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A prática pedagógica como núcleo do
         processo de formação

         Prof. José Carlos Libâneo


 XI CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE
         FORMAÇÃO DE EDUCADORES
       Águas de Lindóia (SP) – 16.8.2011
TÓPICOS

1. Apresentação de dados: a insustentável
   precariedade do curso de licenciatura em
   pedagogia
2. Algumas explicações pouco convencionais
   dessa situação
3. Demandas e desafios o para o campo
   investigativo e profissional da didática e das
   metodologias de ensino
PESQUISA:

O ENSINO DA DIDÁTICA, DAS
METODOLOGIAS ESPECÍFICAS E DOS
CONTEÚDOS ESPECÍFICOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL NOS CURRÍCULOS DOS
CURSOS DE PEDAGOGIA DO ESTADO DE
GOIÁS. REPERCUSSÕES NA QUALIDADE
DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

  Publicada na Rev. Bras. Est. Ped., Brasilia, v. 91, n. 229, 2010
25 INSTITUIÇÕES DE ENSINO
 SUPERIOR DE GOIÁS QUE MANTÊM
 CURSO DE PEDAGOGIA

2 públicas (UFG, UEG)
21 privadas
2 fundações municipais
OBJETIVO DA PESQUISA:

    Analisar aspectos do ensino de didática, de
metodologias específicas e de disciplinas de
conteúdos, e sua efetividade na formação
profissional de professores, em cursos de
pedagogia.
    Em especial, aferir o lugar destinado ao
conteúdo das disciplinas a serem ensinadas no
ensino fundamental (anos iniciais) na formação
inicial de professores.
TIPO DE PESQUISA

Pesquisa documental nas grades curriculares e nas
ementas das disciplinas dos cursos de pedagogia.
DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS, CONFORME CATEGORIAS,
        POR CARGA HORÁRIA (3.200h) - CURSO DE PEDAGOGIA
                       CATEGORIAS                             % CH


Fundamentos teóricos da educação                              18,4

Conhecimentos referentes ao sistema escolar                   12,5


Conhecimentos referentes à formação profissional específica   28,2

Conhecimentos referentes às modalidades e níveis de ensino    10,0
Outros conhecimentos                                           6,5


Pesquisa e TCC                                                 8,3


Estágio e Atividades Complementares                           16,1


Total                                                         100,0
Didática: denominações por IES


•   Didática (10);
•   Didática e formação de professores (4);
•   Didática fundamental (3);
•   Didática geral (2);
•   Didática e prática educativa nas séries do ensino
    fundamental (1);
•   Fundamentos de didática (1);
•   Pesquisa e prática pedagógica (1);
•   Processos didático-pedagógicos (1);
•   Pedagogia: saber docente e rede de saberes (1);
•   Didática para o ensino fundamental e didática para o
    ensino médio (1).
CARACTERÍSTICAS DAS EMENTAS DE DIDÁTICA
• 70% das delas expressam ainda uma didática
  instrumental;
• Com algumas exceções, frágil aporte teórico,
  caráter genérico, superficialidade;
• Concepção de didática centrada na atuação do
  professor ou nos procedimentos, sem incorporar
  efetivamente concepções que unem ensino à
  aprendizagem e outros temas contemporâneos
  presentes na produção bibliográfica da área.
• É raro encontrar nas ementas de didática
  referência ao conteúdo das disciplinas de
  “fundamentos” (filosofia, sociologia, psicologia,
  etc.).
Conceito de didática. Competências para ensinar.
Estruturação do trabalho docente. Planejamento
educacional: objetivos e conteúdos de ensino, métodos,
estratégias e, técnicas de ensino. Avaliação da
aprendizagem.

A didática, suas relações e fundamentos; bases
filosóficas, históricas, políticas. sociológicas,
psicológicas e antropológicas para a compreensão dos
fenômenos educacionais. O significado da Didática no
processo educativo e seu objetivo de estudo; . A
evolução histórica da Didática no Brasil e no mundo. As
tendências pedagógicas no BrasIl. Aula e avaliação
operatória. A escolha dos livros didáticos.
DIDATICA I
  Conceito de Didática A importância da Didática na
  formação do professor do Ensino Fundamental.
  Planejamento. Tipos de planejamento. Os componentes
  didáticos: objetivos, conteúdos, métodos e técnicas de
  ensino. Relações entre as decisões técnicas, políticas e
  ideologias da prática docente.
DIDÁTICA II
  Fundamentos e organização do processo de ensino-
  aprendizagem. Relacionamento professor-aluno. A aula:
  recursos e técnicas didáticas. A avaliação: conceito e
  instrumentos de verificação do rendimento escolar. A
  avaliação formativa.
Presume-se que pode estar havendo pouca
  preocupação dos professores dessas disciplinas com o
  seu significado para o trabalho do professor em sala de
  aula e, da parte dos professores de didática, dificuldade
  de identificação (ou pouco preparo teórico para
  identificar) dos elementos da filosofia, sociologia e
  psicologia para o ensino e a aprendizagem.

• Se os atuais professores de didática das instituições de
  formação goianas são provenientes de seus cursos
  pedagogia, é possível que parte da prevalência de um
  modelo demasiado convencional de conteúdo de
  didática se explique pela decadência na qualidade
  teórica dos cursos de pedagogia.
METODOLOGIAS ESPECÍFICAS –
         DENOMINAÇÕES NAS VÁRIAS IES

• Fundamentos e metodologia (ou métodos) de língua
  portuguesa, ciências, matemática, história, geografia (9;
• Conteúdos e metodologia (ou métodos) do ensino de... (4);
• Fundamentos teóricos e metodológicos de... (2);
• Metodologia do ensino de... (3);
• Metodologia e fundamentos de... (2);
• Fundamentos (ou bases) epistemológicos e metodológicos
  de... (2);
• Fundamentos metodológicos de... (2).

Obs. - Algumas instituições registram em suas grades
  fundamentos e metodologia de alfabetização, 5 instituições
  acrescentam a Educação Física (ou correlata), 6 a Arte.
CARACTERÍSTICAS DAS EMENTAS DE
             METODOLOGIAS ESPECÍFICAS
• Na maioria das ementas prevalece a ideia de que
  “fundamentos” referem-se a princípios genéricos que estão
  por detrás da constituição da matéria, sem menção aos
  conteúdos a serem ensinados aos alunos.

