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O TURISMO COMO AGENTE CONTRIBUIDOR PARA A PRESERVAÇÃO: UM
ESTUDO DE CASO SOBRE A MARIA-FUMAÇA OURO PRETO-MARIANA
Priscilla de Sousa Nunes1
Liara Ramos da Fonseca
Orientadora: Fátima Priscila Morela Edra2
RESUMO
Refletindo acerca das relações entre turismo e patrimônio histórico, encontramos um ponto de
ligação, principalmente quando ambos podem se articulam a fim de alcançar uma gestão
eficiente, tendo em vista os números e previsões de crescimento do turismo no Brasil. Este
trabalho tem como objetivo geral analisar como a atividade turística pode atuar na preservação e
revitalização do patrimônio histórico ferroviário em conjunto com planos interpretativos do
patrimônio. A metodologia da pesquisa baseia-se em uma revisão bibliográfica, na coleta de
dados de diversas fontes, buscando mostrar o trem como uma alternativa viável de oferta turística
e um estudo de caso sobre a Maria Fumaça de Ouro Preto – Mariana (atual Trem da Vale), que
prova que o turismo pode ser um forte aliado na preservação e revitalização do transporte
ferroviário e dos Patrimônios Culturais.
PALAVRAS-CHAVE:
Turismo Ferroviário, Trens Turísticos, Preservação, Patrimônio e Projeto Interpretativo.
1. INTRODUÇÃO
No século XIX deu-se o boom ferroviário decorrente do processo internacional de
industrialização, sendo a Inglaterra a principal agente condutora desse fenômeno de larga e
profunda reestruturação socioeconômica.
Um dos acontecimentos gerados com o advento da
Revolução Industrial foi a invenção das locomotivas à vapor, dentre elas o trem, que teve um
significado especial na vida da sociedade do início da era moderna.
A invenção do sistema de transporte ferroviário é, reconhecidamente, um dos maiores
determinantes para as mudanças que a Revolução Industrial proporcionou, uma vez que
possibilitou escoamento eficaz da produção.
1
Graduanda; Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense. priscillanunes.tur.uff@hotmail.com
2
Mestre em Engenharia de Transportes – PET/COPPE/UFRJ; Especialista em Gestão em Turismo e Hotelaria -
FACHA; Bacharel em Turismo – UNESA; Professora Substituta Universidade Federal Fluminense; Coordenadora
do curso de Turismo Faculdade Paraíso. edra@turismo.uff.br
1
Segundo Dutra (2007), no Brasil a implantação de estradas de ferro atendeu a interesses
basicamente econômicos. O foco era ligar os centros de produção aos mercados consumidores, e
neste sentido, houve por parte do Governo Imperial uma significativa política de incentivos à
construção de ferrovias que estimulava o transporte de cargas.
Tal política de certo modo gerou conseqüências ao sistema ferroviário brasileiro que
perduram até hoje: ferrovias dispersas e isoladas, dificuldades na integração operacional das
ferrovias provocadas pela diferença nas bitolas, vias com traçado extensos e sinuosos. (DNIT3
–
2007).
No final do período monárquico, a rede ferroviária possuía cerca de 9.356 km de
extensão, atendendo ao Distrito Federal e a mais quatorze estados. Durante a República, a
construção de ferrovias se intensificou e a malha ferroviária alcançou mais de 34.000 km entre
1931 e 1942, no Governo de Getúlio Vargas. Finalmente, em 1958, a rede chegou a sua extensão
máxima, 37.967 km.
Apesar do aparente crescimento até a década de 50, o sistema ferroviário brasileiro
começou a decair com a queda da bolsa de Nova Iorque em 1929, já que a importação do café
brasileiro por parte dos Estados Unidos, seu maior comprador, diminuiu significativamente.
Como a maioria das estradas de ferro no país se destinava ao transporte do café, também seu
sistema ferroviário também entrou em crise. Tal crise se agravou com o processo de
industrialização iniciado em 1930, quando Getúlio Vargas começou a diversificar a economia do
país, incentivando a criação de indústrias de base.
Ao longo da década de 30 e da Segunda Guerra Mundial, as ferrovias tiveram sérios
problemas de ordem financeira, em virtude do período inflacionário pelo qual o Brasil passava,
da falta de combustível e da dificuldade de importação de material rodante. O Governo, então, foi
assumindo o controle de várias companhias ferroviárias, visto que a iniciativa privada, nacional e
estrangeira, não tinha interesse em mantê-las. Todavia, a União não possuía condições financeiras
para investir no reaparelhamento desse meio de transporte, logo a situação das ferrovias pouco
mudou com a intervenção estatal.
3
Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes.
2
A partir de 1950, tornando ainda mais insustentável a crise do sistema ferroviário, teve o
chamado “Rodoviarismo”, fruto da política de atração de investimentos estrangeiros para o país.
Neste sentido, o Governo adotou uma política pública de transportes que priorizava o
desenvolvimento do transporte rodoviário em detrimento de outros modais. Dentre os governos
mais incentivadores do modal rodoviário, destacam-se o de Juscelino Kubitschek (1956 – 1960) e
o Regime Militar (1964-1985).
De acordo com FRAGA, C.C.L., SANTOS, M.S.P. (2007a) apud Paolillo e Rejowsky
(2001) após a privatização da malha ferroviária brasileira no final da década de 90, o transporte
de passageiros ficou reduzido a duas opções de trens de longa distância, operados pela
Companhia Vale do Rio Doce; pelos trens de subúrbio, operados pela Companhia Brasileira de
Transporte Urbano e aos trens turísticos que são gerenciadas tanto pela iniciativa privada quanto
pelo poder público e organizações não-governamentais, fato este que reverbera em sensível
dificuldade na ordenação dos dados sobre o setor e sua representatividade no cenário turístico e
ferroviário.
O problema da pesquisa está centrado na tentativa de descobrir a contribuição do turismo
para a revitalização e preservação da malha ferroviária brasileira. Acreditamos na importância de
apresentar os trens turísticos como uma alternativa diferenciada nas opções de lazer e turismo,
consolidando-os como oferta em potencial, uma vez que a Organização Mundial de Turismo
(OMT) prevê o incremento do setor com o Plano Nacional de Turismo. Nas seguintes seções,
apresentaremos, com o objetivo de ordenar os dados, os trens utilizados com fins turísticos
filiados na Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos Culturais, a ABOTTC, e um
estudo de caso da Maria-Fumaça de Ouro Preto – Mariana, atual “Trem da Vale”, partindo do
pressuposto que o turismo contribue para o desenvolvimento do turismo na localidade, gerando
lucros tangíveis, de ordem econômica, e intangíveis, uma vez que a memória coletiva do local e o
patrimônio histórico-cultural, são preservados.
