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Triste fim de
   Policarpo
  Quaresma
Publicado inicialmente em folhetins do Jornal
do Comércio entre agosto e outubro de 1911 e
depois em livro em 1916, Triste Fim de Policarpo
Quaresma, obra mais famosa de Lima Barreto,
condensa em si muitas das ca-racterísticas que
consagraram seu autor como o melhor de seu
tempo.
      A obra focaliza fatos históricos e políticos
ocorridos durante a fase de instalação da república,
mais precisamente no governo de Floriano Peixoto
(1891 - 1894). Seus ataques, sempre escachados,
derramam-se para todos os lados significativos da
sociedade que contempla, a Primeira República, ou
seja, as primeiras décadas desse regime aqui no
Brasil.
Lima
Barreto
O romance narrado em terceira pessoa,
descreve a vida política do Brasil após a
Proclamação da República, caricaturizando o
nacionalismo ingênuo, fanatizante e xenófobo do
Major Policarpo Quaresma, apavorado com a
descaracterização da cultura e da sociedade
brasileira, modelada em valores europeus.
      Divertido e colorido no início, o livro se
desdobra no sofrimento patético do major
Quaresma, incompreendido e martirizado, con-
vertido numa espécie de Dom Quixote nacional,
otimista incurável, visionário, paladino da justiça,
expressando na sua ingenuidade a doçura e o
calor humano do homem do povo.
A obra divide-se
 em três partes
Primeira parte - Retrata o burocrata exemplar,
patriota e nacionalista extremado, interessado pelas
coisas do Brasil: a música, o folclore e o tupi-
guarani. Esta parte está ligada à Cultura Brasileira,
onde conhecemos a personagem e suas manias.
Sabe tudo sobre a geografia do nosso país. Sua
casa é repleta de livros que se refiram à nossa
nação. O que come e bebe é tipicamente brasileiro.
Até o seu jardim só possui plantas nativas. Chega a
estudar violão – instrumento de má fama na época,
pois era associado a malandros – com Ricardo
Coração dos Outros, já que descobre que a
modinha, estilo tipicamente brasileiro, era tocada
com esse instrumento.
Segunda parte - Mostra o Major Qua-resma
desiludido com as incompreensões o que o
faz se retirar para o campo onde se empenha
na reforma da agricultura brasileira e no
combate às saúvas. Nesta parte, dedicada à
Agricultura Brasileira, vemos Quaresma
refugiar-se num sítio que compra, em Curuzu,
e tem por intenção provar que o solo brasileiro
é o mais fértil do mundo. Dedica-se, portanto,
a estudar tudo o que se refere a agricultura.
Mais uma vez, distancia-se, em sua perfeição,
da realidade. Torna-se defeituoso.
Terceira parte - Acentua-se a sátira política.
Motivado pela Revolta da Armada, Quaresma
apoia Floriano Peixoto e, aos poucos, vai
identificando os interesses pessoais que movem
as pessoas, desnudando o tiranete grotesco em
que se convertera o "Marechal de Ferro".
Quaresma larga seus projetos agrícolas ao
saber que estava ocorrendo a Revolta da
Armada, quando marinheiros se rebelaram
contra o presidente Floriano Peixoto. Na filosofia
do protagonista, sua pátria só seria grande
quando a autoridade fosse respeitada. Em
defesa desse ideal, volta para a Capital, para
alistar-se nas tropas de defesa do regime.
No final, tal qual Dom Quixote, Quaresma
acorda, recobra a razão. Percebe que a pátria, por
que sempre lutara, era uma ilusão, nunca existira.
Num momento pungente, tocante, descobre que
passara toda a sua vida numa inutilidade.
      Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, na
configuração dos elementos da narrativa, notamos
a presença predominante da ironia e as
impertinências contidas na figura central do
romance, Quaresma, alegando que o tupi, por ser a
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A sátira política de Lima Barreto em 'Triste Fim de Policarpo Quaresma

  • 1.
