SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 161
Baixar para ler offline
RELATOS DE CASOS DE TERAPIA REPARATIVA
Joseph Nicolosi
Traduzido do Original: SANAR LA HOMOSEXUALIDAD -HISTORIAS DE CASOS DE LA
TERAPIA REPARATIVA, Joseph Nicolosi
Tradução: Hugo Dracena
Edição: Equipe Closet Full
Divulgação em língua portuguesa: Closet Full e Courage Brasil
Disponibilizamos o arquivo gratuitamente na internet pois entendemos sua
importância no momento em que vivemos no Brasil.
Pedimos gentilmente a todos que divulguem esse material, em blogs, sites e
redes sociais.
Assim, estaremos empenhados em lutar contra toda mentira e manipulação
sobre o assunto.
Unam-se a nós nessa batalha!
Maiores informações: contato@closetfull.com.br
Para conhecer mais materiais: www.closetfull.com.br
É PROIBIDO COMERCIALIZAR OU ALTERAR ESSE ARQUIVO
SUMÁRIO
SUMÁRIO .......................................................................................................................................... 3
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 4
CAPÍTULO 1
ALBERT, O MENINO INTERIOR .................................................................................................... 6
CAPÍTULO 2
TOM, UM HOMEM CASADO ....................................................................................................... 21
CAPÍTULO 3
PADRE JOHN, A VIDA DUPLA ..................................................................................................... 37
CAPÍTULO 4
CHARLIE, A BUSCA PELA IDENTIDADE MASCULINA ......................................................... 51
CAPÍTULO 5
DAN, UM HOMEM COM IRA ....................................................................................................... 67
CAPÍTULO 6
STEVE, À PROCURA DE SÍMBOLOS MASCULINOS ............................................................... 78
CAPÍTULO 7
EDWARD, AAGONIA DE UM JOVEM ........................................................................................ 88
CAPÍTULO 8
ROGER: “REALMENTE QUERO ISSO?”................................................................................... 107
CAPÍTULO 9
COMO FUNCIONAA TERAPIA EM GRUPO ............................................................................ 129
CAPÍTULO 10
RECAPITULAÇÃO ....................................................................................................................... 153
INTRODUÇÃO
Utilizando transcrições reais de sessões gravadas em fitas-cassete, este livro utiliza os princípios
básicos de meu trabalho anterior, mais técnico, Terapia Reparativa da Homossexualidade
Masculina. Nesse livro, é possível encontrar exemplos claros da forma como trabalho com meus
pacientes enquanto enfrentam as distorções que escurecem suas verdadeiras identidades masculinas.
Foram necessárias algumas restrições nas expressões verbais e uma simplificação dos termos
clínicos para destacar os temas do processo de reparação. Além disso, para preservar a privacidade
dos pacientes, cada caso aqui apresentado é um misto de experiências de diversos indivíduos com
problemas similares. Nenhum caso se adapta detalhadamente a um único paciente. Qualquer fato
que aponte para uma pessoa concreta é pura coincidência.
O Movimento de Libertação Gay tem alcançado grande êxito por meio do drama dos testemunhos
pessoais. Quando todos os argumentos teóricos, tanto os que eram a favor quanto os contrários à
ideia da homossexualidade como patologia, foram apresentados à Associação Psiquiátrica
Americana (APA) em 1973, foi a perspectiva sociopolítica que teve maior influência. Ouvindo
algumas histórias pessoais de frustração no tratamento de alguns gays, a associação psiquiátrica
suprimiu a homossexualidade como categoria de diagnóstico.
Agora, exatamente 20 anos depois, oferecemos o lado oposto do testemunho pessoal, o dos
homossexuais que tentaram aceitar uma identidade gay, mas que não se sentiram satisfeitos e logo
se beneficiaram da psicoterapia para ajudá-los a libertar-se do conflito de identidade de gênero que
reside por detrás da maioria dos casos de homossexualidade.
Ainda que a história de cada paciente seja única, escolhi oito homens como representantes das
personalidades que encontrei ao longo dos doze anos em que tratei a mais de 200 pacientes
homossexuais. Cada paciente possui algum dos aspectos presentes nesses oito homens – como a
fragilidade de Albert, a integridade de Charlie, a ira de Dan, o narcisismo de Steve e a ambivalência
de Roger.
Alguns leitores podem surpreender-se com o estilo direto de minha intervenção terapêutica. Em
parte, essa impressão pode dever-se à síntese editorial da transcrição. Por questões de brevidade e
clareza, algumas das sutilezas podem ter sido supridas.
Por outra parte, a terapia reparativa requer um terapeuta mais aplicado – um “provocador
benevolente”, que saia da tradição de analista não aplicado e opaco para converter-se em uma
presença masculina relevante.
O terapeuta deve equilibrar espírito ativo com o ânimo vigoroso para seguir o modelo pai-filho e
mentor-aluno. Esse é um princípio essencial para a terapia reparativa.
A terapia reparativa não explica todas as formas de homossexualidade, senão somente a síndrome
predominante que encontrei em minha consulta. Essa terapia não é para todos os homossexuais.
Alguns podem preferir a Terapia da Afirmação Gay. Muitos homossexuais preferem pensar: “eu
nasci desta forma”, evitando, assim, trabalhar os problemas dos quais tratamos aqui.
Além disso, não foi encontrada nenhuma evidência conclusiva para qualquer base biológica da
homossexualidade. Ainda que alguns homens possam estar predispostos à passividade e à
sensibilidade por causa de seus temperamentos (e, portanto, à ferida de identidade de gênero que
ode conduzir à homossexualidade), sempre me pareceu que o “nasci dessa forma” não é senão outra
forma de dizer: “não quero ver os problemas de desenvolvimento que me fizeram homossexual”.
Este livro foi escrito em um momento de debate público sem precedentes sobre as inquietudes
políticas, legislativas e psicoterapêuticas sobre a homossexualidade. No momento em que o
publicamos, debate-se agora questões como os gays no exército, os gays nos Boy Scouts e as
emendas de direitos dos gays de Óregon. Entre todos os ramos de profissionais da saúde mental,
fazem-se tentativas de qualificar a terapia reparativa como ilegal e carente de ética, sobre o pretexto
de que não produz mudanças e que, ao paciente, faz mais mal que bem.
Qualquer terapia psicológica que tente tratar da homossexualidade provavelmente provoque
ceticismo. Compreende-se uma reação assim, considerada a história do tratamento. As hostilidades
que se faziam no passado em nome do tratamento incluem terapia de eletrochoque, castração e
cirurgia de cérebro. Foram cometidas muitas injustiças sociais sobre os homossexuais pelos que
utilizam como justificativa o fato de que a homossexualidade é uma desordem de desenvolvimento.
Não é nossa intenção contribuir com a hostilidade reacionária. Ademais, existe uma distinção entre
ciência e política, e a ciência não deveria render-se à pressão da política gay.
A NARTH – National Association for Research and Therapy of Homosexuality (Associação
Nacional para a Investigação e Terapia de Homossexualidade) foi formada recentemente para
combater a politização de assuntos científicos e de tratamento. A NARTH defenderá os direitos dos
terapeutas de tratar os homossexuais insatisfeitos. Somente poucos meses depois de seu início, mais
de cem psiquiatras titulados, psicólogos, orientadores sociais e trabalhadores sociais se haviam
unido a essa organização. A NARTH defenderá os direitos dos terapeutas de seguirem estudando e
aperfeiçoando técnicas terapêuticas para homens e mulheres que lutam contra pensamentos,
sentimentos e condutas homossexuais e que não a querem aceitar como parte de suas identidades
mais profundas.
Gostaria de apresentar meu apreço aos investigadores psicanalíticos mais precoces na tradição da
etapa do pré-Édipo, do impulso reparador, que moldaram minha compreensão de meus pacientes,
especialmente a Sandor Rado, M.D., Irving Bieber, M.D., e Charles W. Socarides, M.D.
CAPÍTULO 1
ALBERT, O MENINO INTERIOR
Albert entrou caminhando com cautela em meu consultório. Parecia inseguro, como se não
soubesse por que viera ver-me. Olhou-me rápida e timidamente e logo se pôs a observar o
Boulevard Ventura que aparecia por trás da janela.
“Alegro-me em conhecê-lo, Senhor O’Connor”, disse a ele, convidando-o para que sentasse em
uma poltrona, na qual ele se sentou com certa dúvida.
Sentei-me na cadeira de frente para Albert e olhei o rosto pálido de um jovem vestido com gosto e,
de certa forma, meio atarracado. Albert olhou ao redor da sala e logo comentou: “Gostei de suas
plantas. Seu consultório parece um jardim botânico”.
Sempre gostei muito da cor verde. Nas paredes de bosque verde estavam penduradas pinturas
clássicas italianas da época do Alto Renascimento. Em cima do sofá, há um quadro delicado, de cor
âmbar suave, de A Virgem e o Menino, de Da Vinci. Há plantas verdes exuberantes em macetas
terracota italianas, que se elevam sobre as cristaleiras do quadro até o teto. Duas estantes maciças de
livros arqueadas de nogueira escura dominam as paredes opostas, carregadas celestialmente com
livros e com samambaias postas em macetas e heras que fazem cascatas. Sabia que Albert apreciaria
o ambiente. Havia dito, por telefone, que trabalhava em um viveiro.
Suas palavras seguintes foram: “Parece muito com meu quarto em casa, todo esse verdor”, sorriu
ligeiramente. “Onde quer que eu esteja, gosto de estar rodeado por plantas e flores”. Albert falava
em um tom ligeiramente afeminado, com a qualidade triste de um menino perdido.
“Uma senhora veio hoje ao viveiro com uma samambaia doente”, ele dizia. “‘Não está lhe dando
luz suficiente’, foi o que disse a ela, ‘as samambaias amam muita luz, assim como a luz indireta do
sol’. Ela era muito sensível. Gosto muito de ajudar gente assim”. Um sorriso satisfeito cruzou seu
rosto: “Ultimamente, tenho me sentido como essa samambaia doente, que não foi cuidada
corretamente”.
Senti uma fragilidade, quase uma delicadeza, em Albert, que parecia ter ficado distante em seu
mundo de fantasia da infância. Albert vivia ainda com seus pais no mesmo rancho de distribuição
irregular de Malibu em que havia crescido. Seu único irmão, um meio-irmão mais velho, já havia,
há muito tempo, adquirido independência e se casado.
Durante suas primeiras sessões, Albert estava tranquilo, às vezes olhando-me com seus olhos
sinceros como se não soubesse o que dizer. Assim foi até algumas semanas mais tarde quando se
sentiu cômodo o bastante para revelar seus intensos sentimentos sexuais. Albert se sentia como um
menino pequeno preso em um corpo de homem, atormentado demais por desejos que não queria
reconhecer. Enquanto me contava sua história, a imagem do bom menino se rompeu e suas palavras
passaram a ser mais enfáticas. Logo sua voz se punha mais estridente, quase histérica.
Em um dia de chuva, Albert começou a falar sobre um aspecto comum da experiência homossexual,
que chamo de alienação do corpo. A maioria dos homossexuais descobre uma fascinação excluída
de seus corpos, mais que a cômoda familiaridade que com frequência se percebe nos homens
heterossexuais. De fato, é esse conforto natural com o próprio corpo que em geral faz com que os
heterossexuais sejam tão atrativos para os gays. A exclusão de Albert de seu corpo era extrema. Ele
havia sido educado em um lar em que o corpo masculino era considerado vergonhoso e sujo.
Neste dia, ele se sentou em sua poltrona de forma quase desafiante, contando em sua voz infantil:
“Foi uma semana ruim e andei tendo sentimentos estranhos. Ainda não fui capaz de superá-los”. E
acrescentou com um tom de culpa na voz: “Tenho me sentido excitado”.
“Tem sido uma semana ruim porque andou se sentindo excitado?”, perguntei.
“Sim. Não tenho conseguido dormir. Tenho me sentido cansado sem saber por quê”. Continuou:
“Agora me dou conta de que minha reação a qualquer sentimento sexual é sempre o medo e depois
a ira”.
“Sua ira é uma defesa contra o medo. Mas medo de quê? Por que seus sentimentos sexuais te
assustam?”
“Não sei.” Respondeu inutilmente. E então: “Sinto muitos conflitos, vergonha sobre algo físico,
sobre mim”.
Assenti, escutando.
“Minha mãe sempre dava uma grande importância a tudo o que tivesse a ver com meu corpo”.
“Verdade?”
“Sim. Quando era pequeno, ela tinha um ataque do coração toda vez que eu urinava na cama ou
algo do tipo. Se eu ficava doente, chamava todas as tias e tios, quase tendo um ataque de nervos.
Até que um dia realmente enlouqueceu quando me pegou em uma espécie de brincadeira sexual
com meu primo”.
“O que aconteceu?”
“Foi meu primo quem começou. Fez isso comigo durante vários anos. Nunca considerei o sexo
como algo ruim. Nunca me dei conta do que me estava passando. De fato, pensava que era meu
melhor amigo”.
“Quantos anos você tinha quando começou?” Perguntei.
“Cerca de 9, e meu primo 15. Era muito agressivo sexualmente. Sempre queria dominar. E eu me
sentia solitário, não tinha ninguém. E...”, admitiu, “terei que dizer que estava desesperado para que
alguém me quisesse. Agora tenho que perdoar a mim mesmo por ter aceitado sexo como amor. Eu
permiti que meu primo fizesse comigo coisas que eu sabia que estavam mal e que eu odiava.
Chorava em meu interior, mas seguia com o ato e lhe permitia que fizesse qualquer coisa que
quisesse”.
Perguntei: “Com que frequência acontecia isso?”
“Muitas vezes. Cada vez que eu ia à sua casa, durante uns quatro anos”.
“E quanto a seus pais? Onde estavam?”
“Não sei onde estavam. Não tenho nem ideia. Só me sentia desamparado todo o tempo. Se não
fizesse o que meu primo queria, não o teria como amigo. É um manipulador nato. Desde que era
pequeno me manipulava para conseguir o que queria. Durante um longo tempo continuava com ele
externamente, mas em meu interior nunca o quis. Inclusive, quando pensava que estava
conseguindo amor, o que me fazia me produzia ódio”.
Albert continuou: “finalmente, meu primo me deixou de lado. Uma ou duas vezes entrei no mesmo
tipo de servidão sexual com outro garoto na escola, agradando-lhe para que fosse meu amigo. Não
sei por que deixei que os homens me manipulassem. Creio que porque pareciam aventureiros e
emocionantes e nos divertíamos depois”. Albert estava falando de uma espécie de aventura
masculina ou de diversão que se perde ao se assumir o papel de um “bom menino”.
“E o que sua mãe fez quando te pegou aquela vez com seu primo?”
“Me castigou.... me bateu com uma cinta e me trancou por muitas horas no banheiro. Creio que seja
por isso que sou claustrofóbico. Ela dizia que Deus havia destruído uma cidade inteira devido a
gente que fazia coisas como as que eu fizera”.
Albert continuou: “Como dizia, só tenho feito sexo algumas vezes desde esses incidentes com meu
primo. Cada vez, estava de acordo externamente com ele, mas por dentro o odiava. Pensava: ‘não
quero, isso é muito humilhante’. Mas logo no momento seguinte pensava: ‘Vamos, não é tão mal
assim. Só era humilhante quando era molestado, na infância’. Entretanto, me sentia exatamente
como um menino na hora do sexo”.
Expliquei a Albert a teoria do impulso reparador – que seu jogo de sexo, quando era criança, era
uma tentativa de explorar e assegurar sua própria masculinidade por meio do contato com outros
homens. Como a maioria dos homens que entram na terapia reparativa, Albert experimentou um
alívio e voltou a sentir segurança para compreender que sua conduta homossexual era uma tentativa
de reparar a alienação que sentia de sua própria masculinidade.
Albert me havia descrito uma infância muito isolada. Havia experimentado muito pouco contato
com outros meninos e nenhuma afirmação de sua masculinidade por parte de sua mãe e de seu pai.
Sentindo-se inadequado como homem, tentou encontrar atenção, afeto e aprovação masculinos (os
três “As”, como explicava) por meio do contato homossexual. A vergonha à qual sua mãe o expôs
só aprofundou seu sentido de alienação do masculino.
“Você precisa se sentir mais relaxado e com mais aceitação em relação a seu corpo”, disse a ele.
“Eu sei,” disse Albert. “Sinto que estou atrás do volante de um enorme caminhão, mas não tenho
habilitação para conduzir. Sinto-me como um menino pequeno no corpo de um homem”, então sua
voz infantil se alterou e subiu de volume, “é realmente duro para mim, muito duro. Sempre me senti
tão culpado pela condenação de Deus quando não podia me controlar”.
“Você sentia que seu corpo masculino nunca foi aceito por seus pais”.
“Sempre odiei fazer a barba”, dizia, “e odiava sentir-me excitado. De fato, ainda o faço”.
Como se estivesse sendo escutado e compreendido pela primeira vez em sua vida, Albert
expressava livremente suas frustrações profundas e enterradas durante tanto tempo. “Qualquer
função corporal parece um problema”. Suas palavras caiam como num repique. “Em momentos
simples, em que tenho de fazer alguma coisa, meu corpo se esquenta, sinto-me muito tenso. Sei que
vou acabar perdendo o controle e me masturbando. Logo me dá medo de que alguém perceba.
Sempre tento forçar-me a ter um orgasmo antes de sair de viagem. Tenho medo de que, ficando na
casa de um amigo ou acampando com alguém, tenha uma polução noturna. Me dá pânico imaginar
que alguém veja que minha cama está molhada”.
“Quando vou ao banheiro masculino, rezo para que esteja vazio. Então, vou até ao vaso e tento
urinar”
“Você tem vergonha de urinar?”, disse eu.
“Quê?”, exclamou ele, olhando-me surpreso.
“‘Vergonha de urinar’... Quando um homem tem problemas para urinar em um banheiro público. É
uma afirmação relacionada com ser homossexual”.
Ele manteve-se em silêncio e logo depois disse: “acho horrível ser uma pessoa sexuada que pode
sentir-se excitado e ter uma ereção. Pior ainda, penso em ter relações com homens”.
Logo perguntou tremendo: “por que mereço essa humilhação, Dr. Nicolosi? Que crime cometi?”
“Seu crime”, respondi, “foi ter nascido homem”.
“Sinto-me humilhado por meus sentimentos sexuais”, confessou. Logo depois, um lamento: “Estou
totalmente, totalmente, totalmente envergonhado deles”.
“A masturbação”, disse, “é a minha forma de castigar aos meus pais por não falarem comigo sobre
sexo. Minha forma de afrontar à minha mãe, ao meu pai e à minha igreja por não me permitirem ser
sexuado”.
“É uma rebelião contra o fato de ter sido tratado como um ser neutro”, acrescentei. “Sua
masturbação é, na verdade, uma autoafirmação”.
“Sim”, disse Albert, com orgulho em sua voz, “é basicamente como dizer ‘que se fodam’ para todos
os que me magoaram em minha vida. Faz quinze anos que estou nessa batalha. É uma forma de
dizer aos meus pais: ‘vocês não me quiseram homem, assim tive de encontrar uma forma de me
permitir sair!’”
“Sabemos que os homossexuais tendem a masturbar-se mai que os heterossexuais”, disse- lhe, “é
uma forma de fazer contato ritual como pênis... para conectar-se com a masculinidade perdida”.
Albert assentiu, considerando isso. “Tenho tanto medo aqui dentro”, confessou, “Tenho medo de ser
masculino, de ser um homem. É este o pensamento que me acusa: ‘Você realmente não pode ser
assim!’”
Seus ombros se levantaram em um profundo suspiro de desânimo. “Por que digo todas essas coisas
a mim mesmo?”
“É um guia que você segue”, disse.
“Por que a sexualidade é agradável para os outros, mas não é para mim?”, queixou-se, “por que não
posso crescer como os demais?”
Ele se respondeu de forma tão precisa como eu poderia ter feito, dizendo: “Ainda não posso
relacionar-me com minha mãe e meu pai como um adulto. Ainda me sinto como uma criança ao
lado deles”.
Já havia ouvido essas palavras muitas vezes de meus pacientes homossexuais. “Sei como ser um
bom menino com minha mãe e meu pai, mas não sei como ser um homem perto deles”. Conforme
passavam os meses, Albert progredia de forma lenta, mas significativa. Estava dando passos na
autoafirmação e não se torturava tanto com a culpa por seus sentimentos sexuais.
O caso de Albert é um dramático exemplo de um homem que não podia aceitar seus esforços
masculinos naturais. Além dele, muitos homossexuais descrevem uma base similar de serem
tratados como o puro e bom menino desprovido de sentimentos sexuais. Geralmente quem dá essa
falsa identidade ao menino é sua mãe. O pai – que seria a única fonte válida de identificação
masculina – permanece emocionalmente ausente, fracassando em intervir ou até mesmo em dar-se
conta da influência excessiva de sua esposa.
É bastante comum encontrar mães angustiadas na base do desenvolvimento de homens
homossexuais. Essas mães intrusas e que estão em tudo buscam o melhor para seus filhos, mas são
incapazes de reconhecer e responder às suas necessidades autênticas.
“Recordo que minha mãe me dizia coisas positivas, mas eu sabia que não eram verdadeiras. Uma
vez meus sentimentos foram feridos por outros garotos quando jogava kickball. Devia ter uns 8
anos e era muito descuidado. Lembro que minha mãe me disse: ‘’Oh, você não precisa desses
meninos. Você é muito melhor que eles, em todos os aspectos’.”
Riu-se com pesar. “Seu consolo me fez sentir bem, mas mesmo então suspeitei que estava
mentindo. Segui com ele por que me sentia bem”.
“E qual era a mentira?”
“Que de alguma maneira eu era melhor que os outros meninos, que não precisava jogar com eles”.
Ainda que a mãe de Albert fosse ansiosa e demasiadamente aplicada, paradoxalmente era também
descuidada. Albert me disse que, quando era menino, havia tido infecções crônicas de ouvido. Em
sua ansiedade para fazer as coisas corretamente, sua mãe lhe havia medicado exageradamente com
uma ministração contínua de antibióticos. Como consequência, ele desenvolveu uma alergia severa
à penicilina, que ainda hoje lhe causa problemas.
Albert refletia: “Percebo agora quanta dignidade meus pais tiraram de mim”, continuou com a voz
triste. “Só com o senhor me sinto livre para expor esse lado feio que tenho”. Calou-se e logo
acrescentou em um tom desconcertante: “É estranho. Recentemente tenho começado a me sentir
cada vez mais distante dos meus pais. Esse distanciamento é muito pequeno porque, apesar de tudo,
ainda os amo”.
“Não, não é pequeno”, assegurei. “Você está enfrentando inquietações importantes e que estavam
enterradas durante muito tempo. Finalmente está conseguindo olhar honestamente para seus pais e
para a forma como te afetaram. Você tem de voltar atrás para fazer isso”.
Suspirando, com aparência de frustração: “Gostaria de poder te ver todos os dias durante um mês
para poder me livrar do peso dessas lutas. Gostaria de ter um mês inteiro livre do meu trabalho para
terminar com essa merda”.
“Não pode ter pressa com o processo de autoaceitação,” disse-lhe. “Não é fácil mudar a forma como
nos vemos. Requer trabalho, baseado em um processo gradual de pequenos êxitos”.
Albert parecia não estar de acordo. “Bem, pelo menos tenho conseguido controlar a masturbação
compulsiva. A batalha não é tão grande como era”.
“Houve uma época em que estive mais de um ano sem me masturbar. Rezava, caminhava, fazia
qualquer coisa que podia para tirar da mente os impulsos do meu corpo. Senti que a experiência era
muito humilhante. Mas então comecei a perder o controle do meu corpo outra vez. Constantemente
tinha fantasias homossexuais. Pensava em sexo o tempo todo. Sexualizava qualquer palavra que
podia ser sexualizada. Por exemplo, cada vez que ouvia a palavra ‘vai’, pensava em orgasmo.
Sentia-me muito assustado. E foi aí que te procurei”.
Interrompi: “Mesmo que não a praticasse durante um ano, a masturbação ainda te controlava. Se
quiser conseguir controlar isso, você terá de relaxar e ser mais tolerante consigo mesmo”.
Ele resumiu sua confissão: “Quando me encontrava fora de controle, costumava falar coisas sujas.
Podia escrever as histórias pornô mais asquerosas que você pode imaginar”. Riu-se totalmente:
“Pornografia total”. Então acrescentou: “Era uma sensação de ódio. Uma reação de ira. Não era eu.
Eu era sempre o pio são Francisco”. Sorriu cinicamente, “o que cuidava das árvores e das flores”.
Albert padecia claramente de uma tendência obsessivo-compulsiva. Permitir expressar na terapia
esses angustiosos “segredos sujos”, especialmente a outro homem, serviu para dissipar sua
intensidade.
Dizia, deixando-se apoderar novamente pela histeria: “como posso mudar o estado de confusão em
que me encontro quando se supões que essa é a forma como devo ser? Um bom menino é o que
meus pais querem. Entretanto, meu corpo me leva a uma direção diferente. Isso parece uma
contradição”.
“Certamente você está vivendo essa contradição,” indiquei “Está tentando ser tanto o bom menino
como alguém que se masturba compulsivamente.” Prossegui: “e está tentando se excluir do seu
próprio gênero, como se fosse um esquizofrênico”.
Albert disse pensativamente: “Acho que minha conduta é uma resposta a todo o abuso que sofri
quando era criança. Só por ser um menino. Lembro-me de pensar: ‘Deus meu, pode ser que, se
fosse uma menina, meus pais me amassem’”.
“Por que iriam te amar mais se fosse menina?” Perguntei.
“Não sei”. Desconcertou a voz. “Mas minha mãe não podia ter controle sobre o fato de eu ser um
menino. Quanto a meu pai, na verdade, não me amaria mais, de qualquer forma. Tinha muito pouco
que fazer comigo. Quando ele resolvia ser um pai aplicado, fazia isso com David, seu filho do
primeiro casamento”.
Albert manteve-se em silêncio. Logo, trouxe à tona outra barreira de sua infância: “Minha mãe era
quem mandava em casa. Estava em cima de mim e de meu pai o tempo todo, vinte e quatro horas
por dia. Meu pai, como eu, estava totalmente esgotado por sua dominação. Duvido de que aquilo
que ele me dissesse produzisse algum efeito sobre mim”.
Sua voz se elevou outra vez ao nível da histeria enquanto dizia: “Por que não me lembro de coisas
que meu pai e eu fizemos juntos? Por que essas lembranças estão tão enterradas, tão distantes?” Ele
mesmo respondeu: “Porque qualquer recordação do meu pai é eclipsada por minha mãe. Tudo era
dominado por ela... Completamente em seu poder”.
Depois, quase um grito: “Por que acha que me sinto sem forças? Ainda estou debaixo de seu poder.
Ela me vigia todos os dias, está no comando de tudo”.
“Você tem toda a razão”, disse eu.
De alguma maneira conseguiu acalmar-se. Logo seguiu com uma voz mais normal: “Não é a minha
vida, é a sua vida que estou levando. Não é brincadeira. Todos os dias, surge alguma situação na
qual é baseado nas palavras da mamãe que eu decido o que tenho que fazer. Quando estou de pé na
cozinha comendo uma bolacha, sei que não deveria deixar as migalhas caírem no tapete de linóleo.
‘As migalhas atraem formigas, Albert’. Os cabelos que estão na pia do banheiro têm de ser limpos
com um lenço de papel. ‘Os bons meninos deixam o banheiro exatamente como o encontraram,
Albert’. Essas coisas da mamãe me vêm constantemente”.
Era por isso que Albert se identificava com as plantas que cuidava. Tratava suas plantas da mesma
forma que desejava ser tratado – gentil e amavelmente.
“Dou-me conta de que tenho de fazer uma escolha”, disse Albert. “Posso escolher ser muito
agradável e superficial enquanto estou com você aqui ou posso ser extremamente honesto e usar
esse tempo para minha recuperação.”
“Está certo,” disse-lhe. “A essência da terapia é recordar lentamente a ferida. Logo, recuperar
lentamente o verdadeiro eu do qual sua ferida fez com que se excluísse”.
“Desde que venho aqui”, disse ele, quase com ira, “Tenho me sentido mais como um menino
pequeno, mais fora de controle e emocional. Tenho chorado mais nas últimas semanas que nos
últimos cinco anos”.
Expliquei a ele que a terapia traz para fora os sentimentos enterrados, e que tudo estava se passando
como deveria.
“Ultimamente tenho estado em um ponto no qual deixo que as emoções me dominem... Graças a
você”, disse Albert repentinamente.
Não estava certo se aquilo fora um sarcasmo, mas decidi não perguntar. “Como você se sente
quando chora?”, perguntei.
“Envergonhado, é claro. Quando era um menino pequeno, fiz uma promessa de não chorar e que
sempre a cumpriria”. Sua voz soava com orgulho. “Mas este choro vem na verdade do profundo do
interior. Vem de uma ferida real... Uma ferida profunda, como se eu tivesse sido arrancado de algo
pelo qual ainda sinto um anseio profundo”.
“Você ainda pode voltar a esse algo pelo qual sente um anseio profundo”, disse-lhe.
“Como farei isso?”
“Por meio da introspecção, e depois por meio das novas relações”.
“Novas relações?”
“Sim, porque somente a compreensão intelectual não é capaz de nos transformar realmente”.
“E o que devo fazer?”, perguntou Albert de forma pensativa.
“As novas experiências é que nos transformam. Você ainda não está experimentando intimidade
não-sexual com um homem. Esse é o próximo desafio sobre o qual deve trabalhar”.
Albert sempre aparecia regularmente em seu horário. Nunca chegava um segundo atrasado, como se
considerasse precioso cada momento. Um dia me disse – no que estava se convertendo em um tom
mais firme, mais assertivo – “Comecei a realizar progressos maiores aqui. Grandes raios de
iluminação, choques de consciência. Posso ver que estive progredindo”.
Um dia anunciou algo do qual não havia me falado. Disse: “foi minha mãe que, na verdade, me
incentivou a buscar a terapia. Ela via que estava só e que não era feliz, por isso pensou que poderia
me ajudar a falar com alguém. Não ganho muito dinheiro no viveiro, por isso ela e meu pai me dão
dinheiro para poder vir”.
Estava surpreso. Ela não parecia uma mulher que quisesse que seu filho conhecesse mais acerca de
seu verdadeiro eu. Com certeza, ela não sabia os temas reais dos quais estávamos tratando.
“Isso é muito compreensível da parte de seus pais”, disse.
“Na verdade, da minha mãe”, corrigiu. “Meu pai só segue sua decisão”.
Aquilo me pareceu delicado. Como dizem em Hollywood: “não há coisa igual a um almoço grátis”.
Entretanto, minha preocupação era que Albert pudesse se sentir comprometido pela generosidade
deles. Perguntei: “como se sente quanto ao fato de seus pais pagarem sua terapia?”.
“Bem!”, disse enfaticamente. “Eles me meteram nesse saco, agora que me tirem!”
Isso tinha sentido, dadas as circunstâncias de Albert. Aceitando sua resposta pelo momento, fiz uma
nota para estar atento a qualquer intrusão dos pais.
“Recentemente tenho me visto olhando mais para os homens”, disse-me Albert.
“Mentalmente, vejo muitos homens, como em uma vitrine, o que só me faz sentir pior. Saí em uma
noite dessas e me senti atraído por um cara que vi, deve ter a minha idade – mas, ao mesmo tempo
em que sentia essa atração magnética por ele, sentia também uma necessidade de me afastar”.
“Creio que a razão pela qual você se encontra olhando para outros homens”, disse, “é que você
ainda não tem uma imagem masculina apropriada dentro de você, e assim busca essa imagem
masculina no exterior”.
Albert assentiu: “boa parte da atração se baseia na curiosidade, em querer saber como são os outros
rapazes!”, havia som de desespero em sua voz.
“Mas que parte de você se manifesta bruscamente nessas situações?”
“A parte que sente medo dos homens”. Ouvi a ambivalência do mesmo sexo de Albert, tão
característica da condição homossexual. Mesmo quando erotizava os homens, sentia-se incômodo
em sua presença.
Logo Albert parecia sentir necessidade de fugir de uma confrontação com sua ambivalência
dolorosa. Em vez disso, voltou a uma discussão sobre sua infância feliz. Decidi ir com ele.
“Gostaria de poder esquecer todos os conflitos de sexo e maturidade”, dizia. “Gostaria de voltar ao
amor que sentia tão livremente quando era um bebê e era feliz somente por existir.
Depois disso, as realidades da vida transformaram tudo em um pesadelo”.
“O que foi, exatamente, que fez com que uma existência tão feliz se tornasse tão amarga?”
Perguntei.
Seguindo outro curto silêncio de Albert: “Creio que quando perdi esse sentido profundo de
vinculação com minha mãe, começou o medo. Quando me emancipei de minha mãe, não havia
identidade adulta na qual me encaixasse. Tinha esse sentimento de estar suspenso, abandonado”.
“E, de alguma forma, estava. Em um período crítico do seu desenvolvimento – a fase de identidade
de gênero – você tinha que se individualizar de sua mãe e desenvolver uma identificação com seu
