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De: Daniel P. Fontes
Em: 1996-1997
Tipo: Livro de Poemas
Nome: Lamentos
Obs.: Alguns poemas não tem nome




Vultos distorcidos, imagens de meu inferno
A dor e o ódio corroem minha alma
E o mundo é tão vago, tão vago...
E as pessoas tão ruins
O doce aroma do fracasso
Se mistura com minhas lágrimas de derrota
Ofuscado pelo brilho do vencedor
O amargo amor pela vitória
Tudo acabando em melancolia
Tristeza e choro em minha vida
Tudo de que me lembro
Tudo que possuo
Tudo que não quero
18 anos de vida
18 anos de fracasso
06/08/96



Aos gemidos minha alma me implora
Alegria alegria, a vida é bonita
Mas que droga, tudo é cinza e vermelho
O Sol já não brilha, e a dor se dispersa
O amor eu não conheço
E que dúvida me aparece agora
Tudo se transforma em raiva
Choro como os grandes o fizeram
O gelo milenar que chamo de coração
Pulsa fraco por mais atenção
Nada é como antes
A dor se foi, mas voltará
Que triste é o destino de se sofrer
Sem ao menos se saber o porque
06/08/96




Possuo sentimentos sem nome
Que se movem por todo o meu corpo
Logo a dor irá voltar, e então eu morrerei
Mas antes nada deverá ser visto
Pêlos olhos que me fitam agora
Tudo pelo que lutei algum dia
Se foi com o ódio discreto de minhas derrotas
Corro em busca de minha paz
Mas nada encontro em meu coração
Vazio como o espaço que nos cerca
Me debato e então agonizo
As lágrimas nada são a não ser convites
Para o nada que é minha vida
E o ódio, correndo como energia
Que me move e me sacia
Oh! Vil entidade que me controla
Chore, ante minha derrota
06/08/96



Pulsos interminates, sangue em meu corpo
Correndo dentro de meus sonhos
Trevas eternas, canções proféticas
Desespero e ódio, raiva com medo
Sustos e surpresas, malditas, malditas
A mente sendo esmagada pêlos homens
O animal retornando novamente ao seu lar
Explosões solares, entre Vênus, entre Urano
A não existência completa de tudo
Nenhuma luz, nenhum amor
Nada que seja tangível
Cordas e correntes, ganchos e espadas
Cortam minha carne, cortam minha alma
E do fundo deste ser pensante
O Inferno parece ser sua vida
E em seu leito de morte, o alívio
Por saber que nada no futuro
Poderá ser pior que o presente
08/08/96



Correndo, correndo, voar para lá
Em terras podres eu piso a vida inteira
Mas amo a terra podre, que me alimenta
Que me castiga, que me humilha
Que me judia, e judia, e judia...
Que tanto me fez sofrer e chorar
Que tanto me fez matar
Piedade, piedade. Sofra e então chore
Nadando em um mar de lama
Você contempla o paraíso, e então vai parar no Inferno
E seu sangue se mistura ao suor
E suas lágrimas à sua dor
Cavando sempre para baixo, inquieto
O coveiro lhe convida a entrar
Em sua casa, que é a terra
09/08/96
Eu voava por um céu de enxofre
E caía em um mar avermelhado como sangue quente
Minha pele era de aço, mas eu derreti
E sem asas para voar a dor me abate, certeira
Como se eu nunca houvesse me conhecido
As asas me foram arrancadas
Foi amarrado e acorrentado
Não pude mais brincar ou ser feliz
Meu peito ardeu, meu corpo ardeu
Me ardi de emoção ao ferir profundamente
Meu próprio corpo morto que anda por aí
Meus sonhos foram mortos por toda a sociedade
A mesma sociedade para quem os construí
A mesma que eu tanto amava
Ah! Se um dia eu voltar a ser feliz
Que seja pela dor de meu companheiro
Ou pelo amor de uma mulher
Para mim, ambos são iguais
20/08/96


Em folhas em branco
Tento dispersar toda minha dor
Em busca daquilo que queria
Nada achei, só o que repudiava
Cores abundantes, várias, dançam a noite toda
Em camera lenta eu vejo teus passos
E corro para os braços de minha dona
Acabo com todas as chances que tinha
De ser feliz,e caio em uma depressão eterna
Poucos são os que me viram feliz
Fico cansado só em pensar
Como seria a alegria de ser
Uma pessoa normal, e ter
Tudo que eu sempre quis ter
Ser feliz e ter amigos
Namorar, casar e ter filhos
Trabalhar, sofrer, e morrer
Assim como o gelo, eu fui frio a vida toda
O ódio me guia, o ódio me domina
E com meus ossos partidos
Eu caminho para trás, e para trás ...
Dando as costas ao destino que possuía
Meu coração se parte com um leve toque
E dentre as emoções que já senti
A mais poderosa e terrível que senti
Foi, sem sombra de dúvida
O Amor
10/08/96
Toda minha dor se traduz em dor
Pelo chão está escorrendo a minha vida
Sangue em que me banho todo o tempo
Me visto com meu medo deste mundo
Correndo como maluco, ofegando, parando
A morte, sedutora que me quer tanto
Banha em ódio minha alma, que chora, e geme
Tento ser o que nunca serei
Eu trilho a vida, que é meu caminho
Seu fim não verei, nunca mais o verei
Se desse ao menos para sonhar
E talvez ser melhor do que sou
Eu seria meu próprio sonho
Seria o rei deste mundo
Seria o senhor da minha vida
Queria tentar ser o que não sou
Mas não tento, sem saber por quê
Meu coração descompassa, como um moribundo
Mas morto eu ainda não estou
Ainda tenho pessoas que me cercam, mas sou só
Corto os meus laços, corto os meus pulsos
Sonho, e então choro por ser apenas um sonho
Estas idéias serão lidas um dia
E eu já terei morrido
Porém, viverei em seu espírito
E degustarei de tua felicidade
Pois serei teu cão guia
Nas trevas que são esta vida
10/08/96


Nunca mais me humilhará novamente
Já estou com nojo desta vida rastejante
Queria morrer logo e não sofrer tanto
Queria ficar sozinho, isolado destes humanos
Você nunca gostou mesmo de mim
Enxugue estas falsas lágrimas
Você mal sabia o meu nome, portanto pare de me torturar
Nunca mais olharas em meus olhos
Não ira mais me excitar
Nunca poderei sentir o calor de seu corpo no meu
Eu poderia chorar, mas todas já secaram
A morte vem, galopando em seu corcel negro
Sua foice corta o ar, e eu posso sentir sua respiração
Não tenho mais tempo, portanto me fale logo
A vida é curta, e você também morrerá
Não vamos mais nos preocupar em agradar
Não queria morrer sem antes experimentar você
Não posso mais suportar , tenho que te perguntar
Algum dia você já amou?
05/04/94
Cavalos selvagens correm pelas planícies sem fim
A paz me beija, como se estivesse me esperando
Como se soubesse que você seria o que é
Que sabe dos segredos negros que escondem a alma humana
Os nossos fantasmas nos assombram todas as noites
As noites são escuras, e negras são as lembranças que nos corroem
E ao melancólico som das pessoas se amando em volta de mim
Me faz chorar sem vergonhas ou pudores
Nunca fracasse, e nunca regresse
A não ser que venha aos meus pés, e me implore perdão
Perdão por ser um humano
Se você tiver que fazer, você virá e o fará
E não reclame da vida, pois ela é boa, meu amigo
Pense na fome que mata, e na guerra que desgraça
Que desgraça a nossa vida, a vida de todos nós
De todos nós daqui do Brasil da América
De todo mundo, de meu negro coração
E desta vergonha todos nós nos banhamos
E uma vez banhados seremos impuros e humilhados
Não é sem querer que eu reclamo desta droga de mundo
Que podia ser tão bonito, e puro, e limpo, e calmo
Sem pessoas para então os estraga-lo


