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                                               Distribuição Gratuita    Ano XI – Número 27 – abril/2008 a julho/2010
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         MICROSCÓPIO ELETRÔNICO
              DE VARREDURA
                                 Versatilidade e precisão em exames periciais




                                                                       Grãos de pólen visualizados no MEV
Associação Nacional
                                                 dos Peritos Criminais Federais
 Diretoria Executiva Nacional

                                                                Octavio Brandão Caldas Netto                                      Helio Buchmuller Lima
                                                                            Presidente                                                 Vice-Presidente


         Marcos de Almeida Camargo                         Sergio Ricardo Silva Cibreiros de Souza                              Renato Rodrigues Barbosa                                          Sérgio Martin Aguiar
                 Secretário-Geral                                     Diretor Técnico-Social                                    Diretor de Assuntos Jurídicos                              Diretor de Assuntos Parlamentares

           Sara Lais Rahal Lenharo                                Luiz Ernesto Fonseca Alves                                        Claudio Saad Netto                                             Sara Oliveira Farias
           Suplente de Secretário-Geral                         Suplente de Diretor Técnico-Social                        Suplente de Diretor de Assuntos Jurídicos                  Suplente de Diretor de Assuntos Parlamentares

   Agadeilton Gomes Lacerda de Menezes                            Eurico Monteiro Montenegro                                     Maurício José da Cunha                                       Rinaldo José Prado Santos
                Diretor Financeiro                                   Diretor de Comunicação                                 Diretor de Administração e Patrimônio                        Diretor de Aposentados e Pensionistas

         Luiz Carlos de Gouvea Horta                         Fabiano Afonso de Sousa Menezes                                  Dulce Maria Percicotti Santana                              Paulo César Pires Fortes Pedroza
          Suplente de Diretor Financeiro                      Suplente de Diretor de Comunicação                      Suplente de Diretor de Administração e Patrimônio            Suplente de Diretor de Aposentados e Pensionistas



 Conselho Fiscal Deliberativo

Roosevelt Alves Fernandes Leadebal Junior              Eduardo Siqueira Costa Neto              André Luiz da Costa Morisson          Eduardo Monteiro de Queiroz             Davi Silva dos Santos         Jorilson da Silva Rodrigues
                   Presidente                                  Vice-Presidente                               Membro                              1º Suplente                       2º Suplente                        3º Suplente



 Diretorias Regionais

ACRE                                                   MATO GROSSO                                               LONDRINA                                                        SANTA CATARINA
Diretor Regional: Cesar Silvino Gomes                  Diretor Regional: João Luiz Freixo                        Diretor Regional: Licia Maria Said de Lavor                     Diretor Regional: Alexanders Tadeu das Neves Belarmino
Suplente: Edna Aparecida Silveira                      Suplente: Ior Canesso Juraszek                            Suplente: Eduardo Neris Marques                                 Suplente: Antonio César Becker Junior
Diretor Financeiro: Luiz Alberto Guimarães Sousa       Diretor Financeiro: Marlon Konzen                         apcf.pr@apcf.org.br
apcf.ac@apcf.org.br                                    apcf.mt@apcf.org.br                                                                                                       Diretor Financeiro: Alexandre Bacellar Raupp
                                                                                                                 PERNAMBUCO                                                      apcf.sc@apcf.org.br
ALAGOAS                                                SUBREGIONAIS/MT                                           Diretor Regional: Ricardo Saldanha Honorato
Diretor Regional: Walter Leal Junior                   RONDONÓPOLIS                                              Suplente: Valdeci Pacheco da Silva                              SÃO PAULO
Suplente: Petronio Falcomer Junior                     Diretor Regional: Ricardo Alves Castelo Costa             Diretor Financeiro: Diogo Laplace Cavalcante da Silva           Diretor Regional: Márcio Rodrigo de Freitas Carneiro
Diretor Financeiro: Francisco dos Santos Lopes         Suplente: Roberto Maurício A. do Casal                    apcf.pe@apcf.org.br
apcf.al@apcf.org.br                                                                                                                                                              Suplente: Ricardo Guanaes Cosso
                                                       apcf.mt@apcf.org.br
                                                                                                                                                                                 Diretor Financeiro: Leonardo Gentil Bellot
                                                                                                                 PIAUÍ
AMAPÁ                                                  MATO GROSSO DO SUL                                        Diretor Regional: Everardo Mendes Vilanova E Silva              apcf.sp@apcf.org.br
Diretor Regional: Gabriel Toselli B. Tabosa do Egito   Diretor Regional: Christian Marcelo Corrêa Da Costa       Suplente: Cirilo Max Macedo de Morais
Suplente: Yone Piauilino                               Suplente: Andre Luis de Abreu Moreira
Diretor Financeiro: José de Carvalho Azevedo Filho                                                               Diretor Financeiro: Thalles Evangelista Fernandes de Souza      SUBREGIONAIS/SP
                                                       Diretor Financeiro: Alcir Teixeira Gomes                  apcf.pi@apcf.org.br                                             ARAÇATUBA
apcf.ap@apcf.org.br                                    apcf.ms@apcf.org.br
                                                                                                                                                                                 Diretor Regional: Rodrigo Império Marquesini
AMAZONAS                                                                                                         RIO DE JANEIRO
                                                       MINAS GERAIS                                                                                                              Suplente: Max Lima e Motta
Diretor Regional: Mário Sérgio Gomes De Faria                                                                    Diretor Regional: Augusto Cesar Fabiao Moreira da Silva
                                                       Diretor Regional: Adriano Azeredo Coutinho Villanova      Suplente: Flavio França Nunes da Rocha                          apcf.sp@apcf.org.br
Suplente: Vinicius Cesar Da Nobrega Carneiro           Suplente: Marcus Vinicius de Oliveira Andrade
Diretor Financeiro: Alex De Andrade Nascimento                                                                   Diretor Financeiro: Roberto de Araujo Vieira
                                                       Diretor Financeiro: Rodrigo Melo Mendes                   apcf.rj@apcf.org.br                                             CAMPINAS
apcf.am@apcf.org.br                                    apcf.mg@apcf.org.br
                                                                                                                                                                                 Diretor Regional: Francisco José Bentes Pessoa
BAHIA                                                                                                            RIO GRANDE DO NORTE                                             Suplente: Paulo Henrique Fisch de Brito
                                                       SUBREGIONAIS/MG                                           Diretor Regional: Flavio Leite Rodrigues
Diretor Regional: Adilson Carvalho Silva               JUIZ DE FORA                                                                                                              apcf.sp@apcf.org.br
Suplente: Michelcove Soares de Araujo                                                                            Suplente: Emerson Kennedy Ribeiro de Andrade
                                                       Diretor Regional: André da Silva Mussoi                   Diretor Financeiro: Cesar de Macedo Rego
Diretor Financeiro: Rogerio Dourado Silva Junior       Suplente: Maurício Vicente Ribeiro Júnior
apcf.ba@apcf.org.br                                                                                              apcf.rn@apcf.org.br                                             RIBEIRÃO PRETO
                                                       apcf.mg@apcf.org.br
                                                                                                                                                                                 Diretor Regional: Carlos Alberto da Silva Lucietto
SUBREGIONAIS/BA                                                                                                  RIO GRANDE DO SUL                                               Suplente: Luciana P. Rustomgy Mesquita
JUAZEIRO                                               UBERLÂNDIA
                                                       Diretor Regional: Raimundo Wagner Canuto de Alencar       Diretor Regional: Bernardo Bainhas Chiodelli                    apcf.sp@apcf.org.br
Diretor Regional: Marco Antonio Valle Agostini                                                                   Suplente: Eduardo Filipe Avila Silva
Suplente: Edson Jorge Pacheco                          Suplente: José Rocha de Carvalho Filho
                                                       apcf.mg@apcf.org.br                                       Diretor Financeiro: Eduardo Zacchi
apcf.ba@apcf.org.br                                                                                              apcf.rs@apcf.org.br                                             SANTOS
                                                                                                                                                                                 Diretor Regional: Rodrigo Gonçalves Teixeira
CEARÁ                                                  PARÁ
                                                       Diretor Regional: Jorge Cley de Oliveira Rosa             SUBREGIONAIS/RS                                                 Suplente: Erick Simões da Câmara e Silva
Diretor Regional: João Bosco Carvalho de Almeida                                                                 PELOTAS                                                         apcf.sp@apcf.org.br
Suplente: José Carlos Lacerda de Souza                 Suplente: Luiz Eduardo Marinho Gusmao
                                                       Diretor Financeiro: Luis Felipe Monteiro Vieira           Diretor Regional: Marco Antônio Zatta
Diretor Financeiro: Marcelo da Silva Cristino                                                                    Suplente: Ivanhoé Lobato Rocha
apcf.ce@apcf.org.br                                    E-mail: apcf.pa@apcf.org.br                                                                                               SOROCABA
                                                                                                                 apcf.rs@apcf.org.br
                                                                                                                                                                                 Diretor Regional: Alexandre Luiz Rodrigues Zarth
ESPÍRITO SANTO                                         PARAÍBA
                                                       Diretor Regional: Elvis Rodrigues Farias                  SANTA MARIA                                                     Suplente: Eduardo Eugenio do Prado Bruck
Diretor Regional: Marcelo Renato Dias Loouser
                                                       Suplente: Ruy Cesar Alves                                 Diretor Regional: Marcos Roberto Feuerharmel                    apcf.sp@apcf.org.br
Suplente: Elias Carvalho Silva
Diretor Financeiro: André Bittencourt dos Santos       Diretor Financeiro: Marco Aurelio Gomes Alves             Suplente: Mauro Sander Fett
apcf.es@apcf.org.br                                    apcf.pb@apcf.org.br                                       apcf.rs@apcf.org.br                                             SERGIPE
                                                                                                                                                                                 Diretor Regional: Jefferson Ricardo Bastos Braga
GOIÁS                                                  PARANÁ                                                    RONDÔNIA
                                                                                                                 Diretor Regional: Fabio da Silva Botelho                        Suplente: Paulo Márcio Alonso Ferreira
Diretor Regional: José Walber Borges Pinheiro          Diretor Regional: João José de Castro Baptista Vallim
Suplente: Isleamer Abdel Kader Dos Santos              Suplente: Fabio Augusto da Silva Salvador                 Suplente: Luciano Petinati Ferreira                             Diretor Financeiro: Evando José de Alencar Paton
Diretor Financeiro: Gabriel Renaldo Laureano           Diretor Financeiro: Aldemar Maia Neto                     Diretor Financeiro: Ricardo Andres Reveco Hurtado               apcf.se@apcf.org.br
apcf.go@apcf.org.br                                    apcf.pr@apcf.org.br                                       apcf.ro@apcf.org.br
                                                                                                                                                                                 TOCANTINS
MARANHÃO                                               SUBREGIONAIS/PR                                           RORAIMA
                                                                                                                                                                                 Diretor Regional: Carlos Antonio Almeida de Oliveira
Diretor Regional: Hmenon Carvalho dos Santos           FOZ DO IGUAÇU                                             Diretor Regional: Luciano Lamper Martinez
Suplente: Luiz Felipe Alves Margutti                   Diretor Regional: Daniel Augusto Diniz de Almeida         Suplente: Bruno Altoé Duar                                      Suplente: Stefenson Marcus Pinto Scafutto
Diretor Financeiro: Eufrásio Bezerra de Sousa Filho    Suplente: Eduardo Roberto Rosa                            Diretor Financeiro: Frank Cesar dos Santos Carrijo              Diretor Financeiro: Alexander da Silva Rosa
apcf.ma@apcf.org.br                                    apcf.pr@apcf.org.br                                       apcf.rr@apcf.org.br                                             apcf.to@apcf.org.br
                                                                                                                                                                                                                         ISSN 1806-8073

 Revista Perícia Federal

Planejamento e produção:                                              Capa e artes: Edimilson Pereira                    A revista Perícia Federal é uma                           Correspondências para: Revista Perícia Federal
Assessoria de Comunicação da APCF                                     Diagramação: Preview                               publicação da APCF. A revista não se                      SEPS 714/914 Centro Executivo Sabin, Bloco D,
etc@apcf.org.br                                                       Revisão: Margaret de Palermo                       responsabiliza por informes publicitários                 salas 223/224 Cep: 70390-145 – Brasília/DF
Redação: Taynara Figueiredo e William Grangeiro                       CTP e Impressão: MB2 Gráfica                        nem por opiniões e conceitos emitidos                     Telefones: (61) 3345-0882 / 3346-9481
Edição: Denise Margis, Marina Figueiredo e                            Tiragem: 13.000 exemplares                         em artigos assinados.                                     E-mail: apcf@apcf.org.br – www.apcf.org.br
Taynara Figueiredo (ETC Comunicação)
Crédito de imagens das matérias:
Taynara Figueiredo e William Grangeiro



 2 Perícia Federal
Sumário                                                                                                                                                                Editorial: Octavio Brandão Caldas Netto, presidente da APCF

                                                   TA             ça
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                                               EV NES nal de
                                             TR    NU acio
                                           EN TER elho N
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                                                eir
                                             elh
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                                                                             Distribuição Gratuita
                                                                                                                      Ano XI – Número
                                                                                                                                        27 – abril/200
                                                                                                                                                      8 a julho/2010




                                       MICROSCÓ
                                                                   PIO ELETR
                                                               DE VARRE      ÔNICO
                                                                                                                                                                                             DA PERÍCIA
                                                                        DURA
                                                            Versa
                                                                tilidade e pre
                                                                              cisão              em exames
                                                                                                                             periciais
                                                                                                                                                                                      É com grande orgulho e satisfação que vejo o desenvolvimento da criminalística no
                                                                                                                                                                                   Brasil e, em especial, no âmbito da Polícia Federal. Grandes programas de modernização
                                                                                                                                                                                   tecnológica, com recursos do Governo Federal provenientes de parcerias com outros
                                                                                                                                                                                   países, têm colaborado para colocar a perícia da PF no ranking das polícias científicas
                                                                                                                                                                                   mais bem equipadas do mundo. Nesta década, a perícia federal obteve expressivos
    MB2 - Perícia
                    Federal Revista
                                      27.indd 1
                                                                                                     Grãos de pólen
                                                                                                                      visualizado
                                                                                                                                 s no MEV
                                                                                                                                                                                   ganhos nas áreas de infraestrutura e de reaparelhamento, fruto
                                                                                                                                                                                                                                                                 Arquivo APCF
                                                                                                                                    30/6/2010 21:27:06