pai. Era seu pai que personificava as petições do mundo exterior. Como dizia Freud, o pai
personifica o Princípio da Realidade. Mas você nunca recebeu o apoio necessário dele e de qualquer
outra figura masculina”.
De repente, Albert mudou de tema, voltando a retratar o tema mais agradável de sua infância dos
sonhos. “Costumava desenhar muito. Era um bom artista. Todos os desenhos eram de coisas
femininas – rosas, pássaros de cores, bailarinas... Nenhum soldado ou carro, só imagens de beleza.
Nunca desenhava homens. Não tinha boa imagem dos homens na minha cabeça. Na verdade, não
estava seguro de como deveria parecer um homem.
Se tentava desenhar a Sagrada Família, o menino parecia normal – com uma cara de bebê genérica.
Mas passava a maior parte do tempo criando a Virgem Maria. As pregas e dobras de sua capa, seu
cabelo, seu nariz, seus lábios. Tentava criar, com empenho, a última e mais bonita Virgem. Quando
chegava são José, não tinha ideia. Simplesmente não podia desenhar seu rosto.
Então, quando tinha 11 ou 12 anos, lembro-me de tentar desenhar quadros pornográficos e me sentir
muito insatisfeito porque não podia desenhar um homem. Sentia raiva porque fazia homens que
pareciam femininos. Tentava desenhar um quadro pornográfico masculino, mas sempre terminava
parecendo a Virgem.”
Fingindo um tom pio, disse-lhe: “Certamente Deus se agradava mais da Virgem que da
pornografia”.
“Provavelmente.” Albert riu. “Mas sabe, talvez seja essa a razão pela qual alguns gays tornem- se
desenhistas de moda feminina... Ainda olham suas mães como a Virgem.” Acrescentou: “Minha
mãe sempre costumava me confundir para decidir onde começava ou terminava”.
“Até mesmo agora, quando falo com uma cliente no viveiro, conecto-me com ela... Sinto-me como
ela, igual a ela. É como se fossem duas mulheres conversando. E eu não quero isso. Lembro-me de
quando era adolescente e levei uma amiga à Dairy Queen. Por fora, parecíamos noivos, mas,
internamente, sentia que éramos iguais. Ugh! Odeio isso! Quando volto a pensar naquilo, fico cheio
de desgosto!”
Estava contente de ouvir Albert descrever seu desencanto, sabendo que sua individuação do
feminino estava agora no caminho certo.
“Sabe”, disse Albert, “Tem vezes que você quer ser por você mesmo. Por sua masculinidade”.
“Tenho tentado definir meu corpo, por isso coloquei alguns pesos na garagem, onde me exercito.
Quando estou suado, fico somente com roupa de baixo. Assim, quando minha mãe entra em casa,
ela percebe que eu estava malhando e diz: ‘Oh, que bom! Vamos nos exercitar juntos!’.
Mas eu não quero fazer exercício com ela! Ali estou, suado e só de samba-canção, mas nada disso
parece desconcertá-la...”
“Minha mãe e eu pertencemos ao mesmo clube de saúde e ela quer que eu continue indo com ela.
Ela cresceu em uma família que estava sempre junta,” disse Albert. “E essa é sua interpretação da
forma como as coisas deveriam ser: sempre juntas”.
“Talvez você mesmo devesse explicar isso a ela. Ela nunca foi um rapaz, não sabe como se sente”.
A queixa de Albert sobre seus pais era bastante típica dos homossexuais: quando era criança, nunca
conseguiu bastante de seu pai, mas tinha em excesso de sua mãe. Enquanto ressentia-se da ausência
do pai em sua vida, ressentia também a intrusão e interferência da mãe. O pai nunca teve autoridade
e a mãe esgotava o poder que tinha. Eu o exortei: “Explique a sua mãe que está tentando seguir seu
próprio caminho”.
Em um tom de desânimo, Albert disse: “O problema é que não sei como dizer”. Parecia
desconcertado. “Não creio que me entenda. Sempre terminamos discutindo”.
“Ela tira sua energia”, comentei.
“Exatamente. Ninguém tira minha energia como minha mãe”.
Repeti: “Ninguém pode tirar sua energia masculina como sua mãe”.
Albert exalou um forte suspiro, com tristeza em seu rosto, enquanto se permitia explorar seus
pensamentos mais ocultos.
Decidi conduzi-lo para uma ideia relacionada: “E essa é a razão pela qual você tem medo de ter
intimidade com mulheres”.
“É mesmo?” Disse com a voz de um menino surpreendido.
“Sim. Porque não confia nas mulheres. Tem amigas platônicas, mas quando começa a se sentir mais
íntimo de uma mulher, tem medo de perder o controle para ela. Tem medo de que ela tire seu poder
pessoal como faz sua mãe”.
Logo perguntei: “Você consegue falar com sua mãe e dizer-lhe como se sente quando está com
ela?”
“Ela não me entende”, disse de forma tranquila, mas firme, “se tento explicar a ela minha
necessidade de independência, ela se sente rejeitada e insultada”.
“Tem alguma coisa que você sente que está preparado para dizer a ela?”
“Sobre os déficits, as necessidades”.
“Bem,” assenti. “Essa é a essência do problema homossexual, de todas as formas. Fale com ela em
termos de querer desenvolver um sentido mais sólido de sua masculinidade”.
Albert seguiu falando: “Durante as últimas duas semanas tenho estado andando de bicicleta com
Jack, um garoto que conheci no clube de bicicletas que frequento. Fazemos dez milhas na estrada da
Costa antes de ir ao viveiro”.
“Muito bem. E você desfruta de sua companhia?”
“Sim. Levanto-me pela manhã, e não é como esse sentimento fraco de arrancar-se da cama. Gosto
de levantar cedo, justo quando começa a amanhecer e a brisa da costa ainda está fresca”.
“Jack e eu nos damos verdadeiramente bem, e em grande parte porque não me preocupo quanto ao
que pensa de mim. Mas ainda sou sempre um pouco tímido quando ando de bicicleta. Preocupa-me
que alguém possa estar me olhando e pense: ‘Oh, esse cara é marica’. Às vezes me dá certo medo
de esbarrar em uma pedra e cair de bunda no chão. Mas tão rápido quanto entro no calor, o
pensamento se desvanece. Digo a mim mesmo: ‘pense somente no que está fazendo’. E quando
deixo de olhar para mim mesmo e paro de pensar no que pareço, me encho desse sentimento de
poder”.
“Está fazendo um bom progresso. Tem um fogo em seu interior e o desafio agora é mantê-lo aceso.
Depois de conseguir uma boa chama acesa, começa ela começará a se extinguir se não puser outro
tronco sobre ele.”
“A chama é o seu momento de desenvolvimento e os troncos são novos desafios. Um tronco será o
desafio de falar com sua mãe. Ainda outro pode ser esses passeios a longa distância de bicicleta.
Mas outro tronco será manter essas amizades masculinas. Essas são as coisas que deixam o fogo
aceso”.
Poucos meses depois, Albert entrou em meu consultório e falou emocionado: “Na última vez que te
vi aconteceu algo absolutamente incrível”. Sua voz era muito mais forte agora. Inclusive sem toda
aquela emoção histérica, havia perdido esse timbre. Já não evitava encontrar meu olhar, dirigindo-se
a mim diretamente.
“Na última sessão me senti fraco e sozinho. Creio que sentia pena de mim mesmo. Mas você me
deixou inquieto. Você me desafiou e tenho que dizer que doeu. Assim, quatro noites depois, Steve,
do nosso grupo, me chamou e também me deixou inquieto”.
“Sério?”. Estava gratamente surpreendido de que Steve pudesse ter uma intervenção tão decisiva.
“É como se ele tivesse me iluminado. Aquela sensação que ocorre uma vez ou outra. Disse: ‘Você
realmente tem de sair dessa e lutar’. Disse-me para deixar de me queixar e crescer. Senti-me
insultado e disse: ‘o que você quer dizer? Não posso acreditar em você, Steve’. Mas ele continuou:
‘está fazendo um grande festival pena por Albert O’Connor. Não lembra desse livro de Van den
Aardweg? Deixe de levar isso tão a sério! Se quer sair dessa autocompaixão, pode exagerá-la por
um tempo, mas depois tem de rir dela’. O que Steve me disse doeu muito”.
Suspirou. “Depois disso, me senti bastante deprimido, como se tivesse sido traído. Havia recebido
uma maldição dupla. Primeiro você, depois ele. Pensei: ‘Que merda! ’. Mas logo comecei a
raciocinar: ‘Steve tinha razão. Os dois têm. Vocês estão dizendo a mesma coisa’”.
“E, desde então, quando sinto que vem a autocompaixão, procuro apagá-la a uma proporção quase
ridícula de propósito para depois rir de mim mesmo”.
Continuou: “Disse que tenho tido muito poucas tentações recentemente para entrar nessas
maratonas de masturbação compulsiva. Realmente estou começando a compreender as coisas
agora”.
“Estão acontecendo coisas”. Estava encantado com seu progresso. “É incrível, tão libertador!
Sinto-me vivo pela primeira vez na vida!”
Albert continuou, depois, falando de seu clube de bicicletas. Disse: “Senti-me um pouco fraco o
princípio ao lado daqueles ciclistas de longa distância, mas segui participando. Na semana passada
notei uma garota que encontrava em um desses clubes de ciclistas. Não é uma beleza extraordinária,
de forma alguma – tem espinhas no rosto. Mas havia algo em sua personalidade que me atraía. Não
era sexual, mas pela primeira vez não me senti como uma das garotas. Senti-me como eu mesmo, da
minha forma”.
Recordar seus sentimentos sobre a moça o levou a associações sobre seu corpo e continuou:
“Inclusive agora, sentado aqui, não sinto timidez por causa do meu corpo”.
“Por quê?” Perguntei.
“Neste momento sinto-me a vontade fazendo qualquer coisa com minhas mãos”. Agitou sua mão
direita no ar, depois perguntou: “O movimento da minha mão é um movimento amaneirado... Sabe
afeminado? De qualquer forma, não me incomoda, como quer que chame”.
“É só algo que se move – uma mão,” disse. Logo acrescentei: “Estão acontecendo muitas coisas
boas a você”.
Pela primeira vez na sessão, pareceu preocupado. Disse: “Mas você já me viu animado assim antes,
para logo depois me ver cair”.
“Sim,” disse. “Você caiu, sim, mas e daí? Você pode ter muitas quedas, mas isso não é importante.
O que é importante é aprender com suas quedar e reduzir seu tempo de recuperação”.
“O que você quer dizer com ‘tempo de recuperação’?”
Expliquei: “É o tempo entre a queda e sua volta ao ímpeto. Recusar-se a afundar na auto derrota é
essencial”.
“Quando estou nesse ímpeto, sinto como se tivesse sido libertado”. Parecia mais feliz. “Só de estar
aqui, sinto que sou meu verdadeiro eu”.
“Este é seu verdadeiro eu,” disse. “O eu que é espontâneo, igual, que fala francamente, diretamente
e em intimidade com outro homem. O eu que não precisa romantizar ou invejar aos demais
homens”.
Pensei: “Pouco a pouco, Albert está-se libertando”.
Na sessão seguinte, Albert pôs em questão um tema importante. Logo que sentou, me disse:
“Recordo que minha mãe sempre estava realmente tensa, nervosa, ansiosa – especialmente com
minha saúde. Na verdade, estava obcecada. Em parte porque quando ela era menina sua própria
saúde era bastante frágil”.
“Minha mãe tinha dores de cabeça muito fortes quando era criança. Creio que me transmitiu o
pânico que sentia por essas dores. Quando era pequeno, eu tinha muitas dores de estômago. Ela
entrava em pânico. Era o fim do mundo quando tinha essas dores de estômago. Sempre me servia
chá de gengibre e me deixava em casa, sem aula, durante uma semana”.
“Qualquer resfriado era desproporcionalmente exagerado com horror. Minha mãe nunca via as
doenças e as dores como naturais. Era como se nossa família tivesse cometido algum crime
espantoso e estivesse sendo castigada por isso por meio das doenças. Creio que por isso andar de
bicicleta era tão importante para mim. Quero apagar essa imagem de corpo frágil”.
“Quando experimentava o êxito era como caminhar em uma corda bamba. Sabia que podia cair a
qualquer minuto, por isso não desfrutava da situação. Minha mãe sempre me recordava que poderia
acabar me ferrando, por isso nunca me sentia bem, nem feliz, nem emocionado”.
A fala de Albert me lembrou o significado do conceito de poder intrínseco da Dra. Althea Horner,
que o define com o lema: “Sou”, “Posso” e “Consigo fazer”. O valor desse poder intrínseco é
transmitido pelos pais. O sentido de poder do menino está essencialmente unido à sua
masculinidade. É por meio de sua masculinidade que se descobre esse poder intrínseco. Assim, se
não se sente completamente masculino, sempre se sentirá, de alguma forma, sem poder.
Albert disse: “Não só estive levantando cedo para andar de bicicleta, como também tive, hoje, o
desejo de sair para jogar basquete. Nunca havia feito isso quando era criança. Depois de todos esses
anos, ainda queria ter a sensação de ter uma bola em minha mão e saber o que se sente ao metê-la
em uma cesta. Não me importava se parecia um amador”.
Comentei: “Sabemos que uma transformação genuína tem lugar quando descobrimos muitas
manifestações pequenas de mudança. Todas juntas representam que algo está mudando
verdadeiramente. Realmente há algo se passando em seu interior.”
“Ouço as pessoas dizerem que os homossexuais não devem tentar mudar”, disse Albert com
irritação em sua voz, “que um homossexual deve seguir seus sentimentos, quer goste deles ou não”.
Seu tom de voz se fez inflexível. “Mas quem são eles para dizerem que não se deve buscar
mudança? Nunca me senti bem vivendo como vivia. Pouco a pouco estou me convertendo em uma
pessoa diferente. Finalmente estou conseguindo ser eu mesmo”.
O dia em que Albert deixou a terapia foi quase três anos depois do dia em que entrou pela primeira
vez em uma consulta. Seu discurso era muito mais seguro. O ataque de histeria ocasional havia
desaparecido. Sorria com mais frequência e falava que um dia possuiria seu próprio viveiro.
Algumas mães, como a de Albert, chegam a exigir tanto que seus filhos estejam disponíveis para
elas que isso tem, como preço, a individuação masculina do menino. Estão tão presas em suas
próprias necessidades narcisistas que nunca veem as necessidades de seus filhos. Como disse
Robert Bly: “As mulheres podem fazer meninos, mas só os homens fazem homens”. Não havia
homem que fizesse a Albert porque seu pai não fora forte o bastante para interromper a relação
insana entre mãe e filho. Albert tivera que sobreviver emocionalmente com um pai que não sabia
como relacionar-se com ele. Para fazê-lo, havia desenvolvido uma exclusão auto protetora em
relação aos homens. Criado pelo psicanalista britânico John Bowlby, o termo exclusão defensiva foi
adaptado à homossexualidade pela psicóloga Elizabeth Moberly. Descreve a manobra auto protetora
infantil de um menino contra a ferida emocional.
A relação dolorosa de Albert com seu pai teve, como consequência, uma exclusão defensiva. O
trauma (que pode ser causado pelo abandono, pelo abuso ou pela hostilidade) produz medo, que é a
base da alienação. Quando estamos impressionados pelo medo, permanecemos alienados daquilo
que o produz. A exclusão defensiva de Albert foi transferida para sua relação com outros homens.
Distanciado emocionalmente dos homens e da masculinidade, os romantizava.
Representavam a parte de si mesmo que não havia desenvolvido.
Ainda que se apaixone por outros homens e tenha intimidade sexual com eles, o homossexual nunca
se permite identificar-se com a masculinidade. Admira-a, romantiza e até pode viver o papel
masculino de forma superficial, mas mantém uma resistência interna em reivindicar sua identidade
masculina plena. Essa resistência da exclusão defensiva emerge nas relações masculinas em forma
de crítica, de encontro de culpas e de promiscuidade. O homossexual pode amar a outros homens,
mas existe também a hostilidade e o medo deles. Assim, suas relações com os homens são
invariavelmente ambivalentes.
Somente em relações masculinas de longa duração, íntimas, de aceitação, honestas e não sexuais, o
homossexual pode começar a resolver a exclusão defensiva que produz a ambivalência do mesmo
sexo. Albert havia começado a solucionar essa exclusão através de relações com muitos homens: eu
mesmo, os homens do trabalho e os de seu grupo.
Cada um de nós, homem ou mulher, é conduzido pelo poder do amor romântico. É uma das formas
pelas quais a natureza assegura a perduração da espécie humana. As relações amorosas ganham seu
poder de nosso impulso inconsciente para chegar a ser um ser humano pleno. Nos heterossexuais,
essa fonte de impulso une ao homem e à mulher por meio do desejo mútuo. Mas nos homossexuais
o impulso é uma tentativa de satisfazer um déficit na totalidade do gênero original. Assim, dois
homens nunca podem compreender-se mutuamente de maneira plena e aberta. Não só existe uma
inadaptação anatômica natural como também uma insuficiência psicológica inerente. Os dois
amantes chegam à relação com o mesmo déficit, buscando simbolicamente completar seu gênero
original.
Por volta de um ano depois, Albert me chamou por telefone para uma atualização de pontos, como a
chamamos. Desde o fim de sua terapia, havia se unido a um grupo de apoio a ex-gays que, disse-
me, havia-lhe sido de grande ajuda. Com esse grupo, havia continuado explorando as relações
passadas com seus pais para compreender o impacto que permanecia em sua vida.
Albert me falou de uma amiga, Helene, que havia conhecido no viveiro. “Ela ama as violetas
africanas”, disse-me com entusiasmo. Haviam saído continuamente durante meses.
Antes que pudesse perguntar, Albert disse: “Sim, ela sabe de tudo”. Descreveu Helene como “a
melhor amiga que já tive em minha vida. Posso dizer a ela tudo o que se passa em minha mente ela
me apoia”. Ele disse que sua relação era “física, mas ainda não sexual”.
A descrição de Albert de seus sentimentos por Helene não era incomum para um homem com uma
base homossexual. É comum para esses homens proceder lentamente em direção à intimidade
sexual com uma mulher. Seus relacionamentos com frequência se desenvolvem em três artes:
amizade, depois afeto e, posteriormente, a expressão desse afeto por meio da sexualidade.
Isso está em contraste com o homem heterossexual, que primeiro se sente atraído sexualmente pela
mulher para depois conhecê-la como amiga.
Muitos homens com base homossexual esperam encontrar-se atraídos pelas mulheres da mesma
forma que os heterossexuais. Entretanto, as formas de aproximar-se das mulheres podem ser
diferentes para cada um. Os homens ex-gays necessitam estar seguros disso por sua história.
Podem tomar um caminho diferente – amizade primeiro, sexo depois – para o mesmo objetivo.
Sobre suas atrações homossexuais, Albert disse: “É muito diferente do que foi no passado.
Agora, graças a Helene, meu objetivo é reivindicar completamente a heterossexualidade que nunca
desenvolvi. E me sinto responsável em nossa relação... Já não sou só eu, somos Helene e eu. E,
portanto, quando aparecem essas velhas atrações, digo: ‘o que se passa aqui? ’, logo posso perceber
que esses sentimentos por outros homens têm a ver com sentimentos por mim mesmo, como medo,
estresse etc.”
Continuando, Albert me disse: “Compreendo essas atrações como algo que não recebi quando era
pequeno – algo que merecia. E estou conseguindo cada vez mais o que necessito com meu grupo de
apoio e abrindo-me aos demais homens, algo maravilhoso para mim”.
Perguntei então: “Isso significa que suas atrações não desapareceram por completo?”
Em um tom inusitadamente decisivo, respondeu Albert: “Creio que sempre podem voltar, agora ou
depois, dependendo da profundidade da carência. Vejo meu crescimento como um processo
contínuo. Conseguir amor e apoio de Helene e dos homens de meu grupo de apoio faz toda a
diferença”.
Enquanto falava, Albert parecia compreender, por fim, o conceito de falso eu – a estrutura de
identidade que jaz por trás da etiqueta do eu gay. “Sigo compreendendo minha educação e seus
efeitos sobre mim no presente. As mensagens que recebia quando era pequeno eram: ‘você é fraco,
não é macho, não é nada’. Na adolescência mudou para ‘deve ser gay’. Agora estou buscando
refutar essa falsa identidade que os outros tentaram me impor – uma identidade que me fizeram crer
que era minha. Não. Não sou gay. Agora estou determinado a ser o homem que quero ser, e não a
apaixonar-me por ele”.
CAPÍTULO 2
TOM, UM HOMEM CASADO
Thomas James entrou em meu consultório de Encino – um homem surpreendentemente atraente,
cerca de 1,80m de altura. Seu rosto era liso, bronzeado e limpo. Seus olhos eram de um azul intenso
que combinavam com a cor pastel de sua pólo. Usava calças chino grossas e mocassins marrons.
Ofereci a mão e sorri. Tom devolveu a saudação com um rápido e forçado aperto de mãos. Logo,
deixou cair seu corpo magro na cadeira estofada que lhe indiquei.
Enquanto se sentava em seu lugar, seus olhos percorreram a sala como se estivesse avaliando.
Depois, estando satisfeita sua curiosidade, inclinou-se para frente e começou a falar:
“Primeiro, Dr. Nicolosi, deixe-me apresentar os fatos. Tenho 40 anos. Fui casado por 15 e tenho
dois filhos: um menino de 10 anos e uma menina de 7. Sou dono do West Valley Sporting Goods e,
para dizer sem rodeios, tenho me dado muito bem nestes dez anos em que tenho esse negócio”
.
Acendeu um cigarro, tragou-o impacientemente e o depositou no cinzeiro.
“Minha esposa, Cynthia, e eu nos separamos há poucos meses. Eu tive uma aventura com um
garoto jovem, Andy, que trabalhava para mim na loja. Tem 24 anos”. Ele riu. “Eu poderia ser seu
pai”.
“Quando Cynthia ficou sabendo, ficou furiosa. Disse: ‘quero que pegue suas coisas e vá embora
dessa casa hoje mesmo’”.
“Quanto tempo faz isso?” Perguntei.
“Seis meses. Saí de casa deixando minha esposa e meus dois filhos para viver essa terrível vida
solitária”.
Houve um silêncio. Depois, ele disse: “Doutor, realmente não gosto da minha esposa. É uma boa
mãe para meus filhos, mas muito negativa comigo e com tudo o que me diz respeito. Somos muito
diferentes... Sou ambicioso e gosto de sair, enquanto ela está sempre ocupada com a casa e com as
crianças. E controla tudo em casa. Sinto-me como um anão de enfeite de jardim dentro de casa”.
Assenti: “Bom, diga-me, como ela ficou sabendo de sua relação com Andy?”
“Foi em um sábado à noite. Senti que tinha que sair de casa. Não havia descansado – como me
acontece com frequência – de forma que chamei Andy e combinamos de nos encontrar em um bar
gay que costumávamos frequentar”.
“Em meu caminho para a porta, Cynthia me deteve e quis saber aonde eu ia. Pela primeira vez, não
sei o porquê, soltei impulsivamente toda a história. Disse-lhe que era gay e que iria ver meu
amante”.
“Ela ficou pasma. Disse: ‘em todos esses anos que vivemos juntos, por que nunca me contou?’. A
princípio não sabia o que dizer. Depois, confessei: acho que é porque pensava que poderia viver
ambas as formas de vida”.
“Disse, então, que Andy era meu amante. O rapaz era um amigo da família. Como sua família vive
fora da cidade, havia estado conosco nas últimas festas de Ação de Graças e Natal”.
“Quando ouviu que Andy era meu amante, Cynthia ficou realmente furiosa. Disse: ‘quer dizer que
andava fazendo sexo com esse garoto pelas minhas costas enquanto o recebia em minha casa?’”
Tom fez uma pausa durante um tempo, pegou seu cigarro e se tombou no sofá. Olhando ao redor da
sala, soprando sobre seu cigarro e exalando profundamente, parecia a caminho de um complacente
momento de tranquilidade.
Depois, chegou ao núcleo do que o estava inquietando: “Na verdade, pensava que seria mais feliz
fora de casa. Nenhuma exigência de nada... só responder por mim mesmo. Mas desde que deixei
minha família tenho me sentido sem valor, vazio”.
Moveu a cabeça com tristeza. “Fazer sexo com um homem é uma situação solitária. As relações
entre homens não duram, e em parte se deve à desonestidade dessas relações. Há muito engano.
Esse é o meu maior medo de ser gay. Terminar sozinho, não ter ninguém comigo em casa”.
Suas seguintes palavras foram súbitas e mordazes, como se fossem cheias de repressão: “Não sei
por que estou aqui, Dr. Nicolosi. Tudo o que sei é que não gosto do que fiz com minha vida.
Enganei minha esposa, enganei minha mãe. Os últimos três homens que vieram se foram. Até
mesmo Andy me deixou e agora estou completamente sozinho. Perdi meus filhos... Agora, nem
sequer me sinto bem indo vê-los. Não tenho um verdadeiro lar. Quando vou para casa ver meus
filhos, me pergunto: ‘será que minha esposa falou para eles de mim, de minha homossexualidade?’.
Sinto-me terrivelmente deprimido e não sei para onde está me conduzindo essa nova vida”.
Mais silêncio. Depois, encolhendo os ombros amplamente, disse: “Tenho vivido uma mentira
durante tanto tempo que não sei se posso ser restaurado. Pode ser que eu sequer queira ser curado.
Um passo para trás e outro para frente, um para trás e outro para frente. Às vezes penso que não
existe uma resposta”.
“Então deve ter ouvido que ajudo homossexuais e transformarem sua sexualidade”.
Assentiu. “Ouvi que seu trabalho está muito distante do politicamente correto. Que há muitos
terapeutas gays que não gostam de você pelo que faz. Mas eu gosto do que ouvi falar de você e esse
é o motivo pelo qual estou aqui”.
“Ótimo”, estava feliz por ele ter compreendido meu enfoque desde o princípio. “Porque se você
quer ajuda para divorciar-se de sua esposa para ter uma vida com seu parceiro gay, não me dedico a
isso. Por outro lado, se quer compreender por que é homossexual e o que pode fazer para mudá-lo,
podemos começar agora mesmo”.
Tom olhou-me com apreço e riu. “Gosto do seu enfoque. Não perde tempo, não é?”. Tragou
profundamente o cigarro e o pôs no cinzeiro. “Por onde começo?”
“Diga o que preciso saber para te ajudar”.
Quando, na semana seguinte, Tom entrou no consultório, parecia sério e preocupado. Fazendo
apenas uma pausa para me cumprimentar, continuou com o relato de sua história.
Enquanto me falava de si mesmo, se fez aparente que Tom era, de alguma forma, diferente da
maioria dos homossexuais que me procuravam. Como a maioria dos clientes, Tom descreveu uma
queixa enorme contra seu pai. Como eles, tinha um sentimento interno de inadequação como
homem. Por outro lado, Tom não mostrava evidência externa de déficit de inadequação de gênero.
Não tinha problemas de asserção com os demais homens e tratava energicamente aos demais ao
dirigir o negócio. Era geralmente enérgico ao perseguir o que queria. Parecia divertido e confidente.
Entretanto, debaixo disso, tinha a fragilidade emocional típica de muitos clientes homossexuais.
Tom, além disso, não dirigia suas relações pessoais da forma como dirigia suas relações de
negócios. Com as relações de amor, tinha a tendência de ser passivo, como fez com Cynthia, com
Andy e com seus filhos. Essa obediência era parte de um modelo de relação que começou em tenra
infância.
Tom me falou de seus problemas nas relações com os homens: “Já houve alguns homens
magníficos que tentaram aproximar-se de mim e serem meus amigos, mas uma vez que se
aproximaram, eu dizia: ‘Fora!’. Gosto mais de quando posso sustentá-los em meus braços, quando
são mais jovens ou menos poderosos e posso controlá-los”. Com uma risada irônica: “Talvez seja
por isso que me sinta tão livre no trabalho: ali sou o chefe”.
“Mas não sei,” continuou “Da mesma forma que necessito desse sentimento de ter o controle, há
vezes em que pareço perder o controle tão rápido que deixo o sexo dominar as coisas.”
“Você sabe,” acrescentou. “Uma vez que se sexualiza os sentimentos por um homem, não há como
ser seu amigo. É uma vida de ame-os ou deixe-os”. Sua voz ficou séria. “Acho que a terapia é a
única relação íntima que terei com um homem sem sexualizar a relação”.
“Essa é uma introspecção excelente,” disse eu. “Com efeito, essa é a essência da terapia reparativa –
aprender a estabelecer relações íntimas e não sexuais com outros homens. Porque, como a maioria
dos homossexuais, você tem muito mais que um simples problema sexual. Você necessita de algo
dos outros homens. Quais são essas necessidades básicas que você busca suprir em uma relação
com um homem?”
Pensou durante um minuto e logo respondeu abruptamente: “Preciso de emoção”. Sua voz era
sincera, querendo que eu compreendesse a intensidade de sua necessidade. “Consigo um sentimento
especial de excitação com essa atenção masculina. Tem algo que se aviva dentro de mim quando
faço sexo com um homem”. Buscando palavras, continuou: “Há uma eletricidade, um poder que
essa carga de masculinidade que me dá”.
Pensava que era hora de explicar a Tom como a conduta homossexual é evidência do impulso
reparador para satisfazer três necessidades emocionais, necessidades nunca satisfeitas na relação
com o pai: afeto, atenção e aprovação.
Como a maioria dos homens extrovertidos, Tom reclamava a atenção na maioria das vezes.
“Quando era menino, nunca tive amigos homens, por razões que bem podem ser circunstanciais. Os
meninos da minha idade pareciam distanciar-se e eu sempre terminava sozinho com minhas irmãs.
De alguma forma sempre me senti enganado pelos amigos homens”.
Incentivei-o para que me contasse mais de sua infância.
“Muito da minha infância é um vapor. Sequer lembro muito bem da relação dos meus pais comigo
ou de muito do que se passou em meus primeiros anos. A maior parte é como um vazio”.
“Pode recordar de alguma coisa?” Perguntei.
Fez uma pausa e logo disse bruscamente: “Meu pai me prometeu que me daria um coelho uma vez,
mas nunca me deu. Minha irmã prometeu que me levaria a uma festa de carnaval uma vez, mas logo
se esqueceu. Nunca senti muita alegria enquanto crescia”.
“O que mais?”
Pensou um momento e logo recordou: “Quando tinha 10 anos, me senti realmente entusiasmado
quando um garoto mais velho que morava ao lado da minha casa me pediu para que fosse com ele
jogar beisebol. Mais tarde, implicou-me em jogos e práticas sexuais”.
“Isso é interessante.” Comentei.
“O que é interessante?”
“Que as únicas recordações que você trouxe à luz são de enganos”.
Tom riu amargamente. “Deve ser meu estado de ânimo, devido à minha ruptura com Andy”.
Ele tentou minimizar a importância da minha interpretação e eu lhe disse que não concordava que
somente o estado de ânimo estivesse por trás da coleção particular de recordações apresentada.
Com efeito, o desencanto e a traição na infância é um tema repetido na vida de meus clientes. Na
idade adulta, permanece o medo de que se sintam vulneráveis.
Perguntei: “Você sentiu, enquanto crescia, que de alguma forma tinha que comprometer sua
identidade? Sua mãe ou seu pai te expressaram de alguma forma que, para receber seu amor e
atenção, você tinha de ser diferente do que era?”
Uma expressão de questionamento cruzou seus penetrantes olhos azuis: “Na verdade, não posso
responder isso. Não me lembro de sua relação comigo nem do que se passou em minha infância. A
maioria está em branco”.
Não me surpreendi. As crianças geralmente têm vagas recordações da infância devido ao fato de
suas identidades verdadeiras terem sido enterradas há muito tempo em favor das falsas que
aprenderam a adotar. Eu sabia que, quando Tom começasse a confiar mais em mim, as recordações
fluiriam. Mas estava claro que, por hora, simplesmente necessitava continuar falando, de forma que
decidi não seguir nesse tema em particular. Mudando de tema, perguntei: “Você tem estado muito
exposto ao mundo gay?”
“Bem pouco,” disse ele. “Experimentei tantas facetas dele quanto pude – os bares da moda, as
viagens de fim de semana à Rua Castro de San Francisco. Cheguei a passar uma semana em um
cruzeiro gay uma vez – disse a Cynthia que tinha de viajar a negócios. Tinha curiosidade. Queria
provar de tudo”.
“E o que você viu? Como se sentiu?”
“Bem, pelas minhas experiências, percebi que há muita infelicidade. No mundo heterossexual, há
mais do que parece para manter a gente com fé. O mundo gay tem muitas oportunidades sociais e
sexuais. E os gays não têm o apoio social do matrimônio”.
Perguntei: “Você vê algum problema real nas relações entre homens? Ou acha é um estigma social
que faz com que as relações monogâmicas gays sejam tão difíceis de se sustentar?”
Pressionei Tom para que fizesse essa distinção. Um homem que crê que a infelicidade das relações
homossexuais deve-se somente ao estigma social não será candidato à terapia reparativa. Deve ser
dirigido por uma insatisfação com a vida gay.
“Há algo realmente difícil nas relações gays”, disse Tom, concedendo, “Provavelmente é mais que o
juízo da sociedade”. Depois admitiu: “É o fato de estarem dois homens juntos”.
Tom começou a compartilhar algumas ideias que somente um homem que havia levado uma vida
dupla poderia dizer: “Os homens têm uma tendência a entregar-se menos, a não se dar tão
voluntária e espontaneamente como as mulheres. As mulheres parecem bastante seguras em
colocar-se em segundo lugar. Com frequência, veem em seus maridos uma continuação de si
mesmas. Parecem menos cheias de seus egos”.
Continuou: “Os homens têm uma tendência a ter medo da intimidade”.
“Você crê que a intimidade entre dois homens pode ser tão profunda quanto a que há entre um