      • Fundamentos metodológicos do ensino de português na 1ª fase do
        Ensino Fundamental e Educação Infantil. Principais problemas de
        aprendizagem. Comunicação oral. Didática de conhecimento
        lingüístico. Didática da comunicação e expressão em Língua
        Portuguesa. Leitura informativa e pesquisa bibliográfica.

      • Produção e reprodução evolutiva da língua portuguesa: aspectos
        fonéticos e fonológicos, morfológicos, sintáticos, lexicais, semânticas,
        pragmáticos e discursivos, na educação infantil e no ensino
        fundamental.
• Embora apareça a expressão “Fundamentos de...” ou
  “conteúdos de...”, não há evidência em nenhuma
  ementa de que são contemplados, de forma sistemática,
  os conteúdos básicos de cada disciplina. Parece haver
  um entendimento entre os professores-formadores e
  entre os coordenadores de curso responsáveis pelo
  currículo de que os alunos já dominam esses conteúdos,
  trazidos do ensino médio, o que, como se sabe, não
  acontece.

• Não se observa efetiva articulação entre metodologias e
  conteúdos, ou seja, as metodologias são tratadas em
  desconexão com os conteúdos, já que não são
  ensinados aos alunos “conteúdos” das disciplinas do
  ensino fundamental.
• As metodologias tendem a funcionar unilateralmente
  (centradas no professor) sem destacar a interação
  aluno-objeto de conhecimento, isto é, sem ajudar os
  alunos a desenvolver processos mentais (conceitos) que
  lhes permitam interagir criticamente com o mundo da
  natureza, da cultura e de si próprio.

• Em resumo, é bem provável que predomine, ainda, em
  boa parte dos professores-formadores, uma concepção
  de metodologia de ensino como formas de apresentar a
  versão simplificada dos conteúdos disciplinares, de
  modo que os alunos os “absorvam”, memorizem.
  Não se trata de metodologia como “processo mental do
  conhecimento”.
LÍNGUA PORTUGUESA


• Alfabetização e letramento (6)
• Aquisição e desenvolvimento da linguagem
  (6)
• Bases linguísticas da alfabetização (4)
• Leitura, produção e interpretação de texto (8)
• Língua portuguesa (18)
• Literatura infanto-juvenil (8)
• Pensamento, linguagem e desenvolvimento
  humano (2)
• Técnica de redação aplicada à educação
ALFABETIZAÇÃO

EMENTA: Compreensão do ensino da
alfabetização no Brasil para que se adquira
uma postura metodológica que melhor se
coadune com a pedagogia transformadora e
libertadora, fundamentada em propostas de
ensino que incluam Lingüística, a
sociolingüística e a Psicolingüística e
conseqüentemente a reflexão do
desempenho de papéis alfabetizando X
alfabetizador como sujeito único do processo
cognitivista.
CONTEUDOS E METODOLOGIA DE LINGUA PORTUGUESA

 Língua Portuguesa: Noções fundamentais acerca da relação
 entre Lingüística e ensino de gramática. A função da
 gramática normativa. Acentuação gráfica; crase; concordância
 nominal e verbal; colocação pronominal; ortografia; casos
 problemáticos de regência. Tipologia textual. Produção textual.
 Oficinas de texto: técnicas de leitura e produção de textos; uso
 de textos das disciplinas em curso, compreensão, aplicação e
 transposição de texto. Técnicas de resumo e resenha.
• CONCLUSOES

• Fragilidades na redação das ementas: genéricas, retóricas,
  mantendo-se ainda forte apoio no caráter instrumental;
• Total ausência no currículo de disciplinas de conteúdos
  específicos a serem ensinadas no ensino fundamental ;
• Desarticulação entre conteúdos e metodologias específicas
  das diferentes matérias;
• Pouca contribuição das disciplinas de “fundamentos da
  educação” às metodologias de ensino;
• Distanciamento do objeto de didática e das metodologias: a
  aprendizagem dos alunos. Em consequência, prejuízo na
  constituição da identidade profissional do professor: um
  profissional da aprendizagem, um profissional que sabe
  fazer com que os outros aprendam, que dispõe dos meios
  para isso.
• Baixo nível dos cursos de formação profissional para o
  ensino fundamental.
CONSEQUENCIAS PARA A FORMAÇAO
  PROFISSIONAL

• Os formados saem do curso de pedagogia sem
  domínio dos conteúdos específicos e de metodologias
  de ensino articuladas aos conteúdos.
• A deficiência na formação em conteúdos e metodologia
  da Língua Portuguesa acentuam os problemas, em
  função do papel da linguagem na formação do
  pensamento.
• A ausência de conteúdos específicos das matérias que
  irão ensinar às crianças torna o professor das séries
  iniciais despreparado para ensinar. O professor ensina
  o que sabe. Sem domínio do conteúdo que deveria
  ensinar, sem o encantamento pelo conhecimento, sem
  uma cultura ampliada no campo da ciência e da arte,
  não poderá despertar nos alunos gosto pelo saber, o
  entusiasmo pelo estudo;
•   Paradoxo da formação de professores no Brasil:
    professores dos anos iniciais do ensino fundamental que
    precisam dominar conhecimentos e metodologias de
    conteúdos muito diferentes como português, matemática,
    história, geografia, ciências e, às vezes, artes e
    educação física, não recebem esses conteúdos
    específicos em sua formação, enquanto que os
    professores dos anos finais, preparados em licenciaturas
    específicas, passam quatro anos estudando uma só
    disciplina, aquela em que serão titulados.
•   A baixa efetividade das disciplinas relacionadas com a
    formação profissional especifica para a docência nas
    séries iniciais, afeta significativamente o desempenho de
    conjunto do sistema escolar.
•   A ampliação das séries iniciais para cinco anos somente
    fará aumentar o descalabro atualmente existente,
    especialmente em relação aos fatores intra-escolares
    ligados a deficiências pedagógico-didáticas.
2. Algumas explicações pouco
    convencionais dessa situação
1 ) Duas constatações ao mesmo tempo
  corriqueiras e dramaticamente verdadeiras:

     - Notório insucesso dos cursos de licenciatura
  em pedagogia para formação de professores para
  os anos iniciais
     - Debilidade das atuais diretrizes curriculares
  para os cursos de licenciatura em pedagogia

  Portanto:
      - Necessidade de urgente intervenção nos
  currículos para introduzir as disciplinas de
  conteúdos específicos, articuladas com as
  metodologias de ensino.
2) Tendência crescente no campo das políticas
   educacionais e no próprio campo científico da
   área da educação de predomínio das análises
   externas sobre as internas:

      Redução da análise pedagógico-didática das
      questões educacionais.

