2. FIGURAS DE LINGUAGEM são construções que se desviam do significado das palavras a fim de obter uma nova mensagem ou de reforçar a existente. “ Faremos casas de medo,/ duros tijolos de medo” Tem-se nesse verso uma prosopopéia, recurso que consiste em atribuir características humanas, no caso o sentimento de medo, a seres inanimados.
4. Comparação É uma figura de palavra que consiste em estabelecer uma relação de qualidade entre dois termos da oração, a fim de destacar a semelhança entre eles. conectivo Normalmente, essa figura de palavra utiliza-se de expressões ou elementos que ligam os dois termos: tal qual, assim como, tão...quanto etc. Tal qual um dois de paus, ela mantinhas-se calada. “ A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia ” (Jorge Amado)
5. Metáfora Do mesmo modo que a comparação, a metáfora é uma figura que consiste em empregar uma palavra fora do seu sentido normal, demonstrando uma semelhança entre seres. A comparação, nesse caso, é mental, subjetiva. A propaganda é a alma do negócio . Note que, na comparação, normalmente há expressões que fazem a ligação entre os termos, ao contrário da metáfora, na qual tais expressões não aparecem. De qualquer forma, a metáfora expressa sempre uma imagem mental a partir da qual se elabora a comparação. é como a alma
6. Quadro de catacreses e metáforas-clichês Com nomes de animais Com nomes de vegetais Com partes do corpo Com nomes de objetos e utensílios Com nomes de fenômenos físicos e acidentes geográficos Esta mulher é uma víbora , uma vaca. Raízes da nacionalidade O tronco familiar Maça do rosto Ramo das ciências Boca de túnel Pé da mesa Coração da cidade Dente de alho Cabelo de milho Folha de rosto Tapete de relva Cortina -de-ferro Muro da vergonha Berço da nacionalidade Aurora da vida Monte de papéis Vale de lágrimas Dilúvio de asneiras Catacrese Consiste em fazer uso de uma metáfora forçada desgastada, em utilizar uma palavra no sentido figurado na falta de um termo específico. O nome catacrese significa ‘abuso’.
7. Vemos também o exemplo no poema de José Paulo Paes: Inutilidades Ninguém coça as costas da cadeira. Ninguém chupa a manga da camisa. O piano jamais abana a cauda. Tem asa, porém não voa, a xícara. De que serve o pé da mesa se não anda? E a boca da calça se não fala nunca? Nem sempre o botão está na sua casa. O dente de alho não morde coisa alguma. Ah! Se trotassem os cavalos do motor... Ah! Se fosse de circo o macaco do carro... Então a menina dos olhos comeria Até bolo esportivo e bala de revólver.
8. Metonímia ou Sinédoque Trata-se de substituir um termo por outro com o qual se mantenha uma relação de causalidade ou semelhança. Essa substituição é provocada pela relação de sentido e pela associação de idéias. Note, por exemplo, quando se diz: “Estou vendo o Spierlberg de novo”, dando a entender: “Estou vendo um filme do Spierlberg de novo”. Trata-se, nesse caso, da substituição do autor pela obra, figura bastante fácil de ocorrer.
11. Antítese e paradoxo Consistem no emprego de idéias contrastantes. No caso da antítese , o contraste se faz pela aproximação de idéias opostas. “ Era o porvir – em frente o passado, A liberdade – em face à Escravidão .” (Castro Alves) Quanto o paradoxo, a aproximação de idéias absurdas provoca o contraste. “ Amor é um fogo que arde sem se ver , É ferida que dói , e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer .”
12. Ironia É uma figura que exprime um conceito contrário do que se pensa ou do que realmente se quer dizer. Por isso, muitas vezes, só pode ser percebida quando se considera o contexto. Parabéns pela sua grande idéia : conseguiu estragar todos os meus planos! Veja que belo serviço você fez: manchou toda a minha roupa! “ Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor .” (Mário de Andrade)
13. Eufemismo Consiste na atenuação de idéia desagradável, rude ou triste, substituindo-a por uma idéia mais suave. Ir para o reino de Deus. (em vez de morrer) Você faltou com a verdade. (em vez de mentira) Eis alguns eufemismos comuns: Deixar o mundo dos vivos morrer Abrir fogo atirar Robusto gordo Amigo do alheio ladrão
14. Hipérbole Trata-se de exagerar uma idéia para obter maior impacto em sua expressão. “ Sonhava com milhões de estrelas iluminando a tua casa.” (Clarice Lispector) Chorou rios de lágrimas.
15. Gradação Consiste em enumerar qualidades de um ser, dando-nos uma idéia de ordem crescente ou decrescente: A vida , o céu , o mar , o infinito, tudo era desagradável. A distribuição de alimentos parecia uma luta , uma batalha , uma guerra . Dominava-o um ódio , uma repulsa , uma aversão que não sabia explicar. Fui-me afastando e, aos poucos, desaparecia a cidade , as casas , as portas .