10/07/94

Se um cemitério enterra pessoas
O meu coração enterra horrores
Não penso mais no meu fim
Pois a cada instante eu recomeço
E não mais cesso em minhas idéias
Viajo por todo o Universo, por todo que é vivo
E choro de ódio ao ver o desprezo egoísta
Que nos corroem, a todos nós, como câncer
Pois que venham os anjos, e nos purifiquem de todo o mal
Sem fronteiras e sem barreiras, e nos coloquem de igual para igual
Nos purifiquem com fogo e sangue
Pois as palavras não nos afetam mais
Toquem nossos corações com metais perfurantes
Nos levem para voar, e nos joguem lá do céus
Os anjos vingadores, tão puros e justos
Limpam nossas almas com seu próprio sangue
Nos gelam com seu olhar e nos machucam com espadas
E então sepultam nossos corpos em cemitérios carnais
Nos condenando a presos ficarmos aos nossos restos mortais
26/07/94


O cheiro da morte pairava no ar
Era todo amargo, cheiro e gosto amargo
Podia até mesmo ser a morte, ali
Mas ela deveria ser mais bela
Ela deveria ser bem mais bela
Mais bela do que uma rosa negra
Que nasce em meio a rosas brancas
Que nascem em meio a rosas vermelhas mortas
Mais especial do que o 106º elemento
Mais mística do que o alinhamento das duas luas de Marte
Mais perfeita do que a vida em seus últimos suspiros
Mas ela não é
Deus, como queria que fosse
Mas não é
19/09/96


Um gosto doce desce minha garganta
Ela paira como uma névoa em meu estômago
E meu corpo todo vibra e se inflama
Contra esta auto-mutilação física e psicológica
Eu caio em um abismo grande e profundo
E minha vida é arruinada conforme caio, e caio, e caio
Sofro com cada investida, mas persisto
Persisto como um homem sem amor
Em busca de felicidade em um mundo infeliz
E sem lágrimas para mais chorar
Eu me contorço, e gemo, sem nada falar
As luzes, fracas, se apagam por completo
Uma negritude total invade tudo
E eu me deixo levar
Pelas criaturas que se alimentam
De minha fraqueza, minha solidão
19/09/96


Meus olhos se fecham, como as portas da minha mente
Viajo para meu passado, para minhas lembranças
Visito amigos esquecidos, amores renegados
Mas nada disto é real. Nada
E não poderei mais ser feliz
Pois nada disto é real
Não poderei mais viver
Pois minha vida não é real
Não posso mais sonhar
Pois agora tudo é real
E meus sonhos nada representam
A não ser a esperança de um homem
Que um dia queria amar
Mas este direito lhe foi negado
E, condenado, ele vaga pelo mundo
Que lhe foi duro e rude
A vida lhe doeu até o último dia
No qual ele contempla toda sua existência
Para então chorar, chorar...
Nada fez em sua pequena vida
Nada de que se orgulhe
Apenas coisas de que se arrepende
Apenas coisas insólitas, coisas pequenas
Coisas fúteis, que lhe distorce
Por que ele nunca foi o homem que gostaria de ser
Mas era o homem que era
Era um homem comum
Este homem era eu
Este homem sou eu
16/09/96


O sentido de tudo se perde
Enquanto eu penso em besteiras
E meus amigos todos já se foram
Apenas eu fiquei para olhar
A noite que vai morrendo
E o dia que vai nascendo
Ninguém para abraçar
Apenas lembranças de um dia feliz
Em que nós fomos vistos separados
Apenas gestos fabricados
E nada mais do que isto
O Sol me cega com seu primeiro raio de luz
E me desperta para o vasto deserto que é minha vida
Pequenos oásis nada são comparados ao grande deserto
Apenas poças de esperança, que um dia secam
Somente alívios temporários, pausas de minha dor
Nada que possa ser levado a sério
Pois nada poder me arrancar esta dor
Que nasceu comigo, e me mata a cada dia
Agora só vai anoitecer de novo mês que vem
E então eu poderei descansar novamente
Desta dor que tanto me aflige
Poderei deitar meu corpo e então parar
Para então finalmente compreender
Que minha dor é eterna
21/09/96


Nuvens escuras encobrem meu sonhar
Pois agora densas são minhas idéias, meus delírios
E de uma chuva negra e triste se embebe minha vida
Que se vê viva por um instante, para então murchar
E voltar a ser aquilo que sempre foi: nada
Até os portões do inferno se fecharam para mim
E nomes nada significam agora que estou morrendo
Porque nunca pude viver meus sonhos
Que eu tanto queria viver realmente
Mas nenhum deles pude saborear
Porque a vida não foi longa o bastante
E eu nunca fui bom o suficiente
Para as por em prática, para as viver
O mundo se escora em mim, para não cair
Na mesma desgraça em que caí
A desgraça de ser infeliz, de ser ruim
E de ser infiel a si mesmo
De amar alguém que não lhe conhece
De matar seus sentimentos mais íntimos
De amarrar seu coração no pé da mesa
E só soltá-lo quando for tarde demais
E assim, como um velho lobo expulso da matilha
Ter que viver sozinho, e logo morrer
Por não ter mais forças para caçar
A sua felicidade
30/09/96


As correntes se quebraram, se partiram
Mas eu não posso mais fugir
Durante anos eu sonhei com este dia
E agora que ele chegou eu não sei o que fazer
Alguém me diga, por favor
Eu não sei mais como é ser livre
Porquê eu nunca soube
E todas as respostas eu queria ter
Mas tenho apenas as perguntas
Qual será a verdade que me é escondida
Pois tudo que eu conheço é mentira
Tudo que faço é errado
Tudo que queria não possuo
Minha única companheira é a dor
E o meu desejo, um amor
Porém, meus sonhos nunca se realizam
E eu continuo nesta escura prisão
Que não tem mais paredes e nem correntes
Ela me prende pois me deixou com medo
Agora eu tenho medo de viver
Tenho medo de ser feliz
Me ajudem, me ajudem, eu imploro
Me ajudem a ser normal
Me ensinem a ser feliz
Porquê eu nunca poderia esquecer
O que eu nunca soube
Eu só queria ser amado
Eu só queria amar e ser feliz
08/10/96


Não é tão difícil quanto parece
Ser feliz só é diferente
Uma emoção cantante e legal
Que rasga como luz as trevas da vida e da morte
É a consumação de todo o prazer de um ser humano
Se resume ao último suspiro de dor
Ou ao primeiro de amor
Ah, felicidade fictícia. Me descubra
És tão pura e utópica, velha amiga
Tão distante e brilhante
Não poderei mais te desfrutar
Porquê o destino me condena
A eternamente infeliz eu ser
Sem motivos para mais viver
Eu deixo tudo de lado e desisto
Não penso e não existo
Não ando, não me movo
Deixo a todos, e então morro
09/10/96


Lágrimas na escuridão caem de meu rosto
Se não posso te ter não posso mais amar
Só posso sofrer e gritar, em parar
Não posso mais dormir, só sonhar
E nos sonhos sou solitário como aqui
Esta emergente angústia me faz chorar
Eu queria fugir daqui, mas estou preso
Estou preso neste mundo, como você
Pelo menos estou preso com você
Mas nada disso adianta. Nada
O sangue escorre pela minha cabeça
E a morte suga minha pequena vida
E morro, enfim, para então dizer
Que nada pode ser melhor
Do que curtir o completo nada com você
09/10/96


