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DINÂMICAS E PERSPECTIVAS DO
                                         MERCADO DA CACHAÇA1

                                                    Adriana Renata Verdi2


1 - INTRODUÇÃO 1 2                                              2 - MERCADO INTERNACIONAL DE CACHAÇA

           Nos últimos anos a cadeia produtiva da                           Apesar do crescimento dos últimos a-
cachaça encontra-se em efervescência, pois vem                  nos, a participação das exportações de cachaça no
se firmando como um importante produto do                       total da produção nacional ainda é bastante ínfima.
agronegócio brasileiro. Embora detenha uma pe-                  A maior parte da cachaça destina-se ao mercado
quena participação no total, vem adquirindo es-                 interno. No território nacional, a bebida é o destila-
paço crescente na pauta de exportação do País.                  do mais consumido e ocupa o segundo lugar entre
Esse novo contexto tem sido respaldado pela                     as bebidas alcoólicas, perdendo apenas para a
composição de todo um quadro institucional e pe-                cerveja.
lo desenvolvimento de profundas mudanças no                                 De um montante de 1,5 bilhão de litros
aparato regulatório.                                            produzidos por ano, o mercado externo absorve
           Trata-se de um segmento em franco                    em torno de 1%. Essa baixa participação das
processo de ajustamento às novas condições de                   exportações revela que a bebida detém significa-
concorrência, ao mesmo tempo que vem conquis-                   tivo potencial de mercado.
tando competitividade e preço. Dentre os principais                         A cachaça constitui a terceira bebida
fatores que corroboram para esse processo desta-                destilada mais consumida no planeta de acordo
cam-se os esforços para o reconhecimento da                     com o ranking mundial do consumo de destilados
denominação de origem “cachaça” e a construção                  publicado pelo Programa Brasileiro de Desenvol-
de normas e selos de qualidade nas várias esferas               vimento da Cachaça (PBDAC). Tendo em vista
(nacional, estadual e regional). Observa-se que                 este ranking, a cachaça perde somente para a
essas estratégias de mercado atingem também os                  vodca e o shoju3 e ganha de várias bebidas desti-
pequenos e médios produtores inseridos nas prin-                ladas bastantes tradicionais como o gim, o scotch
cipais aglomerações e organizados em cooperati-                 wisky e o licor.
vas e associações. A maior interação e articulação                          Um processo significativo de cresci-
entre esses produtores têm proporcionado escala,                mento das exportações da cachaça brasileira
incorporação de atributos específicos à bebida e,               iniciou-se no final dos anos 90s e atingiu seu
conseqüentemente, a conquista de importantes                    auge em 2002. De um montante de 5,5 milhões
nichos de mercado, bem como maior agregação                     de litros em 1988 passou para 14,5 milhões de
de valor ao produto.                                            litros no início desta década.
           Apesar da perspectiva de mercado,                                Esse crescimento da quantidade expor-
das estruturações institucionais e regulatórias do              tada pode ser explicado pela estruturação do qua-
segmento no País e das várias experiências posi-                dro institucional do setor no País, principalmente a
tivas de cooperação de pequenos produtores, a                   partir de 1997, com a criação do PBDAC, pela
cachaça brasileira enfrenta ainda sérios desafios,              Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE).
que precisam ser superados: a produção “clan-                   Além das ações da Federação Nacional das
destina” (informal), o isolamento e falta de em-                Associações de Produtores de Cachaça de A-
preendedorismo da produção familiar e a expor-                  lambique (FENACA), da Agência de Promoção
tação a granel.                                                 de Exportações e Investimentos (APEX4), do

                                                                3
                                                                 Bebida destilada coreana.
                                                                4
                                                                 A atuação da APEX ocorre através de projetos e incentivo
1
Registrado no CCTC, IE-104/2005.                                à participação nos principais eventos nacionais e interna-
                                                                cionais. Recentemente, o setor da cachaça contou com
2
 Geógrafa, Doutora, Pesquisadora Científica do Instituto        um total de cinco projetos: coocachaça-MG II (cachaça
de Economia Agrícola (averdi@iea.sp.gov.br).                    artesanal); SEBRAE-PE (cachaça); ABRABE/FENACA -

Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.
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Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas               pelas exportações de cachaça paulista represen-
Empresas (SEBRAE5) e do PBDAC6, pode-se                       tou 62% do montante exportado pelo País. Situa-
destacar ainda a instituição da Câmara Setorial               ção semelhante deve se confirmar em 2005, pois
da Cachaça pelo Ministério da Agricultura, Pe-                o estado já detém 59% do valor total exportado
cuária e Abastecimento (MAPA) em setembro de                  até outubro (Tabela 1).
2004, reunindo a cadeia produtiva do setor. Esse
aparato institucional contribui para a expansão do
mercado, à medida que proporciona capacitação                 TABELA 1 - Participação da Cachaça Exportada
técnica dos produtores, valorização da imagem                             pelo Estado de São Paulo no Total
do produto e divulgação da cachaça no exterior.                           do País, 2000 a 20051
           A partir de 2003 a quantidade de ca-                                         Quantidade (mil litros)
chaça exportada por ano vem se mantendo em                        Ano                Brasil          SP           Partic.%
torno dos 8,6 milhões de litros. Nos dez primeiros                                    (BR)          (SP)          (SP/BR)
meses de 2005 ocorreu alteração nessa estabili-                   2000              13.429           7.084             53
dade visto que a quantidade exportada já é de                     2001              10.150           3.237             32
8,7 milhões de litros, montante que ultrapassa o                  2002              14.535           5.760             40
                                                                  2003               8.648           3.698             43
total exportado em 2004 (Tabela 1).
