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EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
GOULART, Michelli Fernanda Bette Câmara –UFG/CAJ-michellibette@yahoo.com.br;
ASSIS, Renata Machado de – UFG/CAJ – renatafef@hotmail.com
Não há nenhuma fonte de financiamento.
RESUMO:
Muitas são as discussões acerca da Educação Física na Educação Infantil, sobre sua
relevância, quem deve ministrar as aulas e como deve ser preparado o espaço para que
essas aulas aconteçam de forma a não prejudicar o desenvolvimento das crianças, e sim
contribuir para que este aconteça de maneira segura e saudável, colaborando com seu
desenvolvimento nos aspectos biológico, psicológico e motor. O presente trabalho visa
apresentar alguns dos diversos benefícios que a Educação Física pode trazer à Educação
Infantil. Trata-se de uma parte da pesquisa desenvolvida nos Centros Municipais de
Educação Infantil (CMEIs) de Jataí-GO, que teve como objetivo averiguar como tem se
dado a prática da Educação Física nos Centros Municipais de Educação Infantil da
cidade de Jataí-GO. A pesquisa de campo ocorreu em três CMEIs, com 63 sujeitos, e
teve como instrumentos de pesquisa a observação e a entrevista semi-estruturada. Ainda
estamos em fase de análise dos dados, mas já foi possível perceber que a prática ocorre
bem diferente da teoria e que ainda há muito por se fazer quando falamos de uma
Educação Física levada a sério e equiparada com as outras disciplinas. A falta de
estrutura e planejamento para que essas aulas aconteçam são fatores que interferem
diretamente na qualidade das aulas observadas nos CMEIs.
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa, desenvolvida nos anos de 2008 e 2009, partiu da consideração de
que a Educação Física na Educação Infantil deve ter objetivos concretos que visem o
desenvolvimento em diversos aspectos do ser humano.
A Educação Infantil constitui-se, hoje, em um segmento importante no processo
educativo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96 –
(BRASIL, 1996), como sendo a primeira etapa da Educação Básica, recebendo uma
importância até então inexistente nas legislações anteriores. A sua finalidade, de acordo
com o que prescreve a lei, é a de proporcionar condições para o desenvolvimento
integral das crianças, para promover seu bem estar, seu desenvolvimento físico, motor,
emocional, intelectual, moral e social, a ampliação de suas experiências, bem como
estimular seu interesse pelo processo de conhecimento da natureza e da sociedade
(Artigo 29).
Borges (1987) afirma que, durante o período destinado à Educação Infantil,
especificamente do pré-escolar, a criança está em fase do seu processo de
desenvolvimento em que ocorrem mudanças significativas (social, física, psicológica e
biológica) e que serão responsáveis pela aquisição de habilidades e de comportamentos
futuros.
Dessa forma, pretendemos, através da pesquisa, despertar os profissionais de
Pedagogia e de Educação Física para o fato de que esta disciplina deve ser ministrada de
forma consciente, para que a criança com a qual se está lidando não venha a ter
problemas no seu desenvolvimento, nos aspetos físico ou psicológico, pois caso não
haja compromisso e conhecimento sobre cada atividade ou brincadeira realizada no
período de tempo destinado a esta disciplina, várias conseqüências poderão advir.
O que pretendemos divulgar neste evento, por meio da apresentação deste
trabalho, é parte da pesquisa desenvolvida, principalmente da abordagem teórica, que
subsidia a elaboração da monografia de conclusão do curso de Especialização em
Educação Infantil. Como os dados ainda estão sendo analisados, faremos uma discussão
teórica, a partir do referencial compilado e estudado, e uma breve abordagem dos
resultados obtidos, ao final do artigo.
2 OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa foi averiguar como tem se dado a prática da
Educação Física na Educação Infantil nos Centros Municipais de Educação Infantil
(CMEIs) da cidade de Jataí-GO. Traçamos como objetivos específicos: verificar durante
as observações se a metodologia das aulas de Educação Física tem buscado pôr em
prática o que traz a teoria sobre os objetivos e a importância desta disciplina para o
desenvolvimento humano em diversos aspectos; analisar se os professores têm
conhecimento sobre os conteúdos a serem trabalhados na Educação Física da Educação
Infantil; e investigar a formação dos professores que trabalham com crianças pequenas,
especificamente as que desenvolvem atividades ligadas à Educação Física.
3 METODOLOGIA
O presente estudo classifica-se como qualitativo de caráter exploratório. Ao longo
desta investigação foi realizada uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo.
A pesquisa de campo seria realizada em dois CMEIs da cidade de Jataí – Goiás,
tendo os professores do jardim como sujeitos da nossa pesquisa, de forma que o critério
para seleção dos CMEIs foi pelo maior número de alunos matriculados. No entanto, ao
finalizarmos as observações previstas, achamos necessário abordar mais um CMEI para
enriquecer a pesquisa, uma vez que os dados coletados seriam insuficientes para fazer
um trabalho mais aprofundado.
Para a coleta de dados foram feitas seis observações das aulas do jardim em cada
uma das três instituições e realizadas entrevistas semi-estruturadas com os professores
que ministram as aulas de Educação Física. Ao finalizar a coleta de dados, foi feita a
análise e interpretação dos mesmos, com embasamento na bibliografia elencada ao logo
da pesquisa, cujos resultados parciais apresentamos neste trabalho.
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E RESULTADOS
Conforme já explicitado, apresentaremos os resultados parciais da abordagem
teórica empreendida nesta pesquisa, seguidas, ao final, de algumas pontuações sobre a
pesquisa de campo.
As discussões acerca da Educação Física tomaram novo fôlego a partir dos anos
1980, em função da busca pela redefinição de um objeto de estudo da área, e da
promulgação de novas leis e diretrizes que orientam a prática educativa nas escolas de
todos os níveis.
Segundo Silva et al (2008), a preocupação oficial com a atividade física, e não
com a Educação Física como a conhecemos, na Educação Infantil, começa a se
manifestar no Brasil por meio dos pareceres de Rui Barbosa, sobre a reforma do ensino
primário e várias instituições complementares da instrução pública (em 1883). No
trecho a seguir, citado por Lourenço Filho (2001), destaca-se a necessidade do
movimento:
A primeira necessidade experimentada, na infância do indivíduo e da
humanidade é a da mais plena satisfação da vida física. A par das
funções nutritivas, o apetite do movimento, a mais invencível tendência
à atividade corpórea domina o homem nesse período da vida. Daí a
importância fundamental da ginástica, da música, do canto, no
programa escolar (p. 140).
