1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE LETRAS - DECLAVE
Seminário para o Ensino de Literatura Brasileira
Professor Antônio Marcos Sanseverino.
Ilenice Gicélia Trojahn
Projeto de Ensino de Literatura
Tema escolhido: Memórias.
Como o tema é trabalho em livros didáticos e referências para a criação do projeto e
preparação das aulas:: É importante, primeiramente, dizer que escolhi trabalhar com
turmas de oitava série do Ensino Fundamental. Os alunos desta etapa geralmente tem de
13 a 15 anos de idade. Pensei em escolher um tema que fosse compatível com essa faixa
etária. Por isso, busquei inspiração nos referenciais curriculares do Estado, que colocam
como um dos objetivos principais, nesta etapa, o seguinte:
Ao final da unidade, os alunos deverão ser capazes de
ler notas autobiográficas, construindo seu sentido global e re-
conhecendo os elementos de seleção temática que lhes dão unidade.
(REFERENCIAIS CURRICULARES, p. 106, 2009.)
Além disso, conheci, neste começo de semestre, por intermédio de outra disciplina
relacionada ao ensino, o Programa Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo para o
Futuro (realizado pelo Ministério da Educação, Fundação Itaú Social e o Centro de
Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), realizado sempre em
anos pares. Trata-se de um projeto que visa a “proporcionar ensino de qualidade para
todos” (ANDRADE, ALTENFELDER e ALMEIDA, 2010), promovendo um concurso de
textos de acordo com cada série do Ensino Básico. Este programa disponibiliza Cadernos
do Professor, espécie de “guias”, os quais trazem sequências didáticas para os
professores de Língua Portuguesa e Literatura prepararem as turmas para a Olimpíada.
Esta ferramenta traz diversas atividades e textos elucidativos, que vão ao encontro dos
conteúdos característicos de cada etapa.
O Caderno referente à 8º etapa do Ensino Fundamental traz, justamente, o gênero
Memórias como carro-chefe. Este material esmiúça, aula à aula, como o professor deve
mediar a ação de leitura e reflexão do aluno. Explicita como os textos podem ser
introduzidos, apresentados, de que forma pode o professor incentivar os alunos a
2. pesquisarem sobre o tema. Inúmeras atividades são propostas, para que, depois, o s
próprios alunos possam produzir textos deste gênero.
Por estas características, penso ser este um material valioso para usar como referência
na preparação de aulas, além dos Referenciais Curriculares, já citados. Busquei, também,
suporte na teoria da Estética da Recepção. Mais especificamente, no Método
Recepcional, proposto pelas professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de
Aguiar na obra Literatura - A Formação do Leitor: alternativas metodológicas. Este método
objetiva ampliar o horizonte de expectativas do leitor (o qual, neste conceito, ganha
grande destaque), fazendo dele um agente, e não somente um indivíduo passivo no
evento de leitura.
Obras escolhidas: Feliz Ano Velho (Marcelo Rubens Paiva), O Velho que Acordou
Menino (Rubem Alves), A Autobiografia de Buffalo Bill (William F. Cody), Boitempo I
(Carlos Drummond de Andrade) e De Moto pela América do Sul (Ernesto Che Guevara).
A ideia é usar somente excertos, devido à impossibilidade (de tempo) de ler todas essas
obras. A minha intenção de usar tantos títulos para uma só temática busca referências no
Método Recepcional, de Bordini e Aguiar, o qual defende a tese de que é essencial
apresentar autores e obras de diferentes épocas, ao invés de seguirmos o padrão
cronológico da história literária (FERRARI, 2008).
Desse modo, seriam misturados relatos de um aventureiro caçador de búfalos
estadunidense do século XIX, memórias de um autor de 60 anos sobre sua infância no
interior de Minas Gerais em prosa, memórias de outro autor de origem mineira, porém, em
poesia, histórias de um revolucionário cubano comunista do século XX e angústias de um
adolescente que teve sua vida marcada por uma acidente que o deixou tetraplégico. Além
disso, escolhi estes textos por achar que possam ser interessantes, próximos aos alunos,
pelos quais eles possam se interessar.
PROJETO DE AULA
Justificativa: É necessário aumentar os horizontes dos alunos na sua atividade como
leitor, devido à importância desta atividade no seu desenvolvimento escolar. Para isso, é
preciso valorizar a sua participação ativa e crítica, influenciada pelas suas vivências
pessoais. O texto memorialístico é uma construção que, além de valorizar as experiências
pessoais dos alunos, abre espaço para a construção de uma identidade. A leitura de
textos deste gênero também propicia conhecer outras realidades, de outras identidades,
3. contadas pelo próprio personagem.
