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Titulo:
“Os títulos iludem muitas vezes o leitor, embora Camilo procure ser preciso na sua
escolha. Por exemplo, A Queda dum Anjo sugere, à primeira vista, um romance piedoso, cheio
de comiseração por alguma alma que cai no pecado e se quer levantar, ou então, para quem
conheça bem a história do Diabo e o modo como a Igreja explica a sua aparição no mundo,
pensará que se trata de um romance com pretensões teológicas e escatológicas. Mas não.
trata-se de um romance satírico, enquadrado nos costumes sociais e políticos do tempo do
autor, satirizando a pressa com que se modernizam os costumes, desprezando velhos
hábitos que sempre honraram a Pátria, tudo isto numa linguagem bastante rica. A tese
camiliana no romance A Queda dum Anjo, a que chama conto, está resumida pelo escritor na
Conclusão da obra, escrita com alguma ironia […]. Também se poderá dizer que a tese
camiliana deste romance está igualmente expressa nos títulos que o autor deu a cada
capítulo […].”
(CARVALHO, João Soares, “Camilo Castelo Branco”, in AA. VV. 2003. História da Literatura
Portuguesa – O Romantismo, vol. 4. Mem Martins: Alfa, p. 376)
Assunto:
A narrativa retrata a sociedade portuguesa do século XIX. O romance foi escrito e
publicado por volta de 1865.
Esta novela satírica conta-nos a história de Calisto Elói de Silos Benevides de
Barbuda, morgado de Agra de Freimas, é um fidalgo rural, de ascendência remotíssima,
muito rico, da aldeia de Caçarelhos, em Miranda. Calisto Elói aparece-nos exageradamente
apegado ao passado do seu país, recusando-se a vivenciar os hábitos e costumes
contemporâneos.
Naquela época, as influências externas eram pouco visíveis; as tradições, os modos
de falar e de vestir, os comportamentos, tudo se mantinha tal e qual ao longo de gerações.
Em especial na província. Por isso, Calisto vestia-se e falava de modo antiquado. Dedicava-
se à leitura da sua vasta biblioteca herdada dos seus antepassados (genealogias, forais,
memorias, legislação, biografias, …).
Calisto Elói era casado com a sua prima D. Teodora Barbuda de Figueiroa, morgada
de Travanca. Tratou-se de um casamento por conveniência.
Incentivado pelos seus conterrâneos, depois de ter chamado a atenção dos
habitantes de Caçarelhos para as suas potencialidades como deputado estando insatisfeitos
com os seus representantes no Parlamento, Calisto candidata-se para deputado e é eleito.
Passa, assim, a residir, sozinho, em Lisboa. Verifica, aí, que os grandes centros
urbanos – Lisboa e Porto – já não eram como o Portugal profundo; as influências
estrangeiras eram facilmente adotadas, principalmente pelas classes elevadas, muitas vezes
por questões de estatuto social. E isto facilitava a devassidão dos costumes.
Calisto contacta com uma sociedade contaminada pela hipocrisia, pelos adultérios,
uma literatura moral e linguisticamente prejudicada pela influência francesa. O meio
político era corrompido. Inicialmente, luta afincadamente contra a degeneração dos
costumes. Porém, essa luta começa a perder fôlego quando se apaixona.
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MARCO DE CANAVESES Nº 1 (150745)
Escola Secundária c/ 3º Ciclo de Marco de Canaveses
Literatura Portuguesa - 11.º Ano
A Queda dum Anjo, de Camilo Castelo Branco
Ficha Informativa
Ação:
 O protagonista Calisto Elói, primeiro em Miranda, depois, em Lisboa, no Parlamento.
 O puritano e o Anjo-custódio de D, catarina Sarmento.
 O despertar do amor e a sua metamorfose: Adelaide sem consequências; Ifigénia.
 Epilogo – a Anjo ficou a viver em Lisboa com a prima Ifigénia e os dois filhos.
