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SEMINÁRIO PRESBITERIANO
“REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO”
MISSIOLOGIAMISSIOLOGIAMISSIOLOGIAMISSIOLOGIA
“Declare sua glória entre as nações”
Salmo 96:3
"Deus é o Senhor Soberano das Missões"
John Eliot
“Deus não pode ser invocado por ninguém, exceto por aqueles
que conheceram sua misericórdia por meio do Evangelho”
João Calvino
GILDÁSIO JESUS B. DOS REIS
2006
2
O ESTUDO DA MISSIOLOGIA
QQQQuando olhamos para a Igreja Evangélica Brasileira e o movimento missionário atual,
percebemos como ao longo dos anos teologia e missão tem andado por caminhos
diferentes, completamente divorciados. Trata-se de uma dicotomia que precisa ser
corrigida. Nós precisamos das duas: Precisamos da teologia, pois ela nos dá o
embasamento para a tarefa missionária, e é especialmente importante por causa da
dependência que a igreja tem dela para medir os nossos esforços com o padrão divino. E
precisamos da missiologia pois ela é o meio pelo qual Deus faz nascer a Igreja, ela é
resultado da ação não somente de Deus ao enviar seu Filho ao mundo como também do
esforço de irmãos que divulgam o Evangelho de Cristo.
Missiologia é a soma de duas palavras: do latim, “missione” significando função ou
poder que se confere a alguém para fazer algo, encargo, incumbência; e do grego,
“logia”, que significa estudo, conhecimento. Portanto, podemos definir Missiologia
como a ciência que estuda os diferentes aspectos da missão que Deus deu ao homem.
Carlos Del Pino, em seu artigo "Missiologia e Educação Teológica", diz que a “nossa educação
teológica não tem se preocupado com o aspecto missiológico e missionário na formação dos
nossos alunos"1
, reforçando o fato de que existe, mesmo que inconsciente, uma tentativa de
divorciar a Missiologia da Teologia.
Esta dicotomia trás algumas implicações para a vida da igreja:
1) Dificuldades para identificar de maneira global a "obra de Deus", que acaba sendo
confundida com a manutenção do status quo, dando a entender que o Reino de Deus2
está contido em uma estrutura eclesiástica.
2) As prioridades ministeriais são via de regra, voltadas para dentro, a fim de satisfazer
todas as necessidades que foram criadas “em nome de Deus” dentro das estruturas
eclesiásticas, em prejuízo da missão integral3
.
3) O treinamento dos líderes sempre se torna diferenciado, pastores e missionários não
tem a mesma excelência em seu preparo acadêmico.
Com o objetivo de romper com este dualismo entre teologia e missiologia, vamos neste curso
abordar o tema sob 5 perspectivas:
I. Perspectiva Teológica: Estudaremos a conceituação da tarefa missionária da Igreja
e os fundamentos teológicos, abordando os diversos pressupostos que sustentam
uma teologia reformada de missões.
II. Perspectiva Cultural: É praticamente impossível transmitir uma mensagem do
evangelho que faça sentido em situações transculturais sem que seus comunicadores
1
PINO, Carlos Del. Capacitando para Missões Transculturais; Revista Missiológica da Associação de Professores de
Missões no Brasil, Vol.1, n.2; 1995
2
O Cristo que a Igreja reconhece como Senhor é o Senhor de todo universo. Nesta afirmação de seu senhorio
universal, a Igreja encontra a base para sua missão. Cristo foi coroado como Rei, e sua soberania se estende sobre a
totalidade da criação. Como tal, ele comissiona os seus discípulos a fazerem discípulos de todas as nações (Mt 28.18-
20)
3
O conceito de missão integral propõe um modelo d missão que vai além da experiência religiosa pessoal para incluir
também auxílio aos pobres e marginalizados.
3
conheçam os receptores da mensagem em seu ambiente cultural e histórico e sem
que conheçam a si mesmos. Portanto, nossa proposta aqui objetiva mostrar a
importância em se determinar os pontos de tensão cultural a partir de uma
abordagem natural (não crítica) dos costumes, cosmologias e cosmovisões comuns
em diferentes povos.
III. Perspectiva Urbana: Nesta parte do curso, estudaremos as cidades e seus desafios
para as missões; desafiando os alunos a desenvolver uma estratégia para o
ministério urbano, focalizando os desafios sociais e espirituais que o ambiente
provoca. Examina diversos modelos de ministérios urbanos, inclusive através de
estudos de campo, e fornece critérios para a elaboração de um ministério bíblico de
impacto na cidade.
IV. Perspectiva Bíblica: Nosso objetivo aqui é estudar de maneira panorâmica, as
bases bíbicas do Antigo e Novo Testamentos de Missões. A matéria apresenta a
Bíblia como o relato da "história da salvação" e como inspirada por Deus para o
desempenho da Igreja no mundo.
V. Perspectiva Histórica: Analisaremos o desenvolvimento e a expansão da fé cristã
ao longo dos séculos, compreendendo os seus principais personagens, métodos e
povos alcançados.
Rev. Gildásio Reis
4
MISSIOLOGIA
UMA PERSPECTIVA
TEOLÓGICA-REFORMADA
“Não existe uma só polegada, em todo o domínio de nossa vida humana, da
qual Cristo, que é soberano de tudo, não declare: é minha”
Kuiper
I. Conceituando a Missão
AAAA questão da definição e conceituação da missão, há muito tem sido uma das questões
mais discutidas no estudo da missiologia. Nem sempre tem havido consenso sobre o que se deve
entender por missões. O que é missão? Qual é a sua natureza? Quais os objetivos das missões
cristãs? A considerar os diferentes pressupostos teológicos, uma gama muito grande de
respostas pode ser dada a estas questões.
Não obstante, este ser um assunto controvertido, ele é também muito importante
para a igreja e para os cristãos individuais. Como pode a igreja ser o que deve ser e
fazer o que deve fazer se não tiver uma clara compreensão acerca do seu propósito na
sociedade e no mundo?
Desde o começo da História da Igreja muitas derivações de termos têm
aparecido nas traduções latinas procedentes do verbo grego ‘apostolein’, significando ‘a
arte de exercer o apostolado, o ofício de um apóstolo’. As palavras mais usadas são:
Missio e Missiones. A terminologia ‘Missio’ somente veio a aparecer no século XVI
quando as ordens de monge Jesuítas e Carmelitas enviaram ao novo mundo de então
centenas de missionários. Inácio de Loyola e Jacob Loyonez consistentemente
empregaram o termo ‘Missio’. Eles, os jesuitas foram os primeiros a utilizarem a
terminologia “Missão”, como a propagação da fé Cristã entre os povos não-cristãos, ou
seja, a disseminação da fé entre os povos não-católicos (os protestantes foram vistos
como indivíduos a serem alcançados). Este sentido estava intimamente associado com a
expansão colonial do mundo ocidental aos demais povos (atualmente chamado de
terceiro mundo).4
Desde meados do século XX, vários sentidos têm sido aplicados ao termo
“Missão”, alguns mais estreitos, outros, mais amplos. É importante que iniciemos nosso
curso de missiologia dando alguns conceitos de missão.
1.1. DEFINIÇÕES GENERALIZADAS DE MISSÃO
Em sua obra Mission Theology: An Introduction,5
o missiólogo Karl Muller apresenta
uma lista com os seguintes de conceitos:
1. Missão é o envio de missionários para um designado território;
4
Dr. Antônio José, op cit.
5
Karl Muller. Mission Theology: An Introduction (Nettetal, Germany: Eteyler Verlag, 1987), 31-34. (citadas por Dr.
Antônio José do Nascimento Filho, material utilizado no curso de mestrado em Missiologia no CPPGAJ em 2001)
5
2. Missão tem a ver com as atividades realizadas por tais missionários;
3. Missão é a área geográfica aonde os missionários realizam seus ministérios;
4. Missão é a agência missionária responsável pela logística e pelo envio dos missionários
aos seus respectivos campos;
5. Missão é a propagação do evangelho aos povos não alcançados;
6. Missão é o centro do qual os missionários irradiam o evangelho;
7. Missão é uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar vocações
missionárias;
8. Missão é a propagação da fé Cristã;
9. Missão é a expansão do reino de Deus;
10. Missão é a conversão dos povos pagãos;
11. Missão é a plantação de novas igrejas.
Dr. Antônio José nos informa que até o século XVI, o termo “Missão”, foi usado
exclusivamente com referência à doutrina trinitária, isto é, ao papel da trindade na história da
redenção.6
O envio do filho pelo Pai, e por sua vez, o envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo
Filho, cuja interpretação missiológica deu origem à doutrina chamada na história de “Filioque”.7
Esta interpretação, contanto que aceita como doutrina básica da Igreja Cristã, foi um dos
motivos da cisão do Cristianismo medieval no ano de 1054.
1.2. UMA DEFINIÇÃO DE MISSÃO
Em seu sentido mais amplo, a missão é tudo o que a igreja faz a serviço do Reino de Deus
(Missões no plural). Em sentido mais restrito, contudo, a missão refere-se à atividade
missionária, a pregação do evangelho entre povos e culturas em cujo meio ele não é conhecido
(Missão no singular). A seguir, duas definições:
J.H. Bavinck define assim:
Missões é aquela atividade da igreja, essencialmente nada mais do que a atividade de Cristo,
realizada por meio da igreja, pela qual a igreja, neste período intermediário, chama os povos da
terra ao arrependimento e à fé em Cristo, de modo que se tornem seus discípulos e, pelo batismo,
sejam incorporados a comunhão daqueles que esperam a vinda do Reino8
Carlos Del Pino, em artigo publicado diz que “a missão da igreja não pode ser algo
independente de Deus e de Cristo, como se a igreja pudesse realizá-la por si só”.9
É exatamente
este o ponto da definição de Bavinck quando ele diz que “Missões é aquela atividade da igreja,
essencialmente nada mais do que a atividade de Cristo”10
6
Dr. Antônio José do Nascimento Filho, Op Cit., p. 24
7
A Igreja Cristã tem uma declaração histórica sobre o Espírito Santo, estabelecida no Concílio de Toledo (589 DC).
O credo que emanou daquele concílio dizia que o Espírito Santo "procede tanto do Pai como do Filho". Longe de
estabelecer uma subordinação em essência, a declaração apenas reflete o ensinamento bíblico que na administração
das interações entre Deus e o Homem, cada pessoa da Trindade cumpre um papel específico. No caso do Espírito
Santo, Ele procede do Pai e do Filho e testemunha de Cristo-não fala de si próprio. Este é o critério primário de
reconhecimento do trabalho do Espírito - As ações supostamente realizadas pelo Espírito apontam para Cristo, ou
para os agentes humanos? Os supostos porta-vozes do Espírito falam de Cristo, ou falam de si mesmos ou do próprio
Espírito? A grande maioria das maravilhas e fenômenos contemporâneos atribuídos ao Espírito Santo não passa por
este crivo. O credo do Concílio de Toledo, apenas expandia e particularizava a doutrina já exposta no Credo Niceno.
O Concílio de Nicéia havia indicado a "processão do Pai", para o Espírito Santo. Concílio de Toledo (que para alguns
não foi um concílio, mas um mero Sínodo - perdendo, portanto em autoridade) ampliou, indicando a procedência
também do Filho (Jesus Cristo) para o Espírito Santo. Essa expressão "e do Filho" foi grafada com a palavra latina
filioque.
8
J.H. Bavinck, An Introduction to the Science of Missions - citada por R.B.Kuiper in: Evangelização Teocêntrica,
São Paulo, SP: Ed. PES, 1976 p.5
9
Cf. Fides Reformata, 5/01/2000 in: O Apostolado de Cristo e a Missão da Igreja
10
J.H. Bavinck, Op Cit., p. 5
6
Bosch11
nos oferece também uma definição de missão:
A missão constitui um ministério multifacetado em termos de testemunho e serviço, justiça, cura,
reconciliação, paz, evangelização, comunhão, implantação de igrejas, contextualização,
etc..Inlcusive o intento de arrolar algunas dimensões da missão, porèm está repleto de perigo,
porque de novo sugere que nos é possível definir o que é infinito. Quem quer que sejamos,
espreita-nos a tentação de enclausurar a Missio Dei nos estreitos confins de nossas próprias
predileções, voltando, necesariamente, à unilateralidade e ao reducionismo”12
Labieno Palmeira dá sua definição de missões:
Fazer missões é procurar estar em sintonia com Deus, empenhando-se ao
máximo para ver o que Deus vê, ouvir o que Deus ouve e conhecer como Deus
conhece, e não apenas isto, é estar disponível para descer onde Deus quer
descer, livrar aqueles que Deus deseja libertar e fazer subir aqueles que Deus
deseja levar para a terra que mana leite e mel13
1.3. O Conceito de Missões na Confissão de Fé de Westminster.
A Confissão de Fé de Westminster, no seu capítulo XXXV, que trata do “DO AMOR
DE DEUS E DAS MISSÕES, assim prescreve:
I. Em seu amor infinito e perfeito - e tendo provido no pacto da graça, pela mediação e
sacrifício do Senhor Jesus Cristo, um caminho de vida e salvação suficiente e adaptado a toda
a raça humana decaída como está - Deus determinou que a todos os homens esta salvação de
graça seja anunciada no Evangelho. (Ref. Jo.3:16; I Tim.4:10; Mc.16:15).-A Universalidade
do Evangelho (Inclusivista)
II. No Evangelho Deus proclama o seu amor ao mundo, revela clara e plenamente o único
caminho da salvação, assegura vida eterna a todos quantos verdadeiramente se arrependem e
crêem em Cristo, e ordena que esta salvação seja anunciada a todos os homens, a fim de que
conheçam a misericórdia oferecida e, pela ação do Seu Espírito, a aceitem como dádiva da
graça. ( ef. Jo.3:16 e 14:6; At.4:12; I Jo.5:12; Mc.16:15; Ef.2:4,8,9.) - A Necessidade da Fé
Consciente, ou seja, há uma posição restritivista quanto ao destino daqueles que nunca
ouviram falar de Jesus.
III. As Escrituras nos asseguram que os que ouvem o Evangelho e aceitam imediatamente
os seus misericordiosos oferecimentos, gozam os eternos benefícios da salvação: porém, os
que continuam impenitentes e incrédulos agravam a sua falta e são os únicos culpados pela
sua perdição. ( Ref. Jo.5:24 e 3:18.) - A certeza do Sucesso na Pregação
O ponto aqui é o seguinte: Como pode a igreja em geral, e o cristão individual, estar segura de
que não está assumindo uma obra que é intrinsecamente impossível de ser realizada? W.G.T.
Shedd, D.D. (1820 – 1894) diz que “a pregação do evangelho encontra sua justificação, sua
sabedoria, e seu triunfo, somente na atitude e relação com o infinito e todo-poderoso Deus
que a sustenta”14
Sobre a certeza do sucesso da Igreja na pregação, Kuiper assim se expressa:
11
David Bosch serviu como missionário numa universidade da África do Sul até 1971, falecendo aos 63 anos.
12
BOSCH, David J. Missão Transformadora – Mudanças de paradigma na teologia da Missão. São Leopoldo, RS.
Ed. Sinodal. 2002.
13
PALMEIRA FILHO, Labieno Moura. O Caráter Missionário de Deus. Goiânia – Go.: Série Nasce, 2001. p. 62.
(O autor é pastor presbiteriano e missionário da Junta de Missões Estrangeira da Igreja Presbiteriana do Brasil, e está
atuando como missionário em Moçambique)
14
W.G.T. Shedd, O Sucesso Certo do Evangelismo – extraído www.monergismo.com; capturado em 21/11/2003
7
A fé salvadora não é dom do evangelista ao seu ouvinte não salvo; "é dom de Deus" (Efésios
2:8). Nenhum evangelista jamais deu fé em Cristo a uma única alma. Ela é produzida nos
corações humanos pelo Espírito Santo, pois "ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor" senão
pelo Espírito Santo" (1 Coríntios 12:3). Nenhum pecador jamais foi convertido por um
evangelista; o autor da conversão é Deus15
IV. A Comissão por Jesus Cristo: Visto não haver outro caminho de salvação a não ser o
revelado no Evangelho e visto que, conforme o usual método de graça divinamente
estabelecido, a fé vem pelo ouvido que atende à Palavra de Deus, Cristo comissionou a sua
Igreja para ir por todo o mundo e ensinar a todas as nações. Todos os crentes, portanto, têm
por obrigação sustentar as ordenanças religiosas onde já estiverem estabelecidas e contribuir,
por meio de suas orações e ofertas e por seus esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por
todo o mundo. ( Ref. Jo.14:6; At.4:12; Rom.10:17; Mt.28:19,20; I Cor.4:2; II Cor.9:6,7,10. )
1.4. O CONCEITO DE MISSÕES EM JOÃO CALVINO.
Veremos um pouco mais adiante e de maneira mais detalhada, a visão que o reformador tinha de
missões. Por hora, basta apenas uma síntese do seu pensamento missionário. Uma crítica que
tem sido levantada à Calvino e à outros reformadores, é que os mesmos não possuíam uma
visão missionária.
Veja o que Gustav Warneck escreveu:
Nós perdemos com os Reformadores não apenas a ação missionária, mas mesmo a idéia de
missões... [em parte] porque perspectivas teológicas fundamentais deles evitaram que dessem a
suas atividades, e mesmo a seus pensamentos, uma direção missionária16
Missiólogos mais recentes, como Ralph D. Winter, perpetua o errro de Warneck. Ele afirma:
A despeito do fato de que os protestantes ganharam no fronte político, e, em grande medida,
alcançaram a capacidade de reformular sua própria tradição cristã, eles nem mesmo falaram sobre
missões, e aquele período terminou com a expansão católica européia nos sete mares, tanto política
como religiosa.17
Mas o que realmente querem estes críticos dizer quando afirmam desinteresse dos reformadores
por missões? Qual conceito tinham eles de missões e por qual padrão estavam julgado os
reformadores?
É certo que Calvino não escreveu, entre suas muitas obras teológicas, nenhum tratado sobre
missões, mas é certo também que ninguém pode afirmar que ele tenha escrito algo contra a idéia
de missões. O ponto que precisa ser ressaltado aqui é que se Calvino não escreveu
especificamente um tratado sobre missões, isso não significa dizer que ele não possuía visão
missionária.
Entre os Reformadores, nenhum tem falado com mais clareza do que João Calvino a respeito de
toda a questão do alcance da mensagem da fé cristã. Calvino apela repetidas vezes aos crentes a
mostrarem interesse por seu próximo descrente. No contexto da época (século XVI), descrentes
eram as pessoas simples do rebanho católico ou aquele que se livrara da dominação romana,
15
KUIPER, R.B.. Evangelização Teocêntrica, São Paulo, SP: Ed. PES, 1976 p.179
16
Gustav Warneck, History of Protestant Missions, trans. G. Robinson (Edinburgh: Oliphant Anderson & Ferrier,
1906), 9, citado em Fred H. Klooster, “Missions—The Heidelberg Catechism and Calvin,” Calvin Theological
Journal 7 (Nov. 1972): 182.
17
Ralph D. Winter, "The Kingdom Strikes Back: The Ten Epochs of Redemptive History," em Perspectives on the
World Christian Movement, eds. Ralph D. Winter e Steven C. Hawthorne (Pasadena: William Carey Library, 1981),
153. Minha tradução.
8
mas não aderira à Reforma. As admoestações de Calvino são aplicáveis a todas as situações em
que o crente se torna vizinho de um descrente. Em um sermão sobre 1 Timóteo 2.5,6, Segundo
comenta Forbes, Calvino declara: “Quando vemos homens destruindo-se, não tendo Deus sido
tão gracioso para juntá-los a nós pela fé do evangelho, devemos apiedar-nos deles e esforçar-
nos para trazê-los ao caminho reto.”18
Veja ainda a visão missionária de Calvino em suas palavras lembradas por Forbes:
Nosso Senhor Jesus Cristo foi feito um como nós, e sofreu a morte para que pudesse tornar-se
um advogado e mediador entre Deus e nós, e abrir um caminho pelo qual possamos chegar a
Deus. Aqueles que não se empenham em trazer seu próximo e descrentes ao caminho da
salvação mostram abertamente que não têm em conta a honra de Deus, e que tentam diminuir o
imenso poder de seu império, e estabelecem limites para que Ele não possa governar todo o
mundo, de igual modo obscurecem a virtude e morte de nosso Senhor Jesus Cristo e diminuem a
dignidade dada a Ele pelo Pai.19
Em um sermão baseado em I Timóteo 2.3-5, Calvino demonstra a preocupação que os cristãos
precisam ter com os descrentes. Conforme Forbes, Calvino assim afirma:
Portanto, podemos estar cada vez mais certos de que Deus nos aceita e fortalece dentre seus filhos,
se nos empenharmos em trazer aqueles que estão afastados dele. Confortemo-nos e tenhamos
coragem neste chamado: embora haja nestes tempos um grande desamparo, e embora pareçamos
ser miseráveis criaturas completamente arraigadas e condenadas, ainda assim devemos labutar
tanto quanto possível para atrair aqueles que estão afastados da salvação. E, acima de todas as
coisas, oremos a Deus por eles, esperando pacientemente que Ele se digne mostrar boa vontade
para com eles, assim como tem mostrado para conosco.20
Calvino ensinou com firmeza que a Salvação é dom de Deus somente para os seus eleitos. Não
obstante, isto não o impede de insistir para que os membros da igreja procurem trazer um
grande número de pessoas a Cristo. Parker, elucidando o pensamento de Calvino sobre a igreja,
registra a seguinte declaração de Calvino em um sermão sobre Isaías 53.12:
Se desejamos pertencer à igreja e ser reconhecidos como rebanho de Deus, devemos admitir que
isto ocorre porque Jesus Cristo é o nosso Redentor. Não receemos ir a Ele em grande número, e
cada um de nós traga seu próximo, considerando que Ele é suficiente para salvar a todos.21
Calvino entendia que os cristãos têm a grande responsabilidade de espalhar as Boas Novas do
Evangelho. Ele escreve: “porque é nossa obrigação proclamar a bondade de Deus para todas as
nações... a obra não pode ser escondida em um canto, mas proclamada em todos os lugares”22
.
Deus poderia ter escolhido outros meios, no entanto, ele escolheu “empregar a ação de homens”
para a pregação do Evangelho.23
II. CONCEITUANDO A EVANGELIZAÇÃO
No debate contemporâneo entre missão e evangelização, a maioria dos missiólogos
sustentam a visão que evangelização é um indispensável componente da missão da igreja.
Missão, dizem eles, inclui tudo o que a igreja é chamada por Deus para fazer no mundo visando
18
J. Forbe, The Mystery of Godliness and Other Sermons (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing House,
1950), 199.
19
Ibid., 200.
20
Ibid., 110.
21
T. H. L. Parker, Sermons on Isaiah’s Profecy of the Passion and Death of Christ (London, England: Lames Clarck
and Co. Ltd., 1956), 144.
22
Calvino, João. Comentário sobre Isaías 12:5, em Calvin's Commentaries, vol. 7, Isaías 1-32, 403.
23
Calvino, João. Comentário sobre Isaías 2:3, em Charles Chaney, “The Missionary Dynamic in the Theology of
John Calvin,” 28.
9
a manifestação de sua glória. Evangelização refere-se ao específico processo de espalhar as boas
novas acerca de Jesus Cristo como a salvação de Deus aos povos.24
O missiólogo J. D. Douglas em seu livro Let the Earth Hear His Voice apresenta-nos a
definição do pacto de Lausanne (1974) sobre evangelização:
Evangelizar é espalhar as boas novas que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e
ressuscitou da morte segundo as Escrituras, e que agora, ele concede perdão dos
pecados e o Dom do Espírito para todos que se arrependem e crêem. Portanto,
evangelização é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor,
com o propósito de persuadir as pessoas a vir a Ele pessoalmente e assim ser
reconciliado com Deus. Jesus continua ainda convidando a todos para seguí-lo, negar a
si mesmos, tomar a sua cruz e identificar a si mesmos com a comunidade dos remidos.
O resultado do evangelismo inclui obediência a Cristo, incorporação na vida da igreja, e
responsável serviço para o mundo.25
Orlando Costas, conhecido teólogo latino-americano, afirma:
Evangelizar é participar de uma ação transformadora, isto é, as boas-novas da salvação.
