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A BOLA DE
    PINGUE-
    PONGUE

   Era uma vez uma bola de pingue-pongue.
  Um dia, a bola de pingue-pongue disse assim:
  – Já chega de andar aos trambolhões de um lado para o
outro: encontrão daqui, safanão ali, toma lá, dá cá e volta
ao princípio, numa roda viva entres duas senhoras
raquetes. Afinal nunca passo da mesma mesa.
  Realmente, aquela vida de tão, badalão, e torna e deixa
o pingue e pongue e pongue e pingue cansava qualquer um,
quanto mais uma bola de pingue-pongue com aspirações a
outros voos…
  – Ainda se fosse uma bola de futebol – suspirava ela. –
Corria o campo de lés a lés e, quando fugisse para dentro
das redes, punha tudo a gritar: goooolo! Era mais
emocionante. Mas, mesmo assim, deve haver melhor
destino.
                            1
É que havia mesmo. E a pequenina bola de
pingue-pongue queria conhecê-lo. Ser bola de futebol, de
basquetebol não lhe bastava. O que ela queria era correr
mundo!
   E foi. Saltaricou da mesa para o chão, desceu escadas,
escorregou por colinas, e foi ter – vejam bem a sorte que
ela teve! – e foi ter a um sítio muito especial, que era assim
a modos que um centro espacial. Deste centro especial
espacial atiravam para os céus bolas e bolinhas, que uma
vez lá de cima, a dançar no meio dos astros, lançavam para
a terra uns sinais esquisitos – bip! bip! bip! – como se
fossem grilos… Mas não eram grilos essas bolas espaciais.
Eram satélites dos artificiais.
   – Se as outras conseguem, também eu hei-de conseguir
– pensou a bola de pingue-pongue.
   Ela que sabia dizer "pingue" e "pongue", e "pongue" e
"pingue", depressa aprendeu a dizer "bip!" "bip!" "bip!".
Não custava nada.
   E lá foi pelos ares, viajante do espaço, à roda do mundo,
tão redondo como ela.
   – Ena tantas bolas! – exclamou a bola de pingue-pongue,
quando se viu lá no alto, a rodar entre planetas. – Afinal
somos todas da mesma família. Umas maiores, outras mais
pequenas, mas redondas todas. Que seria do mundo, se não
fossem as bolas…
   E, de contente que estava, soltou um "bip! bip!" mais
forte, que atravessou o espaço e atarantou as estrelas lá do
fundo.
   – Tirem-me de ao pé de mim este satélite maluco. Não
consigo dormir em paz – gritou a Lua, que é assim uma
espécie de bola de pingue-pongue, mas em grande.

                              2
Os sábios fizeram a vontade à Lua e mandaram descer a
nossa bolinha de pingue-pongue.
   – Estou satisfeita – contou a bola, ao regressar à Terra. –
Vi o que queria e fiquei consolada de ver tantas bolas irmãs
a navegar pelo céu. Agora quero repousar.
   Mas onde? Numa gaveta não parecia bem. Era um fim
pouco digno para uma bola que correra tantas aventuras.
Então um dos sábios, olhando para o calmo jardim do
centro espacial, teve uma ideia – ou não fosse ele um
sábio…
   Equilibrou-a no alto de um repuxo no meio do tanque do
jardim.
   Depois de ter visto tudo, de ter rolado e saltitado pelo
espaço além, a bola descansa, a recordar o que vira. E
suspira, satisfeita:
   – Está-se bem aqui.


  FIM




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A bola de pingue-pongue que foi ao espaço

  • 1. A BOLA DE PINGUE- PONGUE Era uma vez uma bola de pingue-pongue. Um dia, a bola de pingue-pongue disse assim: – Já chega de andar aos trambolhões de um lado para o outro: encontrão daqui, safanão ali, toma lá, dá cá e volta ao princípio, numa roda viva entres duas senhoras raquetes. Afinal nunca passo da mesma mesa. Realmente, aquela vida de tão, badalão, e torna e deixa o pingue e pongue e pongue e pingue cansava qualquer um, quanto mais uma bola de pingue-pongue com aspirações a outros voos… – Ainda se fosse uma bola de futebol – suspirava ela. – Corria o campo de lés a lés e, quando fugisse para dentro das redes, punha tudo a gritar: goooolo! Era mais emocionante. Mas, mesmo assim, deve haver melhor destino. 1
  • 2. É que havia mesmo. E a pequenina bola de pingue-pongue queria conhecê-lo. Ser bola de futebol, de basquetebol não lhe bastava. O que ela queria era correr mundo! E foi. Saltaricou da mesa para o chão, desceu escadas, escorregou por colinas, e foi ter – vejam bem a sorte que ela teve! – e foi ter a um sítio muito especial, que era assim a modos que um centro espacial. Deste centro especial espacial atiravam para os céus bolas e bolinhas, que uma vez lá de cima, a dançar no meio dos astros, lançavam para a terra uns sinais esquisitos – bip! bip! bip! – como se fossem grilos… Mas não eram grilos essas bolas espaciais. Eram satélites dos artificiais. – Se as outras conseguem, também eu hei-de conseguir – pensou a bola de pingue-pongue. Ela que sabia dizer "pingue" e "pongue", e "pongue" e "pingue", depressa aprendeu a dizer "bip!" "bip!" "bip!". Não custava nada. E lá foi pelos ares, viajante do espaço, à roda do mundo, tão redondo como ela. – Ena tantas bolas! – exclamou a bola de pingue-pongue, quando se viu lá no alto, a rodar entre planetas. – Afinal somos todas da mesma família. Umas maiores, outras mais pequenas, mas redondas todas. Que seria do mundo, se não fossem as bolas… E, de contente que estava, soltou um "bip! bip!" mais forte, que atravessou o espaço e atarantou as estrelas lá do fundo. – Tirem-me de ao pé de mim este satélite maluco. Não consigo dormir em paz – gritou a Lua, que é assim uma espécie de bola de pingue-pongue, mas em grande. 2
  • 3. Os sábios fizeram a vontade à Lua e mandaram descer a nossa bolinha de pingue-pongue. – Estou satisfeita – contou a bola, ao regressar à Terra. – Vi o que queria e fiquei consolada de ver tantas bolas irmãs a navegar pelo céu. Agora quero repousar. Mas onde? Numa gaveta não parecia bem. Era um fim pouco digno para uma bola que correra tantas aventuras. Então um dos sábios, olhando para o calmo jardim do centro espacial, teve uma ideia – ou não fosse ele um sábio… Equilibrou-a no alto de um repuxo no meio do tanque do jardim. Depois de ter visto tudo, de ter rolado e saltitado pelo espaço além, a bola descansa, a recordar o que vira. E suspira, satisfeita: – Está-se bem aqui. FIM 3