                                                                                                                                                                                   do trabalho de vários peritos durante os últimos 20 anos. É ex-
  CROSCÓPIO
MICROSCÓPIO
ELETRÔNICO DE VARREDURA                                                                                                                                                            tremamente gratificante podermos contar com equipamentos de
Versatilidade e precisão em                                                                                                                                                        alta tecnologia para exercer nossa profissão, que é fundamental
exames periciais                                                                                                                                                                   para a administração da justiça, tendo em vista a importância que
                                                                                                                                                                                   se reveste o laudo pericial para a persecução penal.
Após dois anos, a prova
PCFs André Lima Logrado e Sara Lenharo
                                                                                                                                                                                      O Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV), adquirido para
PÁGINA 6                                                                                                                                                                           o Instituto Nacional de Criminalística, no valor de US$ 1,036 mi-
                                                                                                                                                                                   lhão, pode ser considerado um dos mais fortes exemplos. Com
O mel em detalhes
PCFs Lúcio Paulo Logrado, André Lima Logrado                                                                                                                                       capacidade de aumento de até 300 mil vezes, além de outras
e Élvio Dias Botelho                                                                                                                                                               valiosas funções, o MEV proporciona aos peritos a realização de
PÁGINA 8                                                                                                                                                                           certos exames que antes não eram possíveis ou que envolviam
Microscopia Eletrônica de Varredura                                                                                                                                                técnicas de pouca precisão.                                               O MEV
em prol da justiça                                                                                                                                                                    Outra ferramenta de extrema relevância na atuação pericial
PCFs Sara Lenharo, Eduardo Sato e Lehi Sudy dos Santos
                                                                                                                                                                                                                                                         proporciona
                                                                                                                                                                                   para a elucidação de crimes é a Rede Integrada de Bancos de
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                                                                                                                                                                                   Perfis Genéticos, implantada recentemente no país. O banco de           aos peritos
Escrita escolar brasileira: a escrita inglesa                                                                                                                                      dados de DNA (Codis), software cedido pelo FBI à Polícia Federal,      a realização
PCF Carlos Villela                                                                                                                                                                 é utilizado de forma eficaz em mais de 40 países e, agora, chega
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                                                                                                                                                                                                                                                           de certos
                                                                                                                                                                                   ao Brasil para ser disponibilizado para todos os órgãos oficiais de
Perícia Federal                                                                                                                                                                    perícia criminal. Acreditamos que o Governo Federal reconhece a
                                                                                                                                                                                                                                                            exames
e a análise de crimes multimídia                                                                                                                                                   importância do sistema e, em breve, o Congresso Nacional fará           que antes
PCFs Pedro Monteiro Eleutério e Márcio Machado
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                                                                                                                                                                                   sua parte, criando o arcabouço legal que permita o funcionamento        não eram
                                                                                                                                                                                   do Banco de Dados de DNA em sua plenitude.
• APCF garante vaga no novo Conasp                                                                                                                                     PÁGINA 30
                                                                                                                                                                                                                                                           possíveis
                                                                                                                                                                                      A Lei 12.030, que confere autonomia técnica, científica e fun-
• PL 6.493/2009 – Lei Orgânica da Polícia                                                                                                                                          cional aos peritos oficiais, é outro marco importante para a perícia
                                                                                                                                                                                                                                                             ou que
  Federal PÁGINA 31                                                                                                                                                                criminal. No entanto, essa lei ainda precisa ser consolidada no         envolviam
• É oficial: Brasil possui banco de Perfis                                                                                                                                           âmbito do Departamento de Polícia Federal, sendo o instrumento           técnicas
  Genéticos PÁGINA 32                                                                                                                                                              adequado o PL 6.493/2009 (Lei Orgânica da PF), em tramitação
• Reforma do Código de Processo
                                                                                                                                                                                                                                                           de pouca
                                                                                                                                                                                   na Câmara dos Deputados.
  Penal PÁGINA 34                                                                                                                                                                     Por fim, o projeto de lei que trata da reforma do Código de            precisão
• VI Encontro Nacional dos Peritos                                                                                                                                                 Processo Penal aprovado na Comissão de Constituição e Justiça
  Criminais Federais PÁGINA 36
                                                                                                                                                                                   (CCJ) do Senado. O relator do projeto, Senador Renato Casa-
Taynara Figueiredo                                                                                                                                                                 grande, reconheceu e acatou uma série de propostas de emendas apresentadas pela
APCF realiza II Congresso Brasileiro das                                                                                                                                           APCF. A expectativa é que, após a tramitação no Congresso, o novo CPP forneça os
Carreiras Jurídicas de Estado PÁGINA 37                                                                                                                                            instrumentos legais adequados aos órgãos que atuam na persecução penal, a fim de
Taynara Figueiredo e II CBCJE                                                                                                                                                      tornar mais céleres os processos penais e, ao mesmo tempo, dar mais garantias aos
                                                                                                                                                                                   réus e às vítimas.
Antônio Carlos Villanova
o maestro da criminalística                                                                                           PÁGINA 38

William Grangeiro                                                                                                                                                                                                                                    Saudações periciais!




                                                                                                                                                                                                                                                      Perícia Federal 3
ENTREVISTA: WALTER NUNES, CONSELHEIRO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA




CNJ
Atualmente, uma das grandes discussões
                                               UMA PONTE PARA A
                                               JUSTIÇA DO FUTURO
                                                                                                  No caso de videoconferência, há neces-
no meio judiciário brasileiro é o Plano de                                                     sidade, ainda, de que o computador esteja
Gestão das Varas Criminais e de Execu-                                                         conectado com a rede mundial de compu-
ção Penal, aprovado pelo Plenário do Con-                                                      tadores. Esse método, além de agilizar o
selho Nacional de Justiça, em março deste                                                      processo, é benéfico porque permite que
ano. O Plano, que tem à frente o juiz fe-                                                      o próprio juiz do processo dirija o ato de
deral e conselheiro do Conselho Nacional                                                       instrução. O advogado e o Ministério Público
de Justiça (CNJ) Dr. Walter Nunes, visa a                                                      do local, que conhecem o processo, é que
modernização e informatização da justiça                                                       participam da audiência. Imagine o que se
brasileira. Em entrevista à revista Perícia                                                    pode ganhar em termos de melhoria da ins-
Federal, Nunes fala sobre a proposta e ex-                                                     trução do processo, sem falar em celeridade
põe opiniões acerca do trabalho realizado                                                      e economia.
pela perícia.
                                                                                               E essa tecnologia é cara? Já foi utilizada
                                                                                               pelo Judiciário alguma vez?
Quais as falhas encontradas e as prin-                                                            Não é cara. A documentação audiovisual
cipais mudanças que ocorrerão com a                                                            pode ser feita até pelo Windows Media Player.
implantação do plano?                                                                          A câmera custa menos de cem reais. Quanto
   As principais falhas são com relação à                                                      à videoconferência, para inquirição de teste-
morosidade e burocracia judiciária. O Plano    Conselheiro do CNJ, Walter Nunes.               munhas, alguns juízes a estão fazendo pelo
de Gestão das Varas Criminais e Execução                                                       Skipe. Inclusive, já houve caso de coopera-
Penal é voltado para isso, para simplificar     ocorrer até mesmo pelo celular. Ele já sabe     ção internacional com videoconferência pelo
e estabelecer rotinas e procedimentos para     que o Ministério Público está ciente do caso.   Skipe. É só baixar o programa pela Internet.
otimizar a atividade jurisdicional. O plano    É só aguardar o pronunciamento do MP ou
compreende técnicas de gestão, recursos        mesmo, em casos mais urgentes, manter           Com o uso dessa tecnologia, é possível
tecnológicos, além de um Manual Prático        contato para agilizar o procedimento. Dada      que a testemunha se negue a depor ou
de Rotinas para auxiliar o serviço das se-     a decisão, a comunicação também se faz          a mostrar o rosto?
cretarias.                                     pela forma eletrônica. Alguns juízes já estão       Nos casos em que a testemunha, por ques-
                                               adotando esse procedimento, com ótimos          tão de segurança, não queira mostrar o seu
Qual seria um desses recursos para oti-        resultados quanto à variável de tempo.          rosto, basta desfocar a imagem. Mas, em todo
mização?                                                                                       caso, se não houver como desfocar a câme-
   Estamos estabelecendo um processo           Existe também a proposta de realizar            ra, pode-se focá-la em outra parte do corpo,
eletrônico, até o final do ano em alguns        audiências documentadas pelo sistema            como é utilizado nas reportagens televisivas.
setores do Judiciário. Foi estabelecido um     audiovisual. De que forma tal proposta
cronograma e, até setembro, deve ser implan-   funciona?                                       2010 é ano eleitoral. Como será exercido
tado, em caráter experimental, um sistema         A audiência é gravada e os depoimentos       o direito de voto do preso provisório? A
para justiça criminal em alguns segmentos.     ficam armazenados no processo em CD,             regra já vale para esse ano?
                                               além de arquivados backup na Vara.                  O CNJ se reportou a essa questão no
Como funcionaria, por exemplo, em caso            Quando for caso de depoimento de teste-      Plano de Gestão. O Tribunal Superior Eleitoral
de encaminhamento de auto de prisão            munha residente em outra localidade, adotado    regulamentou a matéria, de modo a estabe-
em flagrante?                                   o sistema audiovisual, a testemunha poderá      lecer que os tribunais têm que, desde que
    Os órgãos do Judiciário, da Polícia e do   ser ouvida por videoconferência. Nesse caso,    haja segurança, instituir a urna eletrônica em
Ministério Público definem seus respectivos     o juiz encaminha a carta precatória solici-     todo e qualquer estabelecimento que tenha
endereços eletrônicos institucionais. Elabo-   tando ao juiz deprecado que, em dia e hora      no mínimo 50 presos. Só poderá votar, porém,
rado o auto de prisão em flagrante, o seu       previamente fixados, seja disponibilizado um     o preso que tenha feito a transferência de seu
envio se faz pelo correio eletrônico para o    local com computador para que a testemu-        título de eleitor para a sessão a ser instalada
Judiciário, com cópia para o Ministério Pú-    nha possa ser ouvida na audiência que será      no estabelecimento carcerário no qual ele
blico. O juiz de plantão recebe, o que pode    realizada no Juízo deprecante.                  está recolhido. Para tanto, foi estabelecido



 4 Perícia Federal
um prazo para a revisão do título e o pedido      o CNJ fez foi, dentro do plano de gestão,               O laudo pericial é de fundamental impor-
de mudança de domicílio eleitoral e seção.        as alterações que são importantes para a            tância. Com a sofisticação tecnológica, hoje
                                                  simplificação, para o trâmite mais rápido do         a perícia serve não apenas para certificar
Os tribunais já começaram a analisar o            processo e mais eficiência na jurisdição. Quan-      a ocorrência de um fato em seus detalhes,
plano. Qual foi o resultado?                      to ao projeto de novo CPP, o CNJ não se             mas igualmente para identificar a autoria
    Consultamos 20 juristas, entidades de         pronunciou sobre a proposta. Inclusive, no          ou afastar a hipótese de o crime ter sido
classe da magistratura, polícia e do Ministé-     plano, eu me reporto a ela de forma que o           praticado por determinado suspeito. A pe-
rio Público. Recebemos sugestões e incor-         CNJ deve criar grupo de trabalho para fazer         rícia é uma prova técnica e exata, o que a
poramos umas, outras não. Fizemos uma             um estudo e apresentar uma nota técnica.            diferencia das demais e a torna singular.
reunião com os tribunais e estamos para           E isso já foi feito. Esse grupo será de fun-        Para que ela efetivamente seja técnica e
marcar a segunda, que deve acontecer em           damental importância, porque esse projeto,          exata, é indispensável a alta qualificação
breve. Estabelecemos oito ações e levamos         apesar de bom, não foi discutido no âmbito          dos peritos e a sua independência funcional.
para discutir com os tribunais o percentual       do Judiciário.                                      Sem esses dois atributos, a perícia perde o
de cumprimento dessas ações para esse                                                                 seu valor intrínseco.
ano, entre elas, a informatização das varas
de execução criminal quanto a roteiro de                                                              A manutenção da perícia ad hoc na legis-
pena e a implementação de tempo para
                                                       A perícia é uma prova                          lação não fere a Lei de Perícias Oficiais,
concessão de benefício. O que está sendo              técnica e exata, o que a                        recém-instituída?
discutido não é o plano em si. O plano é              diferencia das demais e                            A perícia ad hoc é uma anomalia que,
suscetível a ajustes, pois o mais difícil não é                                                       mais cedo ou mais tarde, irá desaparecer.
elaborá-lo, mas colocá-lo em prática. Procu-              a torna singular                            Porém, infelizmente, o país é muito grande,
ramos fazer um plano ousado e excelente,                                                              com extrema diferença entre os Estados, de
que passou por várias avaliações críticas                                                             modo que, embora cada vez menos frequente,
e positivas, e esperamos uma excelente            Entre as medidas da nova proposta de                ainda será utilizada por algum tempo.
execução. Essa é a grande missão agora.           reforma do CPP está a duplicação do
Estamos quebrando algumas e naturais              número de juízes encarregados de uma                A Polícia Federal implantou, no mês de
resistências que estão surgindo.                  investigação criminal. Isso realmente               maio, a Rede Integrada de Bancos de
                                                  ajuda, acelera a investigação?                      Perfis Genéticos. Como o senhor avalia
Há propostas que necessitam de aprova-                A previsão de um juiz das garantias que         essa ferramenta de auxílio à justiça?
ção do Congresso e, outras, não. Pode             deve atuar apenas na fase pré-processual, a             A polícia técnica não pode se desgrudar
haver resistência dos parlamentares a             fim de autorizar, ou não, as diligências policiais   dessa ferramenta. É uma realidade no Di-
essas mudanças?                                   quando há necessidade de flexibilização de           reito Comparado, merecendo destaque nos
   Acredito que não, pois foram muito bem         um direito fundamental, é um aperfeiçoamento        países democráticos.
recebidas. O CNJ tem muita credibilidade          necessário ao nosso sistema. A implantação
na sociedade em geral, e isso reflete no           dessa sistemática não quer dizer que teremos        A Rede Integrada de Perfis Genéticos é
parlamento. Os parlamentares têm muita            de duplicar a quantidade de juízes criminais.       um instrumento que ainda não possui
atenção aos projetos e propostas que são          Onde houver mais de um juiz criminal, basta         legislação. Em quais casos e crimes,
encaminhadas pelo CNJ, na qualidade de            que um deles, em determinado processo,              por exemplo, o senhor avalia que po-
órgão estratégico e central do sistema ju-        atue apenas como juiz das garantias. Mesmo          deria ser exigido do criminoso ceder
dicial. Vale lembrar que, dentre as propos-       onde não haja mais de um juiz criminal, o           amostras de DNA?
tas entregues ao Parlamento pelo CNJ, de          juiz de garantias pode ser um juiz cível, que          Na proposta do CNJ, que faz parte do
acordo com o Plano de Gestão constava             terá, nesse caso, competência cumulativa. O         Plano de Gestão, a coleta de dados gené-
a proposta de alterar o regime aberto de          problema reside, basicamente, nas pequenas          ticos deve ser feita quando do ingresso dos
cumprimento de pena, de modo a eliminar a         comarcas, onde há apenas um juiz. Nesse             presos no sistema carcerário, como medida
casa de albergado e, em seu lugar, instituir      caso, pode ser aberta uma exceção o que,            necessária. Além de ser uma solução para a
o monitoramento eletrônico, que recebeu,          porém, não é o desejável.                           questão da coleta de amostras, essa medida
publicamente, o apoio do Legislativo.                                                                 vale também para saber como deve ser a
                                                  Em dezembro de 2009, foi publicada a                alimentação da pessoa e, naturalmente, se
O CNJ sugeriu modificações no Código               Lei 12.030, Lei de Perícias Oficiais, que            é portadora de doença grave ou contagiosa,
de Processo Penal? Qual é o seu posi-             confere autonomia técnico, científica e              independentemente do crime praticado. Há
cionamento acerca da proposta aprovada            funcional aos peritos oficiais. O que o              casos em que o próprio preso não sabe,
no Senado?                                        senhor vê de mais positivo em uma perícia           por exemplo, se é diabético ou portador do
   É importante dizer que o CNJ não propôs        autônoma? E como avalia a importância               vírus HIV. Trata-se, inicialmente, de uma
modificações no Código de Processo Pe-             do laudo pericial no processo penal e na            proteção para ele e para as demais pessoas
nal para aperfeiçoar o novo código. O que         formação da convicção do magistrado?                encarceradas.