2. TURISMO E TRANSPORTE FERROVIÁRIO
A descoberta da máquina à vapor e a construção dos trilhos ferroviários proporcionaram
ao turismo a facilidade de deslocamento espacial necessário a sua realização. De acordo com
3
Lickorish e Jenkins (2000), a criação das ferrovias testemunhou a primeira grande explosão na
demanda pelas viagens, provocando grandes efeitos econômicos e sociais. É possível que a
locomotiva desenvolvida na época tenha povoado a imaginação do homem, transformando o trem
em um símbolo de libertação, afinal era a locomotiva que possibilitaria o deslocamento para onde
o viajante desejasse estar.
Apesar de sua pouca utilização, o advento do trem de passageiros pode ser considerado
um dos marcos fundamentais para o quê o turismo é hoje, já que a concepção de se transportar
um grande número de viajantes para um mesmo destino, de uma vez só, se iniciou com os
próprios trens. Inclusive, o trem foi o transporte utilizado na primeira operação turística de que se
tem registro, quando Thomas Cook apresentou à Midland Railway Company a proposta que
posteriormente foi aceita pela empresa de levar 500 pessoas da cidade de Leicester para
Loughborough para um congresso antialcoólico.
Além da importância histórica do transporte ferroviário para o conceito de turismo que
temos hoje, em muitos casos, os meios de transporte deixam de fazer mero papel de instrumentos
de locomoção para assumirem o patamar da própria experiência turística e de lazer, tornando-se,
em alguns casos, como aponta Page (2001), o próprio atrativo turístico.
Por esta importância histórica e cultural, visando assim aumentar a representatividade do
setor e a oferta de passeios com trens turísticos e culturais no Brasil, surgiu a Associação
Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos - Culturais, ABOTTC. A entidade foi fundada em
2000 e surgiu exatamente pela necessidade que as operadoras de trens com fins turístico e
cultural tinham em unificar o setor promovendo a troca de informações entre elas, já que após a
privatização da malha ferroviária brasileira, o setor ficou ramificado. Com a criação desta
associação promoveria assim, uma maior visibilidade para o setor frente ao restante do mercado
turístico nacional e internacional.
Segundo FRAGA e SANTOS (2007b) a ABOTTC, em 2003, registrou um dado
expressivo sobre o setor; foram mais de 1,5 milhões de passageiros transportados; número este
que deve crescer com a implantação do Plano Nacional do Turismo, que prevê para o Brasil um
aumento significativo de turistas internacionais, e a fomentação do turismo doméstico. Tal
programa impulsionará o setor e conseqüentemente aumentará o número de turistas, fato este que
4
demanda alternativas diferenciadas nas opções de lazer, sendo uma delas a consolidação dos trens
como produto sustentável turisticamente.
3. A OFERTA DE TRENS TURÍSTICO-CULTURAIS NO BRASIL
De acordo com o site da ABOTTC, existem oficialmente credenciados em sua entidade 17
trens turístico-culturais, conforme mostra a tabela 1:
TABELA 1: TRENS TURÍSTICOS AFILIADOS A ABOTTC.
Nome do Trem 4
Descrição Quilometragem5
Estrada de Ferro
Oeste de Minas
Gerais (MG)
Passeio turístico com Maria Fumaça entre Tiradentes e São João del
Rei, em Minas Gerais. Destaque para o Museu Ferroviário que pode
ser visitado de terça a domingo das 9h às 11h e de 13h às 17h.
13 Km.
Estrada de Ferro
Campos do Jordão
(SP )
Sucesso permanente é o passeio de trem entre Campos do Jordão e
Santo Antônio pela maravilhosa Serra da Mantiqueira e há paradas
como a do Alto do Lageado, é o ponto ferroviário mais alto do Brasil
com 1743m altitude e a parada de Eugênio Lefreve já em Santo
Antônio do Pinhal com vista para o Vale do Paraíba.
Variado com o tipo
de passeio.
Maria Fumaça SESC
Mineiro de Grussaí
(MG)
Um passeio inesquecível por uma linda estrada de ferro, onde a
“Maria-fumaça” reconta e relembra a história de Minas Gerais.
10 Km.
Trem da Serra da
Mantiqueira –
ABPF6
Partindo da Estação Central de Passa Quatro até a estação Coronel
Fulgêncio com uma parada na Estação do Manacá onde se pode
comprar artesanato e doces caseiros.
10 Km.
Trem das Águas –
ABPF (MG)
Tracionada por uma autêntica Locomotiva a Vapor inglesa de 1928,
o Trem das Águas percorre um pequeno trecho da antiga linha da
Rede Mineira de Viação, partindo da estação de São Lourenço,
passando pela Parada Ramon e enfim chegando a estação de
Soledade de Minas.
10 Km.
Trem das Termas –
ABPF (SP)
As locomotivas que operam neste passeio, que vai de Piratuba a
Marcelino Ramos, são Maria Fumaça, locomotivas à vapor de 1906
e outra de 1920, com capacidade para 184 passageiros, mas
25 Km.
4
A nomenclatura dos Trens Turísticos Culturais desta tabela é a nomenclatura utilizada pela Associação
Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos Culturais (ABOTTC), sofrendo algumas alterações em
relação à nomenclatura de outras entidades do setor ferroviário.
5
A duração do percurso pode sofrer alterações de acordo com cada viagem, por motivos de ordem
técnica e/ou climática.
6
ABPF - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. Sua principal missão é a preservação,
restauração e operação de locomotivas à vapor.
5
futuramente com a reformulação da composição, passará a contar
com 200 passageiros.
Trem do Contestado
– ABPF (SC )
O percurso começa em Piratuba – SC com destino a Capinzal - Porto
União - SC. O Trem permite que o visitante faça uma viagem na
história brasileira. Os dias e horários variam de acordo com o
fretamento.
373 Km
Trem dos Imigrantes
– ABPF (SP)
O Trem Turístico, com capacidade para 60 passageiros, tem a
intenção de resgatar a história dos imigrantes que foram levados para
as fazendas de café do interior de São Paulo, e representa um
importante componente do processo de revitalização do Centro
Histórico.
3 Km.
Trem Estrada Real
(MG)
Partindo da Estação Ferroviária no Centro Municipal de Cultura o
trem percorrerá em direção a Cavaru. Atingindo alguns bairros e
chegando então a sua primeira parada na Estação Ferroviária de
Werneck. Seguindo o seu percurso à última parada, Estação de
Cavaru localizada junto ao vilarejo com antigo armazém, igreja e
venda de produtos artesanais.
14 Km.
Viação Férrea
Campinas
Jaguariúna – ABPF
(SP)
Operando regularmente desde 1984, esta é a primeira ferrovia
histórica da ABPF e do Brasil. Com início na estação de Anhumas
em Campinas-SP, a linha da antiga Cia. Mogiana de Estradas de
Ferro. Ao longo da linha surgem belas paisagens das antigas
fazendas de café.
24 Km.
Trem do Forró (PE) Composto de uma locomotiva e até 10 vagões de passageiros com
bancos nas laterais e totalmente decorado com motivos juninos.