 Teodora – «em tudo romana» e que fez eclipse nas virtudes conjugadas do Indostão,
aceitou a companhia do primo Lopo» sagaz ate a protérvias», seu velho pretendente
interesseiro, e foi mãe de um rapaz.
Ação principal:
1.º Momento 2.º Momento 3.º Momento
Cap. I - XIII Cap. XIV - XXIII Cap. XXIV – Conclusão
Apresentação do herói (do
conto, como diz o narrador)
com um nome pomposo que
deixa pressupor um
antiquado provinciano,
aristocrático, e, como ao
longo da novela, a anunciar
uma cultura recalcada.
Os debates parlamentares,
caricatos, e a sua
repercussão no meio
citadino.
Calisto descobre o amor.
Calisto inicia as mudanças.
Calisto transforma-se
radicalmente, de anjo passa
a homem.
O Anjo O Anjo em terrenos
perigosos
O Anjo caído
Ações secundárias:
 A chegada a Lisboa;
 O retrato de Calisto de acordo com o seu nome e o de Teodora;
 O ambiente da sua vida conjugal em Miranda e o desajustamento dele em
Lisboa;
 As cartas dele, de Teodora e, depois, de Lopo;
 Rápido momento dedescrição da noite em Campolide, da viagem de Teodora
a Lisboa;
 Monólogo – Capitulo IV – asneiras de erudição;
 Comentários do autor, por vezes marginais - Proh Dolor! Com especial relevo
quanto a cultura clássica e aos modernos – destes só leu o tal romance do
autor – critica ao romance moderno – Balzac.
 Transmissão poética – Tentação! Amor! Poesia!
Tempo:
Os factos encadeiam-se cronologicamente, predominantemente no presente –
alternadamente com algumas chamadas ao passado anterior ao tempo fulcral – e
precipitam-se rapidamente até à conclusão.
«hoje» (cap. I) — coincide com o ano civil de 1864. O tempo da história é anterior.
Calisto nasceu em 1815 (cap. I), casou por volta dos vinte anos (cap. I), talvez em 1835,
ocupou a presidência da Câmara de Miranda em 1840 (cap. I), veio para a Lisboa em fins de
Janeiro de 1859 (cap. IV), e aí permaneceu durante um triénio. É neste triénio que se
desenrola a ação fulcral da novela.
Outras referências expressas ao tempo: «noite de Abril» (cap. XXI), «fecharam as
câmaras» (cap. XXV), «pleno estio» (cap. XXVI), «dois meses depois de fechado o
parlamento» (cap. XXVII), «Outubro daquele ano» (cap. XXXII), «abriram-se as câmaras»
(cap. XXXIII), -decorreram alguns meses... fechado o triénio da legislatura» (cap. XXXVI).
Espaço:
A ação principia em Miranda, mas concentra-se em Lisboa. Só de fugida sai fora da
Capital. E aqui localiza-se, primeiro, no Parlamento, depois na casa do desembargador –
aventurosamente uma noite em Campolide, e, por último, em Sintra. Em qualquer lugar é
elemento básico, com certo pormenor e cor local.
O espaço físico reveste-se de características inconfundíveis que sem dificuldade o
transformam em espaço social:
Caçarelhos é a terra provinciana atrasada, impermeável ao progresso, estrangulada
por costumes quase medievais.
Lisboa é a cidade que desperta tardiamente e procura modernizar-se um pouco à
sobreposse, sofrendo uma notória e perniciosa degeneração de costumes ocasionada por
um processo civilizatório dependente de materialismo que a Regeneração favorecia.
Narrador:
Narrador omnisciente. Por vezes, assume-se como interlocutor, outras como
comentador.
«As intervenções do narrador no narrado (sobretudo quando usa o discurso em 1.ª
pessoa) não só garantem ao leitor (mais distraído) a veracidade factual, histórica, como por
outro lado fixam uma “solidariedade” entre o que se diz (o enunciado) e as circunstâncias
desse dizer (a enunciação).»
(MARTINS, Francisco, 1992. A Queda dum Anjo (Realização didática de Francisco Martins).