      O fator pedagógico-didático tem sido o elo
      perdido entre as políticas públicas da educação
      e as práticas reais das escolas e salas de aula

      Desvalorização da pesquisa específica sobre
      aprendizagens e práticas de sala de aula
      (precarização da docência).                28
3) Dispersão/desacordo entre educadores,
   legisladores, pesquisadores, em relação
   aos objetivos e formas de funcionamento
   da escola:

   Missão pedagógica substituída pelas
   missões sociais: a escola do conhecimento
   para os ricos, a escola do acolhimento
   social para os pobres.
− Conferência Mundial sobre Educação para Todos.
  Promoção: Banco Mundial (BIRD), PNUD, UNICEF,
  UNESCO
  Jomtien, Tailândia, 1990
− Conferência de Nova Delhi (India) – 1993
− Declaração de Salamanca (Espanha)- 1994
− Conferência de Dacar (Senegal) - 2000

  No Brasil:

− Plano Decenal Educação para Todos (1993)
− Política Educacional (FHC e Lula)
− LDB 9394/1966
Declaração Mundial Educação Para Todos
Jomtien – Tailândia – 1990

 Objetivo:
 Satisfação de necessidades básicas da
 aprendizagem de todas as crianças,
 jovens e adultos
Com a revisão da Declaração pelo Banco
   Mundial, na perspectiva economicista,
   necessidades básicas se converteram em
   necessidades mínimas, ou seja:

a) conteúdos de aprendizagem entendidos como as
   competências e habilidades “mínimas” para a
   sobrevivência e trabalho (“kit” de habilidades para a
   vida);
b) melhorar e avaliar o rendimento escolar, ou seja,
   indicadores de caráter quantitativo. Nada a ver com
   processos de aprendizagem, formas de aprender;
c) aprendizagem de valores e atitudes requeridos
   pela nova cidadania (ênfase na sociabilidade,
   escola como lugar de convivência e acolhimento
   social).
Rosa Maria Torres:

      O pacote do BM e o modelo educativo
  subjacente à chamada “melhoria da qualidade
  da educação para os setores mais
  desfavorecidos” está, em boa medida,
  reforçando as condições objetivas e subjetivas
  que contribuem para produzir ineficiência, má
  qualidade e desigualdade no sistema escolar.

            (no livro O Banco Mundial e as políticas
            educacionais, p. 127)
A ESCOLA DO ACOLHIMENTO SOCIAL
  E DA SOCIALIZAÇÃO

Marília Miranda:
       “A escola constituída sobre o princípio do
  conhecimento está dando lugar a uma escola orientada
  pelo princípio da sociabilidade”.

Antonio Nóvoa:
       Tem-se nos tempos atuais, uma escola a “duas
  velocidades”: por um lado, uma escola concebida
  essencialmente como um centro de acolhimento social,
  para os pobres, com uma forte retórica da cidadania e da
  participação. Por outro lado, uma escola claramente
  centrada na aprendizagem e nas tecnologias, destinada a
  formar os filhos dos ricos.
                                                         34
PLANO DECENAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS (1993-
  2003)

A – Objetivos gerais de desenvolvimento da Educação
  Básica:

1 - Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem
   das crianças, jovens e adultos, provendo-lhes as
   competências fundamentais requeridas para plena
   participação na vida econômica, social, política e
   cultural do País, especialmente as necessidades do
   mundo do trabalho:

    a) definindo padrões de aprendizagem a serem
    alcançados nos vários ciclos, etapas e/ou séries da
    educação básica e garantindo oportunidades a lodos
    de aquisição de conteúdos c competências básicas:
– no domínio cognitivo: incluindo habilidades
    de comunicação e expressão oral e escrita,
    de cálculo e raciocínio lógico, estimulando a
    criatividade, a capacidade decisória,
    habilidade na' identificação e solução de
    problemas e, em especial, de saber como
    aprender;
   – no domínio da sociabilidade: pelo
    desenvolvimento de atitudes responsáveis, de
    autodeterminação, de senso de respeito ao
    próximo e de domínio ético nas relações
    interpessoais e grupais;
b) .............
A ESCOLA QUE SOBROU PARA OS POBRES

1) Universalização do acesso, mas em prejuízo da
   qualidade
2) Inversão das funções da escola: do direito à
   aprendizagem e ao conhecimento, às
   necessidades “mínimas” de aprendizagem para
   a sobrevivência.
3) Uma escola sem conteúdo e com um arremedo
   de acolhimento social e socialização (escola de
   tempo integral?) O que apareceu como “novo
   padrão de qualidade” virou um arremedo de
   qualidade. Aumentou a exclusão dentro da
   escola, antecipando a exclusão na vida social.
4) Mudanças na função social do professor
  gerando problemas na identidade profissional
  dos professores: professor multi-uso?
  Professor envolvido na construção coletiva
  do conhecimento? Professor assistente
  social? Professor tarefeiro? Professor
  acolhedor?

  Para um “kit” de habilidades de
  sobrevivência, um “kit” de habilidades
  docentes
5) Um sistema de ensino que substituiu a
   aprendizagem na sala de aula pela avaliação do
   rendimento escolar em escala. A divulgação dos
   dados quantitativos esconde mecanismos internos
   de exclusão ao longo do processo de
   escolarização.
6) Escola desatendida em todos os aspectos: prédios
   precários, recursos didáticos precários e
   desatualizados, trabalho precarizado do professor,
   rotatividade de professores...
7) As reformas jogaram todo o peso das supostas
   inovações escolares para a redução da pobreza
   em medidas externas tipo: provimento de meios e
   condições, formas de organização curricular,
   formas de gestão, intercambio com pais e
   comunidade... Deixou as condições de
   aprendizagem aos professores...
8)  Não houve efetivo investimento nas estratégias
   de ação pedagógica dentro da escola,
   enfrentando ai os mecanismos de seletividade e
   exclusão. Enquanto isso... nós próprios,
   formadores de professores, deixamos de ajudar
   os professores a emancipar o aluno, vamos
   abandonando aos poucos a didática, o interesse
   pela sala de aula e pela aprendizagem dos
   alunos.
9) As políticas e estratégias do BM reforçaram a má
   qualidade e a desigualdade no sistema escolar
   brasileiro: aumentou a exclusão dentro da escola,
   antecipando a exclusão na vida social.
3. Demandas e desafios retomar o papel
   da formação profissional específica
   dos professores (didática,
   metodologias específicas de ensino e
   conteúdos do ensino fundamental
1) PAPEL DA ESCOLA:

• Uma escolaridade igual para sujeitos diferentes,
  por meio de um currículo comum (J. Gimeno
  Sacristán).

