1. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 1
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
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RicardoBarbosa
A espiritualidade cristã
e a cultura narcisista
M A I O – J U N H O 2 01 1 • A N O X L I V • N º 3 3 0
Entrevista:RamezAtallah
Islamismo e democracia
não são compatíveis
Fé,
razão,
pecado e
redenção
no pensamento de Blaise Pascal
3. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 3
O p r o l o n g a m e n t o
da dor
Abertura
Q
uanto tempo vai durar a dor daqueles que
tiveram de enterrar seus próprios parentes,
por não poderem mais suportar o cheiro do
apodrecimento natural de seus corpos, como aconteceu
na região serrana do Rio de Janeiro? Quanto tempo vai
durar a dor daqueles que perderam tudo: casa, móveis,
roupas, documentos e recordações familiares? Quanto
tempo vai durar a dor provocada pelos surtos psicóticos
e depressivos que vieram à tona quando as vítimas
começaram a tomar conhecimento das verdadeiras
proporções da tragédia fluminense?
Nem sempre a alegria rompe de manhã cedo, depois
de uma noite de choro (Sl 30.5). A dor pode durar
mais de um dia, mais de uma semana, mais de um mês,
mais de um ano. A outra boca do túnel, que dá para a
claridade, pode estar a uma distância muito grande.
A caminhada dos filhos de Israel do Egito à terra
de Canaã durou quarenta anos (Dt 8.2). O exílio
babilônico de Israel se estendeu por setenta (Jr 25.11).
Por quarenta anos, o Egito sofreu humilhação e
destruição até saber que Deus é o Senhor (Ez 29.12).
Nabucodonozor passou sete “tempos” andando de
quatro e comendo a grama do palácio até tomar
consciência de que Deus é quem “destrona reis e os
estabelece” (Dn 4.32-33). O rei Davi provavelmente
passou cerca de dez anos sofrendo as consequências do
seu adultério.
Jó perdeu todos os filhos em um mesmo dia, por
causa de um desabamento semelhante ao de Friburgo e
Teresópolis. Ele foi privado de 11.500 cabeças de gado
e de todos os empregados da fazenda; perdeu a coroa
(Jó 19.9), a saúde e a solidariedade religiosa da esposa.
Recuperou tudo, mas não foi repentinamente. Em
meio à dor, o homem da terra de Uz questionou: “Por
que esperar, se já não tenho forças? Por que prolongar a
vida, se o meu fim é certo?” (Jó 6.11).
Tanto a dor quanto o seu prolongamento, em
última análise, são mistérios. Porque todos sofrem: as
crianças e os idosos, os bons e os maus, os cristãos e
os não-cristãos, os ricos e os miseráveis. Uns sofrem
mais, outros menos. Em alguns casos, a dor prolongada
é uma fábrica de revoltosos e incrédulos. Em outros,
é uma fábrica de santos e de pessoas disponíveis aos
outros. A dor prolongada tanto pode ser uma tentação
como uma provação. Se ela me afastar de Deus, é uma
tentação; se ela me aproximar dele, é uma provação
(e uma bênção).
Por mais misteriosa que seja a dor prolongada, a
pior maneira de lidar com ela é perder a comunhão
com Deus, perder a fé, perder a esperança. Esse foi
o conselho da mulher de Jó ao marido: “Amaldiçoa
a Deus, e morre!”. Ela obteve a resposta certa:
“Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?”
(Jó 2.9-10). O sofrido Jó suportou a dor prolongada
por meio da esperança: “Eu sei que o meu Redentor
vive e que no fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
Dificilmente a dor prolongada dura a vida inteira.
Porém, se durar muito tempo ou o tempo todo, os
cristãos em comunhão com Deus sabem que “no fim
[o Redentor] se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
Esse mesmo Redentor “enxugará dos seus olhos toda
lágrima. Então não haverá tristeza, nem choro, nem
dor [muito menos a dor prolongada], pois a antiga
ordem já passou”. Assim, aquele que reina sobre tudo
e sobre todos e que está sentado no trono dirá: “Estou
fazendo novas todas as coisas!” (Ap 21.4-5).
SatendraMhatre
4. 4 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
T
emos um recado para o leitor sobre oração. Na página 56, Valdir
Steuernagel diz que “a oração é o fôlego que nos é dado por
Deus, que nos envolve e alimenta a nossa vida, é a graça divina
que alimenta o pulmão de nossa relação vital com Deus”. Já Ed René
Kivitz, nos ajuda quando escreve “que se deve orar a respeito de tudo,
por qualquer motivo, a qualquer hora, em qualquer lugar, sempre que o
coração não estiver em paz” (p. 38).
Em um artigo sobre a espiritualidade cristã e a cultura narcisista,
Ricardo Barbosa explica que “o narcisismo como expressão do egoísmo e da
autoglorificação é tão velho quanto o pecado original” (p. 32).
Assim como Jesus acusou o maligno de roubar a boa semente do
coração humano (Mt 13.19), os terapeutas de casais Carlos e Dagmar
Grzybowski afirmam que, “nos dias atuais, a televisão e o computador
são os maiores ladrões do diálogo conjugal e familiar”. Eles insistem que
“existe muito lixo no espaço cibernético e nas programações televisivas
que sorrateiramente se acumula nos cantos da mente e produz, em médio
prazo, um fedor comportamental que infecta os relacionamentos” (p. 31).
E falando de Jesus, seu ministério terreno se concentrou em Israel, mas
“os não-judeus não foram totalmente excluídos dos benefícios de seu poder
redentor”. A prova disso é que “a comissão dada aos discípulos tem uma
óbvia conotação global”, pois ele ordenou: “Ide, fazei discípulos de todas
as nações” (Veja O alcance global da missão cristã, do missiólogo hispano-
americano René Padilla, na página 36).
A esse respeito, Bráulia Ribeiro, brasileira que mora no Havaí e
está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia,
queixa-se que “já passou da hora de homens de negócios e capacidade
empreendedora abraçarem o chamado da missão integral, pois o mundo de
missões precisa deles” (p. 34).
A reflexão do bispo Robinson Cavalcanti sobre cristianismo, secularismo
e cidadania é muito séria. “O multiculturalismo, o politicamente correto, a
cultura da morte (aborto, não-procriação, homossexualismo, eutanásia), a
agenda GLSTB lastram uma pós-modernidade que, negadora de qualquer
verdade, afirma o individualismo, o subjetivismo e o relativismo” (p. 52).
A matéria de capa relata o testemunho de fé do famoso matemático
francês Blaise Pascal. Isso e muito mais Ultimato oferece ao leitor neste
terceiro bimestre do ano.
Elben César
Carta ao leitor
ISSN 1415-3165
Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 330
Maio-Junho 2011
www.ultimato.com.br
Publicação evangélica destinada à evangelização e
edificação, não denominacional, Ultimato relaciona
Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras.
Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e
estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma
perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a
prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação
social, a oração com a ação, a conversão com santidade
de vida, o suor de hoje com a glória por vir.
Circula em meses ímpares
Diretor de redação e jornalista responsável:
Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG
Arte: Liz Valente
Impressão: Plural
Tiragem: 35.000 exemplares
Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro
Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga
Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro
Marcos Bontempo • Marina Silva • Paul Freston
René Padilla • Ricardo Barbosa de Sousa
Ricardo Gondim • Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese
Valdir Steuernagel
Notícias: Lissânder Dias
Participam desta edição: Ivny Monteiro
Noemia Cessito • Odayr Olivetti
Publicidade: anuncio@ultimato.com.br
Assinaturas e edições anteriores:
atendimento@ultimato.com.br
Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte.
Os artigos não assinados são de autoria da redação.
Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro
da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
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Editorial e Produção: Marcos Bontempo
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Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez
Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte
Solange dos Santos
Vendas: Lúcia Viana • Henife Oliveira • Lucinéia Campos
Romilda Oliveira • Tatiana Alves • Vanilda Costa
Estagiários: Bruno Menezes • Cláudia Alvarenga
Jaklene Batista • Juliani Lenz
fundada em 1968
4 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
Deve-se orar
a respeito de tudo,
a qualquer hora,
em qualquer lugar
RalphAichinger
6. 6 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
74.
D
eus criou o ser humano ereto, mas ele precisa
aprender a se curvar, sobretudo, diante do
Criador e diante de seu semelhante. Ele não
tem facilidade para fazer isso. Em vez disso,
ele é naturalmente resistente a qualquer curvatura. Uma
das acusações feitas por Deus a Israel era a de que “os
tendões de seu pescoço eram de ferro, a sua testa era
de bronze” (Is 48.4; Êx 32.9). Essa criatura incurvável
não se dobra, não se ajoelha, não coloca o rosto no
mesmo lugar onde estão os seus pés. Ela é dura, teimosa,
orgulhosa e obstinada.
O ser humano precisa descobrir a beleza dos joelhos.
Eles substituem os pés na prática da oração. Quando
dobrados, os joelhos diminuem a altura do que ora
e aumenta a altura daquele a quem se ora. É uma
reverência aceita por Deus que pode facilitar a oração e a
comunhão com ele, desde que o espírito também esteja
dobrado.
Pessoas extremamente necessitadas aproximavam-se de
Jesus e punham-se de joelhos diante dele para suplicar a
graça desejada. É o caso do leproso que pediu ao Senhor:
“Se quiseres, podes purificar-me” (Mc 1.40); do pai do
garoto epilético que suplicou: “Senhor, tem misericórdia
do meu filho [pois] ele tem ataques e está sofrendo
muito” (Mt 17.14-15); e também do jovem rico que se
ajoelhou em plena rua e perguntou: “Bom Mestre, que
farei para herdar a vida eterna?” (Mc 10.17).
Precisamos voltar aos joelhos. Para orar, vários
personagens da Bíblia punham-se de joelhos. Na
dedicação do templo de Jerusalém, “Salomão ficou em
pé na plataforma e depois ajoelhou-se diante de toda a
assembleia de Israel, levantou as mãos para o céu e orou”
(2Cr 6.13). O escriba Esdras nos conta que “na hora
do sacrifício da tarde, eu saí do meu abatimento, com a
túnica e o manto rasgados, e caí de joelhos com as mãos
estendidas para o Senhor, o meu Deus, e orei” (Ed 9.5).
No caso do profeta Daniel, lê-se que a mão de
alguém o colocou sobre as suas próprias mãos e joelhos,
indicando uma curvatura maior (Dn 10.10). Pouco
antes de morrer apedrejado, Estêvão caiu de joelhos
e bradou: “Senhor não os considere culpados deste
pecado” (At 7.60).
Em Mileto, Paulo mandou chamar os presbíteros
da igreja de Éfeso e, depois de os entregar a Deus,
“ajoelhou-se com todos eles e orou” (At 20.36). Cena
ainda mais bela aconteceu pouco depois, na cidade de
Tiro, a caminho de Jerusalém. Os cristãos da cidade,
suas esposas e seus filhos acompanharam Paulo até a
praia e todos se ajoelharam para orar, antes de o apóstolo
embarcar no navio (At 21.5). Na Epístola escrita aos
efésios, o mesmo Paulo revela: “Por essa razão, ajoelho-
me diante do Pai” e oro para que “ele os fortaleça com
poder, por meio do seu Espírito” (Ef 3.14-16).
Passagem curiosa é quando Elias “subiu o alto do
Carmelo, dobrou-se até o chão e pôs o rosto entre os
joelhos”. Com a cabeça, o peito e o ventre totalmente
dobrados em cima dos joelhos, o profeta pediu chuva e
ela veio (1Rs 18.42; Tg 5.18).
Na agonia do Getsêmani, Jesus “se afastou [dos
discípulos] a uma pequena distância [de mais ou menos
trinta metros], ajoelhou-se e começou a orar” (Lc 22.41).
Na versão de Mateus, o Senhor “prostrou-se com o rosto
em terra e orou” (Mt 26.39).
No que diz respeito à arte da oração e da adoração,
os joelhos estão ociosos. Eles foram feitos também para
se dobrarem diante do Todo-poderoso. Daí o convite:
“Venham! Adoremos prostrados e ajoelhemos diante do
Senhor, o nosso Criador” (Sl 95.6). Precisamos aprender
a fazer isso para que, na plenitude da salvação, “ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e
debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo
é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp 2.10-11).
