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Complexidade, Caos e Auto-
organização
Luiz Antônio Moro Palazzo
In: III Oficina de Inteligência Artificial, 1999, Pelotas. III Oficina de
Inteligência Artificial. Pelotas : Educat, 1999. p. 49-67.
Síntese elaborada por Raquel S. Gomes
Complexus(latim) = entrelaçado, torcido junto
Para se ter um sistema complexo é necessário:
(1) duas ou mais diferentes partes ou componentes;
(2) estes componentes devem estar de algum modo interligados formando uma
estrutura estável;
• Considerar um fenômeno como um todo significa identificá-lo com uma unidade, isto é,
fundamentalmente simples. Na construção de uma ciência da complexidade deve-se buscar uma
visão capaz de transcender a polarização entre holismo e reducionismo, permitindo a
modelagem de sistemas que apresentam simultaneamente a característica da distinção (sendo
portanto separáveis do todo em uma forma abstrata) e da conexão (sendo portanto
indissociáveis do todo sem a perda de parte do significado original).
• Uma forma simples de modelo que satisfaz simultaneamente esses dois requisitos
aparentemente contraditórios é o conceito matemático de rede. Uma rede consiste de nodos e
de conexões ou arcos entre os nodos. Estes podem ser vistos como partes de um sistema
complexo, enquanto que as conexões irão corresponder às relações que estabelecem entre si.
Esta visão tem a propriedade de ser reversível, isto é, pode-se também ver os nodos como
conexões entre os arcos, que então são tomados como os elementos componentes.
Ordem e caos
• O termo complexidade é também tomado como um sinônimo de
desordem ou caos. Entretanto, somente a noção de desordem não é
suficiente para definir complexidade. É necessário também entender o
conceito de ordem. Exemplos simples de ordem são estruturas
simétricas. A principal característica de um sistema ordenado é a sua
previsibilidade (espacial ou temporal). Não é necessário conhecer o
sistema como um todo para reconstruí-lo ou prever sua estrutura: o
sistema é redundante. A desordem, por outro lado, é caracterizada pela
ausência de invariância, isto é, pela ausência de transformações (não
triviais) que não teriam qualquer efeito distinguível sobre o sistema. No
limite isto significa que qualquer parte do sistema, por insignificante que
seja, deve ser diferente ou independente de qualquer outra parte. Em um
sistema de máxima desordem deve-se ter partículas com qualquer
momento físico aparecendo e desaparecendo em qualquer instante no
tempo e qualquer posição no espaço (vácuo - teoria quântica). Tanto a
perfeita ordem quanto a perfeita desordem no limite correspondem ao
vazio, isto é, à ausência de qualquer forma de complexidade.
Dinâmica
• O passo seguinte no estudo da complexidade corresponde à análise de como um sistema
complexo evolui, isto é, como ele se modifica ao longo do tempo. A invariância limitada
postulada na seção anterior não se aplica somente a transformações geométricas ou
espaciais, mas também a transformações temporais ou dinâmicas. Isto significa que certas
partes ou estruturas do sistema serão conservadas durante uma certa evolução de tempo
enquanto que outras irão se modificar. Até aqui esta descrição parece bastante trivial: uma
parte do sistema se modifica enquanto que outra permanece sem modificações. É necessário
entretanto algum método para identificar quais os subsistemas que irão mudar e quais os que
irão permanecer inalterados. A evolução de sistemas complexos, de acordo com esta visão, é
caracterizada por um intrincado emaranhado de ordem ou invariância e desordem ou
variação. Suponha-se que haja uma subestrutura relativamente invariante (isto é, não
afetada por um certo conjunto de transformações) em um sistema complexo. Isto significa
que enquanto os processos internos do sistema pertencerem a esta categoria de
transformação a subestrutura irá permanecer invariável. Na evolução biológica o agente de
seleção é o ambiente, que demanda uma certa forma de adaptação do sistema, que de outro
modo não irá sobreviver. No estudo da complexidade entretanto, sem fazer uma distinção a
priori entre um sistema e seu ambiente externo não é possível empregar tal critério. A
distinção entre o sistema que tenta sobreviver e seu ambiente, que pode permitir ou
dificultar esta sobrevivência, é por si só uma característica dos sistemas complexos em geral.
Discorrer sobre a sobrevivência de um subsistema em um todo maior implica em que se deve
ter alguma maneira de reconhecer tais subsistemas invariantes inseridos em ambientes em
evolução. Em outras palavras os subsistemas estáveis devem ser distinguidos como
indivíduos. A dinâmica de variação-restrição é o princípio sobre o qual se baseia a
invariância relativa das distinções em sistemas complexos.
Auto-organização
• “De onde vem a ordem?” Segundo as leis gerais da termodinâmica
parece que os processos dinâmicos tendem a seguir os caminhos de
menor consumo de energia até que o sistema encontre um ponto de
equilíbrio onde permanecerá enquanto não sofrer perturbação.A
organização surge espontaneamente a partir da desordem e não
parece ser dirigida por leis físicas conhecidas. De alguma forma a
ordem surge das múltiplas interações entre as unidades
componentes e as leis que podem governar este comportamento não
são bem conhecidas. A perspectiva comportamental de um sistema
auto-organizável poderia revelar como padrões espaciais e temporais
- tais como caminhos, limites, ciclos e sucessões - poderiam surgir em
comunidades heterogêneas complexas. O entendimento dos
mecanismos de auto-organização pode conduzir à construção de
modelos mais informativos e precisos.
• Topdown - violação da individualidade (diferença entre os
indivíduos) e da localidade (localização e escopo de influência de
cada evento).
Pré-condições da Auto-
organização
Comportamento Dinâmico: Se um sistema não está em equilíbrio termodinâmico, a única opção que resta para o
seu comportamento é assumir algum tipo de dinâmica, significando que o sistema encontra-se em contínua
mudança.
Abertura Termodinâmica: Em primeiro lugar o sistema (uma unidade reconhecível, tal como um órgão, um organismo
ou uma população) deve trocar energia e/ou massa com o seu ambiente. Em outras palavras, deve haver um fluxo
não-nulo de energia através do sistema.
Interação Local: Uma vez que todos os sistemas naturais apresentam inerentemente interações locais, esta condição
parece ser um importante mecanismo para a auto-organização e como tal deve ser incorporada aos modelos que a
representam.
Dinâmica Não-Linear: Um sistema com laços de feedback positivo e negativo é modelado com equações não-lineares. A
auto-organização pode ocorrer quando existem laços de feedback entre as partes componentes do sistema e entre
estes componentes e as estruturas que emergem em níveis hierárquicos mais altos.