No final dos anos 1960 a educação brasileira sofreu mais uma grande reforma que
resultou na lei 5.692 de 1º de dezembro de 1971, que ditou os rumos da educação até a
publicação da Lei de Diretrizes e Bases em 1996. Esta reforma propôs uma Educação
Física desportista e foi seguida por uma série de portarias, decretos e diretrizes como a
do MEC de 1982.
Segundo tal diretriz, os currículos dos cursos de graduação em Educação Física
enfatizam a formação de profissionais para atuarem a partir da, até então, quinta série do
Ensino Fundamental, deixando à margem fundamentação adequada para a atividade
física para crianças entre 04 e 10 anos. Este documento considera, assim, a inadequação
dos currículos dos cursos de licenciatura, alegando que este se preocupa excessivamente
com a aprendizagem de habilidades específicas desportivas.
Por outro lado, este mesmo documento delimita como objetivos gerais da
educação física para a faixa etária em questão aspectos relacionados exclusivamente ao
desenvolvimento motor. O estímulo à aquisição e aprimoramento de habilidades
motoras surge como grande meta em detrimento ao estímulo à formação integral do
indivíduo.
Tal fato reforça a afirmativa de Medina (1984, p. 84) de que a dicotomia corpo e
mente é um conceito historicamente velho e enraizado de que a “educação trata das
atividades mentais, a religião das espirituais, e as atividades físicas não só têm pouco
interesse para o educador e o teólogo, mas são também, na realidade, de nível inferior”.
Apesar de suas limitações como o início da prática somente a partir de 04 anos e
preocupações exclusivamente motoras e dicotômicas, a diretriz revela o início da
preocupação da atividade física para a criança pequena. Representa um avanço por
reconhecer a importância do movimento, identificar a tendência desportivista aplicada
até então e concluir que esta não é suficiente para o crescimento e desenvolvimento
infantil harmonioso.
Finalmente, após cerca de quatorze anos sem novas regulamentações, surge a Lei
de Diretrizes e Bases (Lei no 9394/96) e, em seguida, o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil que integram a série de documentos dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, que também deram suporte para as discussões sobre a
importância da Educação Física nas séries iniciais da Educação Básica.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não apresentava a
obrigatoriedade da disciplina Educação Física na Educação Básica. Foi somente em
2001, com a modificação por meio da Lei nº. 10.328 (LDB, art.26, § 3º), que sua
presença foi considerada obrigatória, tendo as instituições de ensino que se adequarem a
tal lei.
Porém, embora o documento tenha regido a obrigatoriedade da Educação Física na
escola, ele não especifica qual professor deve ministrar as aulas, uma vez que conforme
artigo 62º desta mesma lei, a exigência é que tais professores tenham como formação
mínima o curso Normal1
para exercerem o magistério.
4.1 Educação Física Escolar
De acordo com Marante e Santos (2008), a Educação Física, para ser inserida
como componente curricular e para justificar-se como tal, deve proporcionar aos alunos
o contato com um conhecimento próprio e específico da área. Em outras palavras, tem
de ensinar algo que se não for ensinado pela Educação Física, não será ensinado por
nenhum outro componente curricular, apresentando dessa forma, valor e finalidade ao
componente curricular enquanto um fenômeno educativo.
Na escola, de acordo com o Coletivo de Autores (1992), a Educação Física é uma
disciplina que trata, pedagogicamente, do conhecimento de uma área denominada de
cultura corporal. Infelizmente, no entender dos autores, o que vemos na maioria das
vezes é a esportivização destas aulas, o que faz com que os verdadeiros objetivos das
aulas de Educação Física se percam em meio a tanta falta de preparação.
Segundo Kunz (1991), o domínio da concepção esportiva do movimento humano,
talvez pudesse em parte ser superada se o movimento humano fosse interpretado na sua
concepção mais ampla de fenômeno antropológico, sócio-cultural e histórico. Para o
autor, o movimento humano consiste de experiências significativas e individuais, onde
pelo seu semovimentar o indivíduo realiza sempre um contato e um confronto com o
mundo material e social, bem como consigo mesmo. Analisada como parte da cultura
humana, a Educação Física deve proporcionar ao aluno um conhecimento organizado e
sistematizado sobre as atividades corporais, como: jogos, ginástica, esporte e dança
(FERRAZ, 2001).
De acordo com o Coletivo de Autores (1992), os temas da cultura corporal,
trabalhados na escola, expressam um sentido/significado onde se interpenetram
dialeticamente a intencionalidade/objetivos do homem e as intenções/objetivos da
sociedade.
Tratar desse sentido/significado abrange a compreensão das relações de
interdependência que jogo, esporte, ginástica e dança, ou outros temas
que venham a compor um programa de Educação Física, têm com os
grandes problemas sócio-políticos atuais como: ecologia, papéis
sexuais, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceitos
sociais, raciais, da deficiência, da velhice [...] A reflexão sobre esses
problemas é necessária e existe a pretensão de possibilitar ao aluno da
escola pública entender a realidade social interpretando-a a partir dos
seus interesses de classe social. Isso quer dizer que cabe à escola
promover a apreensão da prática social. Portanto os conteúdos devem
ser buscados dentro dela (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 62-63).
Dewey citado por Libâneo (1994) defende que a escola não é uma preparação para
a vida, é a própria vida; a educação é o resultado da interação entre o organismo e o
meio através da experiência e da reconstrução da experiência. Para o autor mencionado,
1
O curso Normal, que existia na época, era um curso profissionalizante, que formava professores em
nível médio, para atuarem nas escolas.
a função mais genuína da educação é a de promover condições para promover e
estimular a atividade própria do organismo para que alcance seu objetivo de
crescimento e desenvolvimento. Sendo assim, ele reitera que é por isso que a atividade
escolar deve centrar-se em situações de experiência onde são ativadas as
potencialidades, capacidades, necessidades e interesses naturais da criança, podendo ser
utilizadas nas vivências das tarefas requeridas para a vida em sociedade, de forma que o
aluno e o grupo devem ser o centro de convergência do trabalho escolar.