Pastorais
A beleza dos
joelhos dobrados
7. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 7
Fé, razão, pecado e redenção no
pensamento de Blaise Pascal
O homem está dividido dentro de
si mesmo
O home enjoa de tudo porque
a felicidade não está nas coisas
exteriores
A morte é o começo da beatitude
do corpo
Jesus Cristo é o centro para onde
tudo converge
O cristianismo tem algo de
espantoso
Excluir a razão e não admitir senão
a razão são dois extremos a evitar
3 Abertura
4 Carta ao leitor
6 Pastorais
8 Cartas
12 Frases
12 Números
14 Mais do que notícias
18 Notícias
30 De hoje em diante...
39 Novos acordes
40 Altos papos
42 Meio ambiente e fé cristã
43 Caminhos da missão
58 Cidade em foco
CAPA
SEÇÕES
Leia mais
www.ultimato.com.br
Sumário
ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de
Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB
- Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT -
Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral;
EPC - Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto
Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro
Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje;
TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas
não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e
Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão
Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
Casamento e família
31 Cuidado com os ladrões
Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs
Grzybowski
O caminho do coração
32 A espiritualidade cristã e a cultura
narcisista, Ricardo Barbosa de Sousa
Da linha de frente
34 O mandato econômico
Bráulia Ribeiro
Missão integral
36 O alcance global da missão cristã
René Padilla
Cotidiano
38 O leitor pergunta, Ed René Kivitz
Especial
45 Ponto de encontro
Entrevista
48 Ramez Atallah
Islamismo e democracia não são compatíveis
Ética
50 O Pai-Nosso e as bem-aventuranças para
hoje, num texto do ano 380, Paul Freston
Reflexão
52 Cristianismo, secularismo e cidadania
Robinson Cavalcanti
54 Um caso de amor
Ricardo Gondim
Redescobrindo a Palavra de Deus
56 A vocação dos discípulos e o ministério da
oração, Valdir Steuernagel
História
60 Em defesa da teologia
Alderi Souza de Matos
Especial
63 Visão bíblica das calamidades
Odayr Olivetti
Ponto final
66 Discípulos do amor, Rubem Amorese
22
24
25
26
27
28
29
8. 8 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
Aborto
Paul Freston acha irrelevante o fato de a
descriminalização do aborto fazer parte do
programa de governo de alguns partidos.
Porém, evangélicos e católicos convictos
da inerrância da Palavra de Deus estão
convencidos de que lançar um filho pela janela
do apartamento ou arrancá-lo do útero e jogá-lo
no vaso sanitário é praticar infanticídio. O
agente deve responder juridicamente pelo ato.
O autor de Sobre a participação evangélica
na campanha eleitoral 2010 (“Ética”, janeiro/
fevereiro de 2011) também minimiza o peso
eleitoral dos cristãos. O fato é que a presidente
Dilma se comprometeu com os mesmos a não
enviar ao Congresso um projeto alterando a
legislação atual sobre o aborto.
Jesus Silveira Leite, Sorocaba, SP
Unidos com Cristo
Entendo o raciocínio de Elben César em Unidos
com Cristo (“Abertura”, março/abril de 2011).
Porém, não acredito que exista a categoria
“cristãos carnais”. Estes são conhecidos como
“ímpios” ou “o joio”. O verdadeiro cristão se
constrange com o pecado, arrepende-se e
luta com toda sua força para não pecar mais.
Se ele continua pecando, torna-se um caso
preocupante
Wagner Fróes, Limeira, SP
— É lamentável que haja “crentes carnais”.
Entretanto, nem todos são necessariamente
joio. Paulo se queixa de alguns irmãos da igreja
de Corinto chamando-os de carnais, crianças
em Cristo e mundanos (1Co 3.1-3). Eles não
deveriam ser carnais, pois são santuários do
Espírito Santo (1Co 3.16-17).
Lagoinha
O artigo sobre a Igreja Batista da Lagoinha
(“Especial”, março/abril de 2011) mostra uma
igreja com um alvo ambicioso, um líder não-
personalista — apesar de ter se autonomeado
apóstolo — e uma comunidade que tem feito
muito pelo progresso do evangelho. Muitas
pessoas têm sido edificadas, abençoadas e
salvas a partir do trabalho realizado por ela.
Carlos Caldas Filho, São Paulo, SP
Excelente o artigo Reflexões a partir da
Lagoinha (março/abril de 2011). Gostaria,
entretanto, de sugerir uma reportagem sobre as
pequenas igrejas. Há congregações pequenas,
esquecidas, que estão na luta pelo evangelho.
Existem nelas bons projetos que nunca
aparecem na mídia.
Geraldo Diniz, Irecê, BA
Ordenação feminina
Jesus viveu em uma época machista, mas
nem por isso se submeteu aos ditames de
seu tempo. Antes, quebrou paradigmas ao
conversar com prostitutas e samaritanas e ao
conceder às mulheres o privilégio de serem
as primeiras a divulgar a ressurreição. Foram
elas que sustentaram o ministério de Jesus;
contudo, ele não as ordenou “apóstolas”. A
inexistência de pastoras, bispas e diaconisas
na igreja primitiva não pode ser justificada pelo
argumento culturalista. Pois Deus, ao instituir
a sua igreja, não se limitaria às invenções
humanas. Dessa forma, somente a própria
Escritura pode explicar o chamado de homens
idôneos para o cargo de pastores, bispos e
diáconos. A ordenação destes tem como base
um mandamento divino claro que não dá
margem a erros. Não há autorização para a
ordenação feminina e, se confiamos na Bíblia,
não devemos achar que o não-preenchimento
de tais cargos pelas mulheres nos diminui.
Homens e mulheres ocupam papéis diferentes
dentro de casa e da igreja. Assim sendo, não se
trata de ter ou não uma atitude passiva.
Kalline Gonçalves, Juiz de Fora, MG
A entrevista com Waldyr Carvalho Luz
sobre a ordenação feminina (março/abril de
2011) pareceu-me um dos mais completos
questionamentos à ordenação. Trata-se de uma
análise sóbria e culta. Porém, o argumento de
que a cultura impedia a mulher de ocupar uma
função de liderança na época de Jesus, não
é convincente. Jesus tinha poder e autoridade
para interferir na cultura. Ele fez muito em
benefício da mulher. Poderia ter incluído
algumas no círculo apostólico. Por que não
o fez? Não foram as mulheres as primeiras
a proclamarem a ressurreição de Jesus? E a
quem levaram inicialmente a grande nova?
Aos apóstolos! Cumpriram o papel de idôneas
cooperadoras. Não posso imaginar a vida cristã
sem a participação das mulheres. Entretanto,
parece-me estranho que elas ocupem a função
pastoral. Não sou contra aquelas que afirmam
ser vocacionadas para a obra. Porém, Deus
criou a mulher para ser uma auxiliadora idônea
e a vocacionou para ser mãe, como também
determinou que o homem fosse pai e cabeça do
lar, de acordo com Efésios 6. Já fui convidado
para integrar um concílio de ordenação
feminina para o ministério pastoral, mas não me
senti à vontade para participar. Todavia, peço
ao Senhor que abençoe as vidas que anelam
por servi-lo nesse tempo em que a apostasia é
uma cruel realidade.
Pr. Helmuth Matschulat, Curitiba, PR
Gostei da entrevista sobre a ordenação
feminina (março/abril de 2011). É bom ver uma
mentalidade nova e aberta. Sou pastor da
Igreja Presbiteriana Independente de Poços de
Caldas, MG, e temos uma experiência feliz com
a ordenação feminina. A Igreja Presbiteriana
Independente do Brasil realiza a ordenação de
mulheres ao diaconato há mais de 50 anos e
os ministérios diaconais funcionam muito bem.
Desde 1999, as mulheres têm acesso também
ao presbiterato e ao pastorado, o que tem
trazido um clima leve e equilibrado às reuniões
dos concílios.
Walter Scherrer, Poços de Caldas, MG
Deus nos chamou à unidade (Jo 17), não à
uniformidade. Sendo assim, temos mais de uma
maneira de abordar as Escrituras e firmarmos
nossas convicções. Na entrevista com Waldyr
Carvalho Luz (março/abril de 2011), Ultimato
apresentou apenas parte do pensamento
cristão. Se não houver um representante de
outra posição com o mesmo espaço, Ultimato
se mostrará engajada e parcial. Também
considero desnecessário, em que pese a
erudição de Carvalho Luz, um linguajar tão
rebuscado, quando temos tantos iletrados e
incultos em nosso meio.
Antonio Carlos da Silva, São Bernardo do
Campo, SP
— Para enriquecimento do assunto,
disponibilizamos o artigo Ordenação
feminina: o que o Novo Testamento tem a
dizer?, de Augustus Nicodemus Lopes, em
www.ultimato.com.br.
Ponto final
Cumprimento Rubem Amorese pelo excelente
artigo Presciência e eternidade (“Ponto
final”, março/abril de 2011), por oferecer uma
perspectiva do tempo de Deus (kairós), que
tem toda a linha da história (kronos) diante de
seus olhos, conhecendo de antemão todos os
meus dias: do nascimento à morte, e também o
dia da minha redenção. Afinal, “Ele não é Deus
de mortos, mas de vivos, pois para ele todos
vivem” (Lc 20.38).
Paulo Henrique Costa, São Paulo, SP
Cartas
10. 10 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
Pensando fora da caixa
Ao ler o texto de Ricardo Gondim, Pensando fora da
caixa (“Reflexão”, março/abril de 2011), concordei
com quase tudo o que foi dito. Certamente, o
fundamentalismo que não admite o diálogo e não
está aberto ao desenvolvimento de ideias pautadas
na Palavra de Deus, deve ser evitado como um
comportamento irracional. Entretanto, considero
equivocada a afirmação de que Jesus Cristo foi
relativista. O relativismo é contrário ao cristianismo
ortodoxo, baseado na verdade absoluta. O mestre
dos mestres afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade
e a vida...”. Melhor seria dizer que Jesus foi o maior
subversivo, como afirma Eugene H. Peterson. Jesus
condena a religiosidade vazia sendo subversivo,
vanguardista e revolucionário, de acordo com
próprio Gondim. Precisamos ser subversivos à
moda de Cristo, que agiu em submissão ao Pai.
Plínio Alessi Jr, Nova Andradina, MS
Bem-vindos ao cristianismo
Ao ler a edição de março/abril, tive a surpresa
de ver a expressão em árabe “Bem-vindos ao
cristianismo” (“Mais do que notícias”) escrita
ao contrário! Convém que se faça uma nota de
correção no próximo número.
Marcos Amado,São Paulo, SP
Homossexualidade
Parem de fazer campanha de ódio
contra os homossexuais. Nós já somos
marginalizados. Não precisamos da igreja
fazendo oposição.
João Kouffi
Se combatemos com base bíblica a doutrina
neopentecostal, a pedofilia, o homicídio,
o roubo e o adultério como pecados
abomináveis diante de Deus, devemos
combater também a homossexualidade.
Lembrando que quem mostra o pecado
também é obrigado a mostrar ao pecador
a graça de Deus. Por isso amo a história
da mulher adúltera. Jesus não a condena,
mas afirma: “não peques mais”. Ou
seja, ele expõe o pecado e ao mesmo
tempo mostra a graça. Em se tratando da
homossexualidade, deve ser do mesmo jeito.
Caline Galvão, João Pessoa, PB
Cartas da prisão
Estou de mãos estendidas para pegar
a próxima Ultimato. Nestes quatro
anos de prisão, vivi dois anos e meio
em carceragens. Nos últimos 18 meses
ingressei no sistema penitenciário. Convivo
com 1.700 presos, embora haja celas e
galerias. Minha progressão está prevista
para 2013, quando completarei seis anos de
regime fechado. Cinco anos depois, Ultimato
comemorará seu cinquentenário. Temo que,
com toda a tecnologia, a revista deixe de ser
papel e se torne virtual. A leitura ficaria difícil
para mim, que tenho compromisso judicial até
2022.
Samuel Lourenço Filho (Unidade Prisional
Evaristo de Moraes, Rio de Janeiro, RJ)
Comecei minha vida no crime aos 15 anos,
envolvendo-me com o tráfico de drogas.
Induzido por Satanás e com a ajuda de alguns
“amigos”, matei um jovem usuário por motivos
banais. Aos 16 anos, ainda no tráfico, me
envolvi com um grupo de pichação e, em uma
briga, acabei sendo baleado com três tiros
no braço, no peito e nas costas (os mesmos
lugares onde acertei e matei aquele rapaz).
Por um milagre de Deus, não morri. Por
causa desse livramento, prometi não matar,
não traficar, não roubar, não usar drogas. O
problema é que não cumpri com a promessa.
Na prisão, observei o comportamento de
alguns presos que haviam se convertido. Em
junho de 2010, aceitei o Senhor Jesus como
Cartas
11. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 11
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meu único e suficiente Salvador. Deixei
tudo, inclusive o meu ego. Hoje faço parte
do corpo de Cristo dentro do presídio.
Sérgio Augusto Lima (Penitenciária de
Flórida Paulista, SP)
O curso básico de missões oferecido pela
Missão Amide, em Brasília, já alcançou
mais de trezentos presidiários em muitos
estados do Brasil. Ele pode ser solicitado
por presidiários e pessoas que trabalham
em penitenciárias à Associação
Missionária para Difusão do Evangelho.
Rodovia DF 250 – KM 6,5 – Bairro
Sobradinho – Brasília/DF, Caixa Postal
729 – CEP: 71510-970.
Adail Sandoval, Brasília, DF
Alimento espiritual
Há dez anos a editora católica onde
minha irmã trabalha recebe Ultimato.
Ela sempre traz a revista para mim e
eu a devoro. Ultimato me alimenta
espiritualmente. Há seis anos eu e minha
irmã nos convertemos. Congregamos na
Assembleia de Deus em Belém.