  ESCOLA IDEAL:

• Uma escola que faça funcionar o princípio da
  diferença cultural e, ao mesmo tempo, o princípio
  da identidade dos sujeitos enquanto seres
  humanos, ou seja: os princípios do direito à
  diferença e do direito à semelhança.
      A diferença é um direito apenas se for
  afirmada em relação à semelhança, isto é, à
  universalidade do ser humano (B. Charlot).
Por um lado:

• a formação cultural e científica, isto é, o domínio do saber
  sistematizado, visando o desenvolvimento de capacidades
  intelectuais.
• Isto assegura o direito à semelhança, à igualdade. Isto é, o
  direito à formação da reflexibilidade.

  Por outro lado:

• a formação cultural e científica se destina a sujeitos
  diferentes. A diferença não é uma excepcionalidade, mas
  condição concreta do ser humano e das situações
  educativas.
A grande aposta:

    Articular a formação cultural e científica
 com as práticas socioculturais (diferenças,
 valores, redes de conhecimento, etc.) de
 modo a promover interfaces pedagógico-
 didáticas entre o conhecimento teórico-
 científico e as formas de conhecimento
 local e cotidiano.
Na abordagem do duplo movimento, enfatizamos as
relações entre conceitos cotidianos já adquiridos pelas
crianças, conceitos da matéria e conhecimento local. O
principal ponto do duplo movimento no ensino é criar
tarefas de aprendizagem que podem integrar o
conhecimento local com relações conceituais nucleares de
uma matéria, de modo que o aluno possa adquirir o
conhecimento teórico a ser utilizado em suas práticas
locais. (...)
     Na abordagem do duplo movimento, o plano de ensino
do professor deve avançar de características abstratas e
leis gerais de um conteúdo para a realidade concreta, em
toda a sua complexidade. Inversamente, a aprendizagem
dos alunos deve ampliar-se de seu conhecimento pessoal
cotidiano para as leis gerais e conceitos abstratos de um
conteúdo (HEDEGAARD, 2005, pp. 69-70).
2) Recompor a especificidade da prática
   pedagógico-didática: aprendizagem por meio do
   ensino.

  O campo da educação precisa compreender que
  ao lado da abordagem política, sociológica,
  econômica, do problema educacional, há uma
  especificidade pedagógica
Educação:

uma prática social,
materializada numa atuação efetiva na formação
e desenvolvimento de seres humanos,
em condições socioculturais e institucionais
concretas,
implicando procedimentos peculiares e
resultados,
visando mudanças qualitativas na aprendizagem
e na personalidade dos alunos.
ESPECIFICIDADE DA ANÁLISE PEDAGÓGICO-
                 DIDÁTICA

• A pedagogia, ou a análise pedagógico-didática, diz
  respeito às formas pelas quais práticas sociais formam
  o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos
  indivíduos. O resultado social, pedagógico, cultural, da
  escola, expressa-se nas aprendizagens efetivamente
  consumadas.
• A atividade pedagógica somente é pedagógica se ela
  mobiliza internamente o desenvolvimento das
  capacidades cognitivas e a formação da personalidade
  global dos alunos
3) Mudar a visão da formação. A formação inicial
   de professores precisa estabelecer relações
   teóricas e práticas mais sólidas entre a didática
   e a epistemologia das ciências.

   Romper com a separação entre conhecimentos
   disciplinares e conhecimentos pedagógico-
   didáticos
TRÊS QUESTOES PONTUAIS NA TEORIA
  DIDÁTICA:


a)A lógica dos saberes a ensinar, isto é, a relação do
   ensino com os conteúdos: este é um problema
   epistemológico.
b)A lógica dos modos de aprender dos alunos com
   base em seus processos cognitivos, afetivos,
   linguisticos, etc. Este é um problema psicológico.
c) A organização das situações didáticas e os meios
   do ensino, em se une o epistemológico e o
   cognitivo.
DILEMA DO CURSO DE LICENCIATURA
             EM PEDAGOGIA

    Para entender o problema pedagógico da
mediação entre o sujeito e o conhecimento, a
didática não é suficiente. A aprendizagem
implica formação de ações mentais relacionadas
com o conhecimento. É necessário saber o
percurso investigativo da constituição dos
conhecimentos específicos de cada ciência, e
trazê-los no processo de aprendizagem. Esta é
precisamente, una questão epistemológica.
DILEMA DOS CURSOS DE LICENCIATURA PARA
     A 2ª FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL

     Para entender como se ensina um conteúdo
 para determinados alunos, no espaço peculiar da
 sala de aula, em uma realidade sociocultural
 complexa, somente com o conhecimento do
 conteúdo não é suficiente. É necessário saber
 como converter a ciência em matéria de ensino,
 conhecer as características dos alunos e seu
 contexto, o modo de planejar situações
 pedagógico-didáticas e, além disso, como
 envolvê-los na aprendizagem. Esta é,
 precisamente, uma questão didática.
4) Não separação entre conteúdos e
  metodologias

  Os métodos de ensino são derivados dos
  processos investigativos pelos quais se chega
  à constituição de um conteúdo
Meirieu:

• “nenhum conteúdo existe fora do ato que permite pensá-
  lo, da mesma forma que nenhuma operação mental pode
  funcionar no vazio”.
• Ou seja, a formação de ações mentais supõe os
  conteúdos, pois as ações mentais estão já presentes nos
  processos investigativos e procedimentos lógicos da
  ciência ensinada.
• O que importa é a capacidade do professor de traduzir os
  conteúdos de aprendizagem em procedimentos de
  pensamento. Isto é, colocar os alunos em uma atividade
  mental, em uma seqüência de operações mentais, onde
  possa operar com conceitos.
5) Ampliação dos elementos constitutivos da
   didática: socioculturais, antropológicos,
   lingüísticos, estéticos, comunicacionais,
   midiáticos.

     -   Incorporação de temas de outras áreas
         relacionados com a linguagem, a cultura, a
         diferença, os processos comunicações, as
         mídias.
6) Investimento prioritário na investigação dos
  saberes profissionais do professor, a partir das
  lógicas próprias das práticas de ensino.