Grande Número de Componentes Independentes: Uma vez que a origem da auto-organização recai nas conexões,
interações e laços de feedback entre as partes dos sistemas, torna-se claro que sistemas auto-organizáveis devem
possuir um grande número de componentes.
Comportamento geral independente da estrutura interna dos componentes: Isto quer dizer que não importa do que ou
como são feitos os componentes do sistema, desde que eles façam as mesmas coisas. Em outras palavras, isto
significa, que a mesma propriedade emergente irá surgir em sistemas completamente diferentes.
Emergência: A emergência é provavelmente a noção menos conhecida dentre as que se relacionam com auto-organização
[CRU94]. A Teoria da Emergência diz que o todo é maior do que a soma das partes e o todo exibe padrões e
estruturas que surgem espontaneamente do comportamento das partes..
Comportamento geral organizado e bem definido: Desconsiderando a estrutura interna de um sistema complexo e
observando-o apenas como um fenômeno emergente constata-se que seu comportamento é bastante preciso e
regular.
Efeitos em Múltiplas Escalas: A emergência também aponta para interações e efeitos entre múltiplas escalas nos
sistemas auto-organizáveis. As interações em pequena escala produzem as estruturas em grande escala as quais por
sua vez modificam a atividade na pequena escala.
Estruturas de feedback
Uma estrutura de feedback é um laço causal, uma cadeia de causas e
efeitos que forma um anel. Dentre essas estruturas, a mais simples é o
feedback de reforço, também conhecido como efeito bola-de-neve ou
ciclo vicioso. A principal característica do feedback de reforço é ser
auto-amplificador. Quanto mais complexo um sistema (seres vivos, por
exemplo) maior o número de estruturas de feedback que apresenta.
Tem sido observado que sistemas que apresentam feedback tendem a
desenvolver propriedades completamente novas. Este fenômeno, como
já se viu, denomina-se emergência e as novas propriedades do sistema
são ditas propriedades emergentes.
Metáfora da bola de neve
O efeito dominó
• A onda é um padrão comum, considerado como emergente. Um dos exemplos
que melhor descrevem uma onda é o efeito dominó. Causa grande impressão
observar dominós cairem sucessivamente, derrubados pela queda de seus
antecessores, produzindo uma onda. Entretanto, se este é um padrão
emergente, deve haver um ciclo em algum lugar. Observando cuidadosamente o
efeito dominó pode-se considerar o mesmo comparável ao efeito produzido por
uma esfera invisível, rolando sobre os dominós e derrubando-os em sequência.
Visto desta maneira, o efeito dominó lembra o efeito bola de neve já citado. A
esfera invisível possui o mesmo movimento e deixa um rastro: os dominós
tombados atrás de si.
Meta-balanceamento
Freqüentemente comportamentos muito organizados surgem em sistemas de extrema
complexidade. Exemplos óbvios disto são os organismos vivos. Bilhões de células interagem
apresentando um comportamento notavelmente organizado. Ainda que os diversos
fenômenos emergentes que ali ocorrem sejam muito diferentes uns dos outros, eles possuem
algo em comum. Um conceito muito importante que conecta todos os fenômenos emergentes
é o meta-balanceamento. Este é um conceito considerado chave para o entendimento da
emergência. Um sistema meta-balanceado é um sistema que pode ser visto de duas diferentes
perspectivas. A nível de detalhe o sistema está completamente desbalanceado, entretanto, de
uma perspectiva global, o sistema parece ser estável e ordenado. O curioso aqui é que o
sistema precisa estar desbalanceado internamente para produzir ordem global.Este é talvez
um dos aspectos menos intuitivos da teoria dos sistemas. Corresponde a afirmar que a
maneira de produzir estabilidade emergente em um sistema é conduzi-lo internamente a um
estado desbalanceado. O conceito entretanto é fácil de demonstrar. Tanto o efeito bola de
neve quanto o efeito dominó são fenômenos meta-estáveis. No efeito dominó, por exemplo, há
um comportamento claramente estável e ordenado no sistema - a onda. Mesmo assim o
comportamento observado individualmente em cada dominó é de desequilíbrio. A esfera
invisível é formada pelos dominós que caem e rola exatamente no ponto em que estes
tombam, desbalanceados.Um sistema dito balanceado ou em balanço é um sistema que não
dispende energia.
Sobrevivência e
Uniformidade
• Quando se observa a onda de dominós (ou uma onda no oceano ou
qualquer outra onda) tem-se a sensação que ela de algum modo
sobrevive de um momento para o seguinte, isto é, a onda se
apresenta como sendo única e de duração prolongada no tempo. A
questão é que quando a onda se auto-reproduz, avançando para o
momento seguinte, ela o faz a partir de componentes diferentes.
Assim, se a onda emergente for observada da perspectiva dos
dominós ela não será a mesma onda. Isto é verdadeiro para todos
os fenômenos emergentes.
• Na esfera dos seres humanos tem-se a sensação de sobreviver de
um instante para outro, no entanto o que realmente ocorre é um
contínuo processo de substituição de componentes. Nova energia e
novas moléculas fluem continuamente no organismo humano, onde
o ciclo de substituição ao nível molecular dura cerca de sete anos.
Vórtices
• Redemoinhos em águas revoltas e tornados em céus turbulentos são exemplos perfeitos de
vórtices. O curioso sobre os vórtices é que parece haver alguma força em seus centros sugando
grandes massas a partir de um ponto impreciso. Isto entretanto é apenas uma ilusão ocasionada
pelo movimento das massas em círculo. Se estas forem removidas do vórtice não resta
absolutamente nada. É como remover as cascas de uma cebola esperando encontrar algo em seu
interior. Entretanto, observando-se os vórtices, fica claro que existe uma força em algum lugar.
Onde está ela? A resposta é talvez uma das mais importantes noções da ciência da
complexidade: ela vem de dentro do sistema. Ainda que na aparência uma força externa esteja
organizando o vórtice, são as próprias massas em movimento circular que animam o fenômeno.
