O documento discute o ensino religioso no Brasil, abordando seus desafios, enfoques e perspectivas. Ele explora três modelos de ensino religioso, os eixos de conteúdo das ciências da religião e o papel do profissional de ensino religioso.
2. • Como entender o fenômeno
popular de se atribuir forças
"sobrenaturais" a certos fatos,
objetos e ritos, tais como búzios,
cartas, rezas-fortes, fitinhas,
horóscopo, patuás, imagens, etc?
• Como explicar o crescimento da fé
na reencarnação, aqui no Ocidente?
E o crescimento do Islamismo no
mundo?
3. • Por que será que os Orixás do
Xangô são demonizados pelos
Pentecostais? E por que um deles
chutou a imagem de Nossa Senhora
na TV?
• Quais as razões do impedimento de
um padre católico celebrar a liturgia
com um reverendo anglicano?
• Ateu vai pro inferno?!
5. Vivenciamos culturas pluralistas: mudanças
constantes, profundas, de cunho universal, onde
crescem as aspirações e questionamentos sobre o
sentido da vida e da sua história.
Já não é possível pensar em educação de
qualidade que não contemple a dimensão religiosa
do ser humano, dimensão essa que muitas vezes é
confundida com o ensino da religião e/ou
catequese.
No Brasil, o Ensino Religioso faz história por
caminhos diferenciados: o caminho da
confessionalidade, o caminho da
interconfessionalidade e o caminho da
religiosidade.
6. Com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
pela primeira vez pessoas de várias tradições
religiosas, enquanto educadores, conseguiram juntas
encontrar o que há de comum numa proposta
educacional que tem como objeto o Transcendente.
Como os PCN do Ensino Religioso compreendem a
sistematização do fenômeno religioso a partir das
raízes das Tradições Religiosas (orientais, ocidentais,
africanas e indígenas), há necessidade de um
profissional de educação sensível à pluralidade e
consciente da complexidade sociocultural da questão
religiosa.
Um educador que garanta a liberdade do educando,
sem proselitismo e/ou catequização.
8. MODELOS DE ENSINO
RELIGIOSO
MODELOS CATEQUÉTICO TEOLÓGICO CIÊNCIAS DA
RELIGIÃO
COSMOVISÃO Unirreligiosa Plurirreligiosa Transreligiosa
CONTEXTO Aliança Igreja- Sociedade Sociedade
Estado secularizada globalizada
FONTE Conteúdos Antropologia, Ciências da religião
doutrinais teologia do
pluralismo
MÉTODO Doutrinação Indução Transdução
AFINIDADE Escola tradicional Escola nova Epistemologia da
Complexidade
OBJETIVO Expansão das Formação religiosa Educação do
Igrejas dos cidadãos cidadão
RESPONSABILIDADE Confissões Confissões Comunidade
religiosas religiosas científica e do
Estado
RISCOS Proselitismo e Catequese Neutralidade
intolerância disfarçada científica
9. Os PCN pressupõem elaboração ou revisão dos
currículos escolares e formação do magistério. O CNE
entende a necessidade de um professor habilitado e
não representante de uma denominação religiosa.
Esse posicionamento consubstancia o que reza a
nova redação do Artigo 33 da LDB 9394/96.
O formador de Ensino Religioso vive em contexto que
exige constante busca de conhecimento; reverência
pela alteridade; consideração de que família e
comunidade são espaço para vivência religiosa e para
opção de fé; colocação do seu conhecimento e
experiência a serviço da liberdade do educando,
subsidiando-o no entendimento do fenômeno
religioso.
10. Exige-se que o profissional do Ensino Religioso:
• Compreenda o fenômeno religioso, contextualizando-o
espacial e temporalmente;
• Conheça a sistematização do fenômeno religioso pelas
Tradições Religiosas e suas teologias; faça a exegese dos
Textos Sagrados orais e escritos das diferentes matrizes
religiosas;
• Analise o papel das Tradições Religiosas na estruturação e
manutenção das diferentes culturas e manifestações
socioculturais;
• Relacione o sentido da atitude moral, como consequência
do fenômeno religioso sistematizado pelas Tradições
Religiosas e como expressão da consciência e da resposta
pessoal e comunitária das pessoas.
12. O profissional do Ensino Religioso faz sua síntese do
fenômeno religioso a partir da experiência pessoal,
mas necessita, continuamente, apropriar-se da
sistematização das outras experiências que permeiam
a diversidade cultural. O objeto do Ensino Religioso é,
portanto, a investigação do fenômeno religioso e as
implicações na/da ação humana.