Neste sentido, a evangelização não é um conceito, mas sim uma tarefa dinâmica,
encarnada primeiro na vida e ação salvífica de Jesus Cristo. Portanto, ela não pode ser
reduzida a uma fórmula verbal. Evangelizar é reproduzir pelo poder do Espírito Santo a
salvação que foi revelada em Jesus Cristo. 26
John Stott, em sua obra The Biblical Basis of Evangelism, comenta:
O tema central dos evangelhos e das cartas apostólicas é a natureza e o significado de
Jesus Cristo. Ele é o Deus encarnado, o Messias esperado, o Senhor do universo.
Através dele Deus tem pessoalmente entrado na história e provido salvação27
III. OS MOTIVOS PARA MISSÕES
Roger Greenway nos ajuda a entender por que devemos fazer missões?28
A. Motivos errados:
Devemos admitir que sempre houve pessoas que ingressaram no trabalho do Senhor por
razões equivocadas. Até os missionários que têm os motivos corretos podem cometer erros. At
13.13, At 15.37-40 e 2Tm 4.10.
Podem existir motivos errados escondidos nas mentes dos mais sinceros missionários.
1. O desejo de ser admirdado e louvado por outros
2. A busca por “auto-realização”, sem levar em consideração o esvaziar-se a si
mesmo(Fp 2.5-7);
24
Bavinck não vê razões para diferenciar estes dois termos. (Cf. Evangelização teocêntrica, p. 5)
825
J. D. Douglas, Let the Earth Hear His Voice (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1974), 4.
26
Orlando Costas. Liberating News (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1989), p.
133 (Orlando E. Costas (1942-1987) nasceu em Porto Rico e faleceu nos Estados Unidos, vitimado por um câncer,
aos 45 anos de idade. Era pastor e teólogo batista. Graduou-se doutor em teologia e missiologia nos Estados Unidos.
Foi reitor e professor do Seminário Bíblico Latino-Americano de Costa Rica; fundou o Centro Evangélico Latino-
Americano de Estudos Pastorais (CELEP), em 1973, em San José, Costa Rica. Atuou como administrador da
faculdade do Eastern Baptist Theological Seminary, na Filadélfia, onde também foi professor de missiologia e diretor
de estudos hispânicos)
27
John Stott, The Biblical Basis of Evangelism (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1975), 65.
28
GREENWAY, Roger . Ide e Fazei Discípulos. São Paulo,SP: Ed. Cultura Cristã. 2001. p.30-34
10
3. A busca por aventura e excitação;
4. A ambição em expandir a glória e influência de uma igreja ou denominação em
particular, ou mesmo de um país;
5. A fuga das situações desagradáveis do lar;
6. A esperança de sucesso profissional após um curto período de serviço missionário.
7. A culpa e o anseio pela paz com Deus por meio do serviço missionário.
B. Motivos corretos
Os motivos corretos para missões são ensinados na Palavra de Deus e aplicados nos
corações dos crentes por meio do Espírito Santo.
1. O desejo de que Deus seja adorado e sua glória conhecida entre todos os povos da
terra: A glória de Deus diz respeito a tudo o que foi revelado sobre ele: seu nome, sua
santidade, seu poder, seu amor por meio de Jesus Cristo, sua misericórdia, sua grsaça e
sua justiça.
Entretanto, mais de três bilhões de pessoas no mundo não aodram ao verdadeiro Deus.
Este pensamento é que inspira os missionários! Eles sentem uma divina compulsão em
pregar o evangelho 1Co 9.16.
2. O desejo de obedecer a Deus por amor e gratidão, por meio do cumprimento da
Comissão de Cristo: “Ide fazei discípulos de todas as nações”. (Mt 28.19): O amor
genuíno por Deus produz obediência à sua Palavra cf.: Jo 14.15; A obediência cristã
toma forma e o povo de Deus é ungido com o Espírito Santo a servi-lo numa variedade
de ministérios 1Co 12.4,5; Ef 3.10.
3. O desejo ardente de usar todos os meios legítimos para salvar os perdidos e ganhar não-
crentes para a fé em Cristo: A paixão missionária pela glória de Deus é acompanhada
pela paixão pelas pessoas que, por ignorãncia e descrença, estão morrendo em seus
pecados.
4. A preocupação de que as igrejas cresçam e se nultipliquem e de que o reino de
Cristo seja estendido por meio de palavras e ações que proclamem a compaixõ e a
justiça de Cristo a um mundo de sofrimento e injustiça.
11
II. O PROPÓSITO DA MISSÃO:
A GLÓRIA DE DEUS
______________________________
“Deus é o Senhor soberano das missões”
John Eliot (Missionário entre os índios americanos -1690)
Introdução
Tendo já conceituado a Missão, precisamos agora tratar da questão sobre a a prioridade ou
principal missão da igreja.29
Qual é a Missão principal e última da Igreja? Muitos missiólogos
afirmam que a prioridade última da igreja é evangelizar e fazer missões ao redor do mundo30
.
Quem não ouviu a famosa frase atribuída a Alexandre Duff: “A Igreja que não evangeliza não é
evangélica”31
?. Dizer que a tarefa principal da igreja é evangelizar não encontra respaldo nas
Escrituras e óbviamente, também não encontra eco na teologia reformada de missões. Se por
“prioridade” queremos dizer “o alvo último” da igreja, nossa resposta deve ser “não”. Como
reformados entendemos que a obra missionária não é o alvo último da igreja.
Martyn Lloyd-Jones assim se expressa:
O objetivo supremo desta obra é glorificar a Deus. Esse é o ponto central. Esse ;é o objetivo
que deve dominar e sobrepujar todos os demais. O primeiro objetivo da pregação do
evangelho não é salvar almas; É GLORIFICAR A DEUS. Não se tolerará que nenhuma
outra coisa, por melhor que seja nem por mais nobre, usurpe esse primeiro lugar. 32
Neste ponto de nosso curso de missiologia, vamos ver á luz da Palavra de Deus, que é o culto a
Deus e não a obra missionária, deve ser a preocupação principal da igreja do Senhor. Conforme
vemos nos argumentos de John Piper, “o desafio missionário existe e persiste porque o culto
pleno a Deus ainda não existe”.33
O culto é o alvo último da igreja. O culto a Deus deve ter
prioridade na igreja, não a obra missionária, porque Deus é último, e não o ser humano.
Quando esta era terminar e representantes de toda raça, tribo e nação se dobrarem diante
do Cordeiro de Deus, a obra missionária não mais exisitirá na igreja. Mas existirá o louvor
e a adoração. Permanecerá na igreja o culto. ( Paixão de Deus por sua própria glória :
Isaías 48:9-11 ). O homem natural busca a sua própria glória, mas Deus, a sua.34
A adoração é o combustível e a meta das missões. É a meta das missões porque nelas
simplesmente procuramos levar as nações ao júbilo inflamado da glória de Deus. O alvo
das missões é a alegria dos povos na grandiosidade de Deus. “Reina o Senhor. Regozije-se
a terra, alegrem-se as muitas ilhas” (Sl 97.1). “Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os
povos todos. Alegrem-se e exultem as gentes” (Sl 67.3-4). Quando a chama da adoração
arder com o calor da verdadeira excelência de Deus, a luz das missões brilhará para os
29
Este capítulo faz parte de um artigo do Dr. C. Timóteo Carriker, adaptado por mim para ser utilizado no Curso de
Missiologia no JMC. As idéias principais que se seguem são grandemente fruto da leitura recente que o Dr. Timóteo
fez do livro de John Piper, Alegrem-se os Povos! A Supremacia de Deus em Missões. (Livro este que está sendo
resenhado pelos alunos do curso de missiologia doJMC)
30
Apenas para citar um: Charles Van Engen in: Povo Missionário, Povo de Deus, Edições Vida Nova, São Paulo,
1996
31
Cf. www.editoraaleluia.com.br/estudos_biblicos/estudos_1-50/est16.htm
32
Texto extraido do site: http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/ . Acesso em 12/11/2003
33
PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã:
2001 ) p. 13
34
Idem, p.13
12
povos mais remotos da terra.35
( Ef 1:4-6; cf 12-14; Sl 106:7,8; Rm 9:17; Ex. 14:4,17,18;
Ez 36:22,23,32)36
Por mais que queiramos afirmar a prioridade da obra missionária, creio que uma análise honesta
da revelação bíblica leve à conclusão que o culto é o fim último da igreja e o desejo máximo de
Deus para toda a humanidade. A primeira pergunta do Catecismo de Westminster diz: “Qual é
o fim principal do ser humano?” E a resposta acertada é: “O fim principal do ser humano é
glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre.” É dentro desta perspectiva reformada e bíblica
maior da prioridade última da glória de Deus que nossa reflexão a respeito da obra missionária
se encontra.
Missões começam e terminam na adoração. Há alguns pontos a serem destacados com
relação a isso:
I. O Amor de Deus por Ele mesmo é a Base para o nosso amor.
A ordem bíblica da evangelização dos povos, precisa ser vista no contexto do deleite
divino. Não podemos nos esquecer que o motivo por trás de todas as ações deve
objetivar agradar a Deus (Sl 115:3; Is. 48:9-11). Deus tem prazer nele mesmo. Esta
última afirmação por nos soar um tanto estranha, mas vamos buscar entender o que isso
significa. Deus nos ensina que nosso objetivo supremo deve ser amá-lo e glorificá-lo
para sempre, como, então, isso poderia ser diferente para ele mesmo? O fundamento
para nosso deleite em ver Deus glorificado é seu próprio deleite em ser glorificado.
Deus é central e supremo em todas as suas afeições. Não há rivais para a soberania de
Deus em seu próprio coração. Deus não é um idólatra.37
Isso tudo pode nos parecer um tanto confuso, talvez porque nunca tenhamos parado para
pensar desse modo. O coração mais apaixonado por Deus em todo o universo é o
coração do próprio Deus. Essa verdade sela a convicção de que adoração é o
combustível e o objetivo de missões. O amor de Deus por si mesmo é justo, pois ele é
justo, é reto, é amor. Podemos ver de modo claro essa paixão da qual estamos falando
em Isaías 48.9-11:
Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me
conterei para contigo, para que te não venha a exterminar. Eis que te acrisolei, mas
disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por
amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha
glória, não a dou a outrem.
As expressões desse texto deixam claro que Deus agiu “por amor do seu nome”, por
amor de si mesmo ele não exterminou o povo de Israel. É isso, também, o que
demonstra uma série de outros textos. Deus escolheu seu povo para sua glória (Ef 1.4-
6); nos criou para sua glória (Is 43.6-7); libertou Israel do Egito para sua glória (Sl
106.7-8); Jesus disse que responde às orações para que o nome de Deus seja glorificado
(Jo 14.13); Jesus nos acolheu para a glória de Deus (Rm 15.7); o plano de Deus é encher
a terra com o conhecimento da glória do Senhor (Hc 2.14). Esses e tantos outros textos
da palavra de Deus não deixam dúvida de que Deus ama a si mesmo, e esse deve ser
também o nosso objetivo e nossa motivação para missões. Por esse motivo é que...
35
Idem, p. 13
36
Idem, p.14
37
Piper, op cit., p. 17
13
II. A Centralidade de Deus na Vida da Igreja
Quando as pessoas não estão maravilhadas pela grandiosidade de Deus, como poderão
ser enviadas para proclamar a mensagem: “grande é o SENHOR e mui digno de ser
louvado, temível mais que todos os deuses” (Sl 96.4)? É essencial que em missões haja
centralidade de Deus na vida da igreja.
A paixão por Deus no culto precede a oferta de Deus na pregação. Não podemos pregar
com convicção aquilo que não estimamos com paixão. “Quando a chama do culto
queima com o calor da verdadeira dignidade de Deus, a luz da obra missionária brilhará
até os povos mais distantes da terra”38
Quando a paixão por Deus está fraca, o zelo por
missões certamente será fraco também. As igrejas que não exaltam a majestade e a
beleza de Deus dificilmente poderão acender um desejo afervescente para “anunciar
entre as nações a sua glória” (Salmo 96.3). O zelo pela glória de Deus no culto é a
grande força motivadora para a obra missionária.
John Piper, cita o seguinte pronunciamento de Andrew Murray há mais que cem anos:
Enquanto buscamos a Deus sobre por que, com tantos milhões de cristãos, o verdadeiro exército
de Deus que está combatendo os exércitos da escuridão é tão pequeno, a única resposta é C falta
de coragem e entusiasmo. O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando. E isto é porque há tão
pouco entusiasmo pelo Rei.
Ninguém poderá se dispor à causa missionária se não experimentar a magnificiência de
Cristo (Apocalipse 15.3-4; cf. Salmos 9.11; 18.49; 45.17; 57.9; 96.10; 105.1; 108.3; e
Isaías: 12.4; 49.6; 55.5)
Quero acrescentar ao que Piper e Carriker já disseram que, Calvino também tem este
foco em sua teologia de missões. Para ele tudo na vida deve ser vivido para a glória de
Deus.39
Para Calvino, o fator que deveria motivar as missões mundiais era a glória de
Deus.
Charles Chaney escreve sobre Calvino:
o fato de que a glória de Deus era o motivo primordial nas primeiras missões
protestantes e isto ter se tornado, mais tarde, uma parte vital do pensamento e
atividade missionárias, pode ser traçado diretamente em direção à teologia de
Calvino.40
Precisamos nos voltar para o Todo-Poderoso e buscar a sua glorificação em primeiro
lugar. Deus deve estar no centro de toda e qualquer atividade da igreja. Missões não são
o primeiro e o último, Deus o é. Essa verdade é a vida da inspiração e da perseverança
missionária. O missionário William Carey, chamado de “Pai das missões modernas”, foi
enviado para a Índia em 1793 e expressou assim essa conexão:
38
PIPER, John. Op Cit., p.12
39
J. van den Berg, “Calvin's Missionary Message: Some Remarks About the Relation Between Calvinism and
Missions.” Evangelical Quarterly 22 (Jul. 1950): 177.
40
Charles Chaney, “The Missionary Dynamic in the Theology of John Calvin,” Reformed Review 17 (Mar. 1964):
36-37. See also Samuel Zwemer, “Calvinism and the Missionary Enterprise,” Theology Today 7 (Jul. 1950): 211.
14
Quando eu deixei a Inglaterra minha esperança na conversão da Índia era muito forte,
mas, em meio a tantos obstáculos, ela poderia morrer a não ser que fosse sustentada por
Deus: Eu tenho a Deus e sua palavra é verdadeira. Apesar de as superstições dos pagãos
serem milhares de vezes mais fortes do que eles e o exemplo dos europeus milhares de
vezes pior; embora eu tenha sido abandonado e perseguido por todos, ainda assim esta é
minha Fé, firmada na certeza da palavra, que se elevará acima de todos os obstáculos e
superará cada provação. A causa de Deus irá triunfar41
William Carey e milhares como ele têm sido movidos pela visão de um grande e
triunfante Deus. Isso significa ter Deus no centro da vida. A centralidade de Deus deve
ser evidente na vida da igreja e isso é motivação para realização de missões.
III. A glorificação de Deus é o alvo de missões
O culto é o alvo da obra missionária simplesmente porque nosso propósito é levar as nações a
regozijarem-se em Deus e glorificá-Lo acima de tudo. O alvo da obra missionária é a alegria dos
povos na grandeza de Deus (Salmo 97.1; 67.3-4; cf. 47.1; 66.1; 72. 11, 17; 86.9; 102.15; 117.1;
e Isaías 25.6-9; 52.15; 56.7; 66.18-19.
Penso que o culto a Deus como o alvo da obra missionária já se tornou patente como decorrente
de toda a nossa reflexão até este momento. Mas há um aspecto desta verdade que precisamos
explorar mais. É o seguinte: O culto a Deus como alvo da obra missionária ajuda a entender a
própria definição da obra missionária. Pois a obra missionária enfatiza a prioridade de alcançar
povos, ou etnias não alcançadas. Isto se evidencia na repetida descrição bíblica da tarefa
missionária em termos de etnias (Mateus 24.14; 28.18-20; Romanos 15.19-21).
Na Bíblia, a frase, pa,nta ta. e;qnh significa “todas as nações” ou “todas as etnias”. A palavra
na forma singular,εθνοσ de fato, sempre se refere a coletividade dum povo ou duma nação.
Nunca se refere a indivíduos gentílicos. O mesmo é geralmente verdade em relação a εεεεθθθθνοσνοσνοσνοσ,,,, na
forma plural. A frase pa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnh quase sempre denota esta referência coletiva na Bíblia,
também. Que a estratégia bíblica seja de alcançar especialmente as etnias não alcançadas é
claro em Romanos 15.19-21. Para muitos cristãos, talvez até a maioria, esta estratégia não
parece muito lógica. Antes alcançar todos os indivíduos ao nosso alcance e semelhantes
culturalmente a nós, que procurar alcançar representantes de etnias que podem ser geografica ou
culturalmente distantes. Parece uma questão de mordomia de esforços.42
Conclusão: A obra missionária começa e termina com o culto prestado à glória de Deus.
Começa, porque somente o culto genuíno e profundo pode motivar adequadamente a igreja para
assumir sua vocação missionária. E termina, porque o alvo último e o fim principal de toda
humanidade é glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre. E na obra missionária, procuramos levar
as nações à mesma alegria e exaltação que carateriza o nosso culto a Deus. Portanto, quando
afirmamos que a obra missionária é a prioridade penúltima na igreja não estamos diminuindo a
sua importância. Estamos meramente fazendo o que devemos, maximizando a tarefa de
glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre. E assim, enxergamos a verdadeira importância da obra
missionária, certamente acima de outras atividades na igreja, isto é estender e diversificar, e
assim intensificar o culto que glorifica e goza Deus entre todas as nações da terra (Apocalipse
5.9-10; 7.9-10).
41
Citado em Alegre-se os Povos de John Piper, Editora Cultura Cristã, a ser lançado.
42
PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã:
2001 ) p. 184
15
III. A NATUREZA DA TAREFA
MISSIONÁRIA
_________________________
“Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem” Rm 15.11
Qual é a tarefa das missões cristãs?43
Se toda a raça humana está sob condenação por causa do
pecado e excluídas da vida eterna (Ef 2.2-3, 12; 4.17; 5.6) e se invocar a Jesus é sua única
esperança para a comunhão eterna e jubilosa com Deus, então podemos entender que se
amamos estas pessoas, devemos fazer missões? Amor pelos perdidos é uma elevada e
sublime motivação para a obra missionária. Sem isso perdemos a doce humildade de
repartir um tesouro que recebemos de graça. Mas a compaixão pelas pessoas não pode
ser separada do amor a Deus. John Piper nos fornece um motivo adicional do porquê o
amor aos perdidos não pode ser o nosso combustível em missões. Ele afirma que é
impossível amar verdadeiramente aos “perdidos”, pois não conseguimos cultivar um
amor profundo por alguém que conhecemos somente por meio de fotos ou quando
colocados, de um modo mais geral, como uma nação ou um povo, ou algo tão vago
como “todos os perdidos”.44
Vejamos então o que a Escritura nos ensina sobre a natureza da obra missionária:
1) Territórios Não-Alcançados ou Povos Não-Alcançados ?
Desde 197445
, a tarefa das missões tem sido focalizada crescentemente na evangelização
de povos não-alcançados46
em oposição à evangelização de territórios não-alcançados.
Naquele ano, no Congresso de Evangelização Mundial de Lausanne, Ralph Winter
acusou o empreendimento missionário ocidental do que ele chamou de “cegueira dos
povos”. Desde aquele tempo, ele e outros têm pressionado incessantemente a
focalização do “grupo de pessoas” no planejamento da maioria das igrejas e
organizações similares voltadas para as missões. A “verdade destrutiva” que ele revelou
em Lausanne foi esta: apesar de o evangelho ter chegado a todos os países do mundo,
quatro de cada cinco não-cristãos estão ainda excluídos da pregação do evangelho
devido não a barreiras geográficas, mas a barreiras culturais e lingüísticas.
Por que esse fato não mais é amplamente conhecido? Receio que toda nossa exultação
pelo fato de todos os países terem sido transpostos permitiu que muitos supusessem
que todas as culturas também foram alcançadas. Esse mal-entendido é uma doença tão
disseminada que merece um nome especial. Vamos chamá-la “cegueira dos povos”,
isto é, cegueira para a existência de povos separados dentro de países – uma cegueira,
posso acrescentar, que parece mais predominante nos Estados Unidos e entre os
missionários norte-americanos do que em qualquer outro47
43
O presente capítulo foi adaptado da obra de John Piper - Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em
Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã: 2001 ) pp. 177 a 230.
44
Piper, Op Cit., p. 178
45
Neste ano foi realizado o Congresso Mundial de Evangelização em Lausane na Suíça.
46
A definição de “povos não-alcançados” é: grupos de pessoas que não possuem entre si um movimento cristão
atuante e/ou números suficientes de cristãos com recursos adequados para evangelizar o restante do grupo ( Winter
em Missões Transculturais – Uma Perspectiva Estratégica. São Paulo, SP Ed Mundo Cristão. 1987 p.712
47
WINTER, RALPH. The New Macedônia: A Revolutinary New Era in Mission Begins, em Ralph Winter e Steven
Hawthorne, eds.; Perspectives on the World Missions Movement ( Pasadena: William Carey Library, 1981, p. 302
16
A mensagem de Winter serviu como um alerta para a igreja de Cristo, reorientando seu
pensamento para que as missões fossem vistas como a tarefa de evangelização dos povos não-
alcançados e não meramente como a tarefa de evangelização de mais territórios.
Extraordinariamente, nos 15 anos seguintes, o empreendimento missionário respondeu a esse
chamado. Em 1989, Winter foi capaz de escrever: “Agora que o conceito de Povos Não-
Alcançados foi aceito amplamente, é possível elaborar planos imediatamente... com muito
maior confiança e precisão”.48
Definição de Povos não-alcançados:
O chamado de Deus para missões não pode ser definido em termos de atingir outras culturas
para aumentar o número de indivíduos salvos. Antes, a vontade de Deus para missões é que
cada grupo de pessoas seja alcançado com o testemunho de Cristo, e que as pessoas sejam
chamadas, em seu nome, de todas as nações. Assim é demonstrada a soberania de Deus entre
todas as nações. Somos comissionados para cumprir essa tarefa.
Se a tarefa de missões é alcançar todos os grupos de pessoas não-alcançados do mundo,
necessitamos ter idéia do que significa “alcançado”, de modo que as pessoas chamadas para a
tarefa missionária da igreja conheçam quais os grupos de pessoas a que devem se dirigir e quais
deixar. Paulo deve ter tido alguma idéia do que significava “alcançado”, quando disse em
Romanos 15.23: “ ...não tendo já campo de atividade nestas regiões”. Ele deve ter entendido o
que significava completar a tarefa missionária, quando afirmou em Romanos 15.19: “desde
Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo”. Ele sabia
que sua obra estava concluída naquela região. Eis por que ele dirigiu-se à Espanha. O Encontro
dos Povos Não-Alcançados de 1982, a que nos referimos anteriormente, definiu “não-
alcançados” desta forma: Um grupo de pessoas não-alcançadas é “um grupo de pessoas
dentro do qual não há comunidade nativa de crentes cristãos capazes de evangelizá-los”.