És uma paixão ardente, que corre dentro de mim
Que me mutila e me faz infeliz
Porquê a primavera está acabada
E o Verão já se foi
Só me resta o Outono e os desejos
Pois logo será o inverno
E então tudo será como o inferno
Aonde eu sofro todo que posso
Aonde minha alma arde e se contorce
E meu coração canta tristemente uma velha canção
Aonde eu vejo todos se divertindo
Enquanto eu choro e me isolo
E onde eu vejo a ti, sem mim se alegrando
Eu me vejo triste, e chorando
A agonia se faz então minha própria vida
E eu volto então para a curta Primavera
10/10/96



Pairando no ar, oh, vil objeto
És tão misterioso e intrigante
O que serias de mim sem ti?
Leve-me daqui contigo, companheiro
Pois estou tão só e triste
E todas as pessoas são cruéis
Leva-me daqui, leva-me para longe
Leva-me contigo, por favor
E tu, em formas abundantes me aparece
Redondo, oval, cumprido ou triangular
Tira-me daqui, leve-me para o teu lar
Companheiro de descrenças, amigo meu
Sei que tu existes, pois existo também
És um grande segredo, como meu coração
Flutua, grande peça de sei lá o quê
E faça-me um pouco mais normal
10/10/96


Uma voz sussurrou meu nome
Tentei responder, mas as palavras me fugiram
Ao invés, apenas tive medo de tudo
Apenas por não compreender nada
Talvez mesmo que um dia compreenda
Eu ainda sentirei medo
Porquê o conhecimento nos faz enxergar o mundo de verdade
E sei que a visão não deve ser nem um pouco bela
Poderia ser a morte a me chamar
Ou um demônio a me tentar
Quem sabe um anjo para me salvar
Nada mais importa, não para mim
A vida é ruim, as vezes insuportável
Não sei se agüento até o fim
Afinal, está doendo tanto...
E para mim são privadas as coisas
Tantos sentimentos não sentidos
Tantas risadas não dadas
Tantos beijos não conquistados...
Mas meu coração se aperta
E eu sorrio, chorando
Sozinho, sem ninguém ao meu lado
Eu me lembro destas coisas
Somente para lamentar por tudo
Que fiz e não fiz. Mais pelo que não fiz
Sou um covarde, e tenho vergonha
Pois só seria verdadeiramente honrado
Se cumprisse minhas promessas de fim de ano
E dentre todas elas estava um pedido em comum
Ser feliz e amar, mas como vejo, não devo ter palavra
Pois estou mais sozinho do que quando nasci
E somente quando for tarde demais eu poderei saber
Quem me chamou naquele dia
Se a voz tivesse as respostas que preciso
Nada disso eu teria escrito
Ela continua a falar, mas nada diz
Só me resta enfim ser feliz
Ou então fazer uma lobotomia
10/10/96



São todos meus amigos
Que um dia me deixaram
Não pude fazer nada
A não ser chorar
Por pessoas que um dia
Eu cheguei mesmo a amar
Mas que hoje não são mais nada
Somente obstáculos na rua
Dos quais vivo a desviar
Talvez não fossem amigos
Eram apenas ilusões
Como aquelas que eu tenho
Enquanto estou dormindo
Só que eram tão real
Que eu até mesmo juraria
Que tudo aconteceu
Mas como tudo em minha vida
Foram somente os meus sonhos
Que se extravasavam para o mundo real
Em forma de poesia, amizade e tristeza
Revejo tudo como um filme
E como dói me lembrar
Que um dia fui alegre e feliz
E que como areia deixei tudo escapar
Por entre meus dedos
E que antes eu reclamava por nada
E que hoje eu continuo reclamando
Por coisas fúteis e pequenas
Como não amar, e não ser feliz
Como querer se matar
Para enfim poder sorrir
14/10/96



E quando o Sol se pôr
A muito eu terei partido
Para ver as nuvens se secando
E por ti ficar chorando
Quando o Sol nascer
Eu já terei ido embora
Para viver apenas em tuas lembranças
Como algo distante e incorreto
Afinal do que me vale ser feliz
Se todos estão chorando?
O espírito humano não é mais o mesmo
Porquê as pessoas já estão mortas
Como árvores no meio de uma queimada
Que o fogo não pode extinguir
E quando o Sol de apagar
Todos nós nos encontraremos na escuridão
Para então cantarmos e dançarmos
Sobre o alvo luar que paira no ar
E então os acólitos da noite a nós se unirão
Para celebrarmos o fim do mundo
Beberemos muito, será legal
Logo o frio dará lugar a um aconchegante calor
Aonde poderemos desfrutar da felicidade
Aonde seremos enfim nobres e compreendidos
Pois estaremos todos mortos
16/10/96



Oh! Poderosa droga que me vicia! Faz de mim teu fiel escravo
Contanto que me sirva a viagem pela tua vontade
Me leve pra Saturno, me leve para a felicidade
Que é curta e passageira, e me despeje, depois neste mundo cruel
THC, Morfina, Crack, Heroína
Me leve daqui, para nunca mais voltar
Meus olhos, se fechando levemente
Porém, as luzes não param de piscar
Correm como cobras famintas e poderosas
Cheias de Veneno, cheias de você
Que corre em minhas veias, afetando meu cérebro
E me fazendo levitar por campos verdes e bonitos
Para acordar no escuro e frio destino, a realidade
Oh! Viajem química! Quem te prova não quer te deixar
Ou te deixa obrigado ou te deixa morto
Quem te ama uma vez te ama eternamente
Quem te quer agora é minha mente
Que não consegue parar de pensar em ti
Oh! Viagem química psicodélica viciante
21/08/96



Minhas desculpas são lamúrias
Que ecoam pelo tempo e pelo espaço
Tão ruidoso é o meu penar
Que já esqueci de onde ele vem
Talvez seja eu que goste de sofrer
Mas me olho e percebo
Que isto seria errado
Minhas desculpas são súplicas
Que se molham e se secam
Que se cuidam sem minha ajuda
Persistentes como são, nunca me deixarão
E eu as odeio tanto...
Queria ser você, queria ser normal
Queria ser feliz, queria ser banal
Mas meu destino é um barco sem vela
Que é levado conforme a correnteza
E que é virado com o mais leve vento
Minhas desculpas são lamúrias
Que carrego comigo desde a infância
Adormecidas elas nasceram em mim
E despertaram com minha primeira dor
Queria morrer a viver e sofrer
Mas não quero mais ser covarde
Caminho então pela vida, acompanhado
Somente acompanhado pelo meu destino
Somente acompanhado pela minha dor
E sem nenhum ou qualquer amor
15/09/96



O sono embriagante me invade
E nada mais no mundo importa
Só quero dormir mais um pouco
Para escapar da realidade
E sonhar apenas com coisas belas
Pois no meu sonho não existem pesadelos
Já me basta viver em um
Dormir mais um pouco apenas
Nada mais que isso
Adentrar em uma enorme escuridão
E dormir sem nunca acordar
Nunca mais despertar
Morrer de sono
Morrer dormindo inocentemente
Qual não deve ser o prazer
De se deixar levar pela morte
Enquanto Morfeu observa
E aplaude de pé
17/10/96