16. Apóstrofe É a invocação ou interpelação que se faz a alguém e, geralmente aparece como termo desligado da frase: “ Lua lua lua por um momento meu canto contigo compactua.” (Caetano Veloso) “ Menino , sai! Eu te odeio. Menino assombrado, feio.” (Mário de Andrade)
17. Prosopopéia É a personificação ou animismo de seres que não são humanos. “ Milho foi o grande vilão da temporada.” (manchete de jornal) Sinestesia Figura que consiste na utilização simultânea de alguns dos cinco sentidos. “ Sons noturnos. Perfumes macios . Fresca música da brisa. (Cecília Meireles) “ Agora, o cheiro áspero das flores.” (Cecília Meireles)
20. Anástrofe Ocorre quando se altera a ordem normal da frase ou do enunciado, provocando a inversão dos termos da oração, geralmente o sujeito e o predicado. “ É erro acreditar que o subdesenvolvimento tenha na colonização sua causa exclusiva .” (Ravel) “ Entre as nuvens do amor ela dormia !” (Álvares de Azevedo)
21. Elipse Consiste no ocultamento de um temo facilmente identificável. Fomos à tarde, chegamos de noite. “ De dia, me lava roupa De noite, me beija a boca.” (Luiz Melodia) nós nós ela ela
22. Zeugma Trata-se da omissão de um termo já enunciado anteriormente. “ Todo dia ela faz tudo sempre igual, Me sacode ás seis horas da manhã, Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boa de hortelã.” (Chico Buarque de Holanda) (zeugma de “Todo dia ela”) “ A dona pede ao marido não grite e ao filho não responda.” (Dalton Trevisan)
23.
24. 3. Pessoa “ Os modernistas da Semana da Arte Moderna não devemos servir de exemplo a ninguém.” (Mário de Andrade) (o autor se inclui entre os modernistas, por isso o sujeito está em 3º pessoa do plural e o verbo está em 1º pessoa do plural) “ E os sessenta milhões de brasileiros falamos e escrevemos de inúmeras maneiras a língua que nos deu Portugal.” (Rachel Queiroz)
25. Pleonasmo É a repetição de um termo a fim de reforçar seu significado. A mim resta- me a derrota. “ Os despojos eu os guardei zelosamente numa urna.” (Pedro Nava) Há Pleonasmos que podem constituir vício de linguagem. Amanhecendo de manhãzinha Subir para cima Descer para baixo Entrar para dentro
26. Polissíndeto É a repetição constante de uma conjunção coordenativa entre orações ou termos coordenados entre si: “ Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca.” (Fernando Pessoa)
27. Assíndeto Trata-se da ausência dos conectivos no período. “ Se o estúpido negar – insisto, falo, discuto..” (Aluísio Azevedo) “ A vida não é antologia, não tem gramática, não tem adjetivos bonitos, não tem pontuação.” (Paulo Mendes Campos) “ Foi até a esquina, parou, tomou fôlego.” (Graciliano Ramos) (e)
28. Hipérbato Consiste na inversão da ordem direta dos termos da oração. “ Destes penhascos fez a natureza Berço em que nasci: Oh! Quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma nobre, um peito sem dureza!” (Cláudio Manuel da Costa) (Na ordem direta teríamos: A natureza fez destes penhascos o berço em que nasci.)
29. Anáfora Consiste na repetição de uma mesma palavra no início de frases ou de versos. “ Já fui loura, já fui morena, Já fui Margarida e Beatriz, Já fui Maria e Madalena” (Cecília Meireles)
30. Anacoluto Trata-se de abandonar um termo solto na frase, como se o pensamento se interrompesse e continuasse por outro caminho. Meu filho , não admito que falem mal dele. Eu, não me importa o que falam de mim. “ O homem daqui , seu conceito de felicidade é muito mais subjetivo.” (Rachel de Queiroz)
32. Aliteração Constitui-se na repetição proposital e ordenada de sons consonantais idênticos ou semelhantes. Reforça a imagem que se deseja transmitir. “ Ch ove ch uva ch overando Que a cidade de meu bem Está-se toda se lavando.” (Oswaldo de Andrade) Note que a repetição do som ch enriquece a idéia da chuva. “ Pelé, pelota, peleja. Bola, bolão, bolaço. Pelé sai dando balõezinhos . Vai, vira, voa, vara, quem viu, quem previu? GGGGGooooollll.” (Carlos Drummond de Andrade) A repetição de alguns fonemas empresta ao enunciado o ritmo de um jogo de futebol.
33. Assonância Consiste na repetição proposital de sons vocálicos idênticos ou semelhantes. “ A l i nha fem i n i n a é c a r i m á Moquec a , p i t i t i nga, car u r u Minga u de p u ba, e vinho de caj u P i sado num p i lão de P i r a gu á .” (Gregório de Matos Guerra) Nota que, além das aliterações, usaram-se repetidamente os sons a, i e u .
34. Paronomásia É o uso de semelhantes em palavras próximas. “ Aquela estrela é dela Vida, vento, vela, leva -me daqui.” (Raimundo Fagner) Onomatopéia Consiste na representação de certos sons, produzidos por animais ou coisas, ou mesmo de certos sons humanos. “ O pato Vinha cantando alegremente Quem, quem Quando o marreco sorridente pediu, para entrar também no samba...” (João Gilberto)