4.2 Educação Física na Educação Infantil
De acordo com Cerqueira, Caetano e Abranches (2007), o período da infância,
juntamente com o da adolescência, é uma das fases da vida em que somos mais
facilmente influenciados pelas aprendizagens no aspecto motor e emocional. E é aí que
entra a Educação Física, como incentivo à prática de atividades que irão promover o
conhecimento corporal no espaço e no tempo, e simultaneamente a combinação de
movimentos grossos com movimentos finos. E vencida essa etapa, surge a motivação e
a necessidade de novas combinações de movimentos cada vez mais complexos e
compatíveis com o estágio de maturação alcançado pela criança. As autoras reiteram
que toda personalidade é estruturada nessa etapa da vida, quando a autonomia e a
criatividade são permitidas. Dessa forma, com brincadeiras e atividades a criança
adquire um comportamento próprio, organização, socialização e capacidade para criar e
obedecer a regras. Esse conjunto irá ajudá-la em sua inserção na sociedade.
O Referencial Curricular Nacional atribui grande importância ao trabalho com o
corpo e o brincar, enfatizando a relação do indivíduo com os outros e o ambiente que o
circunda, gerando produção de conhecimento: “propiciando a brincadeira, portanto,
cria-se um espaço no qual as crianças podem experimentar o mundo e internalizar a
compreensão particular sobre as pessoas, sentimentos e os diversos conhecimentos”
(BRASIL, 1998, p. 28).
A Educação Física, como componente curricular, pode e deve contribuir com a
Educação Infantil.
A prática da educação física favorece, seja através do jogo, da dança ou
da ginástica, o auto-controle, a autonomia, a socialização, a cooperação,
o respeito às regras, o respeito às diferenças e limitações individuais,
como também possibilita a transformação da criança e a formação da
personalidade e da cidadania (GRESPAN, 1999, p. 28).
Portanto, o currículo de Educação Física na Educação Infantil implica na
estruturação de um ambiente de aprendizagem que auxilie as crianças a incorporar a
dinâmica da solução de problemas, bem como a motivação para a descoberta das
manifestações da cultura de movimento (FERRAZ e FLORES, 2004).
Dos 4 aos 6 anos a criança se encontra em uma fase do desenvolvimento
psicossosial, classificada por Piaget (2003) como estágio pré-operacional, onde a
criança adquire a função simbólica. Hurtado (1983), esclarece que os processos de
pensamento da criança são usados a fim de se encadearem ao real, ao presente, ao
concreto, e para tanto utiliza símbolos para representar objetos, lugares e pessoas e sua
mente pode ir além do aqui agora.
Para Rizzo (2002), é através do ato motor que a criança se aproxima do mundo
desde o início de sua vida e na primeira infância. No entender da autora, o movimento,
como eixo curricular, deverá permitir um caminho para as trocas afetivas, facilitar a
comunicação, sustentar a percepção, a reflexão mental, a expressão e possibilitar a
exploração do mundo físico e o conhecimento do espaço.
Le Boulch (1990) explica que a imagem corporal não é pré-formada, ela estrutura-
se nas relações mútuas da criança e o ambiente, organizando-se como núcleo central de
sua personalidade. As atividades motoras de exploração e experimentação são
essenciais na sua evolução. A estruturação do esquema corporal, no qual se insere a
imagem corporal, se dá por uma estreita ligação entre as duas imagens corporais: o
“corpo vivido” – imagem do corpo identificado pela criança como seu próprio EU; e
“corpo percebido” – a própria organização do esquema corporal. Com isso, a criança
dispõe de uma imagem do corpo “operatório”.
A criança está despertando para o mundo real e aprende a explorar cada vez mais
o meio que a cerca, sendo que a linguagem tem papel fundamental, pois, conforme esta
se desenvolve, vai criando novas formas de interação. À medida que a criança se torna
mais social, vai diminuindo seu egocentrismo, característico nessa idade.
Assim, ressalta-se que todo trabalho destinado às crianças de 4 a 6 anos deve ter a
preocupação de contribuir com sua formação biológica, afetiva, social, cognitiva e
motora, uma vez que com as crianças de 0 a 3 anos o trabalho é mais limitado. Portanto,
para que isso ocorra, identificar as necessidades da criança em cada estágio de
desenvolvimento é de fundamental importância, e para isso é preciso estudos
aprofundados nestas áreas de conhecimento.
Souza (2004, p. 5) aponta que qualquer profissional que trabalha ou pretende
trabalhar na Educação Infantil deve ter “[...] uma proposta teórico-metodológica
baseada nos saberes específicos da Educação Infantil, como a concepção de criança, de
infância, que são temas norteadores dessa prática pedagógica”.
Ferraz e Macedo (2001, p. 85) destacam que é de reconhecimento geral que
“oportunidades de movimento, adequadas às características e necessidades da criança
são fundamentais para o desenvolvimento global”. Porém, torna-se de grande
importância e necessidade de discutir como estão sendo geradas tais oportunidades.
Para Bracht (1992), a dimensão que a cultura corporal ou de movimento assume
na vida do cidadão atualmente é tão significativa que a escola é chamada não a
reproduzi-la simplesmente, mas a permitir que o indivíduo se aproprie dela
criticamente, para poder efetivamente exercer sua cidadania. Introduzir os indivíduos no
universo da cultura corporal ou de movimento de forma crítica é tarefa da escola e
especificamente da Educação Física.
O movimento é um dos aspectos importantes do desenvolvimento e da cultura
humana, por meio dele as crianças vão adquirindo maior controle sobre o próprio corpo,
desenvolvendo novas formas de ação, conhecimento e interação consigo e com as outras
pessoas. O movimento expressa sentimentos, emoções e pensamentos, constituindo uma
linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico; ao mesmo tempo, é
extremamente complexo, ao exercer a função de suporte de toda estruturação psíquica
(PAOLILLO e MELLO, 2001).
Para Kunz (1991, p. 163), “o movimento é uma ação em que um sujeito, pelo seu
‘se –movimentar’, se introduz no Mundo de forma dinâmica e através desta ação
percebe e realiza os sentidos/significados em e para o seu meio”. De acordo com
Nóbrega (2005, p. 606-607),
a cognição emerge da corporeidade, expressando-se na compreensão da
percepção como movimento e não como processamento de
informações. Somos seres corporais, corpos em movimento. O
movimento tem a capacidade não apenas de modificar as sensações,
mas de reorganizar o organismo como um todo, considerando ainda a
unidade mente-corpo. Essa proposição geral sobre a percepção se
aproxima da apropriação enactiva, na qual a cognição é inseparável do
corpo, sendo uma interpretação que emerge da relação entre o eu e o
mundo, corpo e mente, nas capacidades do entendimento. “Essas
capacidades são originadas na estrutura biológica do corpo, vividas e
experienciadas no domínio consensual e em ações da história e da
cultura” (Varela et al, 1996, citado por Nóbrega, 2005, p.607). A mente
não é uma entidade “des-situada”, desencarnada ou um computador,
também a mente não está em alguma parte do corpo, ela é o próprio
corpo. Essa unidade implica que as tradicionais concepções
representacionistas se enganam ao colocar a mente como uma entidade
interior, haja vista que a estrutura mental é inseparável da estrutura do
corpo (grifos da autora).
