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O Conjunto Monumental e Artístico de Vilar de Frades

Joaquim Vinhas
Conjunto patrimonial de Vilar de Frades: classificações, abandonos e intervenções
Vilar de Frades (S. João de Areia de Vilar, Barcelos), volvido quase um século de pontuais intervenções e sobretudo de
abandonos, pode hoje orgulhar-se do seu valioso património, que em apreciável medida se deve à notável intervenção de
conservação e restauro levada a cabo a partir da década de 1990 (primeiro pelo IPPAR e depois pela DRCN), intervenção
que, diga-se de passagem, está longe de estar concluída. Esperemos que não venha o espantalho da crise inviabilizar a
conclusão dos trabalhos!
O conjunto patrimonial e artístico de Vilar de Frades, constituído
pela igreja, claustro e ala nascente do extinto convento dos
loios, foi interpretado, e bem, como imóvel que ultrapassa o
interesse local e regional, pelo que foi elevado à categoria de
monumento nacional em junho de 1910; enquanto o chafariz do
antigo Terreiro dos Cabedais, atual pátio da Casa de Saúde
pertencente à Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, veio a
receber a mesma classificação em 1949.
Este conjunto monumental foi recentemente reclassificado e viu
alargada a sua classificação a todos os espaços da antiga cerca
conventual e outras áreas adjacentes, galgando o Cávado e
atingido Manhente, pelo Decreto n.º 7/2013 de 7 de maio. De
fora ficou, lamentavelmente, o Santuário de Nossa Senhora do
Socorro!
Lapso que poderá muito bem vir a ser resolvido, caso os responsáveis pela classificação assim o entendam, pois é sabida a
ligação umbilical da capela do Socorro ao convento de Vilar de Frades, que foi ereta a mando dos cónegos loios em 16191620, na sequência de um temporal devastador, então conhecido como a tormenta de S. Sebastião.
(Sobre as questões da classificação, quem classifica o quê, que critérios, que responsabilidades ou corresponsabilidades,
com que finalidades, são tudo aspetos importantes para os quais não me parecem os poderes públicos estarem
devidamente sensibilizados... Há muito a aprendermos sobre este vasto domínio!)
Legado histórico
Aqui, junto ao Cávado, na sua margem esquerda, Vilar de Frades é um espaço cultural privilegiado, porquanto tem para
mostrar ao visitante um valiosíssimo património histórico e artístico, edificado no sítio que os bons homens de Vilar de
Frades escolheram, em 1425, para a fundação de uma ordem religiosa de novo tipo: de carater secular e apostólico, adepta
dos princípios chãos do Evangelho, em ordem a uma reforma que contagiasse todo o clero que no geral levada uma vida
pecaminosa, indecente, devassa, segundo as palavras do seu fundador, o mestre João Vicente e seus colaboradores, que se
irmanaram no intuito de operar uma reforma profunda no clero.
Recorde-se que tal propósito reformista, da década de 1420, ocorria mais de um século antes do Concílio de Trento (15451563), onde a Igreja, face à ameaça Protestante e aos clamores reformistas vindos do seu próprio seio, decidiu finalmente
fazer uma Reforma Católica, também conhecida como Contra Reforma por se erguer contra a chamada Reforma
Protestante.
A novíssima Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades, designação adotada entre 1425/31 e
1461, data esta em que, por instância do poder político junto da Santa Sé, a sede dos cónegos seculares é transferida de
Barcelos para Lisboa (Santo Elói), mudando a sua designação para Congregação de Cónegos Seculares de S. João
Evangelista, isto porque, dizem os cronistas do século XVII, a rainha D. Isabel, mulher de D. Afonso V, teria muita afeição
por esta figura tão próxima de Jesus Cristo.
Antes de avançarmos, convém relembrar as motivações que levaram o mestre João Vicente a liderar um projeto de
instituto religioso pioneiro em Portugal.