Uma das razões pela qual este conhecimento é tão importante é que ele encerrou a longa disputa
entre o vitalismo e o materialismo. Os vitalistas defendiam a idéia de que a existência da vida
depende de uma força vital, enquanto que os materialistas acreditavam não ser necessária
nenhuma força externa para produzir vida. O estudo dos vórtices mostra que ambas as visões
estão corretas. Os vitalistas, bastante acertadamente, identificaram uma força vital, que
corresponde à força de sucção ilusória existente no centro do vórtice. A visão materialista é
também correta, uma vez que tal força vital emerge do interior do sistema. Nada do exterior
está organizando o vórtice. A força vital é real, mas não existe no sentido usual de existência,
possuindo o que se denomina uma hiper-existência.
• Todas essas três condições são satisfeitas pelos vórtices: (1) Um vórtice não pode emergir no
vácuo, ele necessita estar incorporado em um meio físico. Isto corresponde à primeira parte da
definição de um sistema complexo: um sistema complexo consiste em muitos componentes
independentes. (2) Um vórtice não pode emergir a menos que as massas de ar ou água que o
compõem estejam em movimento (desbalanceadas). Finalmente, (3) um vórtice é por si próprio
uma estrutura circular, possiblilitando a ocorrência de feedback. Quando essas três condições
são satisfeitas, a força ilusória de sucção emerge no centro do vórtice.
Ressonância
• Além do efeito bola-de-neve, do efeito dominó e do vórtice, há
um quarto fenômeno emergente que deve ser observado: a
ressonância. Como se verá a seguir a ressonância possui
exatamente as mesmas propriedades das três outras
estruturas. Além disso, enfatiza outras importantes
propriedades dos sistemas complexos. No sentido usual com que
a palavra é empregada, ressonância é um som prolongado por
um processo repetitivo. Pode ser produzida pelo uivo do vento,
por um apito, por uma guitarra elétrica ou um órgão tubular. A
definição técnica de ressonância é basicamente a mesma,
exceto que não está restrita a ondas sonoras, generalizando a
idéia para qualquer tipo de onda. O que se denominou processo
repetitivo é exatamente algum tipo de feedback. Na Figura 4
apresenta-se um tipo de ressonância sonora que é um problema
comum entre os músicos. Em outras palavras, a ressonância
age como um filtro emergente. Sua estrutura de feedback filtra
todas as freqüências deixando apenas uma. Mas, além de filtrar
todas as outras freqüências, ela amplifica a freqüência restante.
Por esta razão a ressonância é considerada um filtro ativo na
teoria dos filtros. Deve-se notar aqui a similaridade entre o
vórtice e a ressonância. No vórtice há uma força ativa no centro
que suga a matéria em sua direção. Na ressonância um sistema
de freqüências é sugado e aprisionado em um único padrão.
Evolução
Viu-se então que as estruturas de feedback podem atuar como filtros emergentes,
caracterizando processos de redução de informação. Este processo pode ser entendido como
uma forma de seleção. Há cerca de 150 anos atrás, o biólogo Charles Darwin descobriu que o
mecanismo de evolução biológica correspondia a um processo de seleção, que ele denominou
seleção natural, e que este processo nada mais era do que a sobrevivência do melhor adaptado.
Os organismos que não se adaptaram ao longo da cadeia evolutiva foram extintos, isto é,
filtrados para fora do processo. Darwin viu os organismos como se fossem máquinas
perpétuas, atravessando um processo de filtragem natural. Somente as verdadeiramente
perpétuas conseguiam atravessar o filtro. O significado de uma máquina perpétua no contexto
da complexidade é o de mecanismos capazes de perpetuar sua execução e de se reproduzir. Os
organismos vivos caem exatamente na categoria das máquinas perpétuas. Os organismos
agem como se imbuídos da seguinte missão: manter-se em funcionamento por tempo suficiente
para produzir cópias de si próprios. Para manter-se em funcionamento necessitam de um
contínuo fluxo de energia e matéria. Em outras palavras, necessitam comer. Em comparação
se poderia dizer que um carro mantém-se em movimento comendo gasolina. Isto não significa,
evidentemente, que o carro esteja vivo. O problema é que o carro não faz nenhum esforço
próprio para obter mais gasolina. Os organismos deveriam usar a energia proveniente de seu
alimento para obter mais alimento e então reproduzir-se. A seleção natural é também uma
ressonância que amplifica os organismos adequados enquanto que os inadequados vão sendo
retirados de cena. Entretanto, para ser realmente criativa a seleção natural precisa estar
desbalanceada. Como desbalancear um sistema biológico? A resposta é: levar os organismos a
competir por recursos limitados. Quando os organismos competem eles tornam a própria
adequação instável. O que hoje é adequado pode não o ser amanhã. Um cenário de adequação
dinâmica é fonte de novos fenômenos emergentes que tornam a seleção natural mais do que
um mero processo de filtragem passiva.
Fronteira do caos
• Uma forma de abordar o estudo da complexidade, considerando a ausência de uma definição
satisfatória, é descrever um certo espaço, compreendido entre a ordem e o caos, denominado
a fronteira do caos [PAC88, LAN90, KAU91, KAU93]. Em 1990 Chris Langton [LAN90]
conduziu um experimento empregando autômatos celulares (AC), onde tentava descobrir
sob que condições um AC simples poderia suportar primitivas computacionais, tais como
transmissão, armazenamento e modificação de informações. Em seu experimento um AC
unidimensional é composto por 128 células conectadas em círculo. Cada célula apresenta
quatro possíveis estados internos e recebe todos os seu inputs das demais células em sua
região, denominada sua vizinhança. A vizinhança definida por Langton era constituída por
cinco células. Cada célula é considerada membro de sua própria vizinhança, juntamente com
suas duas células vizinhas de cada lado. O estado interno das células no momento seguinte é
determinado pelo estado de sua vizinhança e alguma função de transição que descreve qual o
novo estado que a célula deve assumir para um dado estado de sua vizinhança. Assim o
estado da vizinhança é associado com a transmissão, o estado interno do autômato com o
armazenamento e a função de transição com a modificação da informação. ara determinar
como a ordem e o caos afetavam a computação, Langton formulou um valor lambda que
descrevia a probabilidade de uma dada vizinhança produzir em uma célula um determinado
estado interno particular, denominado estado quiescente. Quando lambda assumia o valor
zero, todas as vizinhanças moviam uma célula para o estado quiescente e o sistema era
imediatamente organizado. Por outro lado, quando lambda assumia o valor 1 nenhuma
vizinhança se movia para o estado quiescente e o sistema mantinha-se desordenado. O
experimento de Langton mostrou a existência de um valor crítico para lambda,
correspondendo a pontos de transição de fase, em cuja proximidade a organização
computada pelo sistema é máxima. Por outro lado, caso esse valor fosse ultrapassado, o caos
surgia muito rapidamente. Segundo Langton, devido a associação da computação com tal
valor crítico, um sistema auto-organizado precisaria manter-se na fronteira do caos para
conseguir computar a própria organização.