Carolina Mendes, Vargem Grande
Paulista, SP
Descompromissada com o proselitismo
Quero externar publicamente o valioso serviço
que Ultimato tem oferecido à nação. Os artigos,
matérias e entrevistas são de uma grandeza
intelectual inenarrável. Ultimato é uma revista
descompromissada com o proselitismo, tão
desenfreado. Por seu caráter ecumênico, coloca de
lado a intolerância e o desrespeito à prática de fé
alheia. Precisamos de uma imprensa cristã voltada
não a grupos denominacionais excludentes, mas
à unidade, à reintegração dos que professam e
acreditam em Cristo Jesus.
O que nos une (Cristo), é maior do que o que nos
separa (intolerância).
Olegário Silva, Chã Preta, AL
Para a Glória de Deus
Escrevi um livro chamado Para a Glória de Deus.
Nele há páginas comemorativas para todas as
datas festejadas nas igrejas evangélicas. São
poemas, diálogos, jograis, meditações e pequenas
peças. Os exemplares não estão à venda — serão
doados para as igrejas. Peço aos pastores e líderes
interessados que entrem em contato comigo pelo
e-mail: nelialins@terra.com.br, e informe o endereço
da igreja para que possamos enviar o livro.
Neli Silva, São Paulo, SP
12. 12 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
FRASES
“É melhor escutar o padre Marcelo
Rossi do que escutar a Xuxa. Mas
é a mesma coisa. Eles são animadores
de auditório. Isso não leva ninguém à
transformação. É um Lexotan. É uma
evangelização desgarrada da vida concreta.
Leonardo Boff
“O s países mais católicos de antes — a
França,“primogênita da Igreja”, ou o
Canadá, francês ultracatólico — deram uma
guinada de 180° e caíram no ateísmo, no anti-
clericalismo, no agnosticismo e na indiferença.
Pe. Henri Boulad, jesuíta egípcio-libanês do rito
melquita, em carta ao Papa Bento 16
“Quando tinha todos os motivos para
abortar, por ser solteira, jovem, imatura,
por estar correndo risco de ter o casamento
cancelado, sob acusação de traição, Maria
abortou a ideia.
Márlon Hüther Antunes, pastor da Igreja
Evangélica Luterana em Maceió, AL
“O vaticano II foi um grande concílio
presidido por um grande Papa, mas
roído pela Cúria Romana.
Dom Clemente Isnard, por ocasião de seu
cinquentenário episcopal em Recife
“C reio que a soma dos milhares e milhões
de pequenos atos de obediência à
voz do Espírito Santo, praticados ao redor
do mundo por todos os nascidos do Espírito,
começará a produzir um cataclismo de efeitos
desproporcionais, incomodando os poderes
religiosos e políticos deste mundo tenebroso.
Harold Walker, do conselho editorial da revista
Impacto
“N ão nos tornamos ministros da
reconciliação porque fazemos um curso
de teologia, ou porque temos habilidade para
falar e convencer as pessoas. Somos ministros da
reconciliação porque nós mesmos experimentamos
reconciliação com Deus.
Bispo João Carlos Lopes, da Igreja Metodista do
Brasil
“P erdão se dá e se pede. Se dá e se pede
ao próximo. Se pede a Deus. A Deus não
se dá perdão, não há o que perdoar em Deus.
Egon Hilário Musskopf, jornalista
“S empre que um pastor quebra os princípios
éticos do evangelho na sua conduta,
as mais trágicas consequências acabam-se
abatendo sobre a igreja de Jesus. O povo perde
o seu fervor espiritual. Deus extingue a unção
sacerdotal que desonrou seu nome. O pastor
perde totalmente seu poder espiritual e começa a
apelar para a energia carnal.
João Falcão Sobrinho, pastor batista
”
”
”
”
”
”
”
”
“U ma vez em Faluya, no Iraque, vi
um menino de apenas quatro anos
perder nove membros da família, além de
perder o braço e a perna esquerdos, vítima
de um ataque aéreo.
Karen Marón, jornalista argentina”
NÚMEROS
60%
dos cristãos brasileiros são
mulheres, de acordo com pesquisas
realizadas pela SEPAL.
21.141.000
exemplares da Bíblia foram
produzidos pela Imprensa Bíblica
Brasileira em 70 anos, desde a sua
fundação em 1940 até o ano de 2009.
500
missionários voluntários passaram a
última quinzena de janeiro pregando
o evangelho em quatro cidades do
Rio Grande do Sul, numa iniciativa
da Junta de Missões Mundiais da
Convenção Batista Brasileira.
3.000adultos foram batizados na Semana
Santa de 2010, na igreja católica de
Hong Kong.
3.500.000.000de pessoas ainda não entraram em
contato com a Bíblia (mais da metade
da população mundial).
77.000armas de fogo foram apreendidas
entre janeiro e setembro de 2010 só
em Luanda, capital angolana.
400
é o número de membros da primeira
das nove igrejas e dezesseis
congregações batistas de Juazeiro
do Norte, CE, a cidade do padre
Cícero. O trabalho começou há 22
anos.
170
congregações religiosas católicas
fazem questão de mencionar seu
vínculo ao coração de Jesus, ao de
Maria ou a ambos.
Interpress
14. 14 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
O fantástico corpo
humano de Jesus
É
difícil visitar
a exposição O
Fantástico Corpo
Humano sem se lembrar
do prólogo do Evangelho
de João: “O Verbo se fez
carne e habitou entre nós,
cheio de graça e de verda-
de, e vimos a sua glória,
glória como do unigênito
do Pai” (Jo 1.14).
Vista em vários países
e em algumas capitais
brasileiras por mais de
11 milhões de pessoas,
a exposição oferece um
mergulho tridimensional
por dentro do corpo
humano e de seus sistemas
(cardiovascular, digestório,
endócrino, nervoso,
reprodutor/urinário e
respiratório). Em nove
galerias é possível ver
peles, ossos e todos os
órgãos, desde o ventre
materno, preservados por
um moderno processo de
plastinação.
O cristão que
sabe que Jesus não é
Deus disfarçado de
homem nem homem
disfarçado de Deus, mas
perfeitamente homem
e perfeitamente Deus,
consegue ver ali o corpo
do Verbo feito carne,
igual a nós. Entre outras
maravilhas do corpo
humano, ele saberá que o
coração de Jesus batia em
média a 72 pulsações por
minuto (100 mil por dia),
para impulsionar 7.975
litros de sangue vital em
145 mil quilômetros de
artérias, veias e vasos
capilares. Se Jesus tivesse
pulado do pináculo
do templo, ele poderia
quebrar alguns dos seus
206 ossos, embora “mais
fortes do que o aço e mais
leves do que o alumínio”.
Se os órgãos e os tubos do
aparelho digestivo (nove
metros de comprimento)
não estivessem enrolados
no abdome, Jesus seria tão
alto como uma casa de
dois andares.
Não há como um
cristão sair do local
da exposição sem se
maravilhar com o Jesus
que, embora sendo
Deus, esvaziou-se de si
mesmo, tornando-se
semelhante aos homens.
Desde a concepção
(sobrenatural), desde
o parto (natural), até a
morte, até a ressurreição,
até a ascensão e até hoje
(Fp 2.5-8)!
+DO QUE NOTíCIAS
P
raticamente não há
católicos romanos
no Oriente Médio.
Todavia, há pelo menos sete
grupos de católicos não-
romanos na região que foi o
berço do cristianismo e na
qual congregam mais de 9
milhões de fiéis. Cada um
tem o seu patriarca (chefe da
igreja). Por ordem decrescente,
esses grupos são os católicos
maronitas (5 milhões), os
católicos greco-melquitas
(2 milhões), os católicos
caldeus (1 milhão), os
católicos armênios (600 mil),
A
lgo novo aconteceu em
Nova Floresta, no estado
do Mato Grosso. Além
de construir seu novo templo de
mais de mil metros quadrados,
a Igreja Presbiteriana Renovada
construiu um templo menor só
para as crianças. O prédio, que
comporta quinhentas crianças,
possui salas para a Escola
Mais da metade dos
cristãos do Oriente
Médio vivem em
outros países
O reino de
Deus é das
crianças
os católicos coptas (250 mil),
os católicos sírios (170 mil) e
os católicos latinos (70 mil).
Eles se encontram espalhados
em dez países do Oriente
Médio: Armênia, Chipre,
Egito, Irã, Iraque, Israel,
Jordânia, Líbano, Palestina,
Síria, Sudão e Turquia. Mais
da metade desses fiéis estão
na diáspora por motivos
políticos ou religiosos. É
principalmente o caso dos
maronitas: cerca de 4 milhões
vivem fora do Líbano, de
Israel e da Síria.
Fonte: Mundo e Missão, 3/2011.
Dominical, além de cozinha
e banheiros independentes
para os menores. Para cuidar
do departamento infantil,
há uma equipe de trinta
pessoas, entre coordenadores,
professores e auxiliares. A
inauguração dos dois templos
aconteceu em novembro de
2010.
OliverGruener
FlávioTakemoto
15. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 15
+DO QUE NOTíCIAS
M
ais de 1 milhão de pessoas
morreram devido aos
trabalhos forçados, doenças,
fome ou câmaras de gás no campo
de concentração de Auschwitz e no
campo satélite de Birkenau. Os campos
tinham capacidade para comportar até
400 mil pessoas. No entanto, quando
as forças soviéticas chegaram ao local,
em 27 de janeiro de 1945, restavam
somente 7 mil prisioneiros.
Há vários anos, o local virou ponto
turístico e é visitado por mais de 1
milhão de pessoas a cada ano. Acon-
tece, porém, que os alojamentos, as
câmaras de gás e outros prédios estão
se deteriorando e Auschwitz corre o
risco de desaparecer. Para que tal fato
não ocorra, criou-se um fundo de
preservação, que necessitará de 120
milhões de euros (o equivalente a
270,2 milhões de reais). Até agora, os
maiores contribuintes são a Alemanha
(com 60 milhões de euros), os Estados
Unidos (com 15 milhões) e a Áustria
(com 6 milhões). Outros países, como
Holanda, Noruega, Suécia, Suíça,
República Tcheca, Turquia e Estônia
prometeram ajudar.
Essa providência parece contrastar
com algumas passagens bíblicas
contrárias ao armazenamento de
lembranças passadas. Um dos amigos
E
m sua palestra sobre O que é música
sacra ou hino sacro? — proferida no
Quarto Encontro de Músicos no
Seminário Concórdia de São Leopoldo, RS, da
Igreja Evangélica Luterana do Brasil — o pro-
fessor de música Raul Blum disse que “jamais,
em toda história da música sacra, foram pro-
duzidas tantas canções novas como em nossos
dias”. Para ele, “um hino sacro é aquele que
transmite a palavra de Deus fundamentada na
Escritura, com a clareza da Lei e do evangelho,
sem divagações pessoais que contradigam a ini-
ciativa de Deus em nos oferecer gratuitamente
a salvação”.
No final da palestra, acrescentou: “No culto
não somos apresentadores de espetáculo; somos
condutores da proclamação da palavra e do
louvor a Deus. E a apresentação do louvor a
Deus é de toda a congregação. Portanto, quer
sejamos organistas, tecladistas, guitarristas ou
bateristas, o volume de nossos instrumentos
não pode sufocar o canto congregacional”.
A reconstrução de
Auschwitz
Nunca se
produziu
tantas
canções como
hoje
EmilianoHernandez
de Jó disse-lhe: “Você esquecerá
suas desgraças, lembrando-as apenas
como águas passadas” (Jó 11.16). A
exortação contida em Isaías é mais
enfática: “Esqueçam o que se foi; não
vivam no passado” (Is 43.18).
Todavia, no caso do Holocausto,
o campo de Auschwitz deve conti-
nuar como uma amarga lembrança
da maldade e impiedade humanas.
Guido Westerwelle, ministro das
relações exteriores, diz que “a Alema-
nha reconhece a sua responsabilidade
histórica para manter viva a memória
do Holocausto e passá-la para as
gerações futuras”.
O Credo Apostólico não esconde
que Jesus “padeceu sob o poder de
Pôncio Pilatos”. Repetimos isso em
todos os lugares e em todo o tempo.
Os Evangelhos não escondem a trí-
plice negação de Pedro, assim como
o livro de Atos não deixa de lado
o furor de Saulo contra os cristãos
antes de sua conversão.
Nem Auschwitz nem Pôncio
Pilatos serão lembrados por ocasião
dos novos céus e nova terra: “Criarei
novos céus e nova terra, e as coisas
passadas não serão lembradas. Jamais
virão à mente!” (Is 65.17, NVI).
Por enquanto, Auschwitz, como
museu do mal, tem o seu lugar!
16. 16 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
+DO QUE NOTíCIAS
A vida é
bela!
P
ara a pedagoga e poetisa
baiana Zuleide Cardoso
Araújo, a vida é bela, o mar
é belo, as flores são belas, a amizade
é bela e assim por diante. Mes-
mo sendo como uma planta que
“nasce, cresce e floresce, mas logo
seca-se e cai”, a vida continua bela.