Assim, um grupo seria alcançado quando os esforços da missão tiverem estabelecido uma igreja
nativa que tenha força e recurso para evangelizar o restante do grupo. (Ap 5:9; 7:9; 10:11;
11:9; 13:7; 14:6; 17:15)
fulh/j: descendentes físicos
glw,sshj: comunicação idiomática49
.
laou/: grupo etnico50
. 24 mil grupos étnicos – 8 mil ainda não alcançados.
e;qnouj: entidade política, fronteiras geográficas
48
RALPH WINTER, Unreached Peoples: Recent Developments in the Concept, Missions Frontiers, Agosto-
setembro, 1989, p. 18
49 Ronaldo Lidório diz que convivemos hoje com 6528 línguas vivas. 336 possuem a Bíblia completa, 928 o Novo
Testamento completo e 918 grandes porções bíblicas, ou seja a Palavra está expressivamente presente em 2212
línguas. Deixa-nos com mais de 4.000 línguas, minoritárias e faladas por apenas 6% da população mundial, sem nada
da Palavra de Deus. Entretanto tudo isto acontece em um mundo onde 1 bilhão e meio de pessoas, segundo a ONU,
não sabe ler ou escrever. Não poderiam ler a Palavra mesmo se a tivessem em sua própria língua
http://www.monergismo.com/textos/missoes/restaurando_lidorio.htm ). Na Índia com 940 milhões de habitantes tem
17 línguas oficiais e mais de 400 castas relacionadas. Ronaldo Lidório afirma que só em Gana, África entre os
Konkombas há 23 dialetos diferentes. (Cf. Lidório em O Desafio Continua, p. 43)
50
Segundo a Word Mission International há no mundo hoje 2.227 povos que desconhecem totalmente o evangelho de
Jesus em suas vidas.Mas não apenas esses; há outros 4000 povos que possuem igreja, testemunhos, alguma
conversão, mas que não possuem uma igreja forte suficiente para comunicar o evangelho ao restante daquela própria
etnia; temos perante nós um desafio étnico. Dentre as 258 tribos indígenas brasileiras, eu falo isso com muita
vergonha e constrangimento em meu coração, há hoje 103 tribos em nosso país, na nossa circunferência nacional,
totalmente não alcançadas pelo evangelho de Jesus e sem presença missionária. E 40 destas tribos estão com as portas
abertas para alguém que lhes fale de Jesus, mas não há. Estão na espera de uma igreja que, muitas vezes, nunca envia
ou ora por um missionário. (cf. http://www.mhorizontes.org.br/Docs/transparencias/11-tarefainacabada.pdf)
17
II. A Esperança do Antigo Testamento: Todas as Famílias Serão Abençoadas
Essa é uma promessa presente no Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento
está repleto de promessas e expectativas de que Deus será, um dia, adorado por nações
de todo o mundo. Fundamental para a visão missionária do Novo Testamento foi a
promessa que Deus fez a Abraão em Gênesis 12.1-3:
Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu
pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei urna grande nação, e te abençoarei,
e te engrandecerei o nome. Sê tu urna bênção! Abençoarei os que te abençoarem e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da
terra.
Essa promessa de benção universal às “famílias” da terra51
é essencialmente repetida em
Gênesis 18.18; 22.18; 26.4 e 28.14. Em 12.3 e 28.14 a frase hebraica para “todas as famílias”
(kol mishpahot) é traduzida no grego do Antigo Testamento por pasai hai phulai. A palavra
phulai significa “tribos” em muitos contextos. Porém mishpaha pode ser, e usualmente é, menor
que uma tribo. Por exemplo, quando Acã pecou, Israel é investigado em ordem decrescente de
tamanho: primeiro por tribo, em seguida por mishpaha (família) e por fim por pessoa (Js 7.14).
Assim, a bênção de Abraão decorre do propósito divino de alcançar eqüitativamente pequenos
agrupamentos de pessoas. Não precisamos definir esses grupos com precisão para sentir o
impacto dessa promessa.
A palavra hebraica para o termo "família" dá a idéia de uma tenda, um grupo não de
muitas pessoas. Podemos, por meio disso, afirmar que a promessa de alcançar cada
tribo, povo ou nação já está presente no Antigo Testamento. O evangelho não é apenas
para as grandes nações, mas para os pequenos grupos de pessoas também, como as
tribos. Isso deixa claro que nosso empenho evangelístico deve ser muito maior, pois
temos o mandamento de alcançar não somente as nações, mas os pequenos grupos que
as formam.
O que podemos concluir de Gênesis 12.3 e de seu uso no Novo Testamento é que o
propósito de Deus para o mundo é a bênção de Abraão, ou seja, que a salvação
alcançada por Jesus Cristo, a semente de Abraão, possa alcançar todos os grupos étnicos
do mundo. Isso acontecerá quando as pessoas de cada grupo colocarem sua fé em Jesus
Cristo e tornarem-se "filhas de Abraão" e "herdeiros da promessa" (Gl 3.7,29).
Há vários textos que expressam a esperança de que todas as nações louvem ao Senhor:
"Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto; para que
se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação. Louvem-te os povos, ó
Deus; louvem-te os povos todos. Alegrem-se e exultem as gentes, pois julgas os povos com
equidade e guias na terra as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos" (Sl
67.1-5).
"E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam" (Sl 72.11).
"Subsista para sempre o seu nome e prospere enquanto resplandecer o sol; nele sejam
abençoados todos os homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado" (Sl 72.17).
Há outros textos que expressam a esperança das nações, anunciando os planos do salmista em
fazer sua parte para tornar a grandeza de Deus conhecida entre elas:
51
Ver a exposição de Gn. 12 feita por Gerard Van Groningen. In: Revelação Messiânica no Velho Testamento.
Campinas, SP: Ed. Luz Para o Caminho. 1995 p.123-132
18
“Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, ó SENHOR, e cantarei louvores ao teu nome” (Sl 18.49).
"Render-te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as nações" (Sl 57.9).
"Render-te-ei graças entre os povos, ó SENHOR! Cantar-te-ei louvores entre as nações" (Sl
108.3).
Esses textos deixam clara a responsabilidade do povo de Deus em proclamar a sua
glória entre as nações. O povo de Deus deve ser canal de bênção para todas as
famílias.52
III. A Prioridade de Paulo por Povos Não-Alcançados.
Isso é notavelmente confirmado em Romanos 15. Aqui se torna evidente que Paulo via o seu
chamado especificamente missionário para alcançar cada vez mais grupos de pessoas e não
apenas mais e mais indivíduos gentios.
Em Romanos 15.8-9 Paulo afirma o duplo propósito para a vinda de Cristo: “Digo, pois, que
Cristo foi constituído ministro da circuncisão [isto é, tornou-se encarnado como um judeu], em
prol da verdade de Deu, para [1] confirmar as promessas feitas aos nossos pais; e para que [2]
os gentios (ta ethne) glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia”. Portanto, o primeiro
propósito para a vinda de Cristo foi provar que Deus é verdadeiro e fiel em manter, por
exemplo, as promessas feitas a Abraão. E o segundo, foi para que as nações pudessem glorificar
a Deus por sua misericórdia.
Esses dois propósitos sobrepõem-se, uma vez que, claramente, uma das promessas feitas aos
patriarcas foi que a bênção de Abraão viria a “todas as famílias da terra”. Isso está em perfeita
harmonia com o que vimos na esperança do Antigo Testamento. Israel é abençoado para que as
nações possam ser abençoadas (Sl 67). De igual modo, Cristo vem a Israel para que as nações
possam receber misericórdia e dar glória a Deus.
IV. A Visão de João sobre a Tarefa Missionária.
A visão da tarefa missionária nos escritos do apóstolo João confirma que a percepção de Paulo
sobre a esperança do Antigo Testamento de alcançar todos os povos não era única entre os
apóstolos. O que transparece do Apocalipse e do Evangelho de João é uma visão que admite a
tarefa missionária principal de alcançar grupos de pessoas, não apenas indivíduos gentios.
O texto decisivo é Apocalipse 5.8-10. João teve um vislumbre do clímax da redenção com a
adoração de pessoas redimidas diante do trono de Deus. A composição daquele grupo é
essencial.
Os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos... entoavam novo cântico, dizendo: “Digno
és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste
para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os
constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”.
A visão missionária por trás dessa cena é que a tarefa da igreja é reunir os redimidos de todos os
povos, língua, tribos e nações (fulh/j kai. glw,sshj kai. laou/ kai. e;qnouj ). Todos os povos
devem ser alcançados porque Deus designou pessoas a crerem no evangelho, as quais ele
redimiu pela morte de seu Filho. O desígnio da redenção prescreve o desígnio da estratégia da
missão. E o desígnio da redenção ( a redenção de Cristo, versículo 9) é universal, pois se
estende a todos os povos, e definitivo, uma vez que efetivamente redime alguns de cada um
52
É esclarecedor o estudo exegético feito por Piper com u uso Singular e Plural de Ethnos no Novo Testamento ( ver
Piper pp. 85-188 ) e o Uso de Pantha Ta Ethne ( ver Piper pp. 188 a 191 )
19
desses povos. Portanto, a tarefa missionária é reunir os redimidos de todos os povos por meio da
pregação do evangelho. ( João 10:16; 11;51,52, Ap 5:9 )
V. Uma Casa de Oração para Todas as Nações.
Outro indicador do modo como Jesus imaginava os propósitos missionários universais de Deus
vem de Marcos 11.17. Quando Jesus limpa o templo, ele cita Isaías 56.7:
Não está escrito: “A minha casa será chamada cada de oração para todas as nações (pa/sin toi/jpa/sin toi/jpa/sin toi/jpa/sin toi/j
e;qnesine;qnesine;qnesine;qnesin)”?
A razão disso ser importante para nós é que ela mostra Jesus buscando no Antigo Testamento
(exatamente como ele faz em Lucas 24.45-47) para interpretar os propósitos universais de
Deus. Ele cita Isaías 56.7, que, em hebraico, diz explicitamente: “A minha casa será chamada
casa de oração para todos os povos ( kol ha’ ammim).
“Assim está escrito” no VT - Sl 22:27 cf. At 1:8; Lc 24:47
O significado de grupo de pessoas é inconfundível. A posição de Isaías não é que todo indivíduo
gentio tinha o direito de permanecer na presença de Deus, mas que haja convertidos de “todos
os povos” que entrarão no templo para adorar. O fato de Jesus estar familiarizado com essa
esperança do Antigo Testamento e ter baseado suas expectativas universais referindo-se a ela
(Mc 11.17; Lc 24.45-47), sugere que devemos interpretar sua “Grande Comissão” nesta mesma
direção – a mesma que encontramos nos escritos de Paulo e João.
VI. Como a Diversidade Magnífica a Glória de Deus.
O grande objetivo de Deus é sustentar e demonstrar a glória de seu nome para o regozijo
de seu povo entre todas as nações. A questão agora é: "Por que Deus mantém o objetivo
de mostrar sua glória por meio da obra missionária entre todas as pessoas do mundo.
Corno o objetivo missionário serve melhor ao propósito de Deus?" Refletindo
bib1icamente sobre o assunto, quatro respostas emergem:
1. Primeiro, há uma beleza e poder no louvor que vem da unidade na diversidade,
que é maior do que aquele vindo da unidade exclusiva. O Salmo 96.3-4 conecta a evangelização
das pessoas com a qualidade de louvor de que Deus é merecedor. “Anunciai entre as nações a
sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas. Porque grande é o Senhor e muito digno de
ser louvado, temível mais que todos os deuses”. Observe a palavra “porque”. A grandeza
extraordinária do louvor que o Senhor deve receber é a base e o ímpeto da nossa missão.
2. segundo, a fama, grandeza e valor de um objeto de beleza aumenta em proporção à
diversidade daqueles que reconhecem sua beleza. Se uma obra de arte é considerada excelente
por um grupo de pessoas pequeno e de mesma opinião e por ninguém mais, a arte com toda
certeza não é verdadeiramente grande. Suas qualidades são tais que não alcançam as
profundezas universais de nossos corações, mas apenas as tendências provinciais. Porém, se
uma obra de arte continua ganhando cada vez mais admiradores, não somente através de
culturas mas também de décadas e séculos, então sua grandeza é irresistivelmente manifesta.
Assim, quando Paulo diz: “Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o
louvem” (Rm 15.11), ele está expondo que há alguma coisa acerca de Deus que é tão
universalmente digna de louvor, tão profundamente bela, tão compreensivelmente valiosa e tão
profundamente satisfatória que ele encontrará admiradores apaixonados em todo grupo diverso
de pessoas no mundo. A sua verdadeira grandeza será manifesta na amplitude da diversidade
daqueles que percebem e apreciam a sua beleza. Sua excelência será mostrada para ser mais alta
e mais profunda que as preferências limitadas que nos fazem felizes a maior parte do tempo.
20
Seu apelo será para as mais profundas, mais elevadas e mais amplas capacidades da alma
humana. Portanto, a diversidade da fonte de admiração testificará a sua incomparável glória.
3. Terceiro, a força, a sabedoria e amor de um líder são magnificados em proporção à
diversidade de pessoas que ele pode inspirar para segui-lo com alegria. Se você pode liderar
somente um grupo pequeno e uniforme de pessoas, suas qualidades de liderança não são tão
grandes como as que teria se pudesse conquistar seguidores de um grande grupo de pessoas
muito diferentes.
O entendimento de Paulo do que está acontecendo em sua obra missionária entre as
nações é que Cristo está demonstrando sua grandeza, conquistando obediência de todos os
povos do mundo: “Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que
Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras”
magnificada à medida que cada vez mais pessoas diferentes decidem seguir a cristo. É a
grandeza de Cristo. Ele está mostrando-se superior a todos os outros líderes.
4. Por focalizar todos os grupos de pessoas no mundo, Deus eliminou o orgulho
etnocêntrico e recolocou todos os povos sob sua livre graça, em vez de qualquer característica
que possam ter.
Conclusão: O objetivo de Deus em toda a história é sustentar e demonstrar sua glória
para o regozijo dos redimidos de cada tribo, povo, língua e nação. Seu objetivo é a
alegria de seu povo, porque “Deus é mais glorificado em nós quando nós estamos mais
satisfeitos nele”. A maior boa-nova em todo o mundo é que o objetivo de Deus é ser
glorificado, e o objetivo do homem estar satisfeito não são probabilidades, mas verdades
da Palavra de Deus.
A igreja deve engajar-se com o Senhor da glória em sua causa. É nosso grande
privilégio alcançar com ele, no maior movimento da história, a reunião dos eleitos "de
toda tribo, língua, povo e nação" até que se complete o número dos eleitos e todo Israel
seja salvo, e o Filho do homem desça com poder e grande glória, como Rei dos reis e
Senhor dos senhores, e a terra esteja cheia de sua glória, assim como as águas cobrem o
mar para sempre e sempre. Então, a soberania de Cristo será manifesta a todos, e ele
entregará o Reino a Deus, o Pai, e Deus será tudo em todos.
21
IV. A NECESSIDADE DAS MISSÕES
____________________________
Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe
nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos. At 4:12
Questão para debate: Há pessoas devotas em outras religiões, as quais coinfiam humildemente
na graça de Deus que conhecem por meio da Revelação geral (Rm 1:19-21) e assim recebem a
salvação eterna? As Pessoas Devem Ouvir o Evangelho de Jesus Cristo para Serem Salvas?53
Quem nunca fez uma destas perguntas: “os que jamais ouviram o Evangelho estão perdidos?”;
ou então “os índios vão ser salvos?”. Em nossas classes de escolas dominicais, ou nas
conversas sobre evangelismo e missões, sempre surgem dúvidas como essas. Normalmente
nossas respostas são muito evasivas, se é que temos alguma. Não refletimos sequer nas
implicações que elas possam vir a ter. Teólogos, pastores e seminaristas fazem a mesma
indagação e procuram investigar o assunto sob uma perspectiva bíblica, teológica e filosófica.
Três pontos de vista sobre o destino dos não-evangelizados54
.
1) Inclusivismo: Alguns teólogos acreditam que mesmo aquelas pessoas que nunca
ouviram o evangelho podem ser salvas. Se, através da criação – revelação geral –
vierem a crer em Deus, ainda que não conheçam a Jesus, serão redimidas de seus
pecados. Dizem que qualquer religião pode ser um instrumento útil para aproximar a
pessoa de Deus. Isso é chamado de “inclusivismo”, porque Deus inclui todos em sua
graça, antes de excluí-las no julgamento. Mas a fundamentação bíblica desse ponto de
vista é muito questionável.
Este posicionamento é fruto da ambiência pós-moderna e do mundo globalizado. Ricardo
Barbosa explica este ponto:
Vivemos o risco de um novo modelo de intolerância. Afirmar a centralidade da obra de Cristo já
pode ser visto como preconceito.Uma das contradições da cultura pós-moderna e globalizada é
sua capacidade de romper fronteiras e preconceitos, tornando-a mais inclusiva e, ao mesmo
tempo, criar outras fronteiras e preconceitos, tornando-a extremamente exclusiva e violenta. Nas
últimas décadas, a civilização ocidental tem feito um enorme esforço para diminuir as distâncias
entre as raças, romper com os preconceitos e a discriminação sociais e criar uma sociedade
menos violenta e mais aberta à inclusão das minorias55
O que o chamado inclusivismo defende é que uma tolerância perigosa para o cristianismo.
Como bem afirmou James Houston, o que ele chamou de uma nova forma de fundamentalismo,
o da “democracia liberal”, que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que
contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã. Esta tolerância oriunda do
cenário globalizado, também agora está questionando a questão da centralidade da morte e
ressurreição de Cristo para a vida e a necessidade das pessoas ouvirem sobre Cristo para serem
salvas. Imagino que, mais cedo do que pensamos, enfrentaremos uma forte resistência à
afirmação bíblica de que Jesus é “o caminho”, “a verdade”, “a vida”, de que ele é “o único
Senhor”, de que “não há salvação fora dele” e de que ele é o “único que pode perdoar nossos
53
Texto extraído e adaptado do livro de John Piper – Alegrem-se os Povos: A Supremacia de Deus em Missões, São
Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2001. pp. 124-176
54
Sobre este tema há um livro que sugiro seja consultado por aqueles que queiram aprofundar um pouco mais esta
três posições: Donald E. Price, org. Que Será dos Que Nunca Ouviram? São Paulo, SP: Ed. Vida Nova. 2004.
55
Cf. http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/pos_modernidade_singularidade_cristo.htm capturado
em 27/01/2006.
22
pecados”. Todas essas afirmações são, por si, uma agressão ao espírito “democrático” da
sociedade pós-moderna. Como vamos ver no terceiro ponto de vista sobre a necessidade de se
ouvir sobre Jesus, afirmar a exclusividade de Cristo implica na negação e rejeição de qualquer
outro nome que possa nos reconciliar com Deus, e isso soa como um preconceito, uma forma de
discriminação inaceitável. Afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus e que só ela traz a revelação
do propósito redentor de Jesus é também uma afirmação que pode ser considerada
preconceituosa, uma vez que nega todas as outras formas de revelação.
2) Perseverança Divina: Outros dizem que ninguém será salvo com base no
conhecimento que possam ter de Deus através da natureza. No entanto, chegam ao
absurdo de afirmar que, logo após a morte, aqueles que nunca ouviram o Evangelho
terão uma oportunidade de dizer “sim” ou “não” a Jesus. Deus concederá a todos os
homens a chance de ouvir o evangelho e optar, ou não, pela redenção trazida por Jesus.
Tomam por base alguns textos difíceis de 1 Pedro (como o cap. 3: 18ss). Dão ao seu
ponto de vista o nome de “perseverança divina” ou “evangelismo post-mortem”
3) Exclusivismo (restritivismo):56
Há também os teólogos que ensinam não haver
qualquer oportunidade de salvação para o homem, se não existir conhecimento de
Cristo e uma resposta pessoal e consciente ao seu chamado. Essa posição é
conhecida como “exclusivismo”; às vezes também “restritivismo”. Para que alguém
seja salvo, é fundamental ouvir o Evangelho nesta vida e fazer uma decisão por Jesus.
Essa é a interpretação que mais parece se afinar ao ensino geral das Escrituras
Sagradas.
Essas três opiniões têm alguns pontos interessantes de semelhança bem como
diferenças. Como já foi observado, todas as três afirmam que a salvação em Jesus é a
palavra final bem como a singularidade dessa salvação. O restritivismo e o inclusivismo
concordam, numa posição contrária à defendida pela perseverança divina, que nosso
destino já está selado no momento da morte e que não existe nenhuma oportunidade de
salvação após ela. O restritivismo e a perseverança divina concordam, contrariamente
ao inclusivismo, que o conhecimento da mensagem do evangelho é uma condição
necessária para a salvação. Mas discordam sobre se a mensagem deve ser apresentada
por um agente humano antes da morte. O inclusivismo diverge das duas outras opiniões
ao sustentar que Deus concede salvação mesmo onde o Evangelho é desconhecido. O
inclusivismo e a perseverança divina afirmam que Deus, em Jesus Cristo, torna a
salvação disponível a todas as pessoas que já viveram, ao passo que o restritivismo nega
isso.
Deve-se observar que há outras opiniões quanto ao destino dos não-
evangelizados que não estamos discutindo aqui. Podem ser resumidas assim:
• Alguns advogam um completo agnosticismo, dizendo que nós não temos
informação bíblica suficiente para justificar uma conclusão sobre o assunto.
• Alguns teólogos católicos romanos propõem uma versão da evangelização post-
mortem chamada de teoria da opção final. Eles crêem que Cristo encontra todas
as pessoas no momento em que estão morrendo – não depois da morte – dando-
lhes uma oportunidade de conversão.
56
Cf. Artigo de Ronald Nash “Restritivismo”
23
• Alguns, como John R. W. Stott, são otimistas de que Deus irá salvar a grande
maioria da raça humana, muito embora eles não saibam como Deus irá realizar
isso. Isto é, eles se recusam a tomar uma posição quanto ao método que Deus
usa para salvar os não-evangelizados, embora afirmem que Ele o faz.
• Outros, como J. I. Packer, têm uma posição mais pessimista, asseverando que,
embora talvez seja possível que Deus proveja um meio de salvação para alguns
dos não-evangelizados, o melhor é permanecer negando essa possibilidade. Isto
é, pode ser que Deus o faça, mas não temos razão para pensar que Ele o fará.
Pontos de Vista Sobre o Destino dos Não-Evangelizados
Restritivismo Inclusivismo Perseverança Divina ou Evangelismo
Post-mortem
Definição:
Deus não provê salvação para
aqueles que não ouvem acerca de
Jesus e, conseqüentemente, não
crêem nEle antes da morte.
Definição:
Os não-evangelizados podem vir a ser
salvos, se responderem a Deus em fé,
baseados na revelação que possuem.
Definição:
Os não-evangelizados recebem uma
oportunidade de crer em Jesus depois
da morte.
Textos-chaves:
Jo 14.6
At 4.12
1Jo 5.11-12
Textos-chaves:
Jo 12.32
At 10.43
1Tm 4.10
Textos-chaves:
Jo 3.18
1Pe 3.18 – 4.6
Representantes:
Agostinho
João Calvino
Jonathan Edwards
Carl Henry
R. C. Sproul
Ronald Nash
Representantes:
Justino Mártir
John Wesley
C. S. Lewis
Clark Pinnock
Wolfhart Pannenberg
John Sanders
Representantes:
Clemente de Alexandria
George MacDonald
Donald Bloesch
George Lindbeck
Stephen Davis
Gabriel Fackre
OBS: Todos os representantes mencionados desses pontos de vista concordam que Jesus é único Salvador.
A supremacia de Deus nas missões é confirmada biblicamente pela afirmação da supremacia de
seu Filho, Jesus Cristo. É uma verdade surpreendente do Novo Testamento que, desde a
encarnação do Filho de Deus, toda fé salvadora deve, dali por diante, se fixar nele. Isso nem
sempre foi verdade, por isso aqueles tempos eram chamados “tempos da ignorância” (At 17.30).
Mas agora é e Cristo tornou-se o centro consciente da missão da igreja. O objetivo das missões é
levar “graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os
gentios” (Rm 1.5). Isso é mais uma coisa nova que ocorreu com a vinda de Cristo. A vontade de
Deus é glorificar seu Filho, fazendo-o foco consciente de toda a fé salvadora.
1. Há Necessidade de Consciência da Fé em Cristo?
Poderia alguma pessoa ser salva sem que tivesse sido evangelizada e tivesse consciência de ter
obtido salvação cm Cristo Jesus? Alguns evangélicos afirmam somente que não sabem
responder a essa pergunta, enquanto outros dizem que Cristo é o único meio de salvação, mas
que salva alguns que nunca ouviram dele por meio de uma fé que não tem a Cristo como foco
consciente. Será, então, realmente necessário que as pessoas ouçam de Cristo para que sejam
salvas?
Esse tipo de pensamento elimina a idéia de urgência na evangelização. Se as pessoas podem ser
salvas sem que tenham ouvido de Cristo, por que sair por aí evangelizando, fazendo missões?