Diante disso, uma Educação Física comprometida com o respeito aos interesses,
necessidades e direitos dos meninos e meninas na faixa etária de 0 a 6 anos, deve
permitir que os mesmos desempenhem um papel mais ativo em seus movimentos,
respeitando os seus interesses e necessidades e que, nesta faixa etária, só pode se
caracterizar pela brincadeira , ampliando assim as culturas infantis de movimento.
O movimento é capaz de trabalhar todos os itens para uma formação completa do
ser humano e é na infância que elas devem ser desenvolvidas para que a criança se torne
um adulto coeso, capaz de compreender e transformar as coisas que o cerca. “As
crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez mais, um maior
controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de
interação com o mundo” (BRASIL, 1998, p. 15). Então, o movimento humano permite
às crianças agirem sobre o meio físico e expressarem sentimentos, emoções e
pensamentos, sendo este, também, o principal objeto de estudo da Educação Física.
4.3 Os resultados parciais encontrados na pesquisa de campo
Pelos dados parcialmente coletados e analisados, foi possível perceber que embora
a Educação Física na Educação Infantil tenha dado um grande salto em relação a
conquista do seu espaço, ainda há muito por se fazer para que essa disciplina alcance
seu lugar ao sol.
A falta de materiais, espaço e um maior apoio aos profissionais desta área no que
se refere à formação continuada para adequação e qualificação para atuarem nesta fase
do ensino ainda são fatores que interferem de forma significante na qualidade das aulas,
refletindo dessa forma no desenvolvimento das crianças que, por sua vez, poderia estar
acontecendo de uma forma mais sistematizada.
Parcialmente foi possível concluirmos que ainda há muito que se fazer para que a
Educação Física seja vista como uma disciplina como as demais e tão importante
quanto, por isso a necessidade de trabalhos como este que venham difundir toda sua
relevância quando se trata de crianças de 0 a 6 anos, além das demais faixas etárias que
também são beneficiadas por meio das atividades proporcionadas pela Educação Física.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa encontra-se na etapa final da análise dos dados e tem sua previsão
de término em dezembro deste ano (2009), com a apresentação pública para fins de
conclusão do curso de Especialização em Educação Infantil do CAJ/UFG.
Possivelmente no CONADE de 2010, e em outros eventos, poderemos apresentar
os resultados em sua totalidade, com as informações devidamente apresentadas e
discutidas, como se espera de um relatório final de pesquisa.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORGES, Célio J. Educação Física para o pré-escolar. Rio de Janeiro: Harper e Row
do Brasil, 1987.
BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Maginster,
1992.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional; lei nº. 9.394/96, de 20 de
dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 05/12/2008.
BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil. Brasília: MEC, 1998. Disponível em <http://www,mec.gov.br>. Acesso em
05/12/2008.
CERQUEIRA, Naira Fernandes; CAETANO, Meirelle Nunes; ABRANCHES, Maria
Alice. A influência da Educação Física na Educação Infantil. Revista Científica
Faminas, Muriaí, v.3, n.1, sup.1, p.565, jan-abr, 2007.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo:
Cortez,1992.
FERRAZ, Oswaldo L. Os profissionais de educação infantil: intervenção e pesquisa.
Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, supl.4, p.95-109, 2001.
FERRAZ, Oswaldo L.; FLORES, Kelly Zoppei. Educação Física na Educação Infantil:
influência de um programa na aprendizagem e desenvolvimento de conteúdos
conceituais e procedimentais. Revista Brasileira de Educação Física, São Paulo, v.18,
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FERRAZ, Oswaldo L.; MACEDO, Lino. Reflexões de professores sobre a educação
física na educação infantil incluindo o referencial curricular nacional. Revista Paulista
de Educação Física, São Paulo, supl 4, p.110-115, 2001.
GRESPAN, Marcia Regina. Proposta de planejamento para o componente
curricular Educação no primeiro ciclo do ensino fundamental. Maringá:
Universidade Estadual de Maringá, 1999. Monografia (Especialização em Educação
Física) – Faculdade de Educação
Física, UEM, 1999. Disponível em:
<HTTP://www.def.uem.br/revistadef/admin/artigos/6302c58be549f71d64249e0a8c499e
cf.pdf .>Acesso em: 15/04/2008.
HURTADO, Johan G. G. M. O ensino da educação física: uma abordagem didática.
Curitiba: Educal Editer, 1983.
KUNZ, Elenor. Educação física: ensino e mudanças. Ijuí: UNIJUÍ, 1991.
LE BOUCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até 6 anos. Porto
Alegra: Arte Médicas, 1990.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
LOURENÇO FILHO, Manoel L. A pedagogia de Rui Barbosa. Brasília:
Inep/MEC,2001.
MARANTE, Wallace Oliveira; SANTOS, Mário Cesário. Metodologia de ensino da
educação física: reflexão e mudanças a partir da pesquisa ação. Revista Mackenzie de
Educação Física e Esporte. N.7, v.2, p.69-83, 2008.
MEDINA, João Paulo S. A educação física cuida do corpo e mente. São Paulo:
Papirus, 1984.
NÓBREGA, Terezinha Petrucia da. Qual o lugar do corpo na educação? Notas sobre
conhecimento, processos cognitivos e currículo. Revista Educação e Sociedade.
Campinas, v.26, n.91, p.599-615, Mai-Ago, 2005. Disponível em
<http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 15-02-2009.
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Física. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, sup.4, p.125-29, 2001.
PIAGET, Jean. A construção do real na criança. São Paulo: Ática, 2003.
RIZZO, Gilda. Creche: organização, currículo, montagem e funcionamento. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
SILVA, Gustavo Arantes et al. Professor especialista ou generalista? Quem deve
assumir as aulas de educação física na educação infantil? Rio de Janeiro. Universidade
Gama Filho 2008.