                                                                                                                           Perícia Federal 5
BALÍSTICA FORENSE: PCFS ANDRÉ LIMA LOGRADO (FÍSICO) E SARA LENHARO (GEÓLOGA, MESTRE E DOUTORA)




                            Após dois anos,
                                              a prova
    Com o auxílio do Microscópio Eletrônico de Varredura, peritos criminais
     federais da Área de Perícias em Balística Forense do INC detectam
     vestígios de projétil de arma de fogo em material humano exumado



V
          árias informações desencontra-              familiares teriam reconhecido um dos cor-     o Ministério Público pediu a exumação do
          das são relatadas no inquérito              pos como sendo o de Rafael. Tratava-se        cadáver.
          sobre a morte do pedreiro Ra-               de um morto encontrado no Acará com as           Então, em dezembro de 2009 os peritos
          fael Viana dos Santos, jovem                mãos decepadas e outras marcas de tortura,    criminais federais da Área de Perícias em
de 21 anos cujo corpo foi encontrado no               enterrado como indigente no cemitério do      Balística Forense do Instituto Nacional de
dia 06 de novembro de 2007, boiando nas               Tapanã, em Belém, no dia 19.                  Criminalística receberam o material exumado
águas do rio Guamá, na localidade do Es-                 Segundo denúncia do Ministério Público,    encaminhado pelo Instituto Médico Legal
pírito Santo, município de Acará, Estado              a vítima teria sido detida, levada em uma     Renato Chaves - PA. Tratava-se de diversos
do Pará.                                              viatura da PM e teria sido espancada vio-     fragmentos ósseos de crânio, como mostra
   A vítima desapareceu no dia 2 de no-               lentamente, a ponto de ter as mãos dece-      a figura 1.
vembro de 2007, após ter sido detida por              padas e a cabeça esmagada. Porém, como           Durante a inspeção visual, reconstruiu-
uma equipe da 11ª ZPOL da Polícia Militar,            suspeitas recaem sobre policiais militares,   -se o crânio e foi constatada a existência
do bairro do Guamá. No dia 23 do mesmo                tornou-se imprescindível apurar se Rafael     de um orifício localizado na parte inferior
mês, com base em imagens de cadáveres                 Viana dos Santos também foi atingido por      esquerda do osso occipital (região da nuca),
dos arquivos do Instituto Médico Legal (IML),         projéteis de arma de fogo, motivo pelo qual   que estava fraturado em quatro partes, com




Figura 1 – Fragmentos ósseos examinados.



 6 Perícia Federal
sinal de funil1 característico de orifícios de
entrada de projétil de arma de fogo, conforme
ilustrado na figura 2.
    Constatou-se ainda que a região direi-
ta do osso frontal e o osso zigomá-
tico do lado direito, localizados
no lado oposto ao do referido
orifício, encontravam-se                                                                          Figura 2 – Crânio
fraturados e com alguns                                                                           reconstruído dos
fragmentos ausentes. Este                                                                         fragmentos ósseos
seria o local de saída de                                                                         recebidos mostrando,
um projétil transfixante                                                                           em detalhe, orifício
que entrou pelo orifício                                                                          com sinal de funil
supracitado.                                                                                      característico de
    Em seguida, realiza-                                                                          orifícios de entrada de
vam-se análises para iden-                                                                        projétil de arma de fogo.
tificar os tipos de resíduos
presentes nas proximidades
do orifício encontrado.
    A técnica de análise utilizada
para determinar a composição
química dos resíduos foi a mi-
croscopia eletrônica de varredura
(MEV), acoplada com sistema de
análise de raios-X por espectrometria
de energia dispersiva (EDS). As análises
foram realizadas no microscópio eletrônico
de varredura da marca FEI, modelo QUANTA
200 3D – Dual Beam, da Área de Balística
Forense do INC. Para a análise, foi utilizado
o software INCA.
    Nas bordas do orifício localizado no osso
occipital foram encontrados vários resíduos
constituídos essencialmente de chumbo (Pb).
A fotomicrografia e o espectro a seguir ilustram
parte dos resíduos encontrados.
     Por meio de análises feitas com o uso
de um microscópio eletrônico de varredura,
constatou-se a existência de resíduos de
chumbo, principal material constituinte da
maioria dos projéteis de arma de fogo, nas
bordas dos orifícios de entrada e saída da
perfuração transfixante.
    Além da constatação de resíduo de chum-
bo, a reconstrução e a análise das fraturas
mostrou uma trajetória com entrada pela
porção esquerda da nuca, com saída pelo
lado direito da face, indicando que o disparo
de arma de fogo foi efetuado pelas costas.


  Nota
  1. Di Maio, Vincent J.M. Gunshot Wounds:
     Practical Aspects of Firearms, Ballistics,   Figuras 4 e 5 – Fotomicrografia e espectro de EDS dos resíduos encontrados nas
     and Forensic Techniques, 1941, p. 92-94.     bordas do orifício.



                                                                                                            Perícia Federal 7
BALÍSTICA FORENSE: PCFS LÚCIO PAULO LOGRADO (QUÍMICO E MESTRE EM QUÍMICA ORGÂNICA ), ANDRÉ LIMA LOGRADO (FÍSICO)
E ÉLVIO DIAS BOTELHO (QUÍMICO, MESTRANDO EM QUÍMICA ANALÍTICA)




           O
                                                                             em detalhes
           Por meio de técnicas disponíveis no Instituto Nacional de Criminalística, perícia
            identifica, como sendo mel de abelha, um determinado material de identidade
                  e origem desconhecida com características organolépticas de mel




O
             s méis são produtos naturais
             que variam não só na coloração,
                                                    organolépticas de mel, trata-se realmente de
                                                    mel, por meio de técnicas disponíveis neste
                                                                                                      •   espectroscopia na região do Infravermelho
                                                                                                          (IV-TF);
             no sabor e no odor, mas tam-           Instituto Nacional de Criminalística. Ressal-
             bém em sua composição quími-           ta-se que é comum recebermos solicitações         •   cromatografia em fase gasosa acoplada
                                                                                                          à Espectrometria de Massas (CG-EM);
ca2. Porém, em todas as suas variações,             de análises de diversos tipos de materiais de
pode-se dizer que o mel é basicamente               identidade desconhecida sem nenhum tipo           •   cromatografia líquida de alta eficiência
uma solução aquosa concentrada de dois              de identificação, com a seguinte quesitação            com detecção por índice de refração
açúcares, frutose e glicose, contendo tam-          tradicional: “Qual a natureza e características       (CLAE-DIR);
bém, em menores concentrações, outros               do material encaminhado a exame?”
açúcares, ácidos orgânicos, proteínas,                  Dessa forma, para atender às solicitações     •   microscopia eletrônica de varredura (MEV);
minerais, substâncias aromáticas, pigmen-           de laudos no âmbito da Polícia Federal, nor-      •   determinação do índice de refração (deter-
tos, vitaminas, grãos de pólen, entre outros        malmente não é necessário executar todas              minação de umidade por refratometria)3.
componentes1.                                       as análises preconizadas pela Instrução
   Esse trabalho não visa apresentar uma            Normativa nº 11 do Ministério da Agricultu-           Após comparação entre os espectros de
metodologia para atestar a qualidade do mel         ra e do Abastecimento, de 20 de outubro de        infravermelho da amostra questionada e do
(para essa finalidade pode-se consultar o re-        2000, que aprova o Regulamento Técnico            mel padrão, notou-se forte semelhança entre
gulamento técnico de identidade e qualidade         de Identidade e Qualidade do Mel. Como se         os mesmos, conforme observado na figura
de mel constante da Instrução Normativa no          pode observar neste caso específico com a          1, a seguir.
11, de 20 de outubro de 2000, do Ministério da      utilização de algumas técnicas disponíveis            Verificou-se, por meio dos exames de
Agricultura e Abastecimento, em “10. Métodos        neste Instituto, foi possível confirmar que o      CLAE-DIR e CG-EM, que a referida amos-
de Análises” ou, em português, no livro Méto-       material examinado trata-se de mel de abelha      tra é constituída basicamente por glicose,
dos físico-químicos para análise de alimentos       e não sofreu adulteração grosseira.               frutose e água, sendo que o exame de de-
do instituto Adolfo Lutz, edição IV) e sim reunir       O material questionado, sem identificação,     terminação de umidade por refratometria3
indícios para formação de maior convicção           com características organolépticas de mel,        forneceu um resultado de 19,4% de umidade
de que determinado material de identidade           foi dividido em diversas frações e submetido      (Índice de refração = 1,4880 a 20o C), es-
e origem desconhecida, com características          às seguintes análises instrumentais:              tando, neste parâmetro, de acordo com o



 8 Perícia Federal
regulamento técnico de identidade e qualidade
de mel constante da instrução normativa no 11,
citada anteriormente, que limita o teor de água
no mel em 20%.
    Constatou-se, também, por meio dos exames
de CLAE-DIR, que não há quantidade significativa
de sacarose na amostra analisada. A sacarose
(açúcar comercial) é comumente empregada na
adulteração de méis.
    Segundo o regulamento técnico de identidade
e qualidade de mel, constante da Instrução Nor-
mativa no 11, em seu subitem 4.2.2.2 c, “o mel
deve necessariamente apresentar grãos de pólen”.
                                                   Figura 1 – Análises de IV-TF - Comparação entre o espectro de infravermelho da
    Assim, uma amostra do material questionado
                                                   amostra do material questionado (acima e em azul) e o espectro de infraverme-
foi submetida à diluição em água, filtração em
                                                   lho do mel padrão (abaixo e em vermelho).
filtro de membrana de PVDF de porosidade
0,45 μm e algumas lavagens com água, sen-
do os resíduos obtidos submetidos, na própria
membrana onde se fez a filtração, à análise em
MEV, a qual forneceu como resultado imagens
de diversas partículas, e após exame de suas
características morfológicas, os peritos conclu-
íram tratar-se de grãos de pólen.
    Além das referidas análises, realizaram-se
também testes de cor e precipitação para méis
(reações de Lund, Fiehe e Lugol)3, e estes não
indicaram adulteração no material questionado.
    Com base nas propriedades organolépticas
e a identificação de alguns dos componentes
presentes no mel, como frutose, glicose, sa-       Figura 2 – Análises de CLAE-DIR - Comparação entre o cromatograma do mate-
carose, água e grãos de pólen, a ausência de       rial questionado (quarto, de cima para baixo) e os cromatogramas dos padrões
quantidade considerável de sacarose, além da       de frutose, glicose e sacarose (primeiro, segundo e terceiro, respectivamente),
coerência dos resultados dos testes de cor e       conforme indicados na figura acima.
precipitação realizados, pode-se inferir que a
amostra questionada realmente trata-se de mel.
                                                    Notas
    A partir do desenvolvimento desta nova me-
todologia de análise de méis, conclui-se que        1. Instrução Normativa no 11, de 20 de outubro de 2000, do Ministério da Agricultura e Abaste-
é possível a identificação e caracterização de          cimento - Anexo - Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Mel.
                                                    2. Etzold, E., Lichtenberg-Kraag, B. Determination of the botanical origin of honey by Fou-
produtos suspeitos de serem méis, além de
                                                       rier-transformed infrared spectroscopy: an approach for routine analysis, Eur Food Res
detectar adulterações grosseiras, utilizando           Technol (2008) 227:579–586.
técnicas disponíveis neste INC.                     3. “Métodos físico-químicos para análise de alimentos”, instituto Adolfo Lutz, edição IV.




                                                                                                                         Figura 3
                                                                                                                         Análises por
                                                                                                                         MEV - Grãos de
                                                                                                                         pólen extraídos
                                                                                                                         do material
                                                                                                                         questionado.




                                                                                                                         Perícia Federal 9
BALÍSTICA FORENSE: PCFS SARA LENHARO (GEÓLOGA, MESTRE E DOUTORA), EDUARDO SATO (FÍSICO E MESTRE EM ENGENHARIA ELÉTRICA) E LEHI SUDY DOS SANTOS (FÍSICO)




 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA
                           EM PROL DA JUSTIÇA
                  Peritos criminais federais determinam resíduos e distância
                 de disparo de arma de fogo em vestimenta e provam isenção
                      de policiais em ação judicial contra Polícia Federal