O mar é belo porque “nele habitam
miríades de criaturas, de peixinhos
multicores ao gigante tubarão”. To-
das as flores são belas, mas não têm
a mesma sorte, porque “umas en-
feitam a vida, outras ornamentam
a morte”. A amizade é bela porque
“é uma linda flor que perfuma o
coração”. Todavia, a veia poética de
Zuleide não poupa nem a solidão
nem a ingratidão. A solidão não
pode ser bela porque ela “maltrata,
entristece e sufoca”. A ingratidão
não pode ser bela porque ela é
“a mais vil das atitudes”. Zuleide
escreveu dois livros de poesia: Raios
de Esperança e A Vida é Bela!. Ela
nasceu em um lar evangélico e pro-
fessou a fé aos 13 anos, na Igreja
Presbiteriana da Bahia, da qual é
membro até hoje.
Os três olhos do
conhecimento
K
enneth E. Wilber Jr., o famoso
pastor americano de 62 anos
que criou a psicologia integral,
costuma falar dos três olhos do conhe-
cimento: o da carne (pré-pessoal), o da
mente (pessoal) e o do espírito (trans-
pessoal). O primeiro olhar é puramente
físico, por só conhecer a realidade
externa; o segundo é racional e men-
tal; o terceiro vai além dos sentidos
e da razão, permitindo o acesso às
realidades mais profundas, transcen-
dentes, místicas e holísticas. Bem que
Jesus disse: “Os olhos são como uma
luz para o corpo: quando os olhos de
vocês são bons, todo o seu corpo fica
cheio de luz” (Mt 6.22, NTLH).
Fonte: Revista Itaici (6/2010), p. 86.
O dom do Espírito é muito mais
do que habilidade humana
U
m
livro
que
trata exclu-
sivamente
de dons
espirituais é
vendável? A
resposta
positiva e a
prova disso é
Quem é
Você no Corpo de Cristo?, que já alcan-
çou três edições e a tiragem de 12 mil
exemplares.
A autora do livro é a missionária
americana Lida E. Knight, radicada no
Brasil há 54 anos, depois de trabalhar
no Egito por quatro. É difícil dizer se
Lida é mais conhecida pelo Louvor Pere-
ne, um jornal de música sacra fundado
e dirigido por ela de 1959 a 1980, ou
pelas palestras que ministrou por todo o
Brasil sobre os dons do Espírito.
A terceira edição, com 4 mil exem-
plares, foi lançada em novembro. O
livro é vendável exatamente porque trata
de um assunto de grande importância
prática. Lida diz que “toda pessoa salva
por Cristo recebe de Deus pelo menos
um dom espiritual para o ministério. A
interação, a complementação e a união
dos dons, através dos membros do corpo,
resultam no bem de todos e no alcance
de outros para Cristo”. Ao mesmo tem-
po, a autora lembra que “qualquer dom
espiritual, se não for exercido no poder
do Espírito e no amor, não passa de uma
habilidade meramente humana”. Entre
os dons do Espírito abordados por Lida
estão o dom do serviço, de ajuda, de
misericórdia, do repartir, de profecia, de
ensino, de pastorear, de intercessão etc.
Falar em línguas e fazer sinais e pro-
dígios levam muitos cristãos sinceros a
desejar e buscar esses dons em detrimen-
to de tantos outros. Em sua sabedoria,
Lida afirma: “Deus não deixou a bel-
-prazer de cada um escolher seus dons,
mas ‘dispôs os membros, colocando cada
um deles no corpo, como lhe aprouve’”
(1Co 12.18).
Quem é Você no Corpo de Cristo? foi
publicado pela Editora Visão Ministerial.
LidaKnight
17. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 17
Crianças
assassinadas
E
m ocasiões diferentes, separadas
por um longo espaço de tempo,
mas em circunstâncias parecidas,
as seguintes crianças foram barbaramen-
te assassinadas, para vergonha do gênero
humano:
No início do ano 4 a.C. (ou no final
do ano 5 a.C., talvez no dia 29 de
dezembro) — Palu, Jemuel, Jaquim,
Hamul, Tola, Esbom, Berias, Belá, Jezer,
Zera, Asbel, Malquiel e Serede (treze
crianças de três meses a dois anos, todas
do sexo masculino).1
No dia 7 de abril de 2011 — Larissa,
Samira, Laryssa, Bianca, Luiza, Mariana,
Karine, Milene, Géssica, Ana Carolina,
Rafael, Igor e Luan Vitor (treze crianças
de 13 a 15 anos, dez do sexo feminino e
três do masculino).
A primeira matança aconteceu em
Belém da Judeia (Israel). A segunda, na
Escola Municipal Tasso de Oliveira, no
Rio de Janeiro.
As crianças do primeiro massacre
foram mortas (provavelmente à espada)
por ordem do rei Herodes, o Grande,
que morreu poucos dias depois, aos 41
anos.
As crianças do segundo massacre
foram mortas (a tiros de revólver) por
Wellington Menezes de Oliveira, que
morreu minutos depois, aos 23 anos.
Por pouco, o recém-nascido Jesus
não perde a vida na primeira tragédia.
Para escapar, ele foi levado por Maria
e José para o Egito, voltando apenas
depois da morte de Herodes (4 de abril
do ano 4 a.C.). Antes de ordenar a
matança dos bebês de Belém, Herodes
havia assassinado uma de suas dez espo-
sas (Mariana), dois de seus doze filhos
(Alexandre e Antípater) e um cunhado
(Aristóbulo).
Ao narrar a fuga de José, Maria e
Jesus, e a matança das crianças, Mateus
transcreve para seu Evangelho a passa-
gem profética de Jeremias: “Ouviu-se
um som de Ramá, o som de um choro
amargo. Era Raquel chorando pelos
seus filhos; ela não quis ser consolada,
pois todos estavam mortos” (Mt 2.18;
Jr 31.15, NTLH). Era uma referência
ao choro copioso e doloroso das mães
dos meninos assassinados em Belém. O
mesmo choro das mães das treze crian-
ças assassinadas no Rio de Janeiro.
Diante dessas duas tragédias e de
um número infindável de outras, o
cristão precisa repetir conscientemente a
primeira súplica do Pai-Nosso: “Venha
o teu reino” (Mt 6.10)!
Nota
1. O número de crianças mortas no primeiro massacre
citado não era tão alto quanto se diz. Por ser Belém
uma cidade muito pequena, o comentarista William
Hendriksen estima que o número das vítimas de
Herodes estava entre quinze e vinte (listamos apenas
treze para fazer paralelo com os mortos da segunda
chacina). Os nomes dos meninos mortos em Belém são
fictícios. Porém, são nomes judaicos. Foram retirados
aleatoriamente da lista dos netos de Jacó, quando a
família emigrou para o Egito (Gn 46).
Larissa dos Santos Atanásio,
13 anos, uma das meninas
assassinadas, professou a fé
no Senhor Jesus em 2010, na
Igreja Presbiteriana
Reprodução
18. 18 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
Evangélicos
marcham contra
a exploração
sexual de
crianças
Redes, organizações e igrejas evangélicas
vão realizar marchas contra a exploração
sexual de crianças no dia 18 de maio
(Dia Nacional de Combate ao Abuso
e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes). O esforço é para que
as marchas aconteçam nas 12 cidades-
sede da Copa do Mundo de 2014: Belo
Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba,
Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre,
Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São
Paulo. O evento quer chamar a atenção
da sociedade para o risco de aumento
da exploração sexual de crianças, com a
NOTíCIAS
Morre o padre
José Comblin
Uma semana após completar 88 anos,
morreu em Salvador, BA, o padre
José Comblin. De origem belga, ele
trabalhou por mais de 50 anos no Brasil.
Teve forte participação em movimentos
populares na luta pelos mais pobres,
de modo especial em Pernambuco,
na Paraíba e na Bahia. O padre belga
participou do primeiro grupo da
Morre líder de
ministério com
homossexuais
Carlos Henrique Bertilac
da Silva morreu no dia 10 de
março, aos 53 anos, de ataque
cardíaco, logo após voltar de
um retiro em Suzano, SP. Ele
era missionário do Projeto Água
Viva em Niterói, RJ. Dedicou
mais de 20 anos ao “Grupo de
Amigos” (GA) — um ministério
com o objetivo de acolher e apoiar
pessoas que desejam deixar a
homossexualidade.
Ao longo dos anos, Carlos
Henrique transformou sua própria
casa em um lugar comunitário
— a Casa Hebrom — onde
recebia pessoas necessitadas de
refúgio e amor. Hoje são oito
casas comunitárias espalhadas
pelo sudeste e Distrito Federal.
Há inúmeros locais para pronto-
atendimento e grupos de ajuda
mútua em diferentes igrejas no
Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais e Distrito Federal.
Carlos foi homossexual ativo
por anos. Segundo sua esposa
Ruth Bedilac — com quem
se casou em 1989 e teve uma
filha — ele foi inserido em
relacionamentos homossexuais
aos 9 anos, por um abusador. Aos
25, se converteu a Jesus Cristo na
Comunidade Cristã S8, em São
Gonçalo, RJ, umas das poucas
igrejas da época que acolhia um
público mais urbano e alternativo.
“Carlos Henrique foi incansável
na obra do Senhor. Morreu
fazendo o que mais amava:
resgatar vidas para o Senhor,
anunciar as boas novas e oferecer
o abraço paterno de um amor
intenso aos órfãos espalhados pelo
Brasil”, disse Ruth Bertilac.
por Lissânder Dias
Teologia da Libertação, foi perseguido
pelo regime militar e escreveu, dentre
outros livros, A Ideologia da Segurança
Nacional: o poder militar na América
Latina (Civilização Brasileira, 1978).
Em janeiro, Comblin criticou
duramente a Igreja Católica. “A
repressão foi muito forte, terrível, e
a ditadura do Papa aqui na América
Latina é total e global. Aqui, pode-se
criticar Deus, mas não o Papa. O Papa é
mais divino do que Deus”.
vinda de turistas estrangeiros durante a
Copa.
Junto com a marcha, a ideia é
realizar uma manifestação, em que a
cada 15 segundos uma vela é acendida,
simbolizando o número de crianças
que foram abusadas durante o evento.
Segundo os organizadores, a cada
15 segundos uma criança é abusada
no mundo. Em São Paulo, a marcha
começará às 20 horas, na Praça da Sé.
A Marcha contra a Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes é organizada
pela ONG Makanudos de Javeh, e é
a primeira iniciativa da Campanha de
Enfrentamento ao Turismo Sexual da
Criança e do Adolescente Copa 2014.
Para se envolver, acesse www.15segundos.
net. Participam da promoção da
campanha: Rede Evangélica Nacional de
Ação Social, Visão Mundial, Rede Mãos
Dadas, Rede Fale, Exército de Salvação,
AEBVB e Programa Claves.
Religião pode ser
extinta em nove
países
Austrália, Áustria, Canadá, República
Tcheca, Finlândia, Irlanda, Holanda,
Nova Zelândia e Suíça. Nesses
nove países ricos a religião pode
praticamente deixar de existir. É o
que projeta uma pesquisa baseada
em dados de censos colhidos desde o
século 19.
O estudo, divulgado em março pela
American Physical Society, nos Estados
Unidos, é baseado em um modelo de
progressão matemática que tenta levar
em conta fatores sociais que influenciam
uma pessoa a fazer parte de um grupo
não-religioso. Na Holanda, por
exemplo, até 2050, 70% dos holandeses
não estarão seguindo religião alguma.
20. 20 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
Evangélicos
fazem jejum
contra cortes
no orçamento
nos Estados
Unidos
O Congresso
Nacional dos
Estados Unidos
quer aprovar um corte de 9%
no orçamento federal na área
social e dar um aumento de
2% para despesas militares.
Por causa disso, organizações
religiosas e evangélicas, como a
Sojourners, lançaram em abril o
Compromisso de Orar, Jejuar e
Agir em favor de um Orçamento
Justo.
Segundo os organizadores,
o Congresso quer fazer cortes
significativos no orçamento
Templo metodista
vira patrimônio
histórico no Rio
de Janeiro
A Igreja Metodista que
começou em 1895 no Jardim
Botânico, RJ, foi tombada
pela prefeitura do Rio de Janeiro e se
tornou patrimônio cultural da cidade.
O prédio, de estilo gótico, começou
a ser construído em 1907. A madeira
(pinho e riga) e as telhas vieram da
Europa. Segundo o pastor titular,
Jorge Cruz, o material era trazido por
missionários e o estilo foi copiado da
arquitetura de países frios da Europa.
Ele explica que o tombamento
do templo é de suma importância
para manter as características
arquitetônicas. “Vai proteger a
estrutura. E mesmo que ocorram
mudanças no bairro, a igreja está
protegida”, disse o pastor para o jornal
Expositor Cristão.
de muitos programas, que
vão afetar diretamente a
sobrevivência dos mais pobres
nos Estados Unidos e em outros
países (como os programas
que fornecem nutrição básica,
saúde e oportunidade para as
crianças pobres, e programas
de ajuda internacional).