Pura indefinição é minha vida
Contemplo o passado e nada vejo
Observo o presente e nada compreendo
Suponho o futuro, e de nada tenho certeza
Afinal, seria o homem dono de seu amanhã
Ou condenado estaria, desde o primeiro dia
A um destino certo seguir?
Infelizes como eu serão aqueles
Que não lutam por nada
Porquê uma vitória só será saboreada
Se o sangue de inocentes e impuros for derramado
E a dor invadir todo o seu corpo
Nada cai do céu
Somente morte e desgraça
E a felicidade, rara como Ouro
Também se encontra das profundezas
Só que da alma humana
17/10/96



Destruição por toda a parte
Pessoas gritando de dor
Outras implorando por amor
Mas o mundo acabou agora
E de nada mais adianta sorrir
Só nos resta chorar
Ao vermos nossos amigos mortos
E gargalhar ao vermos nossos inimigos
Que estão em covas rasas
Só que de nada vale mais
Sorrir ou se sentir bem
Todos estão morrendo lentamente
Nesta guerra maldita
Que temos que travar
Nesta guerra maldita
Que chamamos de vida
22/10/96



Os mares vão secar
E toda a terra morrerá
As pessoas desaparecerão
E só restará silêncio
Isto é somente meu pequeno sonho
Que um dia desejo realizar
Pois estou cansado de viver entre tolos
Que se vangloriam por serem humanos
Caminho pelas noites, arrogante como sempre
E o céu é minha vitrine sideral
Olho para o céu sabendo que uma estrela não é estrela
E sim uma coisa na qual ninguém mais crê
Uma coisa que existe, mas ninguém admite
Como tantas outras do dia-a-dia
Crianças que vivem pelas ruas
Ou as pessoas que vão morrendo por esta vida
Ou pessoas torturadas pela sociedade
E as criaturas que a controlam
Pessoas que as vezes me questionam
O motivo de todo este ódio
E então eu respondo que o sinto
Por causa de pessoas como elas
Que conseguiram acabar com meu amor
Que estupraram meu único sonho
Que destruíram minha felicidade
Que me tornaram o que sou
Sou um ser humano que enfim descobriu
Que toda sua raça foi um erro
E que esta deveria morrer
E que o espírito não existe
Só existem fantasmas
Que assombram a vida das pessoas
Que as faz serem boas ou más
Mas agora já é tarde
Não existe mais desculpas
Para o crime que foi cometido
Porem crianças inocentes
Neste mundo corrompido
Deus, oh, Deus
Bebeste quando nos criou?
Se não, por que tudo isso?
Por que tanto sofrimento, tanta dor?
Deus, por favor, pare
Não nos abandone agora
Se não podes mais nos salvar
Pelo menos acabe com nossa dor
Não nos permita mais saber
O quão longe podemos ir
Não nos permita mais
Pare agora, e cale-se para sempre
Tua fraqueza foi tua misericórdia
Deus, pare agora
E não ouse derramar uma só lágrima
Por uma vida humana
Pois nenhuma vale isso
Ou qualquer coisa mais
Só lhe peço uma coisa a mais, Deus
Comesse esta matança por mim
18/10/96



A terra está sugando o sangue
Daqueles que lutaram tanto
Para no final morrer
Pessoas que sofreram tanto
Por acreditar que um dia
Tudo poderia mudar
Só que no final sua recompensa é a morrer
E aqueles que nunca sentiram
A paixão de uma luta em seus corações
De nada aproveitaram esta vida
Porquê ela corre por seu corpo
E te faz sentir bem
Por te fazer se sentir vivo
Por que de nada adianta lutar agora
Pois a morte é sua recompensa
O céu cristalino observa sinistramente
As pessoas que vivem sob sua proteção
Sabe que de nada adianta os acolher
Porquê, no final, morrerá como todos
E nada poderia fazer
Assim como todos os outros
Não será possível sobreviver
Assim como eu, assim como vocês
Assim como todos nós
No final nada terá valido a pena
Porquê a morte será nossa recompensa
Do que adiantou lutar tanto
Do que valeu sofrer desse jeito
Para no final morrer
Seria mais fácil sermos apenas felizes
Para fazer a vida valer a pena
Porquê ela só já dói tanto
Que eu preferia não ter nascido
Para ter como recompensa, no final
Apenas a minha morte
22/10/96



Nada sou perante o Universo
E nada sou perante vocês
Porquê sou apenas um
Entre o infinito
E queria tanto poder ser alguém
Mas não sou
Assim como queria ser legal
E ser feliz, e amigável
Não sou nada disto
Sou um grão de areia no deserto
Uma gota de água no oceano
Enquanto você é bem mais
És uma estrela no espaço
É o destino da vida de alguém
Você é tudo
E eu sou nada
É engraçado pensar
Que no fim somos a mesma pessoa
22/10/96



Não quero mais me lembrar
Que posso amar
Não quero lembrar
Que posso me machucar
Pode ser bom durante o ato
Mas no final alguém sempre se magoa
E eu não quero mais me magoar
Porquê nunca pude suportar
A dor de se despedir
A mágoa que me faz chorar
O medo de ser infeliz
E o ódio por se deixar levar
Por emoções tão primárias
Quanto o amor e a paixão
Queria não poder sentir nada
Nem amor, nem ódio
Somente paz
Que persigo tanto
Sem nunca alcançar
24/10/96



É tão odioso passar os dias
Dentre 4 paredes brancas e chão sujo
Aonde heróis cretinos tentam, incertos
Martelar idéias sem sentido em nossa mente
Lavar nosso cérebro, e se possível nossa alma
Pessoas ou zumbis
Controladas como bonecos pela sociedade
E que tentam desesperadamente
Amarrar-nos cordões de controle
Para sermos manipulados também
Nada de real aprendemos
Apenas coisas que nunca usaremos
Somente lixo cultural
Que todos insistem em dizer
Que é ouro
Mais vale se viver uma guerra
E levar tiros e estilhaços
Do que se deixar levar
Por simples bonecos
E passar os dias atrás dos livros
Que falam sem nada me dizer
Nada que queira aprender
Nada que possa aproveitar
Já esqueci até mesmo meus sentimentos
Por causa desta maldita lavagem
Que conseguiu estragar minha doce vida
Que deveria ter o verde dos campos
E o azul dos céus
E agora é só preto e branco
De meus livros de colégio
De meus cadernos rabiscados
Das anotações deste poema
Da minha carta de suicídio
E de meu testamento
Tudo por causa desta lavagem
Desta maldita escola
Da maldita escola da vida
05/09/96
Queria tanto poder te falar
Que já não sou uma criança
E que choro por tolices
Que choro pelo seu amor
Mas as palavras me viciaram
E eu não sei mais falar
Só o que sei fazer
É amar você
Por favor, olhe para mim
E me diga se pode algo assim
Amar como estou amando a ti
Teu gosto imagino em minha boca
E tua pele eu sinto em meus sonhos
Queria tanto te tocar
Mas você está tão longe
E de nada me valerá
Dizer que um dia amei assim
Se nada fazer para te ter
E é por isso que eu choro
Por seu um covarde que ama
Que tem medo de ser rejeitado
E assim evitar a dor
Só queria olhar em teus olhos
E ignorar tudo ao redor
E olhar em tua alma
E te abrir meu coração
E mostrar toda esta dor
Que agora morreu
Por causa do amor
Como uma flor que nasce no inverno
E dura até o verão
Este sou eu agora
Sou eu chorando de emoção
Queria só dizer
Que te amo mais que tudo
Mas as palavras não queriam sair
Até desmaiei de prazer
Porquê sonhei com você
Desmaiei ao acordar
Saí de meus sonhos profundos
Aonde você ma amava
Tanto quanto eu te amo agora
Meu sonho é esta realidade
Aonde nada posso mudar
Nada a não ser
O amor que sinto por você
Não quero mais te chamar a atenção
Só quero dizer o que já disse
Só quero acreditar
Que posso ter esperanças
De que um dia, talvez
Nós possamos ser mais do que amigos
Porquê algo assim não é passageiro
É coisa para vida inteira
Meu coração a sangrar
E a pulsar esta paixão
Que me fez chorar
E novamente perder as palavras
E nada te dizer
Somente a coisa que você já sabe
Somente coisas legais
Não sei se você gosta de mim
Mas isto não me preocupa
Não mais
Pois se você estiver feliz
Eu estarei também
E se quiser que eu me cale
Eu não falo mais
Eu não quero que você
Fique triste por mim
Se não me queres
Tudo bem
Só te peço uma coisa
Preste atenção
Se não podes me dar teu amor
Dê-me carinho e compreensão
Não tenho ninguém nesta vida
Somente a mim e minha mente
Somente meus irmãos
Só uma dor no coração
Que agora voltou
Já que meu amor não pode ser possível
Não pode ser verdade
Alguém te amar como eu te amo
Mas me parece tão real
Que eu não sei se posso acreditar
Afinal vivo meus sonhos
Mas este amor é de verdade
Chega a ser palpável
Pra não dizer tangível
Não é absurdo dizer
Que eu amo você
Pode ser mentira
Talvez eu esteja sonhando
Nada poderia ser tão bonito
Neste mundo real e cruel
Nada poderia ser tão bonito quanto você
Só este amor galopante
E eu que tinha vergonha de te dizer
Que sentia algo tão bonito
Quanto o amor
Agora imagino como seria
Se eu realmente lhe disser
Eu sonho toda noite
Em te dizer tudo isso
Mas ainda não sei
Se é o momento ideal
Só sei que te amo tanto
Que estou quase a morrer
E de nada irá valer
Você saber e não querer
O meu amor por ti
05/11/96