D
             urante operação da Polícia Fe-                    A identificação definitiva da partícula como        evidenciando sua formação a partir de um
             deral de busca e apreensão em                  resíduo de disparo de arma de fogo depende           processo de fusão em alta temperatura.
             uma residência, em Aracaju, foi                da presença simultânea de chumbo (Pb),                  A técnica de análise utilizada para determi-
             efetuado disparo de arma de                    bário (Ba) e antimônio (Sb), compondo a              nar a micromorfologia e a composição química
fogo para conter um cachorro solto. O                       mesma partícula. Além disso, essa partí-             dos resíduos é a microscopia eletrônica de
disparo ricocheteou no chão e, em segui-
                             o                              cula deve apresentar morfologia esferóide,           varredura (MEV), acoplada com sistema de
da, atingiu uma porta. Alguns dias depois,
                            . Alguns di s depois
                                lguns              pois,                                                         análise de raios-X por espectrometria de
os residentes iniciaram uma ação judicial
                           am uma ação judicial
                                   m         ã udicial                                                           energia dispersiva (EDS).
                                                                                                                      g
contra a Polícia Federal e apresentaram
                            eral
                            eral apresentaram
                               a          p esen ram
                                               enta
fotografias e um vestido com um orifício,
                          stido com m orifício
                            tido m              orifício,                                                        A ális
                                                                                                                 Análise e res duo
                                                                                                                 Análise de resíduo
                                                                                                                     ise     esíd
alegando que a perfuração da vestimenta
                           uração
                             raçã
                               ção          vestimenta
                                             estiment  t                                                         de disparo de arm de fogo
                                                                                                                  e disparo de arma
                                                                                                                     ispa o
                                                                                                                        a
teria sido produzida pelo disparo efetuado
                           pelo disparo efetuado
                             elo disparo efetuado                                                                    Foram coletadas
                                                                                                                     Foram coletadas duas a
                                                                                                                     Foram coletadas duas amostras no vestido,
pelo policial federal. Foi declarado tam-
                          l. Foi declarado tam-
                               o eclara      rado am-                                                            utilizando-se stubs de alum
                                                                                                                 utilizando-s s ubs alumínio recobertos por
                                                                                                                 utilizando-se stubs de alum
                                                                                                                      z      s                m
bém que o policial que efetuou o disparo
                         que efetuou disparo
                                   fetuo
                                      t          isparo                                                          fita adesiva dupla face de carbono. Nessas
                                                                                                                 fita adesiva dupla face
                                                                                                                        desiva p ace
estava a cerca de 3 metros de distância
                             metros
                             metros de distância
                                              d stância
                                                    n                                                            amostras foi efetuada a busca automatiza-
                                                                                                                 amostras
                                                                                                                 amostras foi efetuada
                                                                                                                                   fetuada
da residente e atirou entre as pernas da
                         ou entre s pernas a
                               ntre           en                                                                 da, sob condições de baixo vácuo, em 380
                                                                                                                 da, sob condições
                                                                                                                             o dições       ba
mesma.                                                                                                           campos de cada.
                                                                                                                 campos
                                                                                                                 campos de cada.cada
   Para esclarecer os fatos, a vestimenta foi
                            fatos, vestimenta foi
                             ao          vestimenta o
                                              m                                                                      Na primeira amostra coletada foram en-
                                                                                                                          primeira amostra
                                                                                                                           rime r a ostr  t
encaminhada à Área de Balística Forense do
                        a de Balística Forense
                              Balístic Fore e
                                   lísti       rens                                                              contrados 51 resíduos determinantes de
                                                                                                                 contrados
                                                                                                                 contrados 5 resíduos
                                                                                                                                    esíduos
                                                                                                                                       d
Instituto Nacional de Criminalística, localizado
                      e Criminalística, localizado
                         C iminalística, l calizado
                                     í                 d                                                         disparo de arma de fogo (constituídos de
                                                                                                                 d sparo
                                                                                                                 disparo        arma
                                                                                                                                 rma       fo
em Brasília, com o objetivo de determinar
                          objetivo d determinar
                            bjet o
                              etiv            etermina a                                                         Pb, Ba e Sb e morfologia esferoidal); 64
                                                                                                                 Pb, a Sb morfol     morfol
a presença de resíduo de disparo de arma
                       íduo
                        duo         disparo de arma
                                      ispa
                                         p            m                                                          resíduos indicativos, constituídos de dois dos
                                                                                                                 resíduos d cativos,
                                                                                                                 res duos indicativos, co
                                                                                                                                    v
de fogo, a distância em que o disparo foi
                     cia em que disparo foi
                        a         q         disparo f                                                            três elementos acima citados (SbPb e SbBa);
                                                                                                                 três elementos acima ci
                                                                                                                         ement s c
                                                                                                                              ntos
efetuado, bem como sua trajetória e tipo
                    omo sua trajetória tipo
                               a aeó i              ip                                                           e um resíduo ambiental, constituído de Pb.
                                                                                                                      m resíduo ambient
                                                                                                                          esíd o mbient
                                                                                                                             d           n
de arma utilizada.   .
   Para atestar se houve disparo de
                    e houve disparo
                         ouve disp rs
arma de fogo, os peritos criminais
                    peritos criminais
                        rt       riminais
                                   m s
federais realizaram a busca e
                    am busca   u c
análise de resíduos inorgâni-
                    os inorgâni-
                         norgâni-
                               â
cos e metálicos oriundos
                   oriundos
                   oriun s
                       u
da mistura iniciadora,
                   ador
                   adora,
                        r
do projétil e da arma.
                   ma.
                     a




Fotografia 1
Vestido aberto com
            to com
indicação do orifício periciado.
           o orifício periciado.
              rifíc
                fíci er c do                                                                                     Fotomi ro afia
                                                                                                                 Fotomicrografi
                                                                                                                 Fotomicrografia 1 – Partícula etermi-
                                                                                                                      m
                                                                                                                 nante de disparo de arma de fogo.
                                                                                                                 nante d disparo
                                                                                                                 nant
                                                                                                                   nte     isparo



10 Perícia Federal
Espectro 1 – Composição, por EDS, da partícula determi-
nante constituída de Pb, Ba e Sb.

   Na segunda amostra coletada foram encontrados 15 resíduos
determinantes de disparo de arma de fogo (constituídos de Pb, Ba
e Sb e morfologia esferoidal); 26 resíduos indicativos, constituídos
de dois dos três elementos anteriormente citados (SbPb e SbBa);
e 5 resíduos ambientais, todos de Pb.
   Os resultados das análises químicas efetuadas por EDS são
apenas semiquantitativos (1).                                            Fotografia 2 – Região mostrando o orifício central, orifícios
                                                                         menores e esfumaçamento.
Distância do disparo
   A fim de comprovar a distância do disparo de arma de fogo,
foram realizados diversos testes utilizando-se armas curtas e
cartuchos de diferentes calibres, tais como, .38” SPL, .380” Auto,
9mm PARA e .40” S&W.
   Mediante a da inspeção visual da vestimenta, pode-se verificar,
próximo da barra inferior, na parte da frente do vestido, a existência
de um orifício maior, central. Juntamente a esse orifício havia tam-
bém vários outros orifícios menores, distribuídos de forma circular
a elíptica, em torno do primeiro. Além disso, havia presença de
uma área de formato ovóide e coloração acinzentada, situada à
direita do orifício central (fotografia 2).
   Esses elementos associados sugerem se tratar de orifício pro-
duzido por disparo de arma de fogo a curta distância e permitem
formular as seguintes correlações:

    1o O orifício maior seria produzido pelo projétil
       (fotografia 3).

    2o Os orifícios menores em torno do maior caracterizam
       a zona de tatuagem, que são produzidos por grãos de
       pólvora incombustos (fotografia 4).

    3o A área acinzentada corresponde à zona de esfumaçamen-
       to, produzido pelos resíduos da combustão da pólvora e
       dos restos da detonação da espoleta (fotografia 5).

    4o Por fim, o segundo e o terceiro elementos estarão pre-             Fotografia 3 – Reverso da mesma região mostrando o orifí-
       sentes somente em disparos a curta distância, ou seja,            cio maior e os orifícios menores que representam a zona de
       menores que 50 centímetros.                                       tatuagem.



                                                                                                                Perícia Federal 11
BALÍSTICA FORENSE: PCFS SARA LENHARO (GEÓLOGA, MESTRE E DOUTORA), EDUARDO SATO (FÍSICO E MESTRE EM ENGENHARIA ELÉTRICA) E LEHI SUDY DOS SANTOS (FÍSICO)




Fotografia 4 – Figura mostrando a posi-                  Fotografia 5 – Figura mostrando a posi-                   Fotografia 6 – Disparo perpendicular
ção do orifício maior e a zona de tatua-                ção do orifício maior e da zona de esfu-                 efetuado com pistola Glock 26 a 50 cm
gem, com deslocamento à direita.                        maçamento.                                               de distância.


   Foi averiguado que a zona de tatuagem  incombustos aderidos no tecido, os quais                               de incidência do tiro também são variáveis
e de esfumaçamento não se produzem em     não tiveram energia suficiente para perfurá-                            que devem ser consideradas (2).
disparos com distância acima de 50 centí- -lo. Ademais, não há formação da zona de                                  Residuograma similar ao apresentado no
metros, independentemente do calibre. No  esfumaçamento.                                                         vestido, em relação ao diâmetro da zona de
residuograma do disparo efetuado a distância  Em todos os testes realizados não foi                              tatuagem, foi obtido num disparo inclinado
de 50 cm do vestido com munição padrão do possível reproduzir as mesmas caracterís-                              a 5 cm de distância com pistola Glock 19 e
DPF, 9mm PARA com projétil encamisado     ticas do orifício questionado, em função da                            cartucho de calibre .380” Auto +P+, conforme
ponta-oca, são observados grãos de pólvoraquantidade de parâmetros que influenciam                                apresentado na fotografia 7. Entretanto, a
                                                                   na formação do re-                            zona de esfumaçamento não repete o padrão
                                                                   siduograma. Neste                             mostrado no orifício questionado.
                                                                   sentido, os testes fo-                           Através dos exames realizados pode-se
                                                                   ram realizados com                            concluir que os orifícios presentes na região
                                                                   o tecido pendurado                            analisada do vestido foram produzidos por
                                                                   na vertical, sem fi-                           disparo de arma de fogo a curta distância,
                                                                   xação ou tensão, na                           provavelmente a cerca de 10 cm (dez cen-
                                                                   tentativa de reprodu-                         tímetros). Não foi possível afirmar que tipo
                                                                   zir as condições do                           de arma, nem tampouco excluir, em função
                                                                   vestido quando em                             da diversidade de parâmetros envolvidos
                                                                   uso. A colocação de                           na formação de um residuograma.
                                                                   um anteparo atrás                                O formato da zona de tatuagem e de
                                                                   do tecido, o tipo de                          esfumaçamento permite concluir que o
                                                                   anteparo, o tensio-                           disparo não foi perpendicular ao tecido
                                                                   namento e a fixação                            e sim inclinado, com ângulo menor que
                                                                   do tecido resultariam                         90º da direita para a esquerda, olhando
                                                                   num residuograma                              o vestido de frente. Tendo em vista que o
                                                                   diferente daqueles                            tecido é flexível, não foi estimada a posição
                                                                   obtidos nos testes.                           do atirador.
                                                                   Da mesma forma,
                                                                   o tipo de arma, o
                                                                   comprimento do                                   Referências
                                                                   cano da arma, o
                                                                   calibre do cartucho                              1. Goldstein, J. et al. Scanning Electron Mi-
                                                                                                                       croscopy and X-ray Microanalysis. 2. ed.
                                                                   de munição, o tipo
                                                                                                                       New York: Plenum Press, 1992. 820p.
Fotografia 07 – Disparo perpendicular efetuado com pistola          de projétil, o tipo de                           2. Haag, L.C. Shooting Incident Reconstruc-
Glock 19 a 5 cm de distância                                       pólvora e o ângulo                                  tion. 1. ed. London: Elsevier, 2006. 344p.



12 Perícia Federal
DOCUMENTOSCOPIA FORENSE: PCF CARLOS ANDRÉ XAVIER VILLELA (MESTRE EM ENGENHARIA)




              Escrita escolar brasileira:
                  a escrita inglesa
        A escrita inglesa foi, inquestionavelmente, um dos mais importantes
         estilos caligráficos da cultura ocidental. Este trabalho resume em
      linhas gerais a trajetória deste estilo caligráfico desde a Inglaterra até
          o Brasil, com suas passagens pelos Estados Unidos e Portugal



O
              exame grafotécnico é uma aná-           tamentos, identificar e catalogar os diversos                 rísticas nacionais de uma escrita.
              lise de comparações. Quanto             alógrafos3 empregados, tanto hoje como no                    (tradução nossa)
              maior o número de elementos             passado, pelos diferentes alfabetos do mundo.
              de confronto, maiores serão as          Especial atenção tem sido dada aos sistemas               Seguindo essa linha, o presente trabalho
possibilidades de se comprovar que duas               caligráficos e de escrita4 historicamente adota-       visa a abordar essa questão, apresentando
escritas partiram do mesmo punho. Em                  dos pelas cartilhas escolares, oferecidos aos         um levantamento das influências históricas
sentido inverso, quanto menor o número                iniciantes como exemplos de escritas perfeitas.       que, de certa forma, moldaram a escrita es-
de elementos de confronto, menores serão                  O objetivo primário desses levantamentos          colar brasileira. Neste artigo, será analisada
as possibilidades de se concluir alguma               é utilizar esses padrões genéricos de escrita,        a influência da chamada “escrita inglesa” no
coisa. Nunca existirá um consenso no que              completamente desprovidos de individualidade,         ambiente escolar do Brasil.
se refere ao número mínimo de conver-                 como um “branco de fundo”, e, a partir do que
gências necessário para uma identificação              deles divergir, poderá ser considerada uma            Antecedentes
positiva, até porque pouco servirá esse nú-           característica individual5, de maior ou menor             Extrapolaria o escopo deste trabalho um
mero, se não for considerada a raridade1              frequência de ocorrência. O objetivo secundá-         estudo muito remoto da história da escrita,
de cada convergência. Determinar-se a ra-             rio é estabelecer correlações entre épocas e          visto que seu foco é o universo escolar brasi-
ridade de uma convergência é, a rigor, um             formas gráficas, que possam fornecer indícios          leiro. Nesse sentido, a necessária contextua-
problema estatístico. Em uma abordagem                sobre a idade de um autor ou sobre a época            lização pode ser iniciada no período colonial,
essencialmente matemática, para cada                  de produção de um documento.                          quando devem ser igualmente consideradas
característica convergente deveria ser atri-              O estudo de cartilhas e sistemas de escrita       as historiografias de Brasil e Portugal.
buído um valor inversamente proporcional              não é novo. O próprio Osborn (1929), em                   O primeiro grande calígrafo português
à sua frequência de ocorrência dentro de              sua obra Questioned Documents, dedicou                foi Manoel Barata, que chegou ao posto de
determinado universo populacional.                    um capítulo inteiro ao assunto:                       mestre de escrita do jovem Príncipe dom
    Ainda que isso não se consiga no atual                                                                  João, filho de dom João III, rei de Portugal.
exame grafotécnico, vários autores2 têm-se                  As características identificadoras               Este renascentista publicou, em 1590, o que
dedicado à pesquisa de padrões genéricos de                 ou diferenciadoras serão tão mais               viria a ser considerado o primeiro tratado de
escrita, utilizados por diferentes populações               fortes quanto mais divergirem do                caligrafia produzido em Portugal, intitulado
e épocas. Busca-se, por meio desses levan-                  sistema regular ou das caracte-                 Exemplares de Diversas Sortes de Letras,


1. Alguns autores, como Huber e Headrick (1999), utilizam o termo significância. Outros, como Del Picchia (1976), preferem os termos qualidade ou valor.
2. Como Blumenthal (1957), Schuetzner (1999), entre outros.
3. Segundo o sistema proposto por Ellis (1979), o conceito de letra pode ser subdividido em três níveis de representação: o grafema, nível mais abstrato,
   um conceito de letra sem uma forma específica; o alógrafo, nível ainda teórico, porém já relacionado a uma forma específica de letra; e o grafe, nível
   prático, a letra efetivamente escrita.
4. Um sistema seria uma combinação de formas e movimentos, compondo uma coleção completa e harmoniosa de alógrafos, conforme preconizados
   por um autor ou publicação. No Brasil, com o mesmo sentido são por vezes utilizados os termos alfabeto e abecedário. Um sistema caligráfico seria
   um sistema obediente a uma rigorosa ordenação estética, ao passo que um sistema de escrita seria qualquer sistema desenvolvido com um propósito
   meramente funcional de comunicação ou registro.
5. Alguns autores, como Del Picchia (1976), preferem o termo idiografismo. Optou-se neste trabalho pelo termo característica individual, pela vantagem
   de sua intuitiva diferenciação do termo característica de classe (ou característica de sistema).



