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RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA Legislação precária e burocracia transformam concessões em capitanias hereditárias




                  informativo INTERVOZES | Novembro 2007




SEM CRITÉRIOS                         O IMPÉRIO DO VALE-TUDO              A FARRA DOS PARLAMENTARES
Renovação das outorgas não            Programação de muitas emissoras     Embora a Constituição Federal
conta com avaliação dos serviços      é ilegal, mas responsáveis fingem   proíba, deputados e senadores
prestados pelos concessionários       que não é com eles                  mantêm o controle de emissoras
Índice
                                                                                       Em nome do público,
                                                                                       mas sem o público                             3
                                                                                       Uma história de apropriação
                                                                                       do público pelo privado                       5
                                                                                       Renovação sem critérios                   8
                                                                                       As capitanias hereditárias               10
                                                                                       No vale tudo, vende-se de tudo           13

                                                                                       O show da fé                             15
                                                                                       Uma grande caixa-preta                   16
Editorial                                                                              A farra dos parlamentares
                                                                                       continua, apesar da Constituição         18
A Campanha por Democracia e Transparência nas Concessões de Rádio e TV –
liderada pela Coordenação de Movimentos Sociais (que reúne CUT, MST, UNE,
Marcha Mundial das Mulheres, entre outros) e por movimentos da área da                 Educativo, pero no mucho                 21
comunicação, como o Intervozes e a Campanha pela Ética na TV – está nas ruas
desde o dia 5 de outubro, data em que venceram concessões de importantes emissoras
de televisão brasileira.
                                                                                       No rádio, o símbolo da barbárie          22
Com a iniciativa, as organizações pretendem sensibilizar a sociedade para a urgente    Negócio da China                         23
necessidade de alterar o sistema de concessão e renovação das outorgas de radiodifu-
são, que hoje fazem com que alguns poucos privilegiados possam se expressar a partir   A TV digital e a
da utilização de um bem público (o espectro de freqüências por onde se transmitem os   multiplicação da mesmice                 24
sinais de rádio e TV), enquanto mais de 180 milhões de brasileiros não têm meios e
condições para se manifestar.                                                          Propostas para enfrentar o caos          26
A luta pela reforma no sistema de concessões se insere em uma luta mais ampla, pela
garantia do direito humano à comunicação e, conseqüentemente, por uma sociedade
justa e democrática, onde dos direitos dos trabalhadores e de toda a população sejam
respeitados. Em um país onde o rádio e a televisão ainda são os meios de comunica-
                                                                                       Expediente
ção mais importantes, não há como pensar em democracia sem a criação de mecanis-
mos que tornem transparentes a outorga e a renovação destas concessões.                Esta é uma publicação do Intervozes –
                                                                                       Coletivo Brasil de Comunicação Social.
Esta publicação é uma contribuição do Intervozes ao debate que agora se inicia. Com    Equipe de redação: Bia Barbosa, Bráulio
ela, pretendemos dar subsídios para que a sociedade possa se mobilizar e reivindicar   Ribeiro, Carolina Ribeiro, Cristina Charão,
mudança imediatas na forma como são concedidas as concessões de rádio e TV.            Diogo Moyses, Gustavo Gindre, João Brant,
                                                                                       Jonas Valente, Lucas Milhomens, Mayrá Lima,
Boa leitura,                                                                           Marcy Picanço e Michelle Prazeres.
                                                                                       Diagramação e arte: Henrique Costa
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
Em nome do público,
mas sem o público
As concessões de rádio e televisão são públicas, ou seja, pertencem ao conjunto da sociedade
brasileira, mas na prática os empresários agem como se fossem eles os proprietários dos canais.




N
        em todo mundo sabe, mas rádios e         exemplo, que emissoras as utilizem para
        TVs abertas no Brasil operam com         promover a criminalização dos movimentos
        concessões públicas. É comum as          sociais e impor uma agenda política que lhes
pessoas pensarem que as emissoras de             interessa. Também é comum a discrimina-
rádio e TV são donas dos canais e que            ção contra mulheres, negros, indígenas,
podem fazer deles o que bem entendem. Na         homossexuais, pessoas com deficiência e
realidade, o conteúdo transmitido pelo rádio     idosos, além de determinadas religiões e
e pela TV trafega pelo ar, no chamado            classes sociais. Estipulam padrões estéti-
espectro eletromagnético, um bem público e       cos, éticos e morais, impondo valores que
finito. Para transmitir determinada progra-      promovem e perpetuam preconceitos. A
mação, as emissoras precisam, portanto, de       sociedade, em nome de quem é dada a
uma autorização do Estado, ou seja, uma          concessão, não tem como proteger-se,
concessão pública. Está no artigo 21 da          apesar da Constituição garantir este direito.
Constituição Federal: “Compete à União (...)
explorar, diretamente ou mediante autoriza-
ção, concessão ou permissão (...) os
serviços de radiodifusão sonora e de sons e      Quadro dramático
imagens”.                                        Ao se debruçar sobre o atual modelo de
                                                 outorgas – concessões, permissões e
Em tese, rádio e televisão estão na mesma        autorizações – de rádio e TV no Brasil, o que
categoria que os serviços de energia             se encontra é um quadro pior do que a
elétrica, de navegação aérea, de transporte      pessoa mais pessimista poderia esperar. Os
ferroviário e rodoviário, por exemplo. No        empresários e políticos representantes das
entanto, diferentemente destes serviços, a       elites reinam sozinhos, ditam as regras e não
radiodifusão opera sem critérios claros e        cumprem nem o pouco que a lei prevê. Não
com privilégios estranhos a um sistema           há participação da sociedade no debate
democrático. Para que se tenha uma idéia, a      sobre a concessão e renovação das outor-
lei que define as concessões públicas vale       gas, que acontece sem responder a nenhum
para todas as modalidades de serviço,            critério público. O processo é lento e sem
menos para a radiodifusão. As emissoras de       transparência. Também não há fiscalização
TV recebem a concessão por 15 anos e as          por parte do poder público, o que permite que
de rádio, por 10 anos, e durante todo esse       haja emissoras em funcionamento com
período os detentores das concessões não         outorgas que já venceram há quase 20 anos.
têm que prestar contas a ninguém sobre o         Deputados e senadores continuam contro-
uso que fazem delas.                             lando emissoras, embora a Constituição
                                                 proíba. Licenças de TVs e rádios educativas
Assim, embora a concessão seja pública, ela      são usadas para escapar da obrigatoriedade
é usada para fins privados. É comum, por         de licitação e proteger negócios com fins


                                                       CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007   3
Embora a       comerciais. As concessões públicas são            com as rádios comunitárias não legalizadas,
                       usadas para dar lucro para as empresas -          fecham os olhos para as constantes ilegali-
  concessão seja       que determinam a programação de acordo            dades praticadas pelas emissoras comercia-
   pública, ela é      com o mercado publicitário -, mas nenhum          is. Além disso, o processo de renovação das
                       tostão é revertido em benefício social. Nem       outorgas é, na prática, automático, já que
 usada para fins       sequer o contrato, documento que deveria          não conta com nenhuma avaliação do uso
privados, dando        estabelecer os deveres dos concessionários        feito pelos concessionários e nem abre
                       e as sanções, no caso de descumprimento           espaço para novos concorrentes. O que era
    suporte a um       de obrigações, é tornado público.                 para ser concessão se transformou em
      sistema de                                                         capitania hereditária.
                       A ilegalidade e a imoralidade sustentam um
   comunicações        sistema de comunicações concentrado e             Ficam aí algumas perguntas: é democrático
concentrado que        impedem que os meios reflitam a pluralidade       que a liberdade de expressão seja um direito
                       e a diversidade existentes na sociedade           de 11 famílias e que os 190 milhões de
        impede a       brasileira. O monopólio e o oligopólio            brasileiros tenham apenas a liberdade de
manifestação da        proibidos pela Constituição em seu artigo         trocar de canal? Será que nunca houve no
                       220, por exemplo, estão presentes regional e      Brasil um fato que justificasse a não renova-
diversidade e da       nacionalmente. O controle sobre as conces-        ção de uma concessão de rádio ou TV? Com
     pluralidade       sões e sua renovação deveria ser um               que justificativa renovam-se contratos de
                       instrumento para evitar esse quadro, mas as       emissoras que praticam diversas irregulari-
    existentes na      brechas legais e a ausência de regulamenta-       dades fiscais e trabalhistas? Será que nos
       sociedade       ção das obrigações das emissoras impedem          interessa a grilagem eletrônica promovida
                       a aplicação do que diz a Constituição. Para       por emissoras que se apropriam de um
       brasileira.     piorar, impera no Brasil a histórica promiscui-   espaço público e o negociam a seu bel
                       dade entre governos, parlamento e empre-          prazer? Do ponto de vista econômico,
                       sários da radiodifusão. Não é à toa, nunca        interessa-nos um mercado em que há
                       uma outorga de rádio ou TV deixou de ser          barreiras de entrada eternas e em que se
                       renovada no Brasil.                               protege aqueles que têm poder de mercado
                                                                         significativo? É democrático a população
                                                                         não participar de nenhuma das etapas
                                                                         desses processos?
                       Em busca de outro modelo
                       Embora o quadro seja dramático, não               O debate sobre concessões de rádio e TV é
                       significa que não existam saídas. Elas            um debate sobre democracia. Se é por esses
                       dependem fundamentalmente de algumas              veículos que circulam idéias, valores,
                       mudanças legais e de vontade política dos         informação e cultura, e se eles são um dos
                       órgãos competentes, especialmente do              principais espaços em que identidades se
                       Ministério das Comunicações e da Anatel.          afirmam ou se desfazem, eles têm que estar
                                                                         livres de interesses privados. Se é em nome
                       Esses dois órgãos, que deveriam garantir o        do público que são dadas as concessões, é
                       interesse público no setor, pouco ou nada         preciso que ele seja ouvido sobre como quer
                       fazem para isso. Enquanto são implacáveis         que esse espaço seja utilizado.


                     4 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
Uma história de apropriação
do público pelo privado
Desde o surgimento dos meios de comunicação eletrônicos no país, a promiscuidade entre
radiodifusores e políticos determinou a prevalência de interesses privados no rádio e na TV.

A confusão encabeçada                                              para as outorgas de TVs
pelo próprio Executivo                                             educativas. Além dessas
Federal nas concessões,                                            condições, o decreto faz
autorizações e permissões                                          menção de limites de
de outorgas de rádio e TV                                          detenção de concessões,
tem origem quase concomi-                                          mas é omisso em relação a
tante ao aparecimento dos                                          princípios para evitar o uso
veículos de comunicação                                            privado deste bem público.
eletrônica no Brasil. Apoi-
ada numa legislação cheia                                          A década de 70 é marcada
de brechas, a farra das                                            por uma aliança do governo
concessões assumiu faces                                           militar com a Rede Globo de
diferentes ao longo das                                            Televisão. Foco de uma CPI
últimas décadas, respeitan-                                        que considerou ilegal o
do, porém, o mesmo critério desde os anos         aporte de dinheiro do grupo Time-Life na sua
50: a supremacia de interesses privados de        estrutura, a Rede Globo cumpriu o estratégi-
empresas e políticos.                             co papel de unidade nacional, sendo
                                                  subserviente à censura do Regime, o que
O marco legal que dá início à promiscuidade       contribuiu sobremaneira com as vistas
na relação entre o público e o privado nas        grossas do Estado em relação à expansão
Comunicações é o Código Brasileiro de             não controlada do setor. Data dessa época o
Telecomunicações (CBT), aprovado em 27            crescimento dos nove maiores grupos de
de agosto de 1962. Ele facilitou ao máximo a      comunicação do país que até hoje controlam           Apoiada numa
ocupação das freqüências previstas, abrindo       90% dos canais de rádio e TV existentes.             legislação frágil,
espaço para um enorme crescimento do
setor privado.                                    Durante o governo Figueiredo (1979-1985),            a farra das
                                                  foram concedidos nada menos do que 634               concessões
Coincide com esse período a fundação da           canais de radiodifusão, 295 rádios AM, 299
Associação Brasileira de Emissoras de             rádios FM e 40 emissoras de TV. Com a                assumiu faces
Rádio e Televisão (Abert), formada a partir       “transição democrática” e a condução de              diferentes ao
da reunião de radiodifusores que começa-          Tancredo Neves à Presidência da República,
vam a mostrar seu poder político no Con-          a Abert voltou a entrar em cena para garantir        longo das últimas
gresso. Na aprovação do Código, a Abert foi       que a ausência de critérios e regras claras          décadas,
responsável pela derrubada de cada um dos         permanecesse. Tancredo recebeu de três
52 vetos do presidente João Goulart, que          congressistas um documento com propostas             respeitando,
tentava barrar o caráter excessivamente           progressistas de mudança nas políticas de            porém, o mesmo
liberalizante da Lei. Um dos vetos dizia          comunicação. Os parlamentares também
respeito ao artigo que determinava que a          mostraram preocupação com a possibilida-             critério desde os
concessão seria renovada automaticamente          de da indicação de Antônio Carlos Maga-              anos 50: a
em caso de não haver irregularidades              lhães ao cargo de ministro e com a manuten-
comprovadas contra a emissora.                    ção de Rômulo Villar Furtado na Secretaria           prevalência de
                                                  Geral do Ministério das Comunicações.                interesses
Em 1963, dois decretos (52.795 e 52.026)          Furtado era homem de confiança da Globo, e
regulamentaram o CBT, estabelecendo,              estava no cargo desde 1974. A pressão                privados de
entre outras questões, o período de validade      política, no entanto, não surtiu efeito.             empresas e
das concessões de rádio para 10 anos e de
TV para 15 anos. Em 1967, foi promulgado o        Ao assumir o Ministério das Comunicações,            políticos.
Decreto-lei 236, que determinou condições         ACM tentou dar um caráter de moralidade


                                                        CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007   5
Com a instalação         nas concessões distribuídas por Figueiredo      em torno das outorgas para retransmissoras
                           e prometeu “promover estudos para fixar         (RTVs) e, em seguida, para as educativas.
 da Constituinte, a        critérios de concessão de emissoras de rádio    Em 1996, o decreto 2.108 definiu que "é
     partir de 1987,       e TV”. Em março de 85, ele assina a portaria    dispensável a licitação para a outorga para a
                           128, que suspende as concessões dadas a         execução de serviço de radiodifusão com
       Sarney e ACM        partir de outubro de 84. As concessões ficam    fins exclusivamente educativos".
  encontraram nas          suspensas até o final do ano, mas ACM
                           acaba chancelando os pedidos e dá início a      Em agosto de 2002, a repórter Elvira Lobato,
      concessões de        uma das maiores distribuições de outorgas a     da Folha de S. Paulo, publicou uma série de
     rádio e TV uma        políticos da história brasileira.               reportagens que revelaram como o governo
                                                                           Fernando Henrique havia dado continuidade
         maneira de                                                        à prática de distribuição de TVs a políticos
    agradar os seus                                                        aliados: Na matéria intitulada “FHC distribuiu
                           Moeda de troca                                  rádios e TVs educativas para políticos”,
             aliados,      Com a instalação da Constituinte, a partir de   consta que "em sete anos e meio de gover-
utilizando-as como         1987, Sarney e ACM encontraram nas              no, além das 539 emissoras comerciais
                           concessões uma maneira de agradar os            vendidas por licitação, FHC autorizou 357
    moeda de troca         seus aliados políticos e utilizaram-nas para    concessões educativas sem licitação. (...) A
             política.     troca de favores. Em três anos e meio – de      distribuição foi concentrada nos três anos
                           15/03/85 a 5/10/88 –, Sarney distribuiu 1.028   em que o deputado federal Pimenta da Veiga
                           outorgas, sendo 25% delas no mês de             (PSDB-MG), coordenador da campanha
                           setembro de 1988, que antecedeu a promul-       [presidencial] de José Serra, esteve à frente
                           gação da Constituição. O Diário Oficial da      do Ministério das Comunicações. Ele
                           União do dia 29/9/88, seis dias antes de        ocupou o cargo de janeiro de 1999 a abril de
                           promulgada a Constituição, trouxe 59            2002, quando, segundo seus próprios
                           outorgas em um só dia, todas assinadas na       cálculos, autorizou perto de cem TVs
                           noite anterior.                                 educativas. Pelo menos 23 foram para
                                                                           políticos. A maioria dos casos detectados
                           Com raras exceções, os beneficiados foram       pela Folha é em Minas Gerais, base eleitoral
                           parlamentares, que direta ou indiretamente      de Pimenta da Veiga, mas há em São Paulo,
                           (por meio de seus familiares ou sócios)         Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia,
                           receberam as outorgas em troca de apoio         Pernambuco, Alagoas, Maranhão, Roraima
                           político a projetos de Sarney, especialmente    e Mato Grosso do Sul".
                           para a extensão do mandato do presidente
                           para cinco anos. Dos 91 constituintes que
                           foram premiados com pelo menos uma
                           concessão de rádio ou televisão, 84 (92,3%)     Sem mudanças no Governo Lula
                           votaram a favor do presidencialismo e 82        Na atual gestão do Ministério das Comunica-
                           (90,1%) votaram a favor do mandato de           ções, a prática de distribuir outorgas em
                           cinco anos.                                     troca de apoio político continuou. De forma
                                                                           inédita, integrantes da Comissão de Ciência
                           No início do governo FHC, o ministro das        e Tecnologia, Comunicação e Informática
                           Comunicações, Sérgio Mota, promoveu             (CCTCI) da Câmara dos Deputados amea-
                           algumas mudanças no sentido de dar              çaram não renovar e devolver ao Executivo
                           transparência ao processo. Duas delas           227 processos de renovação de outorgas em
                           aparecem no Decreto 1720/95, estabelecen-       função da ausência de documentação,
                           do a necessidade de licitação e o pagamento     necessária para a análise dos pedidos.
                           pelo uso da concessão. A norma, porém,          Jader Barbalho (PMDB-PA), ex-presidente
                           passou a privilegiar empresas com maior         da Comissão, estava entre os 10 parlamen-
                           poder econômico, dando ao preço do              tares envolvidos com as emissoras cuja não
                           outorga um peso maior do que as definições      renovação parecia iminente. Tratou de pedir
                           sobre a programação.                            pessoalmente ao presidente Lula que
                                                                           intercedesse, o que de fato aconteceu.
                           A utilização de canais de rádio e TV como
                           moeda política logo voltou a aparecer. Com a    Em junho de 2006, o Executivo pediu os
                           regra da licitação valendo apenas para as       processos de volta, alegando que caberia ao
                           comerciais, a “negociação” passou a girar       Ministério das Comunicações, e não ao