Monografia (Especialização em Educação Física Escolar) – UGF, 2008. Disponível em
<http://www.diadiaeducacao.pr.gov.br/diadia/diadia/arquivos/file/conteudos/artigos_tes
es/EDUCACAO_FISICA/monografia/Ed-F-educ-infantil.pdf>. Acesso em: 19/08/2008.
SOUZA, Andréia D. A educação física no sistema municipal de ensino de Vitória:
da formação inicial à intervenção profissional. Vitória: UFES, 2004.

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Educação física na educação infantil

  • 1. EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL GOULART, Michelli Fernanda Bette Câmara –UFG/CAJ-michellibette@yahoo.com.br; ASSIS, Renata Machado de – UFG/CAJ – renatafef@hotmail.com Não há nenhuma fonte de financiamento. RESUMO: Muitas são as discussões acerca da Educação Física na Educação Infantil, sobre sua relevância, quem deve ministrar as aulas e como deve ser preparado o espaço para que essas aulas aconteçam de forma a não prejudicar o desenvolvimento das crianças, e sim contribuir para que este aconteça de maneira segura e saudável, colaborando com seu desenvolvimento nos aspectos biológico, psicológico e motor. O presente trabalho visa apresentar alguns dos diversos benefícios que a Educação Física pode trazer à Educação Infantil. Trata-se de uma parte da pesquisa desenvolvida nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) de Jataí-GO, que teve como objetivo averiguar como tem se dado a prática da Educação Física nos Centros Municipais de Educação Infantil da cidade de Jataí-GO. A pesquisa de campo ocorreu em três CMEIs, com 63 sujeitos, e teve como instrumentos de pesquisa a observação e a entrevista semi-estruturada. Ainda estamos em fase de análise dos dados, mas já foi possível perceber que a prática ocorre bem diferente da teoria e que ainda há muito por se fazer quando falamos de uma Educação Física levada a sério e equiparada com as outras disciplinas. A falta de estrutura e planejamento para que essas aulas aconteçam são fatores que interferem diretamente na qualidade das aulas observadas nos CMEIs. 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa, desenvolvida nos anos de 2008 e 2009, partiu da consideração de que a Educação Física na Educação Infantil deve ter objetivos concretos que visem o desenvolvimento em diversos aspectos do ser humano. A Educação Infantil constitui-se, hoje, em um segmento importante no processo educativo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96 – (BRASIL, 1996), como sendo a primeira etapa da Educação Básica, recebendo uma importância até então inexistente nas legislações anteriores. A sua finalidade, de acordo com o que prescreve a lei, é a de proporcionar condições para o desenvolvimento integral das crianças, para promover seu bem estar, seu desenvolvimento físico, motor, emocional, intelectual, moral e social, a ampliação de suas experiências, bem como estimular seu interesse pelo processo de conhecimento da natureza e da sociedade (Artigo 29). Borges (1987) afirma que, durante o período destinado à Educação Infantil, especificamente do pré-escolar, a criança está em fase do seu processo de desenvolvimento em que ocorrem mudanças significativas (social, física, psicológica e biológica) e que serão responsáveis pela aquisição de habilidades e de comportamentos futuros. Dessa forma, pretendemos, através da pesquisa, despertar os profissionais de Pedagogia e de Educação Física para o fato de que esta disciplina deve ser ministrada de
  • 2. forma consciente, para que a criança com a qual se está lidando não venha a ter problemas no seu desenvolvimento, nos aspetos físico ou psicológico, pois caso não haja compromisso e conhecimento sobre cada atividade ou brincadeira realizada no período de tempo destinado a esta disciplina, várias conseqüências poderão advir. O que pretendemos divulgar neste evento, por meio da apresentação deste trabalho, é parte da pesquisa desenvolvida, principalmente da abordagem teórica, que subsidia a elaboração da monografia de conclusão do curso de Especialização em Educação Infantil. Como os dados ainda estão sendo analisados, faremos uma discussão teórica, a partir do referencial compilado e estudado, e uma breve abordagem dos resultados obtidos, ao final do artigo. 2 OBJETIVOS O objetivo geral desta pesquisa foi averiguar como tem se dado a prática da Educação Física na Educação Infantil nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) da cidade de Jataí-GO. Traçamos como objetivos específicos: verificar durante as observações se a metodologia das aulas de Educação Física tem buscado pôr em prática o que traz a teoria sobre os objetivos e a importância desta disciplina para o desenvolvimento humano em diversos aspectos; analisar se os professores têm conhecimento sobre os conteúdos a serem trabalhados na Educação Física da Educação Infantil; e investigar a formação dos professores que trabalham com crianças pequenas, especificamente as que desenvolvem atividades ligadas à Educação Física. 3 METODOLOGIA O presente estudo classifica-se como qualitativo de caráter exploratório. Ao longo desta investigação foi realizada uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo. A pesquisa de campo seria realizada em dois CMEIs da cidade de Jataí – Goiás, tendo os professores do jardim como sujeitos da nossa pesquisa, de forma que o critério para seleção dos CMEIs foi pelo maior número de alunos matriculados. No entanto, ao finalizarmos as observações previstas, achamos necessário abordar mais um CMEI para enriquecer a pesquisa, uma vez que os dados coletados seriam insuficientes para fazer um trabalho mais aprofundado. Para a coleta de dados foram feitas seis observações das aulas do jardim em cada uma das três instituições e realizadas entrevistas semi-estruturadas com os professores que ministram as aulas de Educação Física. Ao finalizar a coleta de dados, foi feita a análise e interpretação dos mesmos, com embasamento na bibliografia elencada ao logo da pesquisa, cujos resultados parciais apresentamos neste trabalho. 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E RESULTADOS Conforme já explicitado, apresentaremos os resultados parciais da abordagem teórica empreendida nesta pesquisa, seguidas, ao final, de algumas pontuações sobre a pesquisa de campo. As discussões acerca da Educação Física tomaram novo fôlego a partir dos anos 1980, em função da busca pela redefinição de um objeto de estudo da área, e da promulgação de novas leis e diretrizes que orientam a prática educativa nas escolas de todos os níveis. Segundo Silva et al (2008), a preocupação oficial com a atividade física, e não com a Educação Física como a conhecemos, na Educação Infantil, começa a se manifestar no Brasil por meio dos pareceres de Rui Barbosa, sobre a reforma do ensino
