1) O texto discute questões sobre a literatura infanto-juvenil em relação à literatura, incluindo se é uma "subliteratura" para preparar crianças para a "grande literatura".
2) Também debate como definir o público-alvo da literatura infanto-juvenil e a ligação entre o gosto pela leitura e o sucesso escolar.
3) Por fim, analisa como as visões sobre a literatura infanto-juvenil mudaram ao longo do tempo e os desafios atuais de formar leitores.
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Que leitores queremos formar
1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Instituto de Ciências Humanas
Pedagogia- 7º Período
Disciplina Literatura na Educação Infantil
Que leitores queremos formar com a literatura
infanto-juvenil?
Anne-Marie Chartier
2. • Hoje a literatura infanto-juvenil é abundante, disponível e esta
em perpetua renovação.
Esse é quadro que se desenha quando observa as coisas um
pouco de longe. Assim que nos aproximamos, assim que
tentamos olhar mais concretamente o que se faz nesse setor,
assim que ouvimos ou que lemos os discursos que são feitos a
respeito da literatura infanto-juvenil, tomamos consciência de
que a situação é infinitamente menos simples e que até esconde
tensões contraditórias. (CHARTIER, p. 128)
3. A autora Anne-Marie Chartier começa o texto fazendo
referencia a um livro Enseigner La Litterature- de Jeunesse,
de Anne-Mercier Faivre (1999), um livro que se interroga
sobre as relações entre a literatura infanto-juvenil e a literatura.
Mas o que podemos entender como literatura infanto-
juvenil?
A literatura infanto-juvenil é um ramo da literatura, dedicada
especialmente às crianças e jovens adolescentes. Nisto se
incluem histórias fictícias infantis e juvenis, biografias,
novelas, poemas, obras folclóricas e/ou culturais, ou
simplesmente obras contendo/explicando fatos da vida real...
Definição da web
4. E da literatura ?
Literatura é a arte de compor escritos artísticos, em prosa
ou em verso, de acordo com princípios teóricos e práticos,
o exercício dessa arte ou da eloquência e poesia. A palavra
Literatura vem do latim "litteris" que significa "Letras", e
possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". ...
Definição da web
5. As leituras infantis não tem como objetivo apenas distrair
ou habituar as crianças a utilizarem esses textos, mas que é
através dessas leituras que se forma a personalidade, a
inteligência, o caráter, e não apenas o consumidor de
impressos, os frequentadores das bancas de jornais e os
fregueses das livrarias.
O que se afirma nesse texto é o que se dizia nos discursos
do período entre as duas guerras e até o final dos anos 1950.
Pois, a partir dos anos 1960, esse discurso foi violentamente
criticado, porque era visto como normativo e etilista.
6. Entretanto, o que ele anuncia parece muito bem
fundamentado. Pois, se formar o gosto de alguém pela
leitura, sabemos que não se pode prometer a essa
pessoa o prazer imediato ou durante todo o tempo.
Na França, quando se trata de formar o gosto das
novas gerações em matéria de culinária, podemos
pensar que vale a pena lutar contra o estilo Mac
Donald’s, que dá, entretanto, tanto prazer imediato às
crianças
7. Porém, ao se apresentar novos pratos se corre o risco de não
fazer “provar” imediatamente, exemplo do Quenelles (prato
típico da região de Lyon feito com massa recheada com
peixes, aves e caça), cujo aroma é sutil demais para os palatos
habituados aos gostos sem surpresa do Mac Donald’s e da
Coca – Cola.
O discurso do prazer imediato estaria talvez sendo sucedido
por um período em que seria novamente possível, sem parecer
reacionário, se ter um discurso sobre a necessidade de aceitar
essa lentidão e essa dificuldade.
8. Essa posição foi defendida numa época em que a escola era
muito etilista, quando apenas uma minoria de criança ia até o
ensino secundário, em que uma parte da população da França
não lia nenhuma literatura.