Deus salvará aqueles que quer de um modo ou de outro. Mas não é isso o que nos ensina a
Palavra de Deus.
24
Haverá um inferno de tormento consciente para aqueles que possuem uma fé cujo foco não seja
o Senhor Jesus Cristo. Veja o que diz Daniel 12.2: "Muitos dos que dormem no pó da terra
ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno". Apren demos
ainda que haverá um castigo eterno: “A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua
eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em logo inextinguível" (Mt 3.12);
"...se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida
manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno" (Mt
18.8). O fogo é eterno, sem fim. Não há como negar sua existência.
O inferno é uma terrível realidade. Por quê? Porque os infinitos horrores do inferno têm o
objetivo de demonstrar o infinito valor da glória de Deus, a qual eles rejeitaram. A compreensão
bíblica da justiça do inferno é um claro testemunho de que o pecado deixou de glorificar a Deus.
Se não houver fé consciente no Senhor Jesus, o resultado será o castigo eterno.
2. A Necessidade da Redenção de Cristo para a Salvação.
Há pessoas que podem ser salvas de outras maneiras do que pela eficácia da obra de Cristo? As
outras religiões e as provisões que elas oferecem são suficientes para levar as pessoas à
felicidade eterna com Deus? Os seguintes textos bíblicos levam-nos a crer que a redenção de
Cristo é necessária para a salvação de todo aquele que é salvo. Não há salvação fora daquela que
Cristo conquistou com sua morte e ressurreição.
Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que
recebem a abundancia da graça e o dom da justiça, reinarão em vida por meio de um
só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos
os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre
todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de
um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência
de um só muitos se tornarão justos. ( Rm 5:17-19 )
O aspecto fundamental aqui é a universidade da obra de Cristo, ou seja, não se limita
meramente aos judeus. A obra de Cristo, o segundo Adão, corresponde à obra do primeiro
Adão. Assim como o pecado de Adão leva à condenação de toda a humanidade que se uniu a ele
como seu cabeça, assim a obediência a Cristo conduz à justiça de toda a humanidade que está
unida a ele como seu cabeça – “os que recebem a abundância da graça” (v. 17). A obra de Cristo
na obediência da cruz é retratada como a resposta divina para a condição de toda a raça humana.
( Cf.: I Co 15:21-23; I Tm 2:5; Ap 5:9-10; At 4:12; Rm 3:23-25 )
4. “Abaixo do Céu não Existe Nenhum Outro Nome”, Atos 4.12
A razão dessa mensagem salvar é que ela proclama o nome que salva-o de Jesus.
Pedro disse que Deus visitou os gentios “a fim de construir dentre eles um povo para o seu
nome” (At 15.14). É evidente, pois, que a proclamação pela qual Deus escolhe um povo para o
seu nome seria a mensagem que depende do nome do seu Filho Jesus.
Isso é, na verdade, o que vimos na pregação de Pedro na casa de Cornélio. O sermão
atinge seu clímax com estas palavras sobre Jesus: “Por meio de seu nome, todo aquele que nele
crê recebe remissão de pecados” (At 10.43). A necessidade implícita de ouvir a aceitar o nome
de Jesus que vemos na história de Cornélio é tornada explicita em Atos 4.12, no clímax de outro
sermão de Pedro, desta vez perante os líderes judeus em Jerusalém.
A situação por trás dessa famosa declaração é que o Jesus ressurreto curou um
homem por meio de Pedro e João. O homem era coxo de nascença, mas se levantou e correu
pelo Templo louvando a Deus. Juntou-se uma multidão e Pedro pregou. Sua mensagem tornou
25
evidente que o que estava em jogo aqui não era meramente um fenômeno religioso. Aquilo dizia
respeito a qualquer um no mundo.
Então, de acordo com Atos 4.1, os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus
vieram e prenderam Pedro e João, colocando-os em um cárcere até o dia seguinte. Na manhã
seguinte as autoridades, os anciãos e os escribas reuniram-se e interrogaram Pedro e João. No
curso do interrogatório, Pedro expôs a implicação do senhorio universal de Jesus: “Não há
salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os
homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.
Precisamos sentir a força dessa alegação universal atentando para as várias expressões
muito seriamente. A razão de não haver salvação em nenhum outro é que “abaixo do céu não
existe nenhum outro nome (não apenas nenhum outro nome em Israel, mas nenhum outro nome
abaixo do céu, incluindo o céu sobre a Grécia, Roma, Espanha etc), dado entre os homens (não
apenas entre os judeus, mas entre todos os humanos de todos os lugares), pelo qual importa que
sejamos salvos”. Essas duas frases, “abaixo do céu” e “entre os homens”, reforçam a alegação
da universalidade em sua extensão mais plena.
Porém, há ainda aqui mais coisas que precisamos ver. Geralmente a interpretação dos
comentaristas de Atos 4.12 é que, sem a crença em Jesus, uma pessoa não pode ser salva. Em
outras palavras, Atos 4.12 é visto como um texto essencial para responder à indagação de que
aqueles que nunca ouviram o evangelho de Jesus podem ser salvos. Mas Clark Pinnock
representa outros que dizem que “Atos .12 não diz coisa alguma sobre [essa questão]. ... ele não
faz nenhuma observação sobre o destino do pagão. Embora essa seja uma questão de grande
importância para nós não há ninguém a respeito de quem Atos 4.12 expresse um julgamento,
quer positivo ou negativo”. Pelo contrário, o que Atos 4.12 diz é que “a salvação em sua
plenitude é disponível à humanidade somente porque Deus, na pessoa de seu Filho Jesus,
proveu-a”. Em outras palavras, o versículo afirma que a salvação vem somente por meio da
obra de Jesus e não apenas pela fé em Jesus. Sua obra pode beneficiar aqueles que têm um
relacionamento particularmente com Deus sem ele, por exemplo, com fundamento na revelação
geral na natureza.
O problema com a interpretação de Pinnock é que ela não considera o verdadeiro
significado da focalização de Pedro sobre o “nome” de Jesus. “Abaixo do céu não existe
nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos”. Pedro está dizendo alguma coisa a
mais do que não haver outra fonte de poder salvador e que você pode ser salvo por algum outro
nome. O fato de dizer que “não existe nenhum outro nome” significa que somos salvos por
invocar o nome do Senhor Jesus. Invocar seu nome é a nossa entrada na comunhão com Deus.
Se alguém é salvo por Jesus incógnito, não pode falar que foi salvo por seu nome.
Observamos anteriormente que Pedro afirmou em Atos 10.43: “Por meio de seu
nome, todo o que nele crê recebe remissão de pecados”. O nome de Jesus é o foco da fé e do
arrependimento. A fim de crer em Jesus para obter o perdão dos pecados, você deve crer em seu
nome. O que significa que você precisa ouvir a respeito. Dele e saber que ele é um homem
especial que fez uma obra salvadora especifica e levantou-se dentre os mortos.
A finalidade de Atos 4.12 para as missões é tornada explicita pelo modo como Paulo
colocou a questão do “nome do Senhor” Jesus em Romanos 10.13-15. Voltaremos a essa
passagem agora e veremos que as missões são essenciais precisamente porque “todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E
como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?”
Algo de imenso significado histórico aconteceu com a vinda do Filho de Deus ao
mundo. Tão grande foi o significado desse evento que o foco da fé salvadora, desde então, teve
seu centro em Jesus somente. Tão repleto estava Cristo da revelação de Deus e de todas as
26
esperanças do povo de Deus que, desde então, seria urna desonra para ele que a fé salvadora
repousasse em qualquer outro que não nele. Havia uma verdade que não estava completa e
claramente revelada antes da vinda de Cristo. Essa verdade, agora revelada, é chamada de
mistério de Cristo, porque é a verdade, vinda por meio do evangelho, o qual está sobre Cristo.
O evangelho não é a revelação de que as nações já pertencem ao Senhor. Ele é o
instrumento para trazer as nações para o estado de salvação. O mistério de Cristo está
acontecendo por meio da pregação do evangelho. Portanto, ninguém pode ser salvo se não tiver
ouvido o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
5. Como Crerão Nele?
Vimos que há necessidade da consciência de fé em Cristo para salvação e de que há
somente um mediador entre Deus e os homens, e estes não podem ser salvos sem ter ouvido de
Jesus. Se há necessidade de ouvir, é preciso que haja quem pregue.
Em Romanos 9.30-10.21, o apóstolo Paulo apresenta Jesus como sendo o foco da fé
salvadora. É nesse contexto que ele cita o profeta Joel: "... acontecerá que todo aquele que
invocar o nome do SENHOR será salvo" (10.9); e, depois, como cita Isaías 28.16: “Todo aquele
que nele crê não será confundido" (10.11). Paulo quer deixar claro que nessa nova era da
história da redenção, Jesus é o objetivo e o clímax do ensino do Antigo Testamento e, então, é o
Mediador entre o homem e Deus como objeto da fé salvadora.
A seqüência de versos é muito familiar e com freqüência é citada em relação á obra
missionária: "Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de
quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão se não forem
enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!" (Km
10.14-15).
Mas como esses versículos se encaixam na linha de pensamento de Paulo. Por que no
seu inicio há a expressão "porém"? Por que o verso seguinte (16) começa assim: “Mas nem
todos obedeceram ao evangelho"?
A resposta parece ser a seguinte: O "porém" no inicio do verso 14 e o "mas" no inicio
do verso 16 apontam para o fato de que a série de questões nos versos 14 e 15 são realmente o
relato de que Deus já havia trabalhado para trazer, sob essas condições, o chamado para a
salvação no Senhor Jesus. Portanto, o ponto principal nos versos 14-16 é que, embora Deus
tenha providenciado os pré-requisitos para o chamado no Senhor, eles, entretanto, não
obedeceram.
O que fica claro é que o povo do Antigo Testamento pôde ouvir de Jesus, ou da
promessa da sua vinda, mas não deu crédito á Palavra de Deus. Eles também ouviram do
evangelho. A salvação já implicava na necessidade de ouvir sobre Cristo, e nele crer. Mas para
que isso aconteça, é preciso que alguém pregue. É necessário que os pregadores do evangelho
sejam enviados. Isso é a realização da obra missionária.
Conclusão: Jesus Cristo é o foco consciente da fé salvadora. Não há meio de as pessoas serem
salvas, senão por intermédio de sua obra expiatória. É preciso que as pessoas ouçam a
mensagem do evangelho e creiam em Jesus para que sejam salvas. Nesse contexto, a igreja
possui a função de pregar o evangelho, de levar a mensagem de salvação ás pessoas. Essa é uma
grande responsabilidade, pois sabemos que não há como ser salvo sem ouvir o evangelho do
Senhor Jesus Cristo. "E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não
há quem pregue?"
27
MISSIOLOGIA
Uma Perspectiva Cultural
Rev. Gildásio Reis
DDDDificilmente uma pessoa poderá sentir as dificuldades do trabalho missionário a menos que
esteja envolvida ativamente neste campo. Tais dificuldades parecem ser maiores quando o
trabalho missionário se dá em uma outra cultura que não a do missionário. As diferenças
culturais e as surpresas são incalculáveis. De maneira nenhuma, o missionário pode comunicar
bem o evangelho, se ele desconhecer a cultura das pessoas que irão ouvi-lo.
Bruce Niholls afirma o seguinte:
Os comunicadores evangélicos frequentemente substimam a importância dos fatores
culturais na comunicação. Alguns se preocupam tanto com a preservação da pureza do
evangelho e das suas formulações doutrinárias que têm sido insensíveis aos padrões de
pensamento e comportamento culturais das pessoas às quais proclamam o evangelho.57
É inquestionavelmente e universalmente aceito entre os missiólogos e missionários, que é
praticamente impossível comunicar o evangelho de maneira que faça sentido em circunstâncias
transculturais sem que seus comunicadores conheçam a cultura daqueles que eles desejam
alcançar. Nesta parte do nosso curso de missiologia pretendemos dar uma visão geral dos
fatores envolvidos na comunicação transcultural do evangelho.
Um Modelo tricultural de Comunicação Missionária58
I. QUEM É O HOMEM?
Para começarmos a entender o que significa a expressão “ser humano”, é preciso alargar nossa
visão para contemplar toda a diversidade de tipos, costumes e valores que constitui nossa
espécie. As pessoas se diferenciam biológica e psicologicamente. Distinguem-se nas sociedades
que organizam, nas culturas que criam; e essas diferenças levantam questões filosóficas e
teológicas profundas.
57
NICHOLLS, Bruce. Contextualização: Uma teologia do Evangelho e Cultura. São Paulo, SP: Edições Vida Nova.
1983. p. 8
58
HESSELGRAVE, David J. in: A Comunicação Transcultural do Evangelho. São Paulo. Vida Nova, 1995. Vol. 1
p. 92
CULTURA DA BÍBLIA
CULTURA DO
MISSIONÁRIO
CULTURA DO
RECEPTOR
28
Apesar das muitas diferenças temos também que admitir que existem muitos pontos em comum
entre os grupos humanos, caso contrário seria impossível culturas diferentes se relacionarem
entre si. Por exemplo: compartilhamos a maior parte das funções fisiológicas; respondemos aos
mais diferentes estímulos da mesma forma; experimentamos alegrias e sofrimentos, etc.
Além disso, o cristianismo acrescenta outros aspectos universais aos já mencionados: fomos
feitos à imagem e semelhança de Deus nosso criador (Gn.1:26), todavia todos pecamos e
carecemos de Deus mas a salvação está ao alcance de todos através de Jesus Cristo (Rm. 3:21-
26). Essa unidade na diversidade se reflete na essência e natureza da Igreja, onde apesar de
todas as diferenças possíveis e imagináveis há uma só mensagem e um só Deus.
1) O ser humano a partir de uma abordagem integrada (ciência + teologia)
Uma abordagem holística do homem: Aprender o que a ciência e a teologia têm para nos ensinar
acerca das pessoas e entrelaçar essas idéias em um entendimento amplo do homem como ser
integral, percebendo que o nosso conhecimento sempre é imperfeito e incompleto.59
Paul G. Hiebert, O Evangelho e a Diversidade das Cultura.
Infelizmente, no último século ciência e teologia têm se confrontado em várias frentes, cada
uma tendendo a reivindicar uma visão ampla e clara da realidade e, propositadamente,
ignorando os achados de uma e outra parte. Mas ocorre que cada vez mais se toma consciência
de que a realidade é muito mais complexa do que podemos captar ou explicar e, na melhor das
hipóteses, ciência e teologia estão a vê-la de perspectivas diferentes. A ciência nos oferece
idéias sobre várias estruturas da realidade empírica. A teologia nos oferece uma visão geral da
construção, do construtor, dos acontecimentos-chaves na sua história.60
É bom lembrar, porém, que a essa complementaridade nem sempre significará concordância
entre a ciência e a teologia. Quando surgem divergências, precisamos reexaminar nossa ciência
e nossa teologia à luz das Escrituras e da criação, visto que Deus é a fonte de ambas.
2) O Homem criado à Imagem e Semelhança de Deus.
O homem distingue-se das demais criaturas de Deus, porque foi criado de uma maneira singular.
Apenas do homem é dito que ele foi criado à imagem de Deus61
. Esta expressão descreve o
homem na totalidade de sua existência, ele é um ser que reflete e espelha Deus. ( Gn 1:26-28).
O conceito de imagem de Deus é o coração da antropologia cristã.
59
HIEBERT, Paul G., O Evangelho e a Diversidade das Culturas. São Paulo, SP: Ed. Vida Nova 1999. p. 25
60
HIEBERT Paul G. Op Cit., p. 26
61
TIL, Cornelius Van. Apologética. Apostila traduzida por João Alves dos Santos. P. 11
29
Dr. Van Groningen assevera que:
Ao criar a humanidade à sua própria imagem, Deus estabeleceu uma relação na qual a
humanidade poderia refletir, de modo finito, certos aspectos do infinito Rei-Criador. A
humanidade deveria refletir as qualidades éticas de Deus, tais como "retidão e verdadeira
santidade"... e seu "conhecimento" ( Cl 3:10 ). A humanidade deveria dar expressão ás funções
divinas em ralação ao cosmos e atividades tais como encher a terra, cultivá-la e governar sobre o
mundo criado. A humanidade em uma forma física, também refletiria as próprias capacidades do
Criador: apreender, conhecer, exercer amor, produzir, controlar e interagir 62
Percebemos nas palavras do Dr. Van Groningen que ele apresenta a imagem de Deus como
tendo uma tríplice relação: Relação com Deus,Relação com o próximo Relação e com a criação.
Quando lidamos como o homem, não importa a cultura em que está inserido, ele terá alguns
atributos da Imagem de Deus nele. Todo homem, em qualquer parte do planeta, reflete alguns
atributos “essenciais” sem os quais ele não poderia continuar sendo o que é, homem 63
:
a) Poder intelectual: É a faculdade de raciocinar, inteligência e outras capacidades intelectivas
em geral, que refletem aquilo que Deus tem.
b) Afeições naturais: É a capacidade que o homem tem de ligar-se emocionalmente e
afetivamente a outros seres e coisas. Deus tem esta capacidade.
c) Liberdade moral: Capacidade que o homem tem de fazer as coisas obedecendo a princípios
morais.
d) Espiritualidade: A Escritura diz que o homem foi criado “alma vivente” (Gn 2:7). É a
natureza imaterial do homem. Deus é espírito, e num certo sentido, o homem tem traços
desta espiritualidade.
e) Imortalidade: Depois de criado, o homem não deixa mais de existir. A morte não é para o
corpo, mas para o homem. Morte é separação e não cessação de existência. A imortalidade é
essencial para Deus (I Tm 6:16). O homem, num caráter secundário derivado, passa a Ter a
imortalidade.
3) A queda e a Imagem Desfigurada
Como sabemos, este estado de integridade ("posso não pecar") não foi mantido até o fim pelos
nossos primeiros pais. Veio a desobediência e consequentemente a queda. Nossos primeiros
pais, criados para refletir e representar Deus não passaram no teste. Provados, caíram e
deformaram a imagem de Deus neles.
Podemos fazer a seguinte pergunta: Quando o homem caiu, perdeu ele totalmente a Imago Dei
? Respondemos que em seu aspecto estrutural ou ontológico ( aquilo que o homem é ), não foi
eliminado com a queda, o homem continuou homem, mas após a queda, o aspecto funcional
(aquilo que o homem faz) da imago Dei, seus dons, talentos e habilidades passaram a ser
usados para afrontar a Deus.
Para Calvino, a imagem de Deus não foi totalmente aniquilada com a Queda, mas foi
terrivelmente deformada Ele descreveu esta imagem depois da queda como "uma imagem
deformada, doentia e desfigurada" .64
O homem antes criado para refletir Deus, agora após a queda, precisa ter esta condição
restaurada. Restauração esta que se estenderá por todo o processo da redenção. Esta renovação
62
GRONINGEN, Gerard Van, Revelação Messiânica no Velho Testamento . São paulo, Campinas: Editora Luz para
o Caminho. 1995
63
Extraído adaptado de Apostila do Dr. Héber C. de Campos, Antropologia em curso ministrado no CPPGAJ.
64
CALVINO, João. As Institutas, I, XV, 3
30
da imagem original de Deus no homem significa que o homem é capacitado a voltar-se para
Deus, a voltar-se para o próximo e também voltar-se para a criação para governá-la.
4) Cristo e a Imagem Renovada
Num sentido, como já dissemos, o homem ainda é portador da imagem de Deus, mas também
num sentido, ele precisa ser renovado nesta imagem. Esta restauração da imagem só é possível
através de Cristo, porque Cristo é a imagem perfeita de Deus, e o pecador precisa agora tornar-
se mais semelhante a Cristo. Lemos em Cl. 1:15 "Ele é a imagem do Deus invisível" e em
Romanos 8:29 que Deus nos predestinou para sermos "Conforme a imagem de Seu Filho ..." ( I
Jo 3:2; II Co 3:18 )
5) A Imagem Aperfeiçoada
A completação da perfeição dos cristãos será a participação da final glorificação de Cristo
Jesus. Não somos apenas herdeiros de Deus, mas também co-herdeiros com Cristo, "Se com ele
sofremos, para que também com ele sejamos glorificados" ( Rm 8:17 ). Não podemos pensar
em Cristo separado de seu povo, nem de seu povo separado dele. Assim será na vida futura: a
glorificação dos cristãos ocorrerá junto com a glorificação do Senhor Jesus . É exatamente isto
que Paulo nos ensina em Cl 3:4 :
"Quando Cristo que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com
ele, em glória" A glorificação é voltar à perfeição com a qual fomos criados por Deus, é voltar
a imagem de Deus. Este é o propósito último de nossa redenção. Esta perfeição da imagem será
o auge, a consumação do plano redentivo de Deus para o seu povo. E isto só é possível em
Cristo.
Em Cristo, o eleito não apenas volta ao que era Adão antes de pecar, mas vai um pouco mais à
frente:
Note as palavras de Anthony Hoekema:
Devemos ver o homem à luz de seu destino final (...) Adão ainda podia perder a impecabilidade e
bem aventurança, mas aos santos glorificados isso não poderá mais ocorrer. Adão era "Capaz de
não pecar e morrer"(posse non peccare et mori), os santos na glória, porém "não serão capazes de
pecar e morrer" (non posse peccare et mori). Esta perfeição, que não se poderá perder, é aquilo
para o qual o homem foi destinado e nada menos do que isto 65
Sabemos que os santos glorificados, em seu estado final não vão pecar nem morrer. Várias
passagens das Escrituras nos garantem isto. (Is. 25:8 I Cor. 15:42,54 ; Ef. 5:27 ; Ap. 21:4)
Paulo em sua carta aos Efésios nos ensina que o propósito de Deus para sua igreja, é apresentá-
la "a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e
sem defeito" (cf. Ef. 5:27)
Nesta dispensação, até a Segunda Vinda de Cristo, carregamos conosco, conforme lemos em I
Cor. 15:49, a "imagem do que é terreno", mas na glorificação, teremos plena e perfeitamente a
"imagem do celestial", ou seja, a imagem de Cristo. No porvir, nossa vida será gloriosa, porque
teremos a imagem de Cristo, seremos como Ele é, e Cristo sendo a imagem de Deus, teremos a
imagem de Deus de volta em nós de forma completa e perfeita.
65
HOEKEMA, Anthony. Criados Á Imagem de Deus. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã , 1999, 108
31
Calvino comentando este texto de I Cor. 15:49 diz:
Pois agora começamos a exibir a imagem de Cristo, e somos transformados nela diária e
paulatinamente; porém esta imagem depende da regeneração espiritual. Mas depois seremos
restaurados à plenitude, que em nosso corpo, quer em nossa alma, o que agora teve início será
levado à completação, e alcançaremos, em realidade, o que agora esperamos
66
Note ainda as palavras de João: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se
manifestou o que havemos de ser. Sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes
a Ele, porque havemos de vê-lo como ele é" I Jo. 3:2
O que João nos diz, é que, na ocasião da Segunda Vinda de Cristo, seremos assemelhados a
Ele, perfeita e completamente. E como Cristo é a imagem de Deus invisível, os santos
glorificados terão a imagem de Cristo. Isto significa dizer que a nossa imagem na glorificação,
será restaurada à imagem de Deus. Esta semelhança a Deus e a Cristo é o propósito final da
nossa redenção, ou seja, a glorificação.
Por enquanto, a imagem de Cristo em nós está em processo contínuo conforme nos diz Paulo
em II Cor. 3:18 que estamos "sendo transformados de glória em glória" , mas após a nossa
ressurreição, poderemos refletir a perfeição desta imagem, que Deus começou em nós, e assim,
só então, poderemos ser tudo aquilo para o qual fomos destinados pelo Pai.