Público-alvo: 8º série do Ensino Fundamental.
Objetivos:
1) Diagnosticar textos que atendam o gênero Memória;
2) Refletir sobre experiências de outras pessoas, conhecendo outros
lugares/épocas/vivências através dos textos escritos pelos personagens que os fizeram;
3) Produzir textos memorialísticos.
Procedimentos: Cada livro teria, no mínimo, 2 aulas para serem trabalhados. Na
primeira, o próprio texto seria apresentado, com leituras de trechos por toda a turma, junto
com o professor. Este ambientaria a turma quanto ao estilo do autor, a época na qual as
memórias foram escritas, em que circunstâncias, quais os temas que mais aparecem no
texto. Depois, passaria para uma discussão com a turma, sobre sua opinião sobre o texto,
se conhecem alguma história parecida. Esta atividade, de incitar o aluno a discutir, a dar
sua participação sobre o material que lhe foi oferecido, continuaria na segunda aula,
quando o professor colocaria em pauta uma atividade em grupo, na qual os alunos
responderiam questões de interpretação/reflexão sobre o texto, com discussão em grupos
de até 4 estudantes. Depois de todos os livros apresentados, passaria-se à construção de
textos. Um aula para os alunos produzirem sua própria memória, seguindo o formato de
um dos textos trabalhados em sala de aula. Depois disto, outra oportunidade para os
alunos lerem os textos um dos outros (sem saber a autoria, para preservar a privacidade
de cada um), para, assim, avaliarem a construção (fazendo, inclusive, observações). O
que abriria, também, com isso, os horizontes e a forma de pensar sobre a sua própria
produção. Passada esta etapa, os textos voltariam para os seus donos, possibilitando
uma nova reflexão e, talvez, reconstrução do texto já feito.
Tenho, ainda, a ideia de fazer estes textos, depois de prontos, se transformarem em uma
espécie de livro de final de ano ou, quem sabe, em um blog. Este último item
possibilitaria, inclusive, uma participação exterior à sala de aula, já que pessoas de todo o
mundo poderiam comentar as produções feitas.
Avaliação: Feita, principalmente, através da construção das memórias, dando grande
atenção no empenho do aluno no processo de escrita dos textos e na reflexão sobre o
que construiu. Não obstante, a participação na discussão dos textos apresentados seria
avaliada e valorizada.
4. REFERÊNCIAS
ALTENFELDER, Anna Helena; CLARA, Regina Andrade e ALMEIDA, Neide. Se
Bem me Lembro...: caderno do professor: orientação para produção de textos.
Coleção da Olimpíada. São Paulo: Centec, 2010.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo I. 5º edição. Rio de Janeiro: Record,
1998.
BORDINI, Maria da Glória e AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura – A Formação do
Leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
CESILA, Juliana Sylvestre da Silva. Ensino de Literatura no Ensino Médio: uma
tentativa de aliar o conhecimento ao prazer da leitura. Disponível em:
<http://www.webartigos.com/articles/29215/1/O-ENSINO-DE-LITERATURA-NO-
ENSINO-MEDIO/pagina1.html> Acesso em maio/2010
CODY, William F. A Autobiografia de Buffalo Bill. Série Fascínio da História. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1991.
FERRARI, Ana Maria. Estética da Recepção:novos horizontes para o ensino de
Literatura. Disponível em:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1589-
8.pdf?PHPSESSID=2010012610220293> Acesso em maio/2010.
GUEVARA, Ernesto Che. De Moto pela América do Sul: diário de viagem. SA
Editora, 2001.
PAIVA, Marcelo Rubens. Feliz Ano Velho. 66º edição. São Paulo: Brasiliense,
1987.
PECCINI, Jacqueline Aparecida dos Santos. O Método Recepcional e a Estética da
Recepção. Disponível em: <http://literaturaeeducacao.sites.uol.com.br/prod/la-prod-
jap01.htm> Acesso em maio/2010
REFERENCIAIS CURRICULARES do Estado do Rio Grande do Sul: linguagens,
códigos e suas tecnologias. Secretaria do Estado do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: SE/DP, 2009.
ZAFALON, Míriam. Refletindo sobre a Leitura e o Ensino de Literatura. Disponível
em:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigo
s_teses/LinguaPortuguesa/artigos/mestrado_alice_artigo.pdf> Acesso em
maio/2010.