O século XIV fora marcado pela trilogia trágica da fome, da peste e da
guerra, criando-se condições para uma crise de consciências e de
mentalidades, geradora de um enorme problema dentro da Igreja Católica:
a falta de credibilidade de um clero que não era exemplar, quer porque
muitos dos seus membros eram ignorantes, quer porque a prática
quotidiana evidenciada desprezo pelos valores do humanismo e da
solidariedade, presentes em vários textos que constituíram o Evangelho
onde a vida de Cristo se plasmou, indissociável dos mais fracos e dos
oprimidos.
Foi pois um clamor de reforma, um grito vindo de dentro da Igreja, que
Mestre João Vicente, médico da corte e lente
universitário, fundador da Congregação dos
Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de
Frades, em 1425. Mais tarde veio a ser bispo de
Lamego e de Viseu.

acompanhou o processo da instauração de uma nova ordem religiosa, que
desde o início se inspirou na de S. Jorge de Alga, Veneza, a quem S.
Lourenço Justiniano tinha dado alguns anos antes um conjunto de princípios
e um hábito azul, uns e outro adotados pelos bons homens de Vilar de
Frades e pelos cónegos loios ou azuis, em geral.

O ímpeto reformista (antes da reforma ter início no topo da hierarquia), cravado no solo de Vilar de Frades, rapidamente se
espalhou pelas redondezas, levando mesmo à sua implantação no território nacional, com as casas conventuais que foram
fundadas em Lisboa e no Porto, em Lamego e em Vila da Feira, em Coimbra e em Évora, somando ao todo 9 institutos,
vindo (para além dos princípios religiosos enunciados e da participação em reformas e ainda na tentativa de evangelização
africana) a constituir um autêntico potentado devido à sua dimensão económica e social, política e religiosa... Só o
convento de Vilar de Frades chega a ter propriedades em 126 freguesias, em Barcelos e em regiões circunvizinhas. Mas os
cónegos de Vilar de Frades granjearam prestígio e influências junto da arquidiocese de Braga (apesar dos conflitos com
alguns arcebispos, sobretudo com D. Fernando da Guerra, no século XV, devido ao seu desejo de autonomia face á Sé
bracarense), conseguindo ver-lhes anexadas 13 igrejas em escassas dezenas de anos.
Deve ainda acrescentar-se que o seu carater apostólico, as suas razões espirituais e temporais e as suas súplicas atraíram
apoios da Santa Sé, para além dos inequívocos privilégios dos monarcas e do apoio do conde de Barcelos e duque de
Bragança, senhor de um vasto poder territorial que por vezes conflituava com o senhorio da Cúria de Braga.
Mas antes de mais, a instituição que, a partir de 1461, passa a designar-se Congregação dos Cónegos Seculares de S. João
Evangelista, contava com os réditos dos fregueses, fossem as esmolas e rendas do povo comum e anónimo, fossem as
capelas de missas encomendadas para a salvação das almas e/ou os legados pios de famílias principais que, para glória no
céu, fizeram doações e administraram capelas privativas, como foram os casos da família Pereira ligada a D. Leonor de
Lemos, a família Sousa ligada a D. Teresa de Mendonça, a família Vilas Boas e os senhores da antiga honra de Fralães.

Legado patrimonial: arquitetónico e artístico
Fruto da memória histórica que se conserva em Vilar de Frades, e sobretudo pela beleza e complexidade de algumas das
suas obras emblemáticas, em particular a capela-mor, o transepto e a portada do período manuelino - obras realizadas
sensivelmente em 1510-1520, pagas por D. Diogo de Sousa (exceto o pórtico e as capelas do transepto) que pretenderia
patrocinar todas as obras da igreja caso os cónegos lhe tivessem esculpido as armas dos Sousas no arco-cruzeiro. Dizem os
cronistas que este prelado humanista, que protagonizou importantes reformas na cidade de Braga e na arquidiocese,
pretenderia mesmo edificar o seu sepulcro na capela-mor da igreja de Vilar de Frades.