Deixarei de sofrer no dia em que morrer
Ou no dia em que acordar
Deste pesadelo horrível
Que é minha curta vida
E ao abrir os olhos eu não vi você
E por causa disso eu chorei de medo
Por pensar que você havia me deixado
Mas então percebi
Não havíamos nem sequer nos achado
Neste mundo cão
Que me separa de meu amor
Amor que nem conheço o rosto
Mas sei que existe em algum lugar
E que está também a me procurar
Será que é verdade ou sonho
Que um dia nos encontraremos de verdade
E nosso sofrimento acabará
Meu amor pode estar ao meu lado
E cego de amor eu não posso enxergar
Pois procuro uma beleza que não se pode ver
Porquê não posso me perder agora
Que estou tão perto de ser feliz
Agora que o amor bateu em minha porta
Eu não posso me perder de ti agora
Que eu te encontrei
E mesmo que você não me ache
Eu juro que um dia hei de te achar
Se já não achei
Dentre pessoas tão próximas
As grades estão se abrindo
E meu coração poderá voar de novo
Se é que algum dia já voou
Eu não me lembro se isso ocorreu
Eu só quero o que é meu
O direito de amar livremente
E o direito de ser amado por alguém
Eu só queria poder te beijar
Mas antes terei que te conquistar
Como é injusto amar assim
Sem poder ser amado por quem se ama
É triste e gelado o meu amor agora
A chama que outrora aquecia tudo
Se apagou por não ter mais o que queimar
Mas eu tento continuar a teimar
Em ser um pouco mais feliz
Desgraças eu vejo todos os dias
E vivo sempre a reclamar
Mas talvez no dia em que eu te achar
Você venha até mim e me beije
E eu serei feliz novamente
E poderei cantar e dançar
Teus olhos são verdes
E tua pele é macia e quente
Tão quente que me ascendeu novamente
A chama da vida e do amor
05/11/96



No Inferno gemidos ecoam alto
E meu nome é gritado com força
Eu sou só mais um diabo na Terra
Eu sou um diabo que queria ser anjo
Mas como diabo eu só posso ser ruim
Meu peito se aperta em dor
E eu não posso mais conter este ardor
Que queima minha alma e minha mente
Que me faz querer matar toda esta gente
Não posso mais conter meu grito de dor
Eu quero gritar para me livrar deste carma
Não posso mais te levar adiante meu amor
Porquê daqui o abismo não possui mais volta
E eu quero cair sozinho, meu bem
Portanto procure outro buraco
Que não seja eu para se afundar
Não quero mais te machucar
Não mais, meu amor, não mais
Talvez tenha sido um erro seu
Pensar que eu sou como os outros
Só sei que normal eu não sou
Porquê eu devo ser um demônio
Que se encharca de sangue de fetos inocentes
E dança a noite toda entre labaredas
E que ama sofrer com toda esta dor
Mas isto nada quer dizer, meu amor
Só quero dizer que eu sofro
Porquê sei que eu te amo mais do que a mim
E que você me ama mais ainda
Mas nunca terá coragem de me dizer
14/11/96



O céu está escuro como a noite
Mais o Sol ainda brilha
Meus olhos estão abertos
Mas não posso enxergar você
Me perdoe por te fazer sofrer
Acredite, foi sem querer
Não queria que você soubesse
O quanto dói não ser amado
Não que eu quisesse
Mas eu já me sinto ultrapassado
Se não posso mais te ver
Do que valeu viver
Se não posso mais te sentir
Do que adiantou eu nascer
Desculpe, mas prometi a mim mesmo
Que nunca iria chorar por esta dor
Se você vai embora, vá agora
E nunca mais olhe para traz
Porque você pode se arrepender um dia
E pode querer voltar
Mas com certeza já será tarde demais
E a chuva molhará minha sepultura cinza
E a chuva se misturará com tuas lágrimas
A partir daí você sentirá o que eu senti
14/11/96



Gosto de escrever coisas
Que ninguém lerá
Assim não tenho que me preocupar
Em ser bonito ou descontraído
Ou então ter que tudo rimar
Assim posso ser eu mesmo
Assim posso chorar
Minhas lágrimas são a tinta desta escrita
E esta escrita , minha alma despida
Sem enfeites ou belezas
Somente minha alma
Sem maquiagem , sem brilho
Não é bonita , não é legal
Mas posso garantir
É puramente real
Pois posso gritar
E ninguém ouvirá
Assim como em minha vida real
Real é esta escrita maldita
Que me vivia como cocaína
E que me tenta como um demônio
Me tenta a escrever os versos
Versos perfeitos , diabólicos
Os versos mais perfeitos do mundo
Mas nada disso posso fazer
Somente desejar
Somente idealizar
Os versos que queria tanto cantar
E as coisas que eu queria falar
A areia é escaldante e clara
E meus pés eu já não sinto
Eu caminho , para a frente
Não amigo , eu não minto
Minha jornada está chegando ao fim
E a vida eu tenho que aproveitar
Não fique preocupada por mim
Agora eu vou poder sonhar
Minha alma está logo a frente
E por mim ela clama
Me sinto tão contente
Ouso uma voz que me chama
Já caminhei muito até aqui
E voltar está fora de questão
Só voltarei por você , amor
E por mais ninguém
Só que talvez seja tarde demais
E eu não possa mais voltar
Desta viagem louca
Que todos falam que é viver
Por favor , amor , me chame
Me dê um motivo para viver
Agora que encontrei minha alma
Eu vejo que ela está morta
E só meu corpo oco vaga pelo caminho
Que abri em sua busca
Me chame de volta , por favor
E preencha o espaço que foi de minha alma
Com o teu mais puro amor
19/11/96



