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1 jun 2009

      Nº 65


Apesar da crise, taxa de
investimento brasileira
continuará em expansão
Por Fernando Pimentel Puga e            binação das vantagens competitivas
Gilberto Rodrigues Borça Junior         brasileiras com a expansão da de-
Economistas da APE                      manda mundial. Posteriormente,
                                        com o crescimento do mercado
                                        consumidor doméstico e a
Expansão em              De 2006 a      implementação de novas políticas
setores como           meados do        públicas (PAC e mudanças nos mar-
infraestrutura e       segundo se-      cos regulatórios do setor elétrico e
petróleo e gás
                       mestre de        de construção residencial), o ciclo
deve compensar
                       2008, a For-     de investimentos generalizou-se.
quedas em outras
áreas, mantendo        mação Bruta      Ganharam importância não apenas
taxa crescente         de Capital       a infraestrutura, mas também a
                       Fixo brasilei-   construção residencial e a indústria
ra (FBKF) cresceu, sistematicamen-      de bens de consumo duráveis.
te, acima do PIB, configurando o         Em meados de 2008, o investi-
mais longo e vigoroso ciclo de inves-   mento crescia a uma taxa acelera-
timentos dos últimos trinta anos.
Durante 12 trimestres consecutivos,       Visão do Desenvolvimento é uma publicação
                                        da área de Pesquisas Econômicas (APE), do
os investimentos cresceram, em mé-      Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi-
dia, 2,5 vezes a mais que o PIB.        co e Social. As opiniões deste informe são de
  A expansão do investimento teve       responsabilidade dos autores e não refletem ne-
início nos setores produtores de        cessariamente o pensamento da administração
commodities, beneficiados pela com-     do BNDES.
da – quase três vezes superior à do                        informações divulgadas pelas empre-
    PIB. As inversões em infraestrutura                        sas sobre suas intenções de investi-
    aumentavam a competitividade                               mentos - anunciadas em seus planos
    sistêmica da economia, contribuindo                        estratégicos - realiza-se simulações
    para viabilizar novos investimentos                        para as inversões não mapeadas.
    em outros setores. Esse processo ge-
    rava, simultaneamente, efeitos                              Investimento em perspectiva
    multiplicadores na economia,
    potencializando o crescimento da ren-                        Os primeiros anos da década de
    da e do emprego.                                           2000 foram de redução na taxa de in-
      A atual crise financeira internacio-                     vestimento1. Trata-se de uma queda
    nal, agravada após setembro de 2008,                       concentrada no segmento de
    representa uma séria ameaça à con-                         infraestrutura, associada principal-
    tinuidade desse ciclo de investimen-                       mente ao fim do ciclo de inversões em
    tos, especialmente em função da for-                       telecomunicações. Em 2001, a taxa de
    te queda nos preços internacionais                         investimento desse setor ficou em
    das commodities e da deterioração das                      1,7% do PIB, por conta de pesados
    condições internas de crédito. De fato,                    investimentos na universalização do
    no quarto trimestre de 2008, o inves-                      sistema de telefonia fixa e na implan-
    timento caiu 9,8% na comparação                            tação das operadoras de telefonias
    com o trimestre imediatamente ante-                        móvel. Nos sete anos seguintes, essa
    rior, feito o ajuste sazonal. Trata-se,                    taxa reduziu-se a menos da metade.
    nessa base de comparação, do pior                          A indústria de transformação também
    desempenho desde 1996, início da                           perdeu importância no investimento,
    série do IBGE.                                             com destaque para queda nas inver-
      Este estudo revisa e complementa                         sões em veículos automotores.
    o Visão do Desenvolvimento nº 60,                            A recuperação da taxa de investi-
    que apresentou o levantamento so-                          mento começou em 2004. Entretan-
    bre as perspectivas de investimento                        to, conforme mostra o Gráfico 1, a par-
    para a economia brasileira no perío-                       tir de 2006 essa trajetória torna-se
    do 2009/2012. O objetivo é projetar,                       mais consistente. Em 2008, a taxa de
    do ponto de vista setorial, a taxa de                      investimento atingiu 19,0% do PIB, o
    investimento no Brasil. Para tanto,                        que representa um aumento de 3,1
    além de incorporar as mais recentes                        pontos percentuais frente a 2005.