Surpreendido, D. Diogo de Sousa chegou a Vilar de Frades e deparou com as armas da Congregação Evangelista,
exatamente no arco-cruzeiro, lugar onde esperava contemplar o seu brasão como sinal do reconhecimento e imortalização
do seu nome. Descanse em paz D. Diogo, pois os cronistas encarregaram-se de imortalizar o seu mecenato.
Estamos em crer que o projeto da igreja gizado
pelos padres de Vilar, deve ter sido fornecido por D.
Diogo de Sousa, que terá encomendado a planta ao
arquiteto biscainho João de Castilho (que se
encontrava em 1509 a trabalhar na Sé de Braga,
exatamente onde introduziu a famosa abóbada de
perfil rebaixado na capela-mor, que logo a seguir foi
aplicada em Vilar de Frades e mais tarde na igreja
dos Jerónimos, entre outras), embora o cronista de
1658 não mencione o seu nome e, antes pelo
contrário, afirma várias vezes que o autor da traça
foi o mestre pedreiro de Guimarães, João Lopes-oVelho.
Numa tentativa de superar os problemas da falta de financiamento do projeto, já que D. Diogo de Sousa deixou de pagar as
obras, os padres de Vilar mandaram fazer uma nave muito mais modesta que a prevista, com paredes delgadas e sem a
robustez necessária para resistir aos séculos, com uma cobertura simples e de madeira. Todavia, para a entrada da igreja
fizeram questão de mandar edificar um pórtico que igualasse o estilo patenteado na capela-mor, no cruzeiro e nas capelas
colaterais, estas últimas financiadas por duas sobrinhas do referido arcebispo, D. Leonor de Lemos e D. Teresa de
Mendonça.

Um século depois, na sequência da tormenta de S. Sebastião (uma tempestade que se abateu no país e que atingiu com
gravidade a estrutura débil de Vilar de Frades), os cónegos empreenderam um vasto conjunto de obras que levou à ereção
de novos espaços, que, ainda que com inúmeras obras posteriores, definiram o conjunto abrangente que agora se encontra
classificado como monumento nacional e área de proteção especial: a partir de 1619 começam as obras no vasto conjunto
conventual, localizado a poente, obras que ficaram incompletas até à última década do século XVII; a partir de novembro
de 1619 edificam a Capela de Nossa Senhora do Socorro, que foi inaugurada em agosto de 1620, no dia dedicado a Nossa
Senhora das Neves, dando origem a uma romaria anual; e empreendem o ambicioso projeto de reconstruir a nave da
igreja, incluindo a área do coro, coroada com uma abóbada monumental, que harmonizam com as obras do período
manuelino.
O século XVIII assistiu ao triunfo do barroco na igreja, sendo contratados artistas das cidades de Lisboa, do Porto, de Braga,
entre outras, para a realização de obras de talha dourada e policromada - o retábulo-mor e as capelas colaterais (por
contratos de 1696 e 1698) das mãos de António Gomes e Domingos Nunes, do Porto e do transepto e a generalidade das
capelas laterias que ladeiam a nave única -, de pinturas com ricas molduras de talha, de painéis azulejares que começam
nas paredes laterias da capela-mor (cerca de 1706-1708) e se estendem por duas capelas laterais (1736 e 1742), neste caso
assinados pelos azulejadores de Lisboa Bartolomeu Antunes e Nicolau de Freitas.
Na segunda metade do século XVIII e nos inícios do século XIX, importantes obras viriam a realizar-se em Vilar de Frades,
dentro do estilo neoclássico (de que a sacristia é um belo exemplo), obras que se estenderam à área do claustro, onde se
encontrava o chafariz setecentista (que na década de 1960 foi transferido para a cidade de Barcelos... Sou de opinião que
este chafariz, que está no Largo da Porta Nova, deveria regressar ao seu lugar de origem), mas também à fachada da igreja,
cujo risco deveria prever uma fachada revivalista de gosto românico-gótico, provavelmente para melhor enquadrar o
pórtico manuelino, que ainda hoje podemos observar.