Neste processo de restauração da imagem de Deus em nós, através de Cristo, chamamos de
santificação que é a "conformidade progressiva à imagem de Cristo aqui e agora (...); a glória
é a conformidade perfeita a imagem de Cristo lá e então, Santificação é a glória começada;
glória é a santificação completada" 67
Gerrit C. Berkouwer, teólogo holandês, nos mostra que a verdadeira imagem de Deus se pode
conseguir apenas em Jesus Cristo que é a imagem perfeita de Deus. Ser renovado á imagem de
Deus é tornar-se parecido com Jesus68
Todo o povo de Deus, de todas as nações, tribos, línguas, estará então com Deus por toda a
eternidade, glorificando a Deus pela adoração, serviço e louvor. Todos nossos atos serão enfim
feitos sem pecado com perfeição e aí o propósito que Deus estabeleceu para seus remidos terá
sido alcançado.
II. A CULTURA
1) O que não é cultura?
Cultura é uma palavra comum! Normalmente nos referimos a uma pessoa como culta porque
possui um elevado grau de estudo, ou porque ouve música clássica e ópera, ou porque fala
várias línguas, ou por vários outros motivos que, via de regra excluem pessoas comuns e
consagram os costumes e ideais de membros da elite de uma sociedade geralmente rica,
poderosa e estudada. A permanecer tal idéia de cultura, implicitamente estamos pressupondo
que pessoas comuns, particularmente as pobres e marginalizadas, não tem “cultura” exceto
quando tentam se igualar à elite.
2) O conceito de cultura
Dezenas de definições de cultura foram elaboradas pela antropologia e outras ciências sociais,
ao tentar estudar o comportamento humano Definir cultura não é uma tarefa fácil. Ricardo
66
CALVINO, João, Comentário de I Coríntios , (Edições Paracletos, São Paulo, 1996), 488
67
BRUCE, F. F., citado por Geoffrey B. Wilson, Romanos - Um Resumo de Pensamento Reformado, (SP - PES) 130
68
G.C.Berkouwer, Man, The image of God, p. 107
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Missiologia

  • 1. SEMINÁRIO PRESBITERIANO “REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO” MISSIOLOGIAMISSIOLOGIAMISSIOLOGIAMISSIOLOGIA “Declare sua glória entre as nações” Salmo 96:3 "Deus é o Senhor Soberano das Missões" John Eliot “Deus não pode ser invocado por ninguém, exceto por aqueles que conheceram sua misericórdia por meio do Evangelho” João Calvino GILDÁSIO JESUS B. DOS REIS 2006
  • 2. 2 O ESTUDO DA MISSIOLOGIA QQQQuando olhamos para a Igreja Evangélica Brasileira e o movimento missionário atual, percebemos como ao longo dos anos teologia e missão tem andado por caminhos diferentes, completamente divorciados. Trata-se de uma dicotomia que precisa ser corrigida. Nós precisamos das duas: Precisamos da teologia, pois ela nos dá o embasamento para a tarefa missionária, e é especialmente importante por causa da dependência que a igreja tem dela para medir os nossos esforços com o padrão divino. E precisamos da missiologia pois ela é o meio pelo qual Deus faz nascer a Igreja, ela é resultado da ação não somente de Deus ao enviar seu Filho ao mundo como também do esforço de irmãos que divulgam o Evangelho de Cristo. Missiologia é a soma de duas palavras: do latim, “missione” significando função ou poder que se confere a alguém para fazer algo, encargo, incumbência; e do grego, “logia”, que significa estudo, conhecimento. Portanto, podemos definir Missiologia como a ciência que estuda os diferentes aspectos da missão que Deus deu ao homem. Carlos Del Pino, em seu artigo "Missiologia e Educação Teológica", diz que a “nossa educação teológica não tem se preocupado com o aspecto missiológico e missionário na formação dos nossos alunos"1 , reforçando o fato de que existe, mesmo que inconsciente, uma tentativa de divorciar a Missiologia da Teologia. Esta dicotomia trás algumas implicações para a vida da igreja: 1) Dificuldades para identificar de maneira global a "obra de Deus", que acaba sendo confundida com a manutenção do status quo, dando a entender que o Reino de Deus2 está contido em uma estrutura eclesiástica. 2) As prioridades ministeriais são via de regra, voltadas para dentro, a fim de satisfazer todas as necessidades que foram criadas “em nome de Deus” dentro das estruturas eclesiásticas, em prejuízo da missão integral3 . 3) O treinamento dos líderes sempre se torna diferenciado, pastores e missionários não tem a mesma excelência em seu preparo acadêmico. Com o objetivo de romper com este dualismo entre teologia e missiologia, vamos neste curso abordar o tema sob 5 perspectivas: I. Perspectiva Teológica: Estudaremos a conceituação da tarefa missionária da Igreja e os fundamentos teológicos, abordando os diversos pressupostos que sustentam uma teologia reformada de missões. II. Perspectiva Cultural: É praticamente impossível transmitir uma mensagem do evangelho que faça sentido em situações transculturais sem que seus comunicadores 1 PINO, Carlos Del. Capacitando para Missões Transculturais; Revista Missiológica da Associação de Professores de Missões no Brasil, Vol.1, n.2; 1995 2 O Cristo que a Igreja reconhece como Senhor é o Senhor de todo universo. Nesta afirmação de seu senhorio universal, a Igreja encontra a base para sua missão. Cristo foi coroado como Rei, e sua soberania se estende sobre a totalidade da criação. Como tal, ele comissiona os seus discípulos a fazerem discípulos de todas as nações (Mt 28.18- 20) 3 O conceito de missão integral propõe um modelo d missão que vai além da experiência religiosa pessoal para incluir também auxílio aos pobres e marginalizados.
  • 3. 3 conheçam os receptores da mensagem em seu ambiente cultural e histórico e sem que conheçam a si mesmos. Portanto, nossa proposta aqui objetiva mostrar a importância em se determinar os pontos de tensão cultural a partir de uma abordagem natural (não crítica) dos costumes, cosmologias e cosmovisões comuns em diferentes povos. III. Perspectiva Urbana: Nesta parte do curso, estudaremos as cidades e seus desafios para as missões; desafiando os alunos a desenvolver uma estratégia para o ministério urbano, focalizando os desafios sociais e espirituais que o ambiente provoca. Examina diversos modelos de ministérios urbanos, inclusive através de estudos de campo, e fornece critérios para a elaboração de um ministério bíblico de impacto na cidade. IV. Perspectiva Bíblica: Nosso objetivo aqui é estudar de maneira panorâmica, as bases bíbicas do Antigo e Novo Testamentos de Missões. A matéria apresenta a Bíblia como o relato da "história da salvação" e como inspirada por Deus para o desempenho da Igreja no mundo. V. Perspectiva Histórica: Analisaremos o desenvolvimento e a expansão da fé cristã ao longo dos séculos, compreendendo os seus principais personagens, métodos e povos alcançados. Rev. Gildásio Reis
  • 4. 4 MISSIOLOGIA UMA PERSPECTIVA TEOLÓGICA-REFORMADA “Não existe uma só polegada, em todo o domínio de nossa vida humana, da qual Cristo, que é soberano de tudo, não declare: é minha” Kuiper I. Conceituando a Missão AAAA questão da definição e conceituação da missão, há muito tem sido uma das questões mais discutidas no estudo da missiologia. Nem sempre tem havido consenso sobre o que se deve entender por missões. O que é missão? Qual é a sua natureza? Quais os objetivos das missões cristãs? A considerar os diferentes pressupostos teológicos, uma gama muito grande de respostas pode ser dada a estas questões. Não obstante, este ser um assunto controvertido, ele é também muito importante para a igreja e para os cristãos individuais. Como pode a igreja ser o que deve ser e fazer o que deve fazer se não tiver uma clara compreensão acerca do seu propósito na sociedade e no mundo? Desde o começo da História da Igreja muitas derivações de termos têm aparecido nas traduções latinas procedentes do verbo grego ‘apostolein’, significando ‘a arte de exercer o apostolado, o ofício de um apóstolo’. As palavras mais usadas são: Missio e Missiones. A terminologia ‘Missio’ somente veio a aparecer no século XVI quando as ordens de monge Jesuítas e Carmelitas enviaram ao novo mundo de então centenas de missionários. Inácio de Loyola e Jacob Loyonez consistentemente empregaram o termo ‘Missio’. Eles, os jesuitas foram os primeiros a utilizarem a terminologia “Missão”, como a propagação da fé Cristã entre os povos não-cristãos, ou seja, a disseminação da fé entre os povos não-católicos (os protestantes foram vistos como indivíduos a serem alcançados). Este sentido estava intimamente associado com a expansão colonial do mundo ocidental aos demais povos (atualmente chamado de terceiro mundo).4 Desde meados do século XX, vários sentidos têm sido aplicados ao termo “Missão”, alguns mais estreitos, outros, mais amplos. É importante que iniciemos nosso curso de missiologia dando alguns conceitos de missão. 1.1. DEFINIÇÕES GENERALIZADAS DE MISSÃO Em sua obra Mission Theology: An Introduction,5 o missiólogo Karl Muller apresenta uma lista com os seguintes de conceitos: 1. Missão é o envio de missionários para um designado território; 4 Dr. Antônio José, op cit. 5 Karl Muller. Mission Theology: An Introduction (Nettetal, Germany: Eteyler Verlag, 1987), 31-34. (citadas por Dr. Antônio José do Nascimento Filho, material utilizado no curso de mestrado em Missiologia no CPPGAJ em 2001)
  • 5. 5 2. Missão tem a ver com as atividades realizadas por tais missionários; 3. Missão é a área geográfica aonde os missionários realizam seus ministérios; 4. Missão é a agência missionária responsável pela logística e pelo envio dos missionários aos seus respectivos campos; 5. Missão é a propagação do evangelho aos povos não alcançados; 6. Missão é o centro do qual os missionários irradiam o evangelho; 7. Missão é uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar vocações missionárias; 8. Missão é a propagação da fé Cristã; 9. Missão é a expansão do reino de Deus; 10. Missão é a conversão dos povos pagãos; 11. Missão é a plantação de novas igrejas. Dr. Antônio José nos informa que até o século XVI, o termo “Missão”, foi usado exclusivamente com referência à doutrina trinitária, isto é, ao papel da trindade na história da redenção.6 O envio do filho pelo Pai, e por sua vez, o envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho, cuja interpretação missiológica deu origem à doutrina chamada na história de “Filioque”.7 Esta interpretação, contanto que aceita como doutrina básica da Igreja Cristã, foi um dos motivos da cisão do Cristianismo medieval no ano de 1054. 1.2. UMA DEFINIÇÃO DE MISSÃO Em seu sentido mais amplo, a missão é tudo o que a igreja faz a serviço do Reino de Deus (Missões no plural). Em sentido mais restrito, contudo, a missão refere-se à atividade missionária, a pregação do evangelho entre povos e culturas em cujo meio ele não é conhecido (Missão no singular). A seguir, duas definições: J.H. Bavinck define assim: Missões é aquela atividade da igreja, essencialmente nada mais do que a atividade de Cristo, realizada por meio da igreja, pela qual a igreja, neste período intermediário, chama os povos da terra ao arrependimento e à fé em Cristo, de modo que se tornem seus discípulos e, pelo batismo, sejam incorporados a comunhão daqueles que esperam a vinda do Reino8 Carlos Del Pino, em artigo publicado diz que “a missão da igreja não pode ser algo independente de Deus e de Cristo, como se a igreja pudesse realizá-la por si só”.9 É exatamente este o ponto da definição de Bavinck quando ele diz que “Missões é aquela atividade da igreja, essencialmente nada mais do que a atividade de Cristo”10 6 Dr. Antônio José do Nascimento Filho, Op Cit., p. 24 7 A Igreja Cristã tem uma declaração histórica sobre o Espírito Santo, estabelecida no Concílio de Toledo (589 DC). O credo que emanou daquele concílio dizia que o Espírito Santo "procede tanto do Pai como do Filho". Longe de estabelecer uma subordinação em essência, a declaração apenas reflete o ensinamento bíblico que na administração das interações entre Deus e o Homem, cada pessoa da Trindade cumpre um papel específico. No caso do Espírito Santo, Ele procede do Pai e do Filho e testemunha de Cristo-não fala de si próprio. Este é o critério primário de reconhecimento do trabalho do Espírito - As ações supostamente realizadas pelo Espírito apontam para Cristo, ou para os agentes humanos? Os supostos porta-vozes do Espírito falam de Cristo, ou falam de si mesmos ou do próprio Espírito? A grande maioria das maravilhas e fenômenos contemporâneos atribuídos ao Espírito Santo não passa por este crivo. O credo do Concílio de Toledo, apenas expandia e particularizava a doutrina já exposta no Credo Niceno. O Concílio de Nicéia havia indicado a "processão do Pai", para o Espírito Santo. Concílio de Toledo (que para alguns não foi um concílio, mas um mero Sínodo - perdendo, portanto em autoridade) ampliou, indicando a procedência também do Filho (Jesus Cristo) para o Espírito Santo. Essa expressão "e do Filho" foi grafada com a palavra latina filioque. 8 J.H. Bavinck, An Introduction to the Science of Missions - citada por R.B.Kuiper in: Evangelização Teocêntrica, São Paulo, SP: Ed. PES, 1976 p.5 9 Cf. Fides Reformata, 5/01/2000 in: O Apostolado de Cristo e a Missão da Igreja 10 J.H. Bavinck, Op Cit., p. 5
  • 6. 6 Bosch11 nos oferece também uma definição de missão: A missão constitui um ministério multifacetado em termos de testemunho e serviço, justiça, cura, reconciliação, paz, evangelização, comunhão, implantação de igrejas, contextualização, etc..Inlcusive o intento de arrolar algunas dimensões da missão, porèm está repleto de perigo, porque de novo sugere que nos é possível definir o que é infinito. Quem quer que sejamos, espreita-nos a tentação de enclausurar a Missio Dei nos estreitos confins de nossas próprias predileções, voltando, necesariamente, à unilateralidade e ao reducionismo”12 Labieno Palmeira dá sua definição de missões: Fazer missões é procurar estar em sintonia com Deus, empenhando-se ao máximo para ver o que Deus vê, ouvir o que Deus ouve e conhecer como Deus conhece, e não apenas isto, é estar disponível para descer onde Deus quer descer, livrar aqueles que Deus deseja libertar e fazer subir aqueles que Deus deseja levar para a terra que mana leite e mel13 1.3. O Conceito de Missões na Confissão de Fé de Westminster. A Confissão de Fé de Westminster, no seu capítulo XXXV, que trata do “DO AMOR DE DEUS E DAS MISSÕES, assim prescreve: I. Em seu amor infinito e perfeito - e tendo provido no pacto da graça, pela mediação e sacrifício do Senhor Jesus Cristo, um caminho de vida e salvação suficiente e adaptado a toda a raça humana decaída como está - Deus determinou que a todos os homens esta salvação de graça seja anunciada no Evangelho. (Ref. Jo.3:16; I Tim.4:10; Mc.16:15).-A Universalidade do Evangelho (Inclusivista) II. No Evangelho Deus proclama o seu amor ao mundo, revela clara e plenamente o único caminho da salvação, assegura vida eterna a todos quantos verdadeiramente se arrependem e crêem em Cristo, e ordena que esta salvação seja anunciada a todos os homens, a fim de que conheçam a misericórdia oferecida e, pela ação do Seu Espírito, a aceitem como dádiva da graça. ( ef. Jo.3:16 e 14:6; At.4:12; I Jo.5:12; Mc.16:15; Ef.2:4,8,9.) - A Necessidade da Fé Consciente, ou seja, há uma posição restritivista quanto ao destino daqueles que nunca ouviram falar de Jesus. III. As Escrituras nos asseguram que os que ouvem o Evangelho e aceitam imediatamente os seus misericordiosos oferecimentos, gozam os eternos benefícios da salvação: porém, os que continuam impenitentes e incrédulos agravam a sua falta e são os únicos culpados pela sua perdição. ( Ref. Jo.5:24 e 3:18.) - A certeza do Sucesso na Pregação O ponto aqui é o seguinte: Como pode a igreja em geral, e o cristão individual, estar segura de que não está assumindo uma obra que é intrinsecamente impossível de ser realizada? W.G.T. Shedd, D.D. (1820 – 1894) diz que “a pregação do evangelho encontra sua justificação, sua sabedoria, e seu triunfo, somente na atitude e relação com o infinito e todo-poderoso Deus que a sustenta”14 Sobre a certeza do sucesso da Igreja na pregação, Kuiper assim se expressa: 11 David Bosch serviu como missionário numa universidade da África do Sul até 1971, falecendo aos 63 anos. 12 BOSCH, David J. Missão Transformadora – Mudanças de paradigma na teologia da Missão. São Leopoldo, RS. Ed. Sinodal. 2002. 13 PALMEIRA FILHO, Labieno Moura. O Caráter Missionário de Deus. Goiânia – Go.: Série Nasce, 2001. p. 62. (O autor é pastor presbiteriano e missionário da Junta de Missões Estrangeira da Igreja Presbiteriana do Brasil, e está atuando como missionário em Moçambique) 14 W.G.T. Shedd, O Sucesso Certo do Evangelismo – extraído www.monergismo.com; capturado em 21/11/2003
  • 7. 7 A fé salvadora não é dom do evangelista ao seu ouvinte não salvo; "é dom de Deus" (Efésios 2:8). Nenhum evangelista jamais deu fé em Cristo a uma única alma. Ela é produzida nos corações humanos pelo Espírito Santo, pois "ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor" senão pelo Espírito Santo" (1 Coríntios 12:3). Nenhum pecador jamais foi convertido por um evangelista; o autor da conversão é Deus15 IV. A Comissão por Jesus Cristo: Visto não haver outro caminho de salvação a não ser o revelado no Evangelho e visto que, conforme o usual método de graça divinamente estabelecido, a fé vem pelo ouvido que atende à Palavra de Deus, Cristo comissionou a sua Igreja para ir por todo o mundo e ensinar a todas as nações. Todos os crentes, portanto, têm por obrigação sustentar as ordenanças religiosas onde já estiverem estabelecidas e contribuir, por meio de suas orações e ofertas e por seus esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por todo o mundo. ( Ref. Jo.14:6; At.4:12; Rom.10:17; Mt.28:19,20; I Cor.4:2; II Cor.9:6,7,10. ) 1.4. O CONCEITO DE MISSÕES EM JOÃO CALVINO. Veremos um pouco mais adiante e de maneira mais detalhada, a visão que o reformador tinha de missões. Por hora, basta apenas uma síntese do seu pensamento missionário. Uma crítica que tem sido levantada à Calvino e à outros reformadores, é que os mesmos não possuíam uma visão missionária. Veja o que Gustav Warneck escreveu: Nós perdemos com os Reformadores não apenas a ação missionária, mas mesmo a idéia de missões... [em parte] porque perspectivas teológicas fundamentais deles evitaram que dessem a suas atividades, e mesmo a seus pensamentos, uma direção missionária16 Missiólogos mais recentes, como Ralph D. Winter, perpetua o errro de Warneck. Ele afirma: A despeito do fato de que os protestantes ganharam no fronte político, e, em grande medida, alcançaram a capacidade de reformular sua própria tradição cristã, eles nem mesmo falaram sobre missões, e aquele período terminou com a expansão católica européia nos sete mares, tanto política como religiosa.17 Mas o que realmente querem estes críticos dizer quando afirmam desinteresse dos reformadores por missões? Qual conceito tinham eles de missões e por qual padrão estavam julgado os reformadores? É certo que Calvino não escreveu, entre suas muitas obras teológicas, nenhum tratado sobre missões, mas é certo também que ninguém pode afirmar que ele tenha escrito algo contra a idéia de missões. O ponto que precisa ser ressaltado aqui é que se Calvino não escreveu especificamente um tratado sobre missões, isso não significa dizer que ele não possuía visão missionária. Entre os Reformadores, nenhum tem falado com mais clareza do que João Calvino a respeito de toda a questão do alcance da mensagem da fé cristã. Calvino apela repetidas vezes aos crentes a mostrarem interesse por seu próximo descrente. No contexto da época (século XVI), descrentes eram as pessoas simples do rebanho católico ou aquele que se livrara da dominação romana, 15 KUIPER, R.B.. Evangelização Teocêntrica, São Paulo, SP: Ed. PES, 1976 p.179 16 Gustav Warneck, History of Protestant Missions, trans. G. Robinson (Edinburgh: Oliphant Anderson & Ferrier, 1906), 9, citado em Fred H. Klooster, “Missions—The Heidelberg Catechism and Calvin,” Calvin Theological Journal 7 (Nov. 1972): 182. 17 Ralph D. Winter, "The Kingdom Strikes Back: The Ten Epochs of Redemptive History," em Perspectives on the World Christian Movement, eds. Ralph D. Winter e Steven C. Hawthorne (Pasadena: William Carey Library, 1981), 153. Minha tradução.
  • 8. 8 mas não aderira à Reforma. As admoestações de Calvino são aplicáveis a todas as situações em que o crente se torna vizinho de um descrente. Em um sermão sobre 1 Timóteo 2.5,6, Segundo comenta Forbes, Calvino declara: “Quando vemos homens destruindo-se, não tendo Deus sido tão gracioso para juntá-los a nós pela fé do evangelho, devemos apiedar-nos deles e esforçar- nos para trazê-los ao caminho reto.”18 Veja ainda a visão missionária de Calvino em suas palavras lembradas por Forbes: Nosso Senhor Jesus Cristo foi feito um como nós, e sofreu a morte para que pudesse tornar-se um advogado e mediador entre Deus e nós, e abrir um caminho pelo qual possamos chegar a Deus. Aqueles que não se empenham em trazer seu próximo e descrentes ao caminho da salvação mostram abertamente que não têm em conta a honra de Deus, e que tentam diminuir o imenso poder de seu império, e estabelecem limites para que Ele não possa governar todo o mundo, de igual modo obscurecem a virtude e morte de nosso Senhor Jesus Cristo e diminuem a dignidade dada a Ele pelo Pai.19 Em um sermão baseado em I Timóteo 2.3-5, Calvino demonstra a preocupação que os cristãos precisam ter com os descrentes. Conforme Forbes, Calvino assim afirma: Portanto, podemos estar cada vez mais certos de que Deus nos aceita e fortalece dentre seus filhos, se nos empenharmos em trazer aqueles que estão afastados dele. Confortemo-nos e tenhamos coragem neste chamado: embora haja nestes tempos um grande desamparo, e embora pareçamos ser miseráveis criaturas completamente arraigadas e condenadas, ainda assim devemos labutar tanto quanto possível para atrair aqueles que estão afastados da salvação. E, acima de todas as coisas, oremos a Deus por eles, esperando pacientemente que Ele se digne mostrar boa vontade para com eles, assim como tem mostrado para conosco.20 Calvino ensinou com firmeza que a Salvação é dom de Deus somente para os seus eleitos. Não obstante, isto não o impede de insistir para que os membros da igreja procurem trazer um grande número de pessoas a Cristo. Parker, elucidando o pensamento de Calvino sobre a igreja, registra a seguinte declaração de Calvino em um sermão sobre Isaías 53.12: Se desejamos pertencer à igreja e ser reconhecidos como rebanho de Deus, devemos admitir que isto ocorre porque Jesus Cristo é o nosso Redentor. Não receemos ir a Ele em grande número, e cada um de nós traga seu próximo, considerando que Ele é suficiente para salvar a todos.21 Calvino entendia que os cristãos têm a grande responsabilidade de espalhar as Boas Novas do Evangelho. Ele escreve: “porque é nossa obrigação proclamar a bondade de Deus para todas as nações... a obra não pode ser escondida em um canto, mas proclamada em todos os lugares”22 . Deus poderia ter escolhido outros meios, no entanto, ele escolheu “empregar a ação de homens” para a pregação do Evangelho.23 II. CONCEITUANDO A EVANGELIZAÇÃO No debate contemporâneo entre missão e evangelização, a maioria dos missiólogos sustentam a visão que evangelização é um indispensável componente da missão da igreja. Missão, dizem eles, inclui tudo o que a igreja é chamada por Deus para fazer no mundo visando 18 J. Forbe, The Mystery of Godliness and Other Sermons (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing House, 1950), 199. 19 Ibid., 200. 20 Ibid., 110. 21 T. H. L. Parker, Sermons on Isaiah’s Profecy of the Passion and Death of Christ (London, England: Lames Clarck and Co. Ltd., 1956), 144. 22 Calvino, João. Comentário sobre Isaías 12:5, em Calvin's Commentaries, vol. 7, Isaías 1-32, 403. 23 Calvino, João. Comentário sobre Isaías 2:3, em Charles Chaney, “The Missionary Dynamic in the Theology of John Calvin,” 28.