Nos anos de 1950, mais de um frânces em dois anos não lia
nenhum livro. Por isso, o discurso sobre a qualidade literária
das leituras foi rapidamente compreendido pelos bibliotecários
como um discurso desastroso para o próprio futuro da leitura.
Para eles, era urgente adotar então um estratégia
completamente diferente.
9. Esses problemas se relacionam tanto ao discurso sobre a
literatura infanto-juvenil quanto ás práticas de leitura que eles
suscitam – ou revelam.
A primeira questão-problema é concernente ao estatuto da
literatura infanto-juvenil em relação à literatura; a segunda
está relacionada à definição dos destinatários, essa infância e
juventude é concebida como um alvo particular; e a terceira é
concernente à ligação que se pode fazer entre leitura e sucesso
escolar.
10. • (...) a literatura infanto-juvenil é uma propedeutica a
literatura, é uma subliteratura que se daria aos
jovens para ajudá-los a entrar progressivamente na
“grande literatura”?
11. • Como determinar o que entra ou na categoria
literatura “infanto-juvenil”?
12. A última questão que atravessa todos esses debates, vem
de um fenômeno evidenciado recentemente, assiste-se hoje a
uma dissociação bem marcada pelo fato de gostar de ler e o
fato de ser reconhecido como bom aluno no âmbito escolar .
Muitos professores e bibliotecários, por muitos anos, ligaram
o gosto pela leitura ao sucesso escolar.
13. Na representação dos professores, dos pais e dos próprios
alunos, todos os bons alunos eram, forçosamente, grandes
leitores, e todos os grandes leitores eram forçosamente, bons
alunos.
Pesquisas de François de Singly mostram que essas duas
pontas estão se desconectando. .. Encontramos adolescentes
(principalmente meninas) em evidente processo de fracasso
escolar e que são grandes leitoras. Seu gosto pela leitura
(principalmente romances), no entanto, não tem efeito
positivo sobre seu sucesso escolar .
14. Encontramos adolescentes (principalmente meninas) em
evidente processo de fracasso escolar e que são grandes
leitoras. Seu gosto pela leitura (principalmente romances),
no entanto, não tem efeito positivo sobre seu sucesso
escolar.
Numa uma pesquisa feita em 1992 –
Constatou-se que um aluno muito bom entre quatro dizia
que não gostava de ler. Os professores nem acreditaram
que isso poderia acontecer. Seria da mesma forma que
uma pessoa dirigir muito bem sem gostar.
Alunos muito bons não reconhecerem mais o amor pela
leitura como uma característica necessária da excelência
escolar é um fato perturbador.
15. A leitura não é mais tão atraente hoje como era há vinte anos,
mesmo que, em números absolutos, hoje haja mais livros lidos
pelos jovens do que ontem.
Gostar de ler não é mais considerado um privilegio. Pelo fato
de ter entrado numa era de consumo de massa, a leitura, assim
como a carteira de motorista, não é mais um sinal exterior de
riqueza.
16. .
Durante muito tempo, constatou-se que quanto
mais um leitor era escolarizado, mais ele tinha
chances de se tornar um grande leitor.
É por isso que podemos, novamente sustenta o
discurso de que no lugar de se perguntar se uma
criança lê pouco, muito, apaixonadamente, ou nada,
podemos procurar conhecer a qualidade do que ela
lê.
17. • O discurso escolar que afirma a necessidade de formar
os alunos ao gosto pela leitura(e não ao prazer de ler)
foi motivado por uma grande desconfiança em relação
as leituras livres. Para a escola as leituras da infância
e da juventude devem sempre ser acompanhadas e ,
logo vigiadas. A leitura só pode se aprender de forma
útil com bons livros , grandes textos, logo com livros
difíceis , que não são facilitados, que não são “um
encadeamento de frases frouxas, um puro objeto de
distração inútil, uma leitura insípida, sem vícios e,
portanto sem virtudes”. (CHARTIER, p. 139)