                         6 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
Congresso, exigir das empresas a comple-       parar, diretamente ou indiretamente, nas
mentação dos documentos. O curioso é que       mãos deles".
foi o próprio Ministério que repassou a
documentação incompleta para a Câmara.         Fato é que permanece o uso das outorgas
Com a manobra, garantiu-se que Barbalho        como moeda política. Além disso, o cargo
mantivesse em atividade duas emissoras de      mais alto do Ministério das Comunicações é
sua família com concessões vencidas. Além      ocupado por um senador e ex-funcionário da
da Rádio Clube do Pará, que opera sem          Globo, notadamente defensor de interesses
autorização há mais de 13 anos, também         dos empresários de radiodifusores. Ele
foram beneficiadas com a medida a Rede         mesmo, dono de uma rádio em Barbacena
Brasil Amazônia de Televisão (RBA), cuja       (MG) e, portanto, violador do princípio
concessão venceu em 2002, e a Rádio            constitucional que proíbe que parlamentares
Carajás FM.                                    possuam canais de rádio e TV. Foi também
                                               Hélio Costa o maestro da implementação da
A manobra salvou também emissoras de           TV digital no Brasil, que escandalosamente
outros aliados do governo, como os senado-     beneficiou os interesses das emissoras de
res José Sarney (PMDB-AP), José Mara-          TV, escolhendo o padrão japonês e dando
nhão (PMDB-PB) e Flávio Arns (PT-PR),          gratuitamente às atuais emissoras de
além dos deputados Marcondes Gadelha           televisão um outro canal para a exibição
(PSB-PB) e Humberto Michiles (PL-AM).          digital. Essa última decisão está sendo
                                               questionada na Justiça por meio de uma
A repórter Elvira Lobato seguiu com as         Ação Direta de Inconstitucionalidade no
investigações e, em 2006, publicou que         Superior Tribunal Federal.                          Fato é que deu-se
foram distribuídas pelo menos sete conces-                                                         continuidade ao
sões de TV e 27 rádios educativas a funda-     Mais recentemente, o ministério das Comu-
ções ligadas a políticos:                      nicações convocou os concessionários para           uso das outorgas
                                               recadastrarem as informações de suas                como moeda
“Entre políticos contemplados estão os         empresas. A portaria, publicada no dia 13 de
senadores Magno Malta (PL-ES) e Leonel         agosto, deu 60 dias para que emissoras de           política, com um
Pavan (PSDB-SC). A lista inclui ainda os       rádio e TV passem para o Ministério dados           notório defensor
deputados federais João Caldas (PL-AL),        como a composição societária das organiza-
Wladimir Costa (PMDB-PA) e Silas Câmara        ções. O que parece ser um ato de controle do        de interesses dos
(PTB-AM), além de deputados estaduais,         Executivo só reforça, mais uma vez, a total         empresários da
ex-deputados, prefeitos e ex-prefeitos. Em     falta de conhecimento do governo em
três anos e meio de governo, Lula aprovou      relação à utilização das concessões. Por lei,       radiodifusão no
110 emissoras educativas, sendo 29             qualquer mudança no quadro societário e             cargo mais alto do
televisões e 81 rádios. Levando em conta       contrato social das empresas deveria ser
somente as concessões a políticos, significa   solicitada previamente ao Ministério. Pelo          Ministério das
que ao menos uma em cada três rádios foi       visto, não foram.                                   Comunicações.

                                                    CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007   7
Renovação sem critérios
                         Ao contrário de outros serviços públicos, na renovação das concessões de rádio e TV não há a
                         avaliação do cumprimento pelos concessionários da Constituição e da legislação.


                         Em qualquer serviço objeto de concessão          não necessariamente quem possui mais
                         pública existem critérios tanto para a outorga   dinheiro é mais capacitado para prestar este
                         quanto para a renovação das concessões.          serviço público. Nas novas outorgas, são
                         Mas não é isso que acontece com o rádio e a      apreciados o tempo a ser destinado a
                         televisão, onde empresários, políticos e         programas jornalísticos, educativos e
                         líderes religiosos recebem a outorga sem a       informativos, ao serviço noticioso, à progra-
                         necessária avaliação de suas condições           mação regional e o prazo para colocar o
                         para o oferecimento, com qualidade, do           canal no ar (entre estes, o critério mais
                         serviço público de radiodifusão.                 valioso). No entanto, no caso das emissoras
                                                                          de alta potência, todos esses quesitos valem
                         Mas grave ainda é o momento de renovação         menos do que o critério econômico. Além
                         das outorgas, quando não há qualquer             disso, pouco interessa avaliar essas ques-
                         análise sobre o cumprimento pelo concessi-       tões nas novas outorgas, se na renovação
                         onário das obrigações previstas na legisla-      das obtidas antes de 1996 (a grande maioria)
                         ção, especialmente aquelas que constam na        elas não são levadas em conta.
                         Constituição Federal. Além de um tempo
                         demasiadamente longo para a finalização do
                         processo de renovação – fazendo com que
                         as concessões permaneçam em funciona-            Avaliação zero
                         mento por anos sem a necessária aprovação        A ausência de critérios que não os econômi-
                         do Congresso –, tanto o parlamento quanto o      cos é a regra no processo de outorga. No
                         governo verificam somente se a emissora          entanto, é na renovação das concessões
                         está com o pagamento de impostos em dia.         que reside boa parte do problema com as
                         E, mesmo em relação a isso, não são poucas       concessões de rádio e TV, quando o mínimo
                         as histórias de concessionários que deram        que se poderia esperar de um país democrá-
                         “jeitinhos” para burlar a legislação e escon-    tico é que governo e Congresso avaliassem
                         der dívidas fiscais e trabalhistas.              se, no período em que exploraram os sinais
                                                                          de rádio e TV, os concessionários cumpriram
                         Antes da Constituição de 1988, a outorga         seus deveres e responsabilidades. Não há,
                         para a exploração do serviço de rádio e TV       entretanto, mecanismos para avaliar, por
 Fosse avaliado o        era feita a partir da vontade exclusiva do       exemplo, se as empresas respeitaram o que
                         Ministério das Comunicações, que indicava        determina o artigo 221 da Constituição
 cumprimento dos         quem teria o direito de explorar as conces-      Federal, que afirma que a programação das
         princípios      sões públicas. A partir da aprovação da nova     emissoras deve dar preferência às finalida-
                         Constituição, a posterior aprovação do           des educativas, artísticas, culturais e
constitucionais no       Congresso Nacional passou a ser necessá-         informativas, assim como promover a cultura
       momento da        ria. Isso, em tese, deveria ter dado mais        regional e estimular as produções indepen-
                         transparência ao processo. Até 1995,             dentes. É notório que boa parte das emisso-
     renovação das       entretanto, a indicação do Executivo ao          ras despreza tais princípios e, mesmo assim,
   concessões, não       Congresso daqueles que deveriam ser os           tem a sua concessão renovada, sem
                         concessionários permanecia nas mãos do           qualquer questionamento.
  seria tão comum        governo. Esse procedimento só foi rompido
          assistir a     com o decreto que estabeleceu o processo         O mesmo acontece com outras obrigações e
                         de licitação para a outorga das concessões.      responsabilidades dos concessionários,
    programas que                                                         como o cumprimento da classificação
          violam a       A lei de licitações, entretanto, criou um novo   indicativa determinada pelo Estatuto da
                         problema: a da prevalência do poder              Criança e do Adolescente, e o respeito aos
         dignidade       econômico na decisão de quem irá explorar        direitos humanos, previsto na garantia
          humana.        os serviços de radiodifusão. Acontece que        constitucional do respeito aos valores éticos


                       8 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
ser aplicados. A maioria dos artigos do             O capítulo de
                                               capítulo de Comunicação Social, entretanto,
                                                                                                   Comunicação
                                                                                                   Social da
                                                                                                   Constituição
                                                                                                   permanece sem
                                                                                                   regulamentação
                                                                                                   por força do lobby
                                                                                                   das emissoras, que
                                                                                                   acusam de
                                                                                                   “censura” as
                                                                                                   tentativas de
                                                                                                   regulamentar o
                                                                                                   campo das
                                                                                                   comunicações, em
                                                                                                   uma inversão de
                                                                                                   valores impossível
                                                                                                   de se assistir nas
e sociais (art. 221, IV). Fosse avaliado o                                                         democracias mais
cumprimento de tais princípios no momento                                                          consolidadas.
da renovação das concessões, não seria tão
comum assistir a programas construídos a
partir da violação à dignidade humana e da
exploração e exposição abusiva de tragédi-
as pessoais e coletivas, além da exploração
da imagem de crianças, tão comum nos
programas de auditório.

Outra ilegalidade comum é a renovação das
concessões sem o cumprimento da veicula-
ção do mínimo de conteúdo jornalístico
determinado por lei. O mesmo acontece com
as emissoras cujo conteúdo é baseado na
venda de produtos. Além de ignorarem as
diretrizes para a programação estabelecidas
na Constituição, estas emissoras ultrapas-
sam – e muito – o limite máximo de tempo
destinado à publicidade (25% da grade de
programação). Ou seja, os concessionários
fazem o que bem entendem e, mesmo
assim, têm a sua concessão renovada.



20 anos sem regulamentação
A atual Constituição Federal foi promulgada
há quase vinte anos e, desde então, diversos
artigos foram regulamentados, para que
todos os princípios ali presentes pudessem


                                                    CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007   9
As capitanias hereditárias
                        Somados, legislação ultrapassada, burocracia leniente e desvio conceitual do que é liberdade de
                        expressão transformam outorgas temporárias em capitanias hereditárias.

                        O processo de renovação das outorgas de          rádio e TV de forma diferente de todos os
                        rádio e TV é um capítulo à parte na história     outros tipos de concessão: durante sua
                        da radiodifusão brasileira. Afinal, é no         vigência, a outorga só pode ser cancelada
                        momento da renovação que se deveria              por decisão judicial.
                        analisar se determinada emissora atendeu
                        ao interesse público e se a melhor opção
                        para o país é que a outorga fique nas mãos
                        da mesma empresa que já desfrutou da             Licença precária, processo idem
                        concessão por 15 anos, no caso de TVs, ou        Outro problema est? na legislação, que
                        10, no caso das rádios. Entretanto, além da      acaba por estabelecer na prática a renova-
       O processo       falta de critérios (ver texto anterior), o       ção automática em caso de omissão do
                        processo administrativo é cheio de proble-       Ministério das Comunicações.
   administrativo       mas, acobertando uma política de renova-
    acoberta uma        ção automática das concessões, em que a          Genericamente, o Código Brasileiro de
                        sociedade não é ouvida e o Estado abre mão       Telecomunicações, a lei que regula o setor,
       política de      de seu papel de avaliador das outorgas.          diz que as concessões podem ser renovadas
       renovação                                                         “por per?odos sucessivos e iguais, se os
                        Os problemas começam na Constituição             concessionários houverem cumprido todas
 automática das         Federal. O artigo 223 determina que a            as obrigações legais e contratuais, mantido a
  concessões, em        responsabilidade pela outorga é do Poder         mesma idoneidade técnica, financeira e
                        Executivo, mas diz também que ela só passa       moral, e atendido o interesse público”.
que a sociedade         a valer quando é aprovada pelo Legislativo.      Embora previstas em lei, essas exigências
não é ouvida e o        No entanto, o mesmo artigo estabelece            não são analisadas. O volume de processos
                        regras próprias para a renovação. Ela só não     e a falta de acompanhamento durante a
Estado abre mão         acontece se 2/5 do Congresso Nacional, em        vigência da concessão fazem com que não
 de seu papel de        votação nominal, se pronunciar contra. Esse      haja uma análise cuidadosa sobre seu uso,
                        procedimento de exceção torna rara a             tornando o sistema de renovação um
    avaliador das       apreciação da renovação de outorgas. Além        processo praticamente burocrático. A
        outorgas.       disso, a Constituição trata a concessão de       decisão é sempre pela renovação.


                     10 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
Pior ainda: um decreto de 1983 garante às       emissora cumpriu “as exigências legais e           Toda essa via crucis
emissoras que “caso expire a concess?o ou       regulamentares”, apenas verifica questões
permissão, sem decisão sobre o pedido de        burocráticas - importantes, mas insuficientes      deveria ser feita
renovação, o serviço poderá ser mantido em      - como o encaminhamento da papelada com            em menos de um
funcionamento, em caráter precário”,            a ficha de cadastramento dos sócios que têm
mesmo se a própria emissora estiver             mais de 5% de participação.                        ano, mas dura em
devendo documentos. Basta apresentar o                                                             média mais de 7
pedido de renovação e ela obtém a licença       Do Ministério das Comunicações, o pedido
prec?ria.                                       parte para a Casa Civil da Presidência da          anos (no caso das
                                                República, que burocraticamente assina a           rádios FM), sendo
Esse fato se agrava com a enorme demora         renovação, encaminhando o processo para
na apreciação dos processos. O tempo            o Congresso Nacional.                              6,5 anos só na
médio de tramitação para as permissões de                                                          primeira passagem
rádio FM, por exemplo, é de sete anos. Isso     No Congresso, o processo passa primeiro
significa que quando a outorga é renovada, a    pela Comiss?o de Ciência e Tecnologia,             no Poder Executivo.
emissora já funcionou em média sete anos        Comunicação e Informática da Câmara dos
com ela vencida. A figura da licença precária   Deputados. Apenas as decisões pela não
protege tanto a vagareza do ministério na       renovação da outorga vão a Plenário. As
an?lise, quanto o interesse das emissoras       decisões da CCTCI favoráveis à renovação
em postergar os processos, quando lhes          só são apreciadas pelo conjunto dos
faltam documentos de regularidade fiscal e      deputados se houver recurso de pelo menos
trabalhista.                                    10% dos parlamentares.

Há mais um motivo para se dizer que a           Os critérios usados pela CCTCI estão
renovação se dá automaticamente: enquan-        definidos em um Ato Normativo interno,
to para novas outorgas há um processo de        modificado em julho deste ano, que abriu
licitação, para a renovação não há nenhuma      espaço para a realização de audiências
abertura para outros interessados em            públicas, além de incluir também o resumo
explorar o serviço.                             das eventuais denúncias contra a emissora
                                                feitas ao Minicom. O documento também
                                                determina a criação de um sistema público
                                                de informações que permita o acesso a
Renovação passo-a-passo                         todos os dados dos processos que estão na
Analisar quais os passos para a renovação       Câmara. Entretanto, as novas regras não
das concessões e permissões ajuda a             vão fundo na definição de critérios para a
identificar as causas dos problemas decor-      renovação das outorgas, não se avaliando
rentes. A primeira etapa para a renovação é a   se o conteúdo veiculado pela emissora
manifestação de interesse da emissora. De       seguiu minimamente os critérios constitucio-
três a seis meses antes da data de venci-       nais.
mento da concessão, ela deve comunicar ao
Ministério das Comunicações seu desejo em       Da CCTCI, os processos vão para a Comis-
renová-la.                                      são de Constituição e Justiça e de Cidadania
                                                (CCJC). De lá, seguem para o Senado, onde
O órgão, que em tese deveria analisar se a      são analisados pela Comissão de Ciência,



  Que tipos de outorgas existem?
  Concessões > s?o dadas para emissoras de TV e para emissoras de r?dio de caráter nacional ou regional, isto é,
  para ondas curtas e para ondas médias em alta potência. A concess?o é prerrogativa do Presidente da República,
  e é dada sempre por decreto.

  Permissões > dadas para emissoras de r?dio de âmbito local, como as FMs e as AMs de potência mais baixa.
  A permissão é prerrogativa do Ministério das Comunicações, e é dada por portaria.

  Autorizaç?es > dadas para rádios comunitárias, retransmissoras e repetidoras de r?dio e TV.