                                                                                                                                     Perícia Federal 13
DOCUMENTOSCOPIA FORENSE: PCF CARLOS ANDRÉ XAVIER VILLELA (MESTRE EM ENGENHARIA)



Tirados da Polygraphia de Manuel Baratta.           Sciencias em S. Petersbourgo, publicada em             nascidos, doutores, clérigos, ho-
Acostados a Elles hum Tratado de Arismetica         Lisboa no ano de 1793, refere-se a Andrade             mens de negócios, advogados,
e outro de Ortographia Portuguesa, impres-          de Figueiredo como:                                    contadores e seus escrivães e
so em Lisboa. Os exemplares de Manoel                                                                      secretários aprendiam a escrever.
Barata são constituídos por um conjunto de                (...) o portuguez, que no principio              Alguns aprendiam sozinhos a partir
estampas em letras: chancelaresca, chance-                d’este seculo successivo áquela                  de manuais, porém, geralmente
laresca formata, maiúscula chancelaresca,                 fatal época, illustrou a posteridade             frequentavam-se as aulas de al-
portuguesa e castelhana.                                  com a sua Arte de Escripta, que                  gum mestre calígrafo. Aprender a
   No início do século XVIII, surge outro                 deixa em esquecimento a do ce-                   escrever era uma tarefa complexa
mestre de destaque - Manuel de Andrade                    lebre Morante, de quem elle tirou                que requeria o domínio de diversos
de Figueiredo. Segundo Barbosa Machado                    ideias engraçadas e com mais                     tipos de escrita, ao mesmo tempo
(autor de Bibliotheca Lusitana), Andrade de               algum preceito; os seus abece-                   em que deveriam ser evitados
Figueiredo era brasileiro, natural da Capitania           darios são ornados de elegan-                    tipos inapropriados para deter-
do Espírito Santo, tendo sido o primeiro autor            tes labyrinthos, e o bastardo, e                 minada classe social, profissão
a publicar em Portugal um manual de caligrafia             cursivo he maravilhoso.                          ou gênero. Os escritórios de con-
e também o primeiro a tentar estabelecer a                                                                 tabilidade e o mundo comercial
normalização dos caracteres portugueses.               É importante esclarecer que, durante                adotavam os estilos caligráficos
Trata-se da obra intitulada Nova Escola para        séculos, tanto no Brasil como na Europa, a             redondos, simples e claros. Um
Aprender a Ler, Escrever e Contar. Offerecida       escrita foi uma arte de ofício, restrita a de-         tabelião, todavia, deveria dominar
à Augusta Magestade do Senhor Dom João              terminados tipos de profissionais e membros             uma variedade de estilos legais e
V, Rey de Portugal, por Manoel de Andrade           da elite social.                                       de chancelaria. Às mulheres era
de Figueiredo, Mestre desta Arte nas Cidades            Clayton (WILCOX e CLAYTON, 1999, p.                ensinada uma escrita diferente
de Lisboa. Occidental e Oriental, publicada         11) retrata um interessante panorama dessa             da dos homens, estreita e incli-
em 1722.                                            situação na Inglaterra do século XVII:                 nada; habilidade seguidamente
   Antônio Jacinto de Araújo, em sua obra                                                                  vista como prenda ou atividade
Nova Arte de Escrever. Offerecida ao Prín-                Leitura e escrita eram ensinadas                 de lazer, tal como saber bordar
cipe Nosso Senhor para Instrucção da Mo-                  separadamente; a muitos era                      ou dançar. (...) A sociedade na
cidade Composta por Antonio Jacinto de                    ensinada a leitura, mas poucos                   Inglaterra do século XVII era es-
Araújo, Professor d’Escripta, e Arithmetica,              prosseguiam para a escrita. (...)                tratificada em hierarquias de poder
e Correspondente da Academia Imperial das                 Desta forma, somente os bem                      e status. (...) A complexidade dos
                                                                                                           estilos de escrita causava uma
                                                                                                           dificuldade de leitura; não eram
                                                                                                           raras, até o início do século XIX,
                                                                                                           pessoas que se consideravam
                                                                                                           leitoras de livros, mas não de
                                                                                                           manuscritos. As escritas legais
                                                                                                           eram tão obscuras que eram con-
                                                                                                           sideradas inacessíveis aos que
                                                                                                           não fossem do ramo. (...) A prática
                                                                                                           da caligrafia requeria uma ampla
                                                                                                           gama de habilidades. O escritor
                                                                                                           usava penas que eram individu-
                                                                                                           almente cortadas e reapontadas
                                                                                                           à medida que se escrevia. Os es-
                                                                                                           critores deveriam preparar suas
                                                                                                           próprias tintas e papéis pautados.
                                                                                                           (p. 11-12; tradução nossa)

                                                                                                        Alguns desses manuais referenciados por
                                                                                                     Clayton devem ter sido o A Booke Containing
Figura 1 – Representação de diferentes cortes dos bicos das penas, gravura a buril                   Divers Sortes of Hands, as well as the French
de José Lúcio da Costa, extraída do livro Nova Arte de Escrever. Offerecida ao Prín-                 Secretarie with the Italian, Roman, Chancelry,
cipe Nosso Senhor para Instrucção da Mocidade Composta por Antonio Jacinto de                        and Court Hands, de John de Beauchesne
Araújo, Professor d’Escripta, e Arithmetica, e Correspondente da Academia Impe-                      e John Baildor, publicado em Londres no
rial das Sciencias em S. Petersbourgo, p. 4.                                                         ano de 1570, um dos mais antigos manuais



14 Perícia Federal
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Microscópio eletrônico de varredura na perícia criminal