  • 3. primário e várias instituições complementares da instrução pública (em 1883). No trecho a seguir, citado por Lourenço Filho (2001), destaca-se a necessidade do movimento: A primeira necessidade experimentada, na infância do indivíduo e da humanidade é a da mais plena satisfação da vida física. A par das funções nutritivas, o apetite do movimento, a mais invencível tendência à atividade corpórea domina o homem nesse período da vida. Daí a importância fundamental da ginástica, da música, do canto, no programa escolar (p. 140). No final dos anos 1960 a educação brasileira sofreu mais uma grande reforma que resultou na lei 5.692 de 1º de dezembro de 1971, que ditou os rumos da educação até a publicação da Lei de Diretrizes e Bases em 1996. Esta reforma propôs uma Educação Física desportista e foi seguida por uma série de portarias, decretos e diretrizes como a do MEC de 1982. Segundo tal diretriz, os currículos dos cursos de graduação em Educação Física enfatizam a formação de profissionais para atuarem a partir da, até então, quinta série do Ensino Fundamental, deixando à margem fundamentação adequada para a atividade física para crianças entre 04 e 10 anos. Este documento considera, assim, a inadequação dos currículos dos cursos de licenciatura, alegando que este se preocupa excessivamente com a aprendizagem de habilidades específicas desportivas. Por outro lado, este mesmo documento delimita como objetivos gerais da educação física para a faixa etária em questão aspectos relacionados exclusivamente ao desenvolvimento motor. O estímulo à aquisição e aprimoramento de habilidades motoras surge como grande meta em detrimento ao estímulo à formação integral do indivíduo. Tal fato reforça a afirmativa de Medina (1984, p. 84) de que a dicotomia corpo e mente é um conceito historicamente velho e enraizado de que a “educação trata das atividades mentais, a religião das espirituais, e as atividades físicas não só têm pouco interesse para o educador e o teólogo, mas são também, na realidade, de nível inferior”. Apesar de suas limitações como o início da prática somente a partir de 04 anos e preocupações exclusivamente motoras e dicotômicas, a diretriz revela o início da preocupação da atividade física para a criança pequena. Representa um avanço por reconhecer a importância do movimento, identificar a tendência desportivista aplicada até então e concluir que esta não é suficiente para o crescimento e desenvolvimento infantil harmonioso. Finalmente, após cerca de quatorze anos sem novas regulamentações, surge a Lei de Diretrizes e Bases (Lei no 9394/96) e, em seguida, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil que integram a série de documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que também deram suporte para as discussões sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais da Educação Básica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não apresentava a obrigatoriedade da disciplina Educação Física na Educação Básica. Foi somente em 2001, com a modificação por meio da Lei nº. 10.328 (LDB, art.26, § 3º), que sua presença foi considerada obrigatória, tendo as instituições de ensino que se adequarem a tal lei.
  • 4. Porém, embora o documento tenha regido a obrigatoriedade da Educação Física na escola, ele não especifica qual professor deve ministrar as aulas, uma vez que conforme artigo 62º desta mesma lei, a exigência é que tais professores tenham como formação mínima o curso Normal1 para exercerem o magistério. 4.1 Educação Física Escolar De acordo com Marante e Santos (2008), a Educação Física, para ser inserida como componente curricular e para justificar-se como tal, deve proporcionar aos alunos o contato com um conhecimento próprio e específico da área. Em outras palavras, tem de ensinar algo que se não for ensinado pela Educação Física, não será ensinado por nenhum outro componente curricular, apresentando dessa forma, valor e finalidade ao componente curricular enquanto um fenômeno educativo. Na escola, de acordo com o Coletivo de Autores (1992), a Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, do conhecimento de uma área denominada de cultura corporal. Infelizmente, no entender dos autores, o que vemos na maioria das vezes é a esportivização destas aulas, o que faz com que os verdadeiros objetivos das aulas de Educação Física se percam em meio a tanta falta de preparação. Segundo Kunz (1991), o domínio da concepção esportiva do movimento humano, talvez pudesse em parte ser superada se o movimento humano fosse interpretado na sua concepção mais ampla de fenômeno antropológico, sócio-cultural e histórico. Para o autor, o movimento humano consiste de experiências significativas e individuais, onde pelo seu semovimentar o indivíduo realiza sempre um contato e um confronto com o mundo material e social, bem como consigo mesmo. Analisada como parte da cultura humana, a Educação Física deve proporcionar ao aluno um conhecimento organizado e sistematizado sobre as atividades corporais, como: jogos, ginástica, esporte e dança (FERRAZ, 2001). De acordo com o Coletivo de Autores (1992), os temas da cultura corporal, trabalhados na escola, expressam um sentido/significado onde se interpenetram dialeticamente a intencionalidade/objetivos do homem e as intenções/objetivos da sociedade. Tratar desse sentido/significado abrange a compreensão das relações de interdependência que jogo, esporte, ginástica e dança, ou outros temas que venham a compor um programa de Educação Física, têm com os grandes problemas sócio-políticos atuais como: ecologia, papéis sexuais, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice [...] A reflexão sobre esses problemas é necessária e existe a pretensão de possibilitar ao aluno da escola pública entender a realidade social interpretando-a a partir dos seus interesses de classe social. Isso quer dizer que cabe à escola promover a apreensão da prática social. Portanto os conteúdos devem ser buscados dentro dela (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 62-63). Dewey citado por Libâneo (1994) defende que a escola não é uma preparação para a vida, é a própria vida; a educação é o resultado da interação entre o organismo e o meio através da experiência e da reconstrução da experiência. Para o autor mencionado, 1 O curso Normal, que existia na época, era um curso profissionalizante, que formava professores em nível médio, para atuarem nas escolas.
