O documento discute fatores de risco e proteção para a adaptação psicológica de crianças adotadas. Pesquisas mostram que adotados apresentam maior risco de problemas emocionais e comportamentais, embora alguns estudos não encontrem diferenças significativas. A auto-estima e o estilo parental são fatores importantes, sendo que pais adotivos tendem a ser mais indulgentes.
2. Pesquisas
• Últimas décadas – preocupação em descrever os
processos de adaptaçãopsicológica de indivíduos
diante de situações adversas ao desenvolvimento
sócioafetivo
• Adoção como situação de risco
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3. Pesquisas
• Diversidade de resultados sobre a adaptação
psicológica dos adotivos
• Vulnerabilidade psicológica – similaridades nos
índices de adaptação de adotivos e não-adotivos
• Comportamento pró-social – adotados apresentam
melhores resultados
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6. Pesquisas: críticas
• limitações metodológicas:
• Intencionalidade e
• Não representatividade da amostra
Viés:
- Pais adotivos tem maior cautela em relação ao
ajustamento psíquico dos filhos
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7. Pais adotivos
- São menos tolerantes e menos negligentes
ante as dificuldades – encaminham com mais
frequência a atendimento especializado
- Resultado de pressão social – senso comum
estabelece entre adoção e problemas?
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8. Adaptação psicológica
• Steinberg (1999) = ausência de problemas
psicossociais, os quais podem ser classificados em 3
categorias:
• Problemas de internalização;
• Problemas de externalização;
• Abuso de substâncias.
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9. Problemas de internalização
• São aqueles direcionados internamente e
manifestos por meio de perturbações emocionais e
cognitivas, tais como depressão, ansiedade, fobia,
queixas somáticas.
• são mais comuns na puberdade;
• + Baixa auto-estima (Fergusson, Lynskey e
Horwood, 1995)
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10. Problemas de externalização
• São perturbações psicológicas voltadas para
o exterior e evidenciadas por problemas de
comportamento:
- agressividade, hiperatividade etc
• São mais comuns na infância.
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11. Investigações dos processos
adaptativos
• Historicamente – diferentes perspectivas
• Primeiros estudos – análise dos fatores de risco que
agravavam a vulnerabilidade individual
• Pesquisas = ocorrência de eventos estressores,
como a negligência e a ausência dos membros
familiares
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12. Adaptação: estudos atuais
• Visam não apenas à explicação das
psicopatologias e dos distúrbios evolutivos,
• Mas também os fatores protetivos que
moderam a relação entre os riscos e o
desenvolvimento dos sujeitos.
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13. Fatores protetivos
• mecanismos descritos como processos que
alteram o comportamento dos indivíduos em
ambientes que predispõem a respostas mal
adaptativas, possibilitando a adequação à
situação adversa e a superação de prejuízos
decorrentes de eventos passados (Rutter,
1987, 1993)
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15. Enfoque: Eventos Estressantes
• Pesquisas – objetivo de determinar as
psicopatologias relacionadas à adoção:
• O abandono e a perda de referências da
família de origem justificam, por si, a
classificação dos filhos adotivos como uma
população de risco.
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16. Enfoque: Fatores de proteção
• Enfatizam, além da experiência de perda
vivenciada pelo adotado:
• Variáveis que desempenham um papel
protetivo sobre o desenvolvimento – o
autoconceito, as estratégias de coping
utilizadas, as relações familiares e as
condições socioculturais parentais.
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17. coping
• Conjunto de esforços emocionais, cognitivos e
comportamentais que os indivíduos utilizam para
lidar com demandas internas ou externas que
surgem ante situações adversas (Antoniazzi,
Dell`Aglio e Bandeira, 1998)
• Exemplos: busca de suporte social, distração,
evitação cognitiva, busca de informação e
modificação do evento estressor.
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18. Processos de proteção
• Qualidades pessoais dos indivíduos bem
adaptados = auto-estima e ausência de
depressão = índice de saúde emocional;
• Importância de elementos externos:
aspectos familiares (como o estilo parental)
e o apoio social.
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19. Estudos sobre adaptação e
resiliência
• Têm supervalorizados as variáveis externas,
como condições sócioeconômicas e índices
comportamentais de competência, como
desempenho escolar.
• Resiliência refere-se à capacidade dos
indivíduos de superar as situações de risco
vivenciadas
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20. Auto-estima
• Refere-se à apreciação que os sujeitos fazem
de seus próprios atributos
• Medida global de auto-representação que
implica um julgamento de valor afetivo do
indivíduo sobre seus predicados pessoais
• considerado com o principal indicador de
saúde mental
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21. Auto-estima
•Embora no início da adolescência os
indivíduos sejam suscetíveis à maior
inconstância dos sentimentos sobre si,
a auto-estima tende à estabilidade ao
longo do ciclo vital.
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22. Auto-estima: pesquisas
• Indivíduos de maior poder aquisitivo ou do
sexo masculino – apresentam níveis mais
elevados de auto-estima;
• Menor auto-estima entre o sexo feminino –
as meninas apresentam menor satisfação
com sua auto-imagem.