  • 1. TA a ti ç us IS eJ EV cio S ld Na E na N TR lho U se N EN ER o C LT on od A eir W elh ns Distribuição Gratuita Ano XI – Número 27 – abril/2008 a julho/2010 co MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA Versatilidade e precisão em exames periciais Grãos de pólen visualizados no MEV
  • 2. Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais Diretoria Executiva Nacional Octavio Brandão Caldas Netto Helio Buchmuller Lima Presidente Vice-Presidente Marcos de Almeida Camargo Sergio Ricardo Silva Cibreiros de Souza Renato Rodrigues Barbosa Sérgio Martin Aguiar Secretário-Geral Diretor Técnico-Social Diretor de Assuntos Jurídicos Diretor de Assuntos Parlamentares Sara Lais Rahal Lenharo Luiz Ernesto Fonseca Alves Claudio Saad Netto Sara Oliveira Farias Suplente de Secretário-Geral Suplente de Diretor Técnico-Social Suplente de Diretor de Assuntos Jurídicos Suplente de Diretor de Assuntos Parlamentares Agadeilton Gomes Lacerda de Menezes Eurico Monteiro Montenegro Maurício José da Cunha Rinaldo José Prado Santos Diretor Financeiro Diretor de Comunicação Diretor de Administração e Patrimônio Diretor de Aposentados e Pensionistas Luiz Carlos de Gouvea Horta Fabiano Afonso de Sousa Menezes Dulce Maria Percicotti Santana Paulo César Pires Fortes Pedroza Suplente de Diretor Financeiro Suplente de Diretor de Comunicação Suplente de Diretor de Administração e Patrimônio Suplente de Diretor de Aposentados e Pensionistas Conselho Fiscal Deliberativo Roosevelt Alves Fernandes Leadebal Junior Eduardo Siqueira Costa Neto André Luiz da Costa Morisson Eduardo Monteiro de Queiroz Davi Silva dos Santos Jorilson da Silva Rodrigues Presidente Vice-Presidente Membro 1º Suplente 2º Suplente 3º Suplente Diretorias Regionais ACRE MATO GROSSO LONDRINA SANTA CATARINA Diretor Regional: Cesar Silvino Gomes Diretor Regional: João Luiz Freixo Diretor Regional: Licia Maria Said de Lavor Diretor Regional: Alexanders Tadeu das Neves Belarmino Suplente: Edna Aparecida Silveira Suplente: Ior Canesso Juraszek Suplente: Eduardo Neris Marques Suplente: Antonio César Becker Junior Diretor Financeiro: Luiz Alberto Guimarães Sousa Diretor Financeiro: Marlon Konzen apcf.pr@apcf.org.br apcf.ac@apcf.org.br apcf.mt@apcf.org.br Diretor Financeiro: Alexandre Bacellar Raupp PERNAMBUCO apcf.sc@apcf.org.br ALAGOAS SUBREGIONAIS/MT Diretor Regional: Ricardo Saldanha Honorato Diretor Regional: Walter Leal Junior RONDONÓPOLIS Suplente: Valdeci Pacheco da Silva SÃO PAULO Suplente: Petronio Falcomer Junior Diretor Regional: Ricardo Alves Castelo Costa Diretor Financeiro: Diogo Laplace Cavalcante da Silva Diretor Regional: Márcio Rodrigo de Freitas Carneiro Diretor Financeiro: Francisco dos Santos Lopes Suplente: Roberto Maurício A. do Casal apcf.pe@apcf.org.br apcf.al@apcf.org.br Suplente: Ricardo Guanaes Cosso apcf.mt@apcf.org.br Diretor Financeiro: Leonardo Gentil Bellot PIAUÍ AMAPÁ MATO GROSSO DO SUL Diretor Regional: Everardo Mendes Vilanova E Silva apcf.sp@apcf.org.br Diretor Regional: Gabriel Toselli B. Tabosa do Egito Diretor Regional: Christian Marcelo Corrêa Da Costa Suplente: Cirilo Max Macedo de Morais Suplente: Yone Piauilino Suplente: Andre Luis de Abreu Moreira Diretor Financeiro: José de Carvalho Azevedo Filho Diretor Financeiro: Thalles Evangelista Fernandes de Souza SUBREGIONAIS/SP Diretor Financeiro: Alcir Teixeira Gomes apcf.pi@apcf.org.br ARAÇATUBA apcf.ap@apcf.org.br apcf.ms@apcf.org.br Diretor Regional: Rodrigo Império Marquesini AMAZONAS RIO DE JANEIRO MINAS GERAIS Suplente: Max Lima e Motta Diretor Regional: Mário Sérgio Gomes De Faria Diretor Regional: Augusto Cesar Fabiao Moreira da Silva Diretor Regional: Adriano Azeredo Coutinho Villanova Suplente: Flavio França Nunes da Rocha apcf.sp@apcf.org.br Suplente: Vinicius Cesar Da Nobrega Carneiro Suplente: Marcus Vinicius de Oliveira Andrade Diretor Financeiro: Alex De Andrade Nascimento Diretor Financeiro: Roberto de Araujo Vieira Diretor Financeiro: Rodrigo Melo Mendes apcf.rj@apcf.org.br CAMPINAS apcf.am@apcf.org.br apcf.mg@apcf.org.br Diretor Regional: Francisco José Bentes Pessoa BAHIA RIO GRANDE DO NORTE Suplente: Paulo Henrique Fisch de Brito SUBREGIONAIS/MG Diretor Regional: Flavio Leite Rodrigues Diretor Regional: Adilson Carvalho Silva JUIZ DE FORA apcf.sp@apcf.org.br Suplente: Michelcove Soares de Araujo Suplente: Emerson Kennedy Ribeiro de Andrade Diretor Regional: André da Silva Mussoi Diretor Financeiro: Cesar de Macedo Rego Diretor Financeiro: Rogerio Dourado Silva Junior Suplente: Maurício Vicente Ribeiro Júnior apcf.ba@apcf.org.br apcf.rn@apcf.org.br RIBEIRÃO PRETO apcf.mg@apcf.org.br Diretor Regional: Carlos Alberto da Silva Lucietto SUBREGIONAIS/BA RIO GRANDE DO SUL Suplente: Luciana P. Rustomgy Mesquita JUAZEIRO UBERLÂNDIA Diretor Regional: Raimundo Wagner Canuto de Alencar Diretor Regional: Bernardo Bainhas Chiodelli apcf.sp@apcf.org.br Diretor Regional: Marco Antonio Valle Agostini Suplente: Eduardo Filipe Avila Silva Suplente: Edson Jorge Pacheco Suplente: José Rocha de Carvalho Filho apcf.mg@apcf.org.br Diretor Financeiro: Eduardo Zacchi apcf.ba@apcf.org.br apcf.rs@apcf.org.br SANTOS Diretor Regional: Rodrigo Gonçalves Teixeira CEARÁ PARÁ Diretor Regional: Jorge Cley de Oliveira Rosa SUBREGIONAIS/RS Suplente: Erick Simões da Câmara e Silva Diretor Regional: João Bosco Carvalho de Almeida PELOTAS apcf.sp@apcf.org.br Suplente: José Carlos Lacerda de Souza Suplente: Luiz Eduardo Marinho Gusmao Diretor Financeiro: Luis Felipe Monteiro Vieira Diretor Regional: Marco Antônio Zatta Diretor Financeiro: Marcelo da Silva Cristino Suplente: Ivanhoé Lobato Rocha apcf.ce@apcf.org.br E-mail: apcf.pa@apcf.org.br SOROCABA apcf.rs@apcf.org.br Diretor Regional: Alexandre Luiz Rodrigues Zarth ESPÍRITO SANTO PARAÍBA Diretor Regional: Elvis Rodrigues Farias SANTA MARIA Suplente: Eduardo Eugenio do Prado Bruck Diretor Regional: Marcelo Renato Dias Loouser Suplente: Ruy Cesar Alves Diretor Regional: Marcos Roberto Feuerharmel apcf.sp@apcf.org.br Suplente: Elias Carvalho Silva Diretor Financeiro: André Bittencourt dos Santos Diretor Financeiro: Marco Aurelio Gomes Alves Suplente: Mauro Sander Fett apcf.es@apcf.org.br apcf.pb@apcf.org.br apcf.rs@apcf.org.br SERGIPE Diretor Regional: Jefferson Ricardo Bastos Braga GOIÁS PARANÁ RONDÔNIA Diretor Regional: Fabio da Silva Botelho Suplente: Paulo Márcio Alonso Ferreira Diretor Regional: José Walber Borges Pinheiro Diretor Regional: João José de Castro Baptista Vallim Suplente: Isleamer Abdel Kader Dos Santos Suplente: Fabio Augusto da Silva Salvador Suplente: Luciano Petinati Ferreira Diretor Financeiro: Evando José de Alencar Paton Diretor Financeiro: Gabriel Renaldo Laureano Diretor Financeiro: Aldemar Maia Neto Diretor Financeiro: Ricardo Andres Reveco Hurtado apcf.se@apcf.org.br apcf.go@apcf.org.br apcf.pr@apcf.org.br apcf.ro@apcf.org.br TOCANTINS MARANHÃO SUBREGIONAIS/PR RORAIMA Diretor Regional: Carlos Antonio Almeida de Oliveira Diretor Regional: Hmenon Carvalho dos Santos FOZ DO IGUAÇU Diretor Regional: Luciano Lamper Martinez Suplente: Luiz Felipe Alves Margutti Diretor Regional: Daniel Augusto Diniz de Almeida Suplente: Bruno Altoé Duar Suplente: Stefenson Marcus Pinto Scafutto Diretor Financeiro: Eufrásio Bezerra de Sousa Filho Suplente: Eduardo Roberto Rosa Diretor Financeiro: Frank Cesar dos Santos Carrijo Diretor Financeiro: Alexander da Silva Rosa apcf.ma@apcf.org.br apcf.pr@apcf.org.br apcf.rr@apcf.org.br apcf.to@apcf.org.br ISSN 1806-8073 Revista Perícia Federal Planejamento e produção: Capa e artes: Edimilson Pereira A revista Perícia Federal é uma Correspondências para: Revista Perícia Federal Assessoria de Comunicação da APCF Diagramação: Preview publicação da APCF. A revista não se SEPS 714/914 Centro Executivo Sabin, Bloco D, etc@apcf.org.br Revisão: Margaret de Palermo responsabiliza por informes publicitários salas 223/224 Cep: 70390-145 – Brasília/DF Redação: Taynara Figueiredo e William Grangeiro CTP e Impressão: MB2 Gráfica nem por opiniões e conceitos emitidos Telefones: (61) 3345-0882 / 3346-9481 Edição: Denise Margis, Marina Figueiredo e Tiragem: 13.000 exemplares em artigos assinados. E-mail: apcf@apcf.org.br – www.apcf.org.br Taynara Figueiredo (ETC Comunicação) Crédito de imagens das matérias: Taynara Figueiredo e William Grangeiro 2 Perícia Federal
  • 3. Sumário Editorial: Octavio Brandão Caldas Netto, presidente da APCF TA ça IS Ju sti EV NES nal de TR NU acio EN TER elho N AL ns W Co o od O DESENVOLVIMENTO eir elh ns co Distribuição Gratuita Ano XI – Número 27 – abril/200 8 a julho/2010 MICROSCÓ PIO ELETR DE VARRE ÔNICO DA PERÍCIA DURA Versa tilidade e pre cisão em exames periciais É com grande orgulho e satisfação que vejo o desenvolvimento da criminalística no Brasil e, em especial, no âmbito da Polícia Federal. Grandes programas de modernização tecnológica, com recursos do Governo Federal provenientes de parcerias com outros países, têm colaborado para colocar a perícia da PF no ranking das polícias científicas mais bem equipadas do mundo. Nesta década, a perícia federal obteve expressivos MB2 - Perícia Federal Revista 27.indd 1 Grãos de pólen visualizado s no MEV ganhos nas áreas de infraestrutura e de reaparelhamento, fruto Arquivo APCF 30/6/2010 21:27:06 do trabalho de vários peritos durante os últimos 20 anos. É ex- CROSCÓPIO MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA tremamente gratificante podermos contar com equipamentos de Versatilidade e precisão em alta tecnologia para exercer nossa profissão, que é fundamental exames periciais para a administração da justiça, tendo em vista a importância que se reveste o laudo pericial para a persecução penal. Após dois anos, a prova PCFs André Lima Logrado e Sara Lenharo O Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV), adquirido para PÁGINA 6 o Instituto Nacional de Criminalística, no valor de US$ 1,036 mi- lhão, pode ser considerado um dos mais fortes exemplos. Com O mel em detalhes PCFs Lúcio Paulo Logrado, André Lima Logrado capacidade de aumento de até 300 mil vezes, além de outras e Élvio Dias Botelho valiosas funções, o MEV proporciona aos peritos a realização de PÁGINA 8 certos exames que antes não eram possíveis ou que envolviam Microscopia Eletrônica de Varredura técnicas de pouca precisão. O MEV em prol da justiça Outra ferramenta de extrema relevância na atuação pericial PCFs Sara Lenharo, Eduardo Sato e Lehi Sudy dos Santos proporciona para a elucidação de crimes é a Rede Integrada de Bancos de PÁGINA 10 Perfis Genéticos, implantada recentemente no país. O banco de aos peritos Escrita escolar brasileira: a escrita inglesa dados de DNA (Codis), software cedido pelo FBI à Polícia Federal, a realização PCF Carlos Villela é utilizado de forma eficaz em mais de 40 países e, agora, chega PÁGINA 13 de certos ao Brasil para ser disponibilizado para todos os órgãos oficiais de Perícia Federal perícia criminal. Acreditamos que o Governo Federal reconhece a exames e a análise de crimes multimídia importância do sistema e, em breve, o Congresso Nacional fará que antes PCFs Pedro Monteiro Eleutério e Márcio Machado PÁGINA 22 sua parte, criando o arcabouço legal que permita o funcionamento não eram do Banco de Dados de DNA em sua plenitude. • APCF garante vaga no novo Conasp PÁGINA 30 possíveis A Lei 12.030, que confere autonomia técnica, científica e fun- • PL 6.493/2009 – Lei Orgânica da Polícia cional aos peritos oficiais, é outro marco importante para a perícia ou que Federal PÁGINA 31 criminal. No entanto, essa lei ainda precisa ser consolidada no envolviam • É oficial: Brasil possui banco de Perfis âmbito do Departamento de Polícia Federal, sendo o instrumento técnicas Genéticos PÁGINA 32 adequado o PL 6.493/2009 (Lei Orgânica da PF), em tramitação • Reforma do Código de Processo de pouca na Câmara dos Deputados. Penal PÁGINA 34 Por fim, o projeto de lei que trata da reforma do Código de precisão • VI Encontro Nacional dos Peritos Processo Penal aprovado na Comissão de Constituição e Justiça Criminais Federais PÁGINA 36 (CCJ) do Senado. O relator do projeto, Senador Renato Casa- Taynara Figueiredo grande, reconheceu e acatou uma série de propostas de emendas apresentadas pela APCF realiza II Congresso Brasileiro das APCF. A expectativa é que, após a tramitação no Congresso, o novo CPP forneça os Carreiras Jurídicas de Estado PÁGINA 37 instrumentos legais adequados aos órgãos que atuam na persecução penal, a fim de Taynara Figueiredo e II CBCJE tornar mais céleres os processos penais e, ao mesmo tempo, dar mais garantias aos réus e às vítimas. Antônio Carlos Villanova o maestro da criminalística PÁGINA 38 William Grangeiro Saudações periciais! Perícia Federal 3
  • 4. ENTREVISTA: WALTER NUNES, CONSELHEIRO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA CNJ Atualmente, uma das grandes discussões UMA PONTE PARA A JUSTIÇA DO FUTURO No caso de videoconferência, há neces- no meio judiciário brasileiro é o Plano de sidade, ainda, de que o computador esteja Gestão das Varas Criminais e de Execu- conectado com a rede mundial de compu- ção Penal, aprovado pelo Plenário do Con- tadores. Esse método, além de agilizar o selho Nacional de Justiça, em março deste processo, é benéfico porque permite que ano. O Plano, que tem à frente o juiz fe- o próprio juiz do processo dirija o ato de deral e conselheiro do Conselho Nacional instrução. O advogado e o Ministério Público de Justiça (CNJ) Dr. Walter Nunes, visa a do local, que conhecem o processo, é que modernização e informatização da justiça participam da audiência. Imagine o que se brasileira. Em entrevista à revista Perícia pode ganhar em termos de melhoria da ins- Federal, Nunes fala sobre a proposta e ex- trução do processo, sem falar em celeridade põe opiniões acerca do trabalho realizado e economia. pela perícia. E essa tecnologia é cara? Já foi utilizada pelo Judiciário alguma vez? Quais as falhas encontradas e as prin- Não é cara. A documentação audiovisual cipais mudanças que ocorrerão com a pode ser feita até pelo Windows Media Player. implantação do plano? A câmera custa menos de cem reais. Quanto As principais falhas são com relação à à videoconferência, para inquirição de teste- morosidade e burocracia judiciária. O Plano Conselheiro do CNJ, Walter Nunes. munhas, alguns juízes a estão fazendo pelo de Gestão das Varas Criminais e Execução Skipe. Inclusive, já houve caso de coopera- Penal é voltado para isso, para simplificar ocorrer até mesmo pelo celular. Ele já sabe ção internacional com videoconferência pelo e estabelecer rotinas e procedimentos para que o Ministério Público está ciente do caso. Skipe. É só baixar o programa pela Internet. otimizar a atividade jurisdicional. O plano É só aguardar o pronunciamento do MP ou compreende técnicas de gestão, recursos mesmo, em casos mais urgentes, manter Com o uso dessa tecnologia, é possível tecnológicos, além de um Manual Prático contato para agilizar o procedimento. Dada que a testemunha se negue a depor ou de Rotinas para auxiliar o serviço das se- a decisão, a comunicação também se faz a mostrar o rosto? cretarias. pela forma eletrônica. Alguns juízes já estão Nos casos em que a testemunha, por ques- adotando esse procedimento, com ótimos tão de segurança, não queira mostrar o seu Qual seria um desses recursos para oti- resultados quanto à variável de tempo. rosto, basta desfocar a imagem. Mas, em todo mização? caso, se não houver como desfocar a câme- Estamos estabelecendo um processo Existe também a proposta de realizar ra, pode-se focá-la em outra parte do corpo, eletrônico, até o final do ano em alguns audiências documentadas pelo sistema como é utilizado nas reportagens televisivas. setores do Judiciário. Foi estabelecido um audiovisual. De que forma tal proposta cronograma e, até setembro, deve ser implan- funciona? 2010 é ano eleitoral. Como será exercido tado, em caráter experimental, um sistema A audiência é gravada e os depoimentos o direito de voto do preso provisório? A para justiça criminal em alguns segmentos. ficam armazenados no processo em CD, regra já vale para esse ano? além de arquivados backup na Vara. O CNJ se reportou a essa questão no Como funcionaria, por exemplo, em caso Quando for caso de depoimento de teste- Plano de Gestão. O Tribunal Superior Eleitoral de encaminhamento de auto de prisão munha residente em outra localidade, adotado regulamentou a matéria, de modo a estabe- em flagrante? o sistema audiovisual, a testemunha poderá lecer que os tribunais têm que, desde que Os órgãos do Judiciário, da Polícia e do ser ouvida por videoconferência. Nesse caso, haja segurança, instituir a urna eletrônica em Ministério Público definem seus respectivos o juiz encaminha a carta precatória solici- todo e qualquer estabelecimento que tenha endereços eletrônicos institucionais. Elabo- tando ao juiz deprecado que, em dia e hora no mínimo 50 presos. Só poderá votar, porém, rado o auto de prisão em flagrante, o seu previamente fixados, seja disponibilizado um o preso que tenha feito a transferência de seu envio se faz pelo correio eletrônico para o local com computador para que a testemu- título de eleitor para a sessão a ser instalada Judiciário, com cópia para o Ministério Pú- nha possa ser ouvida na audiência que será no estabelecimento carcerário no qual ele blico. O juiz de plantão recebe, o que pode realizada no Juízo deprecante. está recolhido. Para tanto, foi estabelecido 4 Perícia Federal