A torre sul, inacabada, mostra a reutilização de uma arcada historiada do período românico e outras pedras que
pretendiam fazer reviver o passado glorioso do antigo mosteiro beneditino (que ali teria sido fundado em 566 por S.
Martinho de Dume e que, com interregnos, viria a perdurar até 1420). E, segundo o cónego Aguiar Barreiros, os anciãos das
redondezas, pais de seus pais, diziam em pleno século XIX que era intenção dos padres de Vilar de Frades derrubar a torre
norte e, no sítio dela, construírem uma torre que igualasse a que andavam a construir quando, lamentavelmente, as obras
foram definitivamente interrompidas. Decorriam pois as obras no claustro e na fachada principal, quando as invasões
francesas vieram perturbar a vida da nação e das gentes de Areias de Vilar; depois vieram os ingleses para nos libertar dos
franceses, mas criaram um clima de medo e repressão brutal até que eclodiu a revolução de 24 de agosto de 1820.
Com o liberalismo, repleto de episódios contraditórios e de uma devastadora guerra civil, particularmente violenta entre
1832-1834, de que saiu vencedor a ala moderada liderada por D. Pedro. No ano da vitória, 1834, devido à necessidade de
reformas e não menos porque largos setores da Igreja estiveram com D. Miguel, o liberalismo monárquico decretou a
extinção das ordens religiosas. Silenciaram-se as vozes dos cónegos de Vilar de Fardes... e o conjunto agora classificado
como monumento nacional entrou em declínio por mais de 150 anos. Hoje, vale a pena visitar ou revisitar um dos sítios
mais interessantes de que Barcelos se pode orgulhar e que se encontra na rede do turismo cultural e na rota do património
internacional.

Painéis de azulejo pintados a azul e branco, que terão revestido as paredes laterais da capela-mor, de provável
assentamento em 1706-1707, por Dionísio António. Representam figuras que colaboraram ativamente com o Mestre
João Vicente na fundação da nova ordem religiosa, incluindo S. Lourenço Justiniano e o Papa Gregório II.

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O Conjunto Monumental de Vilar de Frades

  • 1. O Conjunto Monumental e Artístico de Vilar de Frades Joaquim Vinhas Conjunto patrimonial de Vilar de Frades: classificações, abandonos e intervenções Vilar de Frades (S. João de Areia de Vilar, Barcelos), volvido quase um século de pontuais intervenções e sobretudo de abandonos, pode hoje orgulhar-se do seu valioso património, que em apreciável medida se deve à notável intervenção de conservação e restauro levada a cabo a partir da década de 1990 (primeiro pelo IPPAR e depois pela DRCN), intervenção que, diga-se de passagem, está longe de estar concluída. Esperemos que não venha o espantalho da crise inviabilizar a conclusão dos trabalhos! O conjunto patrimonial e artístico de Vilar de Frades, constituído pela igreja, claustro e ala nascente do extinto convento dos loios, foi interpretado, e bem, como imóvel que ultrapassa o interesse local e regional, pelo que foi elevado à categoria de monumento nacional em junho de 1910; enquanto o chafariz do antigo Terreiro dos Cabedais, atual pátio da Casa de Saúde pertencente à Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, veio a receber a mesma classificação em 1949. Este conjunto monumental foi recentemente reclassificado e viu alargada a sua classificação a todos os espaços da antiga cerca conventual e outras áreas adjacentes, galgando o Cávado e atingido Manhente, pelo Decreto n.º 7/2013 de 7 de maio. De fora ficou, lamentavelmente, o Santuário de Nossa Senhora do Socorro! Lapso que poderá muito bem vir a ser resolvido, caso os responsáveis pela classificação assim o entendam, pois é sabida a ligação umbilical da capela do Socorro ao convento de Vilar de Frades, que foi ereta a mando dos cónegos loios em 16191620, na sequência de um temporal devastador, então conhecido como a tormenta de S. Sebastião. (Sobre as questões da classificação, quem classifica o quê, que critérios, que responsabilidades ou corresponsabilidades, com que finalidades, são tudo aspetos importantes para os quais não me parecem os poderes públicos estarem devidamente sensibilizados... Há muito a aprendermos sobre este vasto domínio!)