Porto: Porto Editora, p. 157)
Personagens
I – Classificação:
 Calisto – o herói, o protagonista, personagem menos plana, com forte
psicologia, mas um tanto exagerada – daí o conflito e o contraste.
 As outras personagens – todas planas, lineares, tipos sociais secundários
menos definidos.
 As personagens caricaturam os tipos humanos que se moviam na cena da
época. Por exemplo, Calisto Elói representa o imobilismo cultural. E no
entanto, tratava – se dum homem erudito. Lia e admirava os autores antigos,
em especial do período clássico, bem como os portugueses mais arcaicos.
Conhecia e orgulhava – se dos mais longínquos avós. A erudição e o dom de
palavra abriram – lhe portas à carreira política. Outras personagens: Brás
Lobato, professor da instrução primária e concorrente de Calisto à carreira
política; o boticário; e outras personagens como os lavradores da região, que
contribuíram para o avanço da carreira política de Calisto.
II – Modo de apresentação das personagens:
- pela ação – Calisto, mestre-escola, Lopo…
- pela palavra – Dr. Libório, Calisto…
- pelo retrato – Calisto, Lopo, Teodora.
- pelo comentário do narrador e de outros intervenientes na novela.
III. Função das personagens:
Calisto - Elemento catalisador que polariza a ação.
O ambiente social, Miranda e Lisboa ajustados ao protagonista nas suas fases e as
personagens secundárias.
IV – Sentimentos expressos:
Fidelidade – por fim, quebra e falha.
Amor
Ódio
Indignação/ vingança
Traição.
V – Caracterização:
Calisto Elói. É um tipo de fidalgo ferozmente tradicionalista, que se moderniza e
perverte ao mergulhar na vida da cidade, que ignorava. Dotado de formação intelectual
anacrónica e desfasada da realidade, apoiada numa excessiva credulidade em alfarrábios
desatualizadíssimos, é ele o «anjo» (em Trás-os-Montes e nos primeiros tempos da estadia
em Lisboa) que dá uma estrondosa «queda» na Capital.
O convívio com uma bela mulher e um curto arejamento de civilização em Paris
levaram-no a modificar radicalmente o modo de trajar, os costumes sóbrios, a ideologia
política e até o estilo oratório (antes de feição rude e direta, causando ora admiração ora
zombaria pela franqueza e desassombro, depois melífluo e incolor).
Apaixonado, vai modernizando a sua linguagem, o seu vestuário, os seus hábitos, as
suas ideias. Concretiza-se, assim, aquilo que já estava vaticinado no título - a queda de um
anjo.
Há quem diga que esta personagem é um decalque imaginoso de um Teixeira da
Mota, fidalgo de Celorico que, eleito deputado, se transformou em Lisboa num libertino de
primeira ordem.
1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase
Fidalgo tradicionalista.
Formado religiosamente e
culturalmente em
Caçarelhos.
Versado em autores
clássicos.
Estudioso.
Impermeável as doutrinas
iluministas.
Casado por interesse sem
amor.
Deputado no parlamento.
Miguelista.
Defensor da moral
tradicionalista.
Inimigo do luxo e do
progresso.
Ridículo.
Apóstolo da moral familiar
Uma mulher desperta-lhe a
sensualidade.
Inicia a queda. Mudança
total de hábitos.
Mudança política liberal.
Esquece Teodora.
Ama Ifigénia.
Vive com Ifigénia e tem 2
filhos.
Separa-se da mulher.
O ANJO Depois de andar por
TERRENOS PERIGOSOS
CAI.
No final da novela, assoma-se como Barão, rico, saudável, feliz e pai de 2 rebentos.
Calisto torna-se homem vulgar, sem retorica antiga.
Teodora. Esposa de Calisto, «ignorante mais que o necessário para ter juízo» (cap.
I), é uma prosaica fidalga rural. Após a «queda» do marido, para quem pouco mais tinha sido
do que mulher de trabalho, também ela caiu, mesmo sem abandonar a província, ligando-se
oportunamente a um primo interesseiro de quem tem um filho. Encontra a felicidade.