homem e uma mulher?” Perguntei.
Sua resposta foi direta: “Não creio. Porque a mulher traz algo que complementa a relação.
Equilibra-se com as qualidades que do homem”.
Disse a ele que estava em boas condições de saber devido ao fato de ter experimentado as duas
relações. Então perguntei: “Você pode me descrever em que se diferencia o sexo entre dois homens
do sexo entre um homem e uma mulher?”
“A experiência sexual com os homens é mais...” Buscava a palavra. “Mais sexual. Parece estranho
dizer isso, mas o sexo com as mulheres é mais doméstico, mais inibido. Há uma excitação animal
mais crua com os homens enquanto que com uma mulher é mais emocional, uma experiência mais
global”.
Continuou: “Há outra grande diferença. Muitas vezes, senão na maioria das experiências gays, o
sexo vem antes de tudo. Dois homens juntos tendem a querer sexo imediatamente”.
“E depois, o que sucede?” Perguntei.
“Vendo por minha experiência, o aspecto sexual da relação geralmente não se mantém. Na maioria
dos casos, a relação fracassa rapidamente”.
“Isso parece apoiar a investigação sobre as relações gays,” respondi. Depois perguntei: “Até que
ponto você esteve implicado sexualmente com homens?”
“O sexo com homens dominava bastante meus pensamentos quando era mais jovem. Começou
quando meu irmão mais velho fez sexo comigo quando tinha 8 anos. Então veio o garoto da casa ao
lado, era constantemente, por volta de um ano. Depois disso, houve dois garotos no colégio e mais
dois na universidade. Então me apaixonei por Cynthia, e fui fiel a ela durante cinco nos, até que
nasceu nossa filha. Foi um pouco depois que Andy entrou em minha vida”.
É significativo que Tom permanecesse fiel à sua esposa até o nascimento de sua primeira filha. É
um padrão comum que a conduta homossexual de um marido saia à superfície como problema
quando a esposa fica grávida de seu primeiro filho. Isso tem a ver com a necessidade de fugir das
responsabilidades e, neste exemplo, da responsabilidade iminente da paternidade. O homem que
luta com impulsos sexuais se sente sobrecarregado pelas exigências de seu papel de marido e pai.
Esses sentimentos parecem ser parte de uma tendência mais geral de evitar a responsabilidade
relacional, que é um problema encontrado frequentemente entre os homens que lutam contra a
homossexualidade.
O que Tom disse depois confirmava minha opinião: “No transcurso de minha relação com Andy,
também tive aventuras com outros homens. Às vezes, quando Andy e eu não estávamos bem, a
sexualidade se convertia em uma obsessão”.
“Como podia fazer sexo com homens estranhos enquanto mantinha uma relação com Andy?” Ele
encolheu os ombros. “Não sei”, disse com tristeza, “da mesma forma que não sei por que fazia sexo
com Andy enquanto estava casado com Cynthia”.
“Mas já sabe,” reconsiderou. “Apesar de tudo, ainda confio em Cynthia. Depois que me expulsou
de casa, Andy e eu dividimos um apartamento. Depois Andy se foi, e eu não podia controlar minhas
emoções, minhas mudanças de humor. Estava tão deprimido que chamei Cynthia para chorar em
seu ombro”.
“Só um minuto,” interrompi. “Deixe-me ver se entendi: você esperava que Cynthia te consolasse
quando Andy te deixou?”
Assentiu como um menino pequeno.
“Isso não seria um pouco... surrealista?” Perguntei. “Estava tendo uma aventura com um rapaz do
trabalho – um amigo da família – pelas costas de sua mulher. Ele te deixa e depois espera que ela te
console?”
“Não sabia o que fazer, a quem acudir”, disse. “Acho que estava muito atormentado, em crise”.
Pensou por um momento. “Agora que você diz, não posso acreditar que pude fazer tanto mal a ela.
Porque a amo. Há uma razão pela qual me casei com ela. Fomos bons amigos durante dezoito
anos”.
O narcisismo de Tom me era óbvio, mas havia uma possibilidade mais remota. “Você crê que sua
insensibilidade margeava a hostilidade?”
Tom me olhou desconcertado. Ficou calado durante um longo momento e depois disse: “Quando
penso, acho que é bastante óbvio”.
“Por que você acha que a fez mal – além de sua absorção em si mesmo e em sua própria angústia?”
“Bem, como você sabe, simplesmente não posso ser eu mesmo com Cynthia. Quando pus os pés em
sua casa, tornei-me um Sr. Nada. É sua casa, seu lar. Portanto, sim, pode ser que a tenha feito sofrer
por meio de minha relação com Andy”.
Na resposta de Tom percebi uma queixa comum de muitos homossexuais casados: sentimentos da
perda do controle de suas esposas, com um inevitável ressentimento contra elas.
Ele ficou tranquilo de novo e permaneceu em silêncio. Depois disse, em um tom orgulhoso: “Eu a
fiz bastante feliz até que conheci Andy. Quero dizer, até que me virou de ponta-cabeça. Tirou o
melhor de mim – fez com que o velho se parecesse com um tonto”.
Podia ver que Tom havia sido propulsado à terapia por essa profunda dor. Sua vida dupla já não
funcionava. Foi esse trauma que o levou a refletir sobre a vida que andava levando.
Quis voltar ao que Tom estava dizendo anteriormente: “Fale-me de como se sentia em casa com
Cynthia”.
“Simplesmente nunca me senti apreciado por ela”, disse. “Eu sempre sentia que estava ali a
descanso. Como quem tinha de sair. Fazer alguma loucura. Encontrar algo excitante”.
“Por que,” continuou. “Em toda a minha vida me senti tão dirigido? Tão cansado e ansioso? Nunca
estou satisfeito com nada por muito tempo”.
Isso é algo que escuto com frequência dos homossexuais. Sentem que estão fora do controle, que
suas necessidades não são reconhecidas pelos demais e se encontram aprisionados por trás de uma
fachada queixosa e cooperadora. Sua forma de conseguir alívio desse falso eu do qual se queixa é
tendo relações sexuais. O aborrecimento, a ansiedade e a depressão são os estados de ânimo
identificados com mais frequência como incitadores da conduta homossexual. Quando termina a
aventura, voltam ao que o psiquiatra Harry Gershman chama de “padrões petrificadores da
existência”.
Os apologistas defendem que as insatisfações desses homens surgem do estilo de vida do
matrimônio não natural ao qual se forçam a adaptar. Mas eu estou convencido de que os problemas
se devem a algo muito mais profundo que a forçada conformidade social. Os homossexuais que
estão casados não são os únicos atribulados por essa montanha russa de sentimentos. Tenho
observado esse mesmo modelo de flutuação – insatisfação desamparada alternada com euforia
homoerótica – também na vida dos homossexuais dentro de relações gays.
O estado de ânimo de Tom mudou subitamente e sua voz se tornou aguda: “Eu vivi uma mentira
durante tanto tempo. Não sei se posso mudar. Tudo parece um modelo sem esperança. Às vezes
penso em me matar, quando chego ao fundo do ciclo”.
Depois disso, permaneceu calado e, então, encolhendo os ombros, disse: “Pode ser que Deus tenha
me feito dessa forma. Se sou gay, Deus me fez gay, mas, Deus Santo, por que tinha que dar uma boa
esposa e filhos?”
Aqui ouvi o fluir de um verdadeiro desespero misturado com super dramatização. Decidi não
comentar esse último para não ser mal interpretado como antipático como anteriormente. Sabia que
a frase “nasci gay” era uma taquigrafia de “não quero olhar para minhas experiências da primeira
infância que causaram minha tendência homossexual”.
“Não há um gene gay”, disse eu. “Isso é um assunto de identidade”.
Um dia, poucos meses depois, Tom entrou dando saltos no consultório e se largou pesadamente na
poltrona. Tinha um estado de ânimo falante e parecia estar contente por estar comigo.
“Há poucos anos fiz terapia com um psicólogo gay. Estava lutando com minha homossexualidade,
minha autoimagem e meu casamento. Cynthia e eu não íamos muito bem.
Havia saído de casa várias vezes. Queria deixá-la. Estava aborrecido. A única coisa que me
mantinha ali era o fato de amar aos meus filhos. Estava tendo aventuras escandalosas com Andy e
outros homens e estava ficando louco.
Ainda que o psicólogo não tenha me conduzido ativamente ao mundo gay, na verdade, tampouco
me disse nada contra. Ficava calado e comentava muito pouco”. Tom refletiu um sorriso rápido:
“Não como você”.
“Honestamente, teria gostado que ele tivesse me orientado um pouco melhor. Dizer algo do tipo:
‘ei, vamos pôr sua vida em ordem, pôr as mãos na obra para que deixe esses loucos casos
amorosos’. Creio que pensava que eu poderia fazer isso sozinho. Não fiz”.
“Como terminou sua terapia?” Perguntei.
“Terminou abruptamente no sexto aniversário de minha filha, durante uma de minhas separações de
Cynthia. Estava triste e frustrado por perder minha família porque meu terapeuta disse: ‘você não
está perdendo sua família. Se escolher ficar com seu amante, ainda poderá ver seus filhos’. Fiquei
pensando: ‘mas não estarei ali às três da manhã quando as crianças acordarem chorando chamando
pelo pai’”.
“Você estava perdendo sua família”, coincidi.
“Falam de ‘tempo de qualidade’” prosseguiu. “Entretanto, eu digo: ‘também existe um tempo de
quantidade’. No aniversário de minha filha, finalmente voltei a esse estado de desânimo e disse a
ele: ‘provavelmente você não sabe pelo que estou passando. Sou um homem casado, tenho um caso
com outro homem e minha filha faz seis anos hoje. Sabe o que isso significa realmente? Pode
compreender os sentimentos que estão no meu interior?’. Disse a ele que deixaria de ser gay se era
o preço que tinha de pagar”.
“Sentia que ele não podia se relacionar com você?”
“Sim, creio que me frustrei. Não podia me compreender”.
Nesse momento, Tom se incorporou, olhou-me diretamente e disse: “Vou ter de encontrar a melhor
forma de trabalhar dentro da situação. Provavelmente sempre terei tendências homossexuais, você
me disse. Mas também sou consciente de que existe uma opção, um ato de vontade implicado.
Ainda gostaria de fazer sexo com homens, mas o custo simplesmente é alto demais. Meu casamento
e meus filhos são mais importantes”.
No final, Tom estava comprometendo-se seriamente em superar sua atração pelos homens. Sabia
que era uma decisão que o Movimento dos Direitos Gay reprovaria. Diriam que era desonestidade
com seu verdadeiro eu, hipocrisia – esse tipo de retórica. Eu, entretanto, sentia grande respeito por
Tom James. Havia escolhido o caminho difícil, mas creio que o correto.
Tom vinha regularmente duas vezes por semana. Lutando contra o tráfego da rodovia de Los
Angeles por toda a tarde, de alguma forma conseguia aparecer com pontualidade a suas sessões.
Costumava chegar com impaciência para falar, mas um dia se sentou desconsolado e colapsado em
sua poltrona.
“Tenho que fazer alguma coisa com minha vida. Ainda não tenho um lar real e estou ficando em um
hotel qualquer. Estou sozinho e deprimido”.
Evidentemente, Tom tinha que tomar uma decisão clara. Perguntei: “Alguma vez, você teve algum
amigo íntimo homem?”
“Acho que sim”, disse. Mas enquanto Tom contava de novo seus amigos, ficava claro que tinha
muitos conhecidos, mas não verdadeiros amigos. Ainda que gostasse de sair, fosse amistoso e
extrovertido, na verdade, ninguém o conhecia. Tendia a ocultar-se atrás de uma fachada gregária.
Disse eu: “Você nunca teve uma amizade cômoda e de confiança com um homem com quem
pudesse ser você mesmo. Mais ainda, o elemento sexual sempre produziu um curto-circuito com as
amizades ao ter contatos rápidos e impessoais”.
“Realmente acreditava que Andy era meu melhor amigo”, continuou. “Mas, olhando para trás, está
claro que era só uma ilusão. Tivemos uma relação desequilibrada – eu era seu chefe e muito mais
velho... Poderia ser seu pai. Quanto mais penso nisso, mais me dou conta de que ele utilizava isso
como vantagem” Tom se manteve em silêncio durante um momento. Depois, falou com um suspiro:
“acho que ambos nos usamos mutuamente”.
“E sabe o que mais, Joe? Estive pensando. Estive usando minha homossexualidade como desculpa,
como escapatória”.
“O que quer dizer?” Perguntei.
“Quando não utilizo a etiqueta gay, tenho que afrontar a vida, afrontar a mim mesmo. Estive
utilizando meu problema como uma forma de não crescer”.
Esperei que seguisse: “Não tenho que cumprir minhas responsabilidades! Não tenho que pensar em
minha família ou nos demais! Sou gay!”. Seu tom era de auto ridicularização.
Não é incomum que os homens descubram, ao longo do tratamento, que encontram uma sensação
de segurança ou de caminhada para trás justificável ante os desafios das responsabilidades adultas
quando reivindicam a etiqueta “gay” para si mesmos. Para alguns homens, essa identidade serve
como defesa contra as ansiedades da intimidade homem-mulher e outros desafios adultos. Tom
também utilizava a etiqueta “gay” para libertar-se de um sentido pesado de responsabilidades.
Disse Tom: “Sempre me pus esse título enfeitado de força e bravura. Mas agora me dou conta de
que nunca me senti verdadeiramente bravo ou de que afrontei a verdade da qual estava fugindo”.
Não disse nada, esperando que ele continuasse.
“Me sentia deprimido e cheio de ansiedade. Posso ver que só estava brincando de ser um homem
real. Não creio que possa sê-lo, não da forma que andei vivento. Não sei se serei capaz algum dia de
estabelecer-me e de levar as responsabilidades de minha família”.
Seguiu um enorme silêncio. Por fim, pensativamente, disse: “Pergunto-me se quero ser um homem,
nos termos que requereria de mim”.
Havia um tom de sabedoria em sua voz enquanto dizia, depois: “Não há nada mais triste que um
mariquinha velho. Esse é um ditado antigo”.
Parecia-me que estava ouvindo algo de auto dramatização nisso pelo que o conduzi a alguma
responsabilidade.
“Você disse muitas vezes que se sente um estranho em sua própria casa, que parece ‘a casa de
Cynthia’. Queixa-se de sentir-se como um estranho... Que tem de ir trabalhar para se sentir
respeitado. O que está mal em sua casa que não te permite ser forte... Que te impede de assumir
alguma autoridade?”
“Não sei”, encolheu-se Tom, concedendo. “Mas é algo do qual seria melhor começar a falar.
Cynthia me chamou na semana passada e perguntou se gostaria de tentar voltar a viver com ela”.
“E o que você disse?”
“Bem, admito que me alegrou ouvir sua voz. Realmente gostaria de fazer o possível para ir bem
com ela. Disse que o faria”.
“Que bom”.
“Ela está querendo te chamar para ver o que se pode fazer para salvar nosso casamento”.
Falei com Cynthia naquela noite e ela perguntou se poderia me ver pelo bem de Tom, ainda que eu
não duvidasse de que ela tivesse, igualmente, preocupações consigo mesma. Eu estava prestes a sair
de férias de verão, de forma que marcamos um horário para setembro quando Cynthia viria sozinha
para se consultar comigo.
Depois de ouvir Tom descrever sua vida no lar como aborrecida e tediosa, fiquei surpreso quando
descobri que Cynthia era uma loira encantadora, extrovertida e bem vestida. Depois, uma vez mais,
sabendo da importância que Tom dava às aparências, deveria ter esperado que sua esposa fosse
surpreendentemente atraente.
Mesmo que Cynthia e eu nunca nos houvéssemos visto antes, saudamo-nos para a sessão como se
fôssemos velhos amigos. Esse sentido de familiaridade imediata não me deixou dúvida do fato de
que nós dois conhecíamos o mesmo homem intimamente. Além disso, ela viu em mim um aliado.
Eu não era simplesmente um terapeuta neutro. Estava a favor do casamento e da diminuição da
homossexualidade de Tom. Alguns psicoterapeutas sugerem aos clientes que uma esposa deve
aceitar as aventuras homossexuais do marido. Racionalizam esse conselho absurdo falando de
“respeitar a natureza verdadeira e bissexual do esposo”. Nunca cri na existência da bissexualidade.
Para mim, o chamado bissexual é alguém que não resolveu sua homossexualidade.
Cynthia começou assegurando-me de que havia vindo para ajudar Tom. Encorajei-a a falar de si
mesma e contar sua própria história. Seu pai era alcoólatra e sua mãe, inadequada e frágil
emocionalmente. Pude entender por que se havia visto arrastada pela energia e auto possessão que
irradiava de Tom.
Cynthia me falou da noite em que soube da verdade sobre a sexualidade de Tom. “Em uma
explosão de histeria, ele me contou tudo sobre sua vida. Foi a coisa mais horrível que aconteceu em
minha vida”, admitiu. Sua voz se acalmou enquanto prosseguia. “Por um momento, não podia
acreditar”.
Perguntei: “Como você lidou com o que ele disse?”
“Fiquei aborrecida... Era mais fácil que lidar com meu horror. Quero dizer, simplesmente não podia
assimilar a verdade. Pedi a ele que fosse embora imediatamente. Estava tão desgostosa que não
podia olhar para sua cara. Depois, senti tristeza por ele, pelas crianças e por mim mesma”.
“Você já tinha alguma suspeita de que ele tivesse esse problema?”
“Só suspeitava vagamente.” Disse ela. “Antes de nos casarmos, Tom havia me falado que tivera
algumas experiências homossexuais. Acho que eu não sabia o que fazer com isso. Durante anos ele
saía à noite e chegava em casa muito tarde. A ideia passava por minha mente mas, na verdade,
nunca quis pensar nisso”.
“Tom é um bom homem e eu o amo muito. Mas o que Tom quer, ele consegue. Realmente é muito
egocêntrico”, disse com uma risada ligeira. “Com frequência sentia que tinha três filhos em vez de
dois. Como um menino, Tom sempre espera atenção especial. Pode ser muito generoso com as
pessoas, mas tem sempre de estar em cena. Por exemplo, sei que ele ama muito nossos filhos, mas
às vezes parece que os quer pelo amor que podem dar a ele. Ele fala: ‘o que houve? Por que não
vêm e beijam o papai? ’. Se estão ocupados fazendo outra coisa e não lhe prestam atenção, ele logo
se sente ofendido”.
A descrição de Cynthia me era familiar. Havia ouvido relatos similares de esposas de homens como
Tom. Um homem assim está, com frequência, casado e funciona bem bissexualmente. Tende a ser
exibicionista e narcisista e ter – ao menos superficialmente – um sentido muito inflado de sua
própria importância. Está determinado a ter tudo – quer dizer, casamento e família junto com as
relações gay. É bastante diferente do cliente mais típico que tende a sentir-se inferior, auto
dubitativo e sem poder.
Perguntei a Cynthia: “Que futuro você vê aqui?”
“Bem, amo muito a Tom”, disse. “Ele acredita em você, Joe, e espero que consiga superar seu
problema”.
“Você crê que pode perdoá-lo pelo que se passou?”
“Toda a vida eu tive de fazer compromissos” disse. “Cremos que se seguirmos na direção que
tomamos, podemos ser felizes. Realmente estive muito mais conectada à minha família desde que
voltamos a viver juntos. Mas sempre terei minhas dúvidas, se sai à noite...”
Revelando a força da psique feminina, acrescentou: “Sei quando Tom e eu nos conectamos. Posso
sentir a diferença. Quando Tom se afasta de mim é que me preocupa”.
“Conhece a diferença?”
“Claro. Durante os anos que Tom estava com Andy, sentia que sua energia estava de alguma forma
em outro lugar – fora da família”.
A intuição de Cynthia tinha razão. Muitos maridos homossexuais disseram que, quando têm
aventuras com outros homens, se encontram evitando suas esposas e famílias. Como dizia um
homem casado: “o grande obstáculo é a culpa. Depois de fazer sexo, chego em casa e me encontro
fugindo de minha família. Durante dias, não me sinto digno de participar com nada junto de minha
esposa e das crianças”.
A atitude de Cynthia era típica da maioria das esposas com as quais trabalhei. Uma esposa se sentia
profundamente traída, ferida e enfadada por muitos meses, mas o mais comum é que se
comprometa a fim de salvar seu casamento. O que parece mais importante é a sinceridade e
honestidade do marido ao tratar do problema. Uma esposa estará disposta a tratar qualquer coisa
sempre que seu marido for honesto. O marido que pode explicar a sua esposa com paciência e
honestidade as necessidades emocionais insatisfeitas que jazem por trás de sua conduta
homossexual geralmente perceberá que tem uma aliada poderosa. Sua esposa demonstrará sua
compreensão se lhe for dada a oportunidade de compreender as motivações que residem por trás
de sua conduta.
Considerando o nível prévio de desonestidade por parte de muitos maridos, sempre me senti
surpreendido pela flexibilidade e resistência das esposas que decidem manter o compromisso
matrimonial. Uma esposa que ama seu marido descerá aos infernos e voltará com ele se for tratada
como uma companheira amada e respeitada.
Existem aspectos terapêuticos particulares para homens casados que, como Tom, tenham base
homossexual. Esses homens têm o dever não só de resolver sua atração pelo mesmo sexo como
também de permanecer em consonância com suas esposas. Esses homens oferecem, geralmente,
muitas razões para evitar suas esposas: ‘está sobrecarregada’, ‘é crítica’, ‘é mesquinha’, ‘negativa’,
‘uma puta’, ‘não presta atenção em nada’, ‘não é compreensiva’...
Certamente que uma esposa que não se sente amada terá suas próprias reações defensivas e de fato
pode ser culpada de todas as críticas. Pode ser que haja muitos motivos para que o marido evite
intimidade com ela, não sendo a culpa a menor delas. Mas esses obstáculos para a intimidade
devem ser tratados na terapia.
Em nossa seguinte sessão, Tom falou de sua preocupação com o problema que sofria há muito
tempo de sentir-se excluído e sem descanso quando estava em casa com sua família.
Costumava assumir uma atitude passiva e de exclusão quando se sentia aborrecido, desconectado e
com ressentimento. O aborrecimento é, com efeito, um sentimento expressado com frequência por
clientes homossexuais. Considero que esse estado de ânimo faz parte de uma condição
homossexual.
Perguntei: “Você sabe por que se aborrece em sua própria casa?”
“Não sei,” disse. “No meio de toda a atividade familiar simplesmente perco o interesse e sinto que
quero sair correndo”.
Expliquei: “O aborrecimento surge quando você está em uma situação que não permite que você se
expresse”.
Tom pareceu confuso. Continuei: “A maioria das pessoas crê que o aborrecimento é consequência
de ‘não fazer nada, de não me ocorrer nada’. Com efeito, no interior há sempre algo para fazer, se
somente o respeitarmos”.
“Da próxima vez que se sentir aborrecido, pergunte-se: ‘como eu gostaria de me expressar neste
momento? O que não estou me permitindo dizer ou fazer? ’. Creio que você se sente inibido e
golpeado e que debaixo disso existe um elemento de ira. Tente sentir os sentimentos reais que jazem
debaixo do aborrecimento. Se realmente se permitir fazê-lo, creio que já não se aborrecerá mais”.
Nas semanas seguintes, Tom e Cynthia progrediram em seu trabalho de alcançar honestidade e
igualdade mútua em sua relação. Enquanto que no trabalho anterior ambos haviam sido vítimas,
agora estavam muito mais seguros no casamento. Uma parte importante do tratamento consistia em
conseguir que Tom se conectasse com sua esposa e sentisse sua presença. Durante muitos anos,
havia estado tão preocupado consigo mesmo que a havia retirado virtualmente de sua consciência.
Agora, em vez de se excluir, seu esforço era para identificar seus sentimentos e expressá-los. Esse
processo lhe faria voltar a conectar-se com Cynthia de forma invariável.
“Como eu quero que funcione com ela!” Dizia. “Cortar definitivamente com o mundo gay e estar só
com homens heterossexuais. Gostaria muito de ter agora um amigo homem real, não um amante.
Talvez algum homem casado, com família. Necessito desse tipo de amizade se vou ter uma vida de
homem de família”.
Por esse tempo, Tom havia chegado a compreender muito mais de si mesmo e de suas prioridades
mais profundas e havia começado a crer que podia ter um casamento monogâmico.
Disse-me: “O mais importante de tudo é manter minha família unida. Meus filhos necessitam de um
pai. Minha esposa necessita de um marido. E eu necessito de uma família”. Estava começando a ver
o quão carente de sentido e irrelevante era a sequência de aventuras que havia tido.
“Tinha ressentimento contra Cynthia por reger minha vida mas, olhando para trás, não lhe deixei
opção”, disse. “Simplesmente abdiquei das responsabilidades de minha família”.
“Assim é”, disse a ele. “Você mantinha um papel de passividade e evitação em casa. Mostrava seu
ressentimento por estar ocupado com as responsabilidades da família com uma rejeição passiva e
implicante. Criou um vazio que lguém tinha de preencher. E, é claro, Cynthia tentou preenchê-lo.
Então, você a acusava – injustamente – de ser controladora”.
“Tenho me dado muito bem com Cynthia”, disse ele. “Às vezes, ela se queixa da casa e das
crianças, não parando de falar, mas eu logo falo com ela e explico como aquilo me afeta, então ela
se cala e me apoia em silêncio. Tem se adaptado muito à forma como me sinto”.
“As pequenas lutas que temos agora não são nada comparadas com as que costumávamos ter”.
Acrescentou: “Porque há algo, em algum lugar, que”
“Onde?”, desafiei.
Tom pareceu confuso por um momento, e depois respondeu: “Em mim. Sinto-me mais centrado,
mais aterrissado em meu lugar em casa. Sempre tive a sensação de querer flutuar para longe, de sair
dali, de escapar para outro lugar. Já não sinto isso. E quando sinto, sei de onde vem”.
“De onde vem?”
“Vem de não me deixar pertencer”. Tom falava lenta e pensativamente, escolhendo cada palavra
com cuidado. “Vem de não ser honesto com meus sentimentos. E de não me conectar com as
pessoas mais importantes para mim. Por muito tempo, senti-me isolado e distante de Cynthia”.
“Simplesmente evitando”, disse a ele.
“Sim. Ficava metido em minha casca e mantinha a todos fora dela”. Houve uma grande pausa.
“Mas então,” disse. “Existiam esses pequenos momentos em que a graça abria caminho e me
golpeava com algo bonito – algo sobre meus filhos ou alguma qualidade de Cynthia – e de repente
via o quão delicada era essa casca”.
“Um desses momentos aconteceu quando Cynthia e eu fazíamos amor e depois ela começou a
chorar. Minha primeira reação foi perguntar: ‘o que fiz de mal? ’, as lágrimas eram um pouco
inquietantes. Mas ela disse: ‘simplesmente sustenha-me’, de forma que soube que estava tudo bem.
Depois, ela disse: ‘quando me sinto assim com você, abro meu coração e jazo aqui completamente
desnuda para você. Realmente quero set totalmente sua, totalmente aberta para você. Mas quando
você está distante, ausente para nós, então tenho que manter a família unida e tenho que ser a pessoa
forte. Tenho que fazer o trabalho da família, tenho que endurecer a mim mesma, endurecer-me para
cuidar do negócio e preparar as coisas para nós. Na verdade, não quero ocupar o papel masculino ou
essas qualidades masculinas’.”
“Nesses momentos de aproximação”, continuou Tom. “Quando a verdade de nossas vidas se
atravessa, abro-me para ela e ela se torna suave e feminina”.
Suspirou: “Se ela se abria para mim, era bom, mas também me dava medo, porque a deixava mais
vulnerável para ser ferida, e com mais profundidade. Assim, tenho que trabalhar para não causar-lhe
mais mal”. Olhou-me gravemente: “É uma responsabilidade pesada”.
“Outro dia,” continuou. “Estávamos na cozinha e ela me perguntou: ‘se alguma vez você voltasse a
cair, você me diria? ’. Pensei nisso durante um minuto e depois disse que sim. Queria dizer: ‘não
acontecerá’, mas um homem nunca pode dizer nunca. Mas estou trabalhando para não voltar a cair
mais, pelo que pude prometer-lhe honestamente que lhe diria. Todo o trabalho que fiz me fez
progredir. Já não sinto esse desespero. Sei exatamente o que há por trás dos lapsos momentâneos.
Quando não estou bem, sei por que não estou bem e sei o que tenho que fazer para voltar ao
caminho outra vez”.
“Compreendo a dinâmica subjacente, as necessidades reais, vejo que não é a mesma atração pelos
homens senão algo de que careço em meu interior o que causa as atrações por homens com esse
poder. Não se trata de quem é esse homem atrativo ali. Se trata de quem sou eu aqui”.
“Direi a mim mesmo (levantou a voz em um tom afeminado dramático): ‘Oh, possivelmente não
posso resistir a essa tentação... Nasci assim! Mas isso é realmente melancolia da minha parte... não
quero passar pelos processos de pensamento necessários e não quero recordar a verdade sobre mim
mesmo. Permito que a fantasia me sobrecarregue’”. Uma vez que Tom viu a verdade sobre si
mesmo, só podia esquecer se quisesse.
A fórmula terapêutica de Tom dependia de três coisas: confrontar as necessidades emocionais
insatisfeitas que jaziam por trás de sua conduta homossexual; desenvolver amizades masculinas não
eróticas e abrir caminho à exclusão social de Cynthia. A pedido de Cynthia, Tom pediu a seu antigo
amante, Andy, que deixasse a loja e o ajudou a encontrar emprego em outro lugar. Tom estava
decidido a vê-lo como uma pessoa do passado e a pôr-se a caminho do futuro com sua esposa e seus
filhos.
Quando Tom se aproximava dos últimos dias de seu terceiro ano de terapia, falamos do fim.
“O que você acha, doutor?” Perguntou. “Estou preparado para me graduar?”
“Creio que sim.” Assegurei.
“Gostaria de sentir total confiança de que não voltarei a cair nas velhas coisas que me fizeram vir
até aqui”.
Disse eu, então: “Você já se comprometeu com a honestidade. É mais honesto com você mesmo
hoje do que em qualquer momento anterior de sua vida. Pode ser que tenha uma queda, pode ser
que experimente alguns reveses, mas isso não me preocupa porque as ideias estão aí.
Você as compreende. Simplesmente seja honesto com você mesmo e com Cynthia”.
Tom assentiu com gravidade.
“As ideias genuínas não se podem perder ou esquecer,” disse a ele. “Não pode voltar nunca ao lugar
em que estava, psicologicamente, quando veio aqui pela primeira vez”.
Falando em voz baixa e lenta, Tom disse: “Desfrutei muito do que aprendi com você, Joe. Você me
ajudou muito e isso é muito importante. Vou sentir muita falta, na verdade, de dar e compartilhar, o
que veio de você”.
Dei-me conta de que Tom se sentia intensamente ambivalente sobre o fim de nossa relação.
Quando chegaram os momentos finais de sua última sessão, disse a ele: “Quando precisar, pode
voltar, é claro – mesmo que seja só para uma simples sessão”.
“Obrigado.” Disse de pé e dando-me a mão com brio. “Sentirei sua falta, e dos companheiros do
grupo também. Aprendi muito com você”. Havia algo diferente em sua voz, mas enquanto nos
aproximávamos da porta, voltou a olhar para trás uma vez mais, com melancolia.
Dois anos depois do fim de sua terapia comigo, Tom soube que era soropositivo. Permaneci em
contato tanto com Tom quanto com Cynthia, recebendo ligações deles com frequência durante os
três anos seguintes. De vez em quando, discutíamos uma variedade de problemas – a comunicação
entre eles, assuntos de pais, especialmente sobre seu filho, Sean, que estava agora na adolescência.
Tom começou a mostrar, cada vez mais, os sintomas da AIDS e, quando se fez evidente que
morreria rápido, Cynthia me pediu para que prestasse assessoria familiar. Era o momento de
preparar os meninos para o final. Tom e Cynthia me pediram que os ajudasse a dizê-lo a eles. Pude
ver sua força incrível quando os quatro estavam sentados no sofá do salão. Durante duas horas,
houve perguntas, lágrimas e compartilhamento de amor.
Fui ver Tom em sua casa nas semanas finais enquanto se punha cada vez mais fraco. Havia cinco
anos que terminara a terapia. Um dia, quando estava prestes a ir embora, me chamou ao seu lado.
Com a voz surpreendentemente forte, me disse: “Se não fosse por você, agora não estaria com
minha família. Terei a bênção de morrer com minha esposa e meus filhos ao meu lado. Estou muito
agradecido por isso”.
“E doutor,” – tossiu – “Estará contente em saber que mantive minha promessa a Cynthia”.
Uma semana depois, Cynthia me ligou em uma tarde. Sua voz era baixa e triste. Disse que Tom
havia falecido naquela manhã.
Depois da morte de Tom, continuei tendo contato com Cynthia e seus filhos, e fiz o melhor que
pude para ajudá-los em seu período de dor. Ela me disse como suas relações com Tom se haviam
aprofundado e sua vida familiar era melhor do que jamais havia sido. Tom havia desenvolvido uma
relação profunda com seus filhos, que ajudaram a cuidar dele em sua casa enquanto piorava.
Cynthia também havia cuidado dele fielmente. Morreu em seu próprio quarto em companhia de sua
família e de uma freira de sua paróquia que havia ido levar-lhe a comunhão.
A terapia reparativa ajudou Tom a deixar de lado sua vida dupla. Produziu nele a ideia de que podia
chegar até o fim e viver de acordo com suas convicções. Sinto-me satisfeito em poder ajudá-lo a
encontrar o que estava buscando.
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa
Relatos de Casos de Terapia Reparativa