                                                                 Essa aceleração nos investimentos
       1 Entende-se por taxa de investimento a relação entre   foi inicialmente liderada por setores
    a FBKF da economia – formada pelos gastos em máquinas      produtores de commodities, estimula-
    e equipamentos e construção – e o PIB. A elevação da
    taxa de investimento é fundamental para a sustentação
                                                               da pela forte demanda mundial, es-
    de uma trajetória de crescimento de longo prazo mais       pecialmente de China e Índia, países
    elevada, uma vez que a ampliação da capacidade de oferta   que apresentavam elevado ritmo de
    deve sempre estar a frente da demanda, evitando o apa-
                                                               crescimento econômico. Em 2006, os
    recimento de desequilíbrios globais e minimizando a pos-
    sibilidade de pressões inflacionárias.                     destaques setoriais ficaram por con-
2
Gráfico 1: Taxa de Investimento Brasileira, por Setor (% do PIB)
 Tabela 4- Geração Líq. de Empregos por Região e Participação de cada Região no
                            no Saldo Líquido Total
                                                                                   19,0
 20
        17,0                                                           17,5
                    16,4                                   16,4
                           15,3       16,1        15,9
 15                                                                                  7,2
         5,9                                                            6,5
                     6,6               6,4                  6,1
                            5,5                     6,2

 10                                                                                  4,1
         4,1                                                            4,1
                     4,1                            3,9     4,1
                            4,2        4,1
                                                                                     2,0
         3,3                                                            2,0
  5                         1,7                     1,9     1,9
                     2,1               1,9                                           2,6
                                                                        2,2
                            2,2        2,1          2,1     2,3                      0,7
         2,7         2,2                                                0,6
                     0,2    0,4        0,3          0,5     0,5
         0,3                1,3        1,3          1,4     1,5         2,0          2,3
         0,9         1,1
 -
        2001        2002   2003       2004         2005     2006       2007         2008
          Petróleo e Gás          Extrativa Mineral         Indústria de Transformação
          Infraestrutura          Construção Residencial    Demais

Fonte: IBGE e BNDES.

ta de siderurgia, celulose e                     ras, isto é, produtoras de commodities.
sucroalcooleiro.                                 Adicionalmente, o crescimento do
  No ano seguinte, houve forte ele-              mercado doméstico associado a ex-
vação dos investimentos em petró-                pansão do crédito e da massa salari-
leo & gás, que já se encontravam em              al, impulsionou os setores de bens de
expansão desde o início dos anos                 consumo duráveis – veículos
2000. Neste caso, além dos altos pre-            automotores e eletroeletrônica. Na
ços internacionais do petróleo, vári-            construção residencial, além desses
as descobertas de campos na plata-               fatores, importantes mudanças
forma continental brasileira em                  institucionais e regulatórias impulsi-
águas profundas foram realizadas.                onaram o setor, como por exemplo,
No que tange à infraestrutura, os des-           mudanças nas regras de poupança,
taques ficaram por conta das inver-              mecanismos de alienação fiduciária e
sões em saneamento e ferrovias.                  patrimônio de afetação. Na
  Em 2008, a expansão do investimen-             infraestrutura, o grande destaque foi
to atingiu seu auge, generalizando-se.           o setor de energia elétrica devido a
Na indústria de transformação houve              consolidação do marco regulatório e
uma nova onda de inversões nos se-               da conseqüente expansão dos leilões
tores ligados as atividades exportado-           de energia.
                                                                                         3
A crise financeira internacional e a O segundo canal afetou os setores
    mudança no investimento brasileiro produtores de bens de consumo du-
                                       rável e a construção residencial, am-
  A atual crise financeira internacio- bos ligados às condições restritivas
nal teve início em agosto de 2007,     do mercado de crédito doméstico em
mas agravou-se sensivelmente a         um contexto de crise global. A crise
partir de meados de setembro de        internacional restringiu a tomada de
2008. O evento catalisador desse       recursos para compra de automó-
processo foi a falência do banco nor-  veis – menores prazos e maiores ta-
te-americano Lehman Brothers.          xas de juros –, gerando uma redu-
Esse episódio provocou a deteriora-    ção da demanda no setor. A contra-
ção abrupta, em escala global, das     ção de crédito afetou também o seg-
expectativas dos agentes econômi-      mento de construção residencial.
cos, gerando impactos recessivos         Existe outro grupo de setores, no
sobre a economia mundial. As pers-     entanto, cuja perspectiva de inves-
pectivas para 2009 são de retração     timento praticamente não foi afeta-
nas economias desenvolvidas,           da pelo cenário internacional adver-
desaceleração das economias emer-      so - formado por infraestrutura e pe-
gentes, dimi-                                                  tróleo & gás.
nuição nos flu- Início da década foi de redução Os investi-
xos de investi- na taxa de investimento, mas mentos nes-
mentos diretos recuperação começou em 2004 se grupo es-
e queda no va-                                                 tão ligados,
lor do comércio mundial.               em parte, à concorrência de merca-
  No Brasil, em particular, os efei-   do e ao desenvolvimento tecnológico
tos da falência do Lehman Brothers     brasileiro, como é o caso, respecti-
foram sentidos sobre as decisões de    vamente, das inversões em teleco-
investimento. O cenário de incerte-    municações e na exploração de pe-
za levou, em boa medida, ao adia-      tróleo na camada do pré-sal. Em se-
mento de projetos. É possível apon-    tores como energia elétrica, trans-
tar dois canais através dos quais a    portes rodoviários, logística e sane-
crise afetou os investimentos. O pri-  amento, as inversões estão ancora-
meiro recaiu sobre os setores ex-      das em contratos celebrados com o
portadores em função da retração       Governo – leilões de energia elétri-
acentuada da demanda mundial. A        ca e concessões de rodovias – e nos
combinação entre retração do co-       projetos no âmbito do PAC.