Nesta tarde de Outono
Minha lágrimas molham como a chuva que cai lá fora
E meu coração ferve de dor por mais uma vez
Por ter sido traído por meus sentimentos
Por mais uma vez ser rejeitado sutilmente
E seguir meu caminho olhando pra traz
Somente para chorar por coisas assim
Que só me fazem sentir mal
Não posso viver só com o amor de Deus
É muito mas falta uma coisa ainda
Me falta o amor de uma mulher de verdade
Que me queira como sou
E que goste de ouvir Rock'n Roll
E que chore ao ouvir meu coração
Que grita nestas letras de emoção
E que aceite que eu também a ame
Assim como eu nunca amei
Eu só quero alguém pra vida inteira
E já não estou nem aí
Se eu morrer agora
Porquê não tenho ninguém
Assim como ninguém me tem
Eu não queria mais chorar
Mas é tão difícil quanto matar
Matar um coração que pulsa
Por outro que pulsa também
E calar aqueles que se amam
Para não invejar este amor
Para não invejar o que não tenho
Para nunca lembrar deste dia
Em que meu coração tanto sangrou
E amargo é o sangue que veio a minha boca
E que não o cuspi por medo
De esquecer que um dia sofri por amor
E por isso esquecer que um dia amei
E assim não lembrar que sou como todo mundo
Só que mais infeliz e triste
E desprovido de sorte emotiva
Queria morrer e deixar tudo pra traz
Meu bom Deus, que me ama tanto
Porquê não posso amar ao próximo?
Porquê não posso ser feliz?
Porquê não posso sorrir de verdade
E beijar aquela que amei?
Porquê não poderei ter filhos?
Porquê sou assim?
Tão complicado assim?
Queria entender estas coisas
E queria não ter que perguntar
Seria mais fácil eu não ser eu
E sim outra alma em meu corpo
Outra pessoa vivendo minha vida
Ou então um milagre de Jesus
Ah, Jesus
Mostre-me o caminho para longe daqui
Mostre-me o caminho para a felicidade
Mostre-me o caminho para o amor de uma mulher
Porquê o seu eu já possuo
20/11/96



Tudo já se foi
De um jeito gostoso e fabuloso
Agora encontrei minha razão
Antes não havia harmonia
Agora entendo por que
Tudo já se foi
Para dar lugar a algo maior em meu coração
Para esquecer meus problemas
Mas ainda sim não ser de todo feliz
Já não choro por meras tolices
Mas ainda sofro por não possuir o que quase todos tem
Recuperei minha verdadeira vida
Aquela em que sei que Deus e Jesus me amam
Mas que nenhuma humana seria capaz
De querer compartilhar
É verdade, ainda choro por um amor
Mas não como antes
Antes havia dor desejada
Agora só tenho dor repelida
Dor que realmente não queria dentro de mim
Mas que tenho que conviver
Mas que tenho que combater
Tudo que peço é uma mulher
Tudo que peço é uma mulher que me ame
Como eu a amaria
O amor por Jesus é infinito, eu sei
Mas meu coração é ainda maior
Se não, por que tamanha tristeza
Por que tamanha dor
Por que tamanho desejo
Tudo que tenho a oferecer é minha dedicação
Já nem tenho mais vergonha de implorar
Pelo amor de uma mulher
E Deus ouve isto de mim todas as noites
E somente ele sabe por que não posso
27/11/96



Não ouças minhas palavras
Não ouças minhas suplicas
Apenas ouça meu coração
Está a pulsar, forte, firme
Mas não serás assim para sempre
Um dia deixarás de bater
Assim como o teu
E de que terá me valido viver, ó Senhor
Se nenhum amor além do teu eu tive
Se não fui capaz de despertar amor em mulheres
Talvez eu não seja digno do teu
Pois assim sendo, eu não sei o que é amor
Se não posso sentir o que os outros sentem
Isto me torna um aleijado
É. É isso. Eu sou um aleijado
Um aleijado que não sabe andar
Uma pessoa que não sabe amar
Seria a morte minha amante?
Não. Tão sinistra e bela, dama da morte
Ela é assim como eu. Destituída
Sem direito ao amor
27/11/96
E quando a chuva de minha vida acaba
Minha primavera se esvai em agonia
O outono me torna mau e arrogante
Pois minha chama se apaga a cada dia
O inverno adentra em mim ainda jovem
E se perlonga até o infinito
O verão ainda não chegou aqui
Nem frutas e nem flores, nada é bonito
O vinho que provas é meu sonho de liberdade
Te embriaga e te enoja, te vicia e te destrói
Monta em ti como cavalo de montaria
Te domina como potro, te comanda como dono
E correndo ao lado do abismo da loucura
Você contempla a insanidade e se questiona
Se quem é louco é você ou são os outros
Olha o teu medo com os olhos fechados
E o sente se aproximar e te devorar até a alma
Confuso você se acha uma vítima
Mas no fundo você é o pai desta criatura
Ela surge das profundezas de sua mente
E mastiga seus pensamentos como pão
Te castiga para sempre
A ser somente mais um dentre muitos
E enquanto você lamenta, sua vida se acaba
Escorre como lama pútrida para o fim de uma rua
Corre em direção ao infinito
E tudo que encontra é o nada absoluto
Surpreso com a idéia você dá gargalhadas
E chora de medo por estar louco
A loucura
A loucura é uma bosta
Uma merda em que você se atola todo
Para nunca mais poder sair
Apenas afundar, afundar...
Para emergir em um mar sagrado
Onde pessoas foram sacrificadas
Por outras que dizem amar a Deus
Mas que só querem é poder
E nada mais resta no mundo para ser corrompido
A não ser meu coração loucamente insano
Que pode não ser o mais perfeito
E que é imaculado como uma virgem
Porquê ele ainda é virgem
Assim como meu corpo esguio
Que deseja tanto mas não é desejado
E que agora abdica deste sofrimento eterno
A que essa loucura me condenou
Todos estão loucos, todos
Só me restou minha insanidade
Mas não posso mais me dar ao luxo
De amar pessoas adoráveis
Que não querem me amar
Por isso sou louco
Sou louco porquê cansei de sofrer
Sou louco porquê cansei de amar
29/11/96



Estou louco
Enlouqueci completamente
Não posso mais viver assim
Porquê estou louco
Minha loucura é palavra não dita
É morte contida
Dentro de uma sepultura
Sou louco por acreditar em Cydonia
E na foto 35A72
Sou louco por acreditar nas pessoas
Sou louco por pensar
Que um dia viveremos juntos
Com amor e prosperidade
Enquanto que a realidade
Grita-me que não
Grita-me que sou louco
Pois você nunca me amará
Como amo a ti
Perguntei ao Pajé
Se podia enlouquecer um dia
E ele me disse que eu já estava louco
Só por perguntar
Talvez os donos desta casa
Me deixem morar aqui mais um pouco
E assim eu possa sonhar mais
Somente com você
E assim vou abastecendo minha insanidade
Que se ergueu de minha fraquezas
E de minha chagas no coração
Que vem pulsando fraco
Mas contínuo e compassado
Atrás de você que me viciou
Sei que nunca mais nos veremos
Sei que nunca lerá isto
Mas saiba que ainda penso em você
Mesmo agora, tanto tempo depois
E fico a imaginar como teria sido
Se eu não fosse o covarde que fui
Com medo de te perder por completo
Me perdoe por não dizer que te amo
Me perdoe por ser louco
10/12/96