Dr. Libório Meireles. O «Doutor do Porto», com quem Calisto embirra solenemente
nas Cortes, é um exemplar de orador parlamentar balofo, palavroso, afetado, formalista.
Afirma-se que nesta personagem pretendeu Camilo ridicularizar o Dr. António Aires de
Gouveia, lente, ministro, Bispo.
Ifigénia. É uma atraente brasileira, viúva do brigadeiro Ponce de Leão, que se
aproxima de Calisto a pedir os seus préstimos no intuito de obter uma pensão em atenção
aos serviços prestados à Pátria pelo defunto marido. Nela descobre o faro genealógico de
Calisto uma «prima» que, num abrir e fechar de olhos, se transforma na sua «mulher fatal».
Linguagem e estilo:
a) Tipos de linguagem:
a. Vernacular/ literalizante;
b. Latim oportunamente;
c. Irónica;
d. Poética;
e. Realista.
b) Uso de processos estilísticos:
a. Metonímia;
b. Metáfora;
c. Comparações;
d. Hipérboles.
c) Uso de cómicos de linguagem, de carácter e situação.
Intenção da obra:
Esta obra camiliana tem interesse por variados motivos: dá-nos um quadro dos
costumes político-sociais da época, critica não só a cidade, a civilização, a sua maléfica
influência, como também os excessos da cidade e do campo (paraíso conservador).
Podemos dizer que o autor não se insurge contra o progresso, modas e comodidades
que ele patrocina (já que ridiculariza a posição de Calisto). Tanto Elói como Teodora acabam
por se converter a esse progresso, modificando as suas ideias e costumes. Rejuvenescem,
embelezam-se e sentem-se melhor.
Oferece-nos, assim, no retrato satírico do protagonista um símbolo do Portugal
velho que perde antigas virtudes ao modernizar-se um pouco à pressa e possui em alto grau
vigor e pureza de linguagem.
O percurso de Calisto Elói pode estar associado ao percurso pelo qual Portugal
atravessava – uma modernização demasiado rápida a vários níveis - política, económica,
social e cultural.
Ambos os Calistos (o antes e o depois da queda) são alvo da crítica do narrador que
se mostra desiludido com a possibilidade de eficazes mudanças do país para melhor, ao
mesmo tempo que lastima a impossibilidade de retorno ao esplendor nacional
remotamente terminado.
Está, assim, presente a dicotomia entre o velho e o novo:
Portugal velho Portugal Moderno
Espaço provinciano;
Estrutura sociopolítica e económica de
base feudal;
A cultura greco-latina;
Os autores portugueses.
Espaço urbano de Lisboa;
As transformações políticas, sociais
promovidas pelo liberalismo e pelo avanço
do capitalismo;
A cultura romântica de influência francesa.
Calisto Elói anterior à queda, aquele que
não quer mudanças e deseja eternamente o
Portugal velho, é ridicularizado e alvo de
sátira e da ironia do narrador.
Calisto Elói caído também não escapa à
sátira e ironia do narrador.
O narrador, na sua critica, mostra-se fraturado, dividido entre o velho e o novo, narra uma
nação também ela fraturada e dividida entre duas temporalidades.
Para além desta dicotomia, a obra apresenta outras dicotomias:
1. Espaço provinciano X espaço citadino.
2. Bases sociais do antigo regime X ordem burguesa.
3. Economia de raízes feudais X economia capitalista.
4. Convenções sociais X paixão e amor.
5. Linguagem castiça X linguagem corrompida.
6. Literatura clássica X literatura romântica.
É em Calisto Elói, o anjo, que se concentra a vivência de todas essas dicotomias.
Classificação literária da obra:
Romance-novela satírica, humorística.
