2. Lembro-me de começar a minha primeira introdução
do P.I.L. por dizer que a maioria dos livros que se
encontram á venda não me chamam á atenção e por
mais estranho que isto possa parecer, a leitura de
cinco obras não mudou em nada o meu ponto de vista
sobre o assunto.
Este ano está a ser novamente um grande desafio
mas felizmente devido á experiência adquirida no ano
passado este ano sinto-me mais preparada.
Ao longo do P.I.L. vão estar expostos a minha criativi-
dade e o meu gosto pela escrita.
Os meus principais objectivos são ler todas as devidas
obras e poder constatar uma melhoria geral em
relação ao ano passado.
INTRODUÇÃO
4. Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
POEMA ESCOLHIDO
5. No mundo sou só mais uma pétala de uma flor
Uma espécie no meio de muitas
Uma brisa passageira num dia de calor
A dor é minha amiga pois nunca me deixa só
E tal como a minha alma, a minha simples alma
Que o meu amor amou, também a luz me abandonou
Vagueio sem rumo neste sitio a que chamam mundo
Na esperança de me sentir viva outra vez
Nem que seja por um segundo
CRIAÇÃO DE UM POEMA
6. Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
que não tem coração dentro do peito.
POEMA ESCOLHIDO
Chamo aos gritos por ti - não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
7. -Lembras-te de quando eu te levei ao zoo pela primeira vez?
Estavas tão contente que nem querias ir embora.- disse a
minha mãe durante a nossa última conversa.
O rosto da minha mãezinha de tão velinho que estava já não
lhe permitia sorrir pois as dobras do seu sorriso
misturavam-se com as suas rugas.
Foi um dia triste, dia esse em que ela tentou atenuar a
minha dor contando-me histórias de quando eu era criança.
Mal ela sabia de que agora também elas ficaram para me
assombrar juntamente com o vazio que ficou dentro de mim
quando ela me abandonou.
Naquela cama de hospital eu não via a minha mãe e sim algo
que se apoderou dela e fez dela o que ela se tornou.
CRIAÇÃO DE UMA HISTÓRIA
8. Por mais que ela tentasse, nenhuma história foi capaz de
me adverter do facto de que passado algumas horas, dias ou
até semanas ela já não estaria comigo.
Tentei ficar distante e manter uma postura de indiferença
mas de tão distante que estava acabei por me aproximar.
Falhei?Sim, falhei. Não consegui fazer com que o seu
desaparecimento deste mundo fosse uma coisa banal.
Quando ela deu o seu último suspiro chorei. Chorei como
nunca tinha chorado antes. Mais uma vez quebrei uma
promessa que lhe tinha feito, a promessa de viver como se
nenhuma tragédia tivesse acontecido.
Ela disse-me que estaria comigo mesmo que não fosse
fisicamente mas se isso é verdade então porquê que me
sinto tão só?
CRIAÇÃO DE UMA HISTÓRIA
9. Cheguei a uma conclusão, uma mãe também mente.
Mente para proteger, mente porque tem de ser mas
acima de tudo mente porque sente que o tem de fazer
para não ver os que ama sofrer.
A minha mãe foi embora com um ar contente mas sei
que no fundo ela sofreu e foi quando lhe fechei os
olhos que o meu amor pelo mundo morreu.
CRIAÇÃO DE UMA HISTÓRIA
10. Felicidade, agarrei-te
Como um cão, pelo cachaço!
E, contigo, em mar de azeite
Afoguei-me, passo a passo...
Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo não tivera.
E foi, assim, que, submissa,
Vi chegar a Primavera...
Quem a colher que a arrecade
(Há, nela, um segredo lento...)
Ó frágil felicidade!
— Palavra que leva o vento,
E, depois, como se a ideia
De, nos dedos, a ter tido
Bastasse, por fim, larguei-a,
Sem ficar arrependido...
ESCOLHA DE DOIS POEMAS
Miguel Torga, “Súplica”
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Pedro Homem de Mello, i
n "Eu Hei-de Voltar um Dia"
11. Ó frágil felicidade!
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Não perturbes a paz que me foi dada.
Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo não tivera
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
E, contigo, em mar de azeite
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
JUNÇÃO DE DOIS POEMAS