                                                                  2004               8.604           3.129             36
           Paralelamente a essa recente estabili-                 2005               8.693           3.955             45
zação da quantidade enviada ao mercado exte-
                                                                                       Valor (mil dólares, FOB)
rior, observa-se uma trajetória crescente para o                  Ano                Brasil             SP      Partic.%
valor exportado pelo Brasil, que de um total de                                       (BR)            (SP)      (SP/BR)
US$ 8,15 milhões registrados em 2002, passou                      2000               8.147           3.681             45
para um montante superior a US$ 11,07 milhões                     2001               8.453           3.880             46
em 2004. A variação do valor exportado de 2003                    2002               8.722           3.395             39
para 2004 foi de 22,92% e, considerando somen-                    2003               9.008           5.130             57
te os dez primeiros meses do ano atual, nota-se                   2004              11.072           6.827             62
que as exportações de cachaça já contabilizaram                   2005              10.458           6.182             59

cerca de US$ 10,5 milhões (Tabela 1).                                                   Preço médio (US$/litro)
                                                                  Ano                Brasil           SP              Var.
           Especificamente com relação a São
                                                                                      (BR)           (SP)         (SP/BR)
Paulo, pode-se ressaltar que o Estado detém a
                                                                  2000                0,61            0,52            -15
maior participação no total do volume exportado
                                                                  2001                0,83             1,2             45
de cachaça do País, liderança assumida desde
                                                                  2002                 0,6            0,59             -2
1997 e cuja participação só foi inferior a 40% em                 2003                1,04            1,39             34
dois anos (2001 e 2004). A melhor posição foi                     2004                1,29            2,18             69
conquistada em 2000, quando respondeu por                         2005                 1,2            1,56             30
mais da metade (53%) do total, enquanto nos dez               1
                                                               Os dados de 2005 referem-se ao período de janeiro a outu-
primeiros meses de 2005, a exportação, em ter-                bro. Os números correspondem à cachaça e caninha (rum e
mos de volume, já é maior que nos quatro anos                 tafia).
                                                              Fonte: SECEX. Disponível em: <http://www.alice.gov.br>.
anteriores (Tabela 1).                                                Acesso em: nov. 2005.
           Em termos de valor, o destaque do
estado nas exportações brasileiras com o produto                         De 2003 para 2004, a variação da par-
é ainda maior. Assim, em 2004 o valor gerado                  ticipação do Estado de São Paulo no valor total
                                                              exportado foi de 33,1%, maior do que a variação
SP e MG (cachaça); ABRABE-SP (cachaça) e coocachaça           nacional (22,9%), mas inferior à de três Estados:
- MG I (cachaça artesanal).
                                                              Paraná (51,7%), Pernambuco (41,5%) e Ceará
5
A atuação do SEBRAE consiste principalmente na pro-           (41,1%).
moção de cursos aos agentes do setor.
                                                                         Dada a manutenção da quantidade de
6
 O PBDAC tem como prioridades: capacitar o setor de ca-       cachaça exportada pelo País nos últimos três
chaça para competir no mercado internacional com eficiência
e qualidade; valorizar a imagem da cachaça como produto       anos, o aumento do valor resultou dos preços
genuinamente brasileiro, com características históricas,      médios por litro do produto. De 2000 a 2002 o
culturais e econômicas; oferecer capacitação técnico-comer-
cial aos produtores para proporcionar a inserção destes no
                                                              preço médio por litro de cachaça exportada era
mercado.                                                      inferior a US$1,00, sendo que em 2004 o preço


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médio passou para US$1,29. Apesar de o Estado                 nal e, portanto, merecedora de um valor extra no
de São Paulo deter suas exportações concentra-                preço total final.
das na cachaça produzida industrialmente, o                               Além dessa estratégia nacional, ações
preço médio da bebida exportada por esse esta-                regionais e locais têm sido empreendidas com o
do só foi inferior ao nacional em dois anos, 2000             objetivo de conquista de nichos de mercado e
e 2002. Em 2004, o preço médio recebido pelos                 maior agregação de valor ao produto. Nessa
exportadores paulistas foi bem superior ao do                 perspectiva, a diferenciação da cachaça está se
País, atingindo o montante de US$ 2,18/litro (Ta-             intensificando no Brasil. Cada região, cada lugar
bela 1).                                                      de produção procura buscar um diferencial, seja
            Um dos fatores que explicam esse                  na utilização da técnica e da madeira no proces-
comportamento nos preços da cachaça exporta-                  so de envelhecimento, responsáveis por variação
da pelo país é a estratégia adotada pelo governo              na coloração e sabor, seja aderindo novos pro-
brasileiro, notadamente do PBDAC e da Câmara                  cessos como o orgânico. Na realidade, a produ-
Setorial quanto à indicação de procedência como               ção local busca atribuir especificação de seu
bebida típica do Brasil e regulamentação da qua-              território.
lidade do produto, além da intenção em dificultar                         As experiências espalhadas pelo País
a exportação a granel. Ressalte-se que o Brasil               mostram que os maiores êxitos são frutos de
disputa pela exclusividade de utilização do termo             projetos coletivos, ou seja, quando a construção
“cachaça” para o destilado de cana produzido no               de especificidade territorial envolve esforços dos
País desde 2001.                                              mais variados agentes presentes no local, tanto
            Apesar de recentes, essas estratégias             privados como públicos.
de mercado já vêm sendo adotadas no setor da                              Além dessas, deve-se ressaltar os es-
cachaça, notadamente a partir da efetivação do                forços dos governos estaduais junto às institui-
Decreto n. 4.8517, de 02/10/2003, que institui a              ções certificadoras para a criação de normas de
cachaça como bebida típica do Brasil. O reco-                 qualidade a serem aplicadas aos seus respecti-
nhecimento internacional está em fase adiantada               vos territórios. É o que vem sendo elaborado no
na Organização Mundial de Aduana (OMA), que                   Estado de São Paulo, com o selo de qualidade
definirá uma nova posição tarifária para a cacha-             para a cachaça paulista, sob a coordenação da
ça. A vigência desse decreto e, principalmente,               Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agro-
seu reconhecimento internacional, poderá gerar                negócios (CODEAGRO), da Secretaria de Agri-
possibilidades de agregar maior valor ao produto              cultura e Abastecimento do Estado de São Pau-
no mercado externo. Como bebida típica do País,               lo.
