde o norte da Síria até ao centro de Moçambique, com uma largura que varia
entre 30 e 100 km e, em profundidade de algumas centenas a milhares de metros. O Vale da Grande
Fenda ou Rift Valley rasga no sentido vertical o Quênia.

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Representações de gênero e etnia no filme A Massai Branca

  • 1. ESTRANHAMENTOS: REPRESENTAÇÕES SOBRE GÊNERO E ETNIA NO FILME “A MASSAI BRANCA” Texto publicado nos Anais do II Congresso Nacional de Gênero e Representações realizado no Centro de Educaçao da Universidade Estadual da Paraíba (junho de 2011) Prof.ª Ms. Érica Patrícia Barbosa (CAp-UFPE) Prof.ª Ms. Natália Barros (CAp-UFPE/ FUNDAJ/ NUPEGE-UFRPE) Uma mulher em busca do desejo, descobrindo novos horizontes, saindo da monotonia da cidade, assumindo o modo de gerir sua vida. Uma mulher disputando o poder com os homens, desestabilizando uma tradição secular, desrespeitando a autoridade social e historicamente estabelecida. Um guerreiro preso às tradições, numa sociedade falocrática e patrilinear. Um guerreiro capaz de ser diferente, dividido entre a tradição e o amor. Imagens, discursos, cores e sons do filme “A Massai Branca” contribuem na construção de representações múltiplas e, por vezes, contraditórias sobre o encontro de uma mulher suíça e de um homem Samburu. Povo originário de Núbia-Kush (região do Médio Vale do Rio Nilo), os Samburu se estabeleceram ao norte do Monte Quênia e ao sul do Lago Turkana, desde o século XV. Caracterizam-se por uma existência de seminomadismo e a sua economia está baseada no pastoreio. Possuem uma linhagem vinculada a dos massais, sendo confundidos com estes facilmente, como ocorre na citada obra. O filme nos apresenta a etnia Samburu gerida por regras sociais que teriam como base a necessidade do controle demográfico, como a circuncisão feminina e o sexo anal. O objetivo desse texto é apresentar as representações sobre gênero e sobre etnia que emergem das diferentes narrativas do filme e, simultaneamente, situar geográfica e historicamente a etnia Samburu. Destacamos que a imagem cinematográfica não ilustra nem reproduz a realidade, mas a reconstrói com base em uma linguagem própria, produzida em determinado contexto histórico.
  • 2. ESTRANHAMENTOS: REPRESENTAÇÕES SOBRE GÊNERO E ETNIA NO FILME “A MASSAI BRANCA” Prof.ª Ms. Érica Patrícia Barbosa (CAp-UFPE) Prof.ª Ms. Natália Barros (CAp-UFPE/ FUNDAJ/ NUPEGE-UFRPE) 1. “A Massai Branca”: aproximações Baseado no autobiográfico livro homônimo da suíça Corinne Hofmann, o filme “A Massai Branca”, uma produção alemã de 2005, dirigida por Hermine Huntgeburth, conta a história de Carola, uma jovem suíça que numa visita de férias ao Quênia, acompanhada de seu então namorado Stefan, tem a oportunidade de conhecer um guerreiro Samburu (na narrativa fílmíca nomeado de Massai). A cena que descreve o primeiro encontro da mulher branca com o negro africano mostra o olhar insistente de Carola sobre Lemalian, um olhar simultaneamente curioso e desejoso, retribuído, desde o começo, pelo jovem guerreiro. Enquanto a postura de Stefan é de reserva e apreensão, mesmo depois de Lemalian e seu companheiro salvarem o casal de um possível assalto, ao irem procurar maconha na periferia de Mombasa, a atitude de Carola é oposta; ela é extremamente simpática, receptiva e procura se aproximar ao máximo dos Samburu, saindo pra beber e dançar com os guerreiros, deixando o namorado no hotel. Embora estes saibam falar inglês, a convivência de Carola com os guerreiros é marcada por um silêncio profundo, uma ausência de diálogo, de troca de repertório. Carola, então, “quebra o gelo” chamando Lemalian pra dançar. É o momento em que percebemos que o diálogo entre esses sujeitos dar-se-á no plano corpóreo, no âmbito do carnal, o que os une é o desejo físico. A chegada de Stefan no bar interrompe abruptamente a atmosfera de envolvimento entre Carola e Lemalian e numa cena típica de ciúmes o namorado arrasta a jovem para o hotel. As próximas cenas mostram o gradativo distanciamento entre Carola e Stefan, culminando com a decisão da jovem de não embarcar com o namorado, decidida a ficar no Quênia e procurar Lemalian. Carola decide permanecer na África, abrindo