mércio internacional e queda dos
preços das commodities afetou sen-       Perspectiva para a taxa de
sivelmente os segmentos ligados à        investimento
dinâmica do mercado internacional
– extração de minério de ferro, si-      Para se estimar as perspectivas de
derurgia e celulose.                   investimento no período 2009-2012,
4
Gráfico 2: Projeção para Taxa de Investimento Brasileira, por Setor
                            (% do PIB)
 25

                                                                 20.0             20.8
                            19.0     19.0            19.5
 20
            16.4                                                                   7,6
                                                       6,8        7,2
                             7,2       6,6
 15
             6,2
                                                       4,2        4,3              4,5
 10                          4,1       4,2
             4,1
                                       2,7             2,7        2,6              2,7
                             2,0
     5       2,1                                       2,6        2,6              2,6
                             2,6       2,5
             2,3             0,7       0,5             0,6        0,6              0,6
             0,4             2,3       2,5             2,6        2,7              2,9
             1,3
 -
         média 2001 -       2008      2009            2010        2011             2012
            2007
           Petróleo e Gás          Extrativa Mineral         Indústria de Transformação
           Infraestrutura          Construção Residencial    Demais


Fonte: IBGE e BNDES.


o mapeamento dos projetos da eco-                 mas com retomada do crescimento
nomia realizado pelo BNDES foi atu-               nos anos seguintes, chegando a
alizado, destacando-se a revisão para             20,8% do PIB em 2012.
cima nas inversões em petróleo & gás                Infraestrutura e petróleo & gás se-
e para baixo na indústria de trans-               rão os grandes responsáveis pela
formação. A perspectiva para os se-               sustentação dos investimentos nes-
tores não mapeados foi realizada                  se período. Esses dois setores, em-
através de estimação econométrica.                bora tenham representado 23% da
  O Gráfico 2 mostra a nova projeção              FBKF em 2008, responderão por dois
para a taxa de investimento (relação              terços do aumento na taxa de inves-
entre a Formação Bruta de Capital                 timento, entre 2008 e 2012. Dos 1,8
Fixo e o PIB), baseada em dados de                ponto percentual de variação na taxa
projetos conhecidos pelo BNDES e                  no período, 0,7 p.p. (40%) vem da
informações das empresas. Apresen-                infraestrutura e 0,5 p.p. (29%) do se-
ta também estimativas de sua com-                 tor de petróleo & gás. A taxa de in-
posição setorial até 2012. A perspec-             vestimento em petróleo & gás deve-
tiva é de que essa taxa se mantenha               rá chegar a 2,9% do PIB, em 2009, o
em 19,0% em 2009, ou seja, que                    que representa, aproximadamente,
acompanhe o desempenho do PIB,                    14% da FBKF da economia. Trata-se
                                                                                           5
de percentual quase três vezes mai-       conta dos investimentos públicos em
    or que os 5% registrado em 2001.          rodovias (PAC) e dos investimentos no
      Em 2009, a disparidade no desem-        âmbito do Programa de Concessão de
    penho entre os setores deverá ser         Rodovias Federais e do estado de São
    bastante expressiva. Embora o ce-         Paulo. Em telecomunicações, vislum-
    nário global para o investimento seja     bra-se inversões significativas na 3ª
    pouco favorável devido aos efeitos        geração de telefonia móvel (3G), em
    da crise internacional, existem se-       infraestrutura óptica na telefonia fixa
    tores que possuem capacidade de           e na utilização do Wimax, sistema que
    sustentação de seus níveis de inver-      oferece banda larga à distância. Nos
    são: petróleo & gás e, sobretudo,         setores de logística e saneamento, des-
    infraestrutura.                           tacam-se os projetos no âmbito do
      No primeiro caso, a perspectiva está    PAC – Programa de Aceleração do
    baseada, principalmente, no mais          Crescimento.
    novo plano de negócios da Petrobras,        Além de petróleo & gás e
    divulgado no último mês de janeiro.       infraestrutura, a perspectiva é de que
    Na infraestrutura, os investimentos       haja crescimento, embora moderado,
    devem continuar a aumentar em             na construção residencial em 2009.
    energia                                                                 Em que
    elétrica, Infraestrutura, construção e indústria pese o
    t e l e c o - de bens duráveis foram setores que se setor es-
    munica- destacaram na expansão do investimento tar entre
    ções,                                                                   aqueles
    logística (transporte rodoviários, ferro- mais afetados pela crise internacio-
    vias e portos) e saneamento. Dentre       nal, o expressivo número de lança-
    estes, destaca-se energia elétrica, que   mentos de imóveis pelas construto-
    apresenta programas de investimen-        ras nos últimos anos deverá garantir
    to com orçamento definido para os         essa expansão dos investimentos.
    próximos quatro anos. Além disso, os      De fato, o prazo entre a data de lan-
    contratos de fornecimento de energia      çamento de um imóvel e o início da
    celebrados com o governo e os eleva-      construção oscila entre 6 e 9 meses,
    dos custos afundados dos projetos já      seguido por um prazo entre 18 e 48
    em andamento conferem certo cará-         meses de obras até a data de entre-
    ter de irreversibilidade aos investi-     ga. As medidas do governo de estí-
    mentos. No segmento de geração, so-       mulo à construção de casas popula-
    bressaem os projetos no Rio Madei-        res devem impactar os investimen-
    ra, Belo Monte, Estreito e Foz do         tos do setor ainda em 2009, embora
    Chapecó. A perspectiva é de que par-      seus efeitos sejam maiores em 2010
    te significativa dos investimentos ocor-  e 2011. Espera-se, contudo, uma for-
    ra no segundo semestre do ano.            te retração dos investimentos reali-
      Em transportes rodoviários, as inver-   zados pelas famílias na construção e
    sões devem ter forte expansão por         reformas de casas.