  Não a partir dos discursos dos professores sobre
  as suas práticas.

  Centrar a pesquisa pedagógica na escola e no
  ensino pode ser um caminho para formar a
  estrutura da atividade de ensino, de onde
  decorrem os saberes profissionais
Rela
                        estu     ções
                             d        do
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       c imen                      didático
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Conhe as               da                   o
       d                           conteúd
           as       didática
     prátic rais
           l tu
      iocu ionais
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           didátic
SABERES DOCENTES COM BASE NA
   TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL

1. Conhecimento do conteúdo
2. Domínio da metodologia de ensino:
   conhecimento epistemológico e didático do
   conteúdo
3. Conhecimento dos motivos dos alunos
4. Conhecimento das práticas socioculturais
   que atuam na atividade pedagógica
5. Características pessoais do professor
A prática pedagógica como núcleo da formação docente
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A prática pedagógica como núcleo da formação docente

  • 1. A prática pedagógica como núcleo do processo de formação Prof. José Carlos Libâneo XI CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES Águas de Lindóia (SP) – 16.8.2011
  • 2. TÓPICOS 1. Apresentação de dados: a insustentável precariedade do curso de licenciatura em pedagogia 2. Algumas explicações pouco convencionais dessa situação 3. Demandas e desafios o para o campo investigativo e profissional da didática e das metodologias de ensino
  • 3. PESQUISA: O ENSINO DA DIDÁTICA, DAS METODOLOGIAS ESPECÍFICAS E DOS CONTEÚDOS ESPECÍFICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE PEDAGOGIA DO ESTADO DE GOIÁS. REPERCUSSÕES NA QUALIDADE DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Publicada na Rev. Bras. Est. Ped., Brasilia, v. 91, n. 229, 2010
  • 4.
  • 5.
  • 6.
  • 7. 25 INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DE GOIÁS QUE MANTÊM CURSO DE PEDAGOGIA 2 públicas (UFG, UEG) 21 privadas 2 fundações municipais
  • 8. OBJETIVO DA PESQUISA: Analisar aspectos do ensino de didática, de metodologias específicas e de disciplinas de conteúdos, e sua efetividade na formação profissional de professores, em cursos de pedagogia. Em especial, aferir o lugar destinado ao conteúdo das disciplinas a serem ensinadas no ensino fundamental (anos iniciais) na formação inicial de professores.
  • 9. TIPO DE PESQUISA Pesquisa documental nas grades curriculares e nas ementas das disciplinas dos cursos de pedagogia.
  • 10. DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS, CONFORME CATEGORIAS, POR CARGA HORÁRIA (3.200h) - CURSO DE PEDAGOGIA CATEGORIAS % CH Fundamentos teóricos da educação 18,4 Conhecimentos referentes ao sistema escolar 12,5 Conhecimentos referentes à formação profissional específica 28,2 Conhecimentos referentes às modalidades e níveis de ensino 10,0 Outros conhecimentos 6,5 Pesquisa e TCC 8,3 Estágio e Atividades Complementares 16,1 Total 100,0
  • 11. Didática: denominações por IES • Didática (10); • Didática e formação de professores (4); • Didática fundamental (3); • Didática geral (2); • Didática e prática educativa nas séries do ensino fundamental (1); • Fundamentos de didática (1); • Pesquisa e prática pedagógica (1); • Processos didático-pedagógicos (1); • Pedagogia: saber docente e rede de saberes (1); • Didática para o ensino fundamental e didática para o ensino médio (1).
  • 12. CARACTERÍSTICAS DAS EMENTAS DE DIDÁTICA • 70% das delas expressam ainda uma didática instrumental; • Com algumas exceções, frágil aporte teórico, caráter genérico, superficialidade; • Concepção de didática centrada na atuação do professor ou nos procedimentos, sem incorporar efetivamente concepções que unem ensino à aprendizagem e outros temas contemporâneos presentes na produção bibliográfica da área. • É raro encontrar nas ementas de didática referência ao conteúdo das disciplinas de “fundamentos” (filosofia, sociologia, psicologia, etc.).
  • 13. Conceito de didática. Competências para ensinar. Estruturação do trabalho docente. Planejamento educacional: objetivos e conteúdos de ensino, métodos, estratégias e, técnicas de ensino. Avaliação da aprendizagem. A didática, suas relações e fundamentos; bases filosóficas, históricas, políticas. sociológicas, psicológicas e antropológicas para a compreensão dos fenômenos educacionais. O significado da Didática no processo educativo e seu objetivo de estudo; . A evolução histórica da Didática no Brasil e no mundo. As tendências pedagógicas no BrasIl. Aula e avaliação operatória. A escolha dos livros didáticos.
  • 14. DIDATICA I Conceito de Didática A importância da Didática na formação do professor do Ensino Fundamental. Planejamento. Tipos de planejamento. Os componentes didáticos: objetivos, conteúdos, métodos e técnicas de ensino. Relações entre as decisões técnicas, políticas e ideologias da prática docente. DIDÁTICA II Fundamentos e organização do processo de ensino- aprendizagem. Relacionamento professor-aluno. A aula: recursos e técnicas didáticas. A avaliação: conceito e instrumentos de verificação do rendimento escolar. A avaliação formativa.
  • 15. Presume-se que pode estar havendo pouca preocupação dos professores dessas disciplinas com o seu significado para o trabalho do professor em sala de aula e, da parte dos professores de didática, dificuldade de identificação (ou pouco preparo teórico para identificar) dos elementos da filosofia, sociologia e psicologia para o ensino e a aprendizagem. • Se os atuais professores de didática das instituições de formação goianas são provenientes de seus cursos pedagogia, é possível que parte da prevalência de um modelo demasiado convencional de conteúdo de didática se explique pela decadência na qualidade teórica dos cursos de pedagogia.
  • 16. METODOLOGIAS ESPECÍFICAS – DENOMINAÇÕES NAS VÁRIAS IES • Fundamentos e metodologia (ou métodos) de língua portuguesa, ciências, matemática, história, geografia (9; • Conteúdos e metodologia (ou métodos) do ensino de... (4); • Fundamentos teóricos e metodológicos de... (2); • Metodologia do ensino de... (3); • Metodologia e fundamentos de... (2); • Fundamentos (ou bases) epistemológicos e metodológicos de... (2); • Fundamentos metodológicos de... (2). Obs. - Algumas instituições registram em suas grades fundamentos e metodologia de alfabetização, 5 instituições acrescentam a Educação Física (ou correlata), 6 a Arte.