Apreciando a obra, vemos que nela ressalta:
a) Um Camilo galhofeiro, a tirar partido do cómico de linguagem, de situação, de
contraste, de tipos, e não o Camilo sarcástico, sombrio, de outras novelas.
b) Um esquema equilibrado no conteúdo e na forma, com relevância para os aspetos
que caracterizam o herói nas suas facetas, a justificar a acertada escolha do título.
c) A verosimilhança dos tipos e respetivo enquadramento no contexto nacional da
época.

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Pré modernismo
 

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  • 1. Titulo: “Os títulos iludem muitas vezes o leitor, embora Camilo procure ser preciso na sua escolha. Por exemplo, A Queda dum Anjo sugere, à primeira vista, um romance piedoso, cheio de comiseração por alguma alma que cai no pecado e se quer levantar, ou então, para quem conheça bem a história do Diabo e o modo como a Igreja explica a sua aparição no mundo, pensará que se trata de um romance com pretensões teológicas e escatológicas. Mas não. trata-se de um romance satírico, enquadrado nos costumes sociais e políticos do tempo do autor, satirizando a pressa com que se modernizam os costumes, desprezando velhos hábitos que sempre honraram a Pátria, tudo isto numa linguagem bastante rica. A tese camiliana no romance A Queda dum Anjo, a que chama conto, está resumida pelo escritor na Conclusão da obra, escrita com alguma ironia […]. Também se poderá dizer que a tese camiliana deste romance está igualmente expressa nos títulos que o autor deu a cada capítulo […].” (CARVALHO, João Soares, “Camilo Castelo Branco”, in AA. VV. 2003. História da Literatura Portuguesa – O Romantismo, vol. 4. Mem Martins: Alfa, p. 376) Assunto: A narrativa retrata a sociedade portuguesa do século XIX. O romance foi escrito e publicado por volta de 1865. Esta novela satírica conta-nos a história de Calisto Elói de Silos Benevides de Barbuda, morgado de Agra de Freimas, é um fidalgo rural, de ascendência remotíssima, muito rico, da aldeia de Caçarelhos, em Miranda. Calisto Elói aparece-nos exageradamente apegado ao passado do seu país, recusando-se a vivenciar os hábitos e costumes contemporâneos. Naquela época, as influências externas eram pouco visíveis; as tradições, os modos de falar e de vestir, os comportamentos, tudo se mantinha tal e qual ao longo de gerações. Em especial na província. Por isso, Calisto vestia-se e falava de modo antiquado. Dedicava- se à leitura da sua vasta biblioteca herdada dos seus antepassados (genealogias, forais, memorias, legislação, biografias, …). Calisto Elói era casado com a sua prima D. Teodora Barbuda de Figueiroa, morgada de Travanca. Tratou-se de um casamento por conveniência. Incentivado pelos seus conterrâneos, depois de ter chamado a atenção dos habitantes de Caçarelhos para as suas potencialidades como deputado estando insatisfeitos com os seus representantes no Parlamento, Calisto candidata-se para deputado e é eleito. Passa, assim, a residir, sozinho, em Lisboa. Verifica, aí, que os grandes centros urbanos – Lisboa e Porto – já não eram como o Portugal profundo; as influências estrangeiras eram facilmente adotadas, principalmente pelas classes elevadas, muitas vezes por questões de estatuto social. E isto facilitava a devassidão dos costumes. Calisto contacta com uma sociedade contaminada pela hipocrisia, pelos adultérios, uma literatura moral e linguisticamente prejudicada pela influência francesa. O meio político era corrompido. Inicialmente, luta afincadamente contra a degeneração dos costumes. Porém, essa luta começa a perder fôlego quando se apaixona. AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MARCO DE CANAVESES Nº 1 (150745) Escola Secundária c/ 3º Ciclo de Marco de Canaveses Literatura Portuguesa - 11.º Ano A Queda dum Anjo, de Camilo Castelo Branco Ficha Informativa