Criticalidade Auto-
organizada
• Em um estudo pioneiro, Per Bak e seus colaboradores [BAK88] investigaram o
comportamento de sistemas dinâmicos espacialmente estendidos empregando simulações
em computadores de um modelo que haviam desenvolvido e denominado “monte de
areia”. Neste modelo grãos de areia vão sendo continuamente depositados sobre uma
mesa. Em um certos momentos o monte está tão alto quanto possível para sua base e
então a areia escorrega pela encosta aumentando a base e permitindo ao monte continuar
crescendo. O monte de areia é muito sensível a perturbações (se a mesa for sacudida mais
areia cai pelas encostas) mas os valores obtidos para a inclinação máxima do monte de
areia, apesar de não se apresentarem absolutamente regulares, flutuam dependendo das
condições iniciais e da perturbação exercida sobre o sistema. Devido a este equilíbrio
estável, ainda que precário, Bak e sua equipe concluíram que o sistema se apresentava em
estado crítico. Além disso notaram que o sistema se auto-organizava em direção ao estado
crítico sem necessidade de nenhum ajuste ou sintonia: quaisquer que fossem as condições
iniciais o sistema tendia sempre ao estado crítico. Este fenômeno recebeu a denominação
de criticalidade auto-organizada. Especula-se que este conceito possa ser fundamental
para a escalabilidade espacial e temporal em sistemas dissipativos em desequilíbrio.
Sistemas Complexos
Adaptativos
• Em sistemas bióticos, um elemento importante na lista de mecanismos e condições que
caracterizam a auto-organização é a habilidade que os agentes apresentam de se adaptar
ao meio em que se encontram. Isto significa que os agentes são capazes de alterar suas
funções internas de processamento de informações. Sistemas que apresentam tal
característica são denominados sistemas complexos adaptativos (SCA) [HOR95]. No
modelo de Langton as células seriam capazes de sintonizar suas regras de transição (e
conseqüentemente seus valores lambda) ao longo do espectro entre o caos e a ordem. Em
colônias de formigas leptothorax isto significa que as formigas que inicialmente não
respondiam à modificações na densidade da colônia, ou o faziam de maneira adversa,
acabariam por adaptar suas respostas de modo a conduzir à criticalidade auto-
organizada. Ao se considerar a adaptação, uma série de novas questões sobre sistemas
auto-organizados surgem: Quais são os mecanismos da adaptação? Sob que condições eles
são possíveis? Este movimento se dá sempre na direção da criticalidade auto-organizada?
Em termos evolutivos a criticalidade auto-organizada seria obtida através das condições
para a evolução (variação fenotípica individual, reprodução em excesso e herança de
características genéticas). Uma população seria capaz de adaptar-se através da herança
de variações genéticas introduzidas por mutação e recombinação. A causa da criticalidade
auto-organizada seria a seleção natural. Uma população poderia evoluir na direção de um
estado crítico porque a seleção natural removeria as variantes do sistema que se
afastassem do estado crítico.
Aplicações de Sistemas
Auto-organizáveis
• Apesar de exigir ainda um grande esforço de pesquisa na
construção de uma teoria unificada, o conceito de auto-organização
apresenta excelentes perspectivas de aplicação em simulação,
modelagem científica e otimização [DEC97].. Mecanismos
encontrados em sistemas auto-organizáveis tem sido identificados
com possíveis fontes de auto-organização em diversas áreas da
física, química, biologia, economia, sociologia, comunicação,
informação, educação, etc. [BRO94, HIE94]. Diversos tipos de
modelos baseados em indivíduos foram desenvolvidos e
pesquisados, incluindo redes de autômatos celulares (AC) [CAS91,
LAN94], sistemas de vida artificial (A-Life) [KAW94] e modelos de
clareiras em florestas [SHU92]. O interesse em tais modelos reside
na possibilidade de aplicar suas propriedades estatísticas em
modelos análogos do mundo real.
Estudo de Caso: auto-
organização na WWW
• A WWW adota o princípio da distribuição na representação de conhecimento, o que significa que este é armazenado como uma
rede de nodos e links. Os nodos podem conter qualquer combinação de texto, imagens, som, vídeo, etc. Os links conectam os itens
individuais de um nodo para outro de acordo com a preferência de seus autores, formando algo assim uma rede de conceitos
conectados através de relacionamentos informais. Os usuários navegam nesta rede perseguindo os links que lhes são significativos
entre um nodo e outro. Neste processo empregam uma forma de julgamento associativo que visa conduzir a partir de uma certa
posição inicial ao nodo ou nodos que contém a informação desejada.
• A organização material da WWW é produzida por seus projetistas que usam idéias intuitivas de estruturação do conhecimento e
semântica na construção de nodos e sub-redes. Estas contribuições individuais são integradas gradualmente a corpos mais amplos
de conhecimento preexistentes na WWW, assim expandindo o conhecimento da rede como um todo. Diversos elementos
influenciam neste processo de organização de conhecimento, inclusive fatores psicológicos, linguísticos, sociais e culturais,
interesses e motivações dos autores e usuários das páginas WWW. Esta organização materializada na rede assume uma
representação dinâmica, objetiva e em geral de duração prolongada. Os nodos e links introduzidos modificam-se relativamente
pouco ao longo do tempo. As modificações que ocorrem na rede são fruto de procedimentos de atualização, remoção e
principalmente adição de conhecimento, sob a forma de nodos e links. Tais procedimentos produzem modificações concretas na
rede e em geral são controlados pelos próprios produtores da informação. Por outro lado, o que se poderia denominar organização
virtual da rede é produzida pelo processo dinâmico de navegação, o qual decorre da percepção semântica associativa dos usuários,
ativando determinados links, que lhes parecem mais promissores ou interessantes em detrimento de outros que o são menos. No
atual estágio tecnológico da WWW o conhecimento produzido pelo processo de navegação não é registrado sistematicamente,
sendo portanto desperdiçado. No entanto - e este é o foco deste artigo - poderia ser empregado na construção de modelos auto-
organizáveis de aprendizado associativo, em um sentido muito próximo ao proposto por Bollen em [BOL96], onde a WWW é vista
como uma memória associativa de grandes dimensões.