  • 17. CARACTERÍSTICAS DAS EMENTAS DE METODOLOGIAS ESPECÍFICAS • Na maioria das ementas prevalece a ideia de que “fundamentos” referem-se a princípios genéricos que estão por detrás da constituição da matéria, sem menção aos conteúdos a serem ensinados aos alunos. • Fundamentos metodológicos do ensino de português na 1ª fase do Ensino Fundamental e Educação Infantil. Principais problemas de aprendizagem. Comunicação oral. Didática de conhecimento lingüístico. Didática da comunicação e expressão em Língua Portuguesa. Leitura informativa e pesquisa bibliográfica. • Produção e reprodução evolutiva da língua portuguesa: aspectos fonéticos e fonológicos, morfológicos, sintáticos, lexicais, semânticas, pragmáticos e discursivos, na educação infantil e no ensino fundamental.
  • 18. • Embora apareça a expressão “Fundamentos de...” ou “conteúdos de...”, não há evidência em nenhuma ementa de que são contemplados, de forma sistemática, os conteúdos básicos de cada disciplina. Parece haver um entendimento entre os professores-formadores e entre os coordenadores de curso responsáveis pelo currículo de que os alunos já dominam esses conteúdos, trazidos do ensino médio, o que, como se sabe, não acontece. • Não se observa efetiva articulação entre metodologias e conteúdos, ou seja, as metodologias são tratadas em desconexão com os conteúdos, já que não são ensinados aos alunos “conteúdos” das disciplinas do ensino fundamental.
  • 19. • As metodologias tendem a funcionar unilateralmente (centradas no professor) sem destacar a interação aluno-objeto de conhecimento, isto é, sem ajudar os alunos a desenvolver processos mentais (conceitos) que lhes permitam interagir criticamente com o mundo da natureza, da cultura e de si próprio. • Em resumo, é bem provável que predomine, ainda, em boa parte dos professores-formadores, uma concepção de metodologia de ensino como formas de apresentar a versão simplificada dos conteúdos disciplinares, de modo que os alunos os “absorvam”, memorizem. Não se trata de metodologia como “processo mental do conhecimento”.
  • 20. LÍNGUA PORTUGUESA • Alfabetização e letramento (6) • Aquisição e desenvolvimento da linguagem (6) • Bases linguísticas da alfabetização (4) • Leitura, produção e interpretação de texto (8) • Língua portuguesa (18) • Literatura infanto-juvenil (8) • Pensamento, linguagem e desenvolvimento humano (2) • Técnica de redação aplicada à educação
  • 21. ALFABETIZAÇÃO EMENTA: Compreensão do ensino da alfabetização no Brasil para que se adquira uma postura metodológica que melhor se coadune com a pedagogia transformadora e libertadora, fundamentada em propostas de ensino que incluam Lingüística, a sociolingüística e a Psicolingüística e conseqüentemente a reflexão do desempenho de papéis alfabetizando X alfabetizador como sujeito único do processo cognitivista.
  • 22. CONTEUDOS E METODOLOGIA DE LINGUA PORTUGUESA Língua Portuguesa: Noções fundamentais acerca da relação entre Lingüística e ensino de gramática. A função da gramática normativa. Acentuação gráfica; crase; concordância nominal e verbal; colocação pronominal; ortografia; casos problemáticos de regência. Tipologia textual. Produção textual. Oficinas de texto: técnicas de leitura e produção de textos; uso de textos das disciplinas em curso, compreensão, aplicação e transposição de texto. Técnicas de resumo e resenha.
  • 23. • CONCLUSOES • Fragilidades na redação das ementas: genéricas, retóricas, mantendo-se ainda forte apoio no caráter instrumental; • Total ausência no currículo de disciplinas de conteúdos específicos a serem ensinadas no ensino fundamental ; • Desarticulação entre conteúdos e metodologias específicas das diferentes matérias; • Pouca contribuição das disciplinas de “fundamentos da educação” às metodologias de ensino; • Distanciamento do objeto de didática e das metodologias: a aprendizagem dos alunos. Em consequência, prejuízo na constituição da identidade profissional do professor: um profissional da aprendizagem, um profissional que sabe fazer com que os outros aprendam, que dispõe dos meios para isso. • Baixo nível dos cursos de formação profissional para o ensino fundamental.
  • 24. CONSEQUENCIAS PARA A FORMAÇAO PROFISSIONAL • Os formados saem do curso de pedagogia sem domínio dos conteúdos específicos e de metodologias de ensino articuladas aos conteúdos. • A deficiência na formação em conteúdos e metodologia da Língua Portuguesa acentuam os problemas, em função do papel da linguagem na formação do pensamento. • A ausência de conteúdos específicos das matérias que irão ensinar às crianças torna o professor das séries iniciais despreparado para ensinar. O professor ensina o que sabe. Sem domínio do conteúdo que deveria ensinar, sem o encantamento pelo conhecimento, sem uma cultura ampliada no campo da ciência e da arte, não poderá despertar nos alunos gosto pelo saber, o entusiasmo pelo estudo;
  • 25. Paradoxo da formação de professores no Brasil: professores dos anos iniciais do ensino fundamental que precisam dominar conhecimentos e metodologias de conteúdos muito diferentes como português, matemática, história, geografia, ciências e, às vezes, artes e educação física, não recebem esses conteúdos específicos em sua formação, enquanto que os professores dos anos finais, preparados em licenciaturas específicas, passam quatro anos estudando uma só disciplina, aquela em que serão titulados. • A baixa efetividade das disciplinas relacionadas com a formação profissional especifica para a docência nas séries iniciais, afeta significativamente o desempenho de conjunto do sistema escolar. • A ampliação das séries iniciais para cinco anos somente fará aumentar o descalabro atualmente existente, especialmente em relação aos fatores intra-escolares ligados a deficiências pedagógico-didáticas.
  • 26. 2. Algumas explicações pouco convencionais dessa situação
  • 27. 1 ) Duas constatações ao mesmo tempo corriqueiras e dramaticamente verdadeiras: - Notório insucesso dos cursos de licenciatura em pedagogia para formação de professores para os anos iniciais - Debilidade das atuais diretrizes curriculares para os cursos de licenciatura em pedagogia Portanto: - Necessidade de urgente intervenção nos currículos para introduzir as disciplinas de conteúdos específicos, articuladas com as metodologias de ensino.