  • 2. Ação:  O protagonista Calisto Elói, primeiro em Miranda, depois, em Lisboa, no Parlamento.  O puritano e o Anjo-custódio de D, catarina Sarmento.  O despertar do amor e a sua metamorfose: Adelaide sem consequências; Ifigénia.  Epilogo – a Anjo ficou a viver em Lisboa com a prima Ifigénia e os dois filhos.  Teodora – «em tudo romana» e que fez eclipse nas virtudes conjugadas do Indostão, aceitou a companhia do primo Lopo» sagaz ate a protérvias», seu velho pretendente interesseiro, e foi mãe de um rapaz. Ação principal: 1.º Momento 2.º Momento 3.º Momento Cap. I - XIII Cap. XIV - XXIII Cap. XXIV – Conclusão Apresentação do herói (do conto, como diz o narrador) com um nome pomposo que deixa pressupor um antiquado provinciano, aristocrático, e, como ao longo da novela, a anunciar uma cultura recalcada. Os debates parlamentares, caricatos, e a sua repercussão no meio citadino. Calisto descobre o amor. Calisto inicia as mudanças. Calisto transforma-se radicalmente, de anjo passa a homem. O Anjo O Anjo em terrenos perigosos O Anjo caído Ações secundárias:  A chegada a Lisboa;  O retrato de Calisto de acordo com o seu nome e o de Teodora;  O ambiente da sua vida conjugal em Miranda e o desajustamento dele em Lisboa;  As cartas dele, de Teodora e, depois, de Lopo;  Rápido momento dedescrição da noite em Campolide, da viagem de Teodora a Lisboa;  Monólogo – Capitulo IV – asneiras de erudição;  Comentários do autor, por vezes marginais - Proh Dolor! Com especial relevo quanto a cultura clássica e aos modernos – destes só leu o tal romance do autor – critica ao romance moderno – Balzac.  Transmissão poética – Tentação! Amor! Poesia! Tempo: Os factos encadeiam-se cronologicamente, predominantemente no presente – alternadamente com algumas chamadas ao passado anterior ao tempo fulcral – e precipitam-se rapidamente até à conclusão. «hoje» (cap. I) — coincide com o ano civil de 1864. O tempo da história é anterior. Calisto nasceu em 1815 (cap. I), casou por volta dos vinte anos (cap. I), talvez em 1835, ocupou a presidência da Câmara de Miranda em 1840 (cap. I), veio para a Lisboa em fins de Janeiro de 1859 (cap. IV), e aí permaneceu durante um triénio. É neste triénio que se desenrola a ação fulcral da novela. Outras referências expressas ao tempo: «noite de Abril» (cap. XXI), «fecharam as câmaras» (cap. XXV), «pleno estio» (cap. XXVI), «dois meses depois de fechado o parlamento» (cap. XXVII), «Outubro daquele ano» (cap. XXXII), «abriram-se as câmaras» (cap. XXXIII), -decorreram alguns meses... fechado o triénio da legislatura» (cap. XXXVI).
  • 3. Espaço: A ação principia em Miranda, mas concentra-se em Lisboa. Só de fugida sai fora da Capital. E aqui localiza-se, primeiro, no Parlamento, depois na casa do desembargador – aventurosamente uma noite em Campolide, e, por último, em Sintra. Em qualquer lugar é elemento básico, com certo pormenor e cor local. O espaço físico reveste-se de características inconfundíveis que sem dificuldade o transformam em espaço social: Caçarelhos é a terra provinciana atrasada, impermeável ao progresso, estrangulada por costumes quase medievais. Lisboa é a cidade que desperta tardiamente e procura modernizar-se um pouco à sobreposse, sofrendo uma notória e perniciosa degeneração de costumes ocasionada por um processo civilizatório dependente de materialismo que a Regeneração favorecia. Narrador: Narrador omnisciente. Por vezes, assume-se como interlocutor, outras como comentador. «As intervenções do narrador no narrado (sobretudo quando usa o discurso em 1.