Cada vagão possui um trio de forró pé-de-serra, serviço de bar e um
segurança. À partir das 15h começa a concentração, já com muito
forró, apresentação de quadrilha matuta e animadores. A partida do
trem se dá às 16h na Praça do Marco Zero no Recife Antigo. A
chegada em Recife por sua vez, é prevista para as 23h no mesmo
local de saída.
84 Km (ida e
volta).
Trem da Serra do
Mar (SC)
Um nostálgico passeio de Maria Fumaça pelos centenários trilhos da
serra do mar do norte catarinense, que parte de Rio Negrinho em
direção a Rio Natal, uma colônia polonesa no interior de São Bento
do Sul, revive cenários antigos de belezas naturais. Uma locomotiva
e quatro vagões estão preparados para levar cerca de 186 pessoas.
42 Km.
Serra Verde Express
(PR)
A cada ponte, a cada túnel, a cada paisagem que se destaca ao longo
desta inesquecível viagem, o melhor que podemos fazer é nos
extasiarmos com este maravilhoso passeio. Uma ferrovia imperial
que, com seus 110 encantadores quilômetros, liga Curitiba a
Paranaguá desde 1880 e perpetua no tempo este magnífico e arrojado
projeto.
110 Km.
Trem do Corcovado
(RJ)
Todos os anos mais de 600 mil pessoas são levadas ao Cristo
Redentor pela centenária Estrada de Ferro do Corcovado, o passeio
turístico mais antigo do país. Além de se deslumbrar ao ver pelas
janelas do trem as paisagens mais bonitas da Cidade Maravilhosa, o
4 Km.
6
passageiro faz um passeio através da história do Brasil.
Trem do Vinho (SC) Durante o passeio, a festa é comandada pelo coral típico italiano,
pela dupla que toca a tarantela, teatro e pelos gaúchos. Os turistas
são recepcionados, na estação de Bento Gonçalves, com um
saboroso vinho e uma deliciosa degustação de queijos. A recepção
em Garibaldi acontece ao som de música gaúcha e italiana. Em
Carlos Barbosa, um show de música italiana marca o momento em
que todos se encontram e confraternizam embalados pela música.
23 Km.
Trem Rubi (SC) O trem passa por uma paisagem de grande beleza ao longo das
linhas. Um diferencial é que o trem espera pelos passageiros que
optam por ir a belissima praia em Imbituba. Nas festas da Etnia, da
Uva e do Vinho em urussanga, o trem também é o transporte pois
espera pelos passageiros que decidem por experimentar a festa , sua
gastronomia típica ou mesmo conhecer a cidade histórica.
120 Km.
Fonte: http://www.abottc.com.br (Acesso em 18 de setembro de 2008)
A entidade incentiva a implantação e turistificação 7
de novos trechos, isto é, que as
ferrovias em operação ou em vista de operar trabalhem o complexo ferroviário não só como um
componente dos transportes, mas a via, a força motriz e o terminal como um atrativo turístico. Na
próxima seção apresentaremos uma análise da Maria Fumaça Ouro Preto Mariana (atual “Trem
da Vale”), com a finalidade de apresentar o turismo como agente auxiliador da conservação do
Patrimônio Histórico Cultural de uma localidade, juntamente com a interpretação do Patrimônio.
4. NOS TRILHOS DO PATRIMÔNIO: UMA ANÁLISE DA MARIA FUMAÇA OURO
PRETO MARIANA (TREM DA VALE)
O Brasil é repleto de Patrimônios Históricos-Culturais com potencialidade turística. Não
só o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como também a United
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) percebem esse potencial e
listam os mesmos para proteção e manutenção.
A utilização coerente e sustentável do patrimônio local pelo turismo, não se apresenta
somente como uma força capaz de aumentar os lucros de ordem econômica; além dos dividendos,
as práticas turísticas podem sim promover a preservação dos espaços onde são inseridas, e, por
7
O termo turistificação é um neologismo criado pelo palestrante motivacional Stephen Kanitz em seu
artigo “Turismo: “Turistificar” o Brasil”, veiculado na Revista Veja do dia 19 de janeiro de 2000.
7
conseguinte, auxiliar na preservação, conservação e promoção da localidade. A Maria-fumaça
Mariana, que une a cidade histórica de Ouro Preto - MG com a também tombada cidade de
Mariana – Minas Gerais é um típico exemplo de como o turismo pode promover a revitalização
dos patrimônios históricos culturais.
O trecho percorrido pelo Trem de Mariana é favorecido pela beleza natural. O belo
percurso compreende entre as montanhas da região de Minas Gerais, duas cachoeiras, quatro
túneis, pontes e outras duas estações, a de Passagem de Mariana e a de Vitorino Dias.
O “Trem da Vale”, nome este que recebeu após a revitalização, é um projeto realizado
pela Fundação Vale do Rio Doce, em parceria com a Vale, com a Ferrovia Centro-Atlântica e
com o “Santa Rosa Bureau”. Sendo essa a maior ação estruturada no campo da educação
patrimonial do Brasil, o projeto “Trem da Vale” promove a inclusão social e cultural de crianças
e adolescentes por meio de um programa dividido em várias vertentes voltadas para o tema de
conservação do Patrimônio.
Para a estruturação desse projeto foram necessários vários profissionais de diferentes
áreas a se reunirem e mobilizarem. A partir dessa movimentação foram concebidos os objetivos
do projeto: criar ações educativas para valorizar e proteger os bens culturais, levando à população
a preocupação em preservar para o seu próprio desenvolvimento; introduzir na grade escolar a
educação patrimonial; mobilizar toda a comunidade em busca de conhecer e tornar os recursos
em atrativos; utilizar a cultura como veículo de conhecimento através de atividades
interdisciplinares; conscientizar as gerações mais novas a respeito dos bens e tradições de suas
raízes culturais; estimular entidades que visem registrar, proteger, recuperar, conservar e divulgar
o patrimônio e promover a região de Ouro Preto e Mariana como fonte receptora de turismo
cultural.
O projeto de educação patrimonial do Trem da Vale enriquece o sentido da estratégia de
utilização da memória cultural para o estabelecimento de laços identitários em crianças, jovens e
adultos. Com essa perspectiva, entende-se que a comunidade passa a respeitar e sente-se mais
responsável pelo o seu patrimônio natural, cultural e histórico, levando a memória de seu povo a
enriquecer e por conseguinte, a valorizar o atrativo turístico, que se torna um incentivo à
permanência dos turistas e ao desenvolvimento turístico sustentável.
8
Alguns programas culturais e educativos foram criados pela Vale com esse intuito, como
o Vale Registrar, o Vale Preservar, o Vale conhecer e o Vale Promover. O Vale registrar é um
programa que apresenta depoimentos de pessoas que viveram de alguma forma a mineração e a
ferrovia, de forma oral, nas estações de Mariana e de Ouro Preto. O programa Vale Preservar
compreende a elaboração e inserção de educação patrimonial ao ensino fundamental da rede
pública de ensino nos municípios de Mariana e Ouro Preto através de experiências
interdisciplinares, de vivência e experimentação de alunos e professores, para a uma reflexão
estendida sobre seus recursos, cultura e arte. Já o Vale Conhecer é um programa de apoio que
visa permitir e continuar as iniciativas de grupos montados pelas comunidades de Mariana e Ouro
Preto com o intuito de valorizar e proteger seus patrimônios naturais e culturais.