6
O cenário é de queda nos investi-     res de perfumaria, cosméticos e arti-
mentos na indústria, particularmen-     gos de higiene e pessoal.
te na extrativa mineral e em insumos      O cenário para 2010-2012 é de re-
básicos. A contração da demanda         tomada no investimento da economia,
mundial deve levar a uma retração       com comportamento bem mais homo-
maior nos investimentos em setores      gêneo entre os setores. De um lado,
da indústria mais voltados à expor-     vislumbra-se uma retomada gradual
tação, como mineração, siderurgia e     dos projetos mapeados pelo Banco,
celulose. Porém, estes eram os seto-    mas que foram adiados por conta da
res que, até então, lideravam o cres-   crise. De outro, destaca-se a manu-
cimento dos investimentos da eco-       tenção do crescimento das inversões
nomia e apresentam projetos vulto-      em petróleo & gás e infraestrutura.
sos de novas plantas industriais. O
cenário é mais de adiamento do que        Conclusão
de cancelamento de projetos. Como
principal exceção dentro da indús-        Nos últimos anos três anos – 2006,
tria de transformação, a perspectiva    2007 e 2008 –, a economia brasilei-
é de significativa ampliação dos in-    ra vivenciou um robusto ciclo de in-
vestimentos                                                       vestimen-
da indústria No Brasil, a crise provocou tos. Inicial-
naval por con- adiamento de projetos nos setores mente, as
ta da deman- exportadores de commodities i n v e r s õ e s
da de embar-                                                      concentra-
cações pelo setor de petróleo & gás.    ram-se nos setores exportadores,
  Os investimentos no grupo dos de-     amplamente ligados à dinâmica dos
mais setores (basicamente, setores de   mercados internacionais – deman-
comércio e serviços não relacionados    da mundial aquecida e alta dos pre-
à infraestrutura) deverão estar entre   ços das commodities. Posteriormen-
os mais afetados pela crise internaci-  te, com o crescimento do mercado
onal. A queda nas inversões ficará      interno e a adoção de novas políti-
próxima de 7%, em 2009. Trata-se de     cas públicas, ganharam importân-
setores que concentram investimen-      cia os setores de bens de consumo
tos de curto prazo, cujas inversões são duráveis, infraestrutura e a cons-
mais rapidamente postergadas em         trução residencial.
momentos de crise. A perspectiva é        O agravamento da crise financeira
de forte heterogeneidade no desem-      internacional, no entanto, ocorreu no
penho entre os setores. Os mais afe-    momento em que o ciclo de investi-
tados deverão ser aqueles mais de-      mento atingia seu auge. Os impac-
pendentes de crédito, como o de co-     tos nas decisões de investimento das
mércio de eletro-eletrônicos, em con-   empresas recaíram tanto nos setores
traste com uma expectativa de cres-     exportadores que lideravam esse
cimento nos investimentos em seto-      ciclo – mineração, siderurgia, celu-
                                                                                7
lose – quanto nos setores ligados      apresenta uma maior resiliência a
ao consumo doméstico e que são         choques devido:
mais dependentes das condições           i) à existência de um bloco con-
internas de crédito – automotivo.      ciso de investimentos nos setores
Porém, o fato de os projetos des-      de infraestrutura e petróleo & gás
ses setores terem sido em sua          que possuem a capacidade de
maioria adiados, mas não cance-        sustentar, no longo prazo, a traje-
lados, mostra uma perspectiva de       tória ascendente da taxa de inves-
retomada no crescimento nos in-        timento. No curto prazo, esses in-
vestimentos a partir da melhoria       vestimentos, por seu porte e volu-
das condições externas.                me de recursos, estarão compen-
  O cenário externo adverso afetou     sando a retração das inversões nos
também investimentos nos setores       setores mais afetados pelo cená-
de comércio e serviços, os quais       rio externo.
concentram projetos de curto pra-        ii) à capacidade de resposta do
zo e que são rapidamente poster-       governo aos choques adversos en-
gados em momentos de crise.            frentados, tanto mediante a exe-
  A crise internacional, no entan-     cução de planos institucionais de
to, praticamente não alterou as        investimentos governamentais
perspectivas nos setores de            (PAC) e a regulação e concessões
infraestrutura e petróleo & gás.       de serviços públicos ao setor pri-
Seus investimentos estão associ-       vado; quanto através da atuação
ados a fatores estruturais e           anticíclica dos bancos públicos
regulatórios. No primeiro caso, te-    (BB, BNDES e CEF) na concessão
mos: i) as inversões em telecomu-      de financiamento às empresas
nicações – ligadas à concorrência      para a manutenção dos projetos
de mercado na implantação de           de investimento.