ª pessoa) não só garantem ao leitor (mais distraído) a veracidade factual, histórica, como por outro lado fixam uma “solidariedade” entre o que se diz (o enunciado) e as circunstâncias desse dizer (a enunciação).» (MARTINS, Francisco, 1992. A Queda dum Anjo (Realização didática de Francisco Martins). Porto: Porto Editora, p. 157) Personagens I – Classificação:  Calisto – o herói, o protagonista, personagem menos plana, com forte psicologia, mas um tanto exagerada – daí o conflito e o contraste.  As outras personagens – todas planas, lineares, tipos sociais secundários menos definidos.  As personagens caricaturam os tipos humanos que se moviam na cena da época. Por exemplo, Calisto Elói representa o imobilismo cultural. E no entanto, tratava – se dum homem erudito. Lia e admirava os autores antigos, em especial do período clássico, bem como os portugueses mais arcaicos. Conhecia e orgulhava – se dos mais longínquos avós. A erudição e o dom de palavra abriram – lhe portas à carreira política. Outras personagens: Brás Lobato, professor da instrução primária e concorrente de Calisto à carreira política; o boticário; e outras personagens como os lavradores da região, que contribuíram para o avanço da carreira política de Calisto. II – Modo de apresentação das personagens: - pela ação – Calisto, mestre-escola, Lopo… - pela palavra – Dr. Libório, Calisto… - pelo retrato – Calisto, Lopo, Teodora. - pelo comentário do narrador e de outros intervenientes na novela.
  • 4. III. Função das personagens: Calisto - Elemento catalisador que polariza a ação. O ambiente social, Miranda e Lisboa ajustados ao protagonista nas suas fases e as personagens secundárias. IV – Sentimentos expressos: Fidelidade – por fim, quebra e falha. Amor Ódio Indignação/ vingança Traição. V – Caracterização: Calisto Elói. É um tipo de fidalgo ferozmente tradicionalista, que se moderniza e perverte ao mergulhar na vida da cidade, que ignorava. Dotado de formação intelectual anacrónica e desfasada da realidade, apoiada numa excessiva credulidade em alfarrábios desatualizadíssimos, é ele o «anjo» (em Trás-os-Montes e nos primeiros tempos da estadia em Lisboa) que dá uma estrondosa «queda» na Capital. O convívio com uma bela mulher e um curto arejamento de civilização em Paris levaram-no a modificar radicalmente o modo de trajar, os costumes sóbrios, a ideologia política e até o estilo oratório (antes de feição rude e direta, causando ora admiração ora zombaria pela franqueza e desassombro, depois melífluo e incolor). Apaixonado, vai modernizando a sua linguagem, o seu vestuário, os seus hábitos, as suas ideias. Concretiza-se, assim, aquilo que já estava vaticinado no título - a queda de um anjo. Há quem diga que esta personagem é um decalque imaginoso de um Teixeira da Mota, fidalgo de Celorico que, eleito deputado, se transformou em Lisboa num libertino de primeira ordem. 1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase Fidalgo tradicionalista. Formado religiosamente e culturalmente em Caçarelhos. Versado em autores clássicos. Estudioso. Impermeável as doutrinas iluministas. Casado por interesse sem amor. Deputado no parlamento. Miguelista. Defensor da moral tradicionalista. Inimigo do luxo e do progresso. Ridículo. Apóstolo da moral familiar Uma mulher desperta-lhe a sensualidade. Inicia a queda. Mudança total de hábitos. Mudança política liberal. Esquece Teodora. Ama Ifigénia. Vive com Ifigénia e tem 2 filhos. Separa-se da mulher. O ANJO Depois de andar por TERRENOS PERIGOSOS CAI. No final da novela, assoma-se como Barão, rico, saudável, feliz e pai de 2 rebentos. Calisto torna-se homem vulgar, sem retorica antiga.