com raízes na história, apoiado no patrimônio                             Vale reconhecer que todos esses es-
cognitivo coletivo do povo brasileiro, dependente             forços de estabelecimento de normas de qualida-
do savoir-faire presente no País, passa a se                  de, aperfeiçoamento do design e materiais utili-
constituir numa especificidade do território nacio-           zados na apresentação do produto, bem como de
                                                              indicação de procedência, ao mesmo tempo que
7
 O Decreto altera os dispositivos do regulamento aprovado     implicam novos custos de transação, constituem
pelo Decreto n. 2.314, de 04/09/1997, que dispõe sobre a      estratégias importantes para agregação de valor
padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a      à bebida. Esse fato parece já influenciar as expor-
produção e a fiscalização de bebidas: No artigo 81, § 4: “a
caipirinha é a bebida típica do Brasil, com graduação         tações de cachaça do Brasil a partir de 2003, a
alcoólica de quinze a trinta e seis por cento em volume, a    julgar pelos preços praticados.
vinte graus Celsius. Obtida exclusivamente com cachaça,                   Quanto aos destinos internacionais da
acrescida de limão e açúcar”. O § V “O limão de que trata
o inciso IV deste artigo, poderá ser adicionado de forma      cachaça brasileira, a Alemanha encontra-se no
desidratada”. Artigo 90, inciso I “A aguardente terá a de-    topo do ranking dos 48 países importadores da
nominação da matéria-prima de sua origem”. Segundo o
artigo 92 “Cachaça é a denominação típica e exclusiva da
                                                              bebida, com 2,7 milhões de litros, ou seja, 31,5%
aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação         da quantidade total de cachaça exportada nos
alcoólica de trinta a quarenta e oito por cento em volume,    dez primeiros meses de 2005, correspondentes a
a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fer-
mentado de cana-de-açúcar com características sensoriais      20,2% do valor total no mercado exterior. Outros
peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis       clientes significativos do destilado de cana brasi-
gramas por litro, expressos em sacarose” (Decreto n.          leiro em 2005 são, pela ordem de quantidade
4.851, de 02/10/2003).




Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.
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importada, Paraguai, Uruguai, Portugal, Estados                        3 - PRODUÇÃO E PREÇOS RECEBIDOS DE
Unidos, Argentina e Itália (Tabela 2).                                     CACHAÇA
           A participação alemã também se des-
taca como principal destino das exportações                                       No território nacional, especialmente no
paulistas, com 812 mil litros, o que equivale a                        Estado de São Paulo, a produção da cachaça é
20,5% da quantidade total de cachaça exportada                         realizada segundo duas formas principais, ou se-
por esse estado nos dez primeiros meses de                             ja, a produção em larga escala com modernas
2005. No tocante ao valor, observa-se que o                            colunas de destilação e com sofisticados recur-
peso da Alemanha foi menor, pois deteve apenas                         sos de análises laboratoriais, geralmente organi-
13% do valor total da cachaça paulista exportada.                      zada pelos grandes grupos e a de alambique,
Tal fato indica que a cachaça do Estado de São                         mais artesanal, geralmente desenvolvida por pe-
Paulo destinada a esse país possui um baixo                            quenos produtores, de base familiar e com recur-
preço, permitindo estabelecer a hipótese de que                        sos mais modestos.
boa parte dessa bebida tenha sido produzida                                       A produção nacional da cachaça de
segundo o processo industrial (Tabela 2).                              alambique é cerca de 300 milhões de litros, contra
                                                                       1 bilhão da indústria, realizada pelos grandes gru-
                                                                       pos de empresas8. Enquanto a produção de ca-
TABELA 2 - Principais Países Importadores da                           chaça industrial tem se mantido estável desde
           Cachaça Brasileira e Paulista, 2005                         1995, a cachaça de alambique apresenta um
                                                                       crescimento de 5% ao ano. Contudo, o volume de
                                              Brasil
        País                                                           cachaça artesanal embarcado ainda é muito pe-
                                  Quantidade                   Valor
                                   (mil litros)        (mil dólares)
                                                                       queno (menos de 2%) em comparação ao in-
                                                                       dustrial, devendo se expandir nos próximos anos.
    1   Alemanha                         2.736               2.112
                                                                       Destaca-se a participação do Estado de São Paulo
    2   Paraguai                         1.006                 593
                                                                       na produção nacional de cachaça, posicionando-
    3   Uruguai                            790                 558
                                                                       se como líder no ranking no processo industrial,
    4   Portugal                           719               1.418
                                                                       enquanto no artesanal, ocupa o segundo lugar,
    5   EUA                                480               1.026
                                                                       sendo superado apenas por Minas Gerais.
    6   Argentina                          318                 500
                                                                                  Quanto ao custo de produção, os da-
    7   Itália                             309                 620
                                                                       dos fornecidos por agentes representativos do
                                           São Paulo
                                                                       setor9 permitem afirmar que a produção de uma
        País                      Quantidade                   Valor
                                                                       garrafa de cachaça elaborada a partir do proces-
                                   (mil litros)        (mil dólares)
                                                                       so industrial fica em torno de R$0,46 a R$0,48,
    1   Alemanha                           812                 805     enquanto na produção artesanal a estimativa é
    2   Portugal                           618                1226
                                                                       de pelo menos R$1,20. Para a cachaça envelhe-
    3   Angola                             412                 268
                                                                       cida o custo envolve ainda uma série de variá-
    4   Argentina                          291                 485
                                                                       veis, que acabam dificultando a elaboração de
    5   EUA                                258                 521
                                                                       uma média. Aos custos normais de produção,
    6   Itália                             218                 406
                                                                       como os relacionados ao plantio e corte da cana,
    7   Espanha                            210                 385
                                                                       transporte desse insumo até ao alambique, pro-
1
 Os dados de 2005 referem-se ao período de janeiro a outu-             cesso de fabricação, armazenagem, engarrafa-
bro. Os números correspondem à cachaça e caninha (rum e
tafia).                                                                mento, embalagem e rótulos, somam-se gastos
Fonte: SECEX (www.alice.gov.br).                                       com recipientes de envelhecimento, tipo de mate-


                                                                       8
           Na terceira posição no ranking dos                           Os principais grupos de bebida destilada do País em
                                                                       termos de receita líquida em 2004 são: Müller de bebidas
maiores países importadores da cachaça paulista                        SP e PE; Thoquino RJ, Boituva RS, Fazenda Santa Adélia
está Angola, um dos maiores destaques do perío-                        SP, Capuava SP e Sagatiba SP BALANÇO ANUAL (GA-
                                                                       ZETA MERCANTIL. São Paulo, 2005, p. 429).