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23. Antecedentes e Consequentes da
Auto-estima
•Na adolescência – a alta auto-
estima é vinculada principalmente à
aprovação social e ao desempenho
acadêmico
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24. Adolescentes adotivos
•Dificuldades de adaptação de
adolescentes adotivos:
• relacionadas à questões de aprovação
social – experienciou a não- aceitação
da família biológica e, em muitos casos,
a discriminação por ser adotivo.
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25. Preconceito sobre adoção
• 28% de 410 adultos – acreditam que os adotivos
sofrem preconceitos e que, “cedo ou tarde,
apresentarão problemas de ajustamento
psicológico” (Weber, 1999)
• 70 % das mães adotivas investigadas relataram já
ter vivenciados episódios de discriminação em
razão da situação adotiva de seu(s) filho(s)
(Reppold e Hutz, 2001)
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26. Ajustamento psicológico e
adoção
•A exposição a situações estressantes
altera a auto-estima e a rede de apoio
familiar, tornando os indivíduos mais
vulneráveis a disfunções psicológicas
(Rutter, 1987)
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27. Ajustamento psicológico e
adoção
• Pesquisas longitudinais – a maioria dos
adotados tem baixa auto-estima.
• A baixa auto-estima pode estar associada às
adversidades do processo de crise de
identidade inerente à adolescência;
• A falta de conhecimento sobre sua origem
genealógica dificulta o desenvolvimento da
auto-imagem e da auto-estima dos
adotados;
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28. Ajustamento psicológico e
adoção
•Perda de auto-referência:
•troca do prenome na ocasião da adoção
– maior problema com crianças
adotadas tardiamente – negação da
história pregressa e necessidade de
reconhecer-se em uma nova
identidade.
•(Berry, 1992)
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29. Ajustamento psicológico e
adoção
• Outros estudos;
• Não encontram diferenças significativas em relação
à auto-estima nos grupos adotados e não-
adotados.
• Adolescentes de 16 anos, criados só por um dos
pais biológicos, tem duas vezes menos auto-estima
do que adolescentes adotivos ou criados por
ambos os pais biológicos (Fergusson, Lynskey e
Horwood, 1995).
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30. Ajustamento psicológico e
adoção
• Adoção internacional: os indivíduos
adotados por famílias estrangeiras, em geral,
desenvolvem uma auto-estima positiva.
• Indicações de que adotados apresentam
melhores índices de auto-estima do que
outros não-adotados (Groze, 1992)
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31. Ajustamento psicológico e
adoção
•Estas pesquisas mostram que, em
alguns casos, a adoção modera o risco
de desadaptação psicológica que
poderia haver, em potencial, na história
pregressa do sujeito.
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32. Estilos parentais
•Os comportamentos parentais
influenciam a auto-estima dos
adolescentes em geral, podendo atuar
como um fator de risco ou de proteção
ao desenvolvimento psicológico.
•Pais afetivos são mais propensos a
terem filhos com auto-estima positiva.
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33. Efeitos da auto-estima
• a literatura descreve um impacto causal da
auto-estima sobre diversos problemas de
internalização, inclusive a depressão
(Grotevant, 1998).
• A auto-estima é um preditor dos sintomas
depressivos (Nolen-Hoeksema, Girgus e
Seligman, 1992)
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34. Depressão
• Experiências estressoras, como o acúmulo de
perdas, a exposição a julgamentos
preconceituosos e os conflitos familiares,
promove a diminuição da auto-estima e a
emergência de sentimentos de desamparo e
rejeição.
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35. Etiologia da depressão
•Diversidade de hipóteses:
•Modelos teóricos mais coerentes =
integrar adversidades contextuais
(eventos de vida estressores) a fatores
biogenéticos.
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36. Depressão
•distúrbio psicológico de maior
prevalência na adolescência:
•- amostras não-clínicas:
•- meninos – 20 a 35 %
•- meninas – 25 a 40 %
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37. Adolescentes adotados
•Aumento do índice de problemas de
comportamento e uma diminuição nos
aspectos relativos à competência,
contrário do que ocorre na população
em geral.
•Podem ser indício de uma “depressão
mascarada”
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38. Adolescentes adotados
• Resultados controversos – vulnerabilidade
psicológica associada à adoção:
• Pesquisas = não encontrada diferença quanto à
depressão em adotivos e não-adotivos;
• Crianças e adolescentes criados por sua família de
origem apresentavam mais sintomas depressivos
do que os adotados;
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39. Riscos de vulnerabilidade – dos
adotados
• Experiências de perda;
• Vivências pré-natais;
• História pregressa em instituições;
• Desconhecimento de sua origem genealógica;
• Problemas relacionados à identidade pessoal;
• Dificuldades no processo de revelação da adoção;
• Estigma social que envolve o processo adotivo.