  • 5. a função mais genuína da educação é a de promover condições para promover e estimular a atividade própria do organismo para que alcance seu objetivo de crescimento e desenvolvimento. Sendo assim, ele reitera que é por isso que a atividade escolar deve centrar-se em situações de experiência onde são ativadas as potencialidades, capacidades, necessidades e interesses naturais da criança, podendo ser utilizadas nas vivências das tarefas requeridas para a vida em sociedade, de forma que o aluno e o grupo devem ser o centro de convergência do trabalho escolar. 4.2 Educação Física na Educação Infantil De acordo com Cerqueira, Caetano e Abranches (2007), o período da infância, juntamente com o da adolescência, é uma das fases da vida em que somos mais facilmente influenciados pelas aprendizagens no aspecto motor e emocional. E é aí que entra a Educação Física, como incentivo à prática de atividades que irão promover o conhecimento corporal no espaço e no tempo, e simultaneamente a combinação de movimentos grossos com movimentos finos. E vencida essa etapa, surge a motivação e a necessidade de novas combinações de movimentos cada vez mais complexos e compatíveis com o estágio de maturação alcançado pela criança. As autoras reiteram que toda personalidade é estruturada nessa etapa da vida, quando a autonomia e a criatividade são permitidas. Dessa forma, com brincadeiras e atividades a criança adquire um comportamento próprio, organização, socialização e capacidade para criar e obedecer a regras. Esse conjunto irá ajudá-la em sua inserção na sociedade. O Referencial Curricular Nacional atribui grande importância ao trabalho com o corpo e o brincar, enfatizando a relação do indivíduo com os outros e o ambiente que o circunda, gerando produção de conhecimento: “propiciando a brincadeira, portanto, cria-se um espaço no qual as crianças podem experimentar o mundo e internalizar a compreensão particular sobre as pessoas, sentimentos e os diversos conhecimentos” (BRASIL, 1998, p. 28). A Educação Física, como componente curricular, pode e deve contribuir com a Educação Infantil. A prática da educação física favorece, seja através do jogo, da dança ou da ginástica, o auto-controle, a autonomia, a socialização, a cooperação, o respeito às regras, o respeito às diferenças e limitações individuais, como também possibilita a transformação da criança e a formação da personalidade e da cidadania (GRESPAN, 1999, p. 28). Portanto, o currículo de Educação Física na Educação Infantil implica na estruturação de um ambiente de aprendizagem que auxilie as crianças a incorporar a dinâmica da solução de problemas, bem como a motivação para a descoberta das manifestações da cultura de movimento (FERRAZ e FLORES, 2004). Dos 4 aos 6 anos a criança se encontra em uma fase do desenvolvimento psicossosial, classificada por Piaget (2003) como estágio pré-operacional, onde a criança adquire a função simbólica. Hurtado (1983), esclarece que os processos de pensamento da criança são usados a fim de se encadearem ao real, ao presente, ao concreto, e para tanto utiliza símbolos para representar objetos, lugares e pessoas e sua mente pode ir além do aqui agora. Para Rizzo (2002), é através do ato motor que a criança se aproxima do mundo desde o início de sua vida e na primeira infância. No entender da autora, o movimento, como eixo curricular, deverá permitir um caminho para as trocas afetivas, facilitar a
  • 6. comunicação, sustentar a percepção, a reflexão mental, a expressão e possibilitar a exploração do mundo físico e o conhecimento do espaço. Le Boulch (1990) explica que a imagem corporal não é pré-formada, ela estrutura- se nas relações mútuas da criança e o ambiente, organizando-se como núcleo central de sua personalidade. As atividades motoras de exploração e experimentação são essenciais na sua evolução. A estruturação do esquema corporal, no qual se insere a imagem corporal, se dá por uma estreita ligação entre as duas imagens corporais: o “corpo vivido” – imagem do corpo identificado pela criança como seu próprio EU; e “corpo percebido” – a própria organização do esquema corporal. Com isso, a criança dispõe de uma imagem do corpo “operatório”. A criança está despertando para o mundo real e aprende a explorar cada vez mais o meio que a cerca, sendo que a linguagem tem papel fundamental, pois, conforme esta se desenvolve, vai criando novas formas de interação. À medida que a criança se torna mais social, vai diminuindo seu egocentrismo, característico nessa idade. Assim, ressalta-se que todo trabalho destinado às crianças de 4 a 6 anos deve ter a preocupação de contribuir com sua formação biológica, afetiva, social, cognitiva e motora, uma vez que com as crianças de 0 a 3 anos o trabalho é mais limitado. Portanto, para que isso ocorra, identificar as necessidades da criança em cada estágio de desenvolvimento é de fundamental importância, e para isso é preciso estudos aprofundados nestas áreas de conhecimento. Souza (2004, p. 5) aponta que qualquer profissional que trabalha ou pretende trabalhar na Educação Infantil deve ter “[...] uma proposta teórico-metodológica baseada nos saberes específicos da Educação Infantil, como a concepção de criança, de infância, que são temas norteadores dessa prática pedagógica”. Ferraz e Macedo (2001, p. 85) destacam que é de reconhecimento geral que “oportunidades de movimento, adequadas às características e necessidades da criança são fundamentais para o desenvolvimento global”. Porém, torna-se de grande importância e necessidade de discutir como estão sendo geradas tais oportunidades. Para Bracht (1992), a dimensão que a cultura corporal ou de movimento assume na vida do cidadão atualmente é tão significativa que a escola é chamada não a reproduzi-la simplesmente, mas a permitir que o indivíduo se aproprie dela criticamente, para poder efetivamente exercer sua cidadania. Introduzir os indivíduos no universo da cultura corporal ou de movimento de forma crítica é tarefa da escola e especificamente da Educação Física. O movimento é um dos aspectos importantes do desenvolvimento e da cultura humana, por meio dele as crianças vão adquirindo maior controle sobre o próprio corpo, desenvolvendo novas formas de ação, conhecimento e interação consigo e com as outras pessoas. O movimento expressa sentimentos, emoções e pensamentos, constituindo uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico; ao mesmo tempo, é extremamente complexo, ao exercer a função de suporte de toda estruturação psíquica (PAOLILLO e MELLO, 2001). Para Kunz (1991, p. 163), “o movimento é uma ação em que um sujeito, pelo seu ‘se –movimentar’, se introduz no Mundo de forma dinâmica e através desta ação percebe e realiza os sentidos/significados em e para o seu meio”. De acordo com Nóbrega (2005, p. 606-607), a cognição emerge da corporeidade, expressando-se na compreensão da percepção como movimento e não como processamento de