do em termos de expansão de mercado. Esse
                                                                       9
país adquiriu quantidade superior a de muitos                           Trata-se dos produtores e principais representantes de
                                                                       instituições do setor que compõem o grupo de discussão
países já tradicionais na compra da bebida, como                       sobre as normas de qualidade para o Selo de Qualidade
Itália, Espanha e Holanda.                                             da cachaça paulista, sob a coordenação da CODEAGRO.


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rial desses recipientes, necessidades de controle           pectiva, convém salientar que a produção orgâ-
da temperatura no local do envelhecimento e                 nica, que enfrenta grandes desafios na concor-
embalagens especiais. Além dos custos extras,               rência com a aguardente industrializada, também
devem ser levadas sempre em consideração as                 vem se tornando um recurso importante para
perdas associadas ao tempo de envelhecimento.               construção de uma especificidade, detendo, por
           Atualmente, em função da necessidade             sua vez, um significativo potencial de mercado
de adequação às normas de qualidade vigentes,               externo.
despesas com certificação, selos, controle e fis-
calização dos componentes prejudiciais à saúde
(auditorias, análises químicas e sensoriais da              4 - CONCLUSÕES
produção) vão sendo incorporadas. Nesse senti-
do, vale ressaltar as influências a serem geradas                        Levando em consideração que somen-
pela vigência da Instrução Normativa n. 13 do Mi-           te cerca de 1% do total de cachaça produzida no
nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento           Brasil é exportada e que as ações de marketing
(MAPA), publicada em junho de 2005, cujas nor-              da bebida são recentes no mercado externo, po-
mas ampliam a lista de substâncias proibidas10              de-se afirmar que o destilado de cana genuina-
na composição da cachaça e exigem maior fisca-              mente nacional tem muito espaço a conquistar no
lização e controle.                                         comércio internacional. É com essa perspectiva
           Além dessas medidas, a Instrução Nor-            positiva que o setor estima que a bebida tem
mativa reafirma a definição de cachaça e aguar-             potencial para chegar a 50 milhões de litros ex-
dente e estabelece três classificações à bebida             portados até 2010.
envelhecida (a Envelhecida, a Premium e a Extra                          Além do mais a estruturação do quadro
Premium)11.                                                 institucional, do aparato regulatório, bem como o
           Considerando a produção artesanal,               início da adequação do produto às normas e exi-
convém destacar que a etapa de envelhecimento               gências internacionais e as experiências de coo-
em tonéis de madeira de diferentes espécies                 peração e interação entre os pequenos produto-
vem se tornando um recurso cada vez mais im-                res constituem processos bem atuais, portanto,
portante para a incorporação de diferencial à pro-          ainda podem gerar implicações positivas sobre o
dução e detendo, assim, grande capacidade de                desempenho da bebida no mercado.
agregar valor ao produto. Segundo o diretor exe-                         Tendo em vista os dois processos de
cutivo da FENACA, enquanto a cachaça in-                    produção da cachaça (industrial e artesanal), po-
dustrial é vendida no exterior por US$0,60/litro, a         de-se afirmar que a cachaça de alambique, nota-
artesanal tem preço de US$3,50/litro, uma agre-             damente a envelhecida, tem maior potencial de
gação de valor próxima de 480%12. Nessa pers-               mercado, com capacidade de agregar maior valor
                                                            ao produto final.
10
                                                                         Considerando que a grande maioria
  Além do cobre e do metanol, estão proibidos o carbama-
to de etila, chumbo e arsênio.                              dos produtores de cachaça artesanal é constituí-
11
                                                            da por pequenos e médios, acredita-se que a coo-
  Envelhecida: é a bebida que contém, no mínimo, 50%
de cachaça ou aguardente de cana envelhecidas em            peração, interação e associação passaram a cons-
recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxi-      tituir estratégias fundamentais para a conquista de
ma de 700 litros, por um período não inferior a 1 ano.      escala e de uma cachaça mais valorizada no
Premium: é a bebida que contém 100% de cachaça ou
aguardente de cana envelhecidas em recipiente de madei-     mercado.
ra apropriado com capacidade máxima de 700 litros, por                   Tendo em vista o contexto atual, cada
um período não inferior a 1 ano. Extra Premium: é a         vez mais competitivo e marcado por tendências
bebida que contém 100% de cachaça ou aguardente de
cana envelhecidas em recipiente de madeira apropriado       voltadas para a qualidade e segurança alimen-
com capacidade máxima de 700 litros, por um período não     tar, o sucesso do pequeno e médio empreendi-
inferior a 3 anos (Regulamento técnico para fixação dos
padrões de identidade e qualidade para aguardente de
                                                            mento do setor tende a ficar mais dependente
cana e para cachaça, Diário Oficial da União, n° 124,       de sua capacidade à associação e cooperação.