“Teologicamente, isso é um
assalto contra as pessoas a
quem Deus nos ensina a
proteger, e cujo bem-estar é
a prova bíblica da justiça de
uma nação. No livro de Ester,
vemos um exemplo de oração,
jejum e petições aos poderes
políticos para mudar ações
injustas por parte do governo.
Nós queremos seguir esse
modelo”, diz o comunicado
da campanha. “O conceito é
simples: estamos convocando
pessoas para que se abstenham
de almoço às segundas-feiras no
mês de abril e usem esse tempo
para orar e agir.”
21. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 21
Tribunal europeu
aprova crucifixos
em escolas na
Itália
O Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos decidiu
em março que a exibição
de crucifixos nas escolas da Itália não
fere os direitos dos estudantes não-
católicos e de suas famílias. O parecer,
em resposta a um recurso, invalida uma
decisão anterior, anunciada pelo mesmo
tribunal em 2009. No novo parecer,
os magistrados concluíram que não há
evidência de que crucifixos em salas de
Teólogos
católicos
exigem fim
de celibato e
ordenação de
mulheres
Exigindo reformas na Igreja Católica,
144 professores de teologia católicos
residentes na Alemanha, Suíça e
Áustria assinaram um manifesto.
As propostas incluem o fim do
celibato, a ordenação de mulheres e
a participação popular na escolha de
bispos. O manifesto desconstrói a
suposta autoridade de Roma, critica
o “rigorismo” da Igreja Católica e
denuncia que a falta de sacerdotes
força a exigência de paróquias cada
vez maiores.
Tendo como pano de fundo a
crise dos escândalos de pedofilia
em dioceses e paróquias da Igreja
aula influenciariam os estudantes.
“A decisão ressalta, acima de tudo,
os direitos dos cidadãos de defender
seus próprios valores e identidades”,
disse o ministro das relações exteriores
italiano, Franco Frattini, no jornal La
Repubblica. O uso de crucifixos nas
escolas do país não é obrigatório, mas
é um costume comum.
Fontes: BBC Brasil, Expositor Cristão e ALC
Notícias.
PamRoth
Católica ao redor do mundo, o texto
elogia o chamamento dos bispos a um
diálogo aberto e defende a tese central
de que a igreja só “pode anunciar o
libertador e amoroso Deus, Jesus Cristo”
quando ela mesma “for um lugar e um
testemunho crível da mensagem de
libertação do evangelho”.
22. 22 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
“
Entro em
pânico todas as
vezes que eu
vejo a cegueira
e a miséria do homem,
sem luz, abandonado
a si mesmo, perdido
neste canto do
universo, sem saber
quem aqui o colocou,
o que vai fazer e o
que acontecerá
quando morrer.
Nascido em Clermont-
-Ferrand, na região central da
França, em 19 de junho de
1628 — um ano antes do car-
deal Richelieu assumir o poder
em nome de Luís 13 — e órfão
de mãe aos 3 anos, Blaise Pascal
era, a princípio, um notável ma-
temático e físico. Seu primeiro
livro científico foi escrito em
1640, quando ele tinha 17 anos
(Ensaio Sobre os Cones). Deve-se
a ele a chamada Lei de Pascal,
a teoria das probabilidades,
a invenção de uma máquina
capaz de fazer as quatro opera-
ções (a Pascalina) e do carri-
nho de mão de uma roda só.
A linguagem de programação
JeanDomat,c.1649.BibliothèqueNationale,Paris.
”
Capa
Fé,
razão,
pecado e
redenção
no pensamento de Blaise Pascal
23. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 23
Pascal, publicada em 1970, e usada
até hoje, recebeu esse nome em
homenagem ao ao matemático,
mesmo não sendo desenvolvida por
ele. Com a sua conversão a Cristo
em 1654, aos 31 anos de idade,
pouco depois de um acidente de
carruagem em uma das pontes de
Paris, Pascal tornou-se uma teste-
munha laica proeminente do cris-
tianismo, mais ligado a Cristo do
que à tradição e à própria igreja. Sua
noção de pecado e seu cristianismo
são dignos de atenção. Dizia ele que
“a fé cristã não visa senão a estabe-
lecer estas duas coisas: a corrupção
da natureza humana e a redenção de
Jesus Cristo”. Para ele, Jesus era “a
pedrinha de Daniel” — aquele que
“seria pequeno no começo e cresce-
ria em seguida”. É uma referência à
pedra que se soltou da montanha,
“sem auxílio de mãos”, e esmigalhou
o ferro, o bronze, o barro, a prata
e o ouro da estátua do sonho de
Nabucodonozor (Dn 2.45). Dentre
as muitas declarações sobre Jesus, a
mais enfática talvez seja: “Sem Jesus
Cristo, o homem permanece no ví-
cio e na miséria. Com Jesus Cristo,
o homem está imune ao vício e à
miséria”.
Pascal conheceu o evangelho
por influência do jansenismo:
um movimento dentro da igre-
ja, fundado pelo bispo holandês
Cornelius Jansen (1585–1638), que
preconizava uma reforma católica
com base na igreja primitiva e uma
espiritualidade interior. No caso
dele, a conversão se deu em uma
data precisa (23 de novembro de
1654, numa segunda-feira à noite,
“das dez e meia da noite, mais ou
menos, até cerca de meia-noite e
meia”) e em um lugar determinado
(em seu quarto, enquanto lia a sós a
oração sacerdotal de Jesus, em João
17). Na mesma ocasião, ele regis-
trou essa experiência em um pedaço
de pergaminho. Como esse escrito
estava costurado no forro do seu
casaco, quando morreu, oito anos
depois, supõe-se que Pascal o tenha
carregado na roupa o tempo todo.
Depois de sua conversão, o ainda
jovem matemático (31 anos) dedi-
cou-se devotamente ao Senhor, sem
colocar a ciência de lado (três anos
depois, ele compôs Elementos da
Geometria). Percebe-se a sua verda-
deira espiritualidade, por exemplo,
no título dado a um dos seus textos
religiosos: Oração para pedir a Deus
a graça de fazer bom uso das enfermi-
dades e outras obras. Ele mesmo não
tinha saúde e morreu cedo de um
tumor maligno primeiramente no
estômago e depois no cérebro, em
19 de agosto de 1662, um mês antes
de completar 39 anos. Ele dizia que
“nós podemos tudo com Aquele
sem o qual não podemos nada”.
Pascal tinha 23 anos quando
o também matemático e filósofo
René Descartes morreu (1650).
Por ter dado muito espaço para a
razão e para a ciência e pouco espa-
ço para a fé e para Deus, Descartes
não gozava da admiração de Pascal.
Em um dos seus pensamentos, Pas-
cal diz que “não vale a pena perder
tempo com a filosofia de Descar-
tes”. Pascal, por sua vez, valoriza a
razão sem desvalorizar a fé.
O livro Pensamentos, de Pascal,
foi escrito com o propósito de
persuadir os céticos, numa época
em que predominavam o raciona-
lismo de Descartes (1596–1650),
o reducionismo de Montaigne
(1533–1592) e o ceticismo do
ex-monge italiano Lucilio Vanini
(1585–1619). Ao surgir uma ideia,
Pascal a anotava em qualquer peda-
ço de papel, deixando para colocar
em ordem os escritos quando tivesse
tempo. Entretanto, isso foi feito
depois de sua morte, por familiares
e amigos. O livro, obra prima da
literatura francesa, tem também
outro título: Apologia da Religião
Cristã. O que ele fez no século 17
pode ser feito no século 21!
Leia nas páginas seguintes os
pensamentos de Blaise Pascal sobre
a instabilidade humana, a fé e a
razão, a morte, Jesus Cristo, o
cristianismo e o homem caído em
pecado. As frases foram retiradas
de três versões de Pensamentos:
da Abba Press (2002), da Editora
Palavra (2007) e da Folha de São
Paulo (2010).
24. 24 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
Capa
o homem está dividido
dentro de si mesmo
Quem não se conhece cheio
de soberba, de ambição, de
concupiscência, de fraqueza e
de injustiça é bastante cego.
Precisamos baixar os olhos
para a terra para nos vermos
como míseros vermes, e olhar
para as feras das quais somos
companheiros.
A encarnação de Jesus mostra
ao homem a grandeza de
sua miséria pela grandeza do
remédio que ele precisa.
Estamos cheios de concupis-
cências; portanto, cheios de
mal. Assim, deveríamos odiar
a nós mesmos e a tudo o que
nos excita a outro vínculo que
não seja somente Deus.
Existe uma guerra interior
no homem, entre a razão e as
paixões. Sem a razão haveria
só paixão. Mas existem uma e
outra e elas não podem existir
sem guerra. O homem está
dividido dentro de si mesmo.
Poucos falam humildemente
sobre humildade. Poucos
falam castamente sobre
castidade. Somos mentirosos,
temos duas caras e vivemos
sob disfarces na tentativa
de ocultar dos outros o que
realmente somos.
Como o coração do homem é
oco e cheio de baixeza!
Se o homem se eleva, eu o rebai-
xo; se ele se abaixa, eu o levanto
e o contradigo sempre até que
ele se compenetre de que é um
monstro incompreensível.
Sem a graça de Deus o homem
não é senão um sujeito cheio de
erros inapagáveis.
Nós não somos senão mentiras,
duplicidades, contrariedades.
Nós nos escondemos e nos des-
truímos a nós mesmos.
Somos tão presunçosos que gos-
taríamos de ser conhecidos em
toda a Terra e também daqueles
que virão quando não estivermos
mais aqui. Somos tão vaidosos
que a estima que nos rodeia nos
ilude e nos deixa contentes.
Nascemos injustos e depravados.
Perdemo-nos nos vícios e não
vemos mais a virtude.
Os inimigos dos homens não
são os babilônios, mas as suas
paixões.
Hoje o homem se tornou se-
melhante aos animais, num tal
afastamento de Deus que apenas
lhe resta uma luz confusa de seu
Criador.
Diz o Eclesiastes que
“o coração dos homens
está cheio de maldade e
de loucura durante toda
a vida” (Ec 9.3). Pascal
sabia muito bem disso!
”
”
FriedrichEduardBilz(1842–1922)
25. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 25
o homem enjoa de tudo
porque a felicidade não está
nas coisas exteriores
A única vergonha é não ter
vergonha.
É uma coisa terrível sentir
escoar tudo o que se possui.
Muito barulho assusta, muita
luz ofusca, muito prazer
incomoda, muita mocidade
ou muita velhice embota
o espírito. Muita instrução
bestifica.
Trabalhamos incessantemente
para embelezar e conservar
nosso ser imaginário, negli-
genciando o verdadeiro.
O homem não passa de
um caniço, o mais débil da
natureza. Porém, é um caniço
pensante.
A grandeza do homem é
grande na medida em que ele
se considera miserável.
Não era psicólogo, mas
poucas pessoas conheceram
tão bem a natureza
humana como Pascal. Ele
conhecia-se a si mesmo e
aos outros.
”
”
Somos capazes de passar rapida-
mente da presunção desmedida
para um horrível abatimento de
coração.
Se os plebeus tivessem sido todos
convertidos por Jesus Cristo, só
teríamos testemunhas suspeitas. Se
tivessem sido todos exterminados,
não teríamos testemunhas.
Os homens instruídos — os
filósofos — espantam os homens
comuns. Os cristãos, por sua vez,
espantam os filósofos.
A grandeza tem necessidade de ser
perdida para ser sentida. A conti-
nuidade em tudo é desagradável.
O homem não é anjo, mas animal.
Quem pretende ser anjo precisa,
primeiro, saber que é animal.
Somos cheios de coisas que nos
empurram para fora de nós mes-
mos.
A fim de que a paixão não nos
seja nociva, façamos de conta que
temos apenas oito horas de vida.
É perigoso conhecer Deus sem
conhecer a própria miséria e
conhecer a própria miséria sem
conhecer Deus.
Os eleitos ignorarão suas virtudes e
os reprovados ignorarão a grandeza
de seus crimes.
Queremos a simetria apenas em
largura e não em altura nem em
profundidade.
A vontade nunca se satisfaz enquan-
to não tenha tudo o que almeja. Mas
ela se satisfaz no instante em que a
tudo renuncia.
É supersticioso quem coloca suas
esperanças nas formalidades e ceri-
mônias religiosas. Mas é soberbo não
querer a elas se submeter.
É um grande mal seguir a exceção no
lugar da regra. É preciso ser severo e
contrário à exceção.
Se a misericórdia de Deus é tão
grande que ela se esconde, o que de-
vemos esperar quando ela não mais
se esconder?
Afastemos a impiedade e a alegria
ficará sem mancha.
Não há tão grande desproporção en-
tre a unidade e o infinito senão entre
a nossa justiça e a justiça de Deus.
Reconheçamos nossas forças: somos
alguma coisa e não tudo.
