1. PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO DA APRENDIZAGEM
Elieuza Aparecida dos Santos
“Não é no silêncio que os homens se fazem
mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”
Paulo Freire
A história da psicomotricidade nasce com a história do corpo. Um corpo que é
moldado e dividido numa concepção de corpo que se desenvolve a partir do biológico e
do emocional ou físico e psíquico, na qual, atualmente, o saber psicomotor focaliza seu
objeto de estudo.
A psicomotricidade surgiu para responder as questões relacionadas ás
dificuldades e problemas que envolviam os aspectos motor e cognitivo, e não eram
solucionados pelos neurologistas. Daí então, a psicomotricidade tornou-se um
instrumento importante de reeducação do corpo, posteriormente, como terapia no
tratamento de patologias psicomotoras, afetivas, relacional e cognitivas, ou seja, tornou-
se indispensável no auxilio do tratamento de indivíduos que fosse portador de
disfunções que englobam as patologias citadas.
Hoje, a psicomotricidade tem forte influência na educação tanto na questão
psicomotora funcional como relacional, por ser um meio pelo qual se trabalha as
potencialidades e habilidades da criança atendendo suas especificidades como sendo
única, respeitando suas limitações e promovendo seu desenvolvimento psicomotor,
cognitivo e social.
Neste sentido, pode-se dizer que a psicomotricidades é inserida no contexto
escolar com a finalidade de propiciar o lúdico e a interação socioeducativa,
contemplando incialmente as crianças do ensino infantil, de acordo a proposta do
Referencial a Curricular Nacional (BRASIL, 1998). Este contempla a modalidade
infantil nos vários aspectos da criança, como físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e
sociais, considerando que esta é um ser completo e indivisível, e as divergências estão
exatamente no que se entende sobre o que seja trabalhar com cada um desses aspectos
no contexto da aprendizagem escolar. O exercício da psicomotricidade neste sentido
dentro do espaço escolar tem favorecido satisfatoriamente o desenvolvimento da
criança.
Atualmente, a psicomotricidade tem se estendido as demais modalidades de
ensino, pois é um instrumento de inclusão para portadores de necessidades especiais e
transtornos psicomotores, crianças com distúrbios de aprendizagem e, ainda, para
aqueles que sentem dificuldade de interagir com o outro no convívio social. Dentre
outros requisitos, a psicomotricidade também se preocupa com a prevenção e a saúde do
sujeito, além do desenvolvimento cognitivo, psicomotor e sócio-emocional.
Como as demais ciências que se dedicam ao desenvolvimento do sujeito, a
psicomotricidade, em sua prática, se determina a seguir os estágios de desenvolvimento
e os níveis de aprendizagem do sujeito, ciente de que estes pressupostos são de suma
importância para a aplicabilidade das atividades que atendem as necessidades daqueles
que são submetidos ao trabalho de reeducação e educação do corpo.
2. Segundo Wallon, o corpo é uma totalidade e uma estrutura interna essencial para
o desenvolvimento mental, afetivo e motor da criança. Respeitar e considerar esses
pressupostos que implica no desenvolvimento do sujeito é um fator fundamental na
elaboração metodológica das atividades no contexto da aprendizagem.
Vale ressalta que a psicomotricidade por atender as três dimensões da construção
do corpo: motora, emocional e cognitiva favorece e estimula o processo de constituição
do conhecimento pela internalização de construções sociais que são desenvolvidas a
partir dessa integração. O corpo quando atendido nessas três dimensões tende a evoluir
e desenvolver suas potencialidades e habilidades.
Quando a criança tem suas habilidades e potencialidades desenvolvidas, ela é
capaz, através do espaço e das relações espaciais, se situar no meio em que vive e
estabelecer relações entre as coisas (re) construindo o seu conhecimento.
Ainda seguindo essa mesma linha de pensamento, é importante frisar que no
contexto escolar, aprender a fazer essas relações espaço-tempo significa que a criança
tem acesso a um espaço orientado a partir de seu próprio corpo multiplicando suas
possibilidades de interagir e aprender. Entretanto, não podemos nos abster de que neste
mesmo contexto encontramos crianças com caraterísticas diversificadas em si mesmas e
entre as demais, unas são mais ágeis, mais ou menos expressivas e outros já trazem
consigo dificuldades de aprendizagem em terminadas áreas do conhecimento. Estas
dificuldades, muitas vezes, estão relacionadas à falta do desenvolvimento de habilidades
espaciais e temporais ou lentidão de aprendizagem, e ainda, um transtorno psicomotor,
que tem razões e características distintas, e são confundidas.