Seção 1, 30/06/2005).                                       A maior articulação entre os agentes de cadeia
12
  Segundo o executivo “a cachaça de alambique possui um     numa base territorial tem se mostrado como
alto valor agregado em relação à industrial, que é a mais   uma estratégia viável ao desenvolvimento da
exportada” (DCI, São Paulo, 21 nov. 2003. Disponível em:
<http://www. pbdac.com.br>. Acesso em: fev. 2005).          produção de base familiar, pois tem proporcio-


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nado a obtenção de escala, a possibilidade de       a elaboração de toda uma regulamentação para
adequação às exigências de qualidade e segu-        o produto, como a nova Instrução Normativa n.
rança, além da criação coletiva de marcas re-       13, constituem indicadores de “novos tempos”
gionais e atributos específicos relacionados ao     para o destilado de cana brasileiro. Tais indicado-
território local.                                   res revelam um maior profissionalismo e maturi-
            Por último, as atuais medidas tomadas   dade do setor, ao mesmo tempo que são porta-
para o setor, principalmente a criação da Câmara    dores de novas e boas perspectivas para a ca-
Setorial, a defesa pela denominação de origem e     chaça num futuro próximo.




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Dinâmicas e perspectivas do mercado da cachaça brasileira

  • 1. DINÂMICAS E PERSPECTIVAS DO MERCADO DA CACHAÇA1 Adriana Renata Verdi2 1 - INTRODUÇÃO 1 2 2 - MERCADO INTERNACIONAL DE CACHAÇA Nos últimos anos a cadeia produtiva da Apesar do crescimento dos últimos a- cachaça encontra-se em efervescência, pois vem nos, a participação das exportações de cachaça no se firmando como um importante produto do total da produção nacional ainda é bastante ínfima. agronegócio brasileiro. Embora detenha uma pe- A maior parte da cachaça destina-se ao mercado quena participação no total, vem adquirindo es- interno. No território nacional, a bebida é o destila- paço crescente na pauta de exportação do País. do mais consumido e ocupa o segundo lugar entre Esse novo contexto tem sido respaldado pela as bebidas alcoólicas, perdendo apenas para a composição de todo um quadro institucional e pe- cerveja. lo desenvolvimento de profundas mudanças no De um montante de 1,5 bilhão de litros aparato regulatório. produzidos por ano, o mercado externo absorve Trata-se de um segmento em franco em torno de 1%. Essa baixa participação das processo de ajustamento às novas condições de exportações revela que a bebida detém significa- concorrência, ao mesmo tempo que vem conquis- tivo potencial de mercado. tando competitividade e preço. Dentre os principais A cachaça constitui a terceira bebida fatores que corroboram para esse processo desta- destilada mais consumida no planeta de acordo cam-se os esforços para o reconhecimento da com o ranking mundial do consumo de destilados denominação de origem “cachaça” e a construção publicado pelo Programa Brasileiro de Desenvol- de normas e selos de qualidade nas várias esferas vimento da Cachaça (PBDAC). Tendo em vista (nacional, estadual e regional). Observa-se que este ranking, a cachaça perde somente para a essas estratégias de mercado atingem também os vodca e o shoju3 e ganha de várias bebidas desti- pequenos e médios produtores inseridos nas prin- ladas bastantes tradicionais como o gim, o scotch cipais aglomerações e organizados em cooperati- wisky e o licor. vas e associações. A maior interação e articulação Um processo significativo de cresci- entre esses produtores têm proporcionado escala, mento das exportações da cachaça brasileira incorporação de atributos específicos à bebida e, iniciou-se no final dos anos 90s e atingiu seu conseqüentemente, a conquista de importantes auge em 2002. De um montante de 5,5 milhões nichos de mercado, bem como maior agregação de litros em 1988 passou para 14,5 milhões de de valor ao produto. litros no início desta década. Apesar da perspectiva de mercado, Esse crescimento da quantidade expor- das estruturações institucionais e regulatórias do tada pode ser explicado pela estruturação do qua- segmento no País e das várias experiências posi- dro institucional do setor no País, principalmente a tivas de cooperação de pequenos produtores, a partir de 1997, com a criação do PBDAC, pela cachaça brasileira enfrenta ainda sérios desafios, Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE). que precisam ser superados: a produção “clan- Além das ações da Federação Nacional das destina” (informal), o isolamento e falta de em- Associações de Produtores de Cachaça de A- preendedorismo da produção familiar e a expor- lambique (FENACA), da Agência de Promoção tação a granel. de Exportações e Investimentos (APEX4), do 3 Bebida destilada coreana. 4 A atuação da APEX ocorre através de projetos e incentivo 1 Registrado no CCTC, IE-104/2005. à participação nos principais eventos nacionais e interna- cionais. Recentemente, o setor da cachaça contou com 2 Geógrafa, Doutora, Pesquisadora Científica do Instituto um total de cinco projetos: coocachaça-MG II (cachaça de Economia Agrícola (averdi@iea.sp.gov.br). artesanal); SEBRAE-PE (cachaça); ABRABE/FENACA - Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.