  • 5. um prazo para a revisão do título e o pedido o CNJ fez foi, dentro do plano de gestão, O laudo pericial é de fundamental impor- de mudança de domicílio eleitoral e seção. as alterações que são importantes para a tância. Com a sofisticação tecnológica, hoje simplificação, para o trâmite mais rápido do a perícia serve não apenas para certificar Os tribunais já começaram a analisar o processo e mais eficiência na jurisdição. Quan- a ocorrência de um fato em seus detalhes, plano. Qual foi o resultado? to ao projeto de novo CPP, o CNJ não se mas igualmente para identificar a autoria Consultamos 20 juristas, entidades de pronunciou sobre a proposta. Inclusive, no ou afastar a hipótese de o crime ter sido classe da magistratura, polícia e do Ministé- plano, eu me reporto a ela de forma que o praticado por determinado suspeito. A pe- rio Público. Recebemos sugestões e incor- CNJ deve criar grupo de trabalho para fazer rícia é uma prova técnica e exata, o que a poramos umas, outras não. Fizemos uma um estudo e apresentar uma nota técnica. diferencia das demais e a torna singular. reunião com os tribunais e estamos para E isso já foi feito. Esse grupo será de fun- Para que ela efetivamente seja técnica e marcar a segunda, que deve acontecer em damental importância, porque esse projeto, exata, é indispensável a alta qualificação breve. Estabelecemos oito ações e levamos apesar de bom, não foi discutido no âmbito dos peritos e a sua independência funcional. para discutir com os tribunais o percentual do Judiciário. Sem esses dois atributos, a perícia perde o de cumprimento dessas ações para esse seu valor intrínseco. ano, entre elas, a informatização das varas de execução criminal quanto a roteiro de A manutenção da perícia ad hoc na legis- pena e a implementação de tempo para A perícia é uma prova lação não fere a Lei de Perícias Oficiais, concessão de benefício. O que está sendo técnica e exata, o que a recém-instituída? discutido não é o plano em si. O plano é diferencia das demais e A perícia ad hoc é uma anomalia que, suscetível a ajustes, pois o mais difícil não é mais cedo ou mais tarde, irá desaparecer. elaborá-lo, mas colocá-lo em prática. Procu- a torna singular Porém, infelizmente, o país é muito grande, ramos fazer um plano ousado e excelente, com extrema diferença entre os Estados, de que passou por várias avaliações críticas modo que, embora cada vez menos frequente, e positivas, e esperamos uma excelente Entre as medidas da nova proposta de ainda será utilizada por algum tempo. execução. Essa é a grande missão agora. reforma do CPP está a duplicação do Estamos quebrando algumas e naturais número de juízes encarregados de uma A Polícia Federal implantou, no mês de resistências que estão surgindo. investigação criminal. Isso realmente maio, a Rede Integrada de Bancos de ajuda, acelera a investigação? Perfis Genéticos. Como o senhor avalia Há propostas que necessitam de aprova- A previsão de um juiz das garantias que essa ferramenta de auxílio à justiça? ção do Congresso e, outras, não. Pode deve atuar apenas na fase pré-processual, a A polícia técnica não pode se desgrudar haver resistência dos parlamentares a fim de autorizar, ou não, as diligências policiais dessa ferramenta. É uma realidade no Di- essas mudanças? quando há necessidade de flexibilização de reito Comparado, merecendo destaque nos Acredito que não, pois foram muito bem um direito fundamental, é um aperfeiçoamento países democráticos. recebidas. O CNJ tem muita credibilidade necessário ao nosso sistema. A implantação na sociedade em geral, e isso reflete no dessa sistemática não quer dizer que teremos A Rede Integrada de Perfis Genéticos é parlamento. Os parlamentares têm muita de duplicar a quantidade de juízes criminais. um instrumento que ainda não possui atenção aos projetos e propostas que são Onde houver mais de um juiz criminal, basta legislação. Em quais casos e crimes, encaminhadas pelo CNJ, na qualidade de que um deles, em determinado processo, por exemplo, o senhor avalia que po- órgão estratégico e central do sistema ju- atue apenas como juiz das garantias. Mesmo deria ser exigido do criminoso ceder dicial. Vale lembrar que, dentre as propos- onde não haja mais de um juiz criminal, o amostras de DNA? tas entregues ao Parlamento pelo CNJ, de juiz de garantias pode ser um juiz cível, que Na proposta do CNJ, que faz parte do acordo com o Plano de Gestão constava terá, nesse caso, competência cumulativa. O Plano de Gestão, a coleta de dados gené- a proposta de alterar o regime aberto de problema reside, basicamente, nas pequenas ticos deve ser feita quando do ingresso dos cumprimento de pena, de modo a eliminar a comarcas, onde há apenas um juiz. Nesse presos no sistema carcerário, como medida casa de albergado e, em seu lugar, instituir caso, pode ser aberta uma exceção o que, necessária. Além de ser uma solução para a o monitoramento eletrônico, que recebeu, porém, não é o desejável. questão da coleta de amostras, essa medida publicamente, o apoio do Legislativo. vale também para saber como deve ser a Em dezembro de 2009, foi publicada a alimentação da pessoa e, naturalmente, se O CNJ sugeriu modificações no Código Lei 12.030, Lei de Perícias Oficiais, que é portadora de doença grave ou contagiosa, de Processo Penal? Qual é o seu posi- confere autonomia técnico, científica e independentemente do crime praticado. Há cionamento acerca da proposta aprovada funcional aos peritos oficiais. O que o casos em que o próprio preso não sabe, no Senado? senhor vê de mais positivo em uma perícia por exemplo, se é diabético ou portador do É importante dizer que o CNJ não propôs autônoma? E como avalia a importância vírus HIV. Trata-se, inicialmente, de uma modificações no Código de Processo Pe- do laudo pericial no processo penal e na proteção para ele e para as demais pessoas nal para aperfeiçoar o novo código. O que formação da convicção do magistrado? encarceradas. Perícia Federal 5
  • 6. BALÍSTICA FORENSE: PCFS ANDRÉ LIMA LOGRADO (FÍSICO) E SARA LENHARO (GEÓLOGA, MESTRE E DOUTORA) Após dois anos, a prova Com o auxílio do Microscópio Eletrônico de Varredura, peritos criminais federais da Área de Perícias em Balística Forense do INC detectam vestígios de projétil de arma de fogo em material humano exumado V árias informações desencontra- familiares teriam reconhecido um dos cor- o Ministério Público pediu a exumação do das são relatadas no inquérito pos como sendo o de Rafael. Tratava-se cadáver. sobre a morte do pedreiro Ra- de um morto encontrado no Acará com as Então, em dezembro de 2009 os peritos fael Viana dos Santos, jovem mãos decepadas e outras marcas de tortura, criminais federais da Área de Perícias em de 21 anos cujo corpo foi encontrado no enterrado como indigente no cemitério do Balística Forense do Instituto Nacional de dia 06 de novembro de 2007, boiando nas Tapanã, em Belém, no dia 19. Criminalística receberam o material exumado águas do rio Guamá, na localidade do Es- Segundo denúncia do Ministério Público, encaminhado pelo Instituto Médico Legal pírito Santo, município de Acará, Estado a vítima teria sido detida, levada em uma Renato Chaves - PA. Tratava-se de diversos do Pará. viatura da PM e teria sido espancada vio- fragmentos ósseos de crânio, como mostra A vítima desapareceu no dia 2 de no- lentamente, a ponto de ter as mãos dece- a figura 1. vembro de 2007, após ter sido detida por padas e a cabeça esmagada. Porém, como Durante a inspeção visual, reconstruiu- uma equipe da 11ª ZPOL da Polícia Militar, suspeitas recaem sobre policiais militares, -se o crânio e foi constatada a existência do bairro do Guamá. No dia 23 do mesmo tornou-se imprescindível apurar se Rafael de um orifício localizado na parte inferior mês, com base em imagens de cadáveres Viana dos Santos também foi atingido por esquerda do osso occipital (região da nuca), dos arquivos do Instituto Médico Legal (IML), projéteis de arma de fogo, motivo pelo qual que estava fraturado em quatro partes, com Figura 1 – Fragmentos ósseos examinados. 6 Perícia Federal
  • 7. sinal de funil1 característico de orifícios de entrada de projétil de arma de fogo, conforme ilustrado na figura 2. Constatou-se ainda que a região direi- ta do osso frontal e o osso zigomá- tico do lado direito, localizados no lado oposto ao do referido orifício, encontravam-se Figura 2 – Crânio fraturados e com alguns reconstruído dos fragmentos ausentes. Este fragmentos ósseos seria o local de saída de recebidos mostrando, um projétil transfixante em detalhe, orifício que entrou pelo orifício com sinal de funil supracitado. característico de Em seguida, realiza- orifícios de entrada de vam-se análises para iden- projétil de arma de fogo. tificar os tipos de resíduos presentes nas proximidades do orifício encontrado. A técnica de análise utilizada para determinar a composição química dos resíduos foi a mi- croscopia eletrônica de varredura (MEV), acoplada com sistema de análise de raios-X por espectrometria de energia dispersiva (EDS). As análises foram realizadas no microscópio eletrônico de varredura da marca FEI, modelo QUANTA 200 3D – Dual Beam, da Área de Balística Forense do INC. Para a análise, foi utilizado o software INCA. Nas bordas do orifício localizado no osso occipital foram encontrados vários resíduos constituídos essencialmente de chumbo (Pb). A fotomicrografia e o espectro a seguir ilustram parte dos resíduos encontrados. Por meio de análises feitas com o uso de um microscópio eletrônico de varredura, constatou-se a existência de resíduos de chumbo, principal material constituinte da maioria dos projéteis de arma de fogo, nas bordas dos orifícios de entrada e saída da perfuração transfixante. Além da constatação de resíduo de chum- bo, a reconstrução e a análise das fraturas mostrou uma trajetória com entrada pela porção esquerda da nuca, com saída pelo lado direito da face, indicando que o disparo de arma de fogo foi efetuado pelas costas. Nota 1. Di Maio, Vincent J.M. Gunshot Wounds: Practical Aspects of Firearms, Ballistics, Figuras 4 e 5 – Fotomicrografia e espectro de EDS dos resíduos encontrados nas and Forensic Techniques, 1941, p. 92-94. bordas do orifício. Perícia Federal 7
  • 8. BALÍSTICA FORENSE: PCFS LÚCIO PAULO LOGRADO (QUÍMICO E MESTRE EM QUÍMICA ORGÂNICA ), ANDRÉ LIMA LOGRADO (FÍSICO) E ÉLVIO DIAS BOTELHO (QUÍMICO, MESTRANDO EM QUÍMICA ANALÍTICA) O em detalhes Por meio de técnicas disponíveis no Instituto Nacional de Criminalística, perícia identifica, como sendo mel de abelha, um determinado material de identidade e origem desconhecida com características organolépticas de mel O s méis são produtos naturais que variam não só na coloração, organolépticas de mel, trata-se realmente de mel, por meio de técnicas disponíveis neste • espectroscopia na região do Infravermelho (IV-TF); no sabor e no odor, mas tam- Instituto Nacional de Criminalística. Ressal- bém em sua composição quími- ta-se que é comum recebermos solicitações • cromatografia em fase gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (CG-EM); ca2. Porém, em todas as suas variações, de análises de diversos tipos de materiais de pode-se dizer que o mel é basicamente identidade desconhecida sem nenhum tipo • cromatografia líquida de alta eficiência uma solução aquosa concentrada de dois de identificação, com a seguinte quesitação com detecção por índice de refração açúcares, frutose e glicose, contendo tam- tradicional: “Qual a natureza e características (CLAE-DIR); bém, em menores concentrações, outros do material encaminhado a exame?” açúcares, ácidos orgânicos, proteínas, Dessa forma, para atender às solicitações • microscopia eletrônica de varredura (MEV); minerais, substâncias aromáticas, pigmen- de laudos no âmbito da Polícia Federal, nor- • determinação do índice de refração (deter- tos, vitaminas, grãos de pólen, entre outros malmente não é necessário executar todas minação de umidade por refratometria)3. componentes1. as análises preconizadas pela Instrução Esse trabalho não visa apresentar uma Normativa nº 11 do Ministério da Agricultu- Após comparação entre os espectros de metodologia para atestar a qualidade do mel ra e do Abastecimento, de 20 de outubro de infravermelho da amostra questionada e do (para essa finalidade pode-se consultar o re- 2000, que aprova o Regulamento Técnico mel padrão, notou-se forte semelhança entre gulamento técnico de identidade e qualidade de Identidade e Qualidade do Mel. Como se os mesmos, conforme observado na figura de mel constante da Instrução Normativa no pode observar neste caso específico com a 1, a seguir. 11, de 20 de outubro de 2000, do Ministério da utilização de algumas técnicas disponíveis Verificou-se, por meio dos exames de Agricultura e Abastecimento, em “10. Métodos neste Instituto, foi possível confirmar que o CLAE-DIR e CG-EM, que a referida amos- de Análises” ou, em português, no livro Méto- material examinado trata-se de mel de abelha tra é constituída basicamente por glicose, dos físico-químicos para análise de alimentos e não sofreu adulteração grosseira. frutose e água, sendo que o exame de de- do instituto Adolfo Lutz, edição IV) e sim reunir O material questionado, sem identificação, terminação de umidade por refratometria3 indícios para formação de maior convicção com características organolépticas de mel, forneceu um resultado de 19,4% de umidade de que determinado material de identidade foi dividido em diversas frações e submetido (Índice de refração = 1,4880 a 20o C), es- e origem desconhecida, com características às seguintes análises instrumentais: tando, neste parâmetro, de acordo com o 8 Perícia Federal
  • 9. regulamento técnico de identidade e qualidade de mel constante da instrução normativa no 11, citada anteriormente, que limita o teor de água no mel em 20%. Constatou-se, também, por meio dos exames de CLAE-DIR, que não há quantidade significativa de sacarose na amostra analisada. A sacarose (açúcar comercial) é comumente empregada na adulteração de méis. Segundo o regulamento técnico de identidade e qualidade de mel, constante da Instrução Nor- mativa no 11, em seu subitem 4.2.2.2 c, “o mel deve necessariamente apresentar grãos de pólen”. Figura 1 – Análises de IV-TF - Comparação entre o espectro de infravermelho da Assim, uma amostra do material questionado amostra do material questionado (acima e em azul) e o espectro de infraverme- foi submetida à diluição em água, filtração em lho do mel padrão (abaixo e em vermelho). filtro de membrana de PVDF de porosidade 0,45 μm e algumas lavagens com água, sen- do os resíduos obtidos submetidos, na própria membrana onde se fez a filtração, à análise em MEV, a qual forneceu como resultado imagens de diversas partículas, e após exame de suas características morfológicas, os peritos conclu- íram tratar-se de grãos de pólen. Além das referidas análises, realizaram-se também testes de cor e precipitação para méis (reações de Lund, Fiehe e Lugol)3, e estes não indicaram adulteração no material questionado. Com base nas propriedades organolépticas e a identificação de alguns dos componentes presentes no mel, como frutose, glicose, sa- Figura 2 – Análises de CLAE-DIR - Comparação entre o cromatograma do mate- carose, água e grãos de pólen, a ausência de rial questionado (quarto, de cima para baixo) e os cromatogramas dos padrões quantidade considerável de sacarose, além da de frutose, glicose e sacarose (primeiro, segundo e terceiro, respectivamente), coerência dos resultados dos testes de cor e conforme indicados na figura acima. precipitação realizados, pode-se inferir que a amostra questionada realmente trata-se de mel. Notas A partir do desenvolvimento desta nova me- todologia de análise de méis, conclui-se que 1. Instrução Normativa no 11, de 20 de outubro de 2000, do Ministério da Agricultura e Abaste- é possível a identificação e caracterização de cimento - Anexo - Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Mel. 2. Etzold, E., Lichtenberg-Kraag, B. Determination of the botanical origin of honey by Fou- produtos suspeitos de serem méis, além de rier-transformed infrared spectroscopy: an approach for routine analysis, Eur Food Res detectar adulterações grosseiras, utilizando Technol (2008) 227:579–586. técnicas disponíveis neste INC. 3. “Métodos físico-químicos para análise de alimentos”, instituto Adolfo Lutz, edição IV. Figura 3 Análises por MEV - Grãos de pólen extraídos do material questionado. Perícia Federal 9