Fim da Ilusão - Realidade Bruta
Era só o que eu não queria
Ficar em pé e te olhar
Tão bela e graciosa
Amando a outro e não a mim
Pode até ser egoísmo
Mas não quero mais me trair
Já chorei por ti durante a noite
E sofrer sem gritar é ruim
Meu coração não sabe falar
Só sabe escrever e ouvir
E é por isso que sou assim
É por isso que não sou feliz
Porquê feliz seria eu
Se te fizer acreditar
Que tenho um amor que nunca morrerá
Ao contrário, como agora
Só poderá continuar a crescer
Sem nunca mais parar
É tão difícil de dizer
Que te gosto mais que a mim
E escrevi tudo isso para ti
Só para dizer que meu coração
Se espanca por você todo segundo
E que meus pensamentos
Não me dizem mais nada
A não ser o teu nome
A não ser tua imagem
E eu aqui, tão triste e só
Querendo lhe entregar
Coisas que são de seu pertence
Minha alma
Meu amor
Minha vida
Queria tanto te ver assim
Tão bonita, tão forte
Tão minha musa e minha paixão
Já chorei por muito tempo
E quero te ter comigo
Mas sei que não posso
Porquê você parece tão feliz com o outro
Mas acalento esperanças tolas
De que você volte atrás
E me pegue em suas mãos
E me deixe te fazer feliz
Assim como eu queria que fosse
Meu sonho de criança
Te ter comigo, bem perto
E sentir esse teu perfume, único e tentador
E tua pele, um veludo
Me abraçaria uma vez
E eu estaria feliz
Assim como és agora, desejo
E eu seria o que na verdade eu sou
Seria um homem feliz
Que te amaria ao máximo
Que um homem pode amar uma mulher
Eu queria parar de sofrer assim
Para degustar do prazer que seria
Ser teu par pelo resto da vida
Não serão estas palavras que te convencerão
Mas sim meus atos
Porém, não sei o que é necessário
Para te fazer em mim crer
Em minha adoração e amor por ti
Pensei em um beijo
Um simples e molhado beijo
Mas me contive, infinitas vezes
Para não acabar com o pouco conquistado
Eu te amava e amo tanto...
Mas não tenho coragem de tentar te beijar assim
Pois é tanto o amor
Que tenho medo de desagradar
Eu sonho em te tocar
E te sentir em mim
Em meu corpo, em minha alma
Pois estou em uma agonia tremenda
Antes eu pensava em você durante o dia
Agora penso também durante a noite
Sem contar em meus sonhos
Antes pensava em você na colégio
Agora penso também no trabalho
Sem contar em meu descanso
Não consigo te apagar de mim
Não quero parar de pensar em você
Pois descobri que te amo
Quando penso em você, nada mais importa
O mundo pode acabar ou pegar fogo
Mas só você me importa
Pois é só a você que eu amo assim
Por que você me drenou tudo de ruim
E me acolheu quando eu mais necessitava
Em teus braços amigos
Mas agora eu te quero toda
Por que te amo de um modo diferente
Daquele que você queria
Eu te amo mais que tudo
Não sei se é errado amar-te assim
Se for, peço desculpas
Mas agora é tarde para evitar
Não sei o que fazer
E não quero te forçar a nada
Só peço teu amor
O mesmo amor que tenho por você
Este amor que ultrapassa meus obstáculos
E me faz ter esperanças em tudo
Sobretudo em você
Eu queria poder te beijar
Tanto é meu desejo por você
Que acho que vou chorar
De dor e sofrimento por este amor
Tão grande e bonito
Que nasceu em meu peito
E está quase a explodir
Eu quero te abraçar, te amar
Mas temo que seja improvável
Que você deixe a aconchegante e segura luz
Que é teu romance com teu amor
Para se aventurar nas sombras distantes
Que são meus sentimentos de paixão
Que possuem um único guia:
Meu amor por você
Não queria te implorar teu amor
Só queria que tudo pudesse ser diferente
E que nós fossemos amantes eternos
E que fossemos parte um do outro
Mas devo ter chegado tarde
Só queria que soubesse
Que te amo muito mais do que pude explicar
E muito mais do que seria possível
Se não tivesse te encontrado
02/12/96



Monastério de Coração Aberto

Quem te disse que eu gosto de preto e branco?
Ou que sou contente com o que tenho?
Ninguém sabe, ninguém pode dizer
Ninguém pode mais me conter
Eu quero explodir como um vulcão
E mergulhar na lava, tal qual minha paixão
Só com você, e sem mais ninguém
Quero me matar, quero te ter
Quero te possuir
Para poder parar de gemer
E enfim poder viver
Talvez ninguém possa responder
Por que não pode ser assim
Algo como uma nova pessoa
Tipo o cara que conquista a todas
Mas o problema é que eu quero você
E é você que tem que ser minha
Por que eu já sou seu
Desde o dia em que te conheci
Te desejei, me apaixonei
Assim como poucos são capazes de fazer
Como eu vivo este amor tão grande e forte
Que rasga-me por dentro como lâminas
Queria te beijar, te apertar, te afagar
Queria você dentro de mim
Só espero que um dia
Você venha a me querer dentro de você
Para que eu possa deixar para trás
Todos os dias em que vivi
Só para curtir o amanhã ao teu lado
Sem ligar para os outros
Mas você é tão cruel
Podia bem largar tudo para ficar comigo
Deixar para trás essa paz e segurança
De um romance subjetivamente furado
E se aventurar pela vida comigo
E juntos seríamos felizes e alegres
Tão forte é tudo isso que possuo
Dentro de meu peito
Tão forte é esse desejo louco por você
Tão bruta e fatal é esta paixão
Solte-se destas amarras
Em que você se aprisionou
Ignore o que sua mente lhe diz
E siga seu coração até o meu
Não quero pena, quero amor
Ou isso ou nada mais
Já cansei de ser bom
Não quero mais implorar
Só que eu nunca implorei
E também nunca falei
Devia ser mais fácil
Se abrir para a mulher que se ama
Mesmo que esta já tenha outro
Devia ser mais fácil
Dizer a verdade e agir corretamente
Se expandir invariavelmente
Para cima e para dentro de si mesmo
Devia se mais fácil
Dizer que te amo
E ser feliz com você
E passar o resto de minha vida ao teu lado
É mais que um sonho, é uma jura
Mas sou um condenado
A passar meus dias solitário
Por ser tão burro assim
E ainda assim nutrir esperanças
De que um dia você me queira
Como homem, como amante
Por que não paro de pensar em ti
E em como eu seria completo
Se você me aceitasse como o que quero ser
Como teu tudo, como tua base
Como teu amor eterno, como seu homem
Para te amar pela eternidade
Antes que eu deixe-me levar
Pelas águas que transbordaram
Do rio chamado vida
04/12/96



A chuva não parou ainda
E nunca mais vai parar
A chuva vai molhar a tudo e todos
E continuará até o amanhã
Está não é a previsão do tempo
É a previsão de minha pobre alma
10/12/96