Mais conteúdo relacionado

Destaque

O movimento homossexual júlio severo
O movimento homossexual   júlio severoO movimento homossexual   júlio severo
O movimento homossexual júlio severowww.osEXgays.com
 
O Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech Chavda
O Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech ChavdaO Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech Chavda
O Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech Chavdawww.osEXgays.com
 
O Descanso de Deus - Entre no Descanso da Fé
O Descanso de Deus - Entre no Descanso da FéO Descanso de Deus - Entre no Descanso da Fé
O Descanso de Deus - Entre no Descanso da Féwww.osEXgays.com
 
Mergulhando no Espírito e Compreendendo a Fé
Mergulhando no Espírito e Compreendendo a FéMergulhando no Espírito e Compreendendo a Fé
Mergulhando no Espírito e Compreendendo a Féwww.osEXgays.com
 
As Provas da Existencia de Deus
As Provas da Existencia de DeusAs Provas da Existencia de Deus
As Provas da Existencia de Deuswww.osEXgays.com
 
Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual
Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual
Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual www.osEXgays.com
 
Desenvolvendo o Desejo Heterossexual
Desenvolvendo o Desejo HeterossexualDesenvolvendo o Desejo Heterossexual
Desenvolvendo o Desejo Heterossexualwww.osEXgays.com
 
A Lenda da Imortalidade da Alma
A Lenda da Imortalidade da AlmaA Lenda da Imortalidade da Alma
A Lenda da Imortalidade da Almawww.osEXgays.com
 
Sexualidade e reformissão mark driscoll
Sexualidade e reformissão   mark driscollSexualidade e reformissão   mark driscoll
Sexualidade e reformissão mark driscollwww.osEXgays.com
 
A Igreja na Grande Tribulação
A Igreja na Grande TribulaçãoA Igreja na Grande Tribulação
A Igreja na Grande Tribulaçãowww.osEXgays.com
 

Destaque (17)

O movimento homossexual júlio severo
O movimento homossexual   júlio severoO movimento homossexual   júlio severo
O movimento homossexual júlio severo
 
O Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech Chavda
O Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech ChavdaO Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech Chavda
O Poder Secreto do Jejum e da Oração - Mahech Chavda
 
Reencontrando a Estrela
Reencontrando a EstrelaReencontrando a Estrela
Reencontrando a Estrela
 
Amor restaurado
Amor restauradoAmor restaurado
Amor restaurado
 
O Descanso de Deus - Entre no Descanso da Fé
O Descanso de Deus - Entre no Descanso da FéO Descanso de Deus - Entre no Descanso da Fé
O Descanso de Deus - Entre no Descanso da Fé
 
Deus é um delírio?
Deus é um delírio?Deus é um delírio?
Deus é um delírio?
 