  • 5. Teodora. Esposa de Calisto, «ignorante mais que o necessário para ter juízo» (cap. I), é uma prosaica fidalga rural. Após a «queda» do marido, para quem pouco mais tinha sido do que mulher de trabalho, também ela caiu, mesmo sem abandonar a província, ligando-se oportunamente a um primo interesseiro de quem tem um filho. Encontra a felicidade. Dr. Libório Meireles. O «Doutor do Porto», com quem Calisto embirra solenemente nas Cortes, é um exemplar de orador parlamentar balofo, palavroso, afetado, formalista. Afirma-se que nesta personagem pretendeu Camilo ridicularizar o Dr. António Aires de Gouveia, lente, ministro, Bispo. Ifigénia. É uma atraente brasileira, viúva do brigadeiro Ponce de Leão, que se aproxima de Calisto a pedir os seus préstimos no intuito de obter uma pensão em atenção aos serviços prestados à Pátria pelo defunto marido. Nela descobre o faro genealógico de Calisto uma «prima» que, num abrir e fechar de olhos, se transforma na sua «mulher fatal». Linguagem e estilo: a) Tipos de linguagem: a. Vernacular/ literalizante; b. Latim oportunamente; c. Irónica; d. Poética; e. Realista. b) Uso de processos estilísticos: a. Metonímia; b. Metáfora; c. Comparações; d. Hipérboles. c) Uso de cómicos de linguagem, de carácter e situação. Intenção da obra: Esta obra camiliana tem interesse por variados motivos: dá-nos um quadro dos costumes político-sociais da época, critica não só a cidade, a civilização, a sua maléfica influência, como também os excessos da cidade e do campo (paraíso conservador). Podemos dizer que o autor não se insurge contra o progresso, modas e comodidades que ele patrocina (já que ridiculariza a posição de Calisto). Tanto Elói como Teodora acabam por se converter a esse progresso, modificando as suas ideias e costumes. Rejuvenescem, embelezam-se e sentem-se melhor. Oferece-nos, assim, no retrato satírico do protagonista um símbolo do Portugal velho que perde antigas virtudes ao modernizar-se um pouco à pressa e possui em alto grau vigor e pureza de linguagem. O percurso de Calisto Elói pode estar associado ao percurso pelo qual Portugal atravessava – uma modernização demasiado rápida a vários níveis - política, económica, social e cultural. Ambos os Calistos (o antes e o depois da queda) são alvo da crítica do narrador que se mostra desiludido com a possibilidade de eficazes mudanças do país para melhor, ao mesmo tempo que lastima a impossibilidade de retorno ao esplendor nacional remotamente terminado.
  • 6. Está, assim, presente a dicotomia entre o velho e o novo: Portugal velho Portugal Moderno Espaço provinciano; Estrutura sociopolítica e económica de base feudal; A cultura greco-latina; Os autores portugueses. Espaço urbano de Lisboa; As transformações políticas, sociais promovidas pelo liberalismo e pelo avanço do capitalismo; A cultura romântica de influência francesa. Calisto Elói anterior à queda, aquele que não quer mudanças e deseja eternamente o Portugal velho, é ridicularizado e alvo de sátira e da ironia do narrador. Calisto Elói caído também não escapa à sátira e ironia do narrador. O narrador, na sua critica, mostra-se fraturado, dividido entre o velho e o novo, narra uma nação também ela fraturada e dividida entre duas temporalidades. Para além desta dicotomia, a obra apresenta outras dicotomias: 1. Espaço provinciano X espaço citadino. 2. Bases sociais do antigo regime X ordem burguesa. 3. Economia de raízes feudais X economia capitalista. 4. Convenções sociais X paixão e amor. 5. Linguagem castiça X linguagem corrompida. 6. Literatura clássica X literatura romântica. É em Calisto Elói, o anjo, que se concentra a vivência de todas essas dicotomias. Classificação literária da obra: Romance-novela satírica, humorística. Apreciando a obra, vemos que nela ressalta: a) Um Camilo galhofeiro, a tirar partido do cómico de linguagem, de situação, de contraste, de tipos, e não o Camilo sarcástico, sombrio, de outras novelas. b) Um esquema equilibrado no conteúdo e na forma, com relevância para os aspetos que caracterizam o herói nas suas facetas, a justificar a acertada escolha do título. c) A verosimilhança dos tipos e respetivo enquadramento no contexto nacional da época.