  • 2. 94 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas pelas exportações de cachaça paulista represen- Empresas (SEBRAE5) e do PBDAC6, pode-se tou 62% do montante exportado pelo País. Situa- destacar ainda a instituição da Câmara Setorial ção semelhante deve se confirmar em 2005, pois da Cachaça pelo Ministério da Agricultura, Pe- o estado já detém 59% do valor total exportado cuária e Abastecimento (MAPA) em setembro de até outubro (Tabela 1). 2004, reunindo a cadeia produtiva do setor. Esse aparato institucional contribui para a expansão do mercado, à medida que proporciona capacitação TABELA 1 - Participação da Cachaça Exportada técnica dos produtores, valorização da imagem pelo Estado de São Paulo no Total do produto e divulgação da cachaça no exterior. do País, 2000 a 20051 A partir de 2003 a quantidade de ca- Quantidade (mil litros) chaça exportada por ano vem se mantendo em Ano Brasil SP Partic.% torno dos 8,6 milhões de litros. Nos dez primeiros (BR) (SP) (SP/BR) meses de 2005 ocorreu alteração nessa estabili- 2000 13.429 7.084 53 dade visto que a quantidade exportada já é de 2001 10.150 3.237 32 8,7 milhões de litros, montante que ultrapassa o 2002 14.535 5.760 40 2003 8.648 3.698 43 total exportado em 2004 (Tabela 1). 2004 8.604 3.129 36 Paralelamente a essa recente estabili- 2005 8.693 3.955 45 zação da quantidade enviada ao mercado exte- Valor (mil dólares, FOB) rior, observa-se uma trajetória crescente para o Ano Brasil SP Partic.% valor exportado pelo Brasil, que de um total de (BR) (SP) (SP/BR) US$ 8,15 milhões registrados em 2002, passou 2000 8.147 3.681 45 para um montante superior a US$ 11,07 milhões 2001 8.453 3.880 46 em 2004. A variação do valor exportado de 2003 2002 8.722 3.395 39 para 2004 foi de 22,92% e, considerando somen- 2003 9.008 5.130 57 te os dez primeiros meses do ano atual, nota-se 2004 11.072 6.827 62 que as exportações de cachaça já contabilizaram 2005 10.458 6.182 59 cerca de US$ 10,5 milhões (Tabela 1). Preço médio (US$/litro) Ano Brasil SP Var. Especificamente com relação a São (BR) (SP) (SP/BR) Paulo, pode-se ressaltar que o Estado detém a 2000 0,61 0,52 -15 maior participação no total do volume exportado 2001 0,83 1,2 45 de cachaça do País, liderança assumida desde 2002 0,6 0,59 -2 1997 e cuja participação só foi inferior a 40% em 2003 1,04 1,39 34 dois anos (2001 e 2004). A melhor posição foi 2004 1,29 2,18 69 conquistada em 2000, quando respondeu por 2005 1,2 1,56 30 mais da metade (53%) do total, enquanto nos dez 1 Os dados de 2005 referem-se ao período de janeiro a outu- primeiros meses de 2005, a exportação, em ter- bro. Os números correspondem à cachaça e caninha (rum e mos de volume, já é maior que nos quatro anos tafia). Fonte: SECEX. Disponível em: <http://www.alice.gov.br>. anteriores (Tabela 1). Acesso em: nov. 2005. Em termos de valor, o destaque do estado nas exportações brasileiras com o produto De 2003 para 2004, a variação da par- é ainda maior. Assim, em 2004 o valor gerado ticipação do Estado de São Paulo no valor total exportado foi de 33,1%, maior do que a variação SP e MG (cachaça); ABRABE-SP (cachaça) e coocachaça nacional (22,9%), mas inferior à de três Estados: - MG I (cachaça artesanal). Paraná (51,7%), Pernambuco (41,5%) e Ceará 5 A atuação do SEBRAE consiste principalmente na pro- (41,1%). moção de cursos aos agentes do setor. Dada a manutenção da quantidade de 6 O PBDAC tem como prioridades: capacitar o setor de ca- cachaça exportada pelo País nos últimos três chaça para competir no mercado internacional com eficiência e qualidade; valorizar a imagem da cachaça como produto anos, o aumento do valor resultou dos preços genuinamente brasileiro, com características históricas, médios por litro do produto. De 2000 a 2002 o culturais e econômicas; oferecer capacitação técnico-comer- cial aos produtores para proporcionar a inserção destes no preço médio por litro de cachaça exportada era mercado. inferior a US$1,00, sendo que em 2004 o preço Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.
  • 3. 95 médio passou para US$1,29. Apesar de o Estado nal e, portanto, merecedora de um valor extra no de São Paulo deter suas exportações concentra- preço total final. das na cachaça produzida industrialmente, o Além dessa estratégia nacional, ações preço médio da bebida exportada por esse esta- regionais e locais têm sido empreendidas com o do só foi inferior ao nacional em dois anos, 2000 objetivo de conquista de nichos de mercado e e 2002. Em 2004, o preço médio recebido pelos maior agregação de valor ao produto. Nessa exportadores paulistas foi bem superior ao do perspectiva, a diferenciação da cachaça está se País, atingindo o montante de US$ 2,18/litro (Ta- intensificando no Brasil. Cada região, cada lugar bela 1). de produção procura buscar um diferencial, seja Um dos fatores que explicam esse na utilização da técnica e da madeira no proces- comportamento nos preços da cachaça exporta- so de envelhecimento, responsáveis por variação da pelo país é a estratégia adotada pelo governo na coloração e sabor, seja aderindo novos pro- brasileiro, notadamente do PBDAC e da Câmara cessos como o orgânico. Na realidade, a produ- Setorial quanto à indicação de procedência como ção local busca atribuir especificação de seu bebida típica do Brasil e regulamentação da qua- território. lidade do produto, além da intenção em dificultar As experiências espalhadas pelo País a exportação a granel. Ressalte-se que o Brasil mostram que os maiores êxitos são frutos de disputa pela exclusividade de utilização do termo projetos coletivos, ou seja, quando a construção “cachaça” para o destilado de cana produzido no de especificidade territorial envolve esforços dos País desde 2001. mais variados agentes presentes no local, tanto Apesar de recentes, essas estratégias privados como públicos. de mercado já vêm sendo adotadas no setor da Além dessas, deve-se ressaltar os es- cachaça, notadamente a partir da efetivação do forços dos governos estaduais junto às institui- Decreto n. 4.8517, de 02/10/2003, que institui a ções certificadoras para a criação de normas de cachaça como bebida típica do Brasil. O reco- qualidade a serem aplicadas aos seus respecti- nhecimento internacional está em fase adiantada vos territórios. É o que vem sendo elaborado no na Organização Mundial de Aduana (OMA), que Estado de São Paulo, com o selo de qualidade definirá uma nova posição tarifária para a cacha- para a cachaça paulista, sob a coordenação