  • 9. 9 a manifestação de sua glória. Evangelização refere-se ao específico processo de espalhar as boas novas acerca de Jesus Cristo como a salvação de Deus aos povos.24 O missiólogo J. D. Douglas em seu livro Let the Earth Hear His Voice apresenta-nos a definição do pacto de Lausanne (1974) sobre evangelização: Evangelizar é espalhar as boas novas que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou da morte segundo as Escrituras, e que agora, ele concede perdão dos pecados e o Dom do Espírito para todos que se arrependem e crêem. Portanto, evangelização é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o propósito de persuadir as pessoas a vir a Ele pessoalmente e assim ser reconciliado com Deus. Jesus continua ainda convidando a todos para seguí-lo, negar a si mesmos, tomar a sua cruz e identificar a si mesmos com a comunidade dos remidos. O resultado do evangelismo inclui obediência a Cristo, incorporação na vida da igreja, e responsável serviço para o mundo.25 Orlando Costas, conhecido teólogo latino-americano, afirma: Evangelizar é participar de uma ação transformadora, isto é, as boas-novas da salvação. Neste sentido, a evangelização não é um conceito, mas sim uma tarefa dinâmica, encarnada primeiro na vida e ação salvífica de Jesus Cristo. Portanto, ela não pode ser reduzida a uma fórmula verbal. Evangelizar é reproduzir pelo poder do Espírito Santo a salvação que foi revelada em Jesus Cristo. 26 John Stott, em sua obra The Biblical Basis of Evangelism, comenta: O tema central dos evangelhos e das cartas apostólicas é a natureza e o significado de Jesus Cristo. Ele é o Deus encarnado, o Messias esperado, o Senhor do universo. Através dele Deus tem pessoalmente entrado na história e provido salvação27 III. OS MOTIVOS PARA MISSÕES Roger Greenway nos ajuda a entender por que devemos fazer missões?28 A. Motivos errados: Devemos admitir que sempre houve pessoas que ingressaram no trabalho do Senhor por razões equivocadas. Até os missionários que têm os motivos corretos podem cometer erros. At 13.13, At 15.37-40 e 2Tm 4.10. Podem existir motivos errados escondidos nas mentes dos mais sinceros missionários. 1. O desejo de ser admirdado e louvado por outros 2. A busca por “auto-realização”, sem levar em consideração o esvaziar-se a si mesmo(Fp 2.5-7); 24 Bavinck não vê razões para diferenciar estes dois termos. (Cf. Evangelização teocêntrica, p. 5) 825 J. D. Douglas, Let the Earth Hear His Voice (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1974), 4. 26 Orlando Costas. Liberating News (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1989), p. 133 (Orlando E. Costas (1942-1987) nasceu em Porto Rico e faleceu nos Estados Unidos, vitimado por um câncer, aos 45 anos de idade. Era pastor e teólogo batista. Graduou-se doutor em teologia e missiologia nos Estados Unidos. Foi reitor e professor do Seminário Bíblico Latino-Americano de Costa Rica; fundou o Centro Evangélico Latino- Americano de Estudos Pastorais (CELEP), em 1973, em San José, Costa Rica. Atuou como administrador da faculdade do Eastern Baptist Theological Seminary, na Filadélfia, onde também foi professor de missiologia e diretor de estudos hispânicos) 27 John Stott, The Biblical Basis of Evangelism (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1975), 65. 28 GREENWAY, Roger . Ide e Fazei Discípulos. São Paulo,SP: Ed. Cultura Cristã. 2001. p.30-34
  • 10. 10 3. A busca por aventura e excitação; 4. A ambição em expandir a glória e influência de uma igreja ou denominação em particular, ou mesmo de um país; 5. A fuga das situações desagradáveis do lar; 6. A esperança de sucesso profissional após um curto período de serviço missionário. 7. A culpa e o anseio pela paz com Deus por meio do serviço missionário. B. Motivos corretos Os motivos corretos para missões são ensinados na Palavra de Deus e aplicados nos corações dos crentes por meio do Espírito Santo. 1. O desejo de que Deus seja adorado e sua glória conhecida entre todos os povos da terra: A glória de Deus diz respeito a tudo o que foi revelado sobre ele: seu nome, sua santidade, seu poder, seu amor por meio de Jesus Cristo, sua misericórdia, sua grsaça e sua justiça. Entretanto, mais de três bilhões de pessoas no mundo não aodram ao verdadeiro Deus. Este pensamento é que inspira os missionários! Eles sentem uma divina compulsão em pregar o evangelho 1Co 9.16. 2. O desejo de obedecer a Deus por amor e gratidão, por meio do cumprimento da Comissão de Cristo: “Ide fazei discípulos de todas as nações”. (Mt 28.19): O amor genuíno por Deus produz obediência à sua Palavra cf.: Jo 14.15; A obediência cristã toma forma e o povo de Deus é ungido com o Espírito Santo a servi-lo numa variedade de ministérios 1Co 12.4,5; Ef 3.10. 3. O desejo ardente de usar todos os meios legítimos para salvar os perdidos e ganhar não- crentes para a fé em Cristo: A paixão missionária pela glória de Deus é acompanhada pela paixão pelas pessoas que, por ignorãncia e descrença, estão morrendo em seus pecados. 4. A preocupação de que as igrejas cresçam e se nultipliquem e de que o reino de Cristo seja estendido por meio de palavras e ações que proclamem a compaixõ e a justiça de Cristo a um mundo de sofrimento e injustiça.
  • 11. 11 II. O PROPÓSITO DA MISSÃO: A GLÓRIA DE DEUS ______________________________ “Deus é o Senhor soberano das missões” John Eliot (Missionário entre os índios americanos -1690) Introdução Tendo já conceituado a Missão, precisamos agora tratar da questão sobre a a prioridade ou principal missão da igreja.29 Qual é a Missão principal e última da Igreja? Muitos missiólogos afirmam que a prioridade última da igreja é evangelizar e fazer missões ao redor do mundo30 . Quem não ouviu a famosa frase atribuída a Alexandre Duff: “A Igreja que não evangeliza não é evangélica”31 ?. Dizer que a tarefa principal da igreja é evangelizar não encontra respaldo nas Escrituras e óbviamente, também não encontra eco na teologia reformada de missões. Se por “prioridade” queremos dizer “o alvo último” da igreja, nossa resposta deve ser “não”. Como reformados entendemos que a obra missionária não é o alvo último da igreja. Martyn Lloyd-Jones assim se expressa: O objetivo supremo desta obra é glorificar a Deus. Esse é o ponto central. Esse ;é o objetivo que deve dominar e sobrepujar todos os demais. O primeiro objetivo da pregação do evangelho não é salvar almas; É GLORIFICAR A DEUS. Não se tolerará que nenhuma outra coisa, por melhor que seja nem por mais nobre, usurpe esse primeiro lugar. 32 Neste ponto de nosso curso de missiologia, vamos ver á luz da Palavra de Deus, que é o culto a Deus e não a obra missionária, deve ser a preocupação principal da igreja do Senhor. Conforme vemos nos argumentos de John Piper, “o desafio missionário existe e persiste porque o culto pleno a Deus ainda não existe”.33 O culto é o alvo último da igreja. O culto a Deus deve ter prioridade na igreja, não a obra missionária, porque Deus é último, e não o ser humano. Quando esta era terminar e representantes de toda raça, tribo e nação se dobrarem diante do Cordeiro de Deus, a obra missionária não mais exisitirá na igreja. Mas existirá o louvor e a adoração. Permanecerá na igreja o culto. ( Paixão de Deus por sua própria glória : Isaías 48:9-11 ). O homem natural busca a sua própria glória, mas Deus, a sua.34 A adoração é o combustível e a meta das missões. É a meta das missões porque nelas simplesmente procuramos levar as nações ao júbilo inflamado da glória de Deus. O alvo das missões é a alegria dos povos na grandiosidade de Deus. “Reina o Senhor. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas” (Sl 97.1). “Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos. Alegrem-se e exultem as gentes” (Sl 67.3-4). Quando a chama da adoração arder com o calor da verdadeira excelência de Deus, a luz das missões brilhará para os 29 Este capítulo faz parte de um artigo do Dr. C. Timóteo Carriker, adaptado por mim para ser utilizado no Curso de Missiologia no JMC. As idéias principais que se seguem são grandemente fruto da leitura recente que o Dr. Timóteo fez do livro de John Piper, Alegrem-se os Povos! A Supremacia de Deus em Missões. (Livro este que está sendo resenhado pelos alunos do curso de missiologia doJMC) 30 Apenas para citar um: Charles Van Engen in: Povo Missionário, Povo de Deus, Edições Vida Nova, São Paulo, 1996 31 Cf. www.editoraaleluia.com.br/estudos_biblicos/estudos_1-50/est16.htm 32 Texto extraido do site: http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/ . Acesso em 12/11/2003 33 PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã: 2001 ) p. 13 34 Idem, p.13
  • 12. 12 povos mais remotos da terra.35 ( Ef 1:4-6; cf 12-14; Sl 106:7,8; Rm 9:17; Ex. 14:4,17,18; Ez 36:22,23,32)36 Por mais que queiramos afirmar a prioridade da obra missionária, creio que uma análise honesta da revelação bíblica leve à conclusão que o culto é o fim último da igreja e o desejo máximo de Deus para toda a humanidade. A primeira pergunta do Catecismo de Westminster diz: “Qual é o fim principal do ser humano?” E a resposta acertada é: “O fim principal do ser humano é glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre.” É dentro desta perspectiva reformada e bíblica maior da prioridade última da glória de Deus que nossa reflexão a respeito da obra missionária se encontra. Missões começam e terminam na adoração. Há alguns pontos a serem destacados com relação a isso: I. O Amor de Deus por Ele mesmo é a Base para o nosso amor. A ordem bíblica da evangelização dos povos, precisa ser vista no contexto do deleite divino. Não podemos nos esquecer que o motivo por trás de todas as ações deve objetivar agradar a Deus (Sl 115:3; Is. 48:9-11). Deus tem prazer nele mesmo. Esta última afirmação por nos soar um tanto estranha, mas vamos buscar entender o que isso significa. Deus nos ensina que nosso objetivo supremo deve ser amá-lo e glorificá-lo para sempre, como, então, isso poderia ser diferente para ele mesmo? O fundamento para nosso deleite em ver Deus glorificado é seu próprio deleite em ser glorificado. Deus é central e supremo em todas as suas afeições. Não há rivais para a soberania de Deus em seu próprio coração. Deus não é um idólatra.37 Isso tudo pode nos parecer um tanto confuso, talvez porque nunca tenhamos parado para pensar desse modo. O coração mais apaixonado por Deus em todo o universo é o coração do próprio Deus. Essa verdade sela a convicção de que adoração é o combustível e o objetivo de missões. O amor de Deus por si mesmo é justo, pois ele é justo, é reto, é amor. Podemos ver de modo claro essa paixão da qual estamos falando em Isaías 48.9-11: Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me conterei para contigo, para que te não venha a exterminar. Eis que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem. As expressões desse texto deixam claro que Deus agiu “por amor do seu nome”, por amor de si mesmo ele não exterminou o povo de Israel. É isso, também, o que demonstra uma série de outros textos. Deus escolheu seu povo para sua glória (Ef 1.4- 6); nos criou para sua glória (Is 43.6-7); libertou Israel do Egito para sua glória (Sl 106.7-8); Jesus disse que responde às orações para que o nome de Deus seja glorificado (Jo 14.13); Jesus nos acolheu para a glória de Deus (Rm 15.7); o plano de Deus é encher a terra com o conhecimento da glória do Senhor (Hc 2.14). Esses e tantos outros textos da palavra de Deus não deixam dúvida de que Deus ama a si mesmo, e esse deve ser também o nosso objetivo e nossa motivação para missões. Por esse motivo é que... 35 Idem, p. 13 36 Idem, p.14 37 Piper, op cit., p. 17
  • 13. 13 II. A Centralidade de Deus na Vida da Igreja Quando as pessoas não estão maravilhadas pela grandiosidade de Deus, como poderão ser enviadas para proclamar a mensagem: “grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado, temível mais que todos os deuses” (Sl 96.4)? É essencial que em missões haja centralidade de Deus na vida da igreja. A paixão por Deus no culto precede a oferta de Deus na pregação. Não podemos pregar com convicção aquilo que não estimamos com paixão. “Quando a chama do culto queima com o calor da verdadeira dignidade de Deus, a luz da obra missionária brilhará até os povos mais distantes da terra”38 Quando a paixão por Deus está fraca, o zelo por missões certamente será fraco também. As igrejas que não exaltam a majestade e a beleza de Deus dificilmente poderão acender um desejo afervescente para “anunciar entre as nações a sua glória” (Salmo 96.3). O zelo pela glória de Deus no culto é a grande força motivadora para a obra missionária. John Piper, cita o seguinte pronunciamento de Andrew Murray há mais que cem anos: Enquanto buscamos a Deus sobre por que, com tantos milhões de cristãos, o verdadeiro exército de Deus que está combatendo os exércitos da escuridão é tão pequeno, a única resposta é C falta de coragem e entusiasmo. O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando. E isto é porque há tão pouco entusiasmo pelo Rei. Ninguém poderá se dispor à causa missionária se não experimentar a magnificiência de Cristo (Apocalipse 15.3-4; cf. Salmos 9.11; 18.49; 45.17; 57.9; 96.10; 105.1; 108.3; e Isaías: 12.4; 49.6; 55.5) Quero acrescentar ao que Piper e Carriker já disseram que, Calvino também tem este foco em sua teologia de missões. Para ele tudo na vida deve ser vivido para a glória de Deus.39 Para Calvino, o fator que deveria motivar as missões mundiais era a glória de Deus. Charles Chaney escreve sobre Calvino: o fato de que a glória de Deus era o motivo primordial nas primeiras missões protestantes e isto ter se tornado, mais tarde, uma parte vital do pensamento e atividade missionárias, pode ser traçado diretamente em direção à teologia de Calvino.40 Precisamos nos voltar para o Todo-Poderoso e buscar a sua glorificação em primeiro lugar. Deus deve estar no centro de toda e qualquer atividade da igreja. Missões não são o primeiro e o último, Deus o é. Essa verdade é a vida da inspiração e da perseverança missionária. O missionário William Carey, chamado de “Pai das missões modernas”, foi enviado para a Índia em 1793 e expressou assim essa conexão: 38 PIPER, John. Op Cit., p.12 39 J. van den Berg, “Calvin's Missionary Message: Some Remarks About the Relation Between Calvinism and Missions.” Evangelical Quarterly 22 (Jul. 1950): 177. 40 Charles Chaney, “The Missionary Dynamic in the Theology of John Calvin,” Reformed Review 17 (Mar. 1964): 36-37. See also Samuel Zwemer, “Calvinism and the Missionary Enterprise,” Theology Today 7 (Jul. 1950): 211.
  • 14. 14 Quando eu deixei a Inglaterra minha esperança na conversão da Índia era muito forte, mas, em meio a tantos obstáculos, ela poderia morrer a não ser que fosse sustentada por Deus: Eu tenho a Deus e sua palavra é verdadeira. Apesar de as superstições dos pagãos serem milhares de vezes mais fortes do que eles e o exemplo dos europeus milhares de vezes pior; embora eu tenha sido abandonado e perseguido por todos, ainda assim esta é minha Fé, firmada na certeza da palavra, que se elevará acima de todos os obstáculos e superará cada provação. A causa de Deus irá triunfar41 William Carey e milhares como ele têm sido movidos pela visão de um grande e triunfante Deus. Isso significa ter Deus no centro da vida. A centralidade de Deus deve ser evidente na vida da igreja e isso é motivação para realização de missões. III. A glorificação de Deus é o alvo de missões O culto é o alvo da obra missionária simplesmente porque nosso propósito é levar as nações a regozijarem-se em Deus e glorificá-Lo acima de tudo. O alvo da obra missionária é a alegria dos povos na grandeza de Deus (Salmo 97.1; 67.3-4; cf. 47.1; 66.1; 72. 11, 17; 86.9; 102.15; 117.1; e Isaías 25.6-9; 52.15; 56.7; 66.18-19. Penso que o culto a Deus como o alvo da obra missionária já se tornou patente como decorrente de toda a nossa reflexão até este momento. Mas há um aspecto desta verdade que precisamos explorar mais. É o seguinte: O culto a Deus como alvo da obra missionária ajuda a entender a própria definição da obra missionária. Pois a obra missionária enfatiza a prioridade de alcançar povos, ou etnias não alcançadas. Isto se evidencia na repetida descrição bíblica da tarefa missionária em termos de etnias (Mateus 24.14; 28.18-20; Romanos 15.19-21). Na Bíblia, a frase, pa,nta ta. e;qnh significa “todas as nações” ou “todas as etnias”. A palavra na forma singular,εθνοσ de fato, sempre se refere a coletividade dum povo ou duma nação. Nunca se refere a indivíduos gentílicos. O mesmo é geralmente verdade em relação a εεεεθθθθνοσνοσνοσνοσ,,,, na forma plural. A frase pa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnh quase sempre denota esta referência coletiva na Bíblia, também. Que a estratégia bíblica seja de alcançar especialmente as etnias não alcançadas é claro em Romanos 15.19-21. Para muitos cristãos, talvez até a maioria, esta estratégia não parece muito lógica. Antes alcançar todos os indivíduos ao nosso alcance e semelhantes culturalmente a nós, que procurar alcançar representantes de etnias que podem ser geografica ou culturalmente distantes. Parece uma questão de mordomia de esforços.42 Conclusão: A obra missionária começa e termina com o culto prestado à glória de Deus. Começa, porque somente o culto genuíno e profundo pode motivar adequadamente a igreja para assumir sua vocação missionária. E termina, porque o alvo último e o fim principal de toda humanidade é glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre. E na obra missionária, procuramos levar as nações à mesma alegria e exaltação que carateriza o nosso culto a Deus. Portanto, quando afirmamos que a obra missionária é a prioridade penúltima na igreja não estamos diminuindo a sua importância. Estamos meramente fazendo o que devemos, maximizando a tarefa de glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre. E assim, enxergamos a verdadeira importância da obra missionária, certamente acima de outras atividades na igreja, isto é estender e diversificar, e assim intensificar o culto que glorifica e goza Deus entre todas as nações da terra (Apocalipse 5.9-10; 7.9-10). 41 Citado em Alegre-se os Povos de John Piper, Editora Cultura Cristã, a ser lançado. 42 PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã: 2001 ) p. 184
  • 15. 15 III. A NATUREZA DA TAREFA MISSIONÁRIA _________________________ “Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem” Rm 15.11 Qual é a tarefa das missões cristãs?43 Se toda a raça humana está sob condenação por causa do pecado e excluídas da vida eterna (Ef 2.2-3, 12; 4.17; 5.6) e se invocar a Jesus é sua única esperança para a comunhão eterna e jubilosa com Deus, então podemos entender que se amamos estas pessoas, devemos fazer missões? Amor pelos perdidos é uma elevada e sublime motivação para a obra missionária. Sem isso perdemos a doce humildade de repartir um tesouro que recebemos de graça. Mas a compaixão pelas pessoas não pode ser separada do amor a Deus. John Piper nos fornece um motivo adicional do porquê o amor aos perdidos não pode ser o nosso combustível em missões. Ele afirma que é impossível amar verdadeiramente aos “perdidos”, pois não conseguimos cultivar um amor profundo por alguém que conhecemos somente por meio de fotos ou quando colocados, de um modo mais geral, como uma nação ou um povo, ou algo tão vago como “todos os perdidos”.44 Vejamos então o que a Escritura nos ensina sobre a natureza da obra missionária: 1) Territórios Não-Alcançados ou Povos Não-Alcançados ? Desde 197445 , a tarefa das missões tem sido focalizada crescentemente na evangelização de povos não-alcançados46 em oposição à evangelização de territórios não-alcançados. Naquele ano, no Congresso de Evangelização Mundial de Lausanne, Ralph Winter acusou o empreendimento missionário ocidental do que ele chamou de “cegueira dos povos”. Desde aquele tempo, ele e outros têm pressionado incessantemente a focalização do “grupo de pessoas” no planejamento da maioria das igrejas e organizações similares voltadas para as missões. A “verdade destrutiva” que ele revelou em Lausanne foi esta: apesar de o evangelho ter chegado a todos os países do mundo, quatro de cada cinco não-cristãos estão ainda excluídos da pregação do evangelho devido não a barreiras geográficas, mas a barreiras culturais e lingüísticas. Por que esse fato não mais é amplamente conhecido? Receio que toda nossa exultação pelo fato de todos os países terem sido transpostos permitiu que muitos supusessem que todas as culturas também foram alcançadas. Esse mal-entendido é uma doença tão disseminada que merece um nome especial. Vamos chamá-la “cegueira dos povos”, isto é, cegueira para a existência de povos separados dentro de países – uma cegueira, posso acrescentar, que parece mais predominante nos Estados Unidos e entre os missionários norte-americanos do que em qualquer outro47 43 O presente capítulo foi adaptado da obra de John Piper - Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã: 2001 ) pp. 177 a 230. 44 Piper, Op Cit., p. 178 45 Neste ano foi realizado o Congresso Mundial de Evangelização em Lausane na Suíça. 46 A definição de “povos não-alcançados” é: grupos de pessoas que não possuem entre si um movimento cristão atuante e/ou números suficientes de cristãos com recursos adequados para evangelizar o restante do grupo ( Winter em Missões Transculturais – Uma Perspectiva Estratégica. São Paulo, SP Ed Mundo Cristão. 1987 p.712 47 WINTER, RALPH. The New Macedônia: A Revolutinary New Era in Mission Begins, em Ralph Winter e Steven Hawthorne, eds.; Perspectives on the World Missions Movement ( Pasadena: William Carey Library, 1981, p. 302
  • 16. 16 A mensagem de Winter serviu como um alerta para a igreja de Cristo, reorientando seu pensamento para que as missões fossem vistas como a tarefa de evangelização dos povos não- alcançados e não meramente como a tarefa de evangelização de mais territórios. Extraordinariamente, nos 15 anos seguintes, o empreendimento missionário respondeu a esse chamado. Em 1989, Winter foi capaz de escrever: “Agora que o conceito de Povos Não- Alcançados foi aceito amplamente, é possível elaborar planos imediatamente... com muito maior confiança e precisão”.48 Definição de Povos não-alcançados: O chamado de Deus para missões não pode ser definido em termos de atingir outras culturas para aumentar o número de indivíduos salvos. Antes, a vontade de Deus para missões é que cada grupo de pessoas seja alcançado com o testemunho de Cristo, e que as pessoas sejam chamadas, em seu nome, de todas as nações. Assim é demonstrada a soberania de Deus entre todas as nações. Somos comissionados para cumprir essa tarefa. Se a tarefa de missões é alcançar todos os grupos de pessoas não-alcançados do mundo, necessitamos ter idéia do que significa “alcançado”, de modo que as pessoas chamadas para a tarefa missionária da igreja conheçam quais os grupos de pessoas a que devem se dirigir e quais deixar. Paulo deve ter tido alguma idéia do que significava “alcançado”, quando disse em Romanos 15.23: “ ...não tendo já campo de atividade nestas regiões”. Ele deve ter entendido o que significava completar a tarefa missionária, quando afirmou em Romanos 15.19: “desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo”. Ele sabia que sua obra estava concluída naquela região. Eis por que ele dirigiu-se à Espanha. O Encontro dos Povos Não-Alcançados de 1982, a que nos referimos anteriormente, definiu “não- alcançados” desta forma: Um grupo de pessoas não-alcançadas é “um grupo de pessoas dentro do qual não há comunidade nativa de crentes cristãos capazes de evangelizá-los”. Assim, um grupo seria alcançado quando os esforços da missão tiverem estabelecido uma igreja nativa que tenha força e recurso para evangelizar o restante do grupo. (Ap 5:9; 7:9; 10:11; 11:9; 13:7; 14:6; 17:15) fulh/j: descendentes físicos glw,sshj: comunicação idiomática49 . laou/: grupo etnico50 . 24 mil grupos étnicos – 8 mil ainda não alcançados. e;qnouj: entidade política, fronteiras geográficas 48 RALPH WINTER, Unreached Peoples: Recent Developments in the Concept, Missions Frontiers, Agosto- setembro, 1989, p. 18 49 Ronaldo Lidório diz que convivemos hoje com 6528 línguas vivas. 336 possuem a Bíblia completa, 928 o Novo Testamento completo e 918 grandes porções bíblicas, ou seja a Palavra está expressivamente presente em 2212 línguas. Deixa-nos com mais de 4.000 línguas, minoritárias e faladas por apenas 6% da população mundial, sem nada da Palavra de Deus. Entretanto tudo isto acontece em um mundo onde 1 bilhão e meio de pessoas, segundo a ONU, não sabe ler ou escrever. Não poderiam ler a Palavra mesmo se a tivessem em sua própria língua http://www.monergismo.com/textos/missoes/restaurando_lidorio.htm ). Na Índia com 940 milhões de habitantes tem 17 línguas oficiais e mais de 400 castas relacionadas. Ronaldo Lidório afirma que só em Gana, África entre os Konkombas há 23 dialetos diferentes. (Cf. Lidório em O Desafio Continua, p. 43) 50 Segundo a Word Mission International há no mundo hoje 2.227 povos que desconhecem totalmente o evangelho de Jesus em suas vidas.Mas não apenas esses; há outros 4000 povos que possuem igreja, testemunhos, alguma conversão, mas que não possuem uma igreja forte suficiente para comunicar o evangelho ao restante daquela própria etnia; temos perante nós um desafio étnico. Dentre as 258 tribos indígenas brasileiras, eu falo isso com muita vergonha e constrangimento em meu coração, há hoje 103 tribos em nosso país, na nossa circunferência nacional, totalmente não alcançadas pelo evangelho de Jesus e sem presença missionária. E 40 destas tribos estão com as portas abertas para alguém que lhes fale de Jesus, mas não há. Estão na espera de uma igreja que, muitas vezes, nunca envia ou ora por um missionário. (cf. http://www.mhorizontes.org.br/Docs/transparencias/11-tarefainacabada.pdf)