  • 28. 2) Tendência crescente no campo das políticas educacionais e no próprio campo científico da área da educação de predomínio das análises externas sobre as internas: Redução da análise pedagógico-didática das questões educacionais. O fator pedagógico-didático tem sido o elo perdido entre as políticas públicas da educação e as práticas reais das escolas e salas de aula Desvalorização da pesquisa específica sobre aprendizagens e práticas de sala de aula (precarização da docência). 28
  • 29. 3) Dispersão/desacordo entre educadores, legisladores, pesquisadores, em relação aos objetivos e formas de funcionamento da escola: Missão pedagógica substituída pelas missões sociais: a escola do conhecimento para os ricos, a escola do acolhimento social para os pobres.
  • 30. − Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Promoção: Banco Mundial (BIRD), PNUD, UNICEF, UNESCO Jomtien, Tailândia, 1990 − Conferência de Nova Delhi (India) – 1993 − Declaração de Salamanca (Espanha)- 1994 − Conferência de Dacar (Senegal) - 2000 No Brasil: − Plano Decenal Educação para Todos (1993) − Política Educacional (FHC e Lula) − LDB 9394/1966
  • 31. Declaração Mundial Educação Para Todos Jomtien – Tailândia – 1990 Objetivo: Satisfação de necessidades básicas da aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos
  • 32. Com a revisão da Declaração pelo Banco Mundial, na perspectiva economicista, necessidades básicas se converteram em necessidades mínimas, ou seja: a) conteúdos de aprendizagem entendidos como as competências e habilidades “mínimas” para a sobrevivência e trabalho (“kit” de habilidades para a vida); b) melhorar e avaliar o rendimento escolar, ou seja, indicadores de caráter quantitativo. Nada a ver com processos de aprendizagem, formas de aprender; c) aprendizagem de valores e atitudes requeridos pela nova cidadania (ênfase na sociabilidade, escola como lugar de convivência e acolhimento social).
  • 33. Rosa Maria Torres: O pacote do BM e o modelo educativo subjacente à chamada “melhoria da qualidade da educação para os setores mais desfavorecidos” está, em boa medida, reforçando as condições objetivas e subjetivas que contribuem para produzir ineficiência, má qualidade e desigualdade no sistema escolar. (no livro O Banco Mundial e as políticas educacionais, p. 127)
  • 34. A ESCOLA DO ACOLHIMENTO SOCIAL E DA SOCIALIZAÇÃO Marília Miranda: “A escola constituída sobre o princípio do conhecimento está dando lugar a uma escola orientada pelo princípio da sociabilidade”. Antonio Nóvoa: Tem-se nos tempos atuais, uma escola a “duas velocidades”: por um lado, uma escola concebida essencialmente como um centro de acolhimento social, para os pobres, com uma forte retórica da cidadania e da participação. Por outro lado, uma escola claramente centrada na aprendizagem e nas tecnologias, destinada a formar os filhos dos ricos. 34
  • 35. PLANO DECENAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS (1993- 2003) A – Objetivos gerais de desenvolvimento da Educação Básica: 1 - Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, provendo-lhes as competências fundamentais requeridas para plena participação na vida econômica, social, política e cultural do País, especialmente as necessidades do mundo do trabalho: a) definindo padrões de aprendizagem a serem alcançados nos vários ciclos, etapas e/ou séries da educação básica e garantindo oportunidades a lodos de aquisição de conteúdos c competências básicas:
  • 36. – no domínio cognitivo: incluindo habilidades de comunicação e expressão oral e escrita, de cálculo e raciocínio lógico, estimulando a criatividade, a capacidade decisória, habilidade na' identificação e solução de problemas e, em especial, de saber como aprender; – no domínio da sociabilidade: pelo desenvolvimento de atitudes responsáveis, de autodeterminação, de senso de respeito ao próximo e de domínio ético nas relações interpessoais e grupais; b) .............
  • 37. A ESCOLA QUE SOBROU PARA OS POBRES 1) Universalização do acesso, mas em prejuízo da qualidade 2) Inversão das funções da escola: do direito à aprendizagem e ao conhecimento, às necessidades “mínimas” de aprendizagem para a sobrevivência. 3) Uma escola sem conteúdo e com um arremedo de acolhimento social e socialização (escola de tempo integral?) O que apareceu como “novo padrão de qualidade” virou um arremedo de qualidade. Aumentou a exclusão dentro da escola, antecipando a exclusão na vida social.
  • 38. 4) Mudanças na função social do professor gerando problemas na identidade profissional dos professores: professor multi-uso? Professor envolvido na construção coletiva do conhecimento? Professor assistente social? Professor tarefeiro? Professor acolhedor? Para um “kit” de habilidades de sobrevivência, um “kit” de habilidades docentes
  • 39. 5) Um sistema de ensino que substituiu a aprendizagem na sala de aula pela avaliação do rendimento escolar em escala. A divulgação dos dados quantitativos esconde mecanismos internos de exclusão ao longo do processo de escolarização. 6) Escola desatendida em todos os aspectos: prédios precários, recursos didáticos precários e desatualizados, trabalho precarizado do professor, rotatividade de professores... 7) As reformas jogaram todo o peso das supostas inovações escolares para a redução da pobreza em medidas externas tipo: provimento de meios e condições, formas de organização curricular, formas de gestão, intercambio com pais e comunidade... Deixou as condições de aprendizagem aos professores...
  • 40. 8) Não houve efetivo investimento nas estratégias de ação pedagógica dentro da escola, enfrentando ai os mecanismos de seletividade e exclusão. Enquanto isso... nós próprios, formadores de professores, deixamos de ajudar os professores a emancipar o aluno, vamos abandonando aos poucos a didática, o interesse pela sala de aula e pela aprendizagem dos alunos. 9) As políticas e estratégias do BM reforçaram a má qualidade e a desigualdade no sistema escolar brasileiro: aumentou a exclusão dentro da escola, antecipando a exclusão na vida social.
  • 41. 3. Demandas e desafios retomar o papel da formação profissional específica dos professores (didática, metodologias específicas de ensino e conteúdos do ensino fundamental
  • 42.
  • 43. 1) PAPEL DA ESCOLA: • Uma escolaridade igual para sujeitos diferentes, por meio de um currículo comum (J. Gimeno Sacristán). ESCOLA IDEAL: • Uma escola que faça funcionar o princípio da diferença cultural e, ao mesmo tempo, o princípio da identidade dos sujeitos enquanto seres humanos, ou seja: os princípios do direito à diferença e do direito à semelhança. A diferença é um direito apenas se for afirmada em relação à semelhança, isto é, à universalidade do ser humano (B. Charlot).