                                                     CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 11
Recentemente, o         Tecnologia, Inovação, Comunicação e             mento sistemático do uso das concessões,
                        Informática. Aprovados nessa comissão do        não apenas na renovação.
   Ministério das       Senado Federal, os processos voltam à
   Comunicações         Casa Civil para que seja publicado o decreto
                        presidencial que oficializa a renovação da
       anunciou o       outorga. Toda essa via crucis deveria ser
recadastramento         feita em menos de um ano, mas dura em
                        média mais de 7 anos (no caso das rádios
das emissoras. O        FM), sendo 6,5 anos só na primeira passa-
     que poderia        gem pelo Poder Executivo.

     indicar uma
medida positiva,        Concessão pública sem público
        na prática      Além de ajudar a entender alguns problemas
evidencia a total       decorrentes, o roteiro dos processos de
                        renovaç?o de outorgas revela a ausência de
falta de controle       instrumentos de participação social nesse
         sobre as       processo. Apenas agora, em julho de 2007,
                        abriu-se uma pequena brecha de participa-
      concessões.       ção via audiência pública, mas isso se a
                        Câmara dos Deputados fizer a convocação,
                        que precisa ser detalhadamente justificada.
                        Muito pouco para uma concessão que dá o
                        direito de utilização, por 15 anos, de um bem
                        escasso pertencente ao povo. Além disso,
                        como nos países com a democracia mais
                        consolidada, deveria haver o acompanha-



Licitação é definida por critério econômico
A partir de 1996, o processo de novas outorgas ganhou mais
transparência com a adoção do mecanismo de licitação. As
emissoras interessadas em obter uma concessão ou permissão
devem declarar seu interesse ao Ministério das Comunicações. A
partir de avaliação de viabilidade técnica e econômica, publica-se
um edital de licitação para ocupação daquela freqüência.

A regulamentação para novas outorgas permite ao ministério
fazer consulta pública prévia, definir quesitos e critérios mais
claros e exige um instrumento contratual que contemple as
definições todas. Mas o que deveria trazer democracia do
processo, na prática cria outros problemas.

Em primeiro lugar, porque para as emissoras de FM e de TV que
transmitem em alta potência (chamadas de classe E), o principal
critério de avaliação é o financeiro. No frigir dos ovos, o que pesa
mais é o poder econômico das emissoras.

Segundo, porque a licitação é obrigatória para as comerciais,
mas dispensável para emissoras educativas. Isso deixa espaço
para que centenas de concessões que são, na prática, comercia-
is, sejam outorgadas como educativas (ver texto sobre as
educativas).



                     12 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
No vale tudo,
vende-se de tudo
Grade de programação da maioria da
emissoras é ocupada ilegalmente, mas os
responsáveis pela fiscalização das concessões
fingem que não têm nada a ver com isso.

É comum ouvir que a televisão brasileira é       grade de programação foi comprado por
uma das melhores do mundo. Em público,           terceiros. Em ambos os casos, a ilegalidade
proprietários das empresas concessionárias       é flagrante, e as autoridades brasileiras,
e seus mais altos funcionários gabam-se da       assim como em outras questões ligadas às
difusão de nossas telenovelas ao redor do        concessões de radiodifusão, fingem que não
mundo. Somos, afinal, junto com mexicanos,       têm nada a ver com isso.
argentinos e venezuelanos, os maiores
exportadores de um gênero televisivo             Ao mesmo tempo, as mesmas “autoridades”            Enquanto impera a
consagrado em quase todo o planeta.              dizem que não há espaço na TV aberta para
                                                 os canais comunitários, universitários e           barbárie no uso do
A qualidade do conjunto da programação da        legislativos. Enquanto impera a barbárie no        espectro por onde
televisão brasileira, entretanto, é diariamen-   uso do espectro por onde trafegam os sinais
te colocada em xeque: telejornais sensacio-      de televisão, até a nascente TV Brasil corre o     trafegam os sinais
nalistas e tendenciosos, programas de            risco de ficar fora do sinal aberto em algumas     de televisão, as
auditório que expõem pessoas ao ridículo,        cidades brasileiras.
'pegadinhas' preconceituosas, entre tantos                                                          emissoras
outros exemplos, evidenciam que a progra-
                                                 Os supermercados eletrônicos                       legislativas,
mação televisiva não é um mar de rosas.
Pelo contrário.                                  A legislação brasileira é clara: o limite de       universitárias e
                                                 publicidade para as emissoras de televisão é       comunitárias -
Mas se a avaliação da qualidade do conteú-       de 25% do tempo de programação (art. 28,
do veiculado pelas emissoras muitas vezes        Decreto 52.795). Apesar disso, como                além da nascente
pode ser subjetiva, o mesmo não pode ser         qualquer brasileiro ou brasileira pode             TV Brasil - não têm
dito de algumas aberrações bastante              facilmente notar, alguns canais veiculam
comuns nas telas de TV. É o caso das             exclusivamente programas cuja intenção é           espaço na
emissoras exclusivamente voltadas à venda        vender produtos. Por meio destas emisso-           televisão aberta.
de produtos e dos programas cujo horário na      ras, vendem-se tapetes, brincos, anéis,


                                                      CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 13
carros, casas e apartamentos, material de         concessões (como “Polishop”, “Bestshop” e
                           construção, roupas e instrumentos de              “Shoptime”). Mas podem ser também
                           culinária... Quem nunca viu a chapa do ex-        “games”, em que o telespectador é induzido
                           boxeador norte-americano George Foreman           a acreditar que, ao fazer uma ligação e
                           sendo testada “ao vivo”? A lista é grande.        acertar a pergunta proposta pelos apresen-
                                                                             tadores, automaticamente ganhará o prêmio
                           Além da evidente ilegalidade no abuso do          em questão. Neste caso, trata-se de um
                           limite de conteúdo publicitário, tais concessi-   verdadeiro estelionato eletrônico.
                           onários exploram um bem público (o ar por
                           onde trafegam os sinais de rádio e TV) sem        A sublocação da grade de programação
                           que a contrapartida estabelecida pela             tornou-se tão comum que hoje é parte
                           legislação brasileira seja cumprida. Não          essencial do modelo de negócios da maioria
                           custa lembrar que, em seu artigo 221, a           das emissoras. As mesmas que, em tese,
                           Constituição Federal determina que a              deveriam ofertar uma programação de
                           programação das emissoras deve dar                qualidade e lucrar por meio de anúncios
                           preferência a finalidades educativas,             publicitários. Mas, como no Brasil tudo vale,
                           artísticas, culturais e informativas, promo-      tanto o Ministério das Comunicações quanto
                           vendo a cultura nacional e regional. No caso      a Anatel omitem-se, dando o aval para que a
                           destes “supermercados eletrônicos” – cada         “produção independente” seja tratada em
                           vez mais comuns em todo o país –, é               seu avesso: enquanto nos países desenvol-
                           flagrante o desrespeito a estes princípios.       vidos as emissoras são obrigadas a comprar
                           Afinal, nem com muito esforço é possível          parte de sua programação de produtores
                           considerar que informar preços de tapetes e       independentes (dinamizando o mercado
                           anéis seja um serviço de interesse público.       audiovisual), no Brasil produção indepen-
                                                                             dente é o conteúdo veiculado por quem pode
                           Para os detentores destas concessões, o           comprar espaço na grade de programação
                           lucro é líquido e certo, pois não há a necessi-   das emissoras. Hoje, conta-se no dedo os
                           dade de investimentos em produção de              canais que não cometem tal ilegalidade.
                           conteúdo jornalístico ou ficcional, da
                           contratação de recursos humanos qualifica-
                           dos (roteiristas, diretores, fotógrafos,
                           editores, etc), entre tantos outros requisitos    Merchandising fora da lei
                           de uma emissora convencional de televisão.        O não cumprimento da legislação vai além.
                           Bastam pequenas equipes, com apresenta-           Desde a década de 1970, o merchandising é
                           dores eloqüentes, para que o empreendi-           uma prática comum na programação da
                           mento dê certo. Quem não gostaria de              televisão brasileira. Cada vez mais, novelas
                           possuir um negócio assim?                         e programas de auditórios trazem apresen-
 Além da evidente                                                            tadores e artistas divulgando produtos de
                                                                             forma subliminar, sem a necessária informa-
     ilegalidade no        A sublocação da                                   ção de que determinado conteúdo é, na
abuso do limite de         grade de programação                              verdade, publicidade comercial, como
                                                                             manda o Código de Defesa do Consumidor
           conteúdo        Outra ilegalidade bastante cometida pelos         (art. 36). Segundo o código,"a publicidade
   publicitário, tais      concessionários de televisão é a venda de         deve ser veiculada de tal forma que o
                           espaço na grade de programação para               consumidor, fácil e imediatamente, a
    concessionários        terceiros. Muitas vezes chamadas de               identifique como tal”.
 exploram um bem           “produções independentes” pelas emisso-
                           ras, que afirmam que tais conteúdos não são       O merchandising, portanto, não é proibido,
público sem que a          de sua responsabilidade, estes programas          mas sua prática deve estar dentro dos limites
       contrapartida       evidenciam que, para participar da televisão      da legislação, que é cada vez mais despre-
                           brasileira, basta pagar.                          zada pelas emissoras. Hoje a publicidade
 estabelecida pela                                                           subliminar é uma das principais fontes de
        Constituição       Não é necessário muito esforço para               receitas dos canais. Dados divulgados pela
                           identificar exemplos. Em geral, são cultos        Bandeirantes e pela Record demonstram
        Federal seja       religiosos e programas de vendas de               que essas ações representam até 16% de
          cumprida.        empresas que não detêm suas próprias              seu faturamento comercial.


                        14 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
religiões que ocupam a televisão somente           Se o debate é
                                               para ganhar dinheiro seduzindo telespecta-
                                               dores a fazerem contato telefônico.                complexo, uma
                                               Sendo o problema complexo, como resolvê-
                                                                                                  coisa é certa: não
                                               lo? Proibir as religiões na televisão, como        é possível
                                               fazem alguns países? Ou construir regras           permanecer com
O show da fé                                   capazes de garantir equilíbrio em sua
                                               ocupação e o direito dos pais e responsáveis       uma ocupação
                                               por crianças a preservá-las de determinadas        indiscriminada da
A invasão das religiões na TV evidenciam a     imagens? A resposta não é simples e exige
necessidade de se discutir a questão.          reflexão. Uma das possibilidades é adotar          televisão pelas
                                               algum critério de classificação indicativa,        religiões, onde o
A presença das religiões na televisão é um     onde, por exemplo, cultos não poderiam ser
tema complexo, mas a velocidade com que        transmitidos em horários em que os pais            que vale é
surgem os programas baseados na fé faz         encontram-se normalmente fora de casa.             somente o poder
com que a questão precise necessariamente      Somado a isso, um canal exclusivo poderia
ser enfrentada, sem sectarismos ou fanatis-    ser reservado para as religiões, com alguns        político e
mos. Por um lado, é preciso considerar que a   critérios de representatividade, para que sua      econômico de
religião é, em certa medida, uma manifesta-    ocupação aconteça de forma justa.
ção cultural. Isso, em tese, faz com que sua
                                                                                                  algumas igrejas.
presença na televisão seja justificável. Por   Por fim, há que se restringir de forma radical
outro lado, trata-se de uma manifestação       determinados conteúdos, como os cultos
essencialmente privada, o que faz com que      que discriminam outras religiões, os que
as outras pessoas tenham o direito de que      expõem as pessoas sem seu conhecimento
este conteúdo não invada a sua casa.           e os “tele-cultos”. Mas, se o debate é
                                               complexo, uma coisa é certa: não é possível
A questão se torna ainda mais complexa         permanecer com uma ocupação indiscrimi-
quando lembramos que a Constituição            nada da televisão pelas religiões, onde o que
define o Estado brasileiro como laico, ou      vale é somente o poder político e econômico
seja, não-religioso. Sendo as concessões de    de algumas igrejas.
radiodifusão públicas, outorgadas pelo
Estado, em tese elas não poderiam ser
utilizadas para o proselitismo religioso.

Feitas estas observações, o fato é que a
ocupação da telinha pelas religiões é
indiscriminada e desigual. Algumas reli-
giões, com ampla maioria para os evangéli-
cos e católicos, possuem suas próprias
emissoras ou compram horário na grade de
programação de outras. Tal ocupação é
possível graças ao poder político de algumas
destas religiões (que conseguem pressionar
o Estado a conceder as outorgas) ou ao seu
poder econômico (que permite a compra de
horário em outros canais). Desta forma, as
religiões desprovidas destes poderes não
conseguem ocupar o espaço televisivo.
Emissoras de matrizes africanas, por
exemplo, estão fora das telas.

Há que se considerar, por fim, que a própria
programação religiosa é diversa, existindo
desde programas de “debates” à transmis-
são de cultos e missas. Há também as


                                                    CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 15
Uma grande caixa-preta
                          A falta de transparência dos processos de concessão de rádio e TV faz com que a sociedade não
                          tenha como fiscalizar o uso de um bem público que pertence ao conjunto dos brasileiros.

                          Quando, em 2003, ordenou que fossem             Contribui ainda para esta privatização
                          publicadas as informações relativas aos         simbólica o caráter confidencial do contrato
                          proprietários de concessões de rádio e TV no    de concessão celebrado entre uma empresa
                          site do Ministério das Comunicações, o ex-      e o Estado, que tem extrato é publicado no
                          ministro Miro Teixeira referiu-se ao problema   Diário Oficial da União, mas cujo o conteúdo
          A falta de      com o qual tentava lidar como “a caixa-preta    integral é de difícil acesso. Em palestra
                          da radiodifusão”. A expressão foi retomada      recente sobre o assunto, o coordenador do
transparência tem         em recente entrevista do sociólogo e            Laboratório de Políticas de Comunicação da
   como símbolo o         professor da Universidade de São Paulo          Universidade de Brasília (UnB), Murilo
                          (USP) Laurindo Leal Lalo Filho para qualifi-    Ramos, lançou um desafio para que qual-
             caráter      car a situação do setor. Lalo, que pesquisa a   quer jornalista ou pesquisador conseguisse
    confidencial do       temática da TV pública, destaca que este        obter um destes contratos. A brincadeira
                          “mistério” envolvendo a radiodifusão impede     explicita a dificuldade de acesso ao instru-
        contrato de       que a população compreenda que rádio e TV       mento jurídico que materializa o início da
          concessão       são serviços públicos, prestados diretamen-     concessão por parte do poder público para
                          te pelo Estado ou por meio de concessão.        exploração comercial deste tipo de serviço.
   celebrado entre        “Ao não ter acesso a essa informação, a
 uma empresa e o          população acaba criando no seu imaginário       Outro pesquisador da UnB, Israel Bayma,
                          a idéia de que as empresas são proprietárias    compara as outorgas de radiodifusão às de
       Estado, cujo       desses canais, quando na verdade esses          outros setores. “Os atos de assinatura dos
        conteúdo é        canais são bens públicos, outorgados pelo       contratos das demais áreas são formais,
                          Estado em nome da sociedade para que os         comparece todo mundo, inclusive a impren-
      inacessível à       concessionários prestem esse serviço por        sa. Já os contratos de rádio e TV ninguém
         sociedade.       um período limitado de tempo”, lembra.          nunca viu”. Murilo Ramos cita o exemplo da


                       16 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
telefonia, em que os contratos estão disponí-   societários das empresas de comunicação,           A denúncia contra
veis para consulta na Internet.                 o que fere diretamente o artigo 54 da
                                                                                                   o presidente do
A reportagem procurou o Tribunal de Contas                                                         Senado, Renan
da União (TCU), onde, acredita-se, estão
todos os contratos de concessão de rádio e                                                         Calheiros, por uso
TV. Segundo a assessoria do TCU, eles são                                                          de “laranjas” para
disponibilizados apenas após algum
julgamento do Tribunal, a partir de alguma                                                         comprar emissoras
fiscalização ou denúncia.                                                                          de rádio sem ter
                                                                                                   seu nome
Sigilo oficial                                                                                     divulgado no
Uma entrada no site do Ministério das                                                              negócio é um
Comunicações evidencia a falta de informa-                                                         exemplo de uma
ções disponível ao público. Nas seções
reservadas à radiodifusão de sons (rádio) e                                                        prática comum
de sons e imagens (TV), só há breves                                                               Brasil afora.
explicações sobre o que são estes serviços.
No site da Anatel, foi criado o Sistema de
Dados sobre Comunicação de Massa
(SisCom). Mas em nenhum dos dois órgãos
há qualquer relação dos contratos de
concessão.

O Siscom disponibiliza dados sobre o
processo das outorgas (se as licenças estão
concedidas ou em processo de renovação) e
sobre a localização dos estúdios e antenas.
Outro sistema da Anatel mostra os canais de
TV e de Rádio disponíveis, em reserva ou em
uso. No entanto, estes dados são pouco
úteis ao cidadão e servem apenas aos
concessionários interessados em se
candidatar ao serviço ou àqueles já em
processo de obtenção da licença.