novas tecnologias de telefonia; e        A perspectiva é de que a taxa de
ii) projetos em energia elétrica,      investimento atinja 21% até 2012,
transportes rodoviários, sanea-        com aumento de 1,8 ponto
mento, portos e ferrovias – inves-     percentual frente a 2008. Esse ce-
timentos respaldados em contra-        nário tem como importante premis-
tos com o Governo e de interesse       sa o diagnóstico de lenta e gradual,
prioritário do setor público (inclu-   mas consistente, recuperação da
ídos no PAC). No segundo caso          economia mundial no período
estão incluídos os investimentos       2010-2012. O levantamento dos
em exploração de petróleo & gás        projetos de investimentos da eco-
da camada pré-sal.                     nomia brasileira indica que a crise
  Hoje, pode-se afirmar que o Bra-     internacional deve adiar em dois
sil está mais preparado para en-       anos o alcance desse percentual,
frentar crises do que no passado.      anteriormente previsto para 2010.
A taxa de investimento brasileira

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Avaliação setorial para o investimento privado no Brasil: o caso do setor de ...
 

Visao 65

  • 1. 1 jun 2009 Nº 65 Apesar da crise, taxa de investimento brasileira continuará em expansão Por Fernando Pimentel Puga e binação das vantagens competitivas Gilberto Rodrigues Borça Junior brasileiras com a expansão da de- Economistas da APE manda mundial. Posteriormente, com o crescimento do mercado consumidor doméstico e a Expansão em De 2006 a implementação de novas políticas setores como meados do públicas (PAC e mudanças nos mar- infraestrutura e segundo se- cos regulatórios do setor elétrico e petróleo e gás mestre de de construção residencial), o ciclo deve compensar 2008, a For- de investimentos generalizou-se. quedas em outras áreas, mantendo mação Bruta Ganharam importância não apenas taxa crescente de Capital a infraestrutura, mas também a Fixo brasilei- construção residencial e a indústria ra (FBKF) cresceu, sistematicamen- de bens de consumo duráveis. te, acima do PIB, configurando o Em meados de 2008, o investi- mais longo e vigoroso ciclo de inves- mento crescia a uma taxa acelera- timentos dos últimos trinta anos. Durante 12 trimestres consecutivos, Visão do Desenvolvimento é uma publicação da área de Pesquisas Econômicas (APE), do os investimentos cresceram, em mé- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi- dia, 2,5 vezes a mais que o PIB. co e Social. As opiniões deste informe são de A expansão do investimento teve responsabilidade dos autores e não refletem ne- início nos setores produtores de cessariamente o pensamento da administração commodities, beneficiados pela com- do BNDES.
  • 2. da – quase três vezes superior à do informações divulgadas pelas empre- PIB. As inversões em infraestrutura sas sobre suas intenções de investi- aumentavam a competitividade mentos - anunciadas em seus planos sistêmica da economia, contribuindo estratégicos - realiza-se simulações para viabilizar novos investimentos para as inversões não mapeadas. em outros setores. Esse processo ge- rava, simultaneamente, efeitos Investimento em perspectiva multiplicadores na economia, potencializando o crescimento da ren- Os primeiros anos da década de da e do emprego. 2000 foram de redução na taxa de in- A atual crise financeira internacio- vestimento1. Trata-se de uma queda nal, agravada após setembro de 2008, concentrada no segmento de representa uma séria ameaça à con- infraestrutura, associada principal- tinuidade desse ciclo de investimen- mente ao fim do ciclo de inversões em tos, especialmente em função da for- telecomunicações. Em 2001, a taxa de te queda nos preços internacionais investimento desse setor ficou em das commodities e da deterioração das 1,7% do PIB, por conta de pesados condições internas de crédito. De fato, investimentos na universalização do no quarto trimestre de 2008, o inves- sistema de telefonia fixa e na implan- timento caiu 9,8% na comparação tação das operadoras de telefonias com o trimestre imediatamente ante- móvel. Nos sete anos seguintes, essa rior, feito o ajuste sazonal. Trata-se, taxa reduziu-se a menos da metade. nessa base de comparação, do pior A indústria de transformação também desempenho desde 1996, início da perdeu importância no investimento, série do IBGE. com destaque para queda nas inver- Este estudo revisa e complementa sões em veículos automotores. o Visão do Desenvolvimento nº 60, A recuperação da taxa de investi- que apresentou o levantamento so- mento começou em 2004. Entretan- bre as perspectivas de investimento to, conforme mostra o Gráfico 1, a par- para a economia brasileira no perío- tir de 2006 essa trajetória torna-se do 2009/2012. O objetivo é projetar, mais consistente. Em 2008, a taxa de do ponto de vista setorial, a taxa de investimento atingiu 19,0% do PIB, o investimento no Brasil. Para tanto, que representa um aumento de 3,1 além de incorporar as mais recentes pontos percentuais frente a 2005. Essa aceleração nos investimentos 1 Entende-se por taxa de investimento a relação entre foi inicialmente liderada por setores a FBKF da economia – formada pelos gastos em máquinas produtores de commodities, estimula- e equipamentos e construção – e o PIB. A elevação da taxa de investimento é fundamental para a sustentação da pela forte demanda mundial, es- de uma trajetória de crescimento de longo prazo mais pecialmente de China e Índia, países elevada, uma vez que a ampliação da capacidade de oferta que apresentavam elevado ritmo de deve sempre estar a frente da demanda, evitando o apa- crescimento econômico. Em 2006, os recimento de desequilíbrios globais e minimizando a pos- sibilidade de pressões inflacionárias. destaques setoriais ficaram por con- 2