  • 3. mão da estabilidade de sua vida na Suíça, sem consultas ou despedidas familiares. Mas, será que essa decisão poderia ser apenas sua? O namorado de Carola, abalado, revoltado e sem entender sua decisão afirma categoricamente: você quer sexo! Sem saber quase nada sobre Lemalian, Carola peregrina pelas ruas de Mombasa com uma foto do guerreiro, a sua procura. Depois de muitas investidas, é orientada a seguir para Maralal e procurar Elizabeth, mulher que poderia ajudá-la. Elizabeth, como Carola, é branca, européia e casada com um homem queniano. É esta mulher que explica a jovem o estilo de vida dos Samburu, povo que, segundo sua descrição, não vive o futuro nem o passado. A mulher explica a Carola que ela deve esperar o guerreiro, pois, ele saberá de sua permanência na cidade e somente a ele caberá a decisão de ficarem juntos. Elizabeth também deixa clara a percepção dos massai sobre as mulheres, para eles “as mulheres vem depois das cabras”, “o que você quer não importa pra um Samburu”. Após longas semanas, finalmente, numa noite, Lemalian aparece e, sem nenhuma troca de palavras, Carola o segue. Num pequeno quarto, sem nenhum afago, eles tem sua segunda aproximação física, uma relação sexual anal, rápida e intensa, com a visível extenuação do guerreiro, típica do pós-gozo masculino. Carola, muda, perplexa, levanta, se veste e vai pra fora. O guerreiro a procura, ela parece ter chorado. O que teria passado na cabeça de Carola após aquele sexo? Será que se sentiu violentada? Terá sido um choro de dúvida e arrependimento por sua decisão? Lemalian a interroga: “está tudo bem?” Carola afirma que sim, está tudo bem. Lemalian, então, concretiza o momento tão esperado por Carola: ela ficará com ele, seguirão para Barsaloi, povoado onde mora seu grupo étnico. As cenas seguintes descreverão a convivência entre o casal, inseridos num ambiente geográfico, social e cultural absolutamente diferente do mundo europeu de Carola. Aproximações superficiais, porém intensas, muito provavelmente guiadas pelo desejo, direcionam a decisão do guerreiro e da jovem suíça. Ambos são sujeitos que ousam experimentar a troca cultural, que parecem entender que antes de serem suíça ou samburu, são homem e mulher, que amam, desejam, tem dúvidas e hesitações. Mas, pode-se romper com a cultura na qual se está inserido? Conseguimos nos desvencilhar dos papéis sociais que cada cultura constrói sobre o ser homem e ser mulher? Até onde chega nossa alteridade, tolerância e capacidade de aprendizado com a cultura do “outro”? Após meses de convivência com os Samburu e com Lemalian, a certa altura do filme Carola afirma para Elizabeth: “Quanto mais fico
  • 4. aqui, menos o compreendo”. O filme “A Massai Branca” mostrará as tentativas de compreensão, não apenas de Carola, mas, de todos os envolvidos na narrativa, da maneira de experimentarem relações sociais marcadas pelas diferenças culturais. 2. Samburu: história e tradição Os Samburu descendem dos mesmos ancestrais dos massai, sendo confundidos com estes facilmente, como ocorre no filme “A Massai Branca”. Não há dúvida que a linguagem é similar, derivado do “Maa”. Os costumes são praticamente idênticos, mas é preciso assinalar uma característica peculiar dos Samburu: os seus guerreiros trazem argolas de marfim nas orelhas. Ainda é uma incógnita para os historiadores como a linhagem se separou. Os anciãos asseguram que os Samburu são originários de Núbia-Kush (região do Médio Vale do Rio Nilo, atual Sul do Sudão) e se estabeleceram ao norte do Monte Quênia e ao sul do Lago Turkana (mapa 1), na área do Vale do Rift Africanoi (mapa 2), desde o século XV. Caracterizam-se por