3. Parece bastante hipócrita a tenacidade com que a
Europa procura evitar a chegada de imigrantes
africanos, que não são outra coisa senão o resíduo
patético das suas invasões coloniais de vários séculos.
4.
5. Esperará por acaso a
Europa que, depois de séculos saqueando a África,
despojando-a da sua cultura, dos seus recursos
materiais e humanos, de infectá-la com a sua febre
perniciosa de consumo, vai poder encarar este novo
milênio como uma espécie de fortaleza armada e
compacta, em cujo interior todos são felizes enquanto
que, no exterior, a fome e o desespero se alastram?
6.
7. No conto de Edgar Allan Poe ‘A máscara da morte
vermelha‘, é simbolizada a futilidade da intenção do
príncipe de se fechar no seu palácio, dando festas,
até que a peste passe.
A morte acabou por entrar.
A Europa é rica graças, essencialmente, a tudo o que
levou de África.
8.
9. Por acaso esperam que os africanos famintos fiquem
padecendo da miséria resultante dos latrocínios que
sofreram, enquanto as sociedades europeias
desfrutam de altos níveis de qualidade de vida?
Acreditam que é tolerável que quem os roubou, matou
e violou por centenas de anos venha pontificar e dar-
lhes lições sobre moral internacional e direitos
humanos?
10.
11. Vocês, ingleses, não se lembram dos massacres no
Kenya,
dos despojos na Rodésia?
Não se lembram, franceses, o quanto roubaram em
Dakar e na Costa do Marfim?
12.
13. Não se lembram, alemães, dos campos de
concentração na Namíbia e dos crânios do povo
guerreiro dizimado que ainda conservam no Museu
de Medicina de Berlim?
14.
15. Não se lembram, belgas, das atrocidades que fizeram
no Congo?
16.
17. Não se lembram, portugueses, das escavações
depredadoras que fizeram em busca do ouro de
Angola, das caçadas de escravos em Moçambique?
Não foram a vossa cobiça e a vossa vaidade ridícula,
europeus, que regaram com tanto sangue de
crianças inocentes os diamantes da Serra Leoa?
18.
19. E agora dão-se ao luxo
de repelir estas barcaças de desesperados, de
fechar-se e de deportar os fugitivos que chegam às
suas costas marítimas, porque dão mau aspecto às
suas glamourosas praias mediterrâneas !
20.
21. Se a Europa fosse coerente com as suas próprias
políticas de direitos humanos teriam que acolher
com os braços abertos todos os africanos e pedir-
lhes perdão por todas as ofensas, oferecendo-lhes
repartir aquilo que levaram das suas terras.
22.
23. E o mais curioso é que estes embandeirados pela
angústia não pedem o que lhes pertenceria por
direito.
Apenas pedem as migalhas de una esmola, vender
bujigangas nas praças, entregar jornais ou lavar
automóveis... e mesmo assim não os querem…
24.
25. É um espetáculo demasiado doloroso, demasiado
triste que no centro da vossa grande civilização se
mostrem os rostos obscuros das vítimas que a
tornaram possível.
A vossa cegueira é admirável, a vossa hipocrísia é
criminosa, a vossa baixeza é formidável.
Meditem longamente sobre o que estão fazendo,
europeus.
Vocês, que fizeram história, seriam demasiado
26.
27. Todo o poder de Roma não impediu a sua queda às
mãos dos bárbaros famintos da Germânia e do
Tártaro.
28.
29. Toda a majestade da Britânia se curvou sem
atenuantes perante as massas hindús lideradas por
um homenzinho de aparência insignificante, mas
com um grande coração.
39. A Europa deseja permanecer fechada enquanto uma
África saqueada se dessangra... como a América
Latina... como o Oriente de segunda categoria...
Não se pode aceitar que tanta beleza nas artes tenha
surgido de corações tão duros...
Certamente a Europa abrirá seu coração, suas
portas...
Certamente algum dia aprenderá a tratar todos os
seres humanos como iguais porque, se não fôr
assim, estará aceitando como feitos normais os
muitos genocídios ocorridos ao longo da história...
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76. - Observação -
Não foi encontrada indicação do autor deste texto.
Estava escrito no português que provavelmente é
falado em alguma ex-colônia portuguesa e que é um
pouco diferente tanto da língua falada em Portugal
como daquela do Brasil.
Foi adaptado ao português brasileiro.