  • 7. informações. Somos seres corporais, corpos em movimento. O movimento tem a capacidade não apenas de modificar as sensações, mas de reorganizar o organismo como um todo, considerando ainda a unidade mente-corpo. Essa proposição geral sobre a percepção se aproxima da apropriação enactiva, na qual a cognição é inseparável do corpo, sendo uma interpretação que emerge da relação entre o eu e o mundo, corpo e mente, nas capacidades do entendimento. “Essas capacidades são originadas na estrutura biológica do corpo, vividas e experienciadas no domínio consensual e em ações da história e da cultura” (Varela et al, 1996, citado por Nóbrega, 2005, p.607). A mente não é uma entidade “des-situada”, desencarnada ou um computador, também a mente não está em alguma parte do corpo, ela é o próprio corpo. Essa unidade implica que as tradicionais concepções representacionistas se enganam ao colocar a mente como uma entidade interior, haja vista que a estrutura mental é inseparável da estrutura do corpo (grifos da autora). Diante disso, uma Educação Física comprometida com o respeito aos interesses, necessidades e direitos dos meninos e meninas na faixa etária de 0 a 6 anos, deve permitir que os mesmos desempenhem um papel mais ativo em seus movimentos, respeitando os seus interesses e necessidades e que, nesta faixa etária, só pode se caracterizar pela brincadeira , ampliando assim as culturas infantis de movimento. O movimento é capaz de trabalhar todos os itens para uma formação completa do ser humano e é na infância que elas devem ser desenvolvidas para que a criança se torne um adulto coeso, capaz de compreender e transformar as coisas que o cerca. “As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez mais, um maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo” (BRASIL, 1998, p. 15). Então, o movimento humano permite às crianças agirem sobre o meio físico e expressarem sentimentos, emoções e pensamentos, sendo este, também, o principal objeto de estudo da Educação Física. 4.3 Os resultados parciais encontrados na pesquisa de campo Pelos dados parcialmente coletados e analisados, foi possível perceber que embora a Educação Física na Educação Infantil tenha dado um grande salto em relação a conquista do seu espaço, ainda há muito por se fazer para que essa disciplina alcance seu lugar ao sol. A falta de materiais, espaço e um maior apoio aos profissionais desta área no que se refere à formação continuada para adequação e qualificação para atuarem nesta fase do ensino ainda são fatores que interferem de forma significante na qualidade das aulas, refletindo dessa forma no desenvolvimento das crianças que, por sua vez, poderia estar acontecendo de uma forma mais sistematizada. Parcialmente foi possível concluirmos que ainda há muito que se fazer para que a Educação Física seja vista como uma disciplina como as demais e tão importante quanto, por isso a necessidade de trabalhos como este que venham difundir toda sua relevância quando se trata de crianças de 0 a 6 anos, além das demais faixas etárias que também são beneficiadas por meio das atividades proporcionadas pela Educação Física. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • 8. Esta pesquisa encontra-se na etapa final da análise dos dados e tem sua previsão de término em dezembro deste ano (2009), com a apresentação pública para fins de conclusão do curso de Especialização em Educação Infantil do CAJ/UFG. Possivelmente no CONADE de 2010, e em outros eventos, poderemos apresentar os resultados em sua totalidade, com as informações devidamente apresentadas e discutidas, como se espera de um relatório final de pesquisa. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, Célio J. Educação Física para o pré-escolar. Rio de Janeiro: Harper e Row do Brasil, 1987. BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Maginster, 1992. BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional; lei nº. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 05/12/2008. BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 1998. Disponível em <http://www,mec.gov.br>. Acesso em 05/12/2008. CERQUEIRA, Naira Fernandes; CAETANO, Meirelle Nunes; ABRANCHES, Maria Alice. A influência da Educação Física na Educação Infantil. Revista Científica Faminas, Muriaí, v.3, n.1, sup.1, p.565, jan-abr, 2007. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez,1992. FERRAZ, Oswaldo L. Os profissionais de educação infantil: intervenção e pesquisa. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, supl.4, p.95-109, 2001. FERRAZ, Oswaldo L.; FLORES, Kelly Zoppei. Educação Física na Educação Infantil: influência de um programa na aprendizagem e desenvolvimento de conteúdos conceituais e procedimentais. Revista Brasileira de Educação Física, São Paulo, v.18, n.1, p.47-60, 2004. FERRAZ, Oswaldo L.; MACEDO, Lino. Reflexões de professores sobre a educação física na educação infantil incluindo o referencial curricular nacional. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, supl 4, p.110-115, 2001. GRESPAN, Marcia Regina. Proposta de planejamento para o componente curricular Educação no primeiro ciclo do ensino fundamental. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 1999. Monografia (Especialização em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, UEM, 1999. Disponível em: <HTTP://www.def.uem.br/revistadef/admin/artigos/6302c58be549f71d64249e0a8c499e cf.pdf .>Acesso em: 15/04/2008. HURTADO, Johan G. G. M. O ensino da educação física: uma abordagem didática. Curitiba: Educal Editer, 1983. KUNZ, Elenor. Educação física: ensino e mudanças. Ijuí: UNIJUÍ, 1991. LE BOUCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até 6 anos. Porto Alegra: Arte Médicas, 1990. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LOURENÇO FILHO, Manoel L. A pedagogia de Rui Barbosa. Brasília: Inep/MEC,2001.
  • 9. MARANTE, Wallace Oliveira; SANTOS, Mário Cesário. Metodologia de ensino da educação física: reflexão e mudanças a partir da pesquisa ação. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. N.7, v.2, p.69-83, 2008. MEDINA, João Paulo S. A educação física cuida do corpo e mente. São Paulo: Papirus, 1984. NÓBREGA, Terezinha Petrucia da. Qual o lugar do corpo na educação? Notas sobre conhecimento, processos cognitivos e currículo. Revista Educação e Sociedade. Campinas, v.26, n.91, p.599-615, Mai-Ago, 2005. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 15-02-2009. PAOLILLO, Fernanda Rossi; MELLO, Maria Aparecida. Educação Infantil e Educação Física. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, sup.4, p.125-29, 2001. PIAGET, Jean. A construção do real na criança. São Paulo: Ática, 2003. RIZZO, Gilda. Creche: organização, currículo, montagem e funcionamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. SILVA, Gustavo Arantes et al. Professor especialista ou generalista? Quem deve assumir as aulas de educação física na educação infantil? Rio de Janeiro. Universidade Gama Filho 2008. Monografia (Especialização em Educação Física Escolar) – UGF, 2008. Disponível em <http://www.diadiaeducacao.pr.gov.br/diadia/diadia/arquivos/file/conteudos/artigos_tes es/EDUCACAO_FISICA/monografia/Ed-F-educ-infantil.pdf>. Acesso em: 19/08/2008. SOUZA, Andréia D. A educação física no sistema municipal de ensino de Vitória: da formação inicial à intervenção profissional. Vitória: UFES, 2004.