uma existência de semi- nomadismo e a sua economia está baseada no pastoreio de cabras e vacas. Como na maioria dos povos pastores africanos, a carne é pouco consumida: só em cerimônias especiais, enterros, ritos, festas da circuncisão, casamentos, entre outras. Com exceção de animais mortos, naturalmente, doentes ou roubados. A dieta alimentar desta etnia está baseada no leite e, às vezes, o sangue de suas vacas, refletindo a dependência deste tipo de economia. O sangue é coletado através de uma pequena abertura na jugular do animal, após drenar o sangue necessário, a ferida é rapidamente selada com cinzas quentes. A dieta Samburu é complementada com as raízes, legumes e tubérculos. A província de Rift Valley, no Quênia, é caracterizada por uma terra árida e semi-árida. Sendo necessário que esta etnia desloque-se periodicamente para assegurar alimento fresco aos animais. Suas cabanas são construídas de barro, couro e tapetes de grama, amarrado sobre os pólos. Uma cerca espinhosa é construída em torno das cabanas para proteção de animais selvagens. Os barracos são construídos de modo que são facilmente desmontados, quando ocorre o movimento de Samburu para um novo local. Esse povo geralmente vive em grupo de cinco a dez famílias. Os homens cuidam do gado e também são responsáveis pela segurança do grupo. Os guerreiros defendem a tribo do ataque
  • 5. de homens de outros grupos e de animais selvagens. Eles também vão tentar invadir as terras de clãs rivais Samburu para levar o gado. Os meninos aprendem a cuidar do gado desde a mais tenra idade e também são ensinados a caçar. As meninas geralmente ajudam as mães com seus afazeres domésticos. Tanto as meninas como os meninos passam pela circuncisão, numa cerimônia de iniciação que marca suas entradas na vida adulta. As mulheres são responsáveis pela coleta de raízes, legumes e água, cuidando das crianças. São também responsáveis pela manutenção das casas. A lista de atividades da mulher Samburu inclui: Construir a casa e realizar longas caminhadas para conseguir os materiais necessários; Fazer a manutenção da casa no período mais úmido, utilizando material argiloso molhado misturado com esterco de vaca; Tirar o leite da vaca; Monitorar e relatar ao marido as vacas doentes e grávidas; Preparar comida para todos da casa, incluindo qualquer visitante; Coletar água, lenha, raízes, ervas (para tratamento de doentes); Certificar-se que o fogo não se apague, para preparação de alimentos e para o aquecimento da casa; Lavar roupas; Fazer arte decorativa para ela, marido e filhos, entre outras atividades. Outra marca dessa linhagem é ser um grupo étnico falocrático e patrilinear, isto é baseado nos ditames da figura masculina. A poligamia e a gerontocracia também caracteriza este grupo, sendo permitido ao homem casar-se com quantas mulheres puder sustentar e os anciãos gerenciadores da estrutura social. Todos esses aspectos são passíveis de identificação na citada película. Entretanto, de uma forma geral, os povos africanos tem na ampliação do sistema de linhagem a representação do poder, ou seja, pessoa é riqueza. Inclusive essa foi uma das muitas dificuldades de compreensão dos povos europeus em relação aos africanos da área Subsaariana, quando se depararam com os grupos étnicos menos complexos do ponto de vista da organização social. Para os europeus a propriedade privada da terra era o sinônimo de riqueza. No entanto, a obra nos apresenta a etnia Samburu gerida por regras sociais que teriam como base a necessidade do controle demográfico. Ações como a circuncisão feminina e o sexo anal remetem a práticas que fundamentam o controle populacional. Tendo a primeira, o objetivo de retirada do prazer feminino com a finalidade do “controle da mulher”. Já a segunda teria como fim a prática do sexo sem a possibilidade de