  • 3. Gráfico 1: Taxa de Investimento Brasileira, por Setor (% do PIB) Tabela 4- Geração Líq. de Empregos por Região e Participação de cada Região no no Saldo Líquido Total 19,0 20 17,0 17,5 16,4 16,4 15,3 16,1 15,9 15 7,2 5,9 6,5 6,6 6,4 6,1 5,5 6,2 10 4,1 4,1 4,1 4,1 3,9 4,1 4,2 4,1 2,0 3,3 2,0 5 1,7 1,9 1,9 2,1 1,9 2,6 2,2 2,2 2,1 2,1 2,3 0,7 2,7 2,2 0,6 0,2 0,4 0,3 0,5 0,5 0,3 1,3 1,3 1,4 1,5 2,0 2,3 0,9 1,1 - 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Petróleo e Gás Extrativa Mineral Indústria de Transformação Infraestrutura Construção Residencial Demais Fonte: IBGE e BNDES. ta de siderurgia, celulose e ras, isto é, produtoras de commodities. sucroalcooleiro. Adicionalmente, o crescimento do No ano seguinte, houve forte ele- mercado doméstico associado a ex- vação dos investimentos em petró- pansão do crédito e da massa salari- leo & gás, que já se encontravam em al, impulsionou os setores de bens de expansão desde o início dos anos consumo duráveis – veículos 2000. Neste caso, além dos altos pre- automotores e eletroeletrônica. Na ços internacionais do petróleo, vári- construção residencial, além desses as descobertas de campos na plata- fatores, importantes mudanças forma continental brasileira em institucionais e regulatórias impulsi- águas profundas foram realizadas. onaram o setor, como por exemplo, No que tange à infraestrutura, os des- mudanças nas regras de poupança, taques ficaram por conta das inver- mecanismos de alienação fiduciária e sões em saneamento e ferrovias. patrimônio de afetação. Na Em 2008, a expansão do investimen- infraestrutura, o grande destaque foi to atingiu seu auge, generalizando-se. o setor de energia elétrica devido a Na indústria de transformação houve consolidação do marco regulatório e uma nova onda de inversões nos se- da conseqüente expansão dos leilões tores ligados as atividades exportado- de energia. 3
  • 4. A crise financeira internacional e a O segundo canal afetou os setores mudança no investimento brasileiro produtores de bens de consumo du- rável e a construção residencial, am- A atual crise financeira internacio- bos ligados às condições restritivas nal teve início em agosto de 2007, do mercado de crédito doméstico em mas agravou-se sensivelmente a um contexto de crise global. A crise partir de meados de setembro de internacional restringiu a tomada de 2008. O evento catalisador desse recursos para compra de automó- processo foi a falência do banco nor- veis – menores prazos e maiores ta- te-americano Lehman Brothers. xas de juros –, gerando uma redu- Esse episódio provocou a deteriora- ção da demanda no setor. A contra- ção abrupta, em escala global, das ção de crédito afetou também o seg- expectativas dos agentes econômi- mento de construção residencial. cos, gerando impactos recessivos Existe outro grupo de setores, no sobre a economia mundial. As pers- entanto, cuja perspectiva de inves- pectivas para 2009 são de retração timento praticamente não foi afeta- nas economias desenvolvidas, da pelo cenário internacional adver- desaceleração das economias emer- so - formado por infraestrutura e pe- gentes, dimi- tróleo & gás. nuição nos flu- Início da década foi de redução Os investi- xos de investi- na taxa de investimento, mas mentos nes- mentos diretos recuperação começou em 2004 se grupo es- e queda no va- tão ligados, lor do comércio mundial. em parte, à concorrência de merca- No Brasil, em particular, os efei- do e ao desenvolvimento tecnológico tos da falência do Lehman Brothers brasileiro, como é o caso, respecti- foram sentidos sobre as decisões de vamente, das inversões em teleco- investimento. O cenário de incerte- municações e na exploração de pe- za levou, em boa medida, ao adia- tróleo na camada do pré-sal. Em se- mento de projetos. É possível apon- tores como energia elétrica, trans- tar dois canais através dos quais a portes rodoviários, logística e sane- crise afetou os investimentos. O pri- amento, as inversões estão ancora- meiro recaiu sobre os setores ex- das em contratos celebrados com o portadores em função da retração Governo – leilões de energia elétri- acentuada da demanda mundial. A ca e concessões de rodovias – e nos combinação entre retração do co- projetos no âmbito do PAC. mércio internacional e queda dos preços das commodities afetou sen- Perspectiva para a taxa de sivelmente os segmentos ligados à investimento dinâmica do mercado internacional – extração de minério de ferro, si- Para se estimar as perspectivas de derurgia e celulose. investimento no período 2009-2012, 4