RobertFludd,MindandConsciousness,século17
26. 26 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
De saúde frágil e mais perto
da morte do que muitos,
Pascal via a morte não como
o término da vida, mas
como a entrada para ela.
a morte é o começo da
beatitude do corpo
Dor e consolação
Enfrentemos a morte com Jesus
Cristo e não sem Jesus Cristo. Sem
Jesus Cristo a morte é terrível, de-
testável e o horror da natureza. Em
Jesus Cristo, a morte é toda outra,
toda amável, toda santa e a alegria do
crente. Tudo é doce em Jesus Cristo,
até a morte e isso porque ele sofreu e
foi morto para santificar a morte e o
seu sofrimento.
Anelamos pela verdade e só en-
contramos a incerteza. Buscamos a
felicidade e não encontramos senão
miséria e morte. Somos incapazes de
não desejar a verdade e a felicidade
e, ao mesmo tempo, incapazes de
alcançá-las.
Em 1659, aos 36 anos, cinco anos depois
de se converter, Blaise Pascal adoeceu
gravemente. O alívio só veio em junho do
ano seguinte. Provavelmente foi nesse
período que ele compôs A oração para
pedir a Deus a graça de fazer bom uso
das enfermidades. Ela mostra a grandeza
de sua fé e é uma das mais consoladoras
peças para encorajar quem está na mesma
situação de doença. Dessa formidável
oração retiramos as frases ao lado:
Os crentes que morreram na graça
de Deus não cessaram de viver, como
a natureza sugere. Ao contrário, eles
começaram a viver, como a verdade
assegura. Suas almas não estão perdi-
das, nem reduzidas a nada, mas vivi-
ficadas e unidas no soberano viver.
A morte é mais fácil de suportar
quando não pensamos nela, embora
o pensamento da morte não nos
traga nenhum perigo.
A negligência dos que passam a vida
sem pensar no fim derradeiro da
existência irrita-me mais do que me
comove e me espanta mais do que
me aterroriza.
Não existe outro bem na vida senão a
esperança de sermos felizes à medida
que nos aproximamos de outra vida,
quando não haverá mais desgraças.
Não tendo conseguido curar a morte,
a miséria e a ignorância, os homens
procuram não pensar nisso tudo para
serem felizes.
Assim se escoa a vida toda: pro-
curamos o repouso combatendo
alguns obstáculos, e quando estes
são superados, o repouso torna-se
insuportável por causa do tédio
que ele faz nascer. Então é preciso
abandonar o sossego e mendigar a
agitação.
Apesar de suas misérias, o homem
quer ser feliz, não deseja outra
coisa senão a felicidade e não pode
deixar de ser feliz. Mas como o
fará? Era preciso tornar-se imortal,
mas como conseguiu, lembrou-se
de não pensar nisso.
Quem me colocou aqui? Por
ordem e obra de quem este lugar
e este momento foram destinados
a mim?
A alma é jogada no corpo para fa-
zer aí uma estada de certa duração.
Entre nós e o inferno ou o céu, há
apenas uma vida, assim mesmo
extremamente frágil.
Tu não és menos Deus
quando estás me afligindo
e punindo do que quando
estás me consolando e
mostrando compaixão por
mim.
Possa o teu cajado me
confortar, possa eu agora
provar da celestial doçura
de tua graça por meio des-
tas aflições que permitiste
virem sobre mim.
”
”
”
Ó Senhor, tira de
mim aquela autopie-
dade que o amor pró-
prio tão prontamente
produz e a frustração
de não ser bem
sucedido no mundo
como eu natural-
mente desejaria, pois
esse sucesso não tem
consideração por tua
glória.
Capa
27. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 27
em conjunto
Jesus Cristo é o centro para
onde tudo converge
Da cegueira provocada pela queda,
o ser humano só pode sair através de
Jesus Cristo.
Sem Jesus, qualquer comunicação
entre Deus e o homem é impossível.
Jesus Cristo é o objeto de tudo e o
centro para onde tudo converge.
Quem o conhece sabe a razão de
todas as coisas.
Todo conhecimento da existência de
Deus, da Trindade, da imortalidade
da alma e de qualquer outra coisa
dessa natureza é inútil e estéril sem
Jesus Cristo.
Poucos cristãos são tão
cristocêntricos quanto Pascal.
Para ele, Jesus não é o
Grande, como Alexandre, mas
o Único. O Senhor não tem
rival nem sucessor.
Não só conhecemos Deus apenas por
Jesus Cristo, mas ainda nos conhe-
cemos apenas por Jesus Cristo. Só
conhecemos a vida e a morte apenas
por Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo
não sabemos o que é a nossa vida,
nem a nossa morte, nem Deus, nem
nós mesmos.
Jesus Cristo é aquele do qual nos
aproximamos sem orgulho e perante
o qual nos humilhamos sem deses-
pero.
Jesus Cristo não é simplesmente
Deus, mas um Deus reparador das
nossas misérias.
Sem Jesus Cristo é certo que o ho-
mem está no vício e na miséria. Com
Jesus Cristo o homem é isento de um
e de outro. Em Jesus está nossa felici-
dade, nossa vontade, nossa vida, nossa
luz, nossa esperança. Fora dele, não
haverá senão vício, miséria, trevas,
desespero e nós não veremos senão a
obscuridade e a confusão na natureza
de Deus e na nossa própria natureza.
Jesus veio dizer aos homens que eles
não têm outros inimigos senão eles
mesmos.
Jesus Cristo não fez outra coisa senão
ensinar aos homens que eles são
amantes de si mesmos, escravos, cegos,
doentes, infelizes e pecadores.
Se Maomé escolheu o caminho de
triunfar humanamente, Jesus Cristo
tomou o de morrer humanamente.
Todos que procuram Deus fora de
Jesus Cristo caem no ateísmo ou no
deísmo, duas coisas que a religião cristã
abomina quase de igual forma.
O conhecimento de Deus sem o da
própria miséria produz orgulho. O
conhecimento da própria miséria
sem o de Deus produz desespero. O
conhecimento de Jesus Cristo gera o
meio-termo, pois nele encontramos
Deus e nossa miséria.
Jesus esteve num jardim não de delí-
cias, como aquele em que o primeiro
Adão se perdeu e com ele todo o
gênero humano, mas num jardim de
suplícios, do qual ele se salvou e com
ele todo o gênero humano.
Na terra, Jesus Cristo só pôde descan-
sar no sepulcro.
Jesus Cristo veio a fim de que vissem
aqueles que nada viam e que se tornas-
sem cegos aqueles que viam. Veio para
combater as doenças e deixar morrer os
sadios. Veio para chamar os pecadores
à penitência e à justificação e deixar
de lado os que se acreditavam justos
em seus pecados. Veio para encher os
indignos e deixar vazios os ricos.
Em Jesus Cristo todas as con-
tradições entram em acordo.
””
”
Não oro por saúde
ou doença, vida ou
morte, mas oro para
que a tua vontade
use a minha saúde, a
minha enfermidade,
a minha vida e a
minha morte para
a tua glória, para a
minha salvação, para
o benefício de tua
Igreja e dos santos.
Une-me a ti, preenche-
-me com a tua presen-
ça e com teu Espírito.
Entra em meu coração
e em minha alma.
Lá, alivia as minhas
aflições e preserva em
mim o que permanece
de tua paixão!
Fonte: Mente em chamas —
fé para o cético e indiferente,
Editora Palavra, p. 323-331.
Que eu jamais sinta a dor
sem o conforto! Mas que
eu possa sentir a dor e a
consolação em conjunto
e, mais tarde, possa lograr
sentir apenas o teu con-
forto sem qualquer dor!
Concede-me, ó Senhor,
graça para unir as tuas
consolações aos meus
sofrimentos e que possa
sofrer como cristão.
28. 28 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
o cristianismo tem
algo de espantoso
Mil vezes o cristianismo esteve
na iminência de ser destruído.
Em todas as vezes que corria
esse perigo, Deus o levantava
com golpes extraordinários de
seu poder. É assombroso que
assim seja e que o cristianismo
se mantenha sem se dobrar ou
se curvar sob à vontade dos
tiranos.
Há prazer em estarmos em um
barco abatido pela tempestade
quando temos a certeza de que
ele não naufragará. As persegui-
ções contra a igreja são assim.
Enquanto um monge
(Lucílio Vanini) abandona o
cristianismo, perde a fé e
se envolve com bruxaria,
um matemático (Pascal)
faz o caminho inverso e
torna-se um dos leigos
mais apaixonados pelo
cristianismo.
Ninguém é feliz, virtuoso ou amável
como os verdadeiros cristãos.
A fé cristã parece estabelecer duas
coisas: a corrupção da natureza
humana e a redenção operada por
Jesus Cristo.
Digam o que quiserem, mas é preciso
confessar que a religião cristã tem
algo de espantoso.
O cristianismo é estranho. Ordena
ao homem que reconheça o quanto é
vil e abominável e, ao mesmo tempo,
gera nele o desejo de ser semelhante
a Deus.
Salvo o cristianismo, nenhuma reli-
gião ensina que o homem nasce em
pecado. Nenhuma escola filosófica
o afirma. Nenhuma, pois, diz a
verdade.
A religião cristã é sábia e louca. Sábia
não só por ser a que mais sabe, mas
também por ser a mais fundada
em milagres, profecias etc. Louca,
porque não é isso tudo que faz com
que pertençamos a ela. O que nos faz
crer é a cruz.
Vejo multidões de religiões em mui-
tos lugares do mundo e em todos
os tempos. Mas elas não têm nem
moral que me pudesse agradar nem
provas capazes de me convencer.
Toda religião que não reconhecer
agora Jesus Cristo é notoriamente
falsa e os milagres que ela faz não
podem servir para nada.
O cristianismo consiste propria-
mente no mistério do Redentor,
que reuniu em si as duas naturezas,
a divina e a humana, e tirou os
homens da corrupção dos pecados
para reconciliá-los com Deus em sua
pessoa divina.
A verdadeira religião ensina
nossos deveres e nossa incapaci-
dade (orgulho e concupiscência) e
fornece os remédios (humilhação e
mortificação).
Ama-se porque se é membro do
corpo do qual Jesus Cristo é o
cabeça. Ama-se Jesus Cristo porque
é o cabeça do corpo do que se é
membro.
”
Nicodemos
e Pascal
”
Arelação entre o Nicodemos do Evangelho
de João e o Pascal dos Pensamentos é que
ambos eram pessoas importantes e se envolveram
com Jesus. Isso é notável porque para muitos
o evangelho “é uma coisa que nenhuma pessoa
instruída e razoável pode aceitar ou crer”, como
observa Martyn Lloyd-Jones.
Nicodemos era “uma autoridade entre os judeus”
(Jo 8.31) por ser um dos 71 membros do Sinédrio; a supre-
ma corte de justiça e o corpo governante do povo judeu.
Jesus o chamou de “mestre em Israel” (Jo 3.10). Provavel-
mente era um homem instruído, poderoso e rico. A Bíblia
faz questão de registrar duas vezes que o primeiro encontro
de Nicodemos com Jesus deu-se à noite, isto é, clandestina-
mente (Jo 3.2; 19.39). Nessa ocasião, ele ouviu Jesus falar
sobre o novo nascimento, o levantamento da serpente no
deserto e seu próprio levantamento na cruz “para que todo
o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo 3.15). É provável
que Nicodemos tenha sido a primeira pessoa a ouvir o mais
conhecido versículo da Bíblia: “Deus tanto amou o mundo
que deu o seu Filho Unigênito...” (Jo 3.16). Num segundo
Capa
29. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 29
excluir a razão e não admitir
senão a razão são dois
extremos a evitar
É preciso saber duvidar quan-
do necessário, afirmar quan-
do necessário e submeter-se
quando necessário. Quem não
faz assim não entende a força
da razão.
Se se submete tudo à razão, o
cristianismo nada terá de mis-
terioso nem de sobrenatural.
Se se contrariam os princípios
da razão, o cristianismo será
absurdo e ridículo.
A religião não é absolutamente
contrária à razão.
Uma das tragédias da religião
é a renúncia da razão em
fortalecimento da fé. Poucas
pessoas foram tão equilibradas
como Pascal a esse respeito.
O coração tem razões que a razão des-
conhece. Sente-se isso em mil coisas.
É o coração que sente Deus e não a
razão. Eis o que é a fé: Deus sensível
ao coração e não à razão.
Esforcem-se para se convencerem da
existência de Deus não por argumen-
tação, mas pela diminuição de suas
paixões carnais.
Por serem bastante infelizes, devemos
mostrar piedade para com os que não
querem ou não conseguem crer.
Não há nada tão conforme a razão do
que a retratação da razão.
Submissão e uso da razão — eis em
que consiste o verdadeiro cristia-
nismo. O último passo da razão é
reconhecer que existe uma infinidade
de coisas que a supera. Se a razão não
reconhece isso, ela é fraca. Se as coisas
naturais a superam, o que se dirá das
sobrenaturais?
Se Deus se descobrisse mais conti-
nuamente, não haveria mérito em
acreditar nele. Se ele não se desco-
brisse, não haveria nem um pouco
de fé. Mas ele se esconde constante-
mente e se descobre raramente para
aqueles que desejam se colocar ao
seu serviço.