  • 44. Por um lado: • a formação cultural e científica, isto é, o domínio do saber sistematizado, visando o desenvolvimento de capacidades intelectuais. • Isto assegura o direito à semelhança, à igualdade. Isto é, o direito à formação da reflexibilidade. Por outro lado: • a formação cultural e científica se destina a sujeitos diferentes. A diferença não é uma excepcionalidade, mas condição concreta do ser humano e das situações educativas.
  • 45. A grande aposta: Articular a formação cultural e científica com as práticas socioculturais (diferenças, valores, redes de conhecimento, etc.) de modo a promover interfaces pedagógico- didáticas entre o conhecimento teórico- científico e as formas de conhecimento local e cotidiano.
  • 46. Na abordagem do duplo movimento, enfatizamos as relações entre conceitos cotidianos já adquiridos pelas crianças, conceitos da matéria e conhecimento local. O principal ponto do duplo movimento no ensino é criar tarefas de aprendizagem que podem integrar o conhecimento local com relações conceituais nucleares de uma matéria, de modo que o aluno possa adquirir o conhecimento teórico a ser utilizado em suas práticas locais. (...) Na abordagem do duplo movimento, o plano de ensino do professor deve avançar de características abstratas e leis gerais de um conteúdo para a realidade concreta, em toda a sua complexidade. Inversamente, a aprendizagem dos alunos deve ampliar-se de seu conhecimento pessoal cotidiano para as leis gerais e conceitos abstratos de um conteúdo (HEDEGAARD, 2005, pp. 69-70).
  • 47. 2) Recompor a especificidade da prática pedagógico-didática: aprendizagem por meio do ensino. O campo da educação precisa compreender que ao lado da abordagem política, sociológica, econômica, do problema educacional, há uma especificidade pedagógica
  • 48. Educação: uma prática social, materializada numa atuação efetiva na formação e desenvolvimento de seres humanos, em condições socioculturais e institucionais concretas, implicando procedimentos peculiares e resultados, visando mudanças qualitativas na aprendizagem e na personalidade dos alunos.
  • 49. ESPECIFICIDADE DA ANÁLISE PEDAGÓGICO- DIDÁTICA • A pedagogia, ou a análise pedagógico-didática, diz respeito às formas pelas quais práticas sociais formam o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos indivíduos. O resultado social, pedagógico, cultural, da escola, expressa-se nas aprendizagens efetivamente consumadas. • A atividade pedagógica somente é pedagógica se ela mobiliza internamente o desenvolvimento das capacidades cognitivas e a formação da personalidade global dos alunos
  • 50. 3) Mudar a visão da formação. A formação inicial de professores precisa estabelecer relações teóricas e práticas mais sólidas entre a didática e a epistemologia das ciências. Romper com a separação entre conhecimentos disciplinares e conhecimentos pedagógico- didáticos
  • 51. TRÊS QUESTOES PONTUAIS NA TEORIA DIDÁTICA: a)A lógica dos saberes a ensinar, isto é, a relação do ensino com os conteúdos: este é um problema epistemológico. b)A lógica dos modos de aprender dos alunos com base em seus processos cognitivos, afetivos, linguisticos, etc. Este é um problema psicológico. c) A organização das situações didáticas e os meios do ensino, em se une o epistemológico e o cognitivo.
  • 52. DILEMA DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA Para entender o problema pedagógico da mediação entre o sujeito e o conhecimento, a didática não é suficiente. A aprendizagem implica formação de ações mentais relacionadas com o conhecimento. É necessário saber o percurso investigativo da constituição dos conhecimentos específicos de cada ciência, e trazê-los no processo de aprendizagem. Esta é precisamente, una questão epistemológica.
  • 53. DILEMA DOS CURSOS DE LICENCIATURA PARA A 2ª FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL Para entender como se ensina um conteúdo para determinados alunos, no espaço peculiar da sala de aula, em uma realidade sociocultural complexa, somente com o conhecimento do conteúdo não é suficiente. É necessário saber como converter a ciência em matéria de ensino, conhecer as características dos alunos e seu contexto, o modo de planejar situações pedagógico-didáticas e, além disso, como envolvê-los na aprendizagem. Esta é, precisamente, uma questão didática.
  • 54. 4) Não separação entre conteúdos e metodologias Os métodos de ensino são derivados dos processos investigativos pelos quais se chega à constituição de um conteúdo
  • 55. Meirieu: • “nenhum conteúdo existe fora do ato que permite pensá- lo, da mesma forma que nenhuma operação mental pode funcionar no vazio”. • Ou seja, a formação de ações mentais supõe os conteúdos, pois as ações mentais estão já presentes nos processos investigativos e procedimentos lógicos da ciência ensinada. • O que importa é a capacidade do professor de traduzir os conteúdos de aprendizagem em procedimentos de pensamento. Isto é, colocar os alunos em uma atividade mental, em uma seqüência de operações mentais, onde possa operar com conceitos.
  • 56. 5) Ampliação dos elementos constitutivos da didática: socioculturais, antropológicos, lingüísticos, estéticos, comunicacionais, midiáticos. - Incorporação de temas de outras áreas relacionados com a linguagem, a cultura, a diferença, os processos comunicações, as mídias.
  • 57. 6) Investimento prioritário na investigação dos saberes profissionais do professor, a partir das lógicas próprias das práticas de ensino. Não a partir dos discursos dos professores sobre as suas práticas. Centrar a pesquisa pedagógica na escola e no ensino pode ser um caminho para formar a estrutura da atividade de ensino, de onde decorrem os saberes profissionais
  • 58. Rela estu ções d do o co ante com nhec to i (mot mento ecimen Conh o ivos) d do conteú ento to Campo Conhecim c imen didático do Conhe as da o d conteúd as didática prátic rais l tu iocu ionais soc tuc e insti ent o im hec ar to Con icul ejamen r er Plan Cur er a s b ) e uso de (sa ndido e materi al apr o didátic
  • 59. SABERES DOCENTES COM BASE NA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL 1. Conhecimento do conteúdo 2. Domínio da metodologia de ensino: conhecimento epistemológico e didático do conteúdo 3. Conhecimento dos motivos dos alunos 4. Conhecimento das práticas socioculturais que atuam na atividade pedagógica 5. Características pessoais do professor