• O estudo das redes produzidas por auto-organização decorrente da observação da atividade de navegação na WWW pode levar
ainda à identificação de estruturas e construções semânticas básicas, capazes de serem recombinadas na formação de
representações mais complexas com múltiplas finalidades, tais como a otimização de redes de informações, mapeamento e
representação do conhecimento compartilhado por especialistas, o provimento de um padrão para a identificação de idéias, etc.

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  • 1. Complexidade, Caos e Auto- organização Luiz Antônio Moro Palazzo In: III Oficina de Inteligência Artificial, 1999, Pelotas. III Oficina de Inteligência Artificial. Pelotas : Educat, 1999. p. 49-67. Síntese elaborada por Raquel S. Gomes
  • 2. Complexus(latim) = entrelaçado, torcido junto Para se ter um sistema complexo é necessário: (1) duas ou mais diferentes partes ou componentes; (2) estes componentes devem estar de algum modo interligados formando uma estrutura estável; • Considerar um fenômeno como um todo significa identificá-lo com uma unidade, isto é, fundamentalmente simples. Na construção de uma ciência da complexidade deve-se buscar uma visão capaz de transcender a polarização entre holismo e reducionismo, permitindo a modelagem de sistemas que apresentam simultaneamente a característica da distinção (sendo portanto separáveis do todo em uma forma abstrata) e da conexão (sendo portanto indissociáveis do todo sem a perda de parte do significado original). • Uma forma simples de modelo que satisfaz simultaneamente esses dois requisitos aparentemente contraditórios é o conceito matemático de rede. Uma rede consiste de nodos e de conexões ou arcos entre os nodos. Estes podem ser vistos como partes de um sistema complexo, enquanto que as conexões irão corresponder às relações que estabelecem entre si. Esta visão tem a propriedade de ser reversível, isto é, pode-se também ver os nodos como conexões entre os arcos, que então são tomados como os elementos componentes.
  • 3. Ordem e caos • O termo complexidade é também tomado como um sinônimo de desordem ou caos. Entretanto, somente a noção de desordem não é suficiente para definir complexidade. É necessário também entender o conceito de ordem. Exemplos simples de ordem são estruturas simétricas. A principal característica de um sistema ordenado é a sua previsibilidade (espacial ou temporal). Não é necessário conhecer o sistema como um todo para reconstruí-lo ou prever sua estrutura: o sistema é redundante. A desordem, por outro lado, é caracterizada pela ausência de invariância, isto é, pela ausência de transformações (não triviais) que não teriam qualquer efeito distinguível sobre o sistema. No limite isto significa que qualquer parte do sistema, por insignificante que seja, deve ser diferente ou independente de qualquer outra parte. Em um sistema de máxima desordem deve-se ter partículas com qualquer momento físico aparecendo e desaparecendo em qualquer instante no tempo e qualquer posição no espaço (vácuo - teoria quântica). Tanto a perfeita ordem quanto a perfeita desordem no limite correspondem ao vazio, isto é, à ausência de qualquer forma de complexidade.
  • 4. Dinâmica • O passo seguinte no estudo da complexidade corresponde à análise de como um sistema complexo evolui, isto é, como ele se modifica ao longo do tempo. A invariância limitada postulada na seção anterior não se aplica somente a transformações geométricas ou espaciais, mas também a transformações temporais ou dinâmicas. Isto significa que certas partes ou estruturas do sistema serão conservadas durante uma certa evolução de tempo enquanto que outras irão se modificar. Até aqui esta descrição parece bastante trivial: uma parte do sistema se modifica enquanto que outra permanece sem modificações. É necessário entretanto algum método para identificar quais os subsistemas que irão mudar e quais os que irão permanecer inalterados. A evolução de sistemas complexos, de acordo com esta visão, é caracterizada por um intrincado emaranhado de ordem ou invariância e desordem ou variação. Suponha-se que haja uma subestrutura relativamente invariante (isto é, não afetada por um certo conjunto de transformações) em um sistema complexo. Isto significa que enquanto os processos internos do sistema pertencerem a esta categoria de transformação a subestrutura irá permanecer invariável. Na evolução biológica o agente de seleção é o ambiente, que demanda uma certa forma de adaptação do sistema, que de outro modo não irá sobreviver. No estudo da complexidade entretanto, sem fazer uma distinção a priori entre um sistema e seu ambiente externo não é possível empregar tal critério. A distinção entre o sistema que tenta sobreviver e seu ambiente, que pode permitir ou dificultar esta sobrevivência, é por si só uma característica dos sistemas complexos em geral. Discorrer sobre a sobrevivência de um subsistema em um todo maior implica em que se deve ter alguma maneira de reconhecer tais subsistemas invariantes inseridos em ambientes em evolução. Em outras palavras os subsistemas estáveis devem ser distinguidos como indivíduos. A dinâmica de variação-restrição é o princípio sobre o qual se baseia a invariância relativa das distinções em sistemas complexos.
  • 5. Auto-organização • “De onde vem a ordem?” Segundo as leis gerais da termodinâmica parece que os processos dinâmicos tendem a seguir os caminhos de menor consumo de energia até que o sistema encontre um ponto de equilíbrio onde permanecerá enquanto não sofrer perturbação.A organização surge espontaneamente a partir da desordem e não parece ser dirigida por leis físicas conhecidas. De alguma forma a ordem surge das múltiplas interações entre as unidades componentes e as leis que podem governar este comportamento não são bem conhecidas. A perspectiva comportamental de um sistema auto-organizável poderia revelar como padrões espaciais e temporais - tais como caminhos, limites, ciclos e sucessões - poderiam surgir em comunidades heterogêneas complexas. O entendimento dos mecanismos de auto-organização pode conduzir à construção de modelos mais informativos e precisos. • Topdown - violação da individualidade (diferença entre os indivíduos) e da localidade (localização e escopo de influência de cada evento).