da ça. A vigência desse decreto e, principalmente, Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agro- seu reconhecimento internacional, poderá gerar negócios (CODEAGRO), da Secretaria de Agri- possibilidades de agregar maior valor ao produto cultura e Abastecimento do Estado de São Pau- no mercado externo. Como bebida típica do País, lo. com raízes na história, apoiado no patrimônio Vale reconhecer que todos esses es- cognitivo coletivo do povo brasileiro, dependente forços de estabelecimento de normas de qualida- do savoir-faire presente no País, passa a se de, aperfeiçoamento do design e materiais utili- constituir numa especificidade do território nacio- zados na apresentação do produto, bem como de indicação de procedência, ao mesmo tempo que 7 O Decreto altera os dispositivos do regulamento aprovado implicam novos custos de transação, constituem pelo Decreto n. 2.314, de 04/09/1997, que dispõe sobre a estratégias importantes para agregação de valor padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a à bebida. Esse fato parece já influenciar as expor- produção e a fiscalização de bebidas: No artigo 81, § 4: “a caipirinha é a bebida típica do Brasil, com graduação tações de cachaça do Brasil a partir de 2003, a alcoólica de quinze a trinta e seis por cento em volume, a julgar pelos preços praticados. vinte graus Celsius. Obtida exclusivamente com cachaça, Quanto aos destinos internacionais da acrescida de limão e açúcar”. O § V “O limão de que trata o inciso IV deste artigo, poderá ser adicionado de forma cachaça brasileira, a Alemanha encontra-se no desidratada”. Artigo 90, inciso I “A aguardente terá a de- topo do ranking dos 48 países importadores da nominação da matéria-prima de sua origem”. Segundo o artigo 92 “Cachaça é a denominação típica e exclusiva da bebida, com 2,7 milhões de litros, ou seja, 31,5% aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação da quantidade total de cachaça exportada nos alcoólica de trinta a quarenta e oito por cento em volume, dez primeiros meses de 2005, correspondentes a a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fer- mentado de cana-de-açúcar com características sensoriais 20,2% do valor total no mercado exterior. Outros peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis clientes significativos do destilado de cana brasi- gramas por litro, expressos em sacarose” (Decreto n. leiro em 2005 são, pela ordem de quantidade 4.851, de 02/10/2003). Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.
  • 4. 96 importada, Paraguai, Uruguai, Portugal, Estados 3 - PRODUÇÃO E PREÇOS RECEBIDOS DE Unidos, Argentina e Itália (Tabela 2). CACHAÇA A participação alemã também se des- taca como principal destino das exportações No território nacional, especialmente no paulistas, com 812 mil litros, o que equivale a Estado de São Paulo, a produção da cachaça é 20,5% da quantidade total de cachaça exportada realizada segundo duas formas principais, ou se- por esse estado nos dez primeiros meses de ja, a produção em larga escala com modernas 2005. No tocante ao valor, observa-se que o colunas de destilação e com sofisticados recur- peso da Alemanha foi menor, pois deteve apenas sos de análises laboratoriais, geralmente organi- 13% do valor total da cachaça paulista exportada. zada pelos grandes grupos e a de alambique, Tal fato indica que a cachaça do Estado de São mais artesanal, geralmente desenvolvida por pe- Paulo destinada a esse país possui um baixo quenos produtores, de base familiar e com recur- preço, permitindo estabelecer a hipótese de que sos mais modestos. boa parte dessa bebida tenha sido produzida A produção nacional da cachaça de segundo o processo industrial (Tabela 2). alambique é cerca de 300 milhões de litros, contra 1 bilhão da indústria, realizada pelos grandes gru- pos de empresas8. Enquanto a produção de ca- TABELA 2 - Principais Países Importadores da chaça industrial tem se mantido estável desde Cachaça Brasileira e Paulista, 2005 1995, a cachaça de alambique apresenta um crescimento de 5% ao ano. Contudo, o volume de Brasil País cachaça artesanal embarcado ainda é muito pe- Quantidade Valor (mil litros) (mil dólares) queno (menos de 2%) em comparação ao in- dustrial, devendo se expandir nos próximos anos. 1 Alemanha 2.736 2.112 Destaca-se a participação do Estado de São Paulo 2 Paraguai 1.006 593 na produção nacional de cachaça, posicionando- 3 Uruguai 790 558 se como líder no ranking no processo industrial, 4 Portugal 719 1.418 enquanto no artesanal, ocupa o segundo lugar, 5 EUA 480 1.026 sendo superado apenas por Minas Gerais. 6 Argentina 318 500 Quanto ao custo de produção, os da- 7 Itália 309 620 dos fornecidos por agentes representativos do São Paulo setor9 permitem afirmar que a produção de uma País Quantidade Valor garrafa de cachaça elaborada a partir do proces- (mil litros) (mil dólares) so industrial fica em torno de R$0,46 a R$0,48, 1 Alemanha 812 805 enquanto na produção artesanal a estimativa é 2 Portugal 618 1226 de pelo menos R$1,20. Para a cachaça envelhe- 3 Angola 412 268 cida o custo envolve ainda uma série de variá- 4 Argentina 291 485 veis, que acabam dificultando a elaboração de 5 EUA 258 521 uma média. Aos custos normais de produção, 6 Itália 218 406 como os relacionados ao plantio e corte da cana, 7 Espanha 210 385 transporte desse insumo até ao alambique, pro- 1 Os dados de 2005 referem-se ao período de janeiro a outu- cesso de fabricação, armazenagem, engarrafa- bro. Os números correspondem à cachaça e caninha (rum e tafia). mento, embalagem e rótulos, somam-se gastos Fonte: SECEX (www.alice.gov.br). com recipientes de envelhecimento, tipo de mate- 8 Na terceira posição no ranking dos Os principais grupos de bebida destilada do País em termos de receita líquida em 2004 são: Müller de bebidas maiores países importadores da cachaça paulista SP e PE; Thoquino RJ, Boituva RS, Fazenda Santa Adélia está Angola, um dos maiores destaques do perío- SP, Capuava SP e Sagatiba SP BALANÇO ANUAL (GA- ZETA MERCANTIL. São Paulo, 2005, p. 429). do em termos de expansão de mercado. Esse 9 país adquiriu quantidade superior a de muitos Trata-se dos produtores e principais representantes de instituições do setor que compõem o grupo de discussão países já tradicionais na compra da bebida, como sobre as normas de qualidade para o Selo de Qualidade Itália, Espanha e Holanda. da cachaça paulista, sob a coordenação da CODEAGRO. Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.