O programa Vale Promover engloba outros pequenos projetos diversificados de apoio à
interpretação do Trem de Ouro Preto – Mariana. O objetivo desse programa é a promoção de todo
o patrimônio da região supracitada de uma forma a introduzir as informações de forma
interessante, educativa e interpretativa ao visitante. Um dos projetos de interpretação do
patrimônio é o jogo “lá e cá – origem e destino”, que, disponível no site
(www.tremdavale.com.br), brinca e interage com o visitante, ou o futuro visitante, instigando-o
de forma lúdica e dinâmica a fazer seu próprio cartão postal da cidade de Mariana ou Ouro Preto.
O “Guia Cultural Mariana – Passagem de Mariana – Ouro Preto”, organiza informações com o
olhar da comunidade local para a apresentação ao turista. E a “Trilha Sensorial do Trem da Vale”
aguça os sentidos e os sentimentos do visitante ao ligar as paisagens e as construções a histórias e
relatos da identidade e da memória do povo, desligando o turista de uma visão passiva para uma
visão mais ativa do percurso.
O projeto “Trem da Vale revitalizou” os 18 quilômetros do trecho ferroviário que liga as
cidades históricas de Mariana e Ouro Preto – incluindo as quatro estações que fazem parte do
percurso, a locomotiva e outros seis vagões, sendo um deles panorâmico, que é um show à parte
extremamente concorrido pelos passageiros. As estações ferroviárias de Ouro Preto, Vitorino
Dias, Passagem de Mariana e Mariana, como mostra a figura 1, também foram completamente
restauradas, respeitando os seus estilos originais. Dentro delas, há um enorme complexo cultural
disponível para os turistas e moradores da região.
9
FIGURA 1: ESTAÇÃO DE MARIANA RESTAURADA E A MARIA-FUMAÇA OURO
PRETO MARIANA (“TREM DA VALE”)
Fonte: http://www.amantesdaferrovia.com.br/home/trem/trensPorPais?trem_pais_id=1&id=27 (acesso em 24 de
Julho de 2008)
O trem funciona todas as sextas-feiras, finais de semana e feriados nacionais nos horários
entre 11h e 16h na Estação de Ouro Preto e entre 9h e 14h na Estação Mariana. O valor da
passagem é de R$ 18,00 (somente ida) e R$ 30,00 ida e volta.
Os trens turísticos não só promovem o turismo cultural na região, mas também fazem um
trabalho de conscientização das novas gerações em relação ao patrimônio local e impulsionam os
órgãos necessários para a conservação, recuperação e divulgação deste patrimônio.
5. CONCLUSÃO
É bem verdade que todo o potencial ferroviário do Brasil ainda tem muito a se
desenvolver, principalmente no que tange as iniciativas de melhor se aproveitarem as preciosas
malhas ferroviárias que temos espalhadas, transformando-as em atrações turísticas histórico-
10
culturais. As previsões de crescimento da prática turística demandam soluções rápidas, e novos
atrativos turísticos para atender esta nova demanda que está por vir.
A utilização dos trens como solução para tal impasse é viável e pertinente, uma vez que
fazer um passeio em um trem turístico é mais do que usar um meio de transporte; é viajar pelo
tempo. É como sair do século XXI e embarcar rumo aos primeiros anos de 1900 e apesar de o
passeio ter findado, a emoção não se dissipa, perdurando no imaginário do visitante.
Os trens fazem parte da história do Brasil, tendo isso em vista, todos os tipos de turismo
ligados à história das localidades ou até mesmo do país são enriquecidos pelas ferrovias. Segundo
o site da Vale8
, o conjunto de ações do Programa de Educação Patrimonial do “Trem da Vale”
beneficiou 6.448 alunos e professores em 2007, além dos 56.436 passageiros que fizeram o
passeio de Ouro Preto a Mariana ao longo do ano; números estes que comprovam que um
patrimônio valorizado, juntamente com o turismo, pode gerar lucros inestimáveis para a
sociedade de um modo geral.
Outras pesquisas que gerem a identificação e a organização da oferta de trens turísticos
também contribuirão decisivamente para o desenvolvimento do setor e poderão torná-los
sustentáveis em sua comercialização, podendo representar para a malha ferroviária brasileira um
salto significativo agregado a expansão do turismo e a revitalização do patrimônio histórico-
cultural brasileiro.
6. REFERÊNCIAS
ABOTTC - Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turístico-Culturais.
http://www.abottc.com.br (acesso em 05 de maio de 2008).
ABPF - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. www.abpf.com.br (acesso em 06
de maio de 2008).
Amantes da Ferrovia. http://www.amantesdaferrovia.com.br (acesso em 21 de julho de 2008.
8
Site http://www.vale.com/vale/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1732&sid=448 (acessado em 18 de
setembro de 2008)
11
ANTT - Associação Nacional de Transportes Terrestres. http://www.antt.gov.br (acesso em 10
de maio de 2008)
BENI, Mário Carlos. (2005). Análise Estrutural do Turismo. Senac, São Paulo.
Brasil Viagem - http://www.brasilviagem.com.br (acesso em 20 de junho de 2008)
Corcovado - http://www.corcovado.com.br (acesso em 17 de junho de 2008)
Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes. Ferrovias. Histórico.
http://www1.dnit.gov.br/ferrovias/historico.asp (acesso em 18 de setembro de 2008)
DI RONÁ, Ronaldo. (2002). Transportes e Turismo. Manole, São Paulo.
DUTRA, L.A. (2007). A atividade turística como base para a revitalização do patrimônio
ferroviário presente nas localidades: uma análise do Trem da Estrada Real. Monografia de
Conclusão de Curso. Departamento de Turismo. Universidade Federal Fluminense. Niterói – Rio
de Janeiro.
FRAGA, C.C.L., SANTOS, M.S.P. (2007a). Oferta de Trens Turísticos e Culturais. Anais do
V “Rio de Transportes”, Rio de Janeiro.
FRAGA, C.C.L., SANTOS, M.S.P. (2007b). Sustentabilidade Turística para Trens no Brasil.
Anais do V “Rio de Transportes”, Rio de Janeiro.
Giordani Turismo (Trem do Vinho) - http://www.mfumaca.com.br/ (acesso em 25 de julho de
2008)
LICKORISH, L.J., JENKINS, C. L. (2000). Introdução ao Turismo. Elsevier, Rio de Janeiro.
PAGE, S.J. (2001). Transporte e Turismo. Boockman, Rio Grande do Sul.
PALHARES, G.L. (2002). Transportes Turísticos. Aleph, São Paulo.