Não é de se admirar ver pessoas
simples crerem sem raciocínio. Deus
lhes dá o amor a ele, e o ódio a si
mesmas.
Dizem que somos incapazes de
conhecer se existe mesmo um Deus.
Entretanto, o certo é que Deus existe
ou não existe. Não há meio termo
nessa questão.
O homem é naturalmente crédulo e
incrédulo, tímido e temerário.
Não tire de seu aprendizado a
conclusão de que você sabe tudo,
mas sim a certeza de que ainda resta
muito a saber.
Se o homem não foi feito para Deus
por que só é feliz em Deus? Se o
homem é feito para Deus, por que é
tão contrário a Deus?
Não tenho palavras para qualificar
aquele que duvida e não corre atrás
da certeza, aquele que, ao mes-
mo tempo, é sumamente infeliz e
injusto, e ainda se sente tranquilo e
satisfeito e se vangloria disso tudo.
É uma estranha inversão a sensibili-
dade do homem às pequenas
coisas e a insensibilidade dele
às grandes coisas.
”
”
momento, Nicodemos teve a coragem de levantar sua voz
no Sinédrio a favor de Jesus: “De acordo com a nossa lei
não podemos condenar um homem sem ouvi-lo primeiro
e descobrir o que ele fez” (Jo 7.51, NTLH). Finalmente,
Nicodemos foi corajoso ao se associar, de dia e não de
noite, a José de Arimateia, outro membro do Sinédrio,
para tirar Jesus da cruz, embalsamar e dar sepultura ao
seu corpo. Para tanto, ele mesmo levou 34 quilos de
especiarias (Jo 19.38-42).
Nada mais se fala sobre Nicodemos, mas é provável
que ele tenha se tornado um cristão professo. Segundo a
tradição, ele teria sido batizado por Pedro e João, sofrido
perseguições, perdido seu lugar no Sinédrio e obrigado a
deixar Jerusalém!
30. 30 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
N
ão preciso de lentes de
aumento para enxergar
os defeitos dos outros.
Nem de óculos para
ver as minhas virtudes.
Foi Jesus quem me acusou dessa
hipocrisia. Ele denunciou a minha
Quero valorizar mais as qualidades
do que os defeitos dos outros
capacidade de me preocupar com
um cisco no olho de meu irmão e
da capacidade de não me preocupar
com um pedaço de madeira no meu
(Mt 7.3-4). Estou envergonhado!
De hoje em diante, com o auxílio de
Deus, me darei ao trabalho de catar
as coisas boas nos outros e as más em
mim! Não estou me comprometendo
a pôr uma venda nos meus olhos
para não ver o meu pecado nos
outros. Nem a colocar uma venda
nos olhos para não ver a virtude dos
outros em mim. Quero me esforçar
para ver a maldade alheia com
misericórdia e ver a minha bondade
com humildade. Que Deus tenha
pena de mim e me ajude.
Não perderei de vista o que os
sábios têm dito. Vou ser humilde
como Goethe, o filósofo alemão
que confessou: “Não vejo falta
cometida [por outra pessoa] que
eu não pudesse ter cometido”. Vou
ser coerente como C. S. Lewis, o
catedrático de Oxford e Cambridge,
que revelou: “Pela primeira vez,
examinei a mim mesmo com o
propósito seriamente prático, e
DE HOJE EM DIANTE...
ali encontrei o que me assustou: um
bestiário de luxúrias, um hospício de
ambições, uma centena de medos, um
harém de ódios minados”. Vou aceitar
a palavra de Vidosav Stevanovic, o
escritor sérvio, que aconselhou: “Antes
de combater o mal nos demais, cada
um de nós deve combatê-lo no interior
de si mesmo”. Vou ouvir a voz de
Agostinho, o bispo de Hipona, que
indagou: “Que poderá haver de mais
miserável do que um mísero que não
enxerga sua própria miséria?”. Vou
guardar sempre o conselho de William
Saroyan, escritor americano, que disse:
“O homem mal deve ser perdoado e
amado todos os dias porque alguma
coisa de cada um de nós está no pior
homem e alguma coisa dele está em
nós”.
O motoboy acusado de violentar
e matar nove mulheres no Parque
do Estado, em São Paulo, disse uma
verdade: “Eu tenho um lado bom e
outro ruim, que se sobrepõe ao bom”.
Tentarei enxergar o lado bom dos maus
e o lado mau dos bons, para afastar
de mim o espírito de superioridade, a
ingenuidade e o juízo temerário!
31. Maio-Junho, 2011 I ULTIMATO 31
H
á algum tempo, dei
uma palestra sobre
relacionamento familiar
em Rondonópolis, MT.
Depois da palestra, fui
convidado por um grupo para ir jantar
um delicioso peixe na brasa. Em meio a
conversas e risadas, um casal de noivos
que estava sentado ao meu lado me
fez a seguinte pergunta: “Professor,
vamos nos casar no mês que vem.
Sabemos que não existe mágica para um
casamento funcionar. Porém, queríamos
saber se o senhor teria alguma dica para
nos dar. Gostaríamos de cultivar um
bom relacionamento desde o começo”.
Pensei por alguns segundos antes de
responder e depois olhei bem para eles e
disse: “Tenho sim!”.
O casal ajeitou-se na cadeira
como se fosse participar de um
momento especial, arregalou os olhos
e aproximou-se para ouvir-me melhor.
Então eu disse: “Se vocês querem ter
um casamento harmônico desde o
início, não tenham nem televisor nem
computador em casa nos primeiros dois
anos de casado!”.
Eles se entreolharam, com um
esboço de sorriso e uma expressão de
interrogação, perguntando-se se eu
estava falando sério ou se era apenas
uma piada, entre as muitas que eu
havia contado durante a palestra.
Então eu continuei, solene: “Bem, me
digam uma coisa, se vocês não tiverem
televisão nem computador nos dois
primeiros anos de casado, no final
do expediente irão chegar em casa,
jantar e em seguida farão o que?”.
Novamente o casal se entreolhou com
um sorriso maroto. Eu complementei:
Cuidado com os ladrões
Casamento e famíliaCarlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
“Tudo bem, além disso, vão fazer o
que?”. Eles soltaram uma gargalhada e
responderam: “Conversar!”.
Realmente não há fórmulas mágicas
para um sucesso no casamento, senão
o diálogo. Nos dias atuais, a televisão
e o computador são os maiores ladrões
do diálogo conjugal e familiar. As
pessoas chegam em casa cansadas de
expedientes muitas vezes torturantes e
querem “não pensar”. Apenas se jogam
em frente à televisão ou ao computador
e ali deixam a mente vagar pelos espaços
cibernéticos, sem fazer esforço algum,
senão o de mexer os dedos para zapear
ou o de teclar e clicar o mouse.
Muito cuidado com esse relax!
Existe muito lixo no espaço cibernético
e nas programações televisivas que
sorrateiramente se acumula nos cantos
da mente e produz, em médio prazo,
um fedor comportamental que infecta
os relacionamentos. Não poucas vezes
ouvi comentários de distintas senhoras
cristãs, muitas vezes em encontros de
casais, afirmando que estavam torcendo
para que uma determinada personagem
da novela abandonasse o marido e
ficasse com o amante, pois o primeiro
era nefasto, enquanto o segundo era
adorável. Esse lixo entra silenciosamente
nas mentes e vai distorcendo os valores.
Ao consultório nos chegam
inúmeros casos de homens e mulheres
com uma vasta bagagem cristã, mas
que, de um momento para o outro,
se veem envolvidos em pornografia
pela internet. Isso por terem
“inocentemente” entrado em salas
de bate-papo e, paradoxalmente, não
terem mais espaço de diálogo com o
cônjuge.
Jesus alerta: “O ladrão só vem para
roubar, matar e destruir; mas eu vim
para que as ovelhas tenham vida, a vida
completa” (Jo 10.10, NTLH).
Cuidemos então de cultivar o
diálogo conjugal e familiar e de manter
os ladrões distantes de nossa casa.
Talvez você não precise desfazer-se
de sua televisão ou computador, mas
precise orar a Deus para desenvolver o
fruto do Espírito Santo, que inclui o
domínio próprio (Gl 5.22). Dominar
o impulso de chegar em casa e ligar a
televisão ou o computador e aproveitar
o tempo para um fecundo diálogo
conjugal e familiar é, sem dúvida, sinal
de maturidade espiritual.
Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e
terapeutas de casais e de família. Catito é autor de Como se
Livrar de um Mau Casamento e Macho e Fêmea os Criou, entre
outros.
Aproveitar o tempo para um
fecundo diálogo conjugal e
familiar é, sem dúvida, sinal de
maturidade espiritual
YosepSugiarto
32. 32 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
encontramos tanto a singularidade como
a pluralidade. Embora cada pessoa divina
seja singular, a identidade de cada uma
encontra-se íntima e indivisivelmente
ligada ao “outro”. O outro é uma
realidade constitutiva do ser humano.
O narcisismo da cultura moderna
reflete a realidade do pecado. Muitas
desordens mentais têm sua origem
no esforço humano de querer viver
sem Deus — de ser seu próprio deus.
O apóstolo Paulo descreve assim
este quadro: “Porque, mesmo tendo
conhecido a Deus, não o glorificaram
como Deus, nem lhe deram graças; pelo
contrário, tornaram-se fúteis nas suas
especulações, e o seu coração insensato
se obscureceu” (Rm 1.21, AS21).
Essas pessoas tornaram-se cheias de si,
passaram a se admirar mais do que ao
Criador, substituíram a verdade pela
mentira, e acabaram sendo entregues
a toda sorte de desordens mentais e
emocionais.
A identidade cristã repousa no
batismo. Fomos batizados em um
“corpo”. O “eu” solitário e egoísta deu
lugar a um “nós” solidário. Não me
realizo em mim mesmo, mas no outro,
na medida em que me entrego em amor
e serviço abnegados. Nenhum membro
do corpo existe ou sobrevive por si
— “o olho não pode dizer à mão: não
tenho necessidade de ti” (1Co 12.21).
Jesus afirmou: “Se o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36).
Nossa segurança e liberdade não são
encontradas no ser autônomo, mas no
reconhecimento de Cristo como Senhor
e cabeça da sua igreja e na submissão ao
seu governo e ao seu povo.
Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do
Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília.
É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.
porque a igreja não comprou a “sua
visão”. Uma conversão tem maior valor
quando narrada por uma celebridade.
A identidade cristã ganha mais
credibilidade quando estamos vinculados
a uma igreja ou a um ministério que leva
o nome de alguém famoso. O espaço
para a consciência do outro é cada vez
menor, uma vez que sou absorvido com
a “minha” necessidade de realização.
O narcisismo como expressão do
egoísmo e da autoglorificação é tão velho
quanto o pecado original — “e sereis
como Deus…”. Logo depois, o ciúme
leva Caim a assassinar seu irmão Abel.
A cultura narcisista, fortalecida pelo
individualismo, pelo consumismo e pela
“divinização” do ser, torna-nos temerosos
em relação ao “outro”.
Achamos possível criar uma
compreensão da existência humana
a partir de nós. A realidade passa a
ser aquilo que concebemos em nossa
consciência, absorvida por nossas
carências e fantasias. Muitos chegam a
admitir que Deus é um inibidor e um
repressor da liberdade e da realização
humanas.
Porém, a afirmação divina de que
fomos criados à imagem e semelhança de
Deus revela a mais completa e perfeita
compreensão do ser humano. Ela reflete
o mistério da Trindade, por meio do qual
O CAMINHO DO CORAçãO Ricardo Barbosa
A identidade cristã
repousa no batismo.
Fomos batizados em um
“corpo”. O “eu” solitário
e egoísta deu lugar a um
“nós” solidário
A
próxima edição do Manual
Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais
(DSM-5), prevista
para maio de 2013,
propõe a eliminação da desordem de
personalidade narcisista, entre outros
transtornos de sua lista. Não se sabe ao
certo os motivos. O fato é que, quando
um “transtorno” se torna padrão de
comportamento de uma cultura, ele
deixa de ser patológico.
O comportamento narcisista
é definido por um sentimento de
autoestima elevado, autoabsorvido, com
fantasias de ilimitado sucesso, poder,
inteligência, beleza e amor ideal; além
da crença de ser “especial” frente aos
outros. O narcisista costuma explorar
relacionamentos interpessoais e tem uma
grande necessidade de ser admirado.
Guarda sempre fantasias de grandeza e
possui dificuldades de empatia. Para um
narcisista, a realidade é concebida apenas
dentro de seu universo fechado e egoísta.
A internet tem proporcionado
uma infinidade de recursos que
promovem o exibicionismo e os falsos
relacionamentos. Isso tem mudado
o comportamento das crianças e dos
jovens. Nesses espaços, enquanto
muitos se orgulham dos milhares
de “seguidores” (admiradores) em
sites de relacionamento, outros têm
a oportunidade de tornarem-se
celebridades. A nudez, seja das emoções
ou do corpo, pode ser exibida para quem
quiser ver. Tudo isso eleva o senso de
importância e o valor que cada indivíduo
acredita ter.