Para pesquisadores e entidades do setor, a
lógica da caixa-preta se mantém em relação
aos dados mais importantes: aqueles             Fato consumado?
relativos aos proprietários dos meios de
comunicação. Foram estas informações que
o ex-ministro Miro Teixeira publicou em
2003. Apesar de desatualizadas, as informa-
ções foram fundamentais para identificar
diversos canais de rádio e TV irregulares.
Tornada pública, a lista permitiu perceber
como os donos de grandes emissoras
utilizavam laranjas ou parentes para burlar a
lei e ultrapassar o limite de até 5 geradoras
de VHF por proprietário em todo o país. O
cadastro também foi importante, por exem-
plo, para rastrear a participação de 10% dos
parlamentares do Congresso nos quadros


                                                     CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 17
A farra dos parlamentares
                        continua, apesar da Constituição
                        Historicamente as concessões são concedidas a parlamentares. A prática, apesar de contrariar
                        a Constituição Federal, é facilmente comprovada com um simples cruzamento de informações.

                        O artigo 54 da Constituição Federal (CF)         que 10% da Câmara e assustadores 33,3%
                        define que deputados e senadores não             do Senado.
                        poderão, no exercício de seus cargos,
    De acordo com       “firmar ou manter contrato com pessoa            O artigo “Coronelismo, radiodifusão e voto: a
                        jurídica de direito público, autarquia, empre-   nova face de um velho conceito”, escrito pela
 levantamento da        sa pública, sociedade de economia mista ou       professora da Universidade de Brasília
 Agência Repórter       empresa concessionária de serviço público”.      (UnB), Suzy dos Santos, ainda em 2005,
                        O artigo seguinte diz que um parlamentar         revela o caso íntimo do ex-senador Antônio
Social, a 'bancada      perderá seu mandato caso “infringir qualquer     Carlos Magalhães (ex-PFL) e sua família
  da comunicação'       das proibições estabelecidas no artigo           com os meios de comunicação baianos. A
                        anterior”.                                       Televisão Bahia, retransmissora da TV
     no Congresso                                                        Globo em Salvador (BA), está em nome de
          Nacional      No entanto, são visíveis os casos em que         sua esposa, de seu filho e dos netos. A
                        parlamentares ou seus familiares são donos       família do ex-senador ainda detém o controle
  representa nada       ou mesmo sócios das empresas que detêm           de uma TV em Feira de Santana, outra em
                        concessões. De acordo com um levanta-            Vitória da Conquista e da rádio Antena 1, em
    menos do que        mento feito pela Agência Repórter Social, 53     Ribeira do Pombal.
10% da Câmara e         deputados federais e 27 senadores declara-
                        ram possuir algum tipo de controle sobre         Essa mesma intimidade entre as elites
     assustadores       veículos de comunicação. A 'bancada da           políticas e as comunicações pode ser
33,3% do Senado.        Comunicação' representa nada menos do            encontrada no Maranhão, com a família do


                     18 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
ex-presidente e senador José Sarney                                        O Ministério
 A lei que não vale                         (PMDB), conhecida pelo controle do grupo
                                                                                                                       Público Federal já
                                            Mirante (90% de todo o aparato de comuni-
                                            cação do Estado). Ou no Ceará, cujo                                        conseguiu
                                            senador representante, Tasso Jereissati
Veja o que diz a Constituição:              (PSDB), tem vínculo com uma operadora de                                   identificar 10
                                            MMDS (TV paga via satélite), três operado-                                 deputados que
Artigo 54. Os Deputados e Senadores         ras de televisão a cabo, uma geradora de
não poderão:                                televisão, afiliada ao SBT, 31 retransmisso-                               votaram nos
                                            ras e três rádios FM.                                                      processos de
I - desde a expedição do diploma:
                                            A farra das concessões a parlamentares não                                 renovação das
a) firmar ou manter contrato com            é um fenômeno novo. Desde os anos 50,                                      concessões de
pessoa jurídica de direito público,         esse tipo de prática se consolida no país.
autarquia, empresa pública, sociedade       Mas a situação piorou durante o Governo                                    suas próprias
de economia mista ou empresa                Sarney, quando o então ministro das                                        emissoras.
concessionária de serviço público,          Comunicações, Antônio Carlos Magalhães,
salvo quando o contrato obedecer a          concedeu 82 concessões de TV, sendo 43
cláusulas uniformes; (...)                  delas distribuídas no ano da votação da
                                            emenda constitucional. Como se não
Artigo 55. Perderá o mandato o              bastasse, o próprio ministro ACM e o
Deputado ou Senador:                        presidente Sarney presentearam a si
                                            mesmos com sete e três concessões de
I - que infringir qualquer das proibições   geradoras de televisão, respectivamente. No
estabelecidas no artigo anterior; (...)     total, Sarney e ACM, em três anos e meio,
                                            distribuíram 1.028 outorgas, sendo 25%
                                            delas em setembro de 1988, mês que
Entretanto:                                 antecedeu a promulgação da Constituição.

  53 deputados possuem diretamente
veículos de comunicação;

  27 senadores possuem diretamente            Afiliadas da Rede Globo vinculadas a políticos*
veículos de comunicação;
                                                               Geradoras                                    Retransmissoras
  40 geradoras de televisão afiliadas e
705 retransmissoras da Rede Globo           Estados            Total (%)          Quantidade                Total (%)          Quantidade
estão nas mãos de políticos;                AL                 100                1                         100                8
                                            BA                 100                6                         100                311
  128 geradoras de televisão e 1765
retransmissoras estão nas mãos de           CE                 100                1                         100                58
políticos;                                  GO                 100                8                         100                85
                                            MA                 100                4                         100                97
  Dos 80 membros da Comissão de             MG                 25                 2                         22                 13
Ciência e Tecnologia, Comunicação e         PA                 66,6               2                         -                  0
Informática, pelo menos 16 têm relação      PB                 100                2                         100                5
direta com emissoras de rádio ou TV;
                                            PE                 66,6               2                         66,6               4
  Só em 2004, 10 deputados votaram          PI                 100                2                         -                  -
na renovação de suas próprias conces-       RJ                 40                 2                         30                 6
sões;                                       RN                 100                1                         100                3
                                            SE                 100                1                         100                16
  Metade das 2.205 autorizações             SP                 28,5               4                         32,6               31
dadas a rádios comunitárias entre 1999      TO                 100                2                         100                68
e 2004 estão sob o controle de grupos
                                            Total              39,6               40                        49,5               705
partidários.
                                            *Outorgas em nome próprio ou de parentes.
                                            Fonte: Suzy dos Santos, “Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito”, 2005.




                                                   CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 19
Conflito de interesses                                  Outorgas de televisão controladas por políticos
Segundo o artigo 180 do regimento interno
da Câmara Federal dos Deputados, o                                     Geradoras                                     Retransmissoras
deputado deve se declarar impedido de votar
em determinada pauta, caso se configure               Estados          Quantidade                Total (%)           Quantidade               Total (%)
legislação em causa própria. No entanto, dos          AC               2                         40%                 1                        1,06%
80 membros da Comissão de Ciência e                   AL               3                         60%                 14                       12,84%
Tecnologia, Comunicação e Informática                 AM               3                         42,85%              72                       29,75%
(CCTCI), pelo menos 16 têm envolvimento               AP               2                         50%                 5                        15,15%
direto com emissoras de rádio ou TV. Seis             BA               8                         57,14%              392                      55,44%
deles são do DEM (ex-PFL), como o segun-              CE                                         55,5%                                        30,11%
                                                                       5                                             103
do vice-presidente da Comissão, presidente
                                                      DF               1                         9,1%                3                        11,53%
da Frente Parlamentar pela Radiodifusão,
Paulo Bornhausen (DEM-SC), parente de                 ES               1                         9,1%                1                        0,50%
sócios de uma rádio em Santa Catarina. A              GO               10                        62,5%               213                      42,68%
região Nordeste possui sete deputados na              MA               8                         72,7%               178                      58,74%
CCTCI ligados a empresas de radiodifusão.             MG               13                        27,65%              37                       2,66%
Recentemente, o Instituto para o Desenvol-            MS               1                         9,09%               8                        3,22%
vimento do Jornalismo (ProJor), ligado à              MT               3                         33,3%               23                       8,07%
Universidade de Campinas (Unicamp),
                                                      PA               4                         40%                 43                       14,19%
encaminhou representação à Procuradoria
Geral da República defendendo a apuração              PB               3                         50%                 12                       13,04%
desta questão. Hoje, o Ministério Público             PE               2                         20%                 6                        3,87%
Federal acompanha a mesma denúncia e já               PI               4                         57,14%              53                       56,38%
conseguiu identificar 10 deputados da                 PR               15                        41,6%               131                      27,75%
CCTCI que votaram em seus próprios                    RJ               5                         26,31%              33                       8,22%
processos de renovação de concessão.                  RN               6                         85,71%              13                       12,74%
Com base nos mesmos dados, o Ministério               RO               2                         33,33%              37                       24,02%
Público do Distrito Federal propôs a anula-
ção das concessões de seis empresas locais            RR               2                         100%                3                        6,81%
de radiodifusão.                                      RS               2                         7,69%               16                       2,08%
                                                      SC               5                         25%                 76                       9,88%
                                                      SE               2                         50%                 21                       35%
A atual relação                                       SP               13                        20,63%              56                       3,22%
                                                      TO               3                         60%                 81                       52,25%
com as comunitárias                                   Todas            128                       33,6%               1765                     18,03%
Ao menos metade das 2.205 autorizações
dadas a rádios comunitárias entre 1999 e              Fonte: Suzy dos Santos, “Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito”, 2005.

2004 estão sob o controle de grupos partidá-
rios. A conclusão é do estudo realizado pelos
professores Venício Artur de Lima e Cristiano         Quantidade de parlamentares do Congresso Nacional (deputados federais e
Aguiar Lopes, com o apoio do Instituto                senadores) que possuem o controle de rádio ou TV por região
ProJor. A pesquisa analisou os representan-
                                                        Geradoras                                          Número de parlamentares
tes legais e/ou diretores destas rádios e
constatou que pelo menos 350 pessoas são                Nordeste                                           44
ligadas de alguma forma a grandes partidos.             Sudeste                                            18
Assim, o que deveria servir à comunidade                Sul                                                8
passa a ser instrumento de determinado                  Norte                                              7
político ou partido, a partir da prática do
                                                        Centro-oeste                                       3
clientelismo.
                                                        Fonte: Agência Repórter Social, 2006.




                       20 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
Educativo, pero no mucho                                                 A partir daí, o governo federal, que antes
                                                                         distribuía outorgas comerciais em troca de
Parte das emissoras que possuem outorga de “educativa” funcionam, na     favores políticos, passa a usar as educativas
prática, como emissoras comerciais ou de grupos religiosos.              como moeda. Dados da Comissão de
                                                                         Ciência e Tecnologia, Comunicação e
                                                                         Informática da Câmara dos Deputados
                                                                         (CCTCI) revelam que há um percentual
                                                                         muito maior de concessões educativas, sem
                                                                         licitação, do que de outorgas comerciais. Em
                                                                         2006, das 19 novas outorgas de TV concedi-
                                                                         das, 15 delas (correspondentes a 78,9% do
                                                                         total) eram para fins exclusivamente educati-
                                                                         vos. Para FMs, 27,8% das novas conces-
                                                                         sões eram educativas.


                                                                         Educativo para quem?
                                                                         Além da utilização das educativas como
                                                                         moeda política, falta fiscalização sobre a
                                                                         programação destas emissoras. A lei atual
                                                                         estabelece que a radiodifusão educativa
                                                                         destina-se exclusivamente à divulgação de
                                                                         programação de caráter educativo-cultural e
                                                                         não tem finalidades lucrativas. Entretanto,
                                                                         há mais de 200 outorgas concedidas para
                                                                         emissoras educativas, que, sem fiscaliza-
                                                                         ção, funcionam como bem entendem.
                          As emissoras de TV educativas nascem na
                          década de 60 no Brasil com uma programa-       Um levantamento feito pelo Observatório do
                          ção restrita “à divulgação de programas        Direito à Comunicação com emissoras FM
                          educacionais, mediante transmissão de          em São Paulo mostrou que quatro delas
                          aulas, conferências e debates”. O público-     funcionam com outorgas educativas. Uma
                          alvo, à época, eram os 15 milhões de jovens    delas é a emissora Gospel FM, ligada à
                          e adultos sem escolarização no país.           Igreja Evangélica Renascer, de propriedade
                                                                         da “bispa” Sônia Rodrigues e do “apóstolo”
                          A primeira emissora educativa a entrar no ar   Estevam Hernandes, onde a programação é
                          foi a TV Universitária de Pernambuco, em       baseada em cultos, pregações e programas
 Além da utilização       1967. Neste mesmo ano, o Decreto-Lei 236,      com a clara intenção de arrecadar dinheiro
                          que complementou o Código Brasileiro de        para a igreja.
      das educativas      Telecomunicações, de 1962, proibiu a
        como moeda        veiculação de publicidade e qualquer           Outra é a Brasil 2000 que, além de ter
                          utilização comercial desses canais. Em         programação idêntica a das rádios comerci-
        política, falta   1989, o Sinted (Sistema Nacional de            ais, veicula anúncios publicitários. Segundo
  fiscalização sobre      Televisão Educativa) já contava com 15         o Departamento Comercial da rádio,
                          emissoras.                                     somente são vetadas propaganda de
      a programação                                                      cigarros e bebidas alcoólicas. Embora a
  destas emissoras.                                                      legislação que trata das educativas seja
                                                                         focada nas emissoras de TV, o Ministério das
   Com isso, muitas       A nova moeda                                   Comunicações determina que tais rádios só
    delas funcionam       Nos anos de 95 e 96, decretos alteraram a      podem veicular anúncios em caráter de
                          regulamentação das outorgas para emisso-       apoio cultural. Todas as emissoras educati-
     como emissoras       ras comerciais, estabelecendo a obrigatorie-   vas do município (as outras duas rádios com
                          dade de licitações nestes processos, mas
         tipicamente      rádios e TVs educativas ficaram dispensa-
                                                                         outorgas educativas são a Rádio USP e a
                                                                         Rádio Cultura FM), estão com suas outorgas
          comerciais.     das da obrigação.                              vencidas.


                                                     CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 21
No rádio, o símbolo
da barbárie
De uma ponta a outra, o dial FM é uma coleção de absurdos e desvios
que só favorecem o modelo comercial de radiodifusão.

                          Em qualquer cidade brasileira, o dial das
                          rádios FM revela um cenário absurdo, criado
                          tanto pela legislação precária sobre as
                          concessões de radiodifusão quanto pela
                          burocracia leniente.

                          Situação exemplar das aberrações: ao parar
                          em qualquer estação para ouvir o seu
                          programa favorito, é bastante provável que o    viraram a regra. Em média, um processo
                          ouvinte sintonize o sinal de uma emissora       leva sete anos para ser concluído, incluindo
                          cuja outorga encontra-se vencida. Há anos.      a tramitação no Ministério das Comunica-
                                                                          ções, Casa Civil, Câmara e Senado. O que
                          Uma pesquisa no Sistema de Controle de          significa que, em média, as emissoras
                          Radiodifusão da Agência Nacional de             funcionam durante sete anos em caráter
                          Telecomunicações (Anatel) mostra, por           precário. A responsabilidade, na maioria dos
                          exemplo, que das 12 outorgas para trans-        casos, é do Ministério das Comunicações,
                          missão em FM no município de Porto Alegre,      que mantém os processos parados por
                          apenas uma não está vencida. Em outras          absurdos 4,5 anos.
                          capitais, a situação se repete: em Belém, das
                          12 outorgas, apenas três estão em dia; no
                          Rio de Janeiro, são 15 outorgas e apenas
                          quatro não estão vencidas; em Recife, só        Outras cidades
                          uma em onze está com situação regular; em       No mundo bizarro do rádio FM, o número de
                          São Paulo, das 39 emissoras FM, 36 estão        rádios oficializadas que podem ser mapea-
     Em média, um         com as outorgas vencidas.                       das no dial será, certamente, maior do que
 processo leva sete                                                       aquele que se pode identificar no registro da
                          Em vários casos, a licença para a transmis-     Anatel.
      anos para ser       são está vencida duas vezes. A concessão
          concluído,      para rádios dura 10 anos, mas há prazos         A consulta de outorgas por município aponta
                          vencidos há 12, 13 e até 17 anos. Uma rádio     que, na cidade de São Paulo, existem 17
         incluindo a      cuja outorga venceu em 1991 – como em           rádios autorizadas a funcionar. Uma volta
      tramitação no       dois casos registrados em Belém – deveria       completa no dial mostra 39 rádios que
                          ter tido a autorização renovada naquele ano,    podem ser sintonizadas na capital paulista e
     Ministério das       depois em 2001 e, agora, logo mais, em          que têm algum registro nos órgãos regulado-
     Comunicações,        2011.                                           res. Ou seja, 22 rádios outorgadas para
                                                                          outros municípios transmitem seu sinal para
Casa Civil, Câmara        Todas estas emissoras seguem funcionando        São Paulo. As rádios “intermunicipais” estão
   e Senado. O que        graças ao artigo 9º do decreto 88.066/1983,     em flagrante conflito com o caráter eminen-
                          que diz: “Caso expire a concessão ou            temente local do serviço de FM.
  significa que, em       permissão, sem decisão sobre o pedido de
           média, as      renovação, o serviço poderá ser mantido em      Enquanto isso, Anatel e Minicom dizem que
                          funcionamento, em caráter precário (...)”. Na   não há espaço na própria capital paulista
          emissoras       prática, esta previsão estabelece a renova-     para as emissoras comunitárias, reservando
funcionam durante         ção automática.                                 a elas uma única freqüência no dial (87,5
                                                                          MHz) que alguns aparelhos receptores não
       sete anos em       As situações de atraso na apreciação dos        conseguem nem captar. E assim segue o
   caráter precário.      processos, que deveriam ser a exceção,          rádio brasileiro.