12
RIOTUR - http://www.riodejaneiro-turismo.com.br (acesso em 25 de maio de 2008)
Serra Verde Express - http://www.serraverdeexpress.com.br (acesso em 20 de junho de 2008)
Trem da Vale – http://www.tremdavale.com.br (acesso em 12 de setembro de 2008)
Trem do Forró - http://www.tremdoforro.com.br (acesso em 18 de maio de 2008)
Vale - http://www.vale.com/vale/ (acesso em 18 de setembro de 2008)
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ARTIGO FINAL - FAC - PRISCILLA NUNES E LIARA FONSECA

  • 1. O TURISMO COMO AGENTE CONTRIBUIDOR PARA A PRESERVAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A MARIA-FUMAÇA OURO PRETO-MARIANA Priscilla de Sousa Nunes1 Liara Ramos da Fonseca Orientadora: Fátima Priscila Morela Edra2 RESUMO Refletindo acerca das relações entre turismo e patrimônio histórico, encontramos um ponto de ligação, principalmente quando ambos podem se articulam a fim de alcançar uma gestão eficiente, tendo em vista os números e previsões de crescimento do turismo no Brasil. Este trabalho tem como objetivo geral analisar como a atividade turística pode atuar na preservação e revitalização do patrimônio histórico ferroviário em conjunto com planos interpretativos do patrimônio. A metodologia da pesquisa baseia-se em uma revisão bibliográfica, na coleta de dados de diversas fontes, buscando mostrar o trem como uma alternativa viável de oferta turística e um estudo de caso sobre a Maria Fumaça de Ouro Preto – Mariana (atual Trem da Vale), que prova que o turismo pode ser um forte aliado na preservação e revitalização do transporte ferroviário e dos Patrimônios Culturais. PALAVRAS-CHAVE: Turismo Ferroviário, Trens Turísticos, Preservação, Patrimônio e Projeto Interpretativo. 1. INTRODUÇÃO No século XIX deu-se o boom ferroviário decorrente do processo internacional de industrialização, sendo a Inglaterra a principal agente condutora desse fenômeno de larga e profunda reestruturação socioeconômica. Um dos acontecimentos gerados com o advento da Revolução Industrial foi a invenção das locomotivas à vapor, dentre elas o trem, que teve um significado especial na vida da sociedade do início da era moderna. A invenção do sistema de transporte ferroviário é, reconhecidamente, um dos maiores determinantes para as mudanças que a Revolução Industrial proporcionou, uma vez que possibilitou escoamento eficaz da produção. 1 Graduanda; Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense. priscillanunes.tur.uff@hotmail.com 2 Mestre em Engenharia de Transportes – PET/COPPE/UFRJ; Especialista em Gestão em Turismo e Hotelaria - FACHA; Bacharel em Turismo – UNESA; Professora Substituta Universidade Federal Fluminense; Coordenadora do curso de Turismo Faculdade Paraíso. edra@turismo.uff.br 1
  • 2. Segundo Dutra (2007), no Brasil a implantação de estradas de ferro atendeu a interesses basicamente econômicos. O foco era ligar os centros de produção aos mercados consumidores, e neste sentido, houve por parte do Governo Imperial uma significativa política de incentivos à construção de ferrovias que estimulava o transporte de cargas. Tal política de certo modo gerou conseqüências ao sistema ferroviário brasileiro que perduram até hoje: ferrovias dispersas e isoladas, dificuldades na integração operacional das ferrovias provocadas pela diferença nas bitolas, vias com traçado extensos e sinuosos. (DNIT3 – 2007). No final do período monárquico, a rede ferroviária possuía cerca de 9.356 km de extensão, atendendo ao Distrito Federal e a mais quatorze estados. Durante a República, a construção de ferrovias se intensificou e a malha ferroviária alcançou mais de 34.000 km entre 1931 e 1942, no Governo de Getúlio Vargas. Finalmente, em 1958, a rede chegou a sua extensão máxima, 37.967 km. Apesar do aparente crescimento até a década de 50, o sistema ferroviário brasileiro começou a decair com a queda da bolsa de Nova Iorque em 1929, já que a importação do café brasileiro por parte dos Estados Unidos, seu maior comprador, diminuiu significativamente. Como a maioria das estradas de ferro no país se destinava ao transporte do café, também seu sistema ferroviário também entrou em crise. Tal crise se agravou com o processo de industrialização iniciado em 1930, quando Getúlio Vargas começou a diversificar a economia do país, incentivando a criação de indústrias de base. Ao longo da década de 30 e da Segunda Guerra Mundial, as ferrovias tiveram sérios problemas de ordem financeira, em virtude do período inflacionário pelo qual o Brasil passava, da falta de combustível e da dificuldade de importação de material rodante. O Governo, então, foi assumindo o controle de várias companhias ferroviárias, visto que a iniciativa privada, nacional e estrangeira, não tinha interesse em mantê-las. Todavia, a União não possuía condições financeiras para investir no reaparelhamento desse meio de transporte, logo a situação das ferrovias pouco mudou com a intervenção estatal. 3 Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes. 2
  • 3. A partir de 1950, tornando ainda mais insustentável a crise do sistema ferroviário, teve o chamado “Rodoviarismo”, fruto da política de atração de investimentos estrangeiros para o país. Neste sentido, o Governo adotou uma política pública de transportes que priorizava o desenvolvimento do transporte rodoviário em detrimento de outros modais. Dentre os governos mais incentivadores do modal rodoviário, destacam-se o de Juscelino Kubitschek (1956 – 1960) e o Regime Militar (1964-1985). De acordo com FRAGA, C.C.L., SANTOS, M.S.P. (2007a) apud Paolillo e Rejowsky (2001) após a privatização da malha ferroviária brasileira no final da década de 90, o transporte de passageiros ficou reduzido a duas opções de trens de longa distância, operados pela Companhia Vale do Rio Doce; pelos trens de subúrbio, operados pela Companhia Brasileira de Transporte Urbano e aos trens turísticos que são gerenciadas tanto pela iniciativa privada quanto pelo poder público e organizações não-governamentais, fato este que reverbera em sensível dificuldade na ordenação dos dados sobre o setor e sua representatividade no cenário turístico e ferroviário. O problema da pesquisa está centrado na tentativa de descobrir a contribuição do turismo para a revitalização e preservação da malha ferroviária brasileira. Acreditamos na importância de apresentar os trens turísticos como uma alternativa diferenciada nas opções de lazer e turismo, consolidando-os como oferta em potencial, uma vez que a Organização Mundial de Turismo (OMT) prevê o incremento do setor com o Plano Nacional de Turismo. Nas seguintes seções, apresentaremos, com o objetivo de ordenar os dados, os trens utilizados com fins turísticos filiados na Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos Culturais, a ABOTTC, e um estudo de caso da Maria-Fumaça de Ouro Preto – Mariana, atual “Trem da Vale”, partindo do pressuposto que o turismo contribue para o desenvolvimento do turismo na localidade, gerando lucros tangíveis, de ordem econômica, e intangíveis, uma vez que a memória coletiva do local e o patrimônio histórico-cultural, são preservados. 2. TURISMO E TRANSPORTE FERROVIÁRIO A descoberta da máquina à vapor e a construção dos trilhos ferroviários proporcionaram ao turismo a facilidade de deslocamento espacial necessário a sua realização. De acordo com 3