Mergulhando no Espírito e Compreendendo a Fé
Mergulhando no Espírito e Compreendendo a FéMergulhando no Espírito e Compreendendo a Fé
Mergulhando no Espírito e Compreendendo a Fé
 
As Provas da Existencia de Deus
As Provas da Existencia de DeusAs Provas da Existencia de Deus
As Provas da Existencia de Deus
 
O Código da Bíblia II
O Código da Bíblia IIO Código da Bíblia II
O Código da Bíblia II
 
O Código da Bíblia
O Código da Bíblia O Código da Bíblia
O Código da Bíblia
 
Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual
Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual
Desejo & Engano - O Verdadeiro Preço da Nova Tolerância Sexual
 
Desenvolvendo o Desejo Heterossexual
Desenvolvendo o Desejo HeterossexualDesenvolvendo o Desejo Heterossexual
Desenvolvendo o Desejo Heterossexual
 
Impulsionados pelo amor
Impulsionados pelo amorImpulsionados pelo amor
Impulsionados pelo amor
 
A Lenda da Imortalidade da Alma
A Lenda da Imortalidade da AlmaA Lenda da Imortalidade da Alma
A Lenda da Imortalidade da Alma
 
Sexualidade e reformissão mark driscoll
Sexualidade e reformissão   mark driscollSexualidade e reformissão   mark driscoll
Sexualidade e reformissão mark driscoll
 
Restaurando a identidade
Restaurando a identidadeRestaurando a identidade
Restaurando a identidade
 
A Igreja na Grande Tribulação
A Igreja na Grande TribulaçãoA Igreja na Grande Tribulação
A Igreja na Grande Tribulação
 

Semelhante a Relatos de Casos de Terapia Reparativa

As ilusões do movimento gay
As ilusões do movimento gayAs ilusões do movimento gay
As ilusões do movimento gaylibertosrb31
 
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eissA cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eissFabio med
 
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eissA cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eissJomardasilva1
 
Introdução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimentoIntrodução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimentoCamilla Rodrigues
 
Nascido gay... ou não? (palestra)
Nascido gay... ou não? (palestra)Nascido gay... ou não? (palestra)
Nascido gay... ou não? (palestra)AntiSaint
 
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)ciceroferreira23
 
Uma VisãO Cristã Sobre Sexualidade
Uma VisãO Cristã Sobre SexualidadeUma VisãO Cristã Sobre Sexualidade
Uma VisãO Cristã Sobre SexualidadeFlávia Smarti
 
Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)
Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)
Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)Edleusa Silva
 
Ética - Dalmo de Abreu Dallari
Ética - Dalmo de Abreu DallariÉtica - Dalmo de Abreu Dallari
Ética - Dalmo de Abreu Dallaricheilon
 
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e EsperançaHomossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperançawww.osEXgays.com
 
Curar dr. david servan-schreiber
Curar   dr. david servan-schreiberCurar   dr. david servan-schreiber
Curar dr. david servan-schreiberGraça Faria
 

Semelhante a Relatos de Casos de Terapia Reparativa (20)

As ilusões do movimento gay
As ilusões do movimento gayAs ilusões do movimento gay
As ilusões do movimento gay
 
# Américo domingos - homossexualismo - [ espiritismo]
#   Américo domingos - homossexualismo - [ espiritismo]#   Américo domingos - homossexualismo - [ espiritismo]
# Américo domingos - homossexualismo - [ espiritismo]
 
Readme
ReadmeReadme
Readme
 
As ilusões do movimento gay
As ilusões do movimento gayAs ilusões do movimento gay
As ilusões do movimento gay
 
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eissA cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
 
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eissA cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
A cura-atraves-de-vidas-passadas-brian- eiss
 
Introdução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimentoIntrodução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimento
 
Nascido gay... ou não? (palestra)
Nascido gay... ou não? (palestra)Nascido gay... ou não? (palestra)
Nascido gay... ou não? (palestra)
 
Seminario gt
Seminario gtSeminario gt
Seminario gt
 
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
 
Lgbti
LgbtiLgbti
Lgbti
 
Uma VisãO Cristã Sobre Sexualidade
Uma VisãO Cristã Sobre SexualidadeUma VisãO Cristã Sobre Sexualidade
Uma VisãO Cristã Sobre Sexualidade
 
AL
ALAL
AL
 
Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)
Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)
Introdução a psicologia do ser (doc)(rev)
 
Ética - Dalmo de Abreu Dallari
Ética - Dalmo de Abreu DallariÉtica - Dalmo de Abreu Dallari
Ética - Dalmo de Abreu Dallari
 
texto
textotexto
texto
 
A homofobia
A homofobiaA homofobia
A homofobia
 
Homossexualidade e Esperança
Homossexualidade e EsperançaHomossexualidade e Esperança
Homossexualidade e Esperança
 
Curar dr. david servan-schreiber
Curar   dr. david servan-schreiberCurar   dr. david servan-schreiber
Curar dr. david servan-schreiber
 
Falando de amor
Falando de amorFalando de amor
Falando de amor
 

Mais de www.osEXgays.com

Mais de www.osEXgays.com (8)

Como Vencer o Pecado
Como Vencer o PecadoComo Vencer o Pecado
Como Vencer o Pecado
 
Lidando com a Raiz de Inferioridade
Lidando com a Raiz de InferioridadeLidando com a Raiz de Inferioridade
Lidando com a Raiz de Inferioridade
 
Beleza em Vez de Cinzas
Beleza em Vez de CinzasBeleza em Vez de Cinzas
Beleza em Vez de Cinzas
 
A Farsa dos Crimes Homofóbicos no Brasil
A Farsa dos Crimes Homofóbicos no BrasilA Farsa dos Crimes Homofóbicos no Brasil
A Farsa dos Crimes Homofóbicos no Brasil
 
Getsêmani
GetsêmaniGetsêmani
Getsêmani
 
A Unção
A UnçãoA Unção
A Unção
 
A LIBERAÇÃO DO ESPÍRITO
A LIBERAÇÃO DO ESPÍRITOA LIBERAÇÃO DO ESPÍRITO
A LIBERAÇÃO DO ESPÍRITO
 
Rumo à Masculinidade
Rumo à MasculinidadeRumo à Masculinidade
Rumo à Masculinidade
 