                       22 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
Negócio da china
Empresas pagam taxas irrisórias (ou nada)
por outorgas e as utilizam como mercadoria
valiosa em negócios altamente lucrativos.

Recentemente, a imprensa especializada
noticiou a compra de quatro retransmissoras
de TV no estado do Paraná, hoje exploradas
pelo Grupo Paulo Pimentel (GPP), coman-
dado pelo ex-governador que dá nome ao          Sem contrapartidas
conjunto de empreendimentos. O valor pago       Se no caso das telecomunicações há a
saltou aos olhos dos desavisados e mesmo        cobrança de 1% de seu faturamento para
dos outros interessados na compra: R$ 70        universalizar o serviço e garanti-lo a quem
milhões.                                        precisa, na radiodifusão não há fundos ou a
                                                reversão de lucros para melhorar a presta-
Com isso, o Grupo Massa, ligado ao apre-        ção deste serviço e incentivar que mais
sentador Carlos Massa, o Ratinho, venceu a      pessoas possam provê-lo. Nada do grande
disputa que também teve como interessados       superávit das emissoras é destinado a
a RBS, que comanda a mídia no Rio Grande        estimular, por exemplo, a produção audiovi-
do Sul e Santa Catarina, e do grupo Hyper-      sual independente ou as emissoras públicas.
marcas, sem histórico de presença no setor.
Outro apresentador de televisão, Gugu           Sobre a venda das emissoras, por exemplo,
Liberato, acaba de vender uma rede de 19        não recaem taxas, muito embora o principal
retransmissoras, por R$ 15 milhões.             produto envolvido na transação não seja o
                                                patrimônio físico da rádio ou da TV, mas o
Vale lembrar, que o custo para os concessio-    espaço de transmissão e obtenção de
nários das outorgas de retransmissoras é        receitas por meio da publicidade.
zero. Ou seja, faz-se dinheiro sem que
absolutamente nada seja revertido à             Ao conceder o espaço para transmissão de
sociedade brasileira.                           sinais de rádio ou TV, o Estado ainda recebe
                                                muito pouco. As empresas pagam taxas de
A negociação é um exemplo de como uma           fiscalização, que são remetidas ao Fundo de
concessão pública é utilizada para fins         Fiscalização das Telecomunicações (Fistel)
privados, tornando-se, na prática, proprieda-   e destinadas a custear as atividades da
de absoluta de quem a explora.                  Agência Nacional de Telecomunicações
                                                (Anatel), e uma outra, denominada Preço            Sobre a venda das
A venda de emissoras e suas outorgas            Público pelo Direito de Uso de Radiofrequên-
movimenta valores que não se pode mensu-        cia (PPDUR).                                       emissoras não
rar, dada a dificuldade de obter os dados. A                                                       recaem taxas,
única obrigação do concessionário ao            O custo mais pesado, no entanto, acaba
vender sua concessão é solicitar ao governo     sendo o lance na licitação para obtenção da        muito embora o
que aprove a mudança societária ou a            outorga. Os preços mínimos variam também           principal produto
transferência total da outorga. Feito isso,     conforme a região. Há concessões ganhas
basta aguardar o Decreto Presidencial que,      por cerca de RS 4,5 milhões em Brasília ou         envolvido na
quase sempre, legaliza a transação.             por R$ 131 mil em Mateus Leme, em Minas            transação seja o
                                                Gerais. Mesmo o valor mais alto pago pode
Apesar das poucas informações disponíveis,      ser recuperado imediatamente: em um único          espaço de
pode-se perceber que os valores são             ano, por exemplo, as retransmissoras do            transmissão, que é
bastante altos. Pudera: rádios e TVs são        Grupo Paulo Pimentel, vendidas a Ratinho,
negócios altamente lucrativos.                  lucram R$ 5 milhões.                               público.

                                                     CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 23
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Concessões de Rádio e TV onde a democracia não chegou