  • 4. Lickorish e Jenkins (2000), a criação das ferrovias testemunhou a primeira grande explosão na demanda pelas viagens, provocando grandes efeitos econômicos e sociais. É possível que a locomotiva desenvolvida na época tenha povoado a imaginação do homem, transformando o trem em um símbolo de libertação, afinal era a locomotiva que possibilitaria o deslocamento para onde o viajante desejasse estar. Apesar de sua pouca utilização, o advento do trem de passageiros pode ser considerado um dos marcos fundamentais para o quê o turismo é hoje, já que a concepção de se transportar um grande número de viajantes para um mesmo destino, de uma vez só, se iniciou com os próprios trens. Inclusive, o trem foi o transporte utilizado na primeira operação turística de que se tem registro, quando Thomas Cook apresentou à Midland Railway Company a proposta que posteriormente foi aceita pela empresa de levar 500 pessoas da cidade de Leicester para Loughborough para um congresso antialcoólico. Além da importância histórica do transporte ferroviário para o conceito de turismo que temos hoje, em muitos casos, os meios de transporte deixam de fazer mero papel de instrumentos de locomoção para assumirem o patamar da própria experiência turística e de lazer, tornando-se, em alguns casos, como aponta Page (2001), o próprio atrativo turístico. Por esta importância histórica e cultural, visando assim aumentar a representatividade do setor e a oferta de passeios com trens turísticos e culturais no Brasil, surgiu a Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos - Culturais, ABOTTC. A entidade foi fundada em 2000 e surgiu exatamente pela necessidade que as operadoras de trens com fins turístico e cultural tinham em unificar o setor promovendo a troca de informações entre elas, já que após a privatização da malha ferroviária brasileira, o setor ficou ramificado. Com a criação desta associação promoveria assim, uma maior visibilidade para o setor frente ao restante do mercado turístico nacional e internacional. Segundo FRAGA e SANTOS (2007b) a ABOTTC, em 2003, registrou um dado expressivo sobre o setor; foram mais de 1,5 milhões de passageiros transportados; número este que deve crescer com a implantação do Plano Nacional do Turismo, que prevê para o Brasil um aumento significativo de turistas internacionais, e a fomentação do turismo doméstico. Tal programa impulsionará o setor e conseqüentemente aumentará o número de turistas, fato este que 4
  • 5. demanda alternativas diferenciadas nas opções de lazer, sendo uma delas a consolidação dos trens como produto sustentável turisticamente. 3. A OFERTA DE TRENS TURÍSTICO-CULTURAIS NO BRASIL De acordo com o site da ABOTTC, existem oficialmente credenciados em sua entidade 17 trens turístico-culturais, conforme mostra a tabela 1: TABELA 1: TRENS TURÍSTICOS AFILIADOS A ABOTTC. Nome do Trem 4 Descrição Quilometragem5 Estrada de Ferro Oeste de Minas Gerais (MG) Passeio turístico com Maria Fumaça entre Tiradentes e São João del Rei, em Minas Gerais. Destaque para o Museu Ferroviário que pode ser visitado de terça a domingo das 9h às 11h e de 13h às 17h. 13 Km. Estrada de Ferro Campos do Jordão (SP ) Sucesso permanente é o passeio de trem entre Campos do Jordão e Santo Antônio pela maravilhosa Serra da Mantiqueira e há paradas como a do Alto do Lageado, é o ponto ferroviário mais alto do Brasil com 1743m altitude e a parada de Eugênio Lefreve já em Santo Antônio do Pinhal com vista para o Vale do Paraíba. Variado com o tipo de passeio. Maria Fumaça SESC Mineiro de Grussaí (MG) Um passeio inesquecível por uma linda estrada de ferro, onde a “Maria-fumaça” reconta e relembra a história de Minas Gerais. 10 Km. Trem da Serra da Mantiqueira – ABPF6 Partindo da Estação Central de Passa Quatro até a estação Coronel Fulgêncio com uma parada na Estação do Manacá onde se pode comprar artesanato e doces caseiros. 10 Km. Trem das Águas – ABPF (MG) Tracionada por uma autêntica Locomotiva a Vapor inglesa de 1928, o Trem das Águas percorre um pequeno trecho da antiga linha da Rede Mineira de Viação, partindo da estação de São Lourenço, passando pela Parada Ramon e enfim chegando a estação de Soledade de Minas. 10 Km. Trem das Termas – ABPF (SP) As locomotivas que operam neste passeio, que vai de Piratuba a Marcelino Ramos, são Maria Fumaça, locomotivas à vapor de 1906 e outra de 1920, com capacidade para 184 passageiros, mas 25 Km. 4 A nomenclatura dos Trens Turísticos Culturais desta tabela é a nomenclatura utilizada pela Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos Culturais (ABOTTC), sofrendo algumas alterações em relação à nomenclatura de outras entidades do setor ferroviário. 5 A duração do percurso pode sofrer alterações de acordo com cada viagem, por motivos de ordem técnica e/ou climática. 6 ABPF - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. Sua principal missão é a preservação, restauração e operação de locomotivas à vapor. 5
  • 6. futuramente com a reformulação da composição, passará a contar com 200 passageiros. Trem do Contestado – ABPF (SC ) O percurso começa em Piratuba – SC com destino a Capinzal - Porto União - SC. O Trem permite que o visitante faça uma viagem na história brasileira. Os dias e horários variam de acordo com o fretamento. 373 Km Trem dos Imigrantes – ABPF (SP) O Trem Turístico, com capacidade para 60 passageiros, tem a intenção de resgatar a história dos imigrantes que foram levados para as fazendas de café do interior de São Paulo, e representa um importante componente do processo de revitalização do Centro Histórico. 3 Km. Trem Estrada Real (MG) Partindo da Estação Ferroviária no Centro Municipal de Cultura o trem percorrerá em direção a Cavaru. Atingindo alguns bairros e chegando então a sua primeira parada na Estação Ferroviária de Werneck. Seguindo o seu percurso à última parada, Estação de Cavaru localizada junto ao vilarejo com antigo armazém, igreja e venda de produtos artesanais. 