Relatos de Casos de Terapia Reparativa

  • 1. RELATOS DE CASOS DE TERAPIA REPARATIVA Joseph Nicolosi
  • 2. Traduzido do Original: SANAR LA HOMOSEXUALIDAD -HISTORIAS DE CASOS DE LA TERAPIA REPARATIVA, Joseph Nicolosi Tradução: Hugo Dracena Edição: Equipe Closet Full Divulgação em língua portuguesa: Closet Full e Courage Brasil Disponibilizamos o arquivo gratuitamente na internet pois entendemos sua importância no momento em que vivemos no Brasil. Pedimos gentilmente a todos que divulguem esse material, em blogs, sites e redes sociais. Assim, estaremos empenhados em lutar contra toda mentira e manipulação sobre o assunto. Unam-se a nós nessa batalha! Maiores informações: contato@closetfull.com.br Para conhecer mais materiais: www.closetfull.com.br É PROIBIDO COMERCIALIZAR OU ALTERAR ESSE ARQUIVO
  • 3. SUMÁRIO SUMÁRIO .......................................................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 4 CAPÍTULO 1 ALBERT, O MENINO INTERIOR .................................................................................................... 6 CAPÍTULO 2 TOM, UM HOMEM CASADO ....................................................................................................... 21 CAPÍTULO 3 PADRE JOHN, A VIDA DUPLA ..................................................................................................... 37 CAPÍTULO 4 CHARLIE, A BUSCA PELA IDENTIDADE MASCULINA ......................................................... 51 CAPÍTULO 5 DAN, UM HOMEM COM IRA ....................................................................................................... 67 CAPÍTULO 6 STEVE, À PROCURA DE SÍMBOLOS MASCULINOS ............................................................... 78 CAPÍTULO 7 EDWARD, AAGONIA DE UM JOVEM ........................................................................................ 88 CAPÍTULO 8 ROGER: “REALMENTE QUERO ISSO?”................................................................................... 107 CAPÍTULO 9 COMO FUNCIONAA TERAPIA EM GRUPO ............................................................................ 129 CAPÍTULO 10 RECAPITULAÇÃO ....................................................................................................................... 153
  • 4. INTRODUÇÃO Utilizando transcrições reais de sessões gravadas em fitas-cassete, este livro utiliza os princípios básicos de meu trabalho anterior, mais técnico, Terapia Reparativa da Homossexualidade Masculina. Nesse livro, é possível encontrar exemplos claros da forma como trabalho com meus pacientes enquanto enfrentam as distorções que escurecem suas verdadeiras identidades masculinas. Foram necessárias algumas restrições nas expressões verbais e uma simplificação dos termos clínicos para destacar os temas do processo de reparação. Além disso, para preservar a privacidade dos pacientes, cada caso aqui apresentado é um misto de experiências de diversos indivíduos com problemas similares. Nenhum caso se adapta detalhadamente a um único paciente. Qualquer fato que aponte para uma pessoa concreta é pura coincidência. O Movimento de Libertação Gay tem alcançado grande êxito por meio do drama dos testemunhos pessoais. Quando todos os argumentos teóricos, tanto os que eram a favor quanto os contrários à ideia da homossexualidade como patologia, foram apresentados à Associação Psiquiátrica Americana (APA) em 1973, foi a perspectiva sociopolítica que teve maior influência. Ouvindo algumas histórias pessoais de frustração no tratamento de alguns gays, a associação psiquiátrica suprimiu a homossexualidade como categoria de diagnóstico. Agora, exatamente 20 anos depois, oferecemos o lado oposto do testemunho pessoal, o dos homossexuais que tentaram aceitar uma identidade gay, mas que não se sentiram satisfeitos e logo se beneficiaram da psicoterapia para ajudá-los a libertar-se do conflito de identidade de gênero que reside por detrás da maioria dos casos de homossexualidade. Ainda que a história de cada paciente seja única, escolhi oito homens como representantes das personalidades que encontrei ao longo dos doze anos em que tratei a mais de 200 pacientes homossexuais. Cada paciente possui algum dos aspectos presentes nesses oito homens – como a fragilidade de Albert, a integridade de Charlie, a ira de Dan, o narcisismo de Steve e a ambivalência de Roger. Alguns leitores podem surpreender-se com o estilo direto de minha intervenção terapêutica. Em parte, essa impressão pode dever-se à síntese editorial da transcrição. Por questões de brevidade e clareza, algumas das sutilezas podem ter sido supridas. Por outra parte, a terapia reparativa requer um terapeuta mais aplicado – um “provocador benevolente”, que saia da tradição de analista não aplicado e opaco para converter-se em uma presença masculina relevante. O terapeuta deve equilibrar espírito ativo com o ânimo vigoroso para seguir o modelo pai-filho e mentor-aluno. Esse é um princípio essencial para a terapia reparativa. A terapia reparativa não explica todas as formas de homossexualidade, senão somente a síndrome predominante que encontrei em minha consulta. Essa terapia não é para todos os homossexuais. Alguns podem preferir a Terapia da Afirmação Gay. Muitos homossexuais preferem pensar: “eu nasci desta forma”, evitando, assim, trabalhar os problemas dos quais tratamos aqui.
  • 5. Além disso, não foi encontrada nenhuma evidência conclusiva para qualquer base biológica da homossexualidade. Ainda que alguns homens possam estar predispostos à passividade e à sensibilidade por causa de seus temperamentos (e, portanto, à ferida de identidade de gênero que ode conduzir à homossexualidade), sempre me pareceu que o “nasci dessa forma” não é senão outra forma de dizer: “não quero ver os problemas de desenvolvimento que me fizeram homossexual”. Este livro foi escrito em um momento de debate público sem precedentes sobre as inquietudes políticas, legislativas e psicoterapêuticas sobre a homossexualidade. No momento em que o publicamos, debate-se agora questões como os gays no exército, os gays nos Boy Scouts e as emendas de direitos dos gays de Óregon. Entre todos os ramos de profissionais da saúde mental, fazem-se tentativas de qualificar a terapia reparativa como ilegal e carente de ética, sobre o pretexto de que não produz mudanças e que, ao paciente, faz mais mal que bem. Qualquer terapia psicológica que tente tratar da homossexualidade provavelmente provoque ceticismo. Compreende-se uma reação assim, considerada a história do tratamento. As hostilidades que se faziam no passado em nome do tratamento incluem terapia de eletrochoque, castração e cirurgia de cérebro. Foram cometidas muitas injustiças sociais sobre os homossexuais pelos que utilizam como justificativa o fato de que a homossexualidade é uma desordem de desenvolvimento. Não é nossa intenção contribuir com a hostilidade reacionária. Ademais, existe uma distinção entre ciência e política, e a ciência não deveria render-se à pressão da política gay. A NARTH – National Association for Research and Therapy of Homosexuality (Associação Nacional para a Investigação e Terapia de Homossexualidade) foi formada recentemente para combater a politização de assuntos científicos e de tratamento. A NARTH defenderá os direitos dos terapeutas de tratar os homossexuais insatisfeitos. Somente poucos meses depois de seu início, mais de cem psiquiatras titulados, psicólogos, orientadores sociais e trabalhadores sociais se haviam unido a essa organização. A NARTH defenderá os direitos dos terapeutas de seguirem estudando e aperfeiçoando técnicas terapêuticas para homens e mulheres que lutam contra pensamentos, sentimentos e condutas homossexuais e que não a querem aceitar como parte de suas identidades mais profundas. Gostaria de apresentar meu apreço aos investigadores psicanalíticos mais precoces na tradição da etapa do pré-Édipo, do impulso reparador, que moldaram minha compreensão de meus pacientes, especialmente a Sandor Rado, M.D., Irving Bieber, M.D., e Charles W. Socarides, M.D.
  • 6. CAPÍTULO 1 ALBERT, O MENINO INTERIOR Albert entrou caminhando com cautela em meu consultório. Parecia inseguro, como se não soubesse por que viera ver-me. Olhou-me rápida e timidamente e logo se pôs a observar o Boulevard Ventura que aparecia por trás da janela. “Alegro-me em conhecê-lo, Senhor O’Connor”, disse a ele, convidando-o para que sentasse em uma poltrona, na qual ele se sentou com certa dúvida. Sentei-me na cadeira de frente para Albert e olhei o rosto pálido de um jovem vestido com gosto e, de certa forma, meio atarracado. Albert olhou ao redor da sala e logo comentou: “Gostei de suas plantas. Seu consultório parece um jardim botânico”. Sempre gostei muito da cor verde. Nas paredes de bosque verde estavam penduradas pinturas clássicas italianas da época do Alto Renascimento. Em cima do sofá, há um quadro delicado, de cor âmbar suave, de A Virgem e o Menino, de Da Vinci. Há plantas verdes exuberantes em macetas terracota italianas, que se elevam sobre as cristaleiras do quadro até o teto. Duas estantes maciças de livros arqueadas de nogueira escura dominam as paredes opostas, carregadas celestialmente com livros e com samambaias postas em macetas e heras que fazem cascatas. Sabia que Albert apreciaria o ambiente. Havia dito, por telefone, que trabalhava em um viveiro. Suas palavras seguintes foram: “Parece muito com meu quarto em casa, todo esse verdor”, sorriu ligeiramente. “Onde quer que eu esteja, gosto de estar rodeado por plantas e flores”. Albert falava em um tom ligeiramente afeminado, com a qualidade triste de um menino perdido. “Uma senhora veio hoje ao viveiro com uma samambaia doente”, ele dizia. “‘Não está lhe dando luz suficiente’, foi o que disse a ela, ‘as samambaias amam muita luz, assim como a luz indireta do sol’. Ela era muito sensível. Gosto muito de ajudar gente assim”. Um sorriso satisfeito cruzou seu rosto: “Ultimamente, tenho me sentido como essa samambaia doente, que não foi cuidada corretamente”. Senti uma fragilidade, quase uma delicadeza, em Albert, que parecia ter ficado distante em seu mundo de fantasia da infância. Albert vivia ainda com seus pais no mesmo rancho de distribuição irregular de Malibu em que havia crescido. Seu único irmão, um meio-irmão mais velho, já havia, há muito tempo, adquirido independência e se casado. Durante suas primeiras sessões, Albert estava tranquilo, às vezes olhando-me com seus olhos sinceros como se não soubesse o que dizer. Assim foi até algumas semanas mais tarde quando se sentiu cômodo o bastante para revelar seus intensos sentimentos sexuais. Albert se sentia como um menino pequeno preso em um corpo de homem, atormentado demais por desejos que não queria reconhecer. Enquanto me contava sua história, a imagem do bom menino se rompeu e suas palavras passaram a ser mais enfáticas. Logo sua voz se punha mais estridente, quase histérica.
  • 7. Em um dia de chuva, Albert começou a falar sobre um aspecto comum da experiência homossexual, que chamo de alienação do corpo. A maioria dos homossexuais descobre uma fascinação excluída de seus corpos, mais que a cômoda familiaridade que com frequência se percebe nos homens heterossexuais. De fato, é esse conforto natural com o próprio corpo que em geral faz com que os heterossexuais sejam tão atrativos para os gays. A exclusão de Albert de seu corpo era extrema. Ele havia sido educado em um lar em que o corpo masculino era considerado vergonhoso e sujo. Neste dia, ele se sentou em sua poltrona de forma quase desafiante, contando em sua voz infantil: “Foi uma semana ruim e andei tendo sentimentos estranhos. Ainda não fui capaz de superá-los”. E acrescentou com um tom de culpa na voz: “Tenho me sentido excitado”. “Tem sido uma semana ruim porque andou se sentindo excitado?”, perguntei. “Sim. Não tenho conseguido dormir. Tenho me sentido cansado sem saber por quê”. Continuou: “Agora me dou conta de que minha reação a qualquer sentimento sexual é sempre o medo e depois a ira”. “Sua ira é uma defesa contra o medo. Mas medo de quê? Por que seus sentimentos sexuais te assustam?” “Não sei.” Respondeu inutilmente. E então: “Sinto muitos conflitos, vergonha sobre algo físico, sobre mim”. Assenti, escutando. “Minha mãe sempre dava uma grande importância a tudo o que tivesse a ver com meu corpo”. “Verdade?” “Sim. Quando era pequeno, ela tinha um ataque do coração toda vez que eu urinava na cama ou algo do tipo. Se eu ficava doente, chamava todas as tias e tios, quase tendo um ataque de nervos. Até que um dia realmente enlouqueceu quando me pegou em uma espécie de brincadeira sexual com meu primo”. “O que aconteceu?” “Foi meu primo quem começou. Fez isso comigo durante vários anos. Nunca considerei o sexo como algo ruim. Nunca me dei conta do que me estava passando. De fato, pensava que era meu melhor amigo”. “Quantos anos você tinha quando começou?” Perguntei. “Cerca de 9, e meu primo 15. Era muito agressivo sexualmente. Sempre queria dominar. E eu me sentia solitário, não tinha ninguém. E...”, admitiu, “terei que dizer que estava desesperado para que alguém me quisesse. Agora tenho que perdoar a mim mesmo por ter aceitado sexo como amor. Eu permiti que meu primo fizesse comigo coisas que eu sabia que estavam mal e que eu odiava. Chorava em meu interior, mas seguia com o ato e lhe permitia que fizesse qualquer coisa que quisesse”. Perguntei: “Com que frequência acontecia isso?” “Muitas vezes. Cada vez que eu ia à sua casa, durante uns quatro anos”.
  • 8. “E quanto a seus pais? Onde estavam?” “Não sei onde estavam. Não tenho nem ideia. Só me sentia desamparado todo o tempo. Se não fizesse o que meu primo queria, não o teria como amigo. É um manipulador nato. Desde que era pequeno me manipulava para conseguir o que queria. Durante um longo tempo continuava com ele externamente, mas em meu interior nunca o quis. Inclusive, quando pensava que estava conseguindo amor, o que me fazia me produzia ódio”. Albert continuou: “finalmente, meu primo me deixou de lado. Uma ou duas vezes entrei no mesmo tipo de servidão sexual com outro garoto na escola, agradando-lhe para que fosse meu amigo. Não sei por que deixei que os homens me manipulassem. Creio que porque pareciam aventureiros e emocionantes e nos divertíamos depois”. Albert estava falando de uma espécie de aventura masculina ou de diversão que se perde ao se assumir o papel de um “bom menino”. “E o que sua mãe fez quando te pegou aquela vez com seu primo?” “Me castigou.... me bateu com uma cinta e me trancou por muitas horas no banheiro. Creio que seja por isso que sou claustrofóbico. Ela dizia que Deus havia destruído uma cidade inteira devido a gente que fazia coisas como as que eu fizera”. Albert continuou: “Como dizia, só tenho feito sexo algumas vezes desde esses incidentes com meu primo. Cada vez, estava de acordo externamente com ele, mas por dentro o odiava. Pensava: ‘não quero, isso é muito humilhante’. Mas logo no momento seguinte pensava: ‘Vamos, não é tão mal assim. Só era humilhante quando era molestado, na infância’. Entretanto, me sentia exatamente como um menino na hora do sexo”. Expliquei a Albert a teoria do impulso reparador – que seu jogo de sexo, quando era criança, era uma tentativa de explorar e assegurar sua própria masculinidade por meio do contato com outros homens. Como a maioria dos homens que entram na terapia reparativa, Albert experimentou um alívio e voltou a sentir segurança para compreender que sua conduta homossexual era uma tentativa de reparar a alienação que sentia de sua própria masculinidade. Albert me havia descrito uma infância muito isolada. Havia experimentado muito pouco contato com outros meninos e nenhuma afirmação de sua masculinidade por parte de sua mãe e de seu pai. Sentindo-se inadequado como homem, tentou encontrar atenção, afeto e aprovação masculinos (os três “As”, como explicava) por meio do contato homossexual. A vergonha à qual sua mãe o expôs só aprofundou seu sentido de alienação do masculino. “Você precisa se sentir mais relaxado e com mais aceitação em relação a seu corpo”, disse a ele. “Eu sei,” disse Albert. “Sinto que estou atrás do volante de um enorme caminhão, mas não tenho habilitação para conduzir. Sinto-me como um menino pequeno no corpo de um homem”, então sua voz infantil se alterou e subiu de volume, “é realmente duro para mim, muito duro. Sempre me senti tão culpado pela condenação de Deus quando não podia me controlar”. “Você sentia que seu corpo masculino nunca foi aceito por seus pais”. “Sempre odiei fazer a barba”, dizia, “e odiava sentir-me excitado. De fato, ainda o faço”. Como se estivesse sendo escutado e compreendido pela primeira vez em sua vida, Albert expressava livremente suas frustrações profundas e enterradas durante tanto tempo. “Qualquer
  • 9. função corporal parece um problema”. Suas palavras caiam como num repique. “Em momentos simples, em que tenho de fazer alguma coisa, meu corpo se esquenta, sinto-me muito tenso. Sei que vou acabar perdendo o controle e me masturbando. Logo me dá medo de que alguém perceba. Sempre tento forçar-me a ter um orgasmo antes de sair de viagem. Tenho medo de que, ficando na casa de um amigo ou acampando com alguém, tenha uma polução noturna. Me dá pânico imaginar que alguém veja que minha cama está molhada”. “Quando vou ao banheiro masculino, rezo para que esteja vazio. Então, vou até ao vaso e tento urinar” “Você tem vergonha de urinar?”, disse eu. “Quê?”, exclamou ele, olhando-me surpreso. “‘Vergonha de urinar’... Quando um homem tem problemas para urinar em um banheiro público. É uma afirmação relacionada com ser homossexual”. Ele manteve-se em silêncio e logo depois disse: “acho horrível ser uma pessoa sexuada que pode sentir-se excitado e ter uma ereção. Pior ainda, penso em ter relações com homens”. Logo perguntou tremendo: “por que mereço essa humilhação, Dr. Nicolosi? Que crime cometi?” “Seu crime”, respondi, “foi ter nascido homem”. “Sinto-me humilhado por meus sentimentos sexuais”, confessou. Logo depois, um lamento: “Estou totalmente, totalmente, totalmente envergonhado deles”. “A masturbação”, disse, “é a minha forma de castigar aos meus pais por não falarem comigo sobre sexo. Minha forma de afrontar à minha mãe, ao meu pai e à minha igreja por não me permitirem ser sexuado”. “É uma rebelião contra o fato de ter sido tratado como um ser neutro”, acrescentei. “Sua masturbação é, na verdade, uma autoafirmação”. “Sim”, disse Albert, com orgulho em sua voz, “é basicamente como dizer ‘que se fodam’ para todos os que me magoaram em minha vida. Faz quinze anos que estou nessa batalha. É uma forma de dizer aos meus pais: ‘vocês não me quiseram homem, assim tive de encontrar uma forma de me permitir sair!’” “Sabemos que os homossexuais tendem a masturbar-se mai que os heterossexuais”, disse- lhe, “é uma forma de fazer contato ritual como pênis... para conectar-se com a masculinidade perdida”. Albert assentiu, considerando isso. “Tenho tanto medo aqui dentro”, confessou, “Tenho medo de ser masculino, de ser um homem. É este o pensamento que me acusa: ‘Você realmente não pode ser assim!’” Seus ombros se levantaram em um profundo suspiro de desânimo. “Por que digo todas essas coisas a mim mesmo?” “É um guia que você segue”, disse. “Por que a sexualidade é agradável para os outros, mas não é para mim?”, queixou-se, “por que não
  • 10. posso crescer como os demais?” Ele se respondeu de forma tão precisa como eu poderia ter feito, dizendo: “Ainda não posso relacionar-me com minha mãe e meu pai como um adulto. Ainda me sinto como uma criança ao lado deles”. Já havia ouvido essas palavras muitas vezes de meus pacientes homossexuais. “Sei como ser um bom menino com minha mãe e meu pai, mas não sei como ser um homem perto deles”. Conforme passavam os meses, Albert progredia de forma lenta, mas significativa. Estava dando passos na autoafirmação e não se torturava tanto com a culpa por seus sentimentos sexuais. O caso de Albert é um dramático exemplo de um homem que não podia aceitar seus esforços masculinos naturais. Além dele, muitos homossexuais descrevem uma base similar de serem tratados como o puro e bom menino desprovido de sentimentos sexuais. Geralmente quem dá essa falsa identidade ao menino é sua mãe. O pai – que seria a única fonte válida de identificação masculina – permanece emocionalmente ausente, fracassando em intervir ou até mesmo em dar-se conta da influência excessiva de sua esposa. É bastante comum encontrar mães angustiadas na base do desenvolvimento de homens homossexuais. Essas mães intrusas e que estão em tudo buscam o melhor para seus filhos, mas são incapazes de reconhecer e responder às suas necessidades autênticas. “Recordo que minha mãe me dizia coisas positivas, mas eu sabia que não eram verdadeiras. Uma vez meus sentimentos foram feridos por outros garotos quando jogava kickball. Devia ter uns 8 anos e era muito descuidado. Lembro que minha mãe me disse: ‘’Oh, você não precisa desses meninos. Você é muito melhor que eles, em todos os aspectos’.” Riu-se com pesar. “Seu consolo me fez sentir bem, mas mesmo então suspeitei que estava mentindo. Segui com ele por que me sentia bem”. “E qual era a mentira?” “Que de alguma maneira eu era melhor que os outros meninos, que não precisava jogar com eles”. Ainda que a mãe de Albert fosse ansiosa e demasiadamente aplicada, paradoxalmente era também descuidada. Albert me disse que, quando era menino, havia tido infecções crônicas de ouvido. Em sua ansiedade para fazer as coisas corretamente, sua mãe lhe havia medicado exageradamente com uma ministração contínua de antibióticos. Como consequência, ele desenvolveu uma alergia severa à penicilina, que ainda hoje lhe causa problemas. Albert refletia: “Percebo agora quanta dignidade meus pais tiraram de mim”, continuou com a voz triste. “Só com o senhor me sinto livre para expor esse lado feio que tenho”. Calou-se e logo acrescentou em um tom desconcertante: “É estranho. Recentemente tenho começado a me sentir cada vez mais distante dos meus pais. Esse distanciamento é muito pequeno porque, apesar de tudo, ainda os amo”. “Não, não é pequeno”, assegurei. “Você está enfrentando inquietações importantes e que estavam enterradas durante muito tempo. Finalmente está conseguindo olhar honestamente para seus pais e para a forma como te afetaram. Você tem de voltar atrás para fazer isso”. Suspirando, com aparência de frustração: “Gostaria de poder te ver todos os dias durante um mês para poder me livrar do peso dessas lutas. Gostaria de ter um mês inteiro livre do meu trabalho para
  • 11. terminar com essa merda”. “Não pode ter pressa com o processo de autoaceitação,” disse-lhe. “Não é fácil mudar a forma como nos vemos. Requer trabalho, baseado em um processo gradual de pequenos êxitos”. Albert parecia não estar de acordo. “Bem, pelo menos tenho conseguido controlar a masturbação compulsiva. A batalha não é tão grande como era”. “Houve uma época em que estive mais de um ano sem me masturbar. Rezava, caminhava, fazia qualquer coisa que podia para tirar da mente os impulsos do meu corpo. Senti que a experiência era muito humilhante. Mas então comecei a perder o controle do meu corpo outra vez. Constantemente tinha fantasias homossexuais. Pensava em sexo o tempo todo. Sexualizava qualquer palavra que podia ser sexualizada. Por exemplo, cada vez que ouvia a palavra ‘vai’, pensava em orgasmo. Sentia-me muito assustado. E foi aí que te procurei”. Interrompi: “Mesmo que não a praticasse durante um ano, a masturbação ainda te controlava. Se quiser conseguir controlar isso, você terá de relaxar e ser mais tolerante consigo mesmo”. Ele resumiu sua confissão: “Quando me encontrava fora de controle, costumava falar coisas sujas. Podia escrever as histórias pornô mais asquerosas que você pode imaginar”. Riu-se totalmente: “Pornografia total”. Então acrescentou: “Era uma sensação de ódio. Uma reação de ira. Não era eu. Eu era sempre o pio são Francisco”. Sorriu cinicamente, “o que cuidava das árvores e das flores”. Albert padecia claramente de uma tendência obsessivo-compulsiva. Permitir expressar na terapia esses angustiosos “segredos sujos”, especialmente a outro homem, serviu para dissipar sua intensidade. Dizia, deixando-se apoderar novamente pela histeria: “como posso mudar o estado de confusão em que me encontro quando se supões que essa é a forma como devo ser? Um bom menino é o que meus pais querem. Entretanto, meu corpo me leva a uma direção diferente. Isso parece uma contradição”. “Certamente você está vivendo essa contradição,” indiquei “Está tentando ser tanto o bom menino como alguém que se masturba compulsivamente.” Prossegui: “e está tentando se excluir do seu próprio gênero, como se fosse um esquizofrênico”. Albert disse pensativamente: “Acho que minha conduta é uma resposta a todo o abuso que sofri quando era criança. Só por ser um menino. Lembro-me de pensar: ‘Deus meu, pode ser que, se fosse uma menina, meus pais me amassem’”. “Por que iriam te amar mais se fosse menina?” Perguntei. “Não sei”. Desconcertou a voz. “Mas minha mãe não podia ter controle sobre o fato de eu ser um menino. Quanto a meu pai, na verdade, não me amaria mais, de qualquer forma. Tinha muito pouco que fazer comigo. Quando ele resolvia ser um pai aplicado, fazia isso com David, seu filho do primeiro casamento”. Albert manteve-se em silêncio. Logo, trouxe à tona outra barreira de sua infância: “Minha mãe era quem mandava em casa. Estava em cima de mim e de meu pai o tempo todo, vinte e quatro horas por dia. Meu pai, como eu, estava totalmente esgotado por sua dominação. Duvido de que aquilo que ele me dissesse produzisse algum efeito sobre mim”.
  • 12. Sua voz se elevou outra vez ao nível da histeria enquanto dizia: “Por que não me lembro de coisas que meu pai e eu fizemos juntos? Por que essas lembranças estão tão enterradas, tão distantes?” Ele mesmo respondeu: “Porque qualquer recordação do meu pai é eclipsada por minha mãe. Tudo era dominado por ela... Completamente em seu poder”. Depois, quase um grito: “Por que acha que me sinto sem forças? Ainda estou debaixo de seu poder. Ela me vigia todos os dias, está no comando de tudo”. “Você tem toda a razão”, disse eu. De alguma maneira conseguiu acalmar-se. Logo seguiu com uma voz mais normal: “Não é a minha vida, é a sua vida que estou levando. Não é brincadeira. Todos os dias, surge alguma situação na qual é baseado nas palavras da mamãe que eu decido o que tenho que fazer. Quando estou de pé na cozinha comendo uma bolacha, sei que não deveria deixar as migalhas caírem no tapete de linóleo. ‘As migalhas atraem formigas, Albert’. Os cabelos que estão na pia do banheiro têm de ser limpos com um lenço de papel. ‘Os bons meninos deixam o banheiro exatamente como o encontraram, Albert’. Essas coisas da mamãe me vêm constantemente”. Era por isso que Albert se identificava com as plantas que cuidava. Tratava suas plantas da mesma forma que desejava ser tratado – gentil e amavelmente. “Dou-me conta de que tenho de fazer uma escolha”, disse Albert. “Posso escolher ser muito agradável e superficial enquanto estou com você aqui ou posso ser extremamente honesto e usar esse tempo para minha recuperação.” “Está certo,” disse-lhe. “A essência da terapia é recordar lentamente a ferida. Logo, recuperar lentamente o verdadeiro eu do qual sua ferida fez com que se excluísse”. “Desde que venho aqui”, disse ele, quase com ira, “Tenho me sentido mais como um menino pequeno, mais fora de controle e emocional. Tenho chorado mais nas últimas semanas que nos últimos cinco anos”. Expliquei a ele que a terapia traz para fora os sentimentos enterrados, e que tudo estava se passando como deveria. “Ultimamente tenho estado em um ponto no qual deixo que as emoções me dominem... Graças a você”, disse Albert repentinamente. Não estava certo se aquilo fora um sarcasmo, mas decidi não perguntar. “Como você se sente quando chora?”, perguntei. “Envergonhado, é claro. Quando era um menino pequeno, fiz uma promessa de não chorar e que sempre a cumpriria”. Sua voz soava com orgulho. “Mas este choro vem na verdade do profundo do interior. Vem de uma ferida real... Uma ferida profunda, como se eu tivesse sido arrancado de algo pelo qual ainda sinto um anseio profundo”. “Você ainda pode voltar a esse algo pelo qual sente um anseio profundo”, disse-lhe. “Como farei isso?” “Por meio da introspecção, e depois por meio das novas relações”.
  • 13. “Novas relações?” “Sim, porque somente a compreensão intelectual não é capaz de nos transformar realmente”. “E o que devo fazer?”, perguntou Albert de forma pensativa. “As novas experiências é que nos transformam. Você ainda não está experimentando intimidade não-sexual com um homem. Esse é o próximo desafio sobre o qual deve trabalhar”. Albert sempre aparecia regularmente em seu horário. Nunca chegava um segundo atrasado, como se considerasse precioso cada momento. Um dia me disse – no que estava se convertendo em um tom mais firme, mais assertivo – “Comecei a realizar progressos maiores aqui. Grandes raios de iluminação, choques de consciência. Posso ver que estive progredindo”. Um dia anunciou algo do qual não havia me falado. Disse: “foi minha mãe que, na verdade, me incentivou a buscar a terapia. Ela via que estava só e que não era feliz, por isso pensou que poderia me ajudar a falar com alguém. Não ganho muito dinheiro no viveiro, por isso ela e meu pai me dão dinheiro para poder vir”. Estava surpreso. Ela não parecia uma mulher que quisesse que seu filho conhecesse mais acerca de seu verdadeiro eu. Com certeza, ela não sabia os temas reais dos quais estávamos tratando. “Isso é muito compreensível da parte de seus pais”, disse. “Na verdade, da minha mãe”, corrigiu. “Meu pai só segue sua decisão”. Aquilo me pareceu delicado. Como dizem em Hollywood: “não há coisa igual a um almoço grátis”. Entretanto, minha preocupação era que Albert pudesse se sentir comprometido pela generosidade deles. Perguntei: “como se sente quanto ao fato de seus pais pagarem sua terapia?”. “Bem!”, disse enfaticamente. “Eles me meteram nesse saco, agora que me tirem!” Isso tinha sentido, dadas as circunstâncias de Albert. Aceitando sua resposta pelo momento, fiz uma nota para estar atento a qualquer intrusão dos pais. “Recentemente tenho me visto olhando mais para os homens”, disse-me Albert. “Mentalmente, vejo muitos homens, como em uma vitrine, o que só me faz sentir pior. Saí em uma noite dessas e me senti atraído por um cara que vi, deve ter a minha idade – mas, ao mesmo tempo em que sentia essa atração magnética por ele, sentia também uma necessidade de me afastar”. “Creio que a razão pela qual você se encontra olhando para outros homens”, disse, “é que você ainda não tem uma imagem masculina apropriada dentro de você, e assim busca essa imagem masculina no exterior”. Albert assentiu: “boa parte da atração se baseia na curiosidade, em querer saber como são os outros rapazes!”, havia som de desespero em sua voz. “Mas que parte de você se manifesta bruscamente nessas situações?” “A parte que sente medo dos homens”. Ouvi a ambivalência do mesmo sexo de Albert, tão característica da condição homossexual. Mesmo quando erotizava os homens, sentia-se incômodo