  • 1. RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA Legislação precária e burocracia transformam concessões em capitanias hereditárias informativo INTERVOZES | Novembro 2007 SEM CRITÉRIOS O IMPÉRIO DO VALE-TUDO A FARRA DOS PARLAMENTARES Renovação das outorgas não Programação de muitas emissoras Embora a Constituição Federal conta com avaliação dos serviços é ilegal, mas responsáveis fingem proíba, deputados e senadores prestados pelos concessionários que não é com eles mantêm o controle de emissoras
  • 2. Índice Em nome do público, mas sem o público 3 Uma história de apropriação do público pelo privado 5 Renovação sem critérios 8 As capitanias hereditárias 10 No vale tudo, vende-se de tudo 13 O show da fé 15 Uma grande caixa-preta 16 Editorial A farra dos parlamentares continua, apesar da Constituição 18 A Campanha por Democracia e Transparência nas Concessões de Rádio e TV – liderada pela Coordenação de Movimentos Sociais (que reúne CUT, MST, UNE, Marcha Mundial das Mulheres, entre outros) e por movimentos da área da Educativo, pero no mucho 21 comunicação, como o Intervozes e a Campanha pela Ética na TV – está nas ruas desde o dia 5 de outubro, data em que venceram concessões de importantes emissoras de televisão brasileira. No rádio, o símbolo da barbárie 22 Com a iniciativa, as organizações pretendem sensibilizar a sociedade para a urgente Negócio da China 23 necessidade de alterar o sistema de concessão e renovação das outorgas de radiodifu- são, que hoje fazem com que alguns poucos privilegiados possam se expressar a partir A TV digital e a da utilização de um bem público (o espectro de freqüências por onde se transmitem os multiplicação da mesmice 24 sinais de rádio e TV), enquanto mais de 180 milhões de brasileiros não têm meios e condições para se manifestar. Propostas para enfrentar o caos 26 A luta pela reforma no sistema de concessões se insere em uma luta mais ampla, pela garantia do direito humano à comunicação e, conseqüentemente, por uma sociedade justa e democrática, onde dos direitos dos trabalhadores e de toda a população sejam respeitados. Em um país onde o rádio e a televisão ainda são os meios de comunica- Expediente ção mais importantes, não há como pensar em democracia sem a criação de mecanis- mos que tornem transparentes a outorga e a renovação destas concessões. Esta é uma publicação do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. Esta publicação é uma contribuição do Intervozes ao debate que agora se inicia. Com Equipe de redação: Bia Barbosa, Bráulio ela, pretendemos dar subsídios para que a sociedade possa se mobilizar e reivindicar Ribeiro, Carolina Ribeiro, Cristina Charão, mudança imediatas na forma como são concedidas as concessões de rádio e TV. Diogo Moyses, Gustavo Gindre, João Brant, Jonas Valente, Lucas Milhomens, Mayrá Lima, Boa leitura, Marcy Picanço e Michelle Prazeres. Diagramação e arte: Henrique Costa Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
  • 3. Em nome do público, mas sem o público As concessões de rádio e televisão são públicas, ou seja, pertencem ao conjunto da sociedade brasileira, mas na prática os empresários agem como se fossem eles os proprietários dos canais. N em todo mundo sabe, mas rádios e exemplo, que emissoras as utilizem para TVs abertas no Brasil operam com promover a criminalização dos movimentos concessões públicas. É comum as sociais e impor uma agenda política que lhes pessoas pensarem que as emissoras de interessa. Também é comum a discrimina- rádio e TV são donas dos canais e que ção contra mulheres, negros, indígenas, podem fazer deles o que bem entendem. Na homossexuais, pessoas com deficiência e realidade, o conteúdo transmitido pelo rádio idosos, além de determinadas religiões e e pela TV trafega pelo ar, no chamado classes sociais. Estipulam padrões estéti- espectro eletromagnético, um bem público e cos, éticos e morais, impondo valores que finito. Para transmitir determinada progra- promovem e perpetuam preconceitos. A mação, as emissoras precisam, portanto, de sociedade, em nome de quem é dada a uma autorização do Estado, ou seja, uma concessão, não tem como proteger-se, concessão pública. Está no artigo 21 da apesar da Constituição garantir este direito. Constituição Federal: “Compete à União (...) explorar, diretamente ou mediante autoriza- ção, concessão ou permissão (...) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e Quadro dramático imagens”. Ao se debruçar sobre o atual modelo de outorgas – concessões, permissões e Em tese, rádio e televisão estão na mesma autorizações – de rádio e TV no Brasil, o que categoria que os serviços de energia se encontra é um quadro pior do que a elétrica, de navegação aérea, de transporte pessoa mais pessimista poderia esperar. Os ferroviário e rodoviário, por exemplo. No empresários e políticos representantes das entanto, diferentemente destes serviços, a elites reinam sozinhos, ditam as regras e não radiodifusão opera sem critérios claros e cumprem nem o pouco que a lei prevê. Não com privilégios estranhos a um sistema há participação da sociedade no debate democrático. Para que se tenha uma idéia, a sobre a concessão e renovação das outor- lei que define as concessões públicas vale gas, que acontece sem responder a nenhum para todas as modalidades de serviço, critério público. O processo é lento e sem menos para a radiodifusão. As emissoras de transparência. Também não há fiscalização TV recebem a concessão por 15 anos e as por parte do poder público, o que permite que de rádio, por 10 anos, e durante todo esse haja emissoras em funcionamento com período os detentores das concessões não outorgas que já venceram há quase 20 anos. têm que prestar contas a ninguém sobre o Deputados e senadores continuam contro- uso que fazem delas. lando emissoras, embora a Constituição proíba. Licenças de TVs e rádios educativas Assim, embora a concessão seja pública, ela são usadas para escapar da obrigatoriedade é usada para fins privados. É comum, por de licitação e proteger negócios com fins CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 3
  • 4. Embora a comerciais. As concessões públicas são com as rádios comunitárias não legalizadas, usadas para dar lucro para as empresas - fecham os olhos para as constantes ilegali- concessão seja que determinam a programação de acordo dades praticadas pelas emissoras comercia- pública, ela é com o mercado publicitário -, mas nenhum is. Além disso, o processo de renovação das tostão é revertido em benefício social. Nem outorgas é, na prática, automático, já que usada para fins sequer o contrato, documento que deveria não conta com nenhuma avaliação do uso privados, dando estabelecer os deveres dos concessionários feito pelos concessionários e nem abre e as sanções, no caso de descumprimento espaço para novos concorrentes. O que era suporte a um de obrigações, é tornado público. para ser concessão se transformou em sistema de capitania hereditária. A ilegalidade e a imoralidade sustentam um comunicações sistema de comunicações concentrado e Ficam aí algumas perguntas: é democrático concentrado que impedem que os meios reflitam a pluralidade que a liberdade de expressão seja um direito e a diversidade existentes na sociedade de 11 famílias e que os 190 milhões de impede a brasileira. O monopólio e o oligopólio brasileiros tenham apenas a liberdade de manifestação da proibidos pela Constituição em seu artigo trocar de canal? Será que nunca houve no 220, por exemplo, estão presentes regional e Brasil um fato que justificasse a não renova- diversidade e da nacionalmente. O controle sobre as conces- ção de uma concessão de rádio ou TV? Com pluralidade sões e sua renovação deveria ser um que justificativa renovam-se contratos de instrumento para evitar esse quadro, mas as emissoras que praticam diversas irregulari- existentes na brechas legais e a ausência de regulamenta- dades fiscais e trabalhistas? Será que nos sociedade ção das obrigações das emissoras impedem interessa a grilagem eletrônica promovida a aplicação do que diz a Constituição. Para por emissoras que se apropriam de um brasileira. piorar, impera no Brasil a histórica promiscui- espaço público e o negociam a seu bel dade entre governos, parlamento e empre- prazer? Do ponto de vista econômico, sários da radiodifusão. Não é à toa, nunca interessa-nos um mercado em que há uma outorga de rádio ou TV deixou de ser barreiras de entrada eternas e em que se renovada no Brasil. protege aqueles que têm poder de mercado significativo? É democrático a população não participar de nenhuma das etapas desses processos? Em busca de outro modelo Embora o quadro seja dramático, não O debate sobre concessões de rádio e TV é significa que não existam saídas. Elas um debate sobre democracia. Se é por esses dependem fundamentalmente de algumas veículos que circulam idéias, valores, mudanças legais e de vontade política dos informação e cultura, e se eles são um dos órgãos competentes, especialmente do principais espaços em que identidades se Ministério das Comunicações e da Anatel. afirmam ou se desfazem, eles têm que estar livres de interesses privados. Se é em nome Esses dois órgãos, que deveriam garantir o do público que são dadas as concessões, é interesse público no setor, pouco ou nada preciso que ele seja ouvido sobre como quer fazem para isso. Enquanto são implacáveis que esse espaço seja utilizado. 4 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 5. Uma história de apropriação do público pelo privado Desde o surgimento dos meios de comunicação eletrônicos no país, a promiscuidade entre radiodifusores e políticos determinou a prevalência de interesses privados no rádio e na TV. A confusão encabeçada para as outorgas de TVs pelo próprio Executivo educativas. Além dessas Federal nas concessões, condições, o decreto faz autorizações e permissões menção de limites de de outorgas de rádio e TV detenção de concessões, tem origem quase concomi- mas é omisso em relação a tante ao aparecimento dos princípios para evitar o uso veículos de comunicação privado deste bem público. eletrônica no Brasil. Apoi- ada numa legislação cheia A década de 70 é marcada de brechas, a farra das por uma aliança do governo concessões assumiu faces militar com a Rede Globo de diferentes ao longo das Televisão. Foco de uma CPI últimas décadas, respeitan- que considerou ilegal o do, porém, o mesmo critério desde os anos aporte de dinheiro do grupo Time-Life na sua 50: a supremacia de interesses privados de estrutura, a Rede Globo cumpriu o estratégi- empresas e políticos. co papel de unidade nacional, sendo subserviente à censura do Regime, o que O marco legal que dá início à promiscuidade contribuiu sobremaneira com as vistas na relação entre o público e o privado nas grossas do Estado em relação à expansão Comunicações é o Código Brasileiro de não controlada do setor. Data dessa época o Telecomunicações (CBT), aprovado em 27 crescimento dos nove maiores grupos de de agosto de 1962. Ele facilitou ao máximo a comunicação do país que até hoje controlam Apoiada numa ocupação das freqüências previstas, abrindo 90% dos canais de rádio e TV existentes. legislação frágil, espaço para um enorme crescimento do setor privado. Durante o governo Figueiredo (1979-1985), a farra das foram concedidos nada menos do que 634 concessões Coincide com esse período a fundação da canais de radiodifusão, 295 rádios AM, 299 Associação Brasileira de Emissoras de rádios FM e 40 emissoras de TV. Com a assumiu faces Rádio e Televisão (Abert), formada a partir “transição democrática” e a condução de diferentes ao da reunião de radiodifusores que começa- Tancredo Neves à Presidência da República, vam a mostrar seu poder político no Con- a Abert voltou a entrar em cena para garantir longo das últimas gresso. Na aprovação do Código, a Abert foi que a ausência de critérios e regras claras décadas, responsável pela derrubada de cada um dos permanecesse. Tancredo recebeu de três 52 vetos do presidente João Goulart, que congressistas um documento com propostas respeitando, tentava barrar o caráter excessivamente progressistas de mudança nas políticas de porém, o mesmo liberalizante da Lei. Um dos vetos dizia comunicação. Os parlamentares também respeito ao artigo que determinava que a mostraram preocupação com a possibilida- critério desde os concessão seria renovada automaticamente de da indicação de Antônio Carlos Maga- anos 50: a em caso de não haver irregularidades lhães ao cargo de ministro e com a manuten- comprovadas contra a emissora. ção de Rômulo Villar Furtado na Secretaria prevalência de Geral do Ministério das Comunicações. interesses Em 1963, dois decretos (52.795 e 52.026) Furtado era homem de confiança da Globo, e regulamentaram o CBT, estabelecendo, estava no cargo desde 1974. A pressão privados de entre outras questões, o período de validade política, no entanto, não surtiu efeito. empresas e das concessões de rádio para 10 anos e de TV para 15 anos. Em 1967, foi promulgado o Ao assumir o Ministério das Comunicações, políticos. Decreto-lei 236, que determinou condições ACM tentou dar um caráter de moralidade CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 5
  • 6. Com a instalação nas concessões distribuídas por Figueiredo em torno das outorgas para retransmissoras e prometeu “promover estudos para fixar (RTVs) e, em seguida, para as educativas. da Constituinte, a critérios de concessão de emissoras de rádio Em 1996, o decreto 2.108 definiu que "é partir de 1987, e TV”. Em março de 85, ele assina a portaria dispensável a licitação para a outorga para a 128, que suspende as concessões dadas a execução de serviço de radiodifusão com Sarney e ACM partir de outubro de 84. As concessões ficam fins exclusivamente educativos". encontraram nas suspensas até o final do ano, mas ACM acaba chancelando os pedidos e dá início a Em agosto de 2002, a repórter Elvira Lobato, concessões de uma das maiores distribuições de outorgas a da Folha de S. Paulo, publicou uma série de rádio e TV uma políticos da história brasileira. reportagens que revelaram como o governo Fernando Henrique havia dado continuidade maneira de à prática de distribuição de TVs a políticos agradar os seus aliados: Na matéria intitulada “FHC distribuiu Moeda de troca rádios e TVs educativas para políticos”, aliados, Com a instalação da Constituinte, a partir de consta que "em sete anos e meio de gover- utilizando-as como 1987, Sarney e ACM encontraram nas no, além das 539 emissoras comerciais concessões uma maneira de agradar os vendidas por licitação, FHC autorizou 357 moeda de troca seus aliados políticos e utilizaram-nas para concessões educativas sem licitação. (...) A política. troca de favores. Em três anos e meio – de distribuição foi concentrada nos três anos 15/03/85 a 5/10/88 –, Sarney distribuiu 1.028 em que o deputado federal Pimenta da Veiga outorgas, sendo 25% delas no mês de (PSDB-MG), coordenador da campanha setembro de 1988, que antecedeu a promul- [presidencial] de José Serra, esteve à frente gação da Constituição. O Diário Oficial da do Ministério das Comunicações. Ele União do dia 29/9/88, seis dias antes de ocupou o cargo de janeiro de 1999 a abril de promulgada a Constituição, trouxe 59 2002, quando, segundo seus próprios outorgas em um só dia, todas assinadas na cálculos, autorizou perto de cem TVs noite anterior. educativas. Pelo menos 23 foram para políticos. A maioria dos casos detectados Com raras exceções, os beneficiados foram pela Folha é em Minas Gerais, base eleitoral parlamentares, que direta ou indiretamente de Pimenta da Veiga, mas há em São Paulo, (por meio de seus familiares ou sócios) Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, receberam as outorgas em troca de apoio Pernambuco, Alagoas, Maranhão, Roraima político a projetos de Sarney, especialmente e Mato Grosso do Sul". para a extensão do mandato do presidente para cinco anos. Dos 91 constituintes que foram premiados com pelo menos uma concessão de rádio ou televisão, 84 (92,3%) Sem mudanças no Governo Lula votaram a favor do presidencialismo e 82 Na atual gestão do Ministério das Comunica- (90,1%) votaram a favor do mandato de ções, a prática de distribuir outorgas em cinco anos. troca de apoio político continuou. De forma inédita, integrantes da Comissão de Ciência No início do governo FHC, o ministro das e Tecnologia, Comunicação e Informática Comunicações, Sérgio Mota, promoveu (CCTCI) da Câmara dos Deputados amea- algumas mudanças no sentido de dar çaram não renovar e devolver ao Executivo transparência ao processo. Duas delas 227 processos de renovação de outorgas em aparecem no Decreto 1720/95, estabelecen- função da ausência de documentação, do a necessidade de licitação e o pagamento necessária para a análise dos pedidos. pelo uso da concessão. A norma, porém, Jader Barbalho (PMDB-PA), ex-presidente passou a privilegiar empresas com maior da Comissão, estava entre os 10 parlamen- poder econômico, dando ao preço do tares envolvidos com as emissoras cuja não outorga um peso maior do que as definições renovação parecia iminente. Tratou de pedir sobre a programação. pessoalmente ao presidente Lula que intercedesse, o que de fato aconteceu. A utilização de canais de rádio e TV como moeda política logo voltou a aparecer. Com a Em junho de 2006, o Executivo pediu os regra da licitação valendo apenas para as processos de volta, alegando que caberia ao comerciais, a “negociação” passou a girar Ministério das Comunicações, e não ao 6 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 7. Congresso, exigir das empresas a comple- parar, diretamente ou indiretamente, nas mentação dos documentos. O curioso é que mãos deles". foi o próprio Ministério que repassou a documentação incompleta para a Câmara. Fato é que permanece o uso das outorgas Com a manobra, garantiu-se que Barbalho como moeda política. Além disso, o cargo mantivesse em atividade duas emissoras de mais alto do Ministério das Comunicações é sua família com concessões vencidas. Além ocupado por um senador e ex-funcionário da da Rádio Clube do Pará, que opera sem Globo, notadamente defensor de interesses autorização há mais de 13 anos, também dos empresários de radiodifusores. Ele foram beneficiadas com a medida a Rede mesmo, dono de uma rádio em Barbacena Brasil Amazônia de Televisão (RBA), cuja (MG) e, portanto, violador do princípio concessão venceu em 2002, e a Rádio constitucional que proíbe que parlamentares Carajás FM. possuam canais de rádio e TV. Foi também Hélio Costa o maestro da implementação da A manobra salvou também emissoras de TV digital no Brasil, que escandalosamente outros aliados do governo, como os senado- beneficiou os interesses das emissoras de res José Sarney (PMDB-AP), José Mara- TV, escolhendo o padrão japonês e dando nhão (PMDB-PB) e Flávio Arns (PT-PR), gratuitamente às atuais emissoras de além dos deputados Marcondes Gadelha televisão um outro canal para a exibição (PSB-PB) e Humberto Michiles (PL-AM). digital. Essa última decisão está sendo questionada na Justiça por meio de uma A repórter Elvira Lobato seguiu com as Ação Direta de Inconstitucionalidade no investigações e, em 2006, publicou que Superior Tribunal Federal. Fato é que deu-se foram distribuídas pelo menos sete conces- continuidade ao sões de TV e 27 rádios educativas a funda- Mais recentemente, o ministério das Comu- ções ligadas a políticos: nicações convocou os concessionários para uso das outorgas recadastrarem as informações de suas como moeda “Entre políticos contemplados estão os empresas. A portaria, publicada no dia 13 de senadores Magno Malta (PL-ES) e Leonel agosto, deu 60 dias para que emissoras de política, com um Pavan (PSDB-SC). A lista inclui ainda os rádio e TV passem para o Ministério dados notório defensor deputados federais João Caldas (PL-AL), como a composição societária das organiza- Wladimir Costa (PMDB-PA) e Silas Câmara ções. O que parece ser um ato de controle do de interesses dos (PTB-AM), além de deputados estaduais, Executivo só reforça, mais uma vez, a total empresários da ex-deputados, prefeitos e ex-prefeitos. Em falta de conhecimento do governo em três anos e meio de governo, Lula aprovou relação à utilização das concessões. Por lei, radiodifusão no 110 emissoras educativas, sendo 29 qualquer mudança no quadro societário e cargo mais alto do televisões e 81 rádios. Levando em conta contrato social das empresas deveria ser somente as concessões a políticos, significa solicitada previamente ao Ministério. Pelo Ministério das que ao menos uma em cada três rádios foi visto, não foram. Comunicações. CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 7