  • 6. Pré-condições da Auto- organização Comportamento Dinâmico: Se um sistema não está em equilíbrio termodinâmico, a única opção que resta para o seu comportamento é assumir algum tipo de dinâmica, significando que o sistema encontra-se em contínua mudança. Abertura Termodinâmica: Em primeiro lugar o sistema (uma unidade reconhecível, tal como um órgão, um organismo ou uma população) deve trocar energia e/ou massa com o seu ambiente. Em outras palavras, deve haver um fluxo não-nulo de energia através do sistema. Interação Local: Uma vez que todos os sistemas naturais apresentam inerentemente interações locais, esta condição parece ser um importante mecanismo para a auto-organização e como tal deve ser incorporada aos modelos que a representam. Dinâmica Não-Linear: Um sistema com laços de feedback positivo e negativo é modelado com equações não-lineares. A auto-organização pode ocorrer quando existem laços de feedback entre as partes componentes do sistema e entre estes componentes e as estruturas que emergem em níveis hierárquicos mais altos. Grande Número de Componentes Independentes: Uma vez que a origem da auto-organização recai nas conexões, interações e laços de feedback entre as partes dos sistemas, torna-se claro que sistemas auto-organizáveis devem possuir um grande número de componentes. Comportamento geral independente da estrutura interna dos componentes: Isto quer dizer que não importa do que ou como são feitos os componentes do sistema, desde que eles façam as mesmas coisas. Em outras palavras, isto significa, que a mesma propriedade emergente irá surgir em sistemas completamente diferentes. Emergência: A emergência é provavelmente a noção menos conhecida dentre as que se relacionam com auto-organização [CRU94]. A Teoria da Emergência diz que o todo é maior do que a soma das partes e o todo exibe padrões e estruturas que surgem espontaneamente do comportamento das partes.. Comportamento geral organizado e bem definido: Desconsiderando a estrutura interna de um sistema complexo e observando-o apenas como um fenômeno emergente constata-se que seu comportamento é bastante preciso e regular. Efeitos em Múltiplas Escalas: A emergência também aponta para interações e efeitos entre múltiplas escalas nos sistemas auto-organizáveis. As interações em pequena escala produzem as estruturas em grande escala as quais por sua vez modificam a atividade na pequena escala.
  • 7. Estruturas de feedback Uma estrutura de feedback é um laço causal, uma cadeia de causas e efeitos que forma um anel. Dentre essas estruturas, a mais simples é o feedback de reforço, também conhecido como efeito bola-de-neve ou ciclo vicioso. A principal característica do feedback de reforço é ser auto-amplificador. Quanto mais complexo um sistema (seres vivos, por exemplo) maior o número de estruturas de feedback que apresenta. Tem sido observado que sistemas que apresentam feedback tendem a desenvolver propriedades completamente novas. Este fenômeno, como já se viu, denomina-se emergência e as novas propriedades do sistema são ditas propriedades emergentes. Metáfora da bola de neve
  • 8. O efeito dominó • A onda é um padrão comum, considerado como emergente. Um dos exemplos que melhor descrevem uma onda é o efeito dominó. Causa grande impressão observar dominós cairem sucessivamente, derrubados pela queda de seus antecessores, produzindo uma onda. Entretanto, se este é um padrão emergente, deve haver um ciclo em algum lugar. Observando cuidadosamente o efeito dominó pode-se considerar o mesmo comparável ao efeito produzido por uma esfera invisível, rolando sobre os dominós e derrubando-os em sequência. Visto desta maneira, o efeito dominó lembra o efeito bola de neve já citado. A esfera invisível possui o mesmo movimento e deixa um rastro: os dominós tombados atrás de si.
  • 9. Meta-balanceamento Freqüentemente comportamentos muito organizados surgem em sistemas de extrema complexidade. Exemplos óbvios disto são os organismos vivos. Bilhões de células interagem apresentando um comportamento notavelmente organizado. Ainda que os diversos fenômenos emergentes que ali ocorrem sejam muito diferentes uns dos outros, eles possuem algo em comum. Um conceito muito importante que conecta todos os fenômenos emergentes é o meta-balanceamento. Este é um conceito considerado chave para o entendimento da emergência. Um sistema meta-balanceado é um sistema que pode ser visto de duas diferentes perspectivas. A nível de detalhe o sistema está completamente desbalanceado, entretanto, de uma perspectiva global, o sistema parece ser estável e ordenado. O curioso aqui é que o sistema precisa estar desbalanceado internamente para produzir ordem global.Este é talvez um dos aspectos menos intuitivos da teoria dos sistemas. Corresponde a afirmar que a maneira de produzir estabilidade emergente em um sistema é conduzi-lo internamente a um estado desbalanceado. O conceito entretanto é fácil de demonstrar. Tanto o efeito bola de neve quanto o efeito dominó são fenômenos meta-estáveis. No efeito dominó, por exemplo, há um comportamento claramente estável e ordenado no sistema - a onda. Mesmo assim o comportamento observado individualmente em cada dominó é de desequilíbrio. A esfera invisível é formada pelos dominós que caem e rola exatamente no ponto em que estes tombam, desbalanceados.Um sistema dito balanceado ou em balanço é um sistema que não dispende energia.
  • 10. Sobrevivência e Uniformidade • Quando se observa a onda de dominós (ou uma onda no oceano ou qualquer outra onda) tem-se a sensação que ela de algum modo sobrevive de um momento para o seguinte, isto é, a onda se apresenta como sendo única e de duração prolongada no tempo. A questão é que quando a onda se auto-reproduz, avançando para o momento seguinte, ela o faz a partir de componentes diferentes. Assim, se a onda emergente for observada da perspectiva dos dominós ela não será a mesma onda. Isto é verdadeiro para todos os fenômenos emergentes. • Na esfera dos seres humanos tem-se a sensação de sobreviver de um instante para outro, no entanto o que realmente ocorre é um contínuo processo de substituição de componentes. Nova energia e novas moléculas fluem continuamente no organismo humano, onde o ciclo de substituição ao nível molecular dura cerca de sete anos.
  • 11. Vórtices • Redemoinhos em águas revoltas e tornados em céus turbulentos são exemplos perfeitos de vórtices. O curioso sobre os vórtices é que parece haver alguma força em seus centros sugando grandes massas a partir de um ponto impreciso. Isto entretanto é apenas uma ilusão ocasionada pelo movimento das massas em círculo. Se estas forem removidas do vórtice não resta absolutamente nada. É como remover as cascas de uma cebola esperando encontrar algo em seu interior. Entretanto, observando-se os vórtices, fica claro que existe uma força em algum lugar. Onde está ela? A resposta é talvez uma das mais importantes noções da ciência da complexidade: ela vem de dentro do sistema. Ainda que na aparência uma força externa esteja organizando o vórtice, são as próprias massas em movimento circular que animam o fenômeno. Uma das razões pela qual este conhecimento é tão importante é que ele encerrou a longa disputa entre o vitalismo e o materialismo. Os vitalistas defendiam a idéia de que a existência da vida depende de uma força vital, enquanto que os materialistas acreditavam não ser necessária nenhuma força externa para produzir vida. O estudo dos vórtices mostra que ambas as visões estão corretas. Os vitalistas, bastante acertadamente, identificaram uma força vital, que corresponde à força de sucção ilusória existente no centro do vórtice. A visão materialista é também correta, uma vez que tal força vital emerge do interior do sistema. Nada do exterior está organizando o vórtice. A força vital é real, mas não existe no sentido usual de existência, possuindo o que se denomina uma hiper-existência. • Todas essas três condições são satisfeitas pelos vórtices: (1) Um vórtice não pode emergir no vácuo, ele necessita estar incorporado em um meio físico. Isto corresponde à primeira parte da definição de um sistema complexo: um sistema complexo consiste em muitos componentes independentes. (2) Um vórtice não pode emergir a menos que as massas de ar ou água que o compõem estejam em movimento (desbalanceadas). Finalmente, (3) um vórtice é por si próprio uma estrutura circular, possiblilitando a ocorrência de feedback. Quando essas três condições são satisfeitas, a força ilusória de sucção emerge no centro do vórtice.