  • 5. 97 rial desses recipientes, necessidades de controle pectiva, convém salientar que a produção orgâ- da temperatura no local do envelhecimento e nica, que enfrenta grandes desafios na concor- embalagens especiais. Além dos custos extras, rência com a aguardente industrializada, também devem ser levadas sempre em consideração as vem se tornando um recurso importante para perdas associadas ao tempo de envelhecimento. construção de uma especificidade, detendo, por Atualmente, em função da necessidade sua vez, um significativo potencial de mercado de adequação às normas de qualidade vigentes, externo. despesas com certificação, selos, controle e fis- calização dos componentes prejudiciais à saúde (auditorias, análises químicas e sensoriais da 4 - CONCLUSÕES produção) vão sendo incorporadas. Nesse senti- do, vale ressaltar as influências a serem geradas Levando em consideração que somen- pela vigência da Instrução Normativa n. 13 do Mi- te cerca de 1% do total de cachaça produzida no nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Brasil é exportada e que as ações de marketing (MAPA), publicada em junho de 2005, cujas nor- da bebida são recentes no mercado externo, po- mas ampliam a lista de substâncias proibidas10 de-se afirmar que o destilado de cana genuina- na composição da cachaça e exigem maior fisca- mente nacional tem muito espaço a conquistar no lização e controle. comércio internacional. É com essa perspectiva Além dessas medidas, a Instrução Nor- positiva que o setor estima que a bebida tem mativa reafirma a definição de cachaça e aguar- potencial para chegar a 50 milhões de litros ex- dente e estabelece três classificações à bebida portados até 2010. envelhecida (a Envelhecida, a Premium e a Extra Além do mais a estruturação do quadro Premium)11. institucional, do aparato regulatório, bem como o Considerando a produção artesanal, início da adequação do produto às normas e exi- convém destacar que a etapa de envelhecimento gências internacionais e as experiências de coo- em tonéis de madeira de diferentes espécies peração e interação entre os pequenos produto- vem se tornando um recurso cada vez mais im- res constituem processos bem atuais, portanto, portante para a incorporação de diferencial à pro- ainda podem gerar implicações positivas sobre o dução e detendo, assim, grande capacidade de desempenho da bebida no mercado. agregar valor ao produto. Segundo o diretor exe- Tendo em vista os dois processos de cutivo da FENACA, enquanto a cachaça in- produção da cachaça (industrial e artesanal), po- dustrial é vendida no exterior por US$0,60/litro, a de-se afirmar que a cachaça de alambique, nota- artesanal tem preço de US$3,50/litro, uma agre- damente a envelhecida, tem maior potencial de gação de valor próxima de 480%12. Nessa pers- mercado, com capacidade de agregar maior valor ao produto final. 10 Considerando que a grande maioria Além do cobre e do metanol, estão proibidos o carbama- to de etila, chumbo e arsênio. dos produtores de cachaça artesanal é constituí- 11 da por pequenos e médios, acredita-se que a coo- Envelhecida: é a bebida que contém, no mínimo, 50% de cachaça ou aguardente de cana envelhecidas em peração, interação e associação passaram a cons- recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxi- tituir estratégias fundamentais para a conquista de ma de 700 litros, por um período não inferior a 1 ano. escala e de uma cachaça mais valorizada no Premium: é a bebida que contém 100% de cachaça ou aguardente de cana envelhecidas em recipiente de madei- mercado. ra apropriado com capacidade máxima de 700 litros, por Tendo em vista o contexto atual, cada um período não inferior a 1 ano. Extra Premium: é a vez mais competitivo e marcado por tendências bebida que contém 100% de cachaça ou aguardente de cana envelhecidas em recipiente de madeira apropriado voltadas para a qualidade e segurança alimen- com capacidade máxima de 700 litros, por um período não tar, o sucesso do pequeno e médio empreendi- inferior a 3 anos (Regulamento técnico para fixação dos padrões de identidade e qualidade para aguardente de mento do setor tende a ficar mais dependente cana e para cachaça, Diário Oficial da União, n° 124, de sua capacidade à associação e cooperação. Seção 1, 30/06/2005). A maior articulação entre os agentes de cadeia 12 Segundo o executivo “a cachaça de alambique possui um numa base territorial tem se mostrado como alto valor agregado em relação à industrial, que é a mais uma estratégia viável ao desenvolvimento da exportada” (DCI, São Paulo, 21 nov. 2003. Disponível em: <http://www. pbdac.com.br>. Acesso em: fev. 2005). produção de base familiar, pois tem proporcio- Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.
  • 6. 98 nado a obtenção de escala, a possibilidade de a elaboração de toda uma regulamentação para adequação às exigências de qualidade e segu- o produto, como a nova Instrução Normativa n. rança, além da criação coletiva de marcas re- 13, constituem indicadores de “novos tempos” gionais e atributos específicos relacionados ao para o destilado de cana brasileiro. Tais indicado- território local. res revelam um maior profissionalismo e maturi- Por último, as atuais medidas tomadas dade do setor, ao mesmo tempo que são porta- para o setor, principalmente a criação da Câmara dores de novas e boas perspectivas para a ca- Setorial, a defesa pela denominação de origem e chaça num futuro próximo. Informações Econômicas, SP, v.36, n.2, fev. 2006.