  • 6. procriação, sendo o sexo vaginal realizado quando este fosse o objetivo. Decisão que caberia ao homem, já que para a mulher o prazer sexual foi usurpado. Sendo uma sociedade de pastores, a necessidade de mão-de-obra é bastante reduzida em relação aos grupos de vivem da agricultura. Conforme os costumes dos Samburu do Quênia, meninas são iniciadas no já citado ritual de passagem, onde ocorre a retirada do clitóris, na preparação para o casamento, geralmente com homens bem mais velhos, nos moldes tradicionais das suas antepassadas. A vida das mulheres Samburu, de acordo com a tradição, deve ser integralmente submissa ao pai e ao esposo. Muitas consequências do processo de colonização vem trazendo alterações definitivas nos padrões culturais deste grupo étnico. Um exemplo destas transformações foram os ataques de soldados ingleses sediados no Quênia, nas proximidades onde vivem os Samburu. Estes realizavam exercícios militares nos anos 80 e 90. Mais de cinqüenta mulheres foram estupradas pelos soldados enquanto recolhiam a lenha. Apesar dos protestos e reivindicações destas mulheres, que tinham como base o argumento de que foram violentadas pela ineficácia da proteção dos homens, responsáveis tradicionalmente por conferir a proteção das aldeias e das áreas de onde retiram a sobrevivência, as mulheres foram ridicularizadas, espancadas e obrigadas a abandonar o grupo étnico. Inúmeras mulheres vítimas do patriarcalismo e das injustiças fundaram uma vila que se tornou símbolo de abrigo contra o casamento forçado, do desprezo após serem estupradas, da mutilação genital feminina, entre outras injustiças. Vivem das atividades tradicionais, mas também da atividade turística agregada a venda de artesanato Samburu. Tal como ocorre com muitas outras etnias da África Subsaariana, os Samburu estão sob forte pressão de seu governo para se instalarem em povoados permanentes. Eles tem resistido ao estabelecimento permanente, pois isto, obviamente, iria alterar todo o seu modo de vida. As características naturais da área em que vivem dificultam o cultivo, pois são áreas áridas e semi-áridas. Isto significa que a etnia iria ficar dependente de ações governamentais para complementação de renda. Uma vez que o status de riqueza da cultura Samburu está atrelado a quantidade de gado que é dono, uma vida sedentária agrícola
  • 7. destruiria a estrutura social em que este grupo está assentado. Alguns integrantes deste clã foram forçados a resolver a problemática enviando os homens adultos para as cidades para trabalhar como guardas. Este é um tipo de trabalho que evoluiu naturalmente por causa de sua forte reputação como guerreiros. 3. Cinema e Práticas Discursivas sobre Gênero e Etnia O filme “A Massai Branca”, portador da linguagem cinematográfica, pode ser entendido como prática discursiva, uma linguagem em ação (SPINK; MEDRADO, 2000). Por meio dessa linguagem a diretora Hermine Huntgeburth produz sentidos sobre o feminino e o masculino, sobre a cultura européia e africana e posiciona-se sobre as relações sociais trazidas nas cenas. A narrativa construída, enquanto prática cultural e discursiva gera uma multiplicidade de representações e percepções sobre o mundo e sobre ações dos sujeitos. É como mulher branca, feminista e diretora de cinema, uma atividade ainda predominantemente masculina, que Huntgeburh posiciona-se na elaboração da narrativa. No momento mesmo da sua escolha por adaptar o livro ao cinema ela posiciona-se, ela toma o partido de Corinne e de Carola. Podemos pensar que “A Massai Branca”, uma produção do começo do século XXI, apresenta a potencialidade do feminino pós-feminista ao mostrar uma mulher independente financeiramente e gerente de suas próprias decisões: ficar no Quênia, seguir o Samburu, ter um carro e abrir um negócio próprio em Barsaloi e, até mesmo, decidir voltar a Europa levando sua filha, rompendo com a vida de casada. No entanto, não podemos deixar de ressaltar a permanência do ideal de amor romântico que perpassa a narrativa e se impregna como motor da vida de Carola. Todas as decisões citadas como possíveis práticas de autonomia do sujeito mulher no mundo, perdem força na narrativa ao nos depararmos com o ideal romântico de Carola. Lemalian, um amor à primeira vista, não seria como na maioria das narrativas tradicionais voltadas a educação do gênero feminino, o príncipe encantado de Carola? Mais uma vez, não seria o masculino o condutor das decisões das mulheres? Carola e Elizabeth, as personagens femininas de maior destaque no filme, são mulheres que abandonam família, amigos e estilos de vida próprios, na