  • 10. BALÍSTICA FORENSE: PCFS SARA LENHARO (GEÓLOGA, MESTRE E DOUTORA), EDUARDO SATO (FÍSICO E MESTRE EM ENGENHARIA ELÉTRICA) E LEHI SUDY DOS SANTOS (FÍSICO) MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA EM PROL DA JUSTIÇA Peritos criminais federais determinam resíduos e distância de disparo de arma de fogo em vestimenta e provam isenção de policiais em ação judicial contra Polícia Federal D urante operação da Polícia Fe- A identificação definitiva da partícula como evidenciando sua formação a partir de um deral de busca e apreensão em resíduo de disparo de arma de fogo depende processo de fusão em alta temperatura. uma residência, em Aracaju, foi da presença simultânea de chumbo (Pb), A técnica de análise utilizada para determi- efetuado disparo de arma de bário (Ba) e antimônio (Sb), compondo a nar a micromorfologia e a composição química fogo para conter um cachorro solto. O mesma partícula. Além disso, essa partí- dos resíduos é a microscopia eletrônica de disparo ricocheteou no chão e, em segui- o cula deve apresentar morfologia esferóide, varredura (MEV), acoplada com sistema de da, atingiu uma porta. Alguns dias depois, . Alguns di s depois lguns pois, análise de raios-X por espectrometria de os residentes iniciaram uma ação judicial am uma ação judicial m ã udicial energia dispersiva (EDS). g contra a Polícia Federal e apresentaram eral eral apresentaram a p esen ram enta fotografias e um vestido com um orifício, stido com m orifício tido m orifício, A ális Análise e res duo Análise de resíduo ise esíd alegando que a perfuração da vestimenta uração raçã ção vestimenta estiment t de disparo de arm de fogo e disparo de arma ispa o a teria sido produzida pelo disparo efetuado pelo disparo efetuado elo disparo efetuado Foram coletadas Foram coletadas duas a Foram coletadas duas amostras no vestido, pelo policial federal. Foi declarado tam- l. Foi declarado tam- o eclara rado am- utilizando-se stubs de alum utilizando-s s ubs alumínio recobertos por utilizando-se stubs de alum z s m bém que o policial que efetuou o disparo que efetuou disparo fetuo t isparo fita adesiva dupla face de carbono. Nessas fita adesiva dupla face desiva p ace estava a cerca de 3 metros de distância metros metros de distância d stância n amostras foi efetuada a busca automatiza- amostras amostras foi efetuada fetuada da residente e atirou entre as pernas da ou entre s pernas a ntre en da, sob condições de baixo vácuo, em 380 da, sob condições o dições ba mesma. campos de cada. campos campos de cada.cada Para esclarecer os fatos, a vestimenta foi fatos, vestimenta foi ao vestimenta o m Na primeira amostra coletada foram en- primeira amostra rime r a ostr t encaminhada à Área de Balística Forense do a de Balística Forense Balístic Fore e lísti rens contrados 51 resíduos determinantes de contrados contrados 5 resíduos esíduos d Instituto Nacional de Criminalística, localizado e Criminalística, localizado C iminalística, l calizado í d disparo de arma de fogo (constituídos de d sparo disparo arma rma fo em Brasília, com o objetivo de determinar objetivo d determinar bjet o etiv etermina a Pb, Ba e Sb e morfologia esferoidal); 64 Pb, a Sb morfol morfol a presença de resíduo de disparo de arma íduo duo disparo de arma ispa p m resíduos indicativos, constituídos de dois dos resíduos d cativos, res duos indicativos, co v de fogo, a distância em que o disparo foi cia em que disparo foi a q disparo f três elementos acima citados (SbPb e SbBa); três elementos acima ci ement s c ntos efetuado, bem como sua trajetória e tipo omo sua trajetória tipo a aeó i ip e um resíduo ambiental, constituído de Pb. m resíduo ambient esíd o mbient d n de arma utilizada. . Para atestar se houve disparo de e houve disparo ouve disp rs arma de fogo, os peritos criminais peritos criminais rt riminais m s federais realizaram a busca e am busca u c análise de resíduos inorgâni- os inorgâni- norgâni- â cos e metálicos oriundos oriundos oriun s u da mistura iniciadora, ador adora, r do projétil e da arma. ma. a Fotografia 1 Vestido aberto com to com indicação do orifício periciado. o orifício periciado. rifíc fíci er c do Fotomi ro afia Fotomicrografi Fotomicrografia 1 – Partícula etermi- m nante de disparo de arma de fogo. nante d disparo nant nte isparo 10 Perícia Federal
  • 11. Espectro 1 – Composição, por EDS, da partícula determi- nante constituída de Pb, Ba e Sb. Na segunda amostra coletada foram encontrados 15 resíduos determinantes de disparo de arma de fogo (constituídos de Pb, Ba e Sb e morfologia esferoidal); 26 resíduos indicativos, constituídos de dois dos três elementos anteriormente citados (SbPb e SbBa); e 5 resíduos ambientais, todos de Pb. Os resultados das análises químicas efetuadas por EDS são apenas semiquantitativos (1). Fotografia 2 – Região mostrando o orifício central, orifícios menores e esfumaçamento. Distância do disparo A fim de comprovar a distância do disparo de arma de fogo, foram realizados diversos testes utilizando-se armas curtas e cartuchos de diferentes calibres, tais como, .38” SPL, .380” Auto, 9mm PARA e .40” S&W. Mediante a da inspeção visual da vestimenta, pode-se verificar, próximo da barra inferior, na parte da frente do vestido, a existência de um orifício maior, central. Juntamente a esse orifício havia tam- bém vários outros orifícios menores, distribuídos de forma circular a elíptica, em torno do primeiro. Além disso, havia presença de uma área de formato ovóide e coloração acinzentada, situada à direita do orifício central (fotografia 2). Esses elementos associados sugerem se tratar de orifício pro- duzido por disparo de arma de fogo a curta distância e permitem formular as seguintes correlações: 1o O orifício maior seria produzido pelo projétil (fotografia 3). 2o Os orifícios menores em torno do maior caracterizam a zona de tatuagem, que são produzidos por grãos de pólvora incombustos (fotografia 4). 3o A área acinzentada corresponde à zona de esfumaçamen- to, produzido pelos resíduos da combustão da pólvora e dos restos da detonação da espoleta (fotografia 5). 4o Por fim, o segundo e o terceiro elementos estarão pre- Fotografia 3 – Reverso da mesma região mostrando o orifí- sentes somente em disparos a curta distância, ou seja, cio maior e os orifícios menores que representam a zona de menores que 50 centímetros. tatuagem. Perícia Federal 11
  • 12. BALÍSTICA FORENSE: PCFS SARA LENHARO (GEÓLOGA, MESTRE E DOUTORA), EDUARDO SATO (FÍSICO E MESTRE EM ENGENHARIA ELÉTRICA) E LEHI SUDY DOS SANTOS (FÍSICO) Fotografia 4 – Figura mostrando a posi- Fotografia 5 – Figura mostrando a posi- Fotografia 6 – Disparo perpendicular ção do orifício maior e a zona de tatua- ção do orifício maior e da zona de esfu- efetuado com pistola Glock 26 a 50 cm gem, com deslocamento à direita. maçamento. de distância. Foi averiguado que a zona de tatuagem incombustos aderidos no tecido, os quais de incidência do tiro também são variáveis e de esfumaçamento não se produzem em não tiveram energia suficiente para perfurá- que devem ser consideradas (2). disparos com distância acima de 50 centí- -lo. Ademais, não há formação da zona de Residuograma similar ao apresentado no metros, independentemente do calibre. No esfumaçamento. vestido, em relação ao diâmetro da zona de residuograma do disparo efetuado a distância Em todos os testes realizados não foi tatuagem, foi obtido num disparo inclinado de 50 cm do vestido com munição padrão do possível reproduzir as mesmas caracterís- a 5 cm de distância com pistola Glock 19 e DPF, 9mm PARA com projétil encamisado ticas do orifício questionado, em função da cartucho de calibre .380” Auto +P+, conforme ponta-oca, são observados grãos de pólvoraquantidade de parâmetros que influenciam apresentado na fotografia 7. Entretanto, a na formação do re- zona de esfumaçamento não repete o padrão siduograma. Neste mostrado no orifício questionado. sentido, os testes fo- Através dos exames realizados pode-se ram realizados com concluir que os orifícios presentes na região o tecido pendurado analisada do vestido foram produzidos por na vertical, sem fi- disparo de arma de fogo a curta distância, xação ou tensão, na provavelmente a cerca de 10 cm (dez cen- tentativa de reprodu- tímetros). Não foi possível afirmar que tipo zir as condições do de arma, nem tampouco excluir, em função vestido quando em da diversidade de parâmetros envolvidos uso. A colocação de na formação de um residuograma. um anteparo atrás O formato da zona de tatuagem e de do tecido, o tipo de esfumaçamento permite concluir que o anteparo, o tensio- disparo não foi perpendicular ao tecido namento e a fixação e sim inclinado, com ângulo menor que do tecido resultariam 90º da direita para a esquerda, olhando num residuograma o vestido de frente. Tendo em vista que o diferente daqueles tecido é flexível, não foi estimada a posição obtidos nos testes. do atirador. Da mesma forma, o tipo de arma, o comprimento do Referências cano da arma, o calibre do cartucho 1. Goldstein, J. et al. Scanning Electron Mi- croscopy and X-ray Microanalysis. 2. ed. de munição, o tipo New York: Plenum Press, 1992. 820p. Fotografia 07 – Disparo perpendicular efetuado com pistola de projétil, o tipo de 2. Haag, L.C. Shooting Incident Reconstruc- Glock 19 a 5 cm de distância pólvora e o ângulo tion. 1. ed. London: Elsevier, 2006. 344p. 12 Perícia Federal
  • 13. DOCUMENTOSCOPIA FORENSE: PCF CARLOS ANDRÉ XAVIER VILLELA (MESTRE EM ENGENHARIA) Escrita escolar brasileira: a escrita inglesa A escrita inglesa foi, inquestionavelmente, um dos mais importantes estilos caligráficos da cultura ocidental. Este trabalho resume em linhas gerais a trajetória deste estilo caligráfico desde a Inglaterra até o Brasil, com suas passagens pelos Estados Unidos e Portugal O exame grafotécnico é uma aná- tamentos, identificar e catalogar os diversos rísticas nacionais de uma escrita. lise de comparações. Quanto alógrafos3 empregados, tanto hoje como no (tradução nossa) maior o número de elementos passado, pelos diferentes alfabetos do mundo. de confronto, maiores serão as Especial atenção tem sido dada aos sistemas Seguindo essa linha, o presente trabalho possibilidades de se comprovar que duas caligráficos e de escrita4 historicamente adota- visa a abordar essa questão, apresentando escritas partiram do mesmo punho. Em dos pelas cartilhas escolares, oferecidos aos um levantamento das influências históricas sentido inverso, quanto menor o número iniciantes como exemplos de escritas perfeitas. que, de certa forma, moldaram a escrita es- de elementos de confronto, menores serão O objetivo primário desses levantamentos colar brasileira. Neste artigo, será analisada as possibilidades de se concluir alguma é utilizar esses padrões genéricos de escrita, a influência da chamada “escrita inglesa” no coisa. Nunca existirá um consenso no que completamente desprovidos de individualidade, ambiente escolar do Brasil. se refere ao número mínimo de conver- como um “branco de fundo”, e, a partir do que gências necessário para uma identificação deles divergir, poderá ser considerada uma Antecedentes positiva, até porque pouco servirá esse nú- característica individual5, de maior ou menor Extrapolaria o escopo deste trabalho um mero, se não for considerada a raridade1 frequência de ocorrência. O objetivo secundá- estudo muito remoto da história da escrita, de cada convergência. Determinar-se a ra- rio é estabelecer correlações entre épocas e visto que seu foco é o universo escolar brasi- ridade de uma convergência é, a rigor, um formas gráficas, que possam fornecer indícios leiro. Nesse sentido, a necessária contextua- problema estatístico. Em uma abordagem sobre a idade de um autor ou sobre a época lização pode ser iniciada no período colonial, essencialmente matemática, para cada de produção de um documento. quando devem ser igualmente consideradas característica convergente deveria ser atri- O estudo de cartilhas e sistemas de escrita as historiografias de Brasil e Portugal. buído um valor inversamente proporcional não é novo. O próprio Osborn (1929), em O primeiro grande calígrafo português à sua frequência de ocorrência dentro de sua obra Questioned Documents, dedicou foi Manoel Barata, que chegou ao posto de determinado universo populacional. um capítulo inteiro ao assunto: mestre de escrita do jovem Príncipe dom Ainda que isso não se consiga no atual João, filho de dom João III, rei de Portugal. exame grafotécnico, vários autores2 têm-se As características identificadoras Este renascentista publicou, em 1590, o que dedicado à pesquisa de padrões genéricos de ou diferenciadoras serão tão mais viria a ser considerado o primeiro tratado de escrita, utilizados por diferentes populações fortes quanto mais divergirem do caligrafia produzido em Portugal, intitulado e épocas. Busca-se, por meio desses levan- sistema regular ou das caracte- Exemplares de Diversas Sortes de Letras, 1. Alguns autores, como Huber e Headrick (1999), utilizam o termo significância. Outros, como Del Picchia (1976), preferem os termos qualidade ou valor. 2. Como Blumenthal (1957), Schuetzner (1999), entre outros. 3. Segundo o sistema proposto por Ellis (1979), o conceito de letra pode ser subdividido em três níveis de representação: o grafema, nível mais abstrato, um conceito de letra sem uma forma específica; o alógrafo, nível ainda teórico, porém já relacionado a uma forma específica de letra; e o grafe, nível prático, a letra efetivamente escrita. 4. Um sistema seria uma combinação de formas e movimentos, compondo uma coleção completa e harmoniosa de alógrafos, conforme preconizados por um autor ou publicação. No Brasil, com o mesmo sentido são por vezes utilizados os termos alfabeto e abecedário. Um sistema caligráfico seria um sistema obediente a uma rigorosa ordenação estética, ao passo que um sistema de escrita seria qualquer sistema desenvolvido com um propósito meramente funcional de comunicação ou registro. 5. Alguns autores, como Del Picchia (1976), preferem o termo idiografismo. Optou-se neste trabalho pelo termo característica individual, pela vantagem de sua intuitiva diferenciação do termo característica de classe (ou característica de sistema). Perícia Federal 13
  • 14. DOCUMENTOSCOPIA FORENSE: PCF CARLOS ANDRÉ XAVIER VILLELA (MESTRE EM ENGENHARIA) Tirados da Polygraphia de Manuel Baratta. Sciencias em S. Petersbourgo, publicada em nascidos, doutores, clérigos, ho- Acostados a Elles hum Tratado de Arismetica Lisboa no ano de 1793, refere-se a Andrade mens de negócios, advogados, e outro de Ortographia Portuguesa, impres- de Figueiredo como: contadores e seus escrivães e so em Lisboa. Os exemplares de Manoel secretários aprendiam a escrever. Barata são constituídos por um conjunto de (...) o portuguez, que no principio Alguns aprendiam sozinhos a partir estampas em letras: chancelaresca, chance- d’este seculo successivo áquela de manuais, porém, geralmente laresca formata, maiúscula chancelaresca, fatal época, illustrou a posteridade frequentavam-se as aulas de al- portuguesa e castelhana. com a sua Arte de Escripta, que gum mestre calígrafo. Aprender a No início do século XVIII, surge outro deixa em esquecimento a do ce- escrever era uma tarefa complexa mestre de destaque - Manuel de Andrade lebre Morante, de quem elle tirou que requeria o domínio de diversos de Figueiredo. Segundo Barbosa Machado ideias engraçadas e com mais tipos de escrita, ao mesmo tempo (autor de Bibliotheca Lusitana), Andrade de algum preceito; os seus abece- em que deveriam ser evitados Figueiredo era brasileiro, natural da Capitania darios são ornados de elegan- tipos inapropriados para deter- do Espírito Santo, tendo sido o primeiro autor tes labyrinthos, e o bastardo, e minada classe social, profissão a publicar em Portugal um manual de caligrafia cursivo he maravilhoso. ou gênero. Os escritórios de con- e também o primeiro a tentar estabelecer a tabilidade e o mundo comercial normalização dos caracteres portugueses. É importante esclarecer que, durante adotavam os estilos caligráficos Trata-se da obra intitulada Nova Escola para séculos, tanto no Brasil como na Europa, a redondos, simples e claros. Um Aprender a Ler, Escrever e Contar. Offerecida escrita foi uma arte de ofício, restrita a de- tabelião, todavia, deveria dominar à Augusta Magestade do Senhor Dom João terminados tipos de profissionais e membros uma variedade de estilos legais e V, Rey de Portugal, por Manoel de Andrade da elite social. de chancelaria. Às mulheres era de Figueiredo, Mestre desta Arte nas Cidades Clayton (WILCOX e CLAYTON, 1999, p. ensinada uma escrita diferente de Lisboa. Occidental e Oriental, publicada 11) retrata um interessante panorama dessa da dos homens, estreita e incli- em 1722. situação na Inglaterra do século XVII: nada; habilidade seguidamente Antônio Jacinto de Araújo, em sua obra vista como prenda ou atividade Nova Arte de Escrever. Offerecida ao Prín- Leitura e escrita eram ensinadas de lazer, tal como saber bordar cipe Nosso Senhor para Instrucção da Mo- separadamente; a muitos era ou dançar. (...) A sociedade na cidade Composta por Antonio Jacinto de ensinada a leitura, mas poucos Inglaterra do século XVII era es- Araújo, Professor d’Escripta, e Arithmetica, prosseguiam para a escrita. (...) tratificada em hierarquias de poder e Correspondente da Academia Imperial das Desta forma, somente os bem e status. (...) A complexidade dos estilos de escrita causava uma dificuldade de leitura; não eram raras, até o início do século XIX, pessoas que se consideravam leitoras de livros, mas não de manuscritos. As escritas legais eram tão obscuras que eram con- sideradas inacessíveis aos que não fossem do ramo. (...) A prática da caligrafia requeria uma ampla gama de habilidades. O escritor usava penas que eram individu- almente cortadas e reapontadas à medida que se escrevia. Os es- critores deveriam preparar suas próprias tintas e papéis pautados. (p. 11-12; tradução nossa) Alguns desses manuais referenciados por Clayton devem ter sido o A Booke Containing Figura 1 – Representação de diferentes cortes dos bicos das penas, gravura a buril Divers Sortes of Hands, as well as the French de José Lúcio da Costa, extraída do livro Nova Arte de Escrever. Offerecida ao Prín- Secretarie with the Italian, Roman, Chancelry, cipe Nosso Senhor para Instrucção da Mocidade Composta por Antonio Jacinto de and Court Hands, de John de Beauchesne Araújo, Professor d’Escripta, e Arithmetica, e Correspondente da Academia Impe- e John Baildor, publicado em Londres no rial das Sciencias em S. Petersbourgo, p. 4. ano de 1570, um dos mais antigos manuais 14 Perícia Federal