  • 12. Ressonância • Além do efeito bola-de-neve, do efeito dominó e do vórtice, há um quarto fenômeno emergente que deve ser observado: a ressonância. Como se verá a seguir a ressonância possui exatamente as mesmas propriedades das três outras estruturas. Além disso, enfatiza outras importantes propriedades dos sistemas complexos. No sentido usual com que a palavra é empregada, ressonância é um som prolongado por um processo repetitivo. Pode ser produzida pelo uivo do vento, por um apito, por uma guitarra elétrica ou um órgão tubular. A definição técnica de ressonância é basicamente a mesma, exceto que não está restrita a ondas sonoras, generalizando a idéia para qualquer tipo de onda. O que se denominou processo repetitivo é exatamente algum tipo de feedback. Na Figura 4 apresenta-se um tipo de ressonância sonora que é um problema comum entre os músicos. Em outras palavras, a ressonância age como um filtro emergente. Sua estrutura de feedback filtra todas as freqüências deixando apenas uma. Mas, além de filtrar todas as outras freqüências, ela amplifica a freqüência restante. Por esta razão a ressonância é considerada um filtro ativo na teoria dos filtros. Deve-se notar aqui a similaridade entre o vórtice e a ressonância. No vórtice há uma força ativa no centro que suga a matéria em sua direção. Na ressonância um sistema de freqüências é sugado e aprisionado em um único padrão.
  • 13. Evolução Viu-se então que as estruturas de feedback podem atuar como filtros emergentes, caracterizando processos de redução de informação. Este processo pode ser entendido como uma forma de seleção. Há cerca de 150 anos atrás, o biólogo Charles Darwin descobriu que o mecanismo de evolução biológica correspondia a um processo de seleção, que ele denominou seleção natural, e que este processo nada mais era do que a sobrevivência do melhor adaptado. Os organismos que não se adaptaram ao longo da cadeia evolutiva foram extintos, isto é, filtrados para fora do processo. Darwin viu os organismos como se fossem máquinas perpétuas, atravessando um processo de filtragem natural. Somente as verdadeiramente perpétuas conseguiam atravessar o filtro. O significado de uma máquina perpétua no contexto da complexidade é o de mecanismos capazes de perpetuar sua execução e de se reproduzir. Os organismos vivos caem exatamente na categoria das máquinas perpétuas. Os organismos agem como se imbuídos da seguinte missão: manter-se em funcionamento por tempo suficiente para produzir cópias de si próprios. Para manter-se em funcionamento necessitam de um contínuo fluxo de energia e matéria. Em outras palavras, necessitam comer. Em comparação se poderia dizer que um carro mantém-se em movimento comendo gasolina. Isto não significa, evidentemente, que o carro esteja vivo. O problema é que o carro não faz nenhum esforço próprio para obter mais gasolina. Os organismos deveriam usar a energia proveniente de seu alimento para obter mais alimento e então reproduzir-se. A seleção natural é também uma ressonância que amplifica os organismos adequados enquanto que os inadequados vão sendo retirados de cena. Entretanto, para ser realmente criativa a seleção natural precisa estar desbalanceada. Como desbalancear um sistema biológico? A resposta é: levar os organismos a competir por recursos limitados. Quando os organismos competem eles tornam a própria adequação instável. O que hoje é adequado pode não o ser amanhã. Um cenário de adequação dinâmica é fonte de novos fenômenos emergentes que tornam a seleção natural mais do que um mero processo de filtragem passiva.
  • 14. Fronteira do caos • Uma forma de abordar o estudo da complexidade, considerando a ausência de uma definição satisfatória, é descrever um certo espaço, compreendido entre a ordem e o caos, denominado a fronteira do caos [PAC88, LAN90, KAU91, KAU93]. Em 1990 Chris Langton [LAN90] conduziu um experimento empregando autômatos celulares (AC), onde tentava descobrir sob que condições um AC simples poderia suportar primitivas computacionais, tais como transmissão, armazenamento e modificação de informações. Em seu experimento um AC unidimensional é composto por 128 células conectadas em círculo. Cada célula apresenta quatro possíveis estados internos e recebe todos os seu inputs das demais células em sua região, denominada sua vizinhança. A vizinhança definida por Langton era constituída por cinco células. Cada célula é considerada membro de sua própria vizinhança, juntamente com suas duas células vizinhas de cada lado. O estado interno das células no momento seguinte é determinado pelo estado de sua vizinhança e alguma função de transição que descreve qual o novo estado que a célula deve assumir para um dado estado de sua vizinhança. Assim o estado da vizinhança é associado com a transmissão, o estado interno do autômato com o armazenamento e a função de transição com a modificação da informação. ara determinar como a ordem e o caos afetavam a computação, Langton formulou um valor lambda que descrevia a probabilidade de uma dada vizinhança produzir em uma célula um determinado estado interno particular, denominado estado quiescente. Quando lambda assumia o valor zero, todas as vizinhanças moviam uma célula para o estado quiescente e o sistema era imediatamente organizado. Por outro lado, quando lambda assumia o valor 1 nenhuma vizinhança se movia para o estado quiescente e o sistema mantinha-se desordenado. O experimento de Langton mostrou a existência de um valor crítico para lambda, correspondendo a pontos de transição de fase, em cuja proximidade a organização computada pelo sistema é máxima. Por outro lado, caso esse valor fosse ultrapassado, o caos surgia muito rapidamente. Segundo Langton, devido a associação da computação com tal valor crítico, um sistema auto-organizado precisaria manter-se na fronteira do caos para conseguir computar a própria organização.
