Como preparar Má educação recheada com desrespeito ao magistério
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2. Como preparar Má educação recheada com desrespeito ao magistério e decorada com redução
de respeito à cidadania (receita à moda baiana)
Dina Maria Rosário
Ingredientes: escolas com estrutura física deteriorada; professores e
técnicos concursados que atuam na educação básica; professores e técnicos
com contrato temporário; alunos; pais; péssimas condições de trabalho;
baixo salário; manipulação da opinião pública; discursos de incompetência
da instituição escolar pública; 'teorias científicas' que atribuam à escola a
origem e a solução de todos os males sociais.
Elaboração: coloque professores, técnicos e alunos na pressão de
uma escola com estrutura de prisão ou manicômio (janelas, portas
e corredores com acessos precedidos por grades e sistema de
vigilância) durante 200 dias letivos. Não esqueça de separar os
grupos amarrando-os com cordões da marca 'eu me oponho a você
e nem sei porque'. Separe, também, os professores dos técnicos
com fios do tipo 'eu sou melhor e mais importante que você'.
Tanto no grupo dos professores quanto dos técnicos separe os
concursados dos contratados amarrando firmemente cada grupo
com uma linha tipo 'trabalhamos juntos mas eu tenho mais direitos
que você'. Arrume em camadas hierárquicas colocando os
funcionários da segurança, da higienização e da cozinha bem no
fundo e separados dos outros por uma folha transparente da marca
'finja que eles não existem'.
Enquanto isso, ponha de molho os salários (por 10 anos). Pique
em pedaços pequenos a estrutura física e pedagógica das escolas –
quanto maior a desértica aparência de campo de guerra melhor.
Frite os direitos trabalhistas dos técnicos, funcionários e
professores. Torre a paciência dos pais com os discursos sobre a
incompetência dos professores e da escola. Salpique tudo com
notícias sobre violência na escolar (Fica ótimo!). Aqueça uma
frigideira com os resultados das avaliações em larga escala e os
em refogue uma reunião de colegiado.
3. Não se assuste se começar a ebulir com protestos, reivindicações e
greves. Primeiro finja que não percebeu o movimento – o silêncio
governamental opera milagres. Se não funcionar esfrie a fervura
utilizando os veículos de comunicação para culpabilizar as
professores pela má qualidade da educação – vale a pena afirmar a
incompetência dos profissionais e a insinuar que a categoria tem
vida mansa pois sempre funciona. Se eles resistirem apele para a
pressão dos pais e responsáveis lembrando-os que os alunos do
final do ensino médio estão se preparando para o vestibular e
serão prejudicados – essa é infalível. Para evitar que volte a ebulir
contrate alguns 'especialistas' para entoar os hipnóticos cânticos
das 'teorias científicas' que atribuem à escola a origem e a solução
de todos os males sociais.
Está pronto o prato que serve a todos os governos neoliberais que
buscam uma eficiente forma de colonizar as mentes e os bolsos
dos cidadãos.
Obs: As quantidades para os ingredientes da receita podem variar
de acordo com o partido político no poder. O segredo para garantir
uma excelente má educação é caprichar na manipulação da
opinião pública (pais e alunos), na desestruturação do sistema de
ensino e na insatisfação docente.