14 Km. Viação Férrea Campinas Jaguariúna – ABPF (SP) Operando regularmente desde 1984, esta é a primeira ferrovia histórica da ABPF e do Brasil. Com início na estação de Anhumas em Campinas-SP, a linha da antiga Cia. Mogiana de Estradas de Ferro. Ao longo da linha surgem belas paisagens das antigas fazendas de café. 24 Km. Trem do Forró (PE) Composto de uma locomotiva e até 10 vagões de passageiros com bancos nas laterais e totalmente decorado com motivos juninos. Cada vagão possui um trio de forró pé-de-serra, serviço de bar e um segurança. À partir das 15h começa a concentração, já com muito forró, apresentação de quadrilha matuta e animadores. A partida do trem se dá às 16h na Praça do Marco Zero no Recife Antigo. A chegada em Recife por sua vez, é prevista para as 23h no mesmo local de saída. 84 Km (ida e volta). Trem da Serra do Mar (SC) Um nostálgico passeio de Maria Fumaça pelos centenários trilhos da serra do mar do norte catarinense, que parte de Rio Negrinho em direção a Rio Natal, uma colônia polonesa no interior de São Bento do Sul, revive cenários antigos de belezas naturais. Uma locomotiva e quatro vagões estão preparados para levar cerca de 186 pessoas. 42 Km. Serra Verde Express (PR) A cada ponte, a cada túnel, a cada paisagem que se destaca ao longo desta inesquecível viagem, o melhor que podemos fazer é nos extasiarmos com este maravilhoso passeio. Uma ferrovia imperial que, com seus 110 encantadores quilômetros, liga Curitiba a Paranaguá desde 1880 e perpetua no tempo este magnífico e arrojado projeto. 110 Km. Trem do Corcovado (RJ) Todos os anos mais de 600 mil pessoas são levadas ao Cristo Redentor pela centenária Estrada de Ferro do Corcovado, o passeio turístico mais antigo do país. Além de se deslumbrar ao ver pelas janelas do trem as paisagens mais bonitas da Cidade Maravilhosa, o 4 Km. 6
  • 7. passageiro faz um passeio através da história do Brasil. Trem do Vinho (SC) Durante o passeio, a festa é comandada pelo coral típico italiano, pela dupla que toca a tarantela, teatro e pelos gaúchos. Os turistas são recepcionados, na estação de Bento Gonçalves, com um saboroso vinho e uma deliciosa degustação de queijos. A recepção em Garibaldi acontece ao som de música gaúcha e italiana. Em Carlos Barbosa, um show de música italiana marca o momento em que todos se encontram e confraternizam embalados pela música. 23 Km. Trem Rubi (SC) O trem passa por uma paisagem de grande beleza ao longo das linhas. Um diferencial é que o trem espera pelos passageiros que optam por ir a belissima praia em Imbituba. Nas festas da Etnia, da Uva e do Vinho em urussanga, o trem também é o transporte pois espera pelos passageiros que decidem por experimentar a festa , sua gastronomia típica ou mesmo conhecer a cidade histórica. 120 Km. Fonte: http://www.abottc.com.br (Acesso em 18 de setembro de 2008) A entidade incentiva a implantação e turistificação 7 de novos trechos, isto é, que as ferrovias em operação ou em vista de operar trabalhem o complexo ferroviário não só como um componente dos transportes, mas a via, a força motriz e o terminal como um atrativo turístico. Na próxima seção apresentaremos uma análise da Maria Fumaça Ouro Preto Mariana (atual “Trem da Vale”), com a finalidade de apresentar o turismo como agente auxiliador da conservação do Patrimônio Histórico Cultural de uma localidade, juntamente com a interpretação do Patrimônio. 4. NOS TRILHOS DO PATRIMÔNIO: UMA ANÁLISE DA MARIA FUMAÇA OURO PRETO MARIANA (TREM DA VALE) O Brasil é repleto de Patrimônios Históricos-Culturais com potencialidade turística. Não só o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como também a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) percebem esse potencial e listam os mesmos para proteção e manutenção. A utilização coerente e sustentável do patrimônio local pelo turismo, não se apresenta somente como uma força capaz de aumentar os lucros de ordem econômica; além dos dividendos, as práticas turísticas podem sim promover a preservação dos espaços onde são inseridas, e, por 7 O termo turistificação é um neologismo criado pelo palestrante motivacional Stephen Kanitz em seu artigo “Turismo: “Turistificar” o Brasil”, veiculado na Revista Veja do dia 19 de janeiro de 2000. 7
  • 8. conseguinte, auxiliar na preservação, conservação e promoção da localidade. A Maria-fumaça Mariana, que une a cidade histórica de Ouro Preto - MG com a também tombada cidade de Mariana – Minas Gerais é um típico exemplo de como o turismo pode promover a revitalização dos patrimônios históricos culturais. O trecho percorrido pelo Trem de Mariana é favorecido pela beleza natural. O belo percurso compreende entre as montanhas da região de Minas Gerais, duas cachoeiras, quatro túneis, pontes e outras duas estações, a de Passagem de Mariana e a de Vitorino Dias. O “Trem da Vale”, nome este que recebeu após a revitalização, é um projeto realizado pela Fundação Vale do Rio Doce, em parceria com a Vale, com a Ferrovia Centro-Atlântica e com o “Santa Rosa Bureau”. Sendo essa a maior ação estruturada no campo da educação patrimonial do Brasil, o projeto “Trem da Vale” promove a inclusão social e cultural de crianças e adolescentes por meio de um programa dividido em várias vertentes voltadas para o tema de conservação do Patrimônio. Para a estruturação desse projeto foram necessários vários profissionais de diferentes áreas a se reunirem e mobilizarem. A partir dessa movimentação foram concebidos os objetivos do projeto: criar ações educativas para valorizar e proteger os bens culturais, levando à população a preocupação em preservar para o seu próprio desenvolvimento; introduzir na grade escolar a educação patrimonial; mobilizar toda a comunidade em busca de conhecer e tornar os recursos em atrativos; utilizar a cultura como veículo de conhecimento através de atividades interdisciplinares; conscientizar as gerações mais novas a respeito dos bens e tradições de suas raízes culturais; estimular entidades que visem registrar, proteger, recuperar, conservar e divulgar o patrimônio e promover a região de Ouro Preto e Mariana como fonte receptora de turismo cultural. O projeto de educação patrimonial do Trem da Vale enriquece o sentido da estratégia de utilização da memória cultural para o estabelecimento de laços identitários em crianças, jovens e adultos. Com essa perspectiva, entende-se que a comunidade passa a respeitar e sente-se mais responsável pelo o seu patrimônio natural, cultural e histórico, levando a memória de seu povo a enriquecer e por conseguinte, a valorizar o atrativo turístico, que se torna um incentivo à permanência dos turistas e ao desenvolvimento turístico sustentável. 8