  • 2. Legado histórico Aqui, junto ao Cávado, na sua margem esquerda, Vilar de Frades é um espaço cultural privilegiado, porquanto tem para mostrar ao visitante um valiosíssimo património histórico e artístico, edificado no sítio que os bons homens de Vilar de Frades escolheram, em 1425, para a fundação de uma ordem religiosa de novo tipo: de carater secular e apostólico, adepta dos princípios chãos do Evangelho, em ordem a uma reforma que contagiasse todo o clero que no geral levada uma vida pecaminosa, indecente, devassa, segundo as palavras do seu fundador, o mestre João Vicente e seus colaboradores, que se irmanaram no intuito de operar uma reforma profunda no clero. Recorde-se que tal propósito reformista, da década de 1420, ocorria mais de um século antes do Concílio de Trento (15451563), onde a Igreja, face à ameaça Protestante e aos clamores reformistas vindos do seu próprio seio, decidiu finalmente fazer uma Reforma Católica, também conhecida como Contra Reforma por se erguer contra a chamada Reforma Protestante. A novíssima Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades, designação adotada entre 1425/31 e 1461, data esta em que, por instância do poder político junto da Santa Sé, a sede dos cónegos seculares é transferida de Barcelos para Lisboa (Santo Elói), mudando a sua designação para Congregação de Cónegos Seculares de S. João Evangelista, isto porque, dizem os cronistas do século XVII, a rainha D. Isabel, mulher de D. Afonso V, teria muita afeição por esta figura tão próxima de Jesus Cristo. Antes de avançarmos, convém relembrar as motivações que levaram o mestre João Vicente a liderar um projeto de instituto religioso pioneiro em Portugal. O século XIV fora marcado pela trilogia trágica da fome, da peste e da guerra, criando-se condições para uma crise de consciências e de mentalidades, geradora de um enorme problema dentro da Igreja Católica: a falta de credibilidade de um clero que não era exemplar, quer porque muitos dos seus membros eram ignorantes, quer porque a prática quotidiana evidenciada desprezo pelos valores do humanismo e da solidariedade, presentes em vários textos que constituíram o Evangelho onde a vida de Cristo se plasmou, indissociável dos mais fracos e dos oprimidos. Foi pois um clamor de reforma, um grito vindo de dentro da Igreja, que Mestre João Vicente, médico da corte e lente universitário, fundador da Congregação dos Cónegos Seculares de S. Salvador de Vilar de Frades, em 1425. Mais tarde veio a ser bispo de Lamego e de Viseu. acompanhou o processo da instauração de uma nova ordem religiosa, que desde o início se inspirou na de S. Jorge de Alga, Veneza, a quem S. Lourenço Justiniano tinha dado alguns anos antes um conjunto de princípios e um hábito azul, uns e outro adotados pelos bons homens de Vilar de Frades e pelos cónegos loios ou azuis, em geral. O ímpeto reformista (antes da reforma ter início no topo da hierarquia), cravado no solo de Vilar de Frades, rapidamente se espalhou pelas redondezas, levando mesmo à sua implantação no território nacional, com as casas conventuais que foram fundadas em Lisboa e no Porto, em Lamego e em Vila da Feira, em Coimbra e em Évora, somando ao todo 9 institutos, vindo (para além dos princípios religiosos enunciados e da participação em reformas e ainda na tentativa de evangelização africana) a constituir um autêntico potentado devido à sua dimensão económica e social, política e religiosa... Só o