  • 2. Triste fim de Policarpo Quaresma
  • 3.
  • 4. Publicado inicialmente em folhetins do Jornal do Comércio entre agosto e outubro de 1911 e depois em livro em 1916, Triste Fim de Policarpo Quaresma, obra mais famosa de Lima Barreto, condensa em si muitas das ca-racterísticas que consagraram seu autor como o melhor de seu tempo. A obra focaliza fatos históricos e políticos ocorridos durante a fase de instalação da república, mais precisamente no governo de Floriano Peixoto (1891 - 1894). Seus ataques, sempre escachados, derramam-se para todos os lados significativos da sociedade que contempla, a Primeira República, ou seja, as primeiras décadas desse regime aqui no Brasil.
  • 6. O romance narrado em terceira pessoa, descreve a vida política do Brasil após a Proclamação da República, caricaturizando o nacionalismo ingênuo, fanatizante e xenófobo do Major Policarpo Quaresma, apavorado com a descaracterização da cultura e da sociedade brasileira, modelada em valores europeus. Divertido e colorido no início, o livro se desdobra no sofrimento patético do major Quaresma, incompreendido e martirizado, con- vertido numa espécie de Dom Quixote nacional, otimista incurável, visionário, paladino da justiça, expressando na sua ingenuidade a doçura e o calor humano do homem do povo.
  • 7.
  • 8. A obra divide-se em três partes
  • 9. Primeira parte - Retrata o burocrata exemplar, patriota e nacionalista extremado, interessado pelas coisas do Brasil: a música, o folclore e o tupi- guarani. Esta parte está ligada à Cultura Brasileira, onde conhecemos a personagem e suas manias. Sabe tudo sobre a geografia do nosso país. Sua casa é repleta de livros que se refiram à nossa nação. O que come e bebe é tipicamente brasileiro. Até o seu jardim só possui plantas nativas. Chega a estudar violão – instrumento de má fama na época, pois era associado a malandros – com Ricardo Coração dos Outros, já que descobre que a modinha, estilo tipicamente brasileiro, era tocada com esse instrumento.
  • 10.
  • 11. Segunda parte - Mostra o Major Qua-resma desiludido com as incompreensões o que o faz se retirar para o campo onde se empenha na reforma da agricultura brasileira e no combate às saúvas. Nesta parte, dedicada à Agricultura Brasileira, vemos Quaresma refugiar-se num sítio que compra, em Curuzu, e tem por intenção provar que o solo brasileiro é o mais fértil do mundo. Dedica-se, portanto, a estudar tudo o que se refere a agricultura. Mais uma vez, distancia-se, em sua perfeição, da realidade. Torna-se defeituoso.
  • 12. Terceira parte - Acentua-se a sátira política. Motivado pela Revolta da Armada, Quaresma apoia Floriano Peixoto e, aos poucos, vai identificando os interesses pessoais que movem as pessoas, desnudando o tiranete grotesco em que se convertera o "Marechal de Ferro". Quaresma larga seus projetos agrícolas ao saber que estava ocorrendo a Revolta da Armada, quando marinheiros se rebelaram contra o presidente Floriano Peixoto. Na filosofia do protagonista, sua pátria só seria grande quando a autoridade fosse respeitada. Em defesa desse ideal, volta para a Capital, para alistar-se nas tropas de defesa do regime.
  • 13.
  • 14. No final, tal qual Dom Quixote, Quaresma acorda, recobra a razão. Percebe que a pátria, por que sempre lutara, era uma ilusão, nunca existira. Num momento pungente, tocante, descobre que passara toda a sua vida numa inutilidade. Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, na configuração dos elementos da narrativa, notamos a presença predominante da ironia e as impertinências contidas na figura central do romance, Quaresma, alegando que o tupi, por ser a língua nativa brasileira proporcionaria melhor adaptação ao nosso aparelho fonador. Além disso, segundo ele, os portugueses são os donos da língua e, para alterá-la teríamos de pedir licença a eles.