  • 8. Renovação sem critérios Ao contrário de outros serviços públicos, na renovação das concessões de rádio e TV não há a avaliação do cumprimento pelos concessionários da Constituição e da legislação. Em qualquer serviço objeto de concessão não necessariamente quem possui mais pública existem critérios tanto para a outorga dinheiro é mais capacitado para prestar este quanto para a renovação das concessões. serviço público. Nas novas outorgas, são Mas não é isso que acontece com o rádio e a apreciados o tempo a ser destinado a televisão, onde empresários, políticos e programas jornalísticos, educativos e líderes religiosos recebem a outorga sem a informativos, ao serviço noticioso, à progra- necessária avaliação de suas condições mação regional e o prazo para colocar o para o oferecimento, com qualidade, do canal no ar (entre estes, o critério mais serviço público de radiodifusão. valioso). No entanto, no caso das emissoras de alta potência, todos esses quesitos valem Mas grave ainda é o momento de renovação menos do que o critério econômico. Além das outorgas, quando não há qualquer disso, pouco interessa avaliar essas ques- análise sobre o cumprimento pelo concessi- tões nas novas outorgas, se na renovação onário das obrigações previstas na legisla- das obtidas antes de 1996 (a grande maioria) ção, especialmente aquelas que constam na elas não são levadas em conta. Constituição Federal. Além de um tempo demasiadamente longo para a finalização do processo de renovação – fazendo com que as concessões permaneçam em funciona- Avaliação zero mento por anos sem a necessária aprovação A ausência de critérios que não os econômi- do Congresso –, tanto o parlamento quanto o cos é a regra no processo de outorga. No governo verificam somente se a emissora entanto, é na renovação das concessões está com o pagamento de impostos em dia. que reside boa parte do problema com as E, mesmo em relação a isso, não são poucas concessões de rádio e TV, quando o mínimo as histórias de concessionários que deram que se poderia esperar de um país democrá- “jeitinhos” para burlar a legislação e escon- tico é que governo e Congresso avaliassem der dívidas fiscais e trabalhistas. se, no período em que exploraram os sinais de rádio e TV, os concessionários cumpriram Antes da Constituição de 1988, a outorga seus deveres e responsabilidades. Não há, para a exploração do serviço de rádio e TV entretanto, mecanismos para avaliar, por Fosse avaliado o era feita a partir da vontade exclusiva do exemplo, se as empresas respeitaram o que Ministério das Comunicações, que indicava determina o artigo 221 da Constituição cumprimento dos quem teria o direito de explorar as conces- Federal, que afirma que a programação das princípios sões públicas. A partir da aprovação da nova emissoras deve dar preferência às finalida- Constituição, a posterior aprovação do des educativas, artísticas, culturais e constitucionais no Congresso Nacional passou a ser necessá- informativas, assim como promover a cultura momento da ria. Isso, em tese, deveria ter dado mais regional e estimular as produções indepen- transparência ao processo. Até 1995, dentes. É notório que boa parte das emisso- renovação das entretanto, a indicação do Executivo ao ras despreza tais princípios e, mesmo assim, concessões, não Congresso daqueles que deveriam ser os tem a sua concessão renovada, sem concessionários permanecia nas mãos do qualquer questionamento. seria tão comum governo. Esse procedimento só foi rompido assistir a com o decreto que estabeleceu o processo O mesmo acontece com outras obrigações e de licitação para a outorga das concessões. responsabilidades dos concessionários, programas que como o cumprimento da classificação violam a A lei de licitações, entretanto, criou um novo indicativa determinada pelo Estatuto da problema: a da prevalência do poder Criança e do Adolescente, e o respeito aos dignidade econômico na decisão de quem irá explorar direitos humanos, previsto na garantia humana. os serviços de radiodifusão. Acontece que constitucional do respeito aos valores éticos 8 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 9. ser aplicados. A maioria dos artigos do O capítulo de capítulo de Comunicação Social, entretanto, Comunicação Social da Constituição permanece sem regulamentação por força do lobby das emissoras, que acusam de “censura” as tentativas de regulamentar o campo das comunicações, em uma inversão de valores impossível de se assistir nas e sociais (art. 221, IV). Fosse avaliado o democracias mais cumprimento de tais princípios no momento consolidadas. da renovação das concessões, não seria tão comum assistir a programas construídos a partir da violação à dignidade humana e da exploração e exposição abusiva de tragédi- as pessoais e coletivas, além da exploração da imagem de crianças, tão comum nos programas de auditório. Outra ilegalidade comum é a renovação das concessões sem o cumprimento da veicula- ção do mínimo de conteúdo jornalístico determinado por lei. O mesmo acontece com as emissoras cujo conteúdo é baseado na venda de produtos. Além de ignorarem as diretrizes para a programação estabelecidas na Constituição, estas emissoras ultrapas- sam – e muito – o limite máximo de tempo destinado à publicidade (25% da grade de programação). Ou seja, os concessionários fazem o que bem entendem e, mesmo assim, têm a sua concessão renovada. 20 anos sem regulamentação A atual Constituição Federal foi promulgada há quase vinte anos e, desde então, diversos artigos foram regulamentados, para que todos os princípios ali presentes pudessem CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 9
  • 10. As capitanias hereditárias Somados, legislação ultrapassada, burocracia leniente e desvio conceitual do que é liberdade de expressão transformam outorgas temporárias em capitanias hereditárias. O processo de renovação das outorgas de rádio e TV de forma diferente de todos os rádio e TV é um capítulo à parte na história outros tipos de concessão: durante sua da radiodifusão brasileira. Afinal, é no vigência, a outorga só pode ser cancelada momento da renovação que se deveria por decisão judicial. analisar se determinada emissora atendeu ao interesse público e se a melhor opção para o país é que a outorga fique nas mãos da mesma empresa que já desfrutou da Licença precária, processo idem concessão por 15 anos, no caso de TVs, ou Outro problema est? na legislação, que 10, no caso das rádios. Entretanto, além da acaba por estabelecer na prática a renova- O processo falta de critérios (ver texto anterior), o ção automática em caso de omissão do processo administrativo é cheio de proble- Ministério das Comunicações. administrativo mas, acobertando uma política de renova- acoberta uma ção automática das concessões, em que a Genericamente, o Código Brasileiro de sociedade não é ouvida e o Estado abre mão Telecomunicações, a lei que regula o setor, política de de seu papel de avaliador das outorgas. diz que as concessões podem ser renovadas renovação “por per?odos sucessivos e iguais, se os Os problemas começam na Constituição concessionários houverem cumprido todas automática das Federal. O artigo 223 determina que a as obrigações legais e contratuais, mantido a concessões, em responsabilidade pela outorga é do Poder mesma idoneidade técnica, financeira e Executivo, mas diz também que ela só passa moral, e atendido o interesse público”. que a sociedade a valer quando é aprovada pelo Legislativo. Embora previstas em lei, essas exigências não é ouvida e o No entanto, o mesmo artigo estabelece não são analisadas. O volume de processos regras próprias para a renovação. Ela só não e a falta de acompanhamento durante a Estado abre mão acontece se 2/5 do Congresso Nacional, em vigência da concessão fazem com que não de seu papel de votação nominal, se pronunciar contra. Esse haja uma análise cuidadosa sobre seu uso, procedimento de exceção torna rara a tornando o sistema de renovação um avaliador das apreciação da renovação de outorgas. Além processo praticamente burocrático. A outorgas. disso, a Constituição trata a concessão de decisão é sempre pela renovação. 10 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 11. Pior ainda: um decreto de 1983 garante às emissora cumpriu “as exigências legais e Toda essa via crucis emissoras que “caso expire a concess?o ou regulamentares”, apenas verifica questões permissão, sem decisão sobre o pedido de burocráticas - importantes, mas insuficientes deveria ser feita renovação, o serviço poderá ser mantido em - como o encaminhamento da papelada com em menos de um funcionamento, em caráter precário”, a ficha de cadastramento dos sócios que têm mesmo se a própria emissora estiver mais de 5% de participação. ano, mas dura em devendo documentos. Basta apresentar o média mais de 7 pedido de renovação e ela obtém a licença Do Ministério das Comunicações, o pedido prec?ria. parte para a Casa Civil da Presidência da anos (no caso das República, que burocraticamente assina a rádios FM), sendo Esse fato se agrava com a enorme demora renovação, encaminhando o processo para na apreciação dos processos. O tempo o Congresso Nacional. 6,5 anos só na médio de tramitação para as permissões de primeira passagem rádio FM, por exemplo, é de sete anos. Isso No Congresso, o processo passa primeiro significa que quando a outorga é renovada, a pela Comiss?o de Ciência e Tecnologia, no Poder Executivo. emissora já funcionou em média sete anos Comunicação e Informática da Câmara dos com ela vencida. A figura da licença precária Deputados. Apenas as decisões pela não protege tanto a vagareza do ministério na renovação da outorga vão a Plenário. As an?lise, quanto o interesse das emissoras decisões da CCTCI favoráveis à renovação em postergar os processos, quando lhes só são apreciadas pelo conjunto dos faltam documentos de regularidade fiscal e deputados se houver recurso de pelo menos trabalhista. 10% dos parlamentares. Há mais um motivo para se dizer que a Os critérios usados pela CCTCI estão renovação se dá automaticamente: enquan- definidos em um Ato Normativo interno, to para novas outorgas há um processo de modificado em julho deste ano, que abriu licitação, para a renovação não há nenhuma espaço para a realização de audiências abertura para outros interessados em públicas, além de incluir também o resumo explorar o serviço. das eventuais denúncias contra a emissora feitas ao Minicom. O documento também determina a criação de um sistema público de informações que permita o acesso a Renovação passo-a-passo todos os dados dos processos que estão na Analisar quais os passos para a renovação Câmara. Entretanto, as novas regras não das concessões e permissões ajuda a vão fundo na definição de critérios para a identificar as causas dos problemas decor- renovação das outorgas, não se avaliando rentes. A primeira etapa para a renovação é a se o conteúdo veiculado pela emissora manifestação de interesse da emissora. De seguiu minimamente os critérios constitucio- três a seis meses antes da data de venci- nais. mento da concessão, ela deve comunicar ao Ministério das Comunicações seu desejo em Da CCTCI, os processos vão para a Comis- renová-la. são de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). De lá, seguem para o Senado, onde O órgão, que em tese deveria analisar se a são analisados pela Comissão de Ciência, Que tipos de outorgas existem? Concessões > s?o dadas para emissoras de TV e para emissoras de r?dio de caráter nacional ou regional, isto é, para ondas curtas e para ondas médias em alta potência. A concess?o é prerrogativa do Presidente da República, e é dada sempre por decreto. Permissões > dadas para emissoras de r?dio de âmbito local, como as FMs e as AMs de potência mais baixa. A permissão é prerrogativa do Ministério das Comunicações, e é dada por portaria. Autorizaç?es > dadas para rádios comunitárias, retransmissoras e repetidoras de r?dio e TV. CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 11
  • 12. Recentemente, o Tecnologia, Inovação, Comunicação e mento sistemático do uso das concessões, Informática. Aprovados nessa comissão do não apenas na renovação. Ministério das Senado Federal, os processos voltam à Comunicações Casa Civil para que seja publicado o decreto presidencial que oficializa a renovação da anunciou o outorga. Toda essa via crucis deveria ser recadastramento feita em menos de um ano, mas dura em média mais de 7 anos (no caso das rádios das emissoras. O FM), sendo 6,5 anos só na primeira passa- que poderia gem pelo Poder Executivo. indicar uma medida positiva, Concessão pública sem público na prática Além de ajudar a entender alguns problemas evidencia a total decorrentes, o roteiro dos processos de renovaç?o de outorgas revela a ausência de falta de controle instrumentos de participação social nesse sobre as processo. Apenas agora, em julho de 2007, abriu-se uma pequena brecha de participa- concessões. ção via audiência pública, mas isso se a Câmara dos Deputados fizer a convocação, que precisa ser detalhadamente justificada. Muito pouco para uma concessão que dá o direito de utilização, por 15 anos, de um bem escasso pertencente ao povo. Além disso, como nos países com a democracia mais consolidada, deveria haver o acompanha- Licitação é definida por critério econômico A partir de 1996, o processo de novas outorgas ganhou mais transparência com a adoção do mecanismo de licitação. As emissoras interessadas em obter uma concessão ou permissão devem declarar seu interesse ao Ministério das Comunicações. A partir de avaliação de viabilidade técnica e econômica, publica-se um edital de licitação para ocupação daquela freqüência. A regulamentação para novas outorgas permite ao ministério fazer consulta pública prévia, definir quesitos e critérios mais claros e exige um instrumento contratual que contemple as definições todas. Mas o que deveria trazer democracia do processo, na prática cria outros problemas. Em primeiro lugar, porque para as emissoras de FM e de TV que transmitem em alta potência (chamadas de classe E), o principal critério de avaliação é o financeiro. No frigir dos ovos, o que pesa mais é o poder econômico das emissoras. Segundo, porque a licitação é obrigatória para as comerciais, mas dispensável para emissoras educativas. Isso deixa espaço para que centenas de concessões que são, na prática, comercia- is, sejam outorgadas como educativas (ver texto sobre as educativas). 12 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 13. No vale tudo, vende-se de tudo Grade de programação da maioria da emissoras é ocupada ilegalmente, mas os responsáveis pela fiscalização das concessões fingem que não têm nada a ver com isso. É comum ouvir que a televisão brasileira é grade de programação foi comprado por uma das melhores do mundo. Em público, terceiros. Em ambos os casos, a ilegalidade proprietários das empresas concessionárias é flagrante, e as autoridades brasileiras, e seus mais altos funcionários gabam-se da assim como em outras questões ligadas às difusão de nossas telenovelas ao redor do concessões de radiodifusão, fingem que não mundo. Somos, afinal, junto com mexicanos, têm nada a ver com isso. argentinos e venezuelanos, os maiores exportadores de um gênero televisivo Ao mesmo tempo, as mesmas “autoridades” Enquanto impera a consagrado em quase todo o planeta. dizem que não há espaço na TV aberta para os canais comunitários, universitários e barbárie no uso do A qualidade do conjunto da programação da legislativos. Enquanto impera a barbárie no espectro por onde televisão brasileira, entretanto, é diariamen- uso do espectro por onde trafegam os sinais te colocada em xeque: telejornais sensacio- de televisão, até a nascente TV Brasil corre o trafegam os sinais nalistas e tendenciosos, programas de risco de ficar fora do sinal aberto em algumas de televisão, as auditório que expõem pessoas ao ridículo, cidades brasileiras. 'pegadinhas' preconceituosas, entre tantos emissoras outros exemplos, evidenciam que a progra- Os supermercados eletrônicos legislativas, mação televisiva não é um mar de rosas. Pelo contrário. A legislação brasileira é clara: o limite de universitárias e publicidade para as emissoras de televisão é comunitárias - Mas se a avaliação da qualidade do conteú- de 25% do tempo de programação (art. 28, do veiculado pelas emissoras muitas vezes Decreto 52.795). Apesar disso, como além da nascente pode ser subjetiva, o mesmo não pode ser qualquer brasileiro ou brasileira pode TV Brasil - não têm dito de algumas aberrações bastante facilmente notar, alguns canais veiculam comuns nas telas de TV. É o caso das exclusivamente programas cuja intenção é espaço na emissoras exclusivamente voltadas à venda vender produtos. Por meio destas emisso- televisão aberta. de produtos e dos programas cujo horário na ras, vendem-se tapetes, brincos, anéis, CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 13
  • 14. carros, casas e apartamentos, material de concessões (como “Polishop”, “Bestshop” e construção, roupas e instrumentos de “Shoptime”). Mas podem ser também culinária... Quem nunca viu a chapa do ex- “games”, em que o telespectador é induzido boxeador norte-americano George Foreman a acreditar que, ao fazer uma ligação e sendo testada “ao vivo”? A lista é grande. acertar a pergunta proposta pelos apresen- tadores, automaticamente ganhará o prêmio Além da evidente ilegalidade no abuso do em questão. Neste caso, trata-se de um limite de conteúdo publicitário, tais concessi- verdadeiro estelionato eletrônico. onários exploram um bem público (o ar por onde trafegam os sinais de rádio e TV) sem A sublocação da grade de programação que a contrapartida estabelecida pela tornou-se tão comum que hoje é parte legislação brasileira seja cumprida. Não essencial do modelo de negócios da maioria custa lembrar que, em seu artigo 221, a das emissoras. As mesmas que, em tese, Constituição Federal determina que a deveriam ofertar uma programação de programação das emissoras deve dar qualidade e lucrar por meio de anúncios preferência a finalidades educativas, publicitários. Mas, como no Brasil tudo vale, artísticas, culturais e informativas, promo- tanto o Ministério das Comunicações quanto vendo a cultura nacional e regional. No caso a Anatel omitem-se, dando o aval para que a destes “supermercados eletrônicos” – cada “produção independente” seja tratada em vez mais comuns em todo o país –, é seu avesso: enquanto nos países desenvol- flagrante o desrespeito a estes princípios. vidos as emissoras são obrigadas a comprar Afinal, nem com muito esforço é possível parte de sua programação de produtores considerar que informar preços de tapetes e independentes (dinamizando o mercado anéis seja um serviço de interesse público. audiovisual), no Brasil produção indepen- dente é o conteúdo veiculado por quem pode Para os detentores destas concessões, o comprar espaço na grade de programação lucro é líquido e certo, pois não há a necessi- das emissoras. Hoje, conta-se no dedo os dade de investimentos em produção de canais que não cometem tal ilegalidade. conteúdo jornalístico ou ficcional, da contratação de recursos humanos qualifica- dos (roteiristas, diretores, fotógrafos, editores, etc), entre tantos outros requisitos Merchandising fora da lei de uma emissora convencional de televisão. O não cumprimento da legislação vai além. Bastam pequenas equipes, com apresenta- Desde a década de 1970, o merchandising é dores eloqüentes, para que o empreendi- uma prática comum na programação da mento dê certo. Quem não gostaria de televisão brasileira. Cada vez mais, novelas possuir um negócio assim? e programas de auditórios trazem apresen- Além da evidente tadores e artistas divulgando produtos de forma subliminar, sem a necessária informa- ilegalidade no A sublocação da ção de que determinado conteúdo é, na abuso do limite de grade de programação verdade, publicidade comercial, como manda o Código de Defesa do Consumidor conteúdo Outra ilegalidade bastante cometida pelos (art. 36). Segundo o código,"a publicidade publicitário, tais concessionários de televisão é a venda de deve ser veiculada de tal forma que o espaço na grade de programação para consumidor, fácil e imediatamente, a concessionários terceiros. Muitas vezes chamadas de identifique como tal”. exploram um bem “produções independentes” pelas emisso- ras, que afirmam que tais conteúdos não são O merchandising, portanto, não é proibido, público sem que a de sua responsabilidade, estes programas mas sua prática deve estar dentro dos limites contrapartida evidenciam que, para participar da televisão da legislação, que é cada vez mais despre- brasileira, basta pagar. zada pelas emissoras. Hoje a publicidade estabelecida pela subliminar é uma das principais fontes de Constituição Não é necessário muito esforço para receitas dos canais. Dados divulgados pela identificar exemplos. Em geral, são cultos Bandeirantes e pela Record demonstram Federal seja religiosos e programas de vendas de que essas ações representam até 16% de cumprida. empresas que não detêm suas próprias seu faturamento comercial. 14 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 15. religiões que ocupam a televisão somente Se o debate é para ganhar dinheiro seduzindo telespecta- dores a fazerem contato telefônico. complexo, uma Sendo o problema complexo, como resolvê- coisa é certa: não lo? Proibir as religiões na televisão, como é possível fazem alguns países? Ou construir regras permanecer com O show da fé capazes de garantir equilíbrio em sua ocupação e o direito dos pais e responsáveis uma ocupação por crianças a preservá-las de determinadas indiscriminada da A invasão das religiões na TV evidenciam a imagens? A resposta não é simples e exige necessidade de se discutir a questão. reflexão. Uma das possibilidades é adotar televisão pelas algum critério de classificação indicativa, religiões, onde o A presença das religiões na televisão é um onde, por exemplo, cultos não poderiam ser tema complexo, mas a velocidade com que transmitidos em horários em que os pais que vale é surgem os programas baseados na fé faz encontram-se normalmente fora de casa. somente o poder com que a questão precise necessariamente Somado a isso, um canal exclusivo poderia ser enfrentada, sem sectarismos ou fanatis- ser reservado para as religiões, com alguns político e mos. Por um lado, é preciso considerar que a critérios de representatividade, para que sua econômico de religião é, em certa medida, uma manifesta- ocupação aconteça de forma justa. ção cultural. Isso, em tese, faz com que sua algumas igrejas. presença na televisão seja justificável. Por Por fim, há que se restringir de forma radical outro lado, trata-se de uma manifestação determinados conteúdos, como os cultos essencialmente privada, o que faz com que que discriminam outras religiões, os que as outras pessoas tenham o direito de que expõem as pessoas sem seu conhecimento este conteúdo não invada a sua casa. e os “tele-cultos”. Mas, se o debate é complexo, uma coisa é certa: não é possível A questão se torna ainda mais complexa permanecer com uma ocupação indiscrimi- quando lembramos que a Constituição nada da televisão pelas religiões, onde o que define o Estado brasileiro como laico, ou vale é somente o poder político e econômico seja, não-religioso. Sendo as concessões de de algumas igrejas. radiodifusão públicas, outorgadas pelo Estado, em tese elas não poderiam ser utilizadas para o proselitismo religioso. Feitas estas observações, o fato é que a ocupação da telinha pelas religiões é indiscriminada e desigual. Algumas reli- giões, com ampla maioria para os evangéli- cos e católicos, possuem suas próprias emissoras ou compram horário na grade de programação de outras. Tal ocupação é possível graças ao poder político de algumas destas religiões (que conseguem pressionar o Estado a conceder as outorgas) ou ao seu poder econômico (que permite a compra de horário em outros canais). Desta forma, as religiões desprovidas destes poderes não conseguem ocupar o espaço televisivo. Emissoras de matrizes africanas, por exemplo, estão fora das telas. Há que se considerar, por fim, que a própria programação religiosa é diversa, existindo desde programas de “debates” à transmis- são de cultos e missas. Há também as CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 15