  • 5. Gráfico 2: Projeção para Taxa de Investimento Brasileira, por Setor (% do PIB) 25 20.0 20.8 19.0 19.0 19.5 20 16.4 7,6 6,8 7,2 7,2 6,6 15 6,2 4,2 4,3 4,5 10 4,1 4,2 4,1 2,7 2,7 2,6 2,7 2,0 5 2,1 2,6 2,6 2,6 2,6 2,5 2,3 0,7 0,5 0,6 0,6 0,6 0,4 2,3 2,5 2,6 2,7 2,9 1,3 - média 2001 - 2008 2009 2010 2011 2012 2007 Petróleo e Gás Extrativa Mineral Indústria de Transformação Infraestrutura Construção Residencial Demais Fonte: IBGE e BNDES. o mapeamento dos projetos da eco- mas com retomada do crescimento nomia realizado pelo BNDES foi atu- nos anos seguintes, chegando a alizado, destacando-se a revisão para 20,8% do PIB em 2012. cima nas inversões em petróleo & gás Infraestrutura e petróleo & gás se- e para baixo na indústria de trans- rão os grandes responsáveis pela formação. A perspectiva para os se- sustentação dos investimentos nes- tores não mapeados foi realizada se período. Esses dois setores, em- através de estimação econométrica. bora tenham representado 23% da O Gráfico 2 mostra a nova projeção FBKF em 2008, responderão por dois para a taxa de investimento (relação terços do aumento na taxa de inves- entre a Formação Bruta de Capital timento, entre 2008 e 2012. Dos 1,8 Fixo e o PIB), baseada em dados de ponto percentual de variação na taxa projetos conhecidos pelo BNDES e no período, 0,7 p.p. (40%) vem da informações das empresas. Apresen- infraestrutura e 0,5 p.p. (29%) do se- ta também estimativas de sua com- tor de petróleo & gás. A taxa de in- posição setorial até 2012. A perspec- vestimento em petróleo & gás deve- tiva é de que essa taxa se mantenha rá chegar a 2,9% do PIB, em 2009, o em 19,0% em 2009, ou seja, que que representa, aproximadamente, acompanhe o desempenho do PIB, 14% da FBKF da economia. Trata-se 5
  • 6. de percentual quase três vezes mai- conta dos investimentos públicos em or que os 5% registrado em 2001. rodovias (PAC) e dos investimentos no Em 2009, a disparidade no desem- âmbito do Programa de Concessão de penho entre os setores deverá ser Rodovias Federais e do estado de São bastante expressiva. Embora o ce- Paulo. Em telecomunicações, vislum- nário global para o investimento seja bra-se inversões significativas na 3ª pouco favorável devido aos efeitos geração de telefonia móvel (3G), em da crise internacional, existem se- infraestrutura óptica na telefonia fixa tores que possuem capacidade de e na utilização do Wimax, sistema que sustentação de seus níveis de inver- oferece banda larga à distância. Nos são: petróleo & gás e, sobretudo, setores de logística e saneamento, des- infraestrutura. tacam-se os projetos no âmbito do No primeiro caso, a perspectiva está PAC – Programa de Aceleração do baseada, principalmente, no mais Crescimento. novo plano de negócios da Petrobras, Além de petróleo & gás e divulgado no último mês de janeiro. infraestrutura, a perspectiva é de que Na infraestrutura, os investimentos haja crescimento, embora moderado, devem continuar a aumentar em na construção residencial em 2009. energia Em que elétrica, Infraestrutura, construção e indústria pese o t e l e c o - de bens duráveis foram setores que se setor es- munica- destacaram na expansão do investimento tar entre ções, aqueles logística (transporte rodoviários, ferro- mais afetados pela crise internacio- vias e portos) e saneamento. Dentre nal, o expressivo número de lança- estes, destaca-se energia elétrica, que mentos de imóveis pelas construto- apresenta programas de investimen- ras nos últimos anos deverá garantir to com orçamento definido para os essa expansão dos investimentos. próximos quatro anos. Além disso, os De fato, o prazo entre a data de lan- contratos de fornecimento de energia çamento de um imóvel e o início da celebrados com o governo e os eleva- construção oscila entre 6 e 9 meses, dos custos afundados dos projetos já seguido por um prazo entre 18 e 48 em andamento conferem certo cará- meses de obras até a data de entre- ter de irreversibilidade aos investi- ga. As medidas do governo de estí- mentos. No segmento de geração, so- mulo à construção de casas popula- bressaem os projetos no Rio Madei- res devem impactar os investimen- ra, Belo Monte, Estreito e Foz do tos do setor ainda em 2009, embora Chapecó. A perspectiva é de que par- seus efeitos sejam maiores em 2010 te significativa dos investimentos ocor- e 2011. Espera-se, contudo, uma for- ra no segundo semestre do ano. te retração dos investimentos reali- Em transportes rodoviários, as inver- zados pelas famílias na construção e sões devem ter forte expansão por reformas de casas. 6
