O poema descreve a vida difícil de um carroceiro que recolhe materiais recicláveis pelas ruas para sobreviver. Ele passa o dia caminhando com sua carroça, enfrentando calor, suor, dores físicas e riscos de assaltos. Apesar dos esforços, sua situação de pobreza e privação permanece.
2. O carroceiro, Homem-cavalo, Puxa a carroça pela rua; Será que dá dinheiro Esse monturo de plásticos, Papeis, Cacos E sucatas?
3. O carroceiro, Cavalo-homem, Chafurdou lixeiras, Caçambas, Em busca de metais, latas, Restos de carros alegóricos, Criou um mundo brasileiro Que carrega às suas costas.
4. Lá vai o carroceiro: Bermuda, Boné, Camisa xadrez Colada ao corpo; Mal-estar De viver assim, Preso por ferros A uma carroça, Seu cativeiro.
5. Lá vai o carroceiro: Dor nas pernas, Nos joelhos, Caminha rumo à favela, Cortada por trilhos, O trem passa, As garrafas tremem, Seu destino é de andadeiro.
6. Lá vai o carroceiro: Empapado de suor E gotas de esperança, Logo virá a noite, Quente, Cheia de mosquitos E sonhos de cachaceiro.
7. Lá vai o carroceiro, Entre os entulhos Esconde a faca, A foice, Porque há de se defender Dos roubos, Das armadilhas Dos embusteiros.
8. Lá vai o carroceiro, Disputa espaço Entre as buzinas e as guinadas, Ouve estranhas risadas Que sobem dos bueiros.
9. Lá vai o carroceiro Entre luzes E gases, O cheiro é acre E escorre óleo no aguadeiro.
10. Alguém quase o atropela, Xinga-o de maconheiro, Ele cospe saliva verde, Rumina a tristeza: De quem será herdeiro? Do homem? Do cavalo? Do tráfico negreiro?