  • 14. em sua presença. Logo Albert parecia sentir necessidade de fugir de uma confrontação com sua ambivalência dolorosa. Em vez disso, voltou a uma discussão sobre sua infância feliz. Decidi ir com ele. “Gostaria de poder esquecer todos os conflitos de sexo e maturidade”, dizia. “Gostaria de voltar ao amor que sentia tão livremente quando era um bebê e era feliz somente por existir. Depois disso, as realidades da vida transformaram tudo em um pesadelo”. “O que foi, exatamente, que fez com que uma existência tão feliz se tornasse tão amarga?” Perguntei. Seguindo outro curto silêncio de Albert: “Creio que quando perdi esse sentido profundo de vinculação com minha mãe, começou o medo. Quando me emancipei de minha mãe, não havia identidade adulta na qual me encaixasse. Tinha esse sentimento de estar suspenso, abandonado”. “E, de alguma forma, estava. Em um período crítico do seu desenvolvimento – a fase de identidade de gênero – você tinha que se individualizar de sua mãe e desenvolver uma identificação com seu pai. Era seu pai que personificava as petições do mundo exterior. Como dizia Freud, o pai personifica o Princípio da Realidade. Mas você nunca recebeu o apoio necessário dele e de qualquer outra figura masculina”. De repente, Albert mudou de tema, voltando a retratar o tema mais agradável de sua infância dos sonhos. “Costumava desenhar muito. Era um bom artista. Todos os desenhos eram de coisas femininas – rosas, pássaros de cores, bailarinas... Nenhum soldado ou carro, só imagens de beleza. Nunca desenhava homens. Não tinha boa imagem dos homens na minha cabeça. Na verdade, não estava seguro de como deveria parecer um homem. Se tentava desenhar a Sagrada Família, o menino parecia normal – com uma cara de bebê genérica. Mas passava a maior parte do tempo criando a Virgem Maria. As pregas e dobras de sua capa, seu cabelo, seu nariz, seus lábios. Tentava criar, com empenho, a última e mais bonita Virgem. Quando chegava são José, não tinha ideia. Simplesmente não podia desenhar seu rosto. Então, quando tinha 11 ou 12 anos, lembro-me de tentar desenhar quadros pornográficos e me sentir muito insatisfeito porque não podia desenhar um homem. Sentia raiva porque fazia homens que pareciam femininos. Tentava desenhar um quadro pornográfico masculino, mas sempre terminava parecendo a Virgem.” Fingindo um tom pio, disse-lhe: “Certamente Deus se agradava mais da Virgem que da pornografia”. “Provavelmente.” Albert riu. “Mas sabe, talvez seja essa a razão pela qual alguns gays tornem- se desenhistas de moda feminina... Ainda olham suas mães como a Virgem.” Acrescentou: “Minha mãe sempre costumava me confundir para decidir onde começava ou terminava”. “Até mesmo agora, quando falo com uma cliente no viveiro, conecto-me com ela... Sinto-me como ela, igual a ela. É como se fossem duas mulheres conversando. E eu não quero isso. Lembro-me de quando era adolescente e levei uma amiga à Dairy Queen. Por fora, parecíamos noivos, mas, internamente, sentia que éramos iguais. Ugh! Odeio isso! Quando volto a pensar naquilo, fico cheio de desgosto!”
  • 15. Estava contente de ouvir Albert descrever seu desencanto, sabendo que sua individuação do feminino estava agora no caminho certo. “Sabe”, disse Albert, “Tem vezes que você quer ser por você mesmo. Por sua masculinidade”. “Tenho tentado definir meu corpo, por isso coloquei alguns pesos na garagem, onde me exercito. Quando estou suado, fico somente com roupa de baixo. Assim, quando minha mãe entra em casa, ela percebe que eu estava malhando e diz: ‘Oh, que bom! Vamos nos exercitar juntos!’. Mas eu não quero fazer exercício com ela! Ali estou, suado e só de samba-canção, mas nada disso parece desconcertá-la...” “Minha mãe e eu pertencemos ao mesmo clube de saúde e ela quer que eu continue indo com ela. Ela cresceu em uma família que estava sempre junta,” disse Albert. “E essa é sua interpretação da forma como as coisas deveriam ser: sempre juntas”. “Talvez você mesmo devesse explicar isso a ela. Ela nunca foi um rapaz, não sabe como se sente”. A queixa de Albert sobre seus pais era bastante típica dos homossexuais: quando era criança, nunca conseguiu bastante de seu pai, mas tinha em excesso de sua mãe. Enquanto ressentia-se da ausência do pai em sua vida, ressentia também a intrusão e interferência da mãe. O pai nunca teve autoridade e a mãe esgotava o poder que tinha. Eu o exortei: “Explique a sua mãe que está tentando seguir seu próprio caminho”. Em um tom de desânimo, Albert disse: “O problema é que não sei como dizer”. Parecia desconcertado. “Não creio que me entenda. Sempre terminamos discutindo”. “Ela tira sua energia”, comentei. “Exatamente. Ninguém tira minha energia como minha mãe”. Repeti: “Ninguém pode tirar sua energia masculina como sua mãe”. Albert exalou um forte suspiro, com tristeza em seu rosto, enquanto se permitia explorar seus pensamentos mais ocultos. Decidi conduzi-lo para uma ideia relacionada: “E essa é a razão pela qual você tem medo de ter intimidade com mulheres”. “É mesmo?” Disse com a voz de um menino surpreendido. “Sim. Porque não confia nas mulheres. Tem amigas platônicas, mas quando começa a se sentir mais íntimo de uma mulher, tem medo de perder o controle para ela. Tem medo de que ela tire seu poder pessoal como faz sua mãe”. Logo perguntei: “Você consegue falar com sua mãe e dizer-lhe como se sente quando está com ela?” “Ela não me entende”, disse de forma tranquila, mas firme, “se tento explicar a ela minha necessidade de independência, ela se sente rejeitada e insultada”. “Tem alguma coisa que você sente que está preparado para dizer a ela?”
  • 16. “Sobre os déficits, as necessidades”. “Bem,” assenti. “Essa é a essência do problema homossexual, de todas as formas. Fale com ela em termos de querer desenvolver um sentido mais sólido de sua masculinidade”. Albert seguiu falando: “Durante as últimas duas semanas tenho estado andando de bicicleta com Jack, um garoto que conheci no clube de bicicletas que frequento. Fazemos dez milhas na estrada da Costa antes de ir ao viveiro”. “Muito bem. E você desfruta de sua companhia?” “Sim. Levanto-me pela manhã, e não é como esse sentimento fraco de arrancar-se da cama. Gosto de levantar cedo, justo quando começa a amanhecer e a brisa da costa ainda está fresca”. “Jack e eu nos damos verdadeiramente bem, e em grande parte porque não me preocupo quanto ao que pensa de mim. Mas ainda sou sempre um pouco tímido quando ando de bicicleta. Preocupa-me que alguém possa estar me olhando e pense: ‘Oh, esse cara é marica’. Às vezes me dá certo medo de esbarrar em uma pedra e cair de bunda no chão. Mas tão rápido quanto entro no calor, o pensamento se desvanece. Digo a mim mesmo: ‘pense somente no que está fazendo’. E quando deixo de olhar para mim mesmo e paro de pensar no que pareço, me encho desse sentimento de poder”. “Está fazendo um bom progresso. Tem um fogo em seu interior e o desafio agora é mantê-lo aceso. Depois de conseguir uma boa chama acesa, começa ela começará a se extinguir se não puser outro tronco sobre ele.” “A chama é o seu momento de desenvolvimento e os troncos são novos desafios. Um tronco será o desafio de falar com sua mãe. Ainda outro pode ser esses passeios a longa distância de bicicleta. Mas outro tronco será manter essas amizades masculinas. Essas são as coisas que deixam o fogo aceso”. Poucos meses depois, Albert entrou em meu consultório e falou emocionado: “Na última vez que te vi aconteceu algo absolutamente incrível”. Sua voz era muito mais forte agora. Inclusive sem toda aquela emoção histérica, havia perdido esse timbre. Já não evitava encontrar meu olhar, dirigindo-se a mim diretamente. “Na última sessão me senti fraco e sozinho. Creio que sentia pena de mim mesmo. Mas você me deixou inquieto. Você me desafiou e tenho que dizer que doeu. Assim, quatro noites depois, Steve, do nosso grupo, me chamou e também me deixou inquieto”. “Sério?”. Estava gratamente surpreendido de que Steve pudesse ter uma intervenção tão decisiva. “É como se ele tivesse me iluminado. Aquela sensação que ocorre uma vez ou outra. Disse: ‘Você realmente tem de sair dessa e lutar’. Disse-me para deixar de me queixar e crescer. Senti-me insultado e disse: ‘o que você quer dizer? Não posso acreditar em você, Steve’. Mas ele continuou: ‘está fazendo um grande festival pena por Albert O’Connor. Não lembra desse livro de Van den Aardweg? Deixe de levar isso tão a sério! Se quer sair dessa autocompaixão, pode exagerá-la por um tempo, mas depois tem de rir dela’. O que Steve me disse doeu muito”. Suspirou. “Depois disso, me senti bastante deprimido, como se tivesse sido traído. Havia recebido uma maldição dupla. Primeiro você, depois ele. Pensei: ‘Que merda! ’. Mas logo comecei a raciocinar: ‘Steve tinha razão. Os dois têm. Vocês estão dizendo a mesma coisa’”.
  • 17. “E, desde então, quando sinto que vem a autocompaixão, procuro apagá-la a uma proporção quase ridícula de propósito para depois rir de mim mesmo”. Continuou: “Disse que tenho tido muito poucas tentações recentemente para entrar nessas maratonas de masturbação compulsiva. Realmente estou começando a compreender as coisas agora”. “Estão acontecendo coisas”. Estava encantado com seu progresso. “É incrível, tão libertador! Sinto-me vivo pela primeira vez na vida!” Albert continuou, depois, falando de seu clube de bicicletas. Disse: “Senti-me um pouco fraco o princípio ao lado daqueles ciclistas de longa distância, mas segui participando. Na semana passada notei uma garota que encontrava em um desses clubes de ciclistas. Não é uma beleza extraordinária, de forma alguma – tem espinhas no rosto. Mas havia algo em sua personalidade que me atraía. Não era sexual, mas pela primeira vez não me senti como uma das garotas. Senti-me como eu mesmo, da minha forma”. Recordar seus sentimentos sobre a moça o levou a associações sobre seu corpo e continuou: “Inclusive agora, sentado aqui, não sinto timidez por causa do meu corpo”. “Por quê?” Perguntei. “Neste momento sinto-me a vontade fazendo qualquer coisa com minhas mãos”. Agitou sua mão direita no ar, depois perguntou: “O movimento da minha mão é um movimento amaneirado... Sabe afeminado? De qualquer forma, não me incomoda, como quer que chame”. “É só algo que se move – uma mão,” disse. Logo acrescentei: “Estão acontecendo muitas coisas boas a você”. Pela primeira vez na sessão, pareceu preocupado. Disse: “Mas você já me viu animado assim antes, para logo depois me ver cair”. “Sim,” disse. “Você caiu, sim, mas e daí? Você pode ter muitas quedas, mas isso não é importante. O que é importante é aprender com suas quedar e reduzir seu tempo de recuperação”. “O que você quer dizer com ‘tempo de recuperação’?” Expliquei: “É o tempo entre a queda e sua volta ao ímpeto. Recusar-se a afundar na auto derrota é essencial”. “Quando estou nesse ímpeto, sinto como se tivesse sido libertado”. Parecia mais feliz. “Só de estar aqui, sinto que sou meu verdadeiro eu”. “Este é seu verdadeiro eu,” disse. “O eu que é espontâneo, igual, que fala francamente, diretamente e em intimidade com outro homem. O eu que não precisa romantizar ou invejar aos demais homens”. Pensei: “Pouco a pouco, Albert está-se libertando”. Na sessão seguinte, Albert pôs em questão um tema importante. Logo que sentou, me disse: “Recordo que minha mãe sempre estava realmente tensa, nervosa, ansiosa – especialmente com
  • 18. minha saúde. Na verdade, estava obcecada. Em parte porque quando ela era menina sua própria saúde era bastante frágil”. “Minha mãe tinha dores de cabeça muito fortes quando era criança. Creio que me transmitiu o pânico que sentia por essas dores. Quando era pequeno, eu tinha muitas dores de estômago. Ela entrava em pânico. Era o fim do mundo quando tinha essas dores de estômago. Sempre me servia chá de gengibre e me deixava em casa, sem aula, durante uma semana”. “Qualquer resfriado era desproporcionalmente exagerado com horror. Minha mãe nunca via as doenças e as dores como naturais. Era como se nossa família tivesse cometido algum crime espantoso e estivesse sendo castigada por isso por meio das doenças. Creio que por isso andar de bicicleta era tão importante para mim. Quero apagar essa imagem de corpo frágil”. “Quando experimentava o êxito era como caminhar em uma corda bamba. Sabia que podia cair a qualquer minuto, por isso não desfrutava da situação. Minha mãe sempre me recordava que poderia acabar me ferrando, por isso nunca me sentia bem, nem feliz, nem emocionado”. A fala de Albert me lembrou o significado do conceito de poder intrínseco da Dra. Althea Horner, que o define com o lema: “Sou”, “Posso” e “Consigo fazer”. O valor desse poder intrínseco é transmitido pelos pais. O sentido de poder do menino está essencialmente unido à sua masculinidade. É por meio de sua masculinidade que se descobre esse poder intrínseco. Assim, se não se sente completamente masculino, sempre se sentirá, de alguma forma, sem poder. Albert disse: “Não só estive levantando cedo para andar de bicicleta, como também tive, hoje, o desejo de sair para jogar basquete. Nunca havia feito isso quando era criança. Depois de todos esses anos, ainda queria ter a sensação de ter uma bola em minha mão e saber o que se sente ao metê-la em uma cesta. Não me importava se parecia um amador”. Comentei: “Sabemos que uma transformação genuína tem lugar quando descobrimos muitas manifestações pequenas de mudança. Todas juntas representam que algo está mudando verdadeiramente. Realmente há algo se passando em seu interior.” “Ouço as pessoas dizerem que os homossexuais não devem tentar mudar”, disse Albert com irritação em sua voz, “que um homossexual deve seguir seus sentimentos, quer goste deles ou não”. Seu tom de voz se fez inflexível. “Mas quem são eles para dizerem que não se deve buscar mudança? Nunca me senti bem vivendo como vivia. Pouco a pouco estou me convertendo em uma pessoa diferente. Finalmente estou conseguindo ser eu mesmo”. O dia em que Albert deixou a terapia foi quase três anos depois do dia em que entrou pela primeira vez em uma consulta. Seu discurso era muito mais seguro. O ataque de histeria ocasional havia desaparecido. Sorria com mais frequência e falava que um dia possuiria seu próprio viveiro. Algumas mães, como a de Albert, chegam a exigir tanto que seus filhos estejam disponíveis para elas que isso tem, como preço, a individuação masculina do menino. Estão tão presas em suas próprias necessidades narcisistas que nunca veem as necessidades de seus filhos. Como disse Robert Bly: “As mulheres podem fazer meninos, mas só os homens fazem homens”. Não havia homem que fizesse a Albert porque seu pai não fora forte o bastante para interromper a relação insana entre mãe e filho. Albert tivera que sobreviver emocionalmente com um pai que não sabia como relacionar-se com ele. Para fazê-lo, havia desenvolvido uma exclusão auto protetora em relação aos homens. Criado pelo psicanalista britânico John Bowlby, o termo exclusão defensiva foi adaptado à homossexualidade pela psicóloga Elizabeth Moberly. Descreve a manobra auto protetora infantil de um menino contra a ferida emocional.
  • 19. A relação dolorosa de Albert com seu pai teve, como consequência, uma exclusão defensiva. O trauma (que pode ser causado pelo abandono, pelo abuso ou pela hostilidade) produz medo, que é a base da alienação. Quando estamos impressionados pelo medo, permanecemos alienados daquilo que o produz. A exclusão defensiva de Albert foi transferida para sua relação com outros homens. Distanciado emocionalmente dos homens e da masculinidade, os romantizava. Representavam a parte de si mesmo que não havia desenvolvido. Ainda que se apaixone por outros homens e tenha intimidade sexual com eles, o homossexual nunca se permite identificar-se com a masculinidade. Admira-a, romantiza e até pode viver o papel masculino de forma superficial, mas mantém uma resistência interna em reivindicar sua identidade masculina plena. Essa resistência da exclusão defensiva emerge nas relações masculinas em forma de crítica, de encontro de culpas e de promiscuidade. O homossexual pode amar a outros homens, mas existe também a hostilidade e o medo deles. Assim, suas relações com os homens são invariavelmente ambivalentes. Somente em relações masculinas de longa duração, íntimas, de aceitação, honestas e não sexuais, o homossexual pode começar a resolver a exclusão defensiva que produz a ambivalência do mesmo sexo. Albert havia começado a solucionar essa exclusão através de relações com muitos homens: eu mesmo, os homens do trabalho e os de seu grupo. Cada um de nós, homem ou mulher, é conduzido pelo poder do amor romântico. É uma das formas pelas quais a natureza assegura a perduração da espécie humana. As relações amorosas ganham seu poder de nosso impulso inconsciente para chegar a ser um ser humano pleno. Nos heterossexuais, essa fonte de impulso une ao homem e à mulher por meio do desejo mútuo. Mas nos homossexuais o impulso é uma tentativa de satisfazer um déficit na totalidade do gênero original. Assim, dois homens nunca podem compreender-se mutuamente de maneira plena e aberta. Não só existe uma inadaptação anatômica natural como também uma insuficiência psicológica inerente. Os dois amantes chegam à relação com o mesmo déficit, buscando simbolicamente completar seu gênero original. Por volta de um ano depois, Albert me chamou por telefone para uma atualização de pontos, como a chamamos. Desde o fim de sua terapia, havia se unido a um grupo de apoio a ex-gays que, disse- me, havia-lhe sido de grande ajuda. Com esse grupo, havia continuado explorando as relações passadas com seus pais para compreender o impacto que permanecia em sua vida. Albert me falou de uma amiga, Helene, que havia conhecido no viveiro. “Ela ama as violetas africanas”, disse-me com entusiasmo. Haviam saído continuamente durante meses. Antes que pudesse perguntar, Albert disse: “Sim, ela sabe de tudo”. Descreveu Helene como “a melhor amiga que já tive em minha vida. Posso dizer a ela tudo o que se passa em minha mente ela me apoia”. Ele disse que sua relação era “física, mas ainda não sexual”. A descrição de Albert de seus sentimentos por Helene não era incomum para um homem com uma base homossexual. É comum para esses homens proceder lentamente em direção à intimidade sexual com uma mulher. Seus relacionamentos com frequência se desenvolvem em três artes: amizade, depois afeto e, posteriormente, a expressão desse afeto por meio da sexualidade. Isso está em contraste com o homem heterossexual, que primeiro se sente atraído sexualmente pela mulher para depois conhecê-la como amiga. Muitos homens com base homossexual esperam encontrar-se atraídos pelas mulheres da mesma
  • 20. forma que os heterossexuais. Entretanto, as formas de aproximar-se das mulheres podem ser diferentes para cada um. Os homens ex-gays necessitam estar seguros disso por sua história. Podem tomar um caminho diferente – amizade primeiro, sexo depois – para o mesmo objetivo. Sobre suas atrações homossexuais, Albert disse: “É muito diferente do que foi no passado. Agora, graças a Helene, meu objetivo é reivindicar completamente a heterossexualidade que nunca desenvolvi. E me sinto responsável em nossa relação... Já não sou só eu, somos Helene e eu. E, portanto, quando aparecem essas velhas atrações, digo: ‘o que se passa aqui? ’, logo posso perceber que esses sentimentos por outros homens têm a ver com sentimentos por mim mesmo, como medo, estresse etc.” Continuando, Albert me disse: “Compreendo essas atrações como algo que não recebi quando era pequeno – algo que merecia. E estou conseguindo cada vez mais o que necessito com meu grupo de apoio e abrindo-me aos demais homens, algo maravilhoso para mim”. Perguntei então: “Isso significa que suas atrações não desapareceram por completo?” Em um tom inusitadamente decisivo, respondeu Albert: “Creio que sempre podem voltar, agora ou depois, dependendo da profundidade da carência. Vejo meu crescimento como um processo contínuo. Conseguir amor e apoio de Helene e dos homens de meu grupo de apoio faz toda a diferença”. Enquanto falava, Albert parecia compreender, por fim, o conceito de falso eu – a estrutura de identidade que jaz por trás da etiqueta do eu gay. “Sigo compreendendo minha educação e seus efeitos sobre mim no presente. As mensagens que recebia quando era pequeno eram: ‘você é fraco, não é macho, não é nada’. Na adolescência mudou para ‘deve ser gay’. Agora estou buscando refutar essa falsa identidade que os outros tentaram me impor – uma identidade que me fizeram crer que era minha. Não. Não sou gay. Agora estou determinado a ser o homem que quero ser, e não a apaixonar-me por ele”.
  • 21. CAPÍTULO 2 TOM, UM HOMEM CASADO Thomas James entrou em meu consultório de Encino – um homem surpreendentemente atraente, cerca de 1,80m de altura. Seu rosto era liso, bronzeado e limpo. Seus olhos eram de um azul intenso que combinavam com a cor pastel de sua pólo. Usava calças chino grossas e mocassins marrons. Ofereci a mão e sorri. Tom devolveu a saudação com um rápido e forçado aperto de mãos. Logo, deixou cair seu corpo magro na cadeira estofada que lhe indiquei. Enquanto se sentava em seu lugar, seus olhos percorreram a sala como se estivesse avaliando. Depois, estando satisfeita sua curiosidade, inclinou-se para frente e começou a falar: “Primeiro, Dr. Nicolosi, deixe-me apresentar os fatos. Tenho 40 anos. Fui casado por 15 e tenho dois filhos: um menino de 10 anos e uma menina de 7. Sou dono do West Valley Sporting Goods e, para dizer sem rodeios, tenho me dado muito bem nestes dez anos em que tenho esse negócio” . Acendeu um cigarro, tragou-o impacientemente e o depositou no cinzeiro. “Minha esposa, Cynthia, e eu nos separamos há poucos meses. Eu tive uma aventura com um garoto jovem, Andy, que trabalhava para mim na loja. Tem 24 anos”. Ele riu. “Eu poderia ser seu pai”. “Quando Cynthia ficou sabendo, ficou furiosa. Disse: ‘quero que pegue suas coisas e vá embora dessa casa hoje mesmo’”. “Quanto tempo faz isso?” Perguntei. “Seis meses. Saí de casa deixando minha esposa e meus dois filhos para viver essa terrível vida solitária”. Houve um silêncio. Depois, ele disse: “Doutor, realmente não gosto da minha esposa. É uma boa mãe para meus filhos, mas muito negativa comigo e com tudo o que me diz respeito. Somos muito diferentes... Sou ambicioso e gosto de sair, enquanto ela está sempre ocupada com a casa e com as crianças. E controla tudo em casa. Sinto-me como um anão de enfeite de jardim dentro de casa”. Assenti: “Bom, diga-me, como ela ficou sabendo de sua relação com Andy?” “Foi em um sábado à noite. Senti que tinha que sair de casa. Não havia descansado – como me acontece com frequência – de forma que chamei Andy e combinamos de nos encontrar em um bar gay que costumávamos frequentar”. “Em meu caminho para a porta, Cynthia me deteve e quis saber aonde eu ia. Pela primeira vez, não
  • 22. sei o porquê, soltei impulsivamente toda a história. Disse-lhe que era gay e que iria ver meu amante”. “Ela ficou pasma. Disse: ‘em todos esses anos que vivemos juntos, por que nunca me contou?’. A princípio não sabia o que dizer. Depois, confessei: acho que é porque pensava que poderia viver ambas as formas de vida”. “Disse, então, que Andy era meu amante. O rapaz era um amigo da família. Como sua família vive fora da cidade, havia estado conosco nas últimas festas de Ação de Graças e Natal”. “Quando ouviu que Andy era meu amante, Cynthia ficou realmente furiosa. Disse: ‘quer dizer que andava fazendo sexo com esse garoto pelas minhas costas enquanto o recebia em minha casa?’” Tom fez uma pausa durante um tempo, pegou seu cigarro e se tombou no sofá. Olhando ao redor da sala, soprando sobre seu cigarro e exalando profundamente, parecia a caminho de um complacente momento de tranquilidade. Depois, chegou ao núcleo do que o estava inquietando: “Na verdade, pensava que seria mais feliz fora de casa. Nenhuma exigência de nada... só responder por mim mesmo. Mas desde que deixei minha família tenho me sentido sem valor, vazio”. Moveu a cabeça com tristeza. “Fazer sexo com um homem é uma situação solitária. As relações entre homens não duram, e em parte se deve à desonestidade dessas relações. Há muito engano. Esse é o meu maior medo de ser gay. Terminar sozinho, não ter ninguém comigo em casa”. Suas seguintes palavras foram súbitas e mordazes, como se fossem cheias de repressão: “Não sei por que estou aqui, Dr. Nicolosi. Tudo o que sei é que não gosto do que fiz com minha vida. Enganei minha esposa, enganei minha mãe. Os últimos três homens que vieram se foram. Até mesmo Andy me deixou e agora estou completamente sozinho. Perdi meus filhos... Agora, nem sequer me sinto bem indo vê-los. Não tenho um verdadeiro lar. Quando vou para casa ver meus filhos, me pergunto: ‘será que minha esposa falou para eles de mim, de minha homossexualidade?’. Sinto-me terrivelmente deprimido e não sei para onde está me conduzindo essa nova vida”. Mais silêncio. Depois, encolhendo os ombros amplamente, disse: “Tenho vivido uma mentira durante tanto tempo que não sei se posso ser restaurado. Pode ser que eu sequer queira ser curado. Um passo para trás e outro para frente, um para trás e outro para frente. Às vezes penso que não existe uma resposta”. “Então deve ter ouvido que ajudo homossexuais e transformarem sua sexualidade”. Assentiu. “Ouvi que seu trabalho está muito distante do politicamente correto. Que há muitos terapeutas gays que não gostam de você pelo que faz. Mas eu gosto do que ouvi falar de você e esse é o motivo pelo qual estou aqui”. “Ótimo”, estava feliz por ele ter compreendido meu enfoque desde o princípio. “Porque se você quer ajuda para divorciar-se de sua esposa para ter uma vida com seu parceiro gay, não me dedico a isso. Por outro lado, se quer compreender por que é homossexual e o que pode fazer para mudá-lo, podemos começar agora mesmo”. Tom olhou-me com apreço e riu. “Gosto do seu enfoque. Não perde tempo, não é?”. Tragou profundamente o cigarro e o pôs no cinzeiro. “Por onde começo?”
  • 23. “Diga o que preciso saber para te ajudar”. Quando, na semana seguinte, Tom entrou no consultório, parecia sério e preocupado. Fazendo apenas uma pausa para me cumprimentar, continuou com o relato de sua história. Enquanto me falava de si mesmo, se fez aparente que Tom era, de alguma forma, diferente da maioria dos homossexuais que me procuravam. Como a maioria dos clientes, Tom descreveu uma queixa enorme contra seu pai. Como eles, tinha um sentimento interno de inadequação como homem. Por outro lado, Tom não mostrava evidência externa de déficit de inadequação de gênero. Não tinha problemas de asserção com os demais homens e tratava energicamente aos demais ao dirigir o negócio. Era geralmente enérgico ao perseguir o que queria. Parecia divertido e confidente. Entretanto, debaixo disso, tinha a fragilidade emocional típica de muitos clientes homossexuais. Tom, além disso, não dirigia suas relações pessoais da forma como dirigia suas relações de negócios. Com as relações de amor, tinha a tendência de ser passivo, como fez com Cynthia, com Andy e com seus filhos. Essa obediência era parte de um modelo de relação que começou em tenra infância. Tom me falou de seus problemas nas relações com os homens: “Já houve alguns homens magníficos que tentaram aproximar-se de mim e serem meus amigos, mas uma vez que se aproximaram, eu dizia: ‘Fora!’. Gosto mais de quando posso sustentá-los em meus braços, quando são mais jovens ou menos poderosos e posso controlá-los”. Com uma risada irônica: “Talvez seja por isso que me sinta tão livre no trabalho: ali sou o chefe”. “Mas não sei,” continuou “Da mesma forma que necessito desse sentimento de ter o controle, há vezes em que pareço perder o controle tão rápido que deixo o sexo dominar as coisas.” “Você sabe,” acrescentou. “Uma vez que se sexualiza os sentimentos por um homem, não há como ser seu amigo. É uma vida de ame-os ou deixe-os”. Sua voz ficou séria. “Acho que a terapia é a única relação íntima que terei com um homem sem sexualizar a relação”. “Essa é uma introspecção excelente,” disse eu. “Com efeito, essa é a essência da terapia reparativa – aprender a estabelecer relações íntimas e não sexuais com outros homens. Porque, como a maioria dos homossexuais, você tem muito mais que um simples problema sexual. Você necessita de algo dos outros homens. Quais são essas necessidades básicas que você busca suprir em uma relação com um homem?” Pensou durante um minuto e logo respondeu abruptamente: “Preciso de emoção”. Sua voz era sincera, querendo que eu compreendesse a intensidade de sua necessidade. “Consigo um sentimento especial de excitação com essa atenção masculina. Tem algo que se aviva dentro de mim quando faço sexo com um homem”. Buscando palavras, continuou: “Há uma eletricidade, um poder que essa carga de masculinidade que me dá”. Pensava que era hora de explicar a Tom como a conduta homossexual é evidência do impulso reparador para satisfazer três necessidades emocionais, necessidades nunca satisfeitas na relação com o pai: afeto, atenção e aprovação. Como a maioria dos homens extrovertidos, Tom reclamava a atenção na maioria das vezes. “Quando era menino, nunca tive amigos homens, por razões que bem podem ser circunstanciais. Os meninos da minha idade pareciam distanciar-se e eu sempre terminava sozinho com minhas irmãs. De alguma forma sempre me senti enganado pelos amigos homens”.
  • 24. Incentivei-o para que me contasse mais de sua infância. “Muito da minha infância é um vapor. Sequer lembro muito bem da relação dos meus pais comigo ou de muito do que se passou em meus primeiros anos. A maior parte é como um vazio”. “Pode recordar de alguma coisa?” Perguntei. Fez uma pausa e logo disse bruscamente: “Meu pai me prometeu que me daria um coelho uma vez, mas nunca me deu. Minha irmã prometeu que me levaria a uma festa de carnaval uma vez, mas logo se esqueceu. Nunca senti muita alegria enquanto crescia”. “O que mais?” Pensou um momento e logo recordou: “Quando tinha 10 anos, me senti realmente entusiasmado quando um garoto mais velho que morava ao lado da minha casa me pediu para que fosse com ele jogar beisebol. Mais tarde, implicou-me em jogos e práticas sexuais”. “Isso é interessante.” Comentei. “O que é interessante?” “Que as únicas recordações que você trouxe à luz são de enganos”. Tom riu amargamente. “Deve ser meu estado de ânimo, devido à minha ruptura com Andy”. Ele tentou minimizar a importância da minha interpretação e eu lhe disse que não concordava que somente o estado de ânimo estivesse por trás da coleção particular de recordações apresentada. Com efeito, o desencanto e a traição na infância é um tema repetido na vida de meus clientes. Na idade adulta, permanece o medo de que se sintam vulneráveis. Perguntei: “Você sentiu, enquanto crescia, que de alguma forma tinha que comprometer sua identidade? Sua mãe ou seu pai te expressaram de alguma forma que, para receber seu amor e atenção, você tinha de ser diferente do que era?” Uma expressão de questionamento cruzou seus penetrantes olhos azuis: “Na verdade, não posso responder isso. Não me lembro de sua relação comigo nem do que se passou em minha infância. A maioria está em branco”. Não me surpreendi. As crianças geralmente têm vagas recordações da infância devido ao fato de suas identidades verdadeiras terem sido enterradas há muito tempo em favor das falsas que aprenderam a adotar. Eu sabia que, quando Tom começasse a confiar mais em mim, as recordações fluiriam. Mas estava claro que, por hora, simplesmente necessitava continuar falando, de forma que decidi não seguir nesse tema em particular. Mudando de tema, perguntei: “Você tem estado muito exposto ao mundo gay?” “Bem pouco,” disse ele. “Experimentei tantas facetas dele quanto pude – os bares da moda, as viagens de fim de semana à Rua Castro de San Francisco. Cheguei a passar uma semana em um cruzeiro gay uma vez – disse a Cynthia que tinha de viajar a negócios. Tinha curiosidade. Queria provar de tudo”. “E o que você viu? Como se sentiu?”