Epistemologicamente o Ensino Religioso ocupa-se do
conhecimento religioso, situado num espaço para
além das instituições religiosas. O espaço onde se
situa o conhecimento religioso é “o humano”. Seu
fundamento é antropológico. O enfoque é o ser
humano, em busca da Transcendência.
13. Ultrapassa, então, o conhecimento comum aos
crentes, que têm um conhecimento “dado” e
aceito pelo ato de fé. O conhecimento religioso é
uma construção, fruto do esforço humano. Em
razão disto, o conhecimento religioso precisa ser
epistemologicamente enfocado nas dimensões
antropológica, sociológica, psicológica e
teológica.
Trata-se de fazer história comparada das
tradições religiosas e hermenêutica de uma
experiência – o fenômeno religioso – que se
manifesta entre e para além dessas tradições.
14. Como na sociedade democrática todos necessitam da
Escola para ter acesso à parcela de conhecimento
histórico acumulado pela humanidade, através dos
conteúdos escolares, o conhecimento religioso enquanto
patrimônio da humanidade necessita estar à disposição na
Escola. E preciso, portanto, prover os educandos de
oportunidades de se tomarem capazes de entender os
momentos específicos das diversas culturas, cujo
substrato religioso colabora no aprofundamento para a
autêntica cidadania.
Essa responsabilidade atribuída à Escola como
consequência do projeto educativo, comprometido com a
democratização social e cultural, coloca o Ensino
Religioso na função de garantir que todos os educandos
tenham a possibilidade de estabelecer diálogo.
16. Com tais fundamentos, o Ensino Religioso
articula conteúdos em torno dos seguintes
eixos:
CULTURAS E TRADIÇÕES RELIGIOSAS
Filosofia da tradição religiosa: a ideia do transcendente,
na visão tradicional e atual;
História e tradição religiosa: a evolução da estrutura
religiosa nas organizações humanas no decorrer dos
tempos;
Sociologia e tradição religiosa: a função política das
ideologias religiosas;
Psicologia e tradição religiosa: as determinações da
tradição religiosa na construção mental do inconsciente
pessoal e coletivo.
17. ESCRITURAS SAGRADAS
Revelação: A autoridade do discurso religioso
fundamentada na experiência mística, como verdade
do transcendente;
História das narrativas sagradas: o conhecimento dos
acontecimentos religiosos que originam os mitos;
Contexto cultural: a descrição do contexto sócio-político-
religioso determinante na redação final dos textos
sagrados;
Exegese: hermenêutica atualizadas dos textos sagrados.
TEOLOGIAS
Divindades: a descrição das representações do
transcendente nas tradições religiosas;
Verdades de fé: o conjunto dos mitos, crenças e doutrinas
que orientam a vida do fiel em cada tradição religiosa;
Vida além da morte: as possíveis respostas norteadoras
do sentido da vida: a ressurreição, a reencarnação, a
ancestralidade e o nada.
18. RITOS
Rituais: descrição de práticas religiosas significantes,
elaboradas pelos diferentes grupos religiosos;
Símbolos: a identificação dos símbolos mais importantes
de cada tradição religiosa, comparando seu(s)
significado(s);
Espiritualidades: o estudo dos métodos utilizados pelas
diferentes tradições religiosas no relacionamento com o
transcendente, consigo mesmo, com os outros e o
mundo.
ETHOS
Alteridade: as orientações para o relacionamento com o
outro, permeado por valores;
Valores: o conhecimento do conjunto de normas de cada
Tradição Religiosa apresentado para os fiéis no
contexto da respectiva cultura;
Limites: a fundamentação dos limites éticos propostos
pelas várias tradições religiosas.
19. Quem desenvolve tais conteúdos são as
Ciências da Religião. Sobre a base da história
geral das religiões elas erguem um estudo
comparativo, que aborda as religiões com
questionamentos sistemáticos e
hermenêuticos, donde transparecem linhas
fundamentais e transversais.
O campo de conhecimento das Ciências da
Religião organiza-se com uma epistemologia
das controvérsias em torno do Sagrado, com
aproximações interdisciplinares,
fenomenológicas e hermenêuticas.
20. Campo epistemológico das Ciências da Religião:
Antropologia
Lévi-Strauss - Geertz
Psicologia Sociologia
Jung - Vergote Durkheim - Berger
História-geografia comparadas
Fenomenologia (Sagrado)
Eliade---
Hermenêutica
Filosofia Teologia
Hegel - Ricoeur Smith, Wilfred - Geffré
Linguística
Muller - Dumézil