As abordagens em relação à psicomotricidade nos alerta a estas questões, pois
tais casos podem estar relacionados com a coordenação psicomotora da criança, ou seja,
no início da vida escolar, a criança não teve a formação motora correta, por alguma
razão não desenvolveu a motricidade fina ocasionando déficits na aprendizagem. Em tal
situação, a psicomotricidade sugere que o trabalho desenvolvido com essa criança
contemple a coordenação motora inicial, onde ela poderá desenvolver as habilidades
que estavam retraídas e, certamente, lhe causando sofrimento e angústias. Pois, sabemos
que quando uma criança não consegue acompanhar as outras e/ou não realizar qualquer
tipo de atividade proposta no ambiente escolar, sempre é motivo para a baixa autoestima
afetando as dimensões de construção do corpo que está em desenvolvimento.
Contudo, o trabalho da psicomotricidade no contexto escolar, além de auxiliar na
aprendizagem, também é um estimulo para a criança que se encontra em tal situação,
ajudando-a na sua adaptação e tornando-a apta a realizar aquilo que até então não tinha
habilidade e, ainda favorecer o afloramento de tudo aquilo que estava recuso dentro
dela.
Além disso, acrescento que a motivação desenvolvida através psicomotricidade
exerce importante papel neste e em outros casos no contexto escolar. O lúdico e o
simbólico são recursos de motivação indispensáveis, pois a concretização da
aprendizagem e a superação das dificuldades estão diretamente ligadas aos estímulos.
Vale apena ressaltar que a motivação propiciada pela psicomotricidade em casos
relacionados ao desenvolvimento da aprendizagem, pode atuar de forma individual e em
conjunta, uma vez que, mesmo sendo um problema individualizado, a criança não é
vista fora de seu contexto. Assim, o que se considera é o resultado de qualquer recurso
utilizado em prol das necessidades e intenções da criança para o seu autoconhecimento
e da reflexão da situação em que se encontra.
Esse espaço de pensamento se constitui na medida em que o sujeito possa
conceber-se diferente do outro e sinta-se autorizado por esse outro a diferenciar-se
3. (Andrade, 2002, p.19). A práxis da psicomotricidade relacional concomitante a
abordagem psicopedagógica engloba todas essas questões e propõe uma série de
estratégias de intervenções e ações pedagógicas que são instrumentos que ajudam a
criança no processo de desenvolvimento da aprendizagem a superar suas limitações,
simultaneamente, dando-lhe condições para se evoluir no contexto da aprendizagem.
Partindo desse pressuposto, ressalto que a psicopedagogia tem importante papel
no diagnóstico dos sintomas que levam a criança a esta situação de não aprender por
questões psicomotoras. Ainda saliento que o trabalho da psicopedagogia deve
direcionar- se também a “gestação de espaços subjetivos e objetivos” que possibilitem a
autoria de pensamento da criança em suas ações e nas tomadas de decisões. A autoria do
pensamento pressupõe espaços de liberdade que se constituem a partir da aceitação das
diferenças e do prazer de pensar sobre o agir. Essa autoria é determinada pelas
dimensões motora, emocional e cognitiva do corpo.
Enfim, o trabalho da psicopedagogia e da psicomotricidade amparado pelas
demais ciências que se dedicam ao contexto da aprendizagem, torna-se um instrumento
eficaz no atendimento das necessidades da criança em todas as dimensões do seu
desenvolvimento frente à aprendizagem.
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Referências Bibliográficas
ANDRADE, M. S. (org). A escrita inconsciente e a leitura invisível: uma contribuição
às bases teóricas da Psicopedagogia. Coleção Temas de Psicopedagogia. Livro 1. São
Paulo: Memnon, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretária de Educação Fundamental.
Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/ SEF, 1998.
FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
SBP. Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. Disponível em:___________________
www.psicomotricidade.com.br. Acesso em outubro de 2011.
WALLON, H. A evolução psicológica da criança, Cap. X, São Paulo, Edições 70, 1981.
In.WEREBE, M. J. G. & BRULFERT, J. N. Henri Wallon. São Paulo, Ática, 1986.
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