  • 7. O cenário é de queda nos investi- res de perfumaria, cosméticos e arti- mentos na indústria, particularmen- gos de higiene e pessoal. te na extrativa mineral e em insumos O cenário para 2010-2012 é de re- básicos. A contração da demanda tomada no investimento da economia, mundial deve levar a uma retração com comportamento bem mais homo- maior nos investimentos em setores gêneo entre os setores. De um lado, da indústria mais voltados à expor- vislumbra-se uma retomada gradual tação, como mineração, siderurgia e dos projetos mapeados pelo Banco, celulose. Porém, estes eram os seto- mas que foram adiados por conta da res que, até então, lideravam o cres- crise. De outro, destaca-se a manu- cimento dos investimentos da eco- tenção do crescimento das inversões nomia e apresentam projetos vulto- em petróleo & gás e infraestrutura. sos de novas plantas industriais. O cenário é mais de adiamento do que Conclusão de cancelamento de projetos. Como principal exceção dentro da indús- Nos últimos anos três anos – 2006, tria de transformação, a perspectiva 2007 e 2008 –, a economia brasilei- é de significativa ampliação dos in- ra vivenciou um robusto ciclo de in- vestimentos vestimen- da indústria No Brasil, a crise provocou tos. Inicial- naval por con- adiamento de projetos nos setores mente, as ta da deman- exportadores de commodities i n v e r s õ e s da de embar- concentra- cações pelo setor de petróleo & gás. ram-se nos setores exportadores, Os investimentos no grupo dos de- amplamente ligados à dinâmica dos mais setores (basicamente, setores de mercados internacionais – deman- comércio e serviços não relacionados da mundial aquecida e alta dos pre- à infraestrutura) deverão estar entre ços das commodities. Posteriormen- os mais afetados pela crise internaci- te, com o crescimento do mercado onal. A queda nas inversões ficará interno e a adoção de novas políti- próxima de 7%, em 2009. Trata-se de cas públicas, ganharam importân- setores que concentram investimen- cia os setores de bens de consumo tos de curto prazo, cujas inversões são duráveis, infraestrutura e a cons- mais rapidamente postergadas em trução residencial. momentos de crise. A perspectiva é O agravamento da crise financeira de forte heterogeneidade no desem- internacional, no entanto, ocorreu no penho entre os setores. Os mais afe- momento em que o ciclo de investi- tados deverão ser aqueles mais de- mento atingia seu auge. Os impac- pendentes de crédito, como o de co- tos nas decisões de investimento das mércio de eletro-eletrônicos, em con- empresas recaíram tanto nos setores traste com uma expectativa de cres- exportadores que lideravam esse cimento nos investimentos em seto- ciclo – mineração, siderurgia, celu- 7
  • 8. lose – quanto nos setores ligados apresenta uma maior resiliência a ao consumo doméstico e que são choques devido: mais dependentes das condições i) à existência de um bloco con- internas de crédito – automotivo. ciso de investimentos nos setores Porém, o fato de os projetos des- de infraestrutura e petróleo & gás ses setores terem sido em sua que possuem a capacidade de maioria adiados, mas não cance- sustentar, no longo prazo, a traje- lados, mostra uma perspectiva de tória ascendente da taxa de inves- retomada no crescimento nos in- timento. No curto prazo, esses in- vestimentos a partir da melhoria vestimentos, por seu porte e volu- das condições externas. me de recursos, estarão compen- O cenário externo adverso afetou sando a retração das inversões nos também investimentos nos setores setores mais afetados pelo cená- de comércio e serviços, os quais rio externo. concentram projetos de curto pra- ii) à capacidade de resposta do zo e que são rapidamente poster- governo aos choques adversos en- gados em momentos de crise. frentados, tanto mediante a exe- A crise internacional, no entan- cução de planos institucionais de to, praticamente não alterou as investimentos governamentais perspectivas nos setores de (PAC) e a regulação e concessões infraestrutura e petróleo & gás. de serviços públicos ao setor pri- Seus investimentos estão associ- vado; quanto através da atuação ados a fatores estruturais e anticíclica dos bancos públicos regulatórios. No primeiro caso, te- (BB, BNDES e CEF) na concessão mos: i) as inversões em telecomu- de financiamento às empresas nicações – ligadas à concorrência para a manutenção dos projetos de mercado na implantação de de investimento. novas tecnologias de telefonia; e A perspectiva é de que a taxa de ii) projetos em energia elétrica, investimento atinja 21% até 2012, transportes rodoviários, sanea- com aumento de 1,8 ponto mento, portos e ferrovias – inves- percentual frente a 2008. Esse ce- timentos respaldados em contra- nário tem como importante premis- tos com o Governo e de interesse sa o diagnóstico de lenta e gradual, prioritário do setor público (inclu- mas consistente, recuperação da ídos no PAC). No segundo caso economia mundial no período estão incluídos os investimentos 2010-2012. O levantamento dos em exploração de petróleo & gás projetos de investimentos da eco- da camada pré-sal. nomia brasileira indica que a crise Hoje, pode-se afirmar que o Bra- internacional deve adiar em dois sil está mais preparado para en- anos o alcance desse percentual, frentar crises do que no passado. anteriormente previsto para 2010. A taxa de investimento brasileira