  • 17. 17 II. A Esperança do Antigo Testamento: Todas as Famílias Serão Abençoadas Essa é uma promessa presente no Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento está repleto de promessas e expectativas de que Deus será, um dia, adorado por nações de todo o mundo. Fundamental para a visão missionária do Novo Testamento foi a promessa que Deus fez a Abraão em Gênesis 12.1-3: Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei urna grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu urna bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. Essa promessa de benção universal às “famílias” da terra51 é essencialmente repetida em Gênesis 18.18; 22.18; 26.4 e 28.14. Em 12.3 e 28.14 a frase hebraica para “todas as famílias” (kol mishpahot) é traduzida no grego do Antigo Testamento por pasai hai phulai. A palavra phulai significa “tribos” em muitos contextos. Porém mishpaha pode ser, e usualmente é, menor que uma tribo. Por exemplo, quando Acã pecou, Israel é investigado em ordem decrescente de tamanho: primeiro por tribo, em seguida por mishpaha (família) e por fim por pessoa (Js 7.14). Assim, a bênção de Abraão decorre do propósito divino de alcançar eqüitativamente pequenos agrupamentos de pessoas. Não precisamos definir esses grupos com precisão para sentir o impacto dessa promessa. A palavra hebraica para o termo "família" dá a idéia de uma tenda, um grupo não de muitas pessoas. Podemos, por meio disso, afirmar que a promessa de alcançar cada tribo, povo ou nação já está presente no Antigo Testamento. O evangelho não é apenas para as grandes nações, mas para os pequenos grupos de pessoas também, como as tribos. Isso deixa claro que nosso empenho evangelístico deve ser muito maior, pois temos o mandamento de alcançar não somente as nações, mas os pequenos grupos que as formam. O que podemos concluir de Gênesis 12.3 e de seu uso no Novo Testamento é que o propósito de Deus para o mundo é a bênção de Abraão, ou seja, que a salvação alcançada por Jesus Cristo, a semente de Abraão, possa alcançar todos os grupos étnicos do mundo. Isso acontecerá quando as pessoas de cada grupo colocarem sua fé em Jesus Cristo e tornarem-se "filhas de Abraão" e "herdeiros da promessa" (Gl 3.7,29). Há vários textos que expressam a esperança de que todas as nações louvem ao Senhor: "Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto; para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos. Alegrem-se e exultem as gentes, pois julgas os povos com equidade e guias na terra as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos" (Sl 67.1-5). "E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam" (Sl 72.11). "Subsista para sempre o seu nome e prospere enquanto resplandecer o sol; nele sejam abençoados todos os homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado" (Sl 72.17). Há outros textos que expressam a esperança das nações, anunciando os planos do salmista em fazer sua parte para tornar a grandeza de Deus conhecida entre elas: 51 Ver a exposição de Gn. 12 feita por Gerard Van Groningen. In: Revelação Messiânica no Velho Testamento. Campinas, SP: Ed. Luz Para o Caminho. 1995 p.123-132
  • 18. 18 “Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, ó SENHOR, e cantarei louvores ao teu nome” (Sl 18.49). "Render-te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as nações" (Sl 57.9). "Render-te-ei graças entre os povos, ó SENHOR! Cantar-te-ei louvores entre as nações" (Sl 108.3). Esses textos deixam clara a responsabilidade do povo de Deus em proclamar a sua glória entre as nações. O povo de Deus deve ser canal de bênção para todas as famílias.52 III. A Prioridade de Paulo por Povos Não-Alcançados. Isso é notavelmente confirmado em Romanos 15. Aqui se torna evidente que Paulo via o seu chamado especificamente missionário para alcançar cada vez mais grupos de pessoas e não apenas mais e mais indivíduos gentios. Em Romanos 15.8-9 Paulo afirma o duplo propósito para a vinda de Cristo: “Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão [isto é, tornou-se encarnado como um judeu], em prol da verdade de Deu, para [1] confirmar as promessas feitas aos nossos pais; e para que [2] os gentios (ta ethne) glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia”. Portanto, o primeiro propósito para a vinda de Cristo foi provar que Deus é verdadeiro e fiel em manter, por exemplo, as promessas feitas a Abraão. E o segundo, foi para que as nações pudessem glorificar a Deus por sua misericórdia. Esses dois propósitos sobrepõem-se, uma vez que, claramente, uma das promessas feitas aos patriarcas foi que a bênção de Abraão viria a “todas as famílias da terra”. Isso está em perfeita harmonia com o que vimos na esperança do Antigo Testamento. Israel é abençoado para que as nações possam ser abençoadas (Sl 67). De igual modo, Cristo vem a Israel para que as nações possam receber misericórdia e dar glória a Deus. IV. A Visão de João sobre a Tarefa Missionária. A visão da tarefa missionária nos escritos do apóstolo João confirma que a percepção de Paulo sobre a esperança do Antigo Testamento de alcançar todos os povos não era única entre os apóstolos. O que transparece do Apocalipse e do Evangelho de João é uma visão que admite a tarefa missionária principal de alcançar grupos de pessoas, não apenas indivíduos gentios. O texto decisivo é Apocalipse 5.8-10. João teve um vislumbre do clímax da redenção com a adoração de pessoas redimidas diante do trono de Deus. A composição daquele grupo é essencial. Os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos... entoavam novo cântico, dizendo: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”. A visão missionária por trás dessa cena é que a tarefa da igreja é reunir os redimidos de todos os povos, língua, tribos e nações (fulh/j kai. glw,sshj kai. laou/ kai. e;qnouj ). Todos os povos devem ser alcançados porque Deus designou pessoas a crerem no evangelho, as quais ele redimiu pela morte de seu Filho. O desígnio da redenção prescreve o desígnio da estratégia da missão. E o desígnio da redenção ( a redenção de Cristo, versículo 9) é universal, pois se estende a todos os povos, e definitivo, uma vez que efetivamente redime alguns de cada um 52 É esclarecedor o estudo exegético feito por Piper com u uso Singular e Plural de Ethnos no Novo Testamento ( ver Piper pp. 85-188 ) e o Uso de Pantha Ta Ethne ( ver Piper pp. 188 a 191 )
  • 19. 19 desses povos. Portanto, a tarefa missionária é reunir os redimidos de todos os povos por meio da pregação do evangelho. ( João 10:16; 11;51,52, Ap 5:9 ) V. Uma Casa de Oração para Todas as Nações. Outro indicador do modo como Jesus imaginava os propósitos missionários universais de Deus vem de Marcos 11.17. Quando Jesus limpa o templo, ele cita Isaías 56.7: Não está escrito: “A minha casa será chamada cada de oração para todas as nações (pa/sin toi/jpa/sin toi/jpa/sin toi/jpa/sin toi/j e;qnesine;qnesine;qnesine;qnesin)”? A razão disso ser importante para nós é que ela mostra Jesus buscando no Antigo Testamento (exatamente como ele faz em Lucas 24.45-47) para interpretar os propósitos universais de Deus. Ele cita Isaías 56.7, que, em hebraico, diz explicitamente: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos ( kol ha’ ammim). “Assim está escrito” no VT - Sl 22:27 cf. At 1:8; Lc 24:47 O significado de grupo de pessoas é inconfundível. A posição de Isaías não é que todo indivíduo gentio tinha o direito de permanecer na presença de Deus, mas que haja convertidos de “todos os povos” que entrarão no templo para adorar. O fato de Jesus estar familiarizado com essa esperança do Antigo Testamento e ter baseado suas expectativas universais referindo-se a ela (Mc 11.17; Lc 24.45-47), sugere que devemos interpretar sua “Grande Comissão” nesta mesma direção – a mesma que encontramos nos escritos de Paulo e João. VI. Como a Diversidade Magnífica a Glória de Deus. O grande objetivo de Deus é sustentar e demonstrar a glória de seu nome para o regozijo de seu povo entre todas as nações. A questão agora é: "Por que Deus mantém o objetivo de mostrar sua glória por meio da obra missionária entre todas as pessoas do mundo. Corno o objetivo missionário serve melhor ao propósito de Deus?" Refletindo bib1icamente sobre o assunto, quatro respostas emergem: 1. Primeiro, há uma beleza e poder no louvor que vem da unidade na diversidade, que é maior do que aquele vindo da unidade exclusiva. O Salmo 96.3-4 conecta a evangelização das pessoas com a qualidade de louvor de que Deus é merecedor. “Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas. Porque grande é o Senhor e muito digno de ser louvado, temível mais que todos os deuses”. Observe a palavra “porque”. A grandeza extraordinária do louvor que o Senhor deve receber é a base e o ímpeto da nossa missão. 2. segundo, a fama, grandeza e valor de um objeto de beleza aumenta em proporção à diversidade daqueles que reconhecem sua beleza. Se uma obra de arte é considerada excelente por um grupo de pessoas pequeno e de mesma opinião e por ninguém mais, a arte com toda certeza não é verdadeiramente grande. Suas qualidades são tais que não alcançam as profundezas universais de nossos corações, mas apenas as tendências provinciais. Porém, se uma obra de arte continua ganhando cada vez mais admiradores, não somente através de culturas mas também de décadas e séculos, então sua grandeza é irresistivelmente manifesta. Assim, quando Paulo diz: “Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem” (Rm 15.11), ele está expondo que há alguma coisa acerca de Deus que é tão universalmente digna de louvor, tão profundamente bela, tão compreensivelmente valiosa e tão profundamente satisfatória que ele encontrará admiradores apaixonados em todo grupo diverso de pessoas no mundo. A sua verdadeira grandeza será manifesta na amplitude da diversidade daqueles que percebem e apreciam a sua beleza. Sua excelência será mostrada para ser mais alta e mais profunda que as preferências limitadas que nos fazem felizes a maior parte do tempo.
  • 20. 20 Seu apelo será para as mais profundas, mais elevadas e mais amplas capacidades da alma humana. Portanto, a diversidade da fonte de admiração testificará a sua incomparável glória. 3. Terceiro, a força, a sabedoria e amor de um líder são magnificados em proporção à diversidade de pessoas que ele pode inspirar para segui-lo com alegria. Se você pode liderar somente um grupo pequeno e uniforme de pessoas, suas qualidades de liderança não são tão grandes como as que teria se pudesse conquistar seguidores de um grande grupo de pessoas muito diferentes. O entendimento de Paulo do que está acontecendo em sua obra missionária entre as nações é que Cristo está demonstrando sua grandeza, conquistando obediência de todos os povos do mundo: “Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras” magnificada à medida que cada vez mais pessoas diferentes decidem seguir a cristo. É a grandeza de Cristo. Ele está mostrando-se superior a todos os outros líderes. 4. Por focalizar todos os grupos de pessoas no mundo, Deus eliminou o orgulho etnocêntrico e recolocou todos os povos sob sua livre graça, em vez de qualquer característica que possam ter. Conclusão: O objetivo de Deus em toda a história é sustentar e demonstrar sua glória para o regozijo dos redimidos de cada tribo, povo, língua e nação. Seu objetivo é a alegria de seu povo, porque “Deus é mais glorificado em nós quando nós estamos mais satisfeitos nele”. A maior boa-nova em todo o mundo é que o objetivo de Deus é ser glorificado, e o objetivo do homem estar satisfeito não são probabilidades, mas verdades da Palavra de Deus. A igreja deve engajar-se com o Senhor da glória em sua causa. É nosso grande privilégio alcançar com ele, no maior movimento da história, a reunião dos eleitos "de toda tribo, língua, povo e nação" até que se complete o número dos eleitos e todo Israel seja salvo, e o Filho do homem desça com poder e grande glória, como Rei dos reis e Senhor dos senhores, e a terra esteja cheia de sua glória, assim como as águas cobrem o mar para sempre e sempre. Então, a soberania de Cristo será manifesta a todos, e ele entregará o Reino a Deus, o Pai, e Deus será tudo em todos.
  • 21. 21 IV. A NECESSIDADE DAS MISSÕES ____________________________ Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. At 4:12 Questão para debate: Há pessoas devotas em outras religiões, as quais coinfiam humildemente na graça de Deus que conhecem por meio da Revelação geral (Rm 1:19-21) e assim recebem a salvação eterna? As Pessoas Devem Ouvir o Evangelho de Jesus Cristo para Serem Salvas?53 Quem nunca fez uma destas perguntas: “os que jamais ouviram o Evangelho estão perdidos?”; ou então “os índios vão ser salvos?”. Em nossas classes de escolas dominicais, ou nas conversas sobre evangelismo e missões, sempre surgem dúvidas como essas. Normalmente nossas respostas são muito evasivas, se é que temos alguma. Não refletimos sequer nas implicações que elas possam vir a ter. Teólogos, pastores e seminaristas fazem a mesma indagação e procuram investigar o assunto sob uma perspectiva bíblica, teológica e filosófica. Três pontos de vista sobre o destino dos não-evangelizados54 . 1) Inclusivismo: Alguns teólogos acreditam que mesmo aquelas pessoas que nunca ouviram o evangelho podem ser salvas. Se, através da criação – revelação geral – vierem a crer em Deus, ainda que não conheçam a Jesus, serão redimidas de seus pecados. Dizem que qualquer religião pode ser um instrumento útil para aproximar a pessoa de Deus. Isso é chamado de “inclusivismo”, porque Deus inclui todos em sua graça, antes de excluí-las no julgamento. Mas a fundamentação bíblica desse ponto de vista é muito questionável. Este posicionamento é fruto da ambiência pós-moderna e do mundo globalizado. Ricardo Barbosa explica este ponto: Vivemos o risco de um novo modelo de intolerância. Afirmar a centralidade da obra de Cristo já pode ser visto como preconceito.Uma das contradições da cultura pós-moderna e globalizada é sua capacidade de romper fronteiras e preconceitos, tornando-a mais inclusiva e, ao mesmo tempo, criar outras fronteiras e preconceitos, tornando-a extremamente exclusiva e violenta. Nas últimas décadas, a civilização ocidental tem feito um enorme esforço para diminuir as distâncias entre as raças, romper com os preconceitos e a discriminação sociais e criar uma sociedade menos violenta e mais aberta à inclusão das minorias55 O que o chamado inclusivismo defende é que uma tolerância perigosa para o cristianismo. Como bem afirmou James Houston, o que ele chamou de uma nova forma de fundamentalismo, o da “democracia liberal”, que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã. Esta tolerância oriunda do cenário globalizado, também agora está questionando a questão da centralidade da morte e ressurreição de Cristo para a vida e a necessidade das pessoas ouvirem sobre Cristo para serem salvas. Imagino que, mais cedo do que pensamos, enfrentaremos uma forte resistência à afirmação bíblica de que Jesus é “o caminho”, “a verdade”, “a vida”, de que ele é “o único Senhor”, de que “não há salvação fora dele” e de que ele é o “único que pode perdoar nossos 53 Texto extraído e adaptado do livro de John Piper – Alegrem-se os Povos: A Supremacia de Deus em Missões, São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2001. pp. 124-176 54 Sobre este tema há um livro que sugiro seja consultado por aqueles que queiram aprofundar um pouco mais esta três posições: Donald E. Price, org. Que Será dos Que Nunca Ouviram? São Paulo, SP: Ed. Vida Nova. 2004. 55 Cf. http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/pos_modernidade_singularidade_cristo.htm capturado em 27/01/2006.
  • 22. 22 pecados”. Todas essas afirmações são, por si, uma agressão ao espírito “democrático” da sociedade pós-moderna. Como vamos ver no terceiro ponto de vista sobre a necessidade de se ouvir sobre Jesus, afirmar a exclusividade de Cristo implica na negação e rejeição de qualquer outro nome que possa nos reconciliar com Deus, e isso soa como um preconceito, uma forma de discriminação inaceitável. Afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus e que só ela traz a revelação do propósito redentor de Jesus é também uma afirmação que pode ser considerada preconceituosa, uma vez que nega todas as outras formas de revelação. 2) Perseverança Divina: Outros dizem que ninguém será salvo com base no conhecimento que possam ter de Deus através da natureza. No entanto, chegam ao absurdo de afirmar que, logo após a morte, aqueles que nunca ouviram o Evangelho terão uma oportunidade de dizer “sim” ou “não” a Jesus. Deus concederá a todos os homens a chance de ouvir o evangelho e optar, ou não, pela redenção trazida por Jesus. Tomam por base alguns textos difíceis de 1 Pedro (como o cap. 3: 18ss). Dão ao seu ponto de vista o nome de “perseverança divina” ou “evangelismo post-mortem” 3) Exclusivismo (restritivismo):56 Há também os teólogos que ensinam não haver qualquer oportunidade de salvação para o homem, se não existir conhecimento de Cristo e uma resposta pessoal e consciente ao seu chamado. Essa posição é conhecida como “exclusivismo”; às vezes também “restritivismo”. Para que alguém seja salvo, é fundamental ouvir o Evangelho nesta vida e fazer uma decisão por Jesus. Essa é a interpretação que mais parece se afinar ao ensino geral das Escrituras Sagradas. Essas três opiniões têm alguns pontos interessantes de semelhança bem como diferenças. Como já foi observado, todas as três afirmam que a salvação em Jesus é a palavra final bem como a singularidade dessa salvação. O restritivismo e o inclusivismo concordam, numa posição contrária à defendida pela perseverança divina, que nosso destino já está selado no momento da morte e que não existe nenhuma oportunidade de salvação após ela. O restritivismo e a perseverança divina concordam, contrariamente ao inclusivismo, que o conhecimento da mensagem do evangelho é uma condição necessária para a salvação. Mas discordam sobre se a mensagem deve ser apresentada por um agente humano antes da morte. O inclusivismo diverge das duas outras opiniões ao sustentar que Deus concede salvação mesmo onde o Evangelho é desconhecido. O inclusivismo e a perseverança divina afirmam que Deus, em Jesus Cristo, torna a salvação disponível a todas as pessoas que já viveram, ao passo que o restritivismo nega isso. Deve-se observar que há outras opiniões quanto ao destino dos não- evangelizados que não estamos discutindo aqui. Podem ser resumidas assim: • Alguns advogam um completo agnosticismo, dizendo que nós não temos informação bíblica suficiente para justificar uma conclusão sobre o assunto. • Alguns teólogos católicos romanos propõem uma versão da evangelização post- mortem chamada de teoria da opção final. Eles crêem que Cristo encontra todas as pessoas no momento em que estão morrendo – não depois da morte – dando- lhes uma oportunidade de conversão. 56 Cf. Artigo de Ronald Nash “Restritivismo”
  • 23. 23 • Alguns, como John R. W. Stott, são otimistas de que Deus irá salvar a grande maioria da raça humana, muito embora eles não saibam como Deus irá realizar isso. Isto é, eles se recusam a tomar uma posição quanto ao método que Deus usa para salvar os não-evangelizados, embora afirmem que Ele o faz. • Outros, como J. I. Packer, têm uma posição mais pessimista, asseverando que, embora talvez seja possível que Deus proveja um meio de salvação para alguns dos não-evangelizados, o melhor é permanecer negando essa possibilidade. Isto é, pode ser que Deus o faça, mas não temos razão para pensar que Ele o fará. Pontos de Vista Sobre o Destino dos Não-Evangelizados Restritivismo Inclusivismo Perseverança Divina ou Evangelismo Post-mortem Definição: Deus não provê salvação para aqueles que não ouvem acerca de Jesus e, conseqüentemente, não crêem nEle antes da morte. Definição: Os não-evangelizados podem vir a ser salvos, se responderem a Deus em fé, baseados na revelação que possuem. Definição: Os não-evangelizados recebem uma oportunidade de crer em Jesus depois da morte. Textos-chaves: Jo 14.6 At 4.12 1Jo 5.11-12 Textos-chaves: Jo 12.32 At 10.43 1Tm 4.10 Textos-chaves: Jo 3.18 1Pe 3.18 – 4.6 Representantes: Agostinho João Calvino Jonathan Edwards Carl Henry R. C. Sproul Ronald Nash Representantes: Justino Mártir John Wesley C. S. Lewis Clark Pinnock Wolfhart Pannenberg John Sanders Representantes: Clemente de Alexandria George MacDonald Donald Bloesch George Lindbeck Stephen Davis Gabriel Fackre OBS: Todos os representantes mencionados desses pontos de vista concordam que Jesus é único Salvador. A supremacia de Deus nas missões é confirmada biblicamente pela afirmação da supremacia de seu Filho, Jesus Cristo. É uma verdade surpreendente do Novo Testamento que, desde a encarnação do Filho de Deus, toda fé salvadora deve, dali por diante, se fixar nele. Isso nem sempre foi verdade, por isso aqueles tempos eram chamados “tempos da ignorância” (At 17.30). Mas agora é e Cristo tornou-se o centro consciente da missão da igreja. O objetivo das missões é levar “graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios” (Rm 1.5). Isso é mais uma coisa nova que ocorreu com a vinda de Cristo. A vontade de Deus é glorificar seu Filho, fazendo-o foco consciente de toda a fé salvadora. 1. Há Necessidade de Consciência da Fé em Cristo? Poderia alguma pessoa ser salva sem que tivesse sido evangelizada e tivesse consciência de ter obtido salvação cm Cristo Jesus? Alguns evangélicos afirmam somente que não sabem responder a essa pergunta, enquanto outros dizem que Cristo é o único meio de salvação, mas que salva alguns que nunca ouviram dele por meio de uma fé que não tem a Cristo como foco consciente. Será, então, realmente necessário que as pessoas ouçam de Cristo para que sejam salvas? Esse tipo de pensamento elimina a idéia de urgência na evangelização. Se as pessoas podem ser salvas sem que tenham ouvido de Cristo, por que sair por aí evangelizando, fazendo missões? Deus salvará aqueles que quer de um modo ou de outro. Mas não é isso o que nos ensina a Palavra de Deus.