  • 16. Uma grande caixa-preta A falta de transparência dos processos de concessão de rádio e TV faz com que a sociedade não tenha como fiscalizar o uso de um bem público que pertence ao conjunto dos brasileiros. Quando, em 2003, ordenou que fossem Contribui ainda para esta privatização publicadas as informações relativas aos simbólica o caráter confidencial do contrato proprietários de concessões de rádio e TV no de concessão celebrado entre uma empresa site do Ministério das Comunicações, o ex- e o Estado, que tem extrato é publicado no ministro Miro Teixeira referiu-se ao problema Diário Oficial da União, mas cujo o conteúdo A falta de com o qual tentava lidar como “a caixa-preta integral é de difícil acesso. Em palestra da radiodifusão”. A expressão foi retomada recente sobre o assunto, o coordenador do transparência tem em recente entrevista do sociólogo e Laboratório de Políticas de Comunicação da como símbolo o professor da Universidade de São Paulo Universidade de Brasília (UnB), Murilo (USP) Laurindo Leal Lalo Filho para qualifi- Ramos, lançou um desafio para que qual- caráter car a situação do setor. Lalo, que pesquisa a quer jornalista ou pesquisador conseguisse confidencial do temática da TV pública, destaca que este obter um destes contratos. A brincadeira “mistério” envolvendo a radiodifusão impede explicita a dificuldade de acesso ao instru- contrato de que a população compreenda que rádio e TV mento jurídico que materializa o início da concessão são serviços públicos, prestados diretamen- concessão por parte do poder público para te pelo Estado ou por meio de concessão. exploração comercial deste tipo de serviço. celebrado entre “Ao não ter acesso a essa informação, a uma empresa e o população acaba criando no seu imaginário Outro pesquisador da UnB, Israel Bayma, a idéia de que as empresas são proprietárias compara as outorgas de radiodifusão às de Estado, cujo desses canais, quando na verdade esses outros setores. “Os atos de assinatura dos conteúdo é canais são bens públicos, outorgados pelo contratos das demais áreas são formais, Estado em nome da sociedade para que os comparece todo mundo, inclusive a impren- inacessível à concessionários prestem esse serviço por sa. Já os contratos de rádio e TV ninguém sociedade. um período limitado de tempo”, lembra. nunca viu”. Murilo Ramos cita o exemplo da 16 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 17. telefonia, em que os contratos estão disponí- societários das empresas de comunicação, A denúncia contra veis para consulta na Internet. o que fere diretamente o artigo 54 da o presidente do A reportagem procurou o Tribunal de Contas Senado, Renan da União (TCU), onde, acredita-se, estão todos os contratos de concessão de rádio e Calheiros, por uso TV. Segundo a assessoria do TCU, eles são de “laranjas” para disponibilizados apenas após algum julgamento do Tribunal, a partir de alguma comprar emissoras fiscalização ou denúncia. de rádio sem ter seu nome Sigilo oficial divulgado no Uma entrada no site do Ministério das negócio é um Comunicações evidencia a falta de informa- exemplo de uma ções disponível ao público. Nas seções reservadas à radiodifusão de sons (rádio) e prática comum de sons e imagens (TV), só há breves Brasil afora. explicações sobre o que são estes serviços. No site da Anatel, foi criado o Sistema de Dados sobre Comunicação de Massa (SisCom). Mas em nenhum dos dois órgãos há qualquer relação dos contratos de concessão. O Siscom disponibiliza dados sobre o processo das outorgas (se as licenças estão concedidas ou em processo de renovação) e sobre a localização dos estúdios e antenas. Outro sistema da Anatel mostra os canais de TV e de Rádio disponíveis, em reserva ou em uso. No entanto, estes dados são pouco úteis ao cidadão e servem apenas aos concessionários interessados em se candidatar ao serviço ou àqueles já em processo de obtenção da licença. Para pesquisadores e entidades do setor, a lógica da caixa-preta se mantém em relação aos dados mais importantes: aqueles Fato consumado? relativos aos proprietários dos meios de comunicação. Foram estas informações que o ex-ministro Miro Teixeira publicou em 2003. Apesar de desatualizadas, as informa- ções foram fundamentais para identificar diversos canais de rádio e TV irregulares. Tornada pública, a lista permitiu perceber como os donos de grandes emissoras utilizavam laranjas ou parentes para burlar a lei e ultrapassar o limite de até 5 geradoras de VHF por proprietário em todo o país. O cadastro também foi importante, por exem- plo, para rastrear a participação de 10% dos parlamentares do Congresso nos quadros CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 17
  • 18. A farra dos parlamentares continua, apesar da Constituição Historicamente as concessões são concedidas a parlamentares. A prática, apesar de contrariar a Constituição Federal, é facilmente comprovada com um simples cruzamento de informações. O artigo 54 da Constituição Federal (CF) que 10% da Câmara e assustadores 33,3% define que deputados e senadores não do Senado. poderão, no exercício de seus cargos, De acordo com “firmar ou manter contrato com pessoa O artigo “Coronelismo, radiodifusão e voto: a jurídica de direito público, autarquia, empre- nova face de um velho conceito”, escrito pela levantamento da sa pública, sociedade de economia mista ou professora da Universidade de Brasília Agência Repórter empresa concessionária de serviço público”. (UnB), Suzy dos Santos, ainda em 2005, O artigo seguinte diz que um parlamentar revela o caso íntimo do ex-senador Antônio Social, a 'bancada perderá seu mandato caso “infringir qualquer Carlos Magalhães (ex-PFL) e sua família da comunicação' das proibições estabelecidas no artigo com os meios de comunicação baianos. A anterior”. Televisão Bahia, retransmissora da TV no Congresso Globo em Salvador (BA), está em nome de Nacional No entanto, são visíveis os casos em que sua esposa, de seu filho e dos netos. A parlamentares ou seus familiares são donos família do ex-senador ainda detém o controle representa nada ou mesmo sócios das empresas que detêm de uma TV em Feira de Santana, outra em concessões. De acordo com um levanta- Vitória da Conquista e da rádio Antena 1, em menos do que mento feito pela Agência Repórter Social, 53 Ribeira do Pombal. 10% da Câmara e deputados federais e 27 senadores declara- ram possuir algum tipo de controle sobre Essa mesma intimidade entre as elites assustadores veículos de comunicação. A 'bancada da políticas e as comunicações pode ser 33,3% do Senado. Comunicação' representa nada menos do encontrada no Maranhão, com a família do 18 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 19. ex-presidente e senador José Sarney O Ministério A lei que não vale (PMDB), conhecida pelo controle do grupo Público Federal já Mirante (90% de todo o aparato de comuni- cação do Estado). Ou no Ceará, cujo conseguiu senador representante, Tasso Jereissati Veja o que diz a Constituição: (PSDB), tem vínculo com uma operadora de identificar 10 MMDS (TV paga via satélite), três operado- deputados que Artigo 54. Os Deputados e Senadores ras de televisão a cabo, uma geradora de não poderão: televisão, afiliada ao SBT, 31 retransmisso- votaram nos ras e três rádios FM. processos de I - desde a expedição do diploma: A farra das concessões a parlamentares não renovação das a) firmar ou manter contrato com é um fenômeno novo. Desde os anos 50, concessões de pessoa jurídica de direito público, esse tipo de prática se consolida no país. autarquia, empresa pública, sociedade Mas a situação piorou durante o Governo suas próprias de economia mista ou empresa Sarney, quando o então ministro das emissoras. concessionária de serviço público, Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, salvo quando o contrato obedecer a concedeu 82 concessões de TV, sendo 43 cláusulas uniformes; (...) delas distribuídas no ano da votação da emenda constitucional. Como se não Artigo 55. Perderá o mandato o bastasse, o próprio ministro ACM e o Deputado ou Senador: presidente Sarney presentearam a si mesmos com sete e três concessões de I - que infringir qualquer das proibições geradoras de televisão, respectivamente. No estabelecidas no artigo anterior; (...) total, Sarney e ACM, em três anos e meio, distribuíram 1.028 outorgas, sendo 25% delas em setembro de 1988, mês que Entretanto: antecedeu a promulgação da Constituição. 53 deputados possuem diretamente veículos de comunicação; 27 senadores possuem diretamente Afiliadas da Rede Globo vinculadas a políticos* veículos de comunicação; Geradoras Retransmissoras 40 geradoras de televisão afiliadas e 705 retransmissoras da Rede Globo Estados Total (%) Quantidade Total (%) Quantidade estão nas mãos de políticos; AL 100 1 100 8 BA 100 6 100 311 128 geradoras de televisão e 1765 retransmissoras estão nas mãos de CE 100 1 100 58 políticos; GO 100 8 100 85 MA 100 4 100 97 Dos 80 membros da Comissão de MG 25 2 22 13 Ciência e Tecnologia, Comunicação e PA 66,6 2 - 0 Informática, pelo menos 16 têm relação PB 100 2 100 5 direta com emissoras de rádio ou TV; PE 66,6 2 66,6 4 Só em 2004, 10 deputados votaram PI 100 2 - - na renovação de suas próprias conces- RJ 40 2 30 6 sões; RN 100 1 100 3 SE 100 1 100 16 Metade das 2.205 autorizações SP 28,5 4 32,6 31 dadas a rádios comunitárias entre 1999 TO 100 2 100 68 e 2004 estão sob o controle de grupos Total 39,6 40 49,5 705 partidários. *Outorgas em nome próprio ou de parentes. Fonte: Suzy dos Santos, “Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito”, 2005. CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 19
  • 20. Conflito de interesses Outorgas de televisão controladas por políticos Segundo o artigo 180 do regimento interno da Câmara Federal dos Deputados, o Geradoras Retransmissoras deputado deve se declarar impedido de votar em determinada pauta, caso se configure Estados Quantidade Total (%) Quantidade Total (%) legislação em causa própria. No entanto, dos AC 2 40% 1 1,06% 80 membros da Comissão de Ciência e AL 3 60% 14 12,84% Tecnologia, Comunicação e Informática AM 3 42,85% 72 29,75% (CCTCI), pelo menos 16 têm envolvimento AP 2 50% 5 15,15% direto com emissoras de rádio ou TV. Seis BA 8 57,14% 392 55,44% deles são do DEM (ex-PFL), como o segun- CE 55,5% 30,11% 5 103 do vice-presidente da Comissão, presidente DF 1 9,1% 3 11,53% da Frente Parlamentar pela Radiodifusão, Paulo Bornhausen (DEM-SC), parente de ES 1 9,1% 1 0,50% sócios de uma rádio em Santa Catarina. A GO 10 62,5% 213 42,68% região Nordeste possui sete deputados na MA 8 72,7% 178 58,74% CCTCI ligados a empresas de radiodifusão. MG 13 27,65% 37 2,66% Recentemente, o Instituto para o Desenvol- MS 1 9,09% 8 3,22% vimento do Jornalismo (ProJor), ligado à MT 3 33,3% 23 8,07% Universidade de Campinas (Unicamp), PA 4 40% 43 14,19% encaminhou representação à Procuradoria Geral da República defendendo a apuração PB 3 50% 12 13,04% desta questão. Hoje, o Ministério Público PE 2 20% 6 3,87% Federal acompanha a mesma denúncia e já PI 4 57,14% 53 56,38% conseguiu identificar 10 deputados da PR 15 41,6% 131 27,75% CCTCI que votaram em seus próprios RJ 5 26,31% 33 8,22% processos de renovação de concessão. RN 6 85,71% 13 12,74% Com base nos mesmos dados, o Ministério RO 2 33,33% 37 24,02% Público do Distrito Federal propôs a anula- ção das concessões de seis empresas locais RR 2 100% 3 6,81% de radiodifusão. RS 2 7,69% 16 2,08% SC 5 25% 76 9,88% SE 2 50% 21 35% A atual relação SP 13 20,63% 56 3,22% TO 3 60% 81 52,25% com as comunitárias Todas 128 33,6% 1765 18,03% Ao menos metade das 2.205 autorizações dadas a rádios comunitárias entre 1999 e Fonte: Suzy dos Santos, “Coronelismo, radiodifusão e voto: a nova face de um velho conceito”, 2005. 2004 estão sob o controle de grupos partidá- rios. A conclusão é do estudo realizado pelos professores Venício Artur de Lima e Cristiano Quantidade de parlamentares do Congresso Nacional (deputados federais e Aguiar Lopes, com o apoio do Instituto senadores) que possuem o controle de rádio ou TV por região ProJor. A pesquisa analisou os representan- Geradoras Número de parlamentares tes legais e/ou diretores destas rádios e constatou que pelo menos 350 pessoas são Nordeste 44 ligadas de alguma forma a grandes partidos. Sudeste 18 Assim, o que deveria servir à comunidade Sul 8 passa a ser instrumento de determinado Norte 7 político ou partido, a partir da prática do Centro-oeste 3 clientelismo. Fonte: Agência Repórter Social, 2006. 20 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 21. Educativo, pero no mucho A partir daí, o governo federal, que antes distribuía outorgas comerciais em troca de Parte das emissoras que possuem outorga de “educativa” funcionam, na favores políticos, passa a usar as educativas prática, como emissoras comerciais ou de grupos religiosos. como moeda. Dados da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados (CCTCI) revelam que há um percentual muito maior de concessões educativas, sem licitação, do que de outorgas comerciais. Em 2006, das 19 novas outorgas de TV concedi- das, 15 delas (correspondentes a 78,9% do total) eram para fins exclusivamente educati- vos. Para FMs, 27,8% das novas conces- sões eram educativas. Educativo para quem? Além da utilização das educativas como moeda política, falta fiscalização sobre a programação destas emissoras. A lei atual estabelece que a radiodifusão educativa destina-se exclusivamente à divulgação de programação de caráter educativo-cultural e não tem finalidades lucrativas. Entretanto, há mais de 200 outorgas concedidas para emissoras educativas, que, sem fiscaliza- ção, funcionam como bem entendem. As emissoras de TV educativas nascem na década de 60 no Brasil com uma programa- Um levantamento feito pelo Observatório do ção restrita “à divulgação de programas Direito à Comunicação com emissoras FM educacionais, mediante transmissão de em São Paulo mostrou que quatro delas aulas, conferências e debates”. O público- funcionam com outorgas educativas. Uma alvo, à época, eram os 15 milhões de jovens delas é a emissora Gospel FM, ligada à e adultos sem escolarização no país. Igreja Evangélica Renascer, de propriedade da “bispa” Sônia Rodrigues e do “apóstolo” A primeira emissora educativa a entrar no ar Estevam Hernandes, onde a programação é foi a TV Universitária de Pernambuco, em baseada em cultos, pregações e programas Além da utilização 1967. Neste mesmo ano, o Decreto-Lei 236, com a clara intenção de arrecadar dinheiro que complementou o Código Brasileiro de para a igreja. das educativas Telecomunicações, de 1962, proibiu a como moeda veiculação de publicidade e qualquer Outra é a Brasil 2000 que, além de ter utilização comercial desses canais. Em programação idêntica a das rádios comerci- política, falta 1989, o Sinted (Sistema Nacional de ais, veicula anúncios publicitários. Segundo fiscalização sobre Televisão Educativa) já contava com 15 o Departamento Comercial da rádio, emissoras. somente são vetadas propaganda de a programação cigarros e bebidas alcoólicas. Embora a destas emissoras. legislação que trata das educativas seja focada nas emissoras de TV, o Ministério das Com isso, muitas A nova moeda Comunicações determina que tais rádios só delas funcionam Nos anos de 95 e 96, decretos alteraram a podem veicular anúncios em caráter de regulamentação das outorgas para emisso- apoio cultural. Todas as emissoras educati- como emissoras ras comerciais, estabelecendo a obrigatorie- vas do município (as outras duas rádios com dade de licitações nestes processos, mas tipicamente rádios e TVs educativas ficaram dispensa- outorgas educativas são a Rádio USP e a Rádio Cultura FM), estão com suas outorgas comerciais. das da obrigação. vencidas. CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 21
  • 22. No rádio, o símbolo da barbárie De uma ponta a outra, o dial FM é uma coleção de absurdos e desvios que só favorecem o modelo comercial de radiodifusão. Em qualquer cidade brasileira, o dial das rádios FM revela um cenário absurdo, criado tanto pela legislação precária sobre as concessões de radiodifusão quanto pela burocracia leniente. Situação exemplar das aberrações: ao parar em qualquer estação para ouvir o seu programa favorito, é bastante provável que o viraram a regra. Em média, um processo ouvinte sintonize o sinal de uma emissora leva sete anos para ser concluído, incluindo cuja outorga encontra-se vencida. Há anos. a tramitação no Ministério das Comunica- ções, Casa Civil, Câmara e Senado. O que Uma pesquisa no Sistema de Controle de significa que, em média, as emissoras Radiodifusão da Agência Nacional de funcionam durante sete anos em caráter Telecomunicações (Anatel) mostra, por precário. A responsabilidade, na maioria dos exemplo, que das 12 outorgas para trans- casos, é do Ministério das Comunicações, missão em FM no município de Porto Alegre, que mantém os processos parados por apenas uma não está vencida. Em outras absurdos 4,5 anos. capitais, a situação se repete: em Belém, das 12 outorgas, apenas três estão em dia; no Rio de Janeiro, são 15 outorgas e apenas quatro não estão vencidas; em Recife, só Outras cidades uma em onze está com situação regular; em No mundo bizarro do rádio FM, o número de São Paulo, das 39 emissoras FM, 36 estão rádios oficializadas que podem ser mapea- Em média, um com as outorgas vencidas. das no dial será, certamente, maior do que processo leva sete aquele que se pode identificar no registro da Em vários casos, a licença para a transmis- Anatel. anos para ser são está vencida duas vezes. A concessão concluído, para rádios dura 10 anos, mas há prazos A consulta de outorgas por município aponta vencidos há 12, 13 e até 17 anos. Uma rádio que, na cidade de São Paulo, existem 17 incluindo a cuja outorga venceu em 1991 – como em rádios autorizadas a funcionar. Uma volta tramitação no dois casos registrados em Belém – deveria completa no dial mostra 39 rádios que ter tido a autorização renovada naquele ano, podem ser sintonizadas na capital paulista e Ministério das depois em 2001 e, agora, logo mais, em que têm algum registro nos órgãos regulado- Comunicações, 2011. res. Ou seja, 22 rádios outorgadas para outros municípios transmitem seu sinal para Casa Civil, Câmara Todas estas emissoras seguem funcionando São Paulo. As rádios “intermunicipais” estão e Senado. O que graças ao artigo 9º do decreto 88.066/1983, em flagrante conflito com o caráter eminen- que diz: “Caso expire a concessão ou temente local do serviço de FM. significa que, em permissão, sem decisão sobre o pedido de média, as renovação, o serviço poderá ser mantido em Enquanto isso, Anatel e Minicom dizem que funcionamento, em caráter precário (...)”. Na não há espaço na própria capital paulista emissoras prática, esta previsão estabelece a renova- para as emissoras comunitárias, reservando funcionam durante ção automática. a elas uma única freqüência no dial (87,5 MHz) que alguns aparelhos receptores não sete anos em As situações de atraso na apreciação dos conseguem nem captar. E assim segue o caráter precário. processos, que deveriam ser a exceção, rádio brasileiro. 22 CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007
  • 23. Negócio da china Empresas pagam taxas irrisórias (ou nada) por outorgas e as utilizam como mercadoria valiosa em negócios altamente lucrativos. Recentemente, a imprensa especializada noticiou a compra de quatro retransmissoras de TV no estado do Paraná, hoje exploradas pelo Grupo Paulo Pimentel (GPP), coman- dado pelo ex-governador que dá nome ao Sem contrapartidas conjunto de empreendimentos. O valor pago Se no caso das telecomunicações há a saltou aos olhos dos desavisados e mesmo cobrança de 1% de seu faturamento para dos outros interessados na compra: R$ 70 universalizar o serviço e garanti-lo a quem milhões. precisa, na radiodifusão não há fundos ou a reversão de lucros para melhorar a presta- Com isso, o Grupo Massa, ligado ao apre- ção deste serviço e incentivar que mais sentador Carlos Massa, o Ratinho, venceu a pessoas possam provê-lo. Nada do grande disputa que também teve como interessados superávit das emissoras é destinado a a RBS, que comanda a mídia no Rio Grande estimular, por exemplo, a produção audiovi- do Sul e Santa Catarina, e do grupo Hyper- sual independente ou as emissoras públicas. marcas, sem histórico de presença no setor. Outro apresentador de televisão, Gugu Sobre a venda das emissoras, por exemplo, Liberato, acaba de vender uma rede de 19 não recaem taxas, muito embora o principal retransmissoras, por R$ 15 milhões. produto envolvido na transação não seja o patrimônio físico da rádio ou da TV, mas o Vale lembrar, que o custo para os concessio- espaço de transmissão e obtenção de nários das outorgas de retransmissoras é receitas por meio da publicidade. zero. Ou seja, faz-se dinheiro sem que absolutamente nada seja revertido à Ao conceder o espaço para transmissão de sociedade brasileira. sinais de rádio ou TV, o Estado ainda recebe muito pouco. As empresas pagam taxas de A negociação é um exemplo de como uma fiscalização, que são remetidas ao Fundo de concessão pública é utilizada para fins Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) privados, tornando-se, na prática, proprieda- e destinadas a custear as atividades da de absoluta de quem a explora. Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e uma outra, denominada Preço Sobre a venda das A venda de emissoras e suas outorgas Público pelo Direito de Uso de Radiofrequên- movimenta valores que não se pode mensu- cia (PPDUR). emissoras não rar, dada a dificuldade de obter os dados. A recaem taxas, única obrigação do concessionário ao O custo mais pesado, no entanto, acaba vender sua concessão é solicitar ao governo sendo o lance na licitação para obtenção da muito embora o que aprove a mudança societária ou a outorga. Os preços mínimos variam também principal produto transferência total da outorga. Feito isso, conforme a região. Há concessões ganhas basta aguardar o Decreto Presidencial que, por cerca de RS 4,5 milhões em Brasília ou envolvido na quase sempre, legaliza a transação. por R$ 131 mil em Mateus Leme, em Minas transação seja o Gerais. Mesmo o valor mais alto pago pode Apesar das poucas informações disponíveis, ser recuperado imediatamente: em um único espaço de pode-se perceber que os valores são ano, por exemplo, as retransmissoras do transmissão, que é bastante altos. Pudera: rádios e TVs são Grupo Paulo Pimentel, vendidas a Ratinho, negócios altamente lucrativos. lucram R$ 5 milhões. público. CONCESSÕES DE RÁDIO E TV | Novembro 2007 23