  • 15. Criticalidade Auto- organizada • Em um estudo pioneiro, Per Bak e seus colaboradores [BAK88] investigaram o comportamento de sistemas dinâmicos espacialmente estendidos empregando simulações em computadores de um modelo que haviam desenvolvido e denominado “monte de areia”. Neste modelo grãos de areia vão sendo continuamente depositados sobre uma mesa. Em um certos momentos o monte está tão alto quanto possível para sua base e então a areia escorrega pela encosta aumentando a base e permitindo ao monte continuar crescendo. O monte de areia é muito sensível a perturbações (se a mesa for sacudida mais areia cai pelas encostas) mas os valores obtidos para a inclinação máxima do monte de areia, apesar de não se apresentarem absolutamente regulares, flutuam dependendo das condições iniciais e da perturbação exercida sobre o sistema. Devido a este equilíbrio estável, ainda que precário, Bak e sua equipe concluíram que o sistema se apresentava em estado crítico. Além disso notaram que o sistema se auto-organizava em direção ao estado crítico sem necessidade de nenhum ajuste ou sintonia: quaisquer que fossem as condições iniciais o sistema tendia sempre ao estado crítico. Este fenômeno recebeu a denominação de criticalidade auto-organizada. Especula-se que este conceito possa ser fundamental para a escalabilidade espacial e temporal em sistemas dissipativos em desequilíbrio.
  • 16. Sistemas Complexos Adaptativos • Em sistemas bióticos, um elemento importante na lista de mecanismos e condições que caracterizam a auto-organização é a habilidade que os agentes apresentam de se adaptar ao meio em que se encontram. Isto significa que os agentes são capazes de alterar suas funções internas de processamento de informações. Sistemas que apresentam tal característica são denominados sistemas complexos adaptativos (SCA) [HOR95]. No modelo de Langton as células seriam capazes de sintonizar suas regras de transição (e conseqüentemente seus valores lambda) ao longo do espectro entre o caos e a ordem. Em colônias de formigas leptothorax isto significa que as formigas que inicialmente não respondiam à modificações na densidade da colônia, ou o faziam de maneira adversa, acabariam por adaptar suas respostas de modo a conduzir à criticalidade auto- organizada. Ao se considerar a adaptação, uma série de novas questões sobre sistemas auto-organizados surgem: Quais são os mecanismos da adaptação? Sob que condições eles são possíveis? Este movimento se dá sempre na direção da criticalidade auto-organizada? Em termos evolutivos a criticalidade auto-organizada seria obtida através das condições para a evolução (variação fenotípica individual, reprodução em excesso e herança de características genéticas). Uma população seria capaz de adaptar-se através da herança de variações genéticas introduzidas por mutação e recombinação. A causa da criticalidade auto-organizada seria a seleção natural. Uma população poderia evoluir na direção de um estado crítico porque a seleção natural removeria as variantes do sistema que se afastassem do estado crítico.
  • 17. Aplicações de Sistemas Auto-organizáveis • Apesar de exigir ainda um grande esforço de pesquisa na construção de uma teoria unificada, o conceito de auto-organização apresenta excelentes perspectivas de aplicação em simulação, modelagem científica e otimização [DEC97].. Mecanismos encontrados em sistemas auto-organizáveis tem sido identificados com possíveis fontes de auto-organização em diversas áreas da física, química, biologia, economia, sociologia, comunicação, informação, educação, etc. [BRO94, HIE94]. Diversos tipos de modelos baseados em indivíduos foram desenvolvidos e pesquisados, incluindo redes de autômatos celulares (AC) [CAS91, LAN94], sistemas de vida artificial (A-Life) [KAW94] e modelos de clareiras em florestas [SHU92]. O interesse em tais modelos reside na possibilidade de aplicar suas propriedades estatísticas em modelos análogos do mundo real.
  • 18. Estudo de Caso: auto- organização na WWW • A WWW adota o princípio da distribuição na representação de conhecimento, o que significa que este é armazenado como uma rede de nodos e links. Os nodos podem conter qualquer combinação de texto, imagens, som, vídeo, etc. Os links conectam os itens individuais de um nodo para outro de acordo com a preferência de seus autores, formando algo assim uma rede de conceitos conectados através de relacionamentos informais. Os usuários navegam nesta rede perseguindo os links que lhes são significativos entre um nodo e outro. Neste processo empregam uma forma de julgamento associativo que visa conduzir a partir de uma certa posição inicial ao nodo ou nodos que contém a informação desejada. • A organização material da WWW é produzida por seus projetistas que usam idéias intuitivas de estruturação do conhecimento e semântica na construção de nodos e sub-redes. Estas contribuições individuais são integradas gradualmente a corpos mais amplos de conhecimento preexistentes na WWW, assim expandindo o conhecimento da rede como um todo. Diversos elementos influenciam neste processo de organização de conhecimento, inclusive fatores psicológicos, linguísticos, sociais e culturais, interesses e motivações dos autores e usuários das páginas WWW. Esta organização materializada na rede assume uma representação dinâmica, objetiva e em geral de duração prolongada. Os nodos e links introduzidos modificam-se relativamente pouco ao longo do tempo. As modificações que ocorrem na rede são fruto de procedimentos de atualização, remoção e principalmente adição de conhecimento, sob a forma de nodos e links. Tais procedimentos produzem modificações concretas na rede e em geral são controlados pelos próprios produtores da informação. Por outro lado, o que se poderia denominar organização virtual da rede é produzida pelo processo dinâmico de navegação, o qual decorre da percepção semântica associativa dos usuários, ativando determinados links, que lhes parecem mais promissores ou interessantes em detrimento de outros que o são menos. No atual estágio tecnológico da WWW o conhecimento produzido pelo processo de navegação não é registrado sistematicamente, sendo portanto desperdiçado. No entanto - e este é o foco deste artigo - poderia ser empregado na construção de modelos auto- organizáveis de aprendizado associativo, em um sentido muito próximo ao proposto por Bollen em [BOL96], onde a WWW é vista como uma memória associativa de grandes dimensões. • O estudo das redes produzidas por auto-organização decorrente da observação da atividade de navegação na WWW pode levar ainda à identificação de estruturas e construções semânticas básicas, capazes de serem recombinadas na formação de representações mais complexas com múltiplas finalidades, tais como a otimização de redes de informações, mapeamento e representação do conhecimento compartilhado por especialistas, o provimento de um padrão para a identificação de idéias, etc.