  • 24. 24 Haverá um inferno de tormento consciente para aqueles que possuem uma fé cujo foco não seja o Senhor Jesus Cristo. Veja o que diz Daniel 12.2: "Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno". Apren demos ainda que haverá um castigo eterno: “A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em logo inextinguível" (Mt 3.12); "...se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno" (Mt 18.8). O fogo é eterno, sem fim. Não há como negar sua existência. O inferno é uma terrível realidade. Por quê? Porque os infinitos horrores do inferno têm o objetivo de demonstrar o infinito valor da glória de Deus, a qual eles rejeitaram. A compreensão bíblica da justiça do inferno é um claro testemunho de que o pecado deixou de glorificar a Deus. Se não houver fé consciente no Senhor Jesus, o resultado será o castigo eterno. 2. A Necessidade da Redenção de Cristo para a Salvação. Há pessoas que podem ser salvas de outras maneiras do que pela eficácia da obra de Cristo? As outras religiões e as provisões que elas oferecem são suficientes para levar as pessoas à felicidade eterna com Deus? Os seguintes textos bíblicos levam-nos a crer que a redenção de Cristo é necessária para a salvação de todo aquele que é salvo. Não há salvação fora daquela que Cristo conquistou com sua morte e ressurreição. Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundancia da graça e o dom da justiça, reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos. ( Rm 5:17-19 ) O aspecto fundamental aqui é a universidade da obra de Cristo, ou seja, não se limita meramente aos judeus. A obra de Cristo, o segundo Adão, corresponde à obra do primeiro Adão. Assim como o pecado de Adão leva à condenação de toda a humanidade que se uniu a ele como seu cabeça, assim a obediência a Cristo conduz à justiça de toda a humanidade que está unida a ele como seu cabeça – “os que recebem a abundância da graça” (v. 17). A obra de Cristo na obediência da cruz é retratada como a resposta divina para a condição de toda a raça humana. ( Cf.: I Co 15:21-23; I Tm 2:5; Ap 5:9-10; At 4:12; Rm 3:23-25 ) 4. “Abaixo do Céu não Existe Nenhum Outro Nome”, Atos 4.12 A razão dessa mensagem salvar é que ela proclama o nome que salva-o de Jesus. Pedro disse que Deus visitou os gentios “a fim de construir dentre eles um povo para o seu nome” (At 15.14). É evidente, pois, que a proclamação pela qual Deus escolhe um povo para o seu nome seria a mensagem que depende do nome do seu Filho Jesus. Isso é, na verdade, o que vimos na pregação de Pedro na casa de Cornélio. O sermão atinge seu clímax com estas palavras sobre Jesus: “Por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (At 10.43). A necessidade implícita de ouvir a aceitar o nome de Jesus que vemos na história de Cornélio é tornada explicita em Atos 4.12, no clímax de outro sermão de Pedro, desta vez perante os líderes judeus em Jerusalém. A situação por trás dessa famosa declaração é que o Jesus ressurreto curou um homem por meio de Pedro e João. O homem era coxo de nascença, mas se levantou e correu pelo Templo louvando a Deus. Juntou-se uma multidão e Pedro pregou. Sua mensagem tornou
  • 25. 25 evidente que o que estava em jogo aqui não era meramente um fenômeno religioso. Aquilo dizia respeito a qualquer um no mundo. Então, de acordo com Atos 4.1, os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus vieram e prenderam Pedro e João, colocando-os em um cárcere até o dia seguinte. Na manhã seguinte as autoridades, os anciãos e os escribas reuniram-se e interrogaram Pedro e João. No curso do interrogatório, Pedro expôs a implicação do senhorio universal de Jesus: “Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”. Precisamos sentir a força dessa alegação universal atentando para as várias expressões muito seriamente. A razão de não haver salvação em nenhum outro é que “abaixo do céu não existe nenhum outro nome (não apenas nenhum outro nome em Israel, mas nenhum outro nome abaixo do céu, incluindo o céu sobre a Grécia, Roma, Espanha etc), dado entre os homens (não apenas entre os judeus, mas entre todos os humanos de todos os lugares), pelo qual importa que sejamos salvos”. Essas duas frases, “abaixo do céu” e “entre os homens”, reforçam a alegação da universalidade em sua extensão mais plena. Porém, há ainda aqui mais coisas que precisamos ver. Geralmente a interpretação dos comentaristas de Atos 4.12 é que, sem a crença em Jesus, uma pessoa não pode ser salva. Em outras palavras, Atos 4.12 é visto como um texto essencial para responder à indagação de que aqueles que nunca ouviram o evangelho de Jesus podem ser salvos. Mas Clark Pinnock representa outros que dizem que “Atos .12 não diz coisa alguma sobre [essa questão]. ... ele não faz nenhuma observação sobre o destino do pagão. Embora essa seja uma questão de grande importância para nós não há ninguém a respeito de quem Atos 4.12 expresse um julgamento, quer positivo ou negativo”. Pelo contrário, o que Atos 4.12 diz é que “a salvação em sua plenitude é disponível à humanidade somente porque Deus, na pessoa de seu Filho Jesus, proveu-a”. Em outras palavras, o versículo afirma que a salvação vem somente por meio da obra de Jesus e não apenas pela fé em Jesus. Sua obra pode beneficiar aqueles que têm um relacionamento particularmente com Deus sem ele, por exemplo, com fundamento na revelação geral na natureza. O problema com a interpretação de Pinnock é que ela não considera o verdadeiro significado da focalização de Pedro sobre o “nome” de Jesus. “Abaixo do céu não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos”. Pedro está dizendo alguma coisa a mais do que não haver outra fonte de poder salvador e que você pode ser salvo por algum outro nome. O fato de dizer que “não existe nenhum outro nome” significa que somos salvos por invocar o nome do Senhor Jesus. Invocar seu nome é a nossa entrada na comunhão com Deus. Se alguém é salvo por Jesus incógnito, não pode falar que foi salvo por seu nome. Observamos anteriormente que Pedro afirmou em Atos 10.43: “Por meio de seu nome, todo o que nele crê recebe remissão de pecados”. O nome de Jesus é o foco da fé e do arrependimento. A fim de crer em Jesus para obter o perdão dos pecados, você deve crer em seu nome. O que significa que você precisa ouvir a respeito. Dele e saber que ele é um homem especial que fez uma obra salvadora especifica e levantou-se dentre os mortos. A finalidade de Atos 4.12 para as missões é tornada explicita pelo modo como Paulo colocou a questão do “nome do Senhor” Jesus em Romanos 10.13-15. Voltaremos a essa passagem agora e veremos que as missões são essenciais precisamente porque “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” Algo de imenso significado histórico aconteceu com a vinda do Filho de Deus ao mundo. Tão grande foi o significado desse evento que o foco da fé salvadora, desde então, teve seu centro em Jesus somente. Tão repleto estava Cristo da revelação de Deus e de todas as
  • 26. 26 esperanças do povo de Deus que, desde então, seria urna desonra para ele que a fé salvadora repousasse em qualquer outro que não nele. Havia uma verdade que não estava completa e claramente revelada antes da vinda de Cristo. Essa verdade, agora revelada, é chamada de mistério de Cristo, porque é a verdade, vinda por meio do evangelho, o qual está sobre Cristo. O evangelho não é a revelação de que as nações já pertencem ao Senhor. Ele é o instrumento para trazer as nações para o estado de salvação. O mistério de Cristo está acontecendo por meio da pregação do evangelho. Portanto, ninguém pode ser salvo se não tiver ouvido o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. 5. Como Crerão Nele? Vimos que há necessidade da consciência de fé em Cristo para salvação e de que há somente um mediador entre Deus e os homens, e estes não podem ser salvos sem ter ouvido de Jesus. Se há necessidade de ouvir, é preciso que haja quem pregue. Em Romanos 9.30-10.21, o apóstolo Paulo apresenta Jesus como sendo o foco da fé salvadora. É nesse contexto que ele cita o profeta Joel: "... acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo" (10.9); e, depois, como cita Isaías 28.16: “Todo aquele que nele crê não será confundido" (10.11). Paulo quer deixar claro que nessa nova era da história da redenção, Jesus é o objetivo e o clímax do ensino do Antigo Testamento e, então, é o Mediador entre o homem e Deus como objeto da fé salvadora. A seqüência de versos é muito familiar e com freqüência é citada em relação á obra missionária: "Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!" (Km 10.14-15). Mas como esses versículos se encaixam na linha de pensamento de Paulo. Por que no seu inicio há a expressão "porém"? Por que o verso seguinte (16) começa assim: “Mas nem todos obedeceram ao evangelho"? A resposta parece ser a seguinte: O "porém" no inicio do verso 14 e o "mas" no inicio do verso 16 apontam para o fato de que a série de questões nos versos 14 e 15 são realmente o relato de que Deus já havia trabalhado para trazer, sob essas condições, o chamado para a salvação no Senhor Jesus. Portanto, o ponto principal nos versos 14-16 é que, embora Deus tenha providenciado os pré-requisitos para o chamado no Senhor, eles, entretanto, não obedeceram. O que fica claro é que o povo do Antigo Testamento pôde ouvir de Jesus, ou da promessa da sua vinda, mas não deu crédito á Palavra de Deus. Eles também ouviram do evangelho. A salvação já implicava na necessidade de ouvir sobre Cristo, e nele crer. Mas para que isso aconteça, é preciso que alguém pregue. É necessário que os pregadores do evangelho sejam enviados. Isso é a realização da obra missionária. Conclusão: Jesus Cristo é o foco consciente da fé salvadora. Não há meio de as pessoas serem salvas, senão por intermédio de sua obra expiatória. É preciso que as pessoas ouçam a mensagem do evangelho e creiam em Jesus para que sejam salvas. Nesse contexto, a igreja possui a função de pregar o evangelho, de levar a mensagem de salvação ás pessoas. Essa é uma grande responsabilidade, pois sabemos que não há como ser salvo sem ouvir o evangelho do Senhor Jesus Cristo. "E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?"
  • 27. 27 MISSIOLOGIA Uma Perspectiva Cultural Rev. Gildásio Reis DDDDificilmente uma pessoa poderá sentir as dificuldades do trabalho missionário a menos que esteja envolvida ativamente neste campo. Tais dificuldades parecem ser maiores quando o trabalho missionário se dá em uma outra cultura que não a do missionário. As diferenças culturais e as surpresas são incalculáveis. De maneira nenhuma, o missionário pode comunicar bem o evangelho, se ele desconhecer a cultura das pessoas que irão ouvi-lo. Bruce Niholls afirma o seguinte: Os comunicadores evangélicos frequentemente substimam a importância dos fatores culturais na comunicação. Alguns se preocupam tanto com a preservação da pureza do evangelho e das suas formulações doutrinárias que têm sido insensíveis aos padrões de pensamento e comportamento culturais das pessoas às quais proclamam o evangelho.57 É inquestionavelmente e universalmente aceito entre os missiólogos e missionários, que é praticamente impossível comunicar o evangelho de maneira que faça sentido em circunstâncias transculturais sem que seus comunicadores conheçam a cultura daqueles que eles desejam alcançar. Nesta parte do nosso curso de missiologia pretendemos dar uma visão geral dos fatores envolvidos na comunicação transcultural do evangelho. Um Modelo tricultural de Comunicação Missionária58 I. QUEM É O HOMEM? Para começarmos a entender o que significa a expressão “ser humano”, é preciso alargar nossa visão para contemplar toda a diversidade de tipos, costumes e valores que constitui nossa espécie. As pessoas se diferenciam biológica e psicologicamente. Distinguem-se nas sociedades que organizam, nas culturas que criam; e essas diferenças levantam questões filosóficas e teológicas profundas. 57 NICHOLLS, Bruce. Contextualização: Uma teologia do Evangelho e Cultura. São Paulo, SP: Edições Vida Nova. 1983. p. 8 58 HESSELGRAVE, David J. in: A Comunicação Transcultural do Evangelho. São Paulo. Vida Nova, 1995. Vol. 1 p. 92 CULTURA DA BÍBLIA CULTURA DO MISSIONÁRIO CULTURA DO RECEPTOR
  • 28. 28 Apesar das muitas diferenças temos também que admitir que existem muitos pontos em comum entre os grupos humanos, caso contrário seria impossível culturas diferentes se relacionarem entre si. Por exemplo: compartilhamos a maior parte das funções fisiológicas; respondemos aos mais diferentes estímulos da mesma forma; experimentamos alegrias e sofrimentos, etc. Além disso, o cristianismo acrescenta outros aspectos universais aos já mencionados: fomos feitos à imagem e semelhança de Deus nosso criador (Gn.1:26), todavia todos pecamos e carecemos de Deus mas a salvação está ao alcance de todos através de Jesus Cristo (Rm. 3:21- 26). Essa unidade na diversidade se reflete na essência e natureza da Igreja, onde apesar de todas as diferenças possíveis e imagináveis há uma só mensagem e um só Deus. 1) O ser humano a partir de uma abordagem integrada (ciência + teologia) Uma abordagem holística do homem: Aprender o que a ciência e a teologia têm para nos ensinar acerca das pessoas e entrelaçar essas idéias em um entendimento amplo do homem como ser integral, percebendo que o nosso conhecimento sempre é imperfeito e incompleto.59 Paul G. Hiebert, O Evangelho e a Diversidade das Cultura. Infelizmente, no último século ciência e teologia têm se confrontado em várias frentes, cada uma tendendo a reivindicar uma visão ampla e clara da realidade e, propositadamente, ignorando os achados de uma e outra parte. Mas ocorre que cada vez mais se toma consciência de que a realidade é muito mais complexa do que podemos captar ou explicar e, na melhor das hipóteses, ciência e teologia estão a vê-la de perspectivas diferentes. A ciência nos oferece idéias sobre várias estruturas da realidade empírica. A teologia nos oferece uma visão geral da construção, do construtor, dos acontecimentos-chaves na sua história.60 É bom lembrar, porém, que a essa complementaridade nem sempre significará concordância entre a ciência e a teologia. Quando surgem divergências, precisamos reexaminar nossa ciência e nossa teologia à luz das Escrituras e da criação, visto que Deus é a fonte de ambas. 2) O Homem criado à Imagem e Semelhança de Deus. O homem distingue-se das demais criaturas de Deus, porque foi criado de uma maneira singular. Apenas do homem é dito que ele foi criado à imagem de Deus61 . Esta expressão descreve o homem na totalidade de sua existência, ele é um ser que reflete e espelha Deus. ( Gn 1:26-28). O conceito de imagem de Deus é o coração da antropologia cristã. 59 HIEBERT, Paul G., O Evangelho e a Diversidade das Culturas. São Paulo, SP: Ed. Vida Nova 1999. p. 25 60 HIEBERT Paul G. Op Cit., p. 26 61 TIL, Cornelius Van. Apologética. Apostila traduzida por João Alves dos Santos. P. 11
  • 29. 29 Dr. Van Groningen assevera que: Ao criar a humanidade à sua própria imagem, Deus estabeleceu uma relação na qual a humanidade poderia refletir, de modo finito, certos aspectos do infinito Rei-Criador. A humanidade deveria refletir as qualidades éticas de Deus, tais como "retidão e verdadeira santidade"... e seu "conhecimento" ( Cl 3:10 ). A humanidade deveria dar expressão ás funções divinas em ralação ao cosmos e atividades tais como encher a terra, cultivá-la e governar sobre o mundo criado. A humanidade em uma forma física, também refletiria as próprias capacidades do Criador: apreender, conhecer, exercer amor, produzir, controlar e interagir 62 Percebemos nas palavras do Dr. Van Groningen que ele apresenta a imagem de Deus como tendo uma tríplice relação: Relação com Deus,Relação com o próximo Relação e com a criação. Quando lidamos como o homem, não importa a cultura em que está inserido, ele terá alguns atributos da Imagem de Deus nele. Todo homem, em qualquer parte do planeta, reflete alguns atributos “essenciais” sem os quais ele não poderia continuar sendo o que é, homem 63 : a) Poder intelectual: É a faculdade de raciocinar, inteligência e outras capacidades intelectivas em geral, que refletem aquilo que Deus tem. b) Afeições naturais: É a capacidade que o homem tem de ligar-se emocionalmente e afetivamente a outros seres e coisas. Deus tem esta capacidade. c) Liberdade moral: Capacidade que o homem tem de fazer as coisas obedecendo a princípios morais. d) Espiritualidade: A Escritura diz que o homem foi criado “alma vivente” (Gn 2:7). É a natureza imaterial do homem. Deus é espírito, e num certo sentido, o homem tem traços desta espiritualidade. e) Imortalidade: Depois de criado, o homem não deixa mais de existir. A morte não é para o corpo, mas para o homem. Morte é separação e não cessação de existência. A imortalidade é essencial para Deus (I Tm 6:16). O homem, num caráter secundário derivado, passa a Ter a imortalidade. 3) A queda e a Imagem Desfigurada Como sabemos, este estado de integridade ("posso não pecar") não foi mantido até o fim pelos nossos primeiros pais. Veio a desobediência e consequentemente a queda. Nossos primeiros pais, criados para refletir e representar Deus não passaram no teste. Provados, caíram e deformaram a imagem de Deus neles. Podemos fazer a seguinte pergunta: Quando o homem caiu, perdeu ele totalmente a Imago Dei ? Respondemos que em seu aspecto estrutural ou ontológico ( aquilo que o homem é ), não foi eliminado com a queda, o homem continuou homem, mas após a queda, o aspecto funcional (aquilo que o homem faz) da imago Dei, seus dons, talentos e habilidades passaram a ser usados para afrontar a Deus. Para Calvino, a imagem de Deus não foi totalmente aniquilada com a Queda, mas foi terrivelmente deformada Ele descreveu esta imagem depois da queda como "uma imagem deformada, doentia e desfigurada" .64 O homem antes criado para refletir Deus, agora após a queda, precisa ter esta condição restaurada. Restauração esta que se estenderá por todo o processo da redenção. Esta renovação 62 GRONINGEN, Gerard Van, Revelação Messiânica no Velho Testamento . São paulo, Campinas: Editora Luz para o Caminho. 1995 63 Extraído adaptado de Apostila do Dr. Héber C. de Campos, Antropologia em curso ministrado no CPPGAJ. 64 CALVINO, João. As Institutas, I, XV, 3
  • 30. 30 da imagem original de Deus no homem significa que o homem é capacitado a voltar-se para Deus, a voltar-se para o próximo e também voltar-se para a criação para governá-la. 4) Cristo e a Imagem Renovada Num sentido, como já dissemos, o homem ainda é portador da imagem de Deus, mas também num sentido, ele precisa ser renovado nesta imagem. Esta restauração da imagem só é possível através de Cristo, porque Cristo é a imagem perfeita de Deus, e o pecador precisa agora tornar- se mais semelhante a Cristo. Lemos em Cl. 1:15 "Ele é a imagem do Deus invisível" e em Romanos 8:29 que Deus nos predestinou para sermos "Conforme a imagem de Seu Filho ..." ( I Jo 3:2; II Co 3:18 ) 5) A Imagem Aperfeiçoada A completação da perfeição dos cristãos será a participação da final glorificação de Cristo Jesus. Não somos apenas herdeiros de Deus, mas também co-herdeiros com Cristo, "Se com ele sofremos, para que também com ele sejamos glorificados" ( Rm 8:17 ). Não podemos pensar em Cristo separado de seu povo, nem de seu povo separado dele. Assim será na vida futura: a glorificação dos cristãos ocorrerá junto com a glorificação do Senhor Jesus . É exatamente isto que Paulo nos ensina em Cl 3:4 : "Quando Cristo que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com ele, em glória" A glorificação é voltar à perfeição com a qual fomos criados por Deus, é voltar a imagem de Deus. Este é o propósito último de nossa redenção. Esta perfeição da imagem será o auge, a consumação do plano redentivo de Deus para o seu povo. E isto só é possível em Cristo. Em Cristo, o eleito não apenas volta ao que era Adão antes de pecar, mas vai um pouco mais à frente: Note as palavras de Anthony Hoekema: Devemos ver o homem à luz de seu destino final (...) Adão ainda podia perder a impecabilidade e bem aventurança, mas aos santos glorificados isso não poderá mais ocorrer. Adão era "Capaz de não pecar e morrer"(posse non peccare et mori), os santos na glória, porém "não serão capazes de pecar e morrer" (non posse peccare et mori). Esta perfeição, que não se poderá perder, é aquilo para o qual o homem foi destinado e nada menos do que isto 65 Sabemos que os santos glorificados, em seu estado final não vão pecar nem morrer. Várias passagens das Escrituras nos garantem isto. (Is. 25:8 I Cor. 15:42,54 ; Ef. 5:27 ; Ap. 21:4) Paulo em sua carta aos Efésios nos ensina que o propósito de Deus para sua igreja, é apresentá- la "a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito" (cf. Ef. 5:27) Nesta dispensação, até a Segunda Vinda de Cristo, carregamos conosco, conforme lemos em I Cor. 15:49, a "imagem do que é terreno", mas na glorificação, teremos plena e perfeitamente a "imagem do celestial", ou seja, a imagem de Cristo. No porvir, nossa vida será gloriosa, porque teremos a imagem de Cristo, seremos como Ele é, e Cristo sendo a imagem de Deus, teremos a imagem de Deus de volta em nós de forma completa e perfeita. 65 HOEKEMA, Anthony. Criados Á Imagem de Deus. São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã , 1999, 108
  • 31. 31 Calvino comentando este texto de I Cor. 15:49 diz: Pois agora começamos a exibir a imagem de Cristo, e somos transformados nela diária e paulatinamente; porém esta imagem depende da regeneração espiritual. Mas depois seremos restaurados à plenitude, que em nosso corpo, quer em nossa alma, o que agora teve início será levado à completação, e alcançaremos, em realidade, o que agora esperamos 66 Note ainda as palavras de João: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como ele é" I Jo. 3:2 O que João nos diz, é que, na ocasião da Segunda Vinda de Cristo, seremos assemelhados a Ele, perfeita e completamente. E como Cristo é a imagem de Deus invisível, os santos glorificados terão a imagem de Cristo. Isto significa dizer que a nossa imagem na glorificação, será restaurada à imagem de Deus. Esta semelhança a Deus e a Cristo é o propósito final da nossa redenção, ou seja, a glorificação. Por enquanto, a imagem de Cristo em nós está em processo contínuo conforme nos diz Paulo em II Cor. 3:18 que estamos "sendo transformados de glória em glória" , mas após a nossa ressurreição, poderemos refletir a perfeição desta imagem, que Deus começou em nós, e assim, só então, poderemos ser tudo aquilo para o qual fomos destinados pelo Pai. Neste processo de restauração da imagem de Deus em nós, através de Cristo, chamamos de santificação que é a "conformidade progressiva à imagem de Cristo aqui e agora (...); a glória é a conformidade perfeita a imagem de Cristo lá e então, Santificação é a glória começada; glória é a santificação completada" 67 Gerrit C. Berkouwer, teólogo holandês, nos mostra que a verdadeira imagem de Deus se pode conseguir apenas em Jesus Cristo que é a imagem perfeita de Deus. Ser renovado á imagem de Deus é tornar-se parecido com Jesus68 Todo o povo de Deus, de todas as nações, tribos, línguas, estará então com Deus por toda a eternidade, glorificando a Deus pela adoração, serviço e louvor. Todos nossos atos serão enfim feitos sem pecado com perfeição e aí o propósito que Deus estabeleceu para seus remidos terá sido alcançado. II. A CULTURA 1) O que não é cultura? Cultura é uma palavra comum! Normalmente nos referimos a uma pessoa como culta porque possui um elevado grau de estudo, ou porque ouve música clássica e ópera, ou porque fala várias línguas, ou por vários outros motivos que, via de regra excluem pessoas comuns e consagram os costumes e ideais de membros da elite de uma sociedade geralmente rica, poderosa e estudada. A permanecer tal idéia de cultura, implicitamente estamos pressupondo que pessoas comuns, particularmente as pobres e marginalizadas, não tem “cultura” exceto quando tentam se igualar à elite. 2) O conceito de cultura Dezenas de definições de cultura foram elaboradas pela antropologia e outras ciências sociais, ao tentar estudar o comportamento humano Definir cultura não é uma tarefa fácil. Ricardo 66 CALVINO, João, Comentário de I Coríntios , (Edições Paracletos, São Paulo, 1996), 488 67 BRUCE, F. F., citado por Geoffrey B. Wilson, Romanos - Um Resumo de Pensamento Reformado, (SP - PES) 130 68 G.C.Berkouwer, Man, The image of God, p. 107