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40. Experiências prévias dos
adotivos
• Em geral – história difícil, com recursos e estímulos
escassos;
• Crianças institucionalizadas, adotadas até o
primeiro ano de idade, não apresentam problemas
de comportamento (Bohman e Sigvardsson, 1980)
• Diferenças no níveis de ajustamento psicológico
entre adolescentes adotados são minimizadas com
o passar do tempo;
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41. Predisposição genética
• Pais adotivos tem menor propensão aos distúrbios
psíquicos do que pais biológicos – oferecem
melhores condições de adaptação aos adotados;
• Pais adotivos apresentam menores índices de
alcoolismo e criminalidade do que os pais
biológicos;
• Pesquisa com filhos adotivos - os efeitos congênitos
da depressão são menores do que os efeitos
ambientais;
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42. Fatores protetivos de
depressão
• Autopercepção positiva,
• Competência social;
• Bom rendimento escolar;
• Apoio social percebido;
• Responsividade e atitudes disciplinares dos
pais.
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43. Estilos parentais
• Características da interação entre pais e
filhos;
• Conjunto de expressões (comportamentos
verbais e não-verbais) emitidas pelos pais
durante as situações em que almejam a
socialização de seus filho.
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44. Estilos parentais - duas
dimensões:
•Responsividade – oferta de assistência
emocional e o respeito à
individualidade do filho;
•Exigência – supervisão e disciplina
oferecidas pelos pais.
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45. Quatro estilos parentais
• Autoritativo: alto grau de monitoramento e
aquiescência;
• Autoritário: disciplina rígida e pouco afetiva;
• Indulgente: baixo nível de controle parental
e alto nível de responsividade;
• Negligente: pouca atenção e apoio e baixa
imposição de regras ou limites.
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46. Estilos parentais e adaptação
psicológica
•Reppold (2001) – novas perspectivas na
avaliação psicológica das famílias
adotivas ao propor os estilos parentais
como um fator moderador da
adaptação dos adolescentes adotados;
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47. Avaliações psicodiagnósticas
• não supervalorizarem a condição adotiva,
mas considerarem a influência de outras
variáveis socioculturais, como a interação
familiar, as estratégias de socialização
utilizadas pelos pais, o histórico da
adoção, as experiências prévias e o apoio
social.
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48. Padrões de socialização
parentais
•Filhos adotivos: percebem os pais
adotivos como mais indulgentes;
•Filhos biológicos: percebem os pais
biológicos como mais negligentes.
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49. Pais adotivos
• Alta frequência de estilos indulgente ou
autoritativo:
• Grande investimento afetivo que envolve a adoção;
• Entrevistas de avaliação psicossocial – habilitação
legal – refletir sobre motivação e expectativas
quanto à parentalidade, às diferenças entre a
afiliação adotiva e a biológica, quanto à história
precedente da criança.
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51. Famílias adotivas -
indulgentes
•A permissividade parental pode ser
uma estratégia (não muito assertiva) de
(super)proteção dos pais, visando à
demonstração de apoio e aceitação do
filho no círculo familiar;
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52. Famílias adotivas -
indulgentes
• Idéia de compensação – representação de que a
entrega à adoção implica necessariamente em falta
de afeto e rejeição por parte da família biológica.
• Doação do filho – motivos:
• Morte ou psicopatologia dos cuidadores;
• Falta de recursos econômicos;
• Ausência do companheiro para criar a criança.
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53. Famílias adotivas -
indulgentes
• Insegurança parental – valorização social dos laços
consanguíneos;
• Pais não se sintam legitimados a assumir suas
funções de parentalidade e a determinar ordens
que contrariem a vontade do filho, sem temer que
este o abandone.
• fantasia de “roubo” do filho
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54. Famílias adotivas -
indulgentes
•Características de adolescentes criados
sob um estilo indulgente: problemas de
comportamento, baixo rendimento
acadêmico; melhores índices de
comportamento pró-social = comum
também em adolescentes adotados;
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55. Famílias adotivas -
indulgentes
• Super representação de adotivos em
amostras clínicas – baixo índice de
negligência dos pais, que oferecem atenção
e apoio aos problemas apresentados por
suas crianças e adolescentes.
• Os pais adotivos são menos omissos diante
das dificuldades dos filhos.
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56. Conclusões
• Fornecer subsídios para que as famílias
adotivas possam qualificar suas estratégias
de ação, promover melhores índices de
adaptação, minimizar os receios, muitas
vezes infundados, sobre o ajustamento dos
filhos adotados e compreender que a
família é uma realidade social que interage
com a biologia, mas não se subjuga a esta.
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57. Conclusões
•Encorajar os pais adotivos a assumir
suas funções de parentalidade (um
ambiente afetivo + um controle
protetivo) e preparados para apoiar os
filhos em tarefas importantes, como o
resgate de suas origens culturais e
biológicas.
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58. Referência
• REPPOLD, C. T. E HUTZ, C.S. Adoção: Fatores de
Risco e Proteção à Adaptação Psicológica. In: HUTZ,
C.S. (org.) Situações de Risco e Vulnerabilidade na
Infância e na Adolescência – aspectos teóricos e
estratégias de intervenção. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2002.
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