No mundo religioso não é diferente.
Líderes precisam ter o “seu” ministério,
a “sua” visão, o “seu” projeto. É comum
encontrarmos pastores frustrados
A espiritualidade cristã
e a cultura narcisista
34. 34 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
a morte do pai. Junto com a irmã de
seu pai, Rachel Saint,1
e outras esposas
de pilotos mortos, eles conseguiram
conquistar os Waurani e levar-lhes o
evangelho. O perdão e o amor que fez
com que as esposas dos missionários
martirizados voltassem à terra dos
índios assassinos escreveu uma das mais
belas histórias de missões modernas.
Steve, criado na tribo, voltou aos
Estados Unidos, onde fez faculdade e
se casou.
Anos depois, visitando a tribo por
ocasião da morte de sua tia Rachel, os
Waurani lhe deram um ultimato:
— Você é nosso filho, e sabe tudo
do mundo de fora. Estudou, entende o
mundo, agora precisa ajudar a gente a
sair da pobreza.
Steve entendeu o chamado
diferenciado que os índios lhe
propuseram e começou uma série
de iniciativas de desenvolvimento
econômico para a tribo.
O mais interessante dos projetos
é uma fábrica de ultraleves super
modernos. Nada de pensar apenas em
latrinas e água potável. Steve Saint
construiu uma fábrica de montagem
de kits da avioneta RV10 e convidou
os interessados em comprá-lo, por mais
de 200 mil dólares, a irem ao Equador
e aprenderem com os Waurani a
montá-lo para nele voar em três
semanas.2
Se fosse no Brasil, ele certamente
teria sido barrado pelo governo
brasileiro, que condena as tribos do
país à miséria eterna em nome da
preservação cultural.
Steve considera a falta de ênfase no
problema econômico o maior ponto
cego de missões no último século.
S
em deixar de cair no
lugar-comum das
entrevistas, perguntei
a Don Richardson
qual foi a área mais
negligenciada na sua geração no
panorama missionário entre os povos
não-alcançados.
Ele não se fez de rogado e
me deu uma boa aula sobre
a questão econômica e sobre
missões. A negligência em olhar o
desenvolvimento como parte do
processo de “evangelização” condenou
muitas tribos à dor da exclusão sócio-
econômica e à falta total de perspectiva
de um futuro diferente para seus
filhos.
Steve Saint é o filho de Nate Saint,
o piloto das selvas, assassinado na
década de 50 nas selvas do Equador
pelos índios então conhecidos
como Auca, cujo verdadeiro nome é
Waurani. Steve foi criado na selva,
pois sua mãe assumiu o trabalho após
Na minha experiência de 30 anos
na Amazônia, vi muitos de nossos
trabalhos missionários, implantados
com muito suor e oração, serem
derrotados por nossa incapacidade de ir
além da pregação. Enganados por uma
visão cristã falsa de mundo, que separa
o trabalho espiritual do “secular”,
alguns de nossos projetos focalizaram
apenas as “almas” e não o ser humano
como um todo.
Por todos os lados vemos a
consequência dessa falácia cristã. A
África é o continente mais evangelizado
do mundo e também o mais pobre.
Apesar do despertamento que as
discussões de Lausanne trouxeram à
igreja, ainda temos de trabalhar muito
para mudar a cosmovisão que propõe
uma missão para a igreja desassociada
da realidade sócio-econômica.
Já passou da hora de homens de
negócios e capacidade empreendedora
abraçarem o chamado da missão
integral. O mundo de missões precisa
deles. Pessoas que não deixam tudo
para servir como nós, jesuítas do
evangelho, mas que servem com seu
aparato empresarial e seu tino para criar
riquezas. Só assim vamos conseguir
tirar os povos tribais do mundo da
miséria degradante, que os condena a
pensar que o amor de Deus é abstrato e
inócuo, como o evangelho que levamos
até eles.
Notas
1. História narrada no livro Through Gates of Splendor,
de Elizabeth Elliot.
2. www.saintaviation.com/index.htm.
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta
anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua
família e está envolvida em projetos internacionais de
desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical.
O mandato econômico
Bráulia RibeiroDA LINHA DE FRENTE
Já passou da hora de homens
de negócios e capacidade
empreendedora abraçarem o
chamado da missão integral
freestockphotos.es
36. 36 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
anúncio do evangelho chegasse a
todas as nações, por que limitou seu
ministério quase exclusivamente ao
povo de Israel? A resposta mais provável
é que sua concentração em Israel foi
coerente com o propósito de Deus de
usar o povo de Israel como “luz das
nações”. Com efeito, para isso é que
ele foi escolhido! A promessa do pacto
que Deus fez com Abraão não foi só de
bênção para ele e seus descendentes: “E
far-te-ei uma grande nação, e abençoar-
te-ei” (Gn 12.2). Foi ao mesmo tempo
uma comissão: “E em ti serão benditas
todas as famílias da terra” (Gn 12.3).
A particularidade da eleição tinha um
propósito universal. O particular e o
universal se unem em Jesus Cristo: ele
concentra seu ministério terreno em
Israel como o povo escolhido de Deus,
mas na Grande Comissão demonstra
que seu propósito redentor, em
conformidade com a vontade de Deus,
tem um alcance global. E essa é a origem
das missões transculturais que vão
tomando forma depois da ressurreição e
exaltação de Jesus Cristo, como relatado
em Atos, em cumprimento a promessa
do Senhor a seus discípulos: “Mas
recebereis a virtude do Espírito Santo,
que há de vir sobre vós; e ser-me-eis
testemunhas, tanto em Jerusalém como
em toda a Judeia e Samaria, e até aos
confins da terra” (At 1.8).
Traduzido por Wagner Guimarães
C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e
membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da
Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? .
caem da mesa dos seus senhores” (v. 27).
É uma resposta de fé que rende bom
fruto, porque Jesus lhe contesta: “Ó
mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito
para contigo, como tu desejas” (v. 28).
Poderiam ser citados outros casos
de contato de Jesus com representantes
do mundo gentio, mas esses dois
bastam para afirmar que, ainda que seu
ministério terreno tenha se concentrado
em Israel, os não-judeus não foram
totalmente excluídos dos benefícios
de seu poder redentor. Assim, é válido
lembrar que no começo do Evangelho
de Mateus (2.1-12) encontramos o
relato da visita de “uns magos que
vieram do oriente” para ver o recém-
nascido Jesus. Já era uma mostra da
importância que o menino judeu teria
para os povos não-judeus.
Apesar da escassez de referências ao
ministério terreno de Jesus Cristo como
algo que transcende as fronteiras de
Israel, é notável que a comissão dada aos
discípulos tenha uma óbvia conotação
global: “Ide, fazei discípulos de todas as
nações” (Mt 28.19). O mesmo alcance
universal está presente nas versões da
Grande Comissão de Marcos 16.15,
Lucas 24.47 e Atos 1.8. Evidentemente,
o propósito de Jesus Cristo é que em
todas as nações da terra (panta ta ethne)
haja discípulos que o confessem como
Senhor sob cuja soberania Deus colocou
a totalidade de sua criação, e que vivam
sob a luz dessa confissão.
Cabe, então, a pergunta: se Jesus
Cristo tinha a intenção de que o
O alcance global da missão cristã
N
ão é necessário destacar
que o ministério terreno
de Jesus se concentrou
em Israel, o povo
escolhido de Deus.
Seus contatos com os gentios ao longo
do ministério, relatados pela Bíblia,
são poucos. Entre eles se destacam
dois casos. O primeiro é seu encontro
em Cafarnaum com um centurião
romano que vai até ele em busca de
ajuda para a paralisia que mantém seu
servo prostrado (Mt 8.5-13; Lc 7.1-10).
Quando Jesus se dispõe a ir a sua casa,
o centurião lhe diz: “Senhor, não sou
digno de que entres debaixo do meu
telhado, mas dize somente uma palavra,
e o meu criado há de sarar” (Mt 8.8).
Tal resposta surpreende Jesus e o leva
a comentar com os discípulos: “Em
verdade vos digo que nem mesmo em
Israel encontrei tanta fé” (v. 10).
O segundo caso é seu encontro com
uma mulher siro-fenícia na região de
Tiro e Sidom (cidades gentias), a qual
lhe roga que expulse um demônio de
sua filha (Mt 15.10-20). A resposta de
Jesus é desconcertante: silêncio. Ante
a insistência da mulher e a intervenção
dos discípulos que lhe pedem que a
dispense, Jesus comenta: “Eu não fui
enviado senão às ovelhas perdidas da
casa de Israel” (v. 24). A mulher insiste
e ele afirma: “Não é bom pegar o pão
dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos”
(v. 26). Ela não se dá por vencida e
responde: “Sim, Senhor, mas também os
cachorrinhos comem das migalhas que
MISSãO INTEGRAL René Padilla
KristinSmith
38. 38 ULTIMATO I Maio-Junho, 2011
Meu nome é Daniel Torres, tenho
36 anos, e gostaria de saber qual
a sua posição, à luz da Bíblia,
acerca da oração. Devo orar a
Deus por questões “básicas” do
dia-a-dia? Orar por emprego, por
prosperidade, por um cônjuge, pela
conversão de alguma pessoa, por
cura?
Prezado Daniel, a Bíblia Sagrada ensina
que se deve orar a respeito de tudo.
Orar por qualquer motivo, a qualquer
hora, em qualquer lugar, sempre que o
coração não estiver em paz. O apóstolo
Paulo nos ensina a orar (Fp 4.6, 7)
dizendo que não precisamos andar
ansiosos por coisa alguma, mas em
tudo, pela oração e pelas súplicas, com
ações de graças, devemos apresentar
nossos pedidos a Deus. A expressão
“coisa alguma” nos leva a orar sem
censura filosófica ou teológica, sem
se perguntar “é legítimo pedir isso a
Deus?” ou “será que Deus se envolve
nesse tipo de coisa?”. Devemos
simplesmente orar, e de maneira
simples. Por outro lado, a Bíblia não
garante que Deus atenderá nossos
pedidos exatamente como foram feitos.
Deus não prometeu dizer sim a todos
eles. O maior fruto da oração não é a
resposta, mas a maturidade crescente
da pessoa que ora. Na verdade, a
estatura espiritual de uma pessoa
pode ser medida pelo conteúdo de
suas orações. Assim como sabemos
se nossos filhos estão crescendo ao
observar o que nos pedem e o que
esperam de nós, podemos avaliar
nosso próprio crescimento espiritual
por meio de nossos pedidos e súplicas
a Deus. As orações revelam o que
realmente ocupa nosso coração, o que
realmente é objeto do nosso desejo, o
que nos amedronta, nos mobiliza e/
ou desestabiliza, e nos rouba a paz.
Cotidiano — o leitor pergunta
O apóstolo Paulo diz que quando
era menino, falava como menino,
pensava como menino e raciocinava
como menino. Mas quando se tornou
homem, deixou para trás as coisas
de menino (1Co 13.11). Não existe
oração certa e errada. Porém, existe
oração de menino e oração de homem.
Oração de menina e oração de mulher.
A diferença está no coração: coração de
criança, menino ou menina, ora como
criança. A nossa certeza é que Deus
também gosta de crianças.
Sou Sara Magalhães, tenho 26
anos, e estou no último ano
do seminário. Meu trabalho de
conclusão de curso trata da missão
da igreja e eu gostaria de saber sua
opinião a respeito desse tema.
Sara, acredito que o tema do seu
trabalho é dos mais relevantes. A
compreensão mais comum diz que a
missão da igreja é “fazer discípulos”,
o que, em sentido reduzido, significa
“ganhar almas” ou popularmente
“povoar o céu”. Esse conceito está
baseado na chamada Grande Comissão
de Mateus 28.18-20. Porém, existem
outros textos do Novo Testamento
Ed René Kivitz
Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo. É mestre em ciências da religião e autor de, entre outros, O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia.
que podem servir de base para o
entendimento da missão da igreja,
como, por exemplo, João 17.18 e
20.21: “Assim como o Pai me enviou
ao mundo, eu também os envio”, o
que nos leva a considerar a missão da
igreja como extensão da missão de
Jesus. Também em Lucas 4.18-21,
podemos encontrar uma referência
à missão, quando Jesus diz que foi
ungido pelo Espírito do Senhor e
enviado para pregar boas novas aos
pobres, proclamar liberdade aos presos
e recuperação da vista aos cegos,
libertar os oprimidos, e proclamar o
ano da graça do Senhor. Esse texto
pode ser resumido nas expressões
salvação, libertação e restauração.
Como último exemplo, podemos
olhar para Efésios 1.22, 23, em que
o apóstolo Paulo diz que pela igreja
Jesus exerce sua autoridade sobre
todas as coisas. Nesse caso, a igreja
é responsável por fazer com que
Jesus seja Senhor, de fato, sobre tudo
quanto é de direito. Todos esses textos,
e muitos outros, apontam para o
conceito da missão integral da igreja,
resumido em Lausanne como “levar o
evangelho todo para o homem todo”.
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edrenekivitz@ultimato.com.br
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