  • 8. busca do homem dos sonhos. Acrescido esse ideal do amor romântico, da própria percepção das personagens sobre a África, para elas, a terra pura, exótica e calma, perfeita para construírem suas vidas. Destacamos que na contemporaneidade homens e mulheres são ditos e representados visual e textualmente de maneira complexa, demonstrando-nos a existência de singularidades, de peculiaridades na produção dos gêneros, mas, também, a permanência de ideais sobre o feminino e masculino que persistem na produção audiovisual. Segundo Roger Chartier, as representações são matrizes de discursos e de práticas diferenciadas, que têm por objetivo a construção do mundo social (CHARTIER, 1990). Assim, investigá-las supõe-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrência e de competições, dentro de relações de poder. Entendemos as práticas discursivas do cinema, da imprensa, da publicidade, como produtoras de múltiplas representações e práticas e como articuladas entre si, aspirando à universalidade daquilo que projetam nas páginas e nas telas, fortalecendo e unificando entendimentos sobre os gêneros, fragmentariamente presentes no social. Pensamos ainda estas narrativas como um conjunto de palavras que usamos para significar, nomear, instituir espacialidades e relações sociais que, sem dúvida, descrevem, mas toda descrição é um ato culturalmente criador. Narrativas que produzem alterações sociais, pois, emitem signos e produzem significados (CERTEAU, 2004). Emblemático do poder instituidor de percepções sobre o mundo, no caso específico do filme aqui analisado, do mundo africano, é a primeira cena, quando a personagem começa a contar sua história. Carola aparece deitada, numa praia, a imagem é invertida, o seu olhar é captado e mostra-se os coqueiros de cabeça pra baixo, o mundo é modificado pelo olhar de Carola, invertendo a ordem da natureza e do social. Sutilmente, “A Massai Branca” constrói a personagem Carola como o elemento de mudança, de transformação e a cultura africana aparece marcada pela permanência, pela falta de dinamismo e, principalmente, pela ausência da capacidade de aceitar o novo. Em poucos momentos percebe-se a disponibilidade de Lemalian em aprender com Carola. A maior parte da narrativa não demonstra a potência criativa dos grupos africanos apresentados. Respeito à tradição não implica necessariamente em congelamento social. É tudo muito mais complexo e problemático e a narrativa cinematográfica, e até mesmo a científica, nem sempre consegue captar.
  • 9. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano. Vol. 1. 10ª Ed. RJ:Vozes, 2004. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. 2ª Ed. Lisboa: Difel; RJ: Bertrand, 1990. SPINK, Mary Jane; MEDRADO, Benedito. Produção de sentidos no cotidiano: uma abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas. In: SPINK, Mary Jane (org.) Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, i O Vale do Rift Africano é um complexo de falhas tectônicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectônicas africana e arábica. Esta estrutura estende-se no sentido norte-sul por cerca de 5000 km, desde o norte da Síria até ao centro de Moçambique, com uma largura que varia entre 30 e 100 km e, em profundidade de algumas centenas a milhares de metros. O Vale da Grande Fenda ou Rift Valley rasga no sentido vertical o Quênia.