  • 3. convento de Vilar de Frades chega a ter propriedades em 126 freguesias, em Barcelos e em regiões circunvizinhas. Mas os cónegos de Vilar de Frades granjearam prestígio e influências junto da arquidiocese de Braga (apesar dos conflitos com alguns arcebispos, sobretudo com D. Fernando da Guerra, no século XV, devido ao seu desejo de autonomia face á Sé bracarense), conseguindo ver-lhes anexadas 13 igrejas em escassas dezenas de anos. Deve ainda acrescentar-se que o seu carater apostólico, as suas razões espirituais e temporais e as suas súplicas atraíram apoios da Santa Sé, para além dos inequívocos privilégios dos monarcas e do apoio do conde de Barcelos e duque de Bragança, senhor de um vasto poder territorial que por vezes conflituava com o senhorio da Cúria de Braga. Mas antes de mais, a instituição que, a partir de 1461, passa a designar-se Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista, contava com os réditos dos fregueses, fossem as esmolas e rendas do povo comum e anónimo, fossem as capelas de missas encomendadas para a salvação das almas e/ou os legados pios de famílias principais que, para glória no céu, fizeram doações e administraram capelas privativas, como foram os casos da família Pereira ligada a D. Leonor de Lemos, a família Sousa ligada a D. Teresa de Mendonça, a família Vilas Boas e os senhores da antiga honra de Fralães. Legado patrimonial: arquitetónico e artístico Fruto da memória histórica que se conserva em Vilar de Frades, e sobretudo pela beleza e complexidade de algumas das suas obras emblemáticas, em particular a capela-mor, o transepto e a portada do período manuelino - obras realizadas sensivelmente em 1510-1520, pagas por D. Diogo de Sousa (exceto o pórtico e as capelas do transepto) que pretenderia patrocinar todas as obras da igreja caso os cónegos lhe tivessem esculpido as armas dos Sousas no arco-cruzeiro. Dizem os cronistas que este prelado humanista, que protagonizou importantes reformas na cidade de Braga e na arquidiocese, pretenderia mesmo edificar o seu sepulcro na capela-mor da igreja de Vilar de Frades. Surpreendido, D. Diogo de Sousa chegou a Vilar de Frades e deparou com as armas da Congregação Evangelista, exatamente no arco-cruzeiro, lugar onde esperava contemplar o seu brasão como sinal do reconhecimento e imortalização do seu nome. Descanse em paz D. Diogo, pois os cronistas encarregaram-se de imortalizar o seu mecenato. Estamos em crer que o projeto da igreja gizado pelos padres de Vilar, deve ter sido fornecido por D. Diogo de Sousa, que terá encomendado a planta ao arquiteto biscainho João de Castilho (que se encontrava em 1509 a trabalhar na Sé de Braga, exatamente onde introduziu a famosa abóbada de perfil rebaixado na capela-mor, que logo a seguir foi aplicada em Vilar de Frades e mais tarde na igreja dos Jerónimos, entre outras), embora o cronista de 1658 não mencione o seu nome e, antes pelo contrário, afirma várias vezes que o autor da traça foi o mestre pedreiro de Guimarães, João Lopes-oVelho. Numa tentativa de superar os problemas da falta de financiamento do projeto, já que D. Diogo de Sousa deixou de pagar as obras, os padres de Vilar mandaram fazer uma nave muito mais modesta que a prevista, com paredes delgadas e sem a
  • 4. robustez necessária para resistir aos séculos, com uma cobertura simples e de madeira. Todavia, para a entrada da igreja fizeram questão de mandar edificar um pórtico que igualasse o estilo patenteado na capela-mor, no cruzeiro e nas capelas colaterais, estas últimas financiadas por duas sobrinhas do referido arcebispo, D. Leonor de Lemos e D. Teresa de Mendonça. Um século depois, na sequência da tormenta de S. Sebastião (uma tempestade que se abateu no país e que atingiu com gravidade a estrutura débil de Vilar de Frades), os cónegos empreenderam um vasto conjunto de obras que levou à ereção de novos espaços, que, ainda que com inúmeras obras posteriores, definiram o conjunto abrangente que agora se encontra classificado como monumento nacional e área de proteção especial: a partir de 1619 começam as obras no vasto conjunto conventual, localizado a poente, obras que ficaram incompletas até à última década do século XVII; a partir de novembro de 1619 edificam a Capela de Nossa Senhora do Socorro, que foi inaugurada em agosto de 1620, no dia dedicado a Nossa Senhora das Neves, dando origem a uma romaria anual; e empreendem o ambicioso projeto de reconstruir a nave da igreja, incluindo a área do coro, coroada com uma abóbada monumental, que harmonizam com as obras do período manuelino.