  • 9. Alguns programas culturais e educativos foram criados pela Vale com esse intuito, como o Vale Registrar, o Vale Preservar, o Vale conhecer e o Vale Promover. O Vale registrar é um programa que apresenta depoimentos de pessoas que viveram de alguma forma a mineração e a ferrovia, de forma oral, nas estações de Mariana e de Ouro Preto. O programa Vale Preservar compreende a elaboração e inserção de educação patrimonial ao ensino fundamental da rede pública de ensino nos municípios de Mariana e Ouro Preto através de experiências interdisciplinares, de vivência e experimentação de alunos e professores, para a uma reflexão estendida sobre seus recursos, cultura e arte. Já o Vale Conhecer é um programa de apoio que visa permitir e continuar as iniciativas de grupos montados pelas comunidades de Mariana e Ouro Preto com o intuito de valorizar e proteger seus patrimônios naturais e culturais. O programa Vale Promover engloba outros pequenos projetos diversificados de apoio à interpretação do Trem de Ouro Preto – Mariana. O objetivo desse programa é a promoção de todo o patrimônio da região supracitada de uma forma a introduzir as informações de forma interessante, educativa e interpretativa ao visitante. Um dos projetos de interpretação do patrimônio é o jogo “lá e cá – origem e destino”, que, disponível no site (www.tremdavale.com.br), brinca e interage com o visitante, ou o futuro visitante, instigando-o de forma lúdica e dinâmica a fazer seu próprio cartão postal da cidade de Mariana ou Ouro Preto. O “Guia Cultural Mariana – Passagem de Mariana – Ouro Preto”, organiza informações com o olhar da comunidade local para a apresentação ao turista. E a “Trilha Sensorial do Trem da Vale” aguça os sentidos e os sentimentos do visitante ao ligar as paisagens e as construções a histórias e relatos da identidade e da memória do povo, desligando o turista de uma visão passiva para uma visão mais ativa do percurso. O projeto “Trem da Vale revitalizou” os 18 quilômetros do trecho ferroviário que liga as cidades históricas de Mariana e Ouro Preto – incluindo as quatro estações que fazem parte do percurso, a locomotiva e outros seis vagões, sendo um deles panorâmico, que é um show à parte extremamente concorrido pelos passageiros. As estações ferroviárias de Ouro Preto, Vitorino Dias, Passagem de Mariana e Mariana, como mostra a figura 1, também foram completamente restauradas, respeitando os seus estilos originais. Dentro delas, há um enorme complexo cultural disponível para os turistas e moradores da região. 9
  • 10. FIGURA 1: ESTAÇÃO DE MARIANA RESTAURADA E A MARIA-FUMAÇA OURO PRETO MARIANA (“TREM DA VALE”) Fonte: http://www.amantesdaferrovia.com.br/home/trem/trensPorPais?trem_pais_id=1&id=27 (acesso em 24 de Julho de 2008) O trem funciona todas as sextas-feiras, finais de semana e feriados nacionais nos horários entre 11h e 16h na Estação de Ouro Preto e entre 9h e 14h na Estação Mariana. O valor da passagem é de R$ 18,00 (somente ida) e R$ 30,00 ida e volta. Os trens turísticos não só promovem o turismo cultural na região, mas também fazem um trabalho de conscientização das novas gerações em relação ao patrimônio local e impulsionam os órgãos necessários para a conservação, recuperação e divulgação deste patrimônio. 5. CONCLUSÃO É bem verdade que todo o potencial ferroviário do Brasil ainda tem muito a se desenvolver, principalmente no que tange as iniciativas de melhor se aproveitarem as preciosas malhas ferroviárias que temos espalhadas, transformando-as em atrações turísticas histórico- 10
  • 11. culturais. As previsões de crescimento da prática turística demandam soluções rápidas, e novos atrativos turísticos para atender esta nova demanda que está por vir. A utilização dos trens como solução para tal impasse é viável e pertinente, uma vez que fazer um passeio em um trem turístico é mais do que usar um meio de transporte; é viajar pelo tempo. É como sair do século XXI e embarcar rumo aos primeiros anos de 1900 e apesar de o passeio ter findado, a emoção não se dissipa, perdurando no imaginário do visitante. Os trens fazem parte da história do Brasil, tendo isso em vista, todos os tipos de turismo ligados à história das localidades ou até mesmo do país são enriquecidos pelas ferrovias. Segundo o site da Vale8 , o conjunto de ações do Programa de Educação Patrimonial do “Trem da Vale” beneficiou 6.448 alunos e professores em 2007, além dos 56.436 passageiros que fizeram o passeio de Ouro Preto a Mariana ao longo do ano; números estes que comprovam que um patrimônio valorizado, juntamente com o turismo, pode gerar lucros inestimáveis para a sociedade de um modo geral. Outras pesquisas que gerem a identificação e a organização da oferta de trens turísticos também contribuirão decisivamente para o desenvolvimento do setor e poderão torná-los sustentáveis em sua comercialização, podendo representar para a malha ferroviária brasileira um salto significativo agregado a expansão do turismo e a revitalização do patrimônio histórico- cultural brasileiro. 6. REFERÊNCIAS ABOTTC - Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turístico-Culturais. http://www.abottc.com.br (acesso em 05 de maio de 2008). ABPF - Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. www.abpf.com.br (acesso em 06 de maio de 2008). Amantes da Ferrovia. http://www.amantesdaferrovia.com.br (acesso em 21 de julho de 2008. 8 Site http://www.vale.com/vale/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1732&sid=448 (acessado em 18 de setembro de 2008) 11
  • 12. ANTT - Associação Nacional de Transportes Terrestres. http://www.antt.gov.br (acesso em 10 de maio de 2008) BENI, Mário Carlos. (2005). Análise Estrutural do Turismo. Senac, São Paulo. Brasil Viagem - http://www.brasilviagem.com.br (acesso em 20 de junho de 2008) Corcovado - http://www.corcovado.com.br (acesso em 17 de junho de 2008) Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes. Ferrovias. Histórico. http://www1.dnit.gov.br/ferrovias/historico.asp (acesso em 18 de setembro de 2008) DI RONÁ, Ronaldo. (2002). Transportes e Turismo. Manole, São Paulo. DUTRA, L.A. (2007). A atividade turística como base para a revitalização do patrimônio ferroviário presente nas localidades: uma análise do Trem da Estrada Real. Monografia de Conclusão de Curso. Departamento de Turismo. Universidade Federal Fluminense. Niterói – Rio de Janeiro. FRAGA, C.C.L., SANTOS, M.S.P. (2007a). Oferta de Trens Turísticos e Culturais. Anais do V “Rio de Transportes”, Rio de Janeiro. FRAGA, C.C.L., SANTOS, M.S.P. (2007b). Sustentabilidade Turística para Trens no Brasil. Anais do V “Rio de Transportes”, Rio de Janeiro. Giordani Turismo (Trem do Vinho) - http://www.mfumaca.com.br/ (acesso em 25 de julho de 2008) LICKORISH, L.J., JENKINS, C. L. (2000). Introdução ao Turismo. Elsevier, Rio de Janeiro. PAGE, S.J. (2001). Transporte e Turismo. Boockman, Rio Grande do Sul. PALHARES, G.L. (2002). Transportes Turísticos. Aleph, São Paulo. 12
  • 13. RIOTUR - http://www.riodejaneiro-turismo.com.br (acesso em 25 de maio de 2008) Serra Verde Express - http://www.serraverdeexpress.com.br (acesso em 20 de junho de 2008) Trem da Vale – http://www.tremdavale.com.br (acesso em 12 de setembro de 2008) Trem do Forró - http://www.tremdoforro.com.br (acesso em 18 de maio de 2008) Vale - http://www.vale.com/vale/ (acesso em 18 de setembro de 2008) 13