  • 25. “Bem, pelas minhas experiências, percebi que há muita infelicidade. No mundo heterossexual, há mais do que parece para manter a gente com fé. O mundo gay tem muitas oportunidades sociais e sexuais. E os gays não têm o apoio social do matrimônio”. Perguntei: “Você vê algum problema real nas relações entre homens? Ou acha é um estigma social que faz com que as relações monogâmicas gays sejam tão difíceis de se sustentar?” Pressionei Tom para que fizesse essa distinção. Um homem que crê que a infelicidade das relações homossexuais deve-se somente ao estigma social não será candidato à terapia reparativa. Deve ser dirigido por uma insatisfação com a vida gay. “Há algo realmente difícil nas relações gays”, disse Tom, concedendo, “Provavelmente é mais que o juízo da sociedade”. Depois admitiu: “É o fato de estarem dois homens juntos”. Tom começou a compartilhar algumas ideias que somente um homem que havia levado uma vida dupla poderia dizer: “Os homens têm uma tendência a entregar-se menos, a não se dar tão voluntária e espontaneamente como as mulheres. As mulheres parecem bastante seguras em colocar-se em segundo lugar. Com frequência, veem em seus maridos uma continuação de si mesmas. Parecem menos cheias de seus egos”. Continuou: “Os homens têm uma tendência a ter medo da intimidade”. “Você crê que a intimidade entre dois homens pode ser tão profunda quanto a que há entre um homem e uma mulher?” Perguntei. Sua resposta foi direta: “Não creio. Porque a mulher traz algo que complementa a relação. Equilibra-se com as qualidades que do homem”. Disse a ele que estava em boas condições de saber devido ao fato de ter experimentado as duas relações. Então perguntei: “Você pode me descrever em que se diferencia o sexo entre dois homens do sexo entre um homem e uma mulher?” “A experiência sexual com os homens é mais...” Buscava a palavra. “Mais sexual. Parece estranho dizer isso, mas o sexo com as mulheres é mais doméstico, mais inibido. Há uma excitação animal mais crua com os homens enquanto que com uma mulher é mais emocional, uma experiência mais global”. Continuou: “Há outra grande diferença. Muitas vezes, senão na maioria das experiências gays, o sexo vem antes de tudo. Dois homens juntos tendem a querer sexo imediatamente”. “E depois, o que sucede?” Perguntei. “Vendo por minha experiência, o aspecto sexual da relação geralmente não se mantém. Na maioria dos casos, a relação fracassa rapidamente”. “Isso parece apoiar a investigação sobre as relações gays,” respondi. Depois perguntei: “Até que ponto você esteve implicado sexualmente com homens?” “O sexo com homens dominava bastante meus pensamentos quando era mais jovem. Começou quando meu irmão mais velho fez sexo comigo quando tinha 8 anos. Então veio o garoto da casa ao lado, era constantemente, por volta de um ano. Depois disso, houve dois garotos no colégio e mais
  • 26. dois na universidade. Então me apaixonei por Cynthia, e fui fiel a ela durante cinco nos, até que nasceu nossa filha. Foi um pouco depois que Andy entrou em minha vida”. É significativo que Tom permanecesse fiel à sua esposa até o nascimento de sua primeira filha. É um padrão comum que a conduta homossexual de um marido saia à superfície como problema quando a esposa fica grávida de seu primeiro filho. Isso tem a ver com a necessidade de fugir das responsabilidades e, neste exemplo, da responsabilidade iminente da paternidade. O homem que luta com impulsos sexuais se sente sobrecarregado pelas exigências de seu papel de marido e pai. Esses sentimentos parecem ser parte de uma tendência mais geral de evitar a responsabilidade relacional, que é um problema encontrado frequentemente entre os homens que lutam contra a homossexualidade. O que Tom disse depois confirmava minha opinião: “No transcurso de minha relação com Andy, também tive aventuras com outros homens. Às vezes, quando Andy e eu não estávamos bem, a sexualidade se convertia em uma obsessão”. “Como podia fazer sexo com homens estranhos enquanto mantinha uma relação com Andy?” Ele encolheu os ombros. “Não sei”, disse com tristeza, “da mesma forma que não sei por que fazia sexo com Andy enquanto estava casado com Cynthia”. “Mas já sabe,” reconsiderou. “Apesar de tudo, ainda confio em Cynthia. Depois que me expulsou de casa, Andy e eu dividimos um apartamento. Depois Andy se foi, e eu não podia controlar minhas emoções, minhas mudanças de humor. Estava tão deprimido que chamei Cynthia para chorar em seu ombro”. “Só um minuto,” interrompi. “Deixe-me ver se entendi: você esperava que Cynthia te consolasse quando Andy te deixou?” Assentiu como um menino pequeno. “Isso não seria um pouco... surrealista?” Perguntei. “Estava tendo uma aventura com um rapaz do trabalho – um amigo da família – pelas costas de sua mulher. Ele te deixa e depois espera que ela te console?” “Não sabia o que fazer, a quem acudir”, disse. “Acho que estava muito atormentado, em crise”. Pensou por um momento. “Agora que você diz, não posso acreditar que pude fazer tanto mal a ela. Porque a amo. Há uma razão pela qual me casei com ela. Fomos bons amigos durante dezoito anos”. O narcisismo de Tom me era óbvio, mas havia uma possibilidade mais remota. “Você crê que sua insensibilidade margeava a hostilidade?” Tom me olhou desconcertado. Ficou calado durante um longo momento e depois disse: “Quando penso, acho que é bastante óbvio”. “Por que você acha que a fez mal – além de sua absorção em si mesmo e em sua própria angústia?” “Bem, como você sabe, simplesmente não posso ser eu mesmo com Cynthia. Quando pus os pés em sua casa, tornei-me um Sr. Nada. É sua casa, seu lar. Portanto, sim, pode ser que a tenha feito sofrer por meio de minha relação com Andy”. Na resposta de Tom percebi uma queixa comum de muitos homossexuais casados: sentimentos da
  • 27. perda do controle de suas esposas, com um inevitável ressentimento contra elas. Ele ficou tranquilo de novo e permaneceu em silêncio. Depois disse, em um tom orgulhoso: “Eu a fiz bastante feliz até que conheci Andy. Quero dizer, até que me virou de ponta-cabeça. Tirou o melhor de mim – fez com que o velho se parecesse com um tonto”. Podia ver que Tom havia sido propulsado à terapia por essa profunda dor. Sua vida dupla já não funcionava. Foi esse trauma que o levou a refletir sobre a vida que andava levando. Quis voltar ao que Tom estava dizendo anteriormente: “Fale-me de como se sentia em casa com Cynthia”. “Simplesmente nunca me senti apreciado por ela”, disse. “Eu sempre sentia que estava ali a descanso. Como quem tinha de sair. Fazer alguma loucura. Encontrar algo excitante”. “Por que,” continuou. “Em toda a minha vida me senti tão dirigido? Tão cansado e ansioso? Nunca estou satisfeito com nada por muito tempo”. Isso é algo que escuto com frequência dos homossexuais. Sentem que estão fora do controle, que suas necessidades não são reconhecidas pelos demais e se encontram aprisionados por trás de uma fachada queixosa e cooperadora. Sua forma de conseguir alívio desse falso eu do qual se queixa é tendo relações sexuais. O aborrecimento, a ansiedade e a depressão são os estados de ânimo identificados com mais frequência como incitadores da conduta homossexual. Quando termina a aventura, voltam ao que o psiquiatra Harry Gershman chama de “padrões petrificadores da existência”. Os apologistas defendem que as insatisfações desses homens surgem do estilo de vida do matrimônio não natural ao qual se forçam a adaptar. Mas eu estou convencido de que os problemas se devem a algo muito mais profundo que a forçada conformidade social. Os homossexuais que estão casados não são os únicos atribulados por essa montanha russa de sentimentos. Tenho observado esse mesmo modelo de flutuação – insatisfação desamparada alternada com euforia homoerótica – também na vida dos homossexuais dentro de relações gays. O estado de ânimo de Tom mudou subitamente e sua voz se tornou aguda: “Eu vivi uma mentira durante tanto tempo. Não sei se posso mudar. Tudo parece um modelo sem esperança. Às vezes penso em me matar, quando chego ao fundo do ciclo”. Depois disso, permaneceu calado e, então, encolhendo os ombros, disse: “Pode ser que Deus tenha me feito dessa forma. Se sou gay, Deus me fez gay, mas, Deus Santo, por que tinha que dar uma boa esposa e filhos?” Aqui ouvi o fluir de um verdadeiro desespero misturado com super dramatização. Decidi não comentar esse último para não ser mal interpretado como antipático como anteriormente. Sabia que a frase “nasci gay” era uma taquigrafia de “não quero olhar para minhas experiências da primeira infância que causaram minha tendência homossexual”. “Não há um gene gay”, disse eu. “Isso é um assunto de identidade”. Um dia, poucos meses depois, Tom entrou dando saltos no consultório e se largou pesadamente na poltrona. Tinha um estado de ânimo falante e parecia estar contente por estar comigo. “Há poucos anos fiz terapia com um psicólogo gay. Estava lutando com minha homossexualidade,
  • 28. minha autoimagem e meu casamento. Cynthia e eu não íamos muito bem. Havia saído de casa várias vezes. Queria deixá-la. Estava aborrecido. A única coisa que me mantinha ali era o fato de amar aos meus filhos. Estava tendo aventuras escandalosas com Andy e outros homens e estava ficando louco. Ainda que o psicólogo não tenha me conduzido ativamente ao mundo gay, na verdade, tampouco me disse nada contra. Ficava calado e comentava muito pouco”. Tom refletiu um sorriso rápido: “Não como você”. “Honestamente, teria gostado que ele tivesse me orientado um pouco melhor. Dizer algo do tipo: ‘ei, vamos pôr sua vida em ordem, pôr as mãos na obra para que deixe esses loucos casos amorosos’. Creio que pensava que eu poderia fazer isso sozinho. Não fiz”. “Como terminou sua terapia?” Perguntei. “Terminou abruptamente no sexto aniversário de minha filha, durante uma de minhas separações de Cynthia. Estava triste e frustrado por perder minha família porque meu terapeuta disse: ‘você não está perdendo sua família. Se escolher ficar com seu amante, ainda poderá ver seus filhos’. Fiquei pensando: ‘mas não estarei ali às três da manhã quando as crianças acordarem chorando chamando pelo pai’”. “Você estava perdendo sua família”, coincidi. “Falam de ‘tempo de qualidade’” prosseguiu. “Entretanto, eu digo: ‘também existe um tempo de quantidade’. No aniversário de minha filha, finalmente voltei a esse estado de desânimo e disse a ele: ‘provavelmente você não sabe pelo que estou passando. Sou um homem casado, tenho um caso com outro homem e minha filha faz seis anos hoje. Sabe o que isso significa realmente? Pode compreender os sentimentos que estão no meu interior?’. Disse a ele que deixaria de ser gay se era o preço que tinha de pagar”. “Sentia que ele não podia se relacionar com você?” “Sim, creio que me frustrei. Não podia me compreender”. Nesse momento, Tom se incorporou, olhou-me diretamente e disse: “Vou ter de encontrar a melhor forma de trabalhar dentro da situação. Provavelmente sempre terei tendências homossexuais, você me disse. Mas também sou consciente de que existe uma opção, um ato de vontade implicado. Ainda gostaria de fazer sexo com homens, mas o custo simplesmente é alto demais. Meu casamento e meus filhos são mais importantes”. No final, Tom estava comprometendo-se seriamente em superar sua atração pelos homens. Sabia que era uma decisão que o Movimento dos Direitos Gay reprovaria. Diriam que era desonestidade com seu verdadeiro eu, hipocrisia – esse tipo de retórica. Eu, entretanto, sentia grande respeito por Tom James. Havia escolhido o caminho difícil, mas creio que o correto. Tom vinha regularmente duas vezes por semana. Lutando contra o tráfego da rodovia de Los Angeles por toda a tarde, de alguma forma conseguia aparecer com pontualidade a suas sessões. Costumava chegar com impaciência para falar, mas um dia se sentou desconsolado e colapsado em sua poltrona.
  • 29. “Tenho que fazer alguma coisa com minha vida. Ainda não tenho um lar real e estou ficando em um hotel qualquer. Estou sozinho e deprimido”. Evidentemente, Tom tinha que tomar uma decisão clara. Perguntei: “Alguma vez, você teve algum amigo íntimo homem?” “Acho que sim”, disse. Mas enquanto Tom contava de novo seus amigos, ficava claro que tinha muitos conhecidos, mas não verdadeiros amigos. Ainda que gostasse de sair, fosse amistoso e extrovertido, na verdade, ninguém o conhecia. Tendia a ocultar-se atrás de uma fachada gregária. Disse eu: “Você nunca teve uma amizade cômoda e de confiança com um homem com quem pudesse ser você mesmo. Mais ainda, o elemento sexual sempre produziu um curto-circuito com as amizades ao ter contatos rápidos e impessoais”. “Realmente acreditava que Andy era meu melhor amigo”, continuou. “Mas, olhando para trás, está claro que era só uma ilusão. Tivemos uma relação desequilibrada – eu era seu chefe e muito mais velho... Poderia ser seu pai. Quanto mais penso nisso, mais me dou conta de que ele utilizava isso como vantagem” Tom se manteve em silêncio durante um momento. Depois, falou com um suspiro: “acho que ambos nos usamos mutuamente”. “E sabe o que mais, Joe? Estive pensando. Estive usando minha homossexualidade como desculpa, como escapatória”. “O que quer dizer?” Perguntei. “Quando não utilizo a etiqueta gay, tenho que afrontar a vida, afrontar a mim mesmo. Estive utilizando meu problema como uma forma de não crescer”. Esperei que seguisse: “Não tenho que cumprir minhas responsabilidades! Não tenho que pensar em minha família ou nos demais! Sou gay!”. Seu tom era de auto ridicularização. Não é incomum que os homens descubram, ao longo do tratamento, que encontram uma sensação de segurança ou de caminhada para trás justificável ante os desafios das responsabilidades adultas quando reivindicam a etiqueta “gay” para si mesmos. Para alguns homens, essa identidade serve como defesa contra as ansiedades da intimidade homem-mulher e outros desafios adultos. Tom também utilizava a etiqueta “gay” para libertar-se de um sentido pesado de responsabilidades. Disse Tom: “Sempre me pus esse título enfeitado de força e bravura. Mas agora me dou conta de que nunca me senti verdadeiramente bravo ou de que afrontei a verdade da qual estava fugindo”. Não disse nada, esperando que ele continuasse. “Me sentia deprimido e cheio de ansiedade. Posso ver que só estava brincando de ser um homem real. Não creio que possa sê-lo, não da forma que andei vivento. Não sei se serei capaz algum dia de estabelecer-me e de levar as responsabilidades de minha família”. Seguiu um enorme silêncio. Por fim, pensativamente, disse: “Pergunto-me se quero ser um homem, nos termos que requereria de mim”. Havia um tom de sabedoria em sua voz enquanto dizia, depois: “Não há nada mais triste que um mariquinha velho. Esse é um ditado antigo”.
  • 30. Parecia-me que estava ouvindo algo de auto dramatização nisso pelo que o conduzi a alguma responsabilidade. “Você disse muitas vezes que se sente um estranho em sua própria casa, que parece ‘a casa de Cynthia’. Queixa-se de sentir-se como um estranho... Que tem de ir trabalhar para se sentir respeitado. O que está mal em sua casa que não te permite ser forte... Que te impede de assumir alguma autoridade?” “Não sei”, encolheu-se Tom, concedendo. “Mas é algo do qual seria melhor começar a falar. Cynthia me chamou na semana passada e perguntou se gostaria de tentar voltar a viver com ela”. “E o que você disse?” “Bem, admito que me alegrou ouvir sua voz. Realmente gostaria de fazer o possível para ir bem com ela. Disse que o faria”. “Que bom”. “Ela está querendo te chamar para ver o que se pode fazer para salvar nosso casamento”. Falei com Cynthia naquela noite e ela perguntou se poderia me ver pelo bem de Tom, ainda que eu não duvidasse de que ela tivesse, igualmente, preocupações consigo mesma. Eu estava prestes a sair de férias de verão, de forma que marcamos um horário para setembro quando Cynthia viria sozinha para se consultar comigo. Depois de ouvir Tom descrever sua vida no lar como aborrecida e tediosa, fiquei surpreso quando descobri que Cynthia era uma loira encantadora, extrovertida e bem vestida. Depois, uma vez mais, sabendo da importância que Tom dava às aparências, deveria ter esperado que sua esposa fosse surpreendentemente atraente. Mesmo que Cynthia e eu nunca nos houvéssemos visto antes, saudamo-nos para a sessão como se fôssemos velhos amigos. Esse sentido de familiaridade imediata não me deixou dúvida do fato de que nós dois conhecíamos o mesmo homem intimamente. Além disso, ela viu em mim um aliado. Eu não era simplesmente um terapeuta neutro. Estava a favor do casamento e da diminuição da homossexualidade de Tom. Alguns psicoterapeutas sugerem aos clientes que uma esposa deve aceitar as aventuras homossexuais do marido. Racionalizam esse conselho absurdo falando de “respeitar a natureza verdadeira e bissexual do esposo”. Nunca cri na existência da bissexualidade. Para mim, o chamado bissexual é alguém que não resolveu sua homossexualidade. Cynthia começou assegurando-me de que havia vindo para ajudar Tom. Encorajei-a a falar de si mesma e contar sua própria história. Seu pai era alcoólatra e sua mãe, inadequada e frágil emocionalmente. Pude entender por que se havia visto arrastada pela energia e auto possessão que irradiava de Tom. Cynthia me falou da noite em que soube da verdade sobre a sexualidade de Tom. “Em uma explosão de histeria, ele me contou tudo sobre sua vida. Foi a coisa mais horrível que aconteceu em minha vida”, admitiu. Sua voz se acalmou enquanto prosseguia. “Por um momento, não podia acreditar”. Perguntei: “Como você lidou com o que ele disse?”
  • 31. “Fiquei aborrecida... Era mais fácil que lidar com meu horror. Quero dizer, simplesmente não podia assimilar a verdade. Pedi a ele que fosse embora imediatamente. Estava tão desgostosa que não podia olhar para sua cara. Depois, senti tristeza por ele, pelas crianças e por mim mesma”. “Você já tinha alguma suspeita de que ele tivesse esse problema?” “Só suspeitava vagamente.” Disse ela. “Antes de nos casarmos, Tom havia me falado que tivera algumas experiências homossexuais. Acho que eu não sabia o que fazer com isso. Durante anos ele saía à noite e chegava em casa muito tarde. A ideia passava por minha mente mas, na verdade, nunca quis pensar nisso”. “Tom é um bom homem e eu o amo muito. Mas o que Tom quer, ele consegue. Realmente é muito egocêntrico”, disse com uma risada ligeira. “Com frequência sentia que tinha três filhos em vez de dois. Como um menino, Tom sempre espera atenção especial. Pode ser muito generoso com as pessoas, mas tem sempre de estar em cena. Por exemplo, sei que ele ama muito nossos filhos, mas às vezes parece que os quer pelo amor que podem dar a ele. Ele fala: ‘o que houve? Por que não vêm e beijam o papai? ’. Se estão ocupados fazendo outra coisa e não lhe prestam atenção, ele logo se sente ofendido”. A descrição de Cynthia me era familiar. Havia ouvido relatos similares de esposas de homens como Tom. Um homem assim está, com frequência, casado e funciona bem bissexualmente. Tende a ser exibicionista e narcisista e ter – ao menos superficialmente – um sentido muito inflado de sua própria importância. Está determinado a ter tudo – quer dizer, casamento e família junto com as relações gay. É bastante diferente do cliente mais típico que tende a sentir-se inferior, auto dubitativo e sem poder. Perguntei a Cynthia: “Que futuro você vê aqui?” “Bem, amo muito a Tom”, disse. “Ele acredita em você, Joe, e espero que consiga superar seu problema”. “Você crê que pode perdoá-lo pelo que se passou?” “Toda a vida eu tive de fazer compromissos” disse. “Cremos que se seguirmos na direção que tomamos, podemos ser felizes. Realmente estive muito mais conectada à minha família desde que voltamos a viver juntos. Mas sempre terei minhas dúvidas, se sai à noite...” Revelando a força da psique feminina, acrescentou: “Sei quando Tom e eu nos conectamos. Posso sentir a diferença. Quando Tom se afasta de mim é que me preocupa”. “Conhece a diferença?” “Claro. Durante os anos que Tom estava com Andy, sentia que sua energia estava de alguma forma em outro lugar – fora da família”. A intuição de Cynthia tinha razão. Muitos maridos homossexuais disseram que, quando têm aventuras com outros homens, se encontram evitando suas esposas e famílias. Como dizia um homem casado: “o grande obstáculo é a culpa. Depois de fazer sexo, chego em casa e me encontro fugindo de minha família. Durante dias, não me sinto digno de participar com nada junto de minha esposa e das crianças”. A atitude de Cynthia era típica da maioria das esposas com as quais trabalhei. Uma esposa se sentia
  • 32. profundamente traída, ferida e enfadada por muitos meses, mas o mais comum é que se comprometa a fim de salvar seu casamento. O que parece mais importante é a sinceridade e honestidade do marido ao tratar do problema. Uma esposa estará disposta a tratar qualquer coisa sempre que seu marido for honesto. O marido que pode explicar a sua esposa com paciência e honestidade as necessidades emocionais insatisfeitas que jazem por trás de sua conduta homossexual geralmente perceberá que tem uma aliada poderosa. Sua esposa demonstrará sua compreensão se lhe for dada a oportunidade de compreender as motivações que residem por trás de sua conduta. Considerando o nível prévio de desonestidade por parte de muitos maridos, sempre me senti surpreendido pela flexibilidade e resistência das esposas que decidem manter o compromisso matrimonial. Uma esposa que ama seu marido descerá aos infernos e voltará com ele se for tratada como uma companheira amada e respeitada. Existem aspectos terapêuticos particulares para homens casados que, como Tom, tenham base homossexual. Esses homens têm o dever não só de resolver sua atração pelo mesmo sexo como também de permanecer em consonância com suas esposas. Esses homens oferecem, geralmente, muitas razões para evitar suas esposas: ‘está sobrecarregada’, ‘é crítica’, ‘é mesquinha’, ‘negativa’, ‘uma puta’, ‘não presta atenção em nada’, ‘não é compreensiva’... Certamente que uma esposa que não se sente amada terá suas próprias reações defensivas e de fato pode ser culpada de todas as críticas. Pode ser que haja muitos motivos para que o marido evite intimidade com ela, não sendo a culpa a menor delas. Mas esses obstáculos para a intimidade devem ser tratados na terapia. Em nossa seguinte sessão, Tom falou de sua preocupação com o problema que sofria há muito tempo de sentir-se excluído e sem descanso quando estava em casa com sua família. Costumava assumir uma atitude passiva e de exclusão quando se sentia aborrecido, desconectado e com ressentimento. O aborrecimento é, com efeito, um sentimento expressado com frequência por clientes homossexuais. Considero que esse estado de ânimo faz parte de uma condição homossexual. Perguntei: “Você sabe por que se aborrece em sua própria casa?” “Não sei,” disse. “No meio de toda a atividade familiar simplesmente perco o interesse e sinto que quero sair correndo”. Expliquei: “O aborrecimento surge quando você está em uma situação que não permite que você se expresse”. Tom pareceu confuso. Continuei: “A maioria das pessoas crê que o aborrecimento é consequência de ‘não fazer nada, de não me ocorrer nada’. Com efeito, no interior há sempre algo para fazer, se somente o respeitarmos”. “Da próxima vez que se sentir aborrecido, pergunte-se: ‘como eu gostaria de me expressar neste momento? O que não estou me permitindo dizer ou fazer? ’. Creio que você se sente inibido e golpeado e que debaixo disso existe um elemento de ira. Tente sentir os sentimentos reais que jazem debaixo do aborrecimento. Se realmente se permitir fazê-lo, creio que já não se aborrecerá mais”. Nas semanas seguintes, Tom e Cynthia progrediram em seu trabalho de alcançar honestidade e igualdade mútua em sua relação. Enquanto que no trabalho anterior ambos haviam sido vítimas,
  • 33. agora estavam muito mais seguros no casamento. Uma parte importante do tratamento consistia em conseguir que Tom se conectasse com sua esposa e sentisse sua presença. Durante muitos anos, havia estado tão preocupado consigo mesmo que a havia retirado virtualmente de sua consciência. Agora, em vez de se excluir, seu esforço era para identificar seus sentimentos e expressá-los. Esse processo lhe faria voltar a conectar-se com Cynthia de forma invariável. “Como eu quero que funcione com ela!” Dizia. “Cortar definitivamente com o mundo gay e estar só com homens heterossexuais. Gostaria muito de ter agora um amigo homem real, não um amante. Talvez algum homem casado, com família. Necessito desse tipo de amizade se vou ter uma vida de homem de família”. Por esse tempo, Tom havia chegado a compreender muito mais de si mesmo e de suas prioridades mais profundas e havia começado a crer que podia ter um casamento monogâmico. Disse-me: “O mais importante de tudo é manter minha família unida. Meus filhos necessitam de um pai. Minha esposa necessita de um marido. E eu necessito de uma família”. Estava começando a ver o quão carente de sentido e irrelevante era a sequência de aventuras que havia tido. “Tinha ressentimento contra Cynthia por reger minha vida mas, olhando para trás, não lhe deixei opção”, disse. “Simplesmente abdiquei das responsabilidades de minha família”. “Assim é”, disse a ele. “Você mantinha um papel de passividade e evitação em casa. Mostrava seu ressentimento por estar ocupado com as responsabilidades da família com uma rejeição passiva e implicante. Criou um vazio que lguém tinha de preencher. E, é claro, Cynthia tentou preenchê-lo. Então, você a acusava – injustamente – de ser controladora”. “Tenho me dado muito bem com Cynthia”, disse ele. “Às vezes, ela se queixa da casa e das crianças, não parando de falar, mas eu logo falo com ela e explico como aquilo me afeta, então ela se cala e me apoia em silêncio. Tem se adaptado muito à forma como me sinto”. “As pequenas lutas que temos agora não são nada comparadas com as que costumávamos ter”. Acrescentou: “Porque há algo, em algum lugar, que” “Onde?”, desafiei. Tom pareceu confuso por um momento, e depois respondeu: “Em mim. Sinto-me mais centrado, mais aterrissado em meu lugar em casa. Sempre tive a sensação de querer flutuar para longe, de sair dali, de escapar para outro lugar. Já não sinto isso. E quando sinto, sei de onde vem”. “De onde vem?” “Vem de não me deixar pertencer”. Tom falava lenta e pensativamente, escolhendo cada palavra com cuidado. “Vem de não ser honesto com meus sentimentos. E de não me conectar com as pessoas mais importantes para mim. Por muito tempo, senti-me isolado e distante de Cynthia”. “Simplesmente evitando”, disse a ele. “Sim. Ficava metido em minha casca e mantinha a todos fora dela”. Houve uma grande pausa. “Mas então,” disse. “Existiam esses pequenos momentos em que a graça abria caminho e me golpeava com algo bonito – algo sobre meus filhos ou alguma qualidade de Cynthia – e de repente via o quão delicada era essa casca”.
  • 34. “Um desses momentos aconteceu quando Cynthia e eu fazíamos amor e depois ela começou a chorar. Minha primeira reação foi perguntar: ‘o que fiz de mal? ’, as lágrimas eram um pouco inquietantes. Mas ela disse: ‘simplesmente sustenha-me’, de forma que soube que estava tudo bem. Depois, ela disse: ‘quando me sinto assim com você, abro meu coração e jazo aqui completamente desnuda para você. Realmente quero set totalmente sua, totalmente aberta para você. Mas quando você está distante, ausente para nós, então tenho que manter a família unida e tenho que ser a pessoa forte. Tenho que fazer o trabalho da família, tenho que endurecer a mim mesma, endurecer-me para cuidar do negócio e preparar as coisas para nós. Na verdade, não quero ocupar o papel masculino ou essas qualidades masculinas’.” “Nesses momentos de aproximação”, continuou Tom. “Quando a verdade de nossas vidas se atravessa, abro-me para ela e ela se torna suave e feminina”. Suspirou: “Se ela se abria para mim, era bom, mas também me dava medo, porque a deixava mais vulnerável para ser ferida, e com mais profundidade. Assim, tenho que trabalhar para não causar-lhe mais mal”. Olhou-me gravemente: “É uma responsabilidade pesada”. “Outro dia,” continuou. “Estávamos na cozinha e ela me perguntou: ‘se alguma vez você voltasse a cair, você me diria? ’. Pensei nisso durante um minuto e depois disse que sim. Queria dizer: ‘não acontecerá’, mas um homem nunca pode dizer nunca. Mas estou trabalhando para não voltar a cair mais, pelo que pude prometer-lhe honestamente que lhe diria. Todo o trabalho que fiz me fez progredir. Já não sinto esse desespero. Sei exatamente o que há por trás dos lapsos momentâneos. Quando não estou bem, sei por que não estou bem e sei o que tenho que fazer para voltar ao caminho outra vez”. “Compreendo a dinâmica subjacente, as necessidades reais, vejo que não é a mesma atração pelos homens senão algo de que careço em meu interior o que causa as atrações por homens com esse poder. Não se trata de quem é esse homem atrativo ali. Se trata de quem sou eu aqui”. “Direi a mim mesmo (levantou a voz em um tom afeminado dramático): ‘Oh, possivelmente não posso resistir a essa tentação... Nasci assim! Mas isso é realmente melancolia da minha parte... não quero passar pelos processos de pensamento necessários e não quero recordar a verdade sobre mim mesmo. Permito que a fantasia me sobrecarregue’”. Uma vez que Tom viu a verdade sobre si mesmo, só podia esquecer se quisesse. A fórmula terapêutica de Tom dependia de três coisas: confrontar as necessidades emocionais insatisfeitas que jaziam por trás de sua conduta homossexual; desenvolver amizades masculinas não eróticas e abrir caminho à exclusão social de Cynthia. A pedido de Cynthia, Tom pediu a seu antigo amante, Andy, que deixasse a loja e o ajudou a encontrar emprego em outro lugar. Tom estava decidido a vê-lo como uma pessoa do passado e a pôr-se a caminho do futuro com sua esposa e seus filhos. Quando Tom se aproximava dos últimos dias de seu terceiro ano de terapia, falamos do fim. “O que você acha, doutor?” Perguntou. “Estou preparado para me graduar?” “Creio que sim.” Assegurei. “Gostaria de sentir total confiança de que não voltarei a cair nas velhas coisas que me fizeram vir até aqui”.
  • 35. Disse eu, então: “Você já se comprometeu com a honestidade. É mais honesto com você mesmo hoje do que em qualquer momento anterior de sua vida. Pode ser que tenha uma queda, pode ser que experimente alguns reveses, mas isso não me preocupa porque as ideias estão aí. Você as compreende. Simplesmente seja honesto com você mesmo e com Cynthia”. Tom assentiu com gravidade. “As ideias genuínas não se podem perder ou esquecer,” disse a ele. “Não pode voltar nunca ao lugar em que estava, psicologicamente, quando veio aqui pela primeira vez”. Falando em voz baixa e lenta, Tom disse: “Desfrutei muito do que aprendi com você, Joe. Você me ajudou muito e isso é muito importante. Vou sentir muita falta, na verdade, de dar e compartilhar, o que veio de você”. Dei-me conta de que Tom se sentia intensamente ambivalente sobre o fim de nossa relação. Quando chegaram os momentos finais de sua última sessão, disse a ele: “Quando precisar, pode voltar, é claro – mesmo que seja só para uma simples sessão”. “Obrigado.” Disse de pé e dando-me a mão com brio. “Sentirei sua falta, e dos companheiros do grupo também. Aprendi muito com você”. Havia algo diferente em sua voz, mas enquanto nos aproximávamos da porta, voltou a olhar para trás uma vez mais, com melancolia. Dois anos depois do fim de sua terapia comigo, Tom soube que era soropositivo. Permaneci em contato tanto com Tom quanto com Cynthia, recebendo ligações deles com frequência durante os três anos seguintes. De vez em quando, discutíamos uma variedade de problemas – a comunicação entre eles, assuntos de pais, especialmente sobre seu filho, Sean, que estava agora na adolescência. Tom começou a mostrar, cada vez mais, os sintomas da AIDS e, quando se fez evidente que morreria rápido, Cynthia me pediu para que prestasse assessoria familiar. Era o momento de preparar os meninos para o final. Tom e Cynthia me pediram que os ajudasse a dizê-lo a eles. Pude ver sua força incrível quando os quatro estavam sentados no sofá do salão. Durante duas horas, houve perguntas, lágrimas e compartilhamento de amor. Fui ver Tom em sua casa nas semanas finais enquanto se punha cada vez mais fraco. Havia cinco anos que terminara a terapia. Um dia, quando estava prestes a ir embora, me chamou ao seu lado. Com a voz surpreendentemente forte, me disse: “Se não fosse por você, agora não estaria com minha família. Terei a bênção de morrer com minha esposa e meus filhos ao meu lado. Estou muito agradecido por isso”. “E doutor,” – tossiu – “Estará contente em saber que mantive minha promessa a Cynthia”. Uma semana depois, Cynthia me ligou em uma tarde. Sua voz era baixa e triste. Disse que Tom havia falecido naquela manhã. Depois da morte de Tom, continuei tendo contato com Cynthia e seus filhos, e fiz o melhor que pude para ajudá-los em seu período de dor. Ela me disse como suas relações com Tom se haviam aprofundado e sua vida familiar era melhor do que jamais havia sido. Tom havia desenvolvido uma relação profunda com seus filhos, que ajudaram a cuidar dele em sua casa enquanto piorava. Cynthia também havia cuidado dele fielmente. Morreu em seu próprio quarto em companhia de sua
  • 36. família e de uma freira de sua paróquia que havia ido levar-lhe a comunhão. A terapia reparativa ajudou Tom a deixar de lado sua vida dupla. Produziu nele a ideia de que podia chegar até o fim e viver de acordo com suas convicções. Sinto-me satisfeito em poder ajudá-lo a encontrar o que estava buscando.