  • 5. O século XVIII assistiu ao triunfo do barroco na igreja, sendo contratados artistas das cidades de Lisboa, do Porto, de Braga, entre outras, para a realização de obras de talha dourada e policromada - o retábulo-mor e as capelas colaterais (por contratos de 1696 e 1698) das mãos de António Gomes e Domingos Nunes, do Porto e do transepto e a generalidade das capelas laterias que ladeiam a nave única -, de pinturas com ricas molduras de talha, de painéis azulejares que começam nas paredes laterias da capela-mor (cerca de 1706-1708) e se estendem por duas capelas laterais (1736 e 1742), neste caso assinados pelos azulejadores de Lisboa Bartolomeu Antunes e Nicolau de Freitas. Na segunda metade do século XVIII e nos inícios do século XIX, importantes obras viriam a realizar-se em Vilar de Frades, dentro do estilo neoclássico (de que a sacristia é um belo exemplo), obras que se estenderam à área do claustro, onde se encontrava o chafariz setecentista (que na década de 1960 foi transferido para a cidade de Barcelos... Sou de opinião que este chafariz, que está no Largo da Porta Nova, deveria regressar ao seu lugar de origem), mas também à fachada da igreja, cujo risco deveria prever uma fachada revivalista de gosto românico-gótico, provavelmente para melhor enquadrar o pórtico manuelino, que ainda hoje podemos observar. A torre sul, inacabada, mostra a reutilização de uma arcada historiada do período românico e outras pedras que pretendiam fazer reviver o passado glorioso do antigo mosteiro beneditino (que ali teria sido fundado em 566 por S. Martinho de Dume e que, com interregnos, viria a perdurar até 1420). E, segundo o cónego Aguiar Barreiros, os anciãos das redondezas, pais de seus pais, diziam em pleno século XIX que era intenção dos padres de Vilar de Frades derrubar a torre norte e, no sítio dela, construírem uma torre que igualasse a que andavam a construir quando, lamentavelmente, as obras foram definitivamente interrompidas. Decorriam pois as obras no claustro e na fachada principal, quando as invasões francesas vieram perturbar a vida da nação e das gentes de Areias de Vilar; depois vieram os ingleses para nos libertar dos franceses, mas criaram um clima de medo e repressão brutal até que eclodiu a revolução de 24 de agosto de 1820. Com o liberalismo, repleto de episódios contraditórios e de uma devastadora guerra civil, particularmente violenta entre 1832-1834, de que saiu vencedor a ala moderada liderada por D. Pedro. No ano da vitória, 1834, devido à necessidade de reformas e não menos porque largos setores da Igreja estiveram com D. Miguel, o liberalismo monárquico decretou a extinção das ordens religiosas. Silenciaram-se as vozes dos cónegos de Vilar de Fardes... e o conjunto agora classificado como monumento nacional entrou em declínio por mais de 150 anos. Hoje, vale a pena visitar ou revisitar um dos sítios mais interessantes de que Barcelos se pode orgulhar e que se encontra na rede do turismo cultural e na rota do património internacional. Painéis de azulejo pintados a azul e branco, que terão revestido as paredes laterais da capela-mor, de provável assentamento em 1706-1707, por Dionísio António. Representam figuras que colaboraram ativamente com o Mestre João Vicente na fundação da nova ordem religiosa, incluindo S. Lourenço Justiniano e o Papa Gregório II.