Já derramei muita coisa nesta vida
E perdi tantas outras
Sangue e lágrimas
Amor e paz
Mas desistir é tão difícil agora
Que vislumbro o horizonte avermelhado
E vejo nele meu destino
O de caminhar sempre a frente
Mas dando as costas ao amanhã
Não estou mais amargurado
Me sinto até um tanto anestesiado
Por ter sofrido tanto em tão pouco tempo
E ao mesmo tempo tudo ser tão bom
Não sei o nome desta coisa
Que me faz sorrir e chorar
Que me fez tanto desejar
Ser melhor e feliz
Viver de verdade, como todos
Não sei se é bom ter esperanças
Só sei que as tenho novamente
Vou me machucar
Assim como já me machuco
Só não sei se vale a pena
Pensar assim novamente
Mas eu penso
Penso em como perco tempo
Penso em quanto eu poderia ser feliz
Mas eu não fui
Só fui triste, como agora
Mas é tudo tão diferente agora
Prometi que não ia mais fugir
E não é agora que vou embora
Não é agora que darei-te as costas
Não é agora que deixarei de lutar
Lutar por você, doce criança
Que insisto em chamar de mulher
Queria saber no que pensas
Já que não pensas em mim
E eu só pensando em você
Antes de dormir, depois de acordar
Durante sonhos confusos
Teu rosto alivia minha desgraça
Por que posso sentir
Mesmo sem você me tocar
Só que não posso te fazer me amar
Por eu ser o que não sou
Só sei que estou só
O que me deixa desolado
Por que eu quero te abraçar
Mas outro te abraça agora
Eu queria te beijar
Mas outro te beija agora
Só me resta lamentar
Pois esta é uma luta
Que só posso ganhar em seu coração
29/11/96



Morcegos da Meia Noite

Eu disse não
Para as coisas boas
Eu disse adeus
Antes de dizer olá
E a chuva cai sobre o campo
E chove tanto agora
Que não sei se alguma coisa
Será capaz de suportar tal força
E a chuva forma poças
E as poças se unem
E juntas formam um lago
Que logo depois vira um oceano
Que escorre para dentro de si mesmo
Assim como as coisas que abandonei
Mesmo antes de conhecer
Lamentei todos os dias
Mas não posso olhar para trás
Por que você nunca entenderia
Por que fiz o que fiz
Sofro por não sofrer
O que eu devia sofrer
E nem curtir minhas dores pude
Por que todos tentam me anestesiar
Dessa dor que não tem causa
E nada posso saber
Sem beber o teu sangue morno
Sem possuir o que te faz viver
Sem compreender as coisas estranhas
Que se passam por minha cabeça
E que eu não compreendo
Agora abandono o jogo
Agora largo tudo para me despedir
Já que você não vai mais me ver
Se é que viu algum dia
Duvido que seja assim
Tão triste e estupendo
Tão ardente e bonito
Mas meus desejos não importam
O que importa é você
Se é que é você
Não sei se devo
Te chatear com meus medos
Mas agora eu já chateei
Foi sem querer
E agora eu nunca mais te verei
Atrás do espelho em que me vejo todos os dias
E nem na frente das pessoas com quem convivo
Não mais te idolatrarei em meu templo , meu quarto
A noite, no escuro e sozinho
A pensar em você
E minha cama vira uma jaula
Aonde eu estou preso sem ninguém
E aonde os morcegos me fazem companhia
Enquanto o relógio bate 12 vezes
Assim como pulsa meu sangue
Assim como vagam meus pensamentos
Assim como meu corpo morre a cada segundo
Eu lembro de você durante todo o tempo
E não faço força para tentar esquecer
Por que eu estou no Inferno
E lembrar de você é bom
Meus lençóis tomam vida
E tentam me matar
Mas eu não ligo mais
Por que tudo perdeu o sentido
No dia em que nasci
No dia em que te conheci
No dia em que me apaixonei
E agora só voltará a ter sentido quando eu morrer
E talvez assim as coisas voltem
A ser diferentes novamente
Agora é tudo tão normal
Que nada me surpreende
Só você
Eu não devia lamentar
Por coisas imprudentes
Que realizo durante minha caminhada
Para a morte final
Mas dói tanto ser privado
De coisas tão primárias
Que me sinto roubado
Por pessoas sujas e anãs
E isso me ira por completo
Todos tem o direito de sofrer pelo que fizeram
E eu só sofro pelo que nunca pude fazer
Não há sofrimento pior
Do que gostar de alguém
E não ser capaz de lhe dizer tal coisa
Seu coração se aperta tanto
Que parece que vai sangrar
E eu rolo pela cama, sem conseguir dormir
E tenho terror quando vejo que é meia noite
E que todos estão se divertindo
E que eu estou aqui a me martirizar
Por coisas tão profundas e vagas
Tão ríspidas e impróprias
Para uma pessoa como eu
Que nunca se deixou machucar assim
Como você me machucou agora
Machucado bom e gostoso
Mas ao mesmo tempo diferente
E estranho e dolorido
Eu era virgem desse sentimento tão grande
Agora sou completamente maculado
E cansado de sofrer resolvo abrir minha jaula
E deixo os morcegos entrarem
Para sugarem-me todo o sangue
Só assim posso descansar desse sofrimento
De te desejar sem poder te possuir, para sempre
Só assim vou esquecer que te amo
14/12/96



Meia Hora

Já era cinco e meia quando me toquei
Que nunca havia feito nada
Era cinco e meia
E eu não era nada
Lembrei que devia ter feito coisas
Mas nada foi feito por minhas mãos
Que não sei como eu amarrei
E agora tento livrar
Eram cinco e quarenta e cinco
Quinze minutos de solidão
Em que eu tentava me libertar
De minha armadilha, minha prisão
Em que correntes me cortam a carne
Eu ainda estava preso
Dentro daquele limbo escuro
Onde eu não via nada
A não ser medo
Cinco e cinqüenta
Mais cinco minutos
Neste claustro escuro e afóbico
Aonde meu suor molha minhas roupas
E meu sangue escorre e pinga
Com um ar grosso e pesado
Difícil de se tragar
Parece um pesadelo
Mas é verdade mesmo
Somos todos nós, presos em nós mesmos
Imersos em nossas pretensões
E às seis em ponto
Seremos capazes de entender isso
14/12/96



A Mística dos Senhores da Verdade

Sublinho coisas esquecidas pelas pessoas
Que queriam esquecer coisas esquecíveis
Mas não podiam por serem coisas inesquecíveis
Só Deus sabe a profundidade de nossas almas
Somente nós mesmos poderemos ir até o fundo
E refletir em como mudaremos nossas vidas
E em como seremos esquecidos no futuro
Assim como milhares de pessoas
Todos os dias e meses e anos
Esquecidas como as tragédias
Como as coisas pequenas e singelas
Como a dor física e a vida
Só lembraremos do que importa
Do dinheiro, da arrogância e da miséria
Não somos estes monstros que criamos
Somos algo mais sórdido e idiota
Somos humanos que pensam que são Deus
Somos simples e pequenos idiotas
Que possuem arreios e não podem olhar para os lados
E assim não podem ver os irmãos sofrerem
16/12/96



Lágrimas Secas

Eu rezo toda noite
Para que Deus me perdoe
Eu oro por meu futuro
Pois temo meu amanhã
Por que sou fraco
E os fracos não sobrevivem
A cruz me conforta
Como confortou Jesus
Queria sentir aquela dor
Para não lembrar das outras
Que me atormentam a vida
Pequeno como um tudo
É assim que me sinto
Pequeno como tudo que é pequeno
Como tudo que é baixo
Como tudo que é fraco
Felicidade? Talvez um dia
Agora curto minha embriagues
Pelo excesso de raiva e medo
E dor e sofrimento
Me benzo mais uma fez
Minha fé parece reflexo
Minha vida vai perdendo sentido
Sem uma âncora nessa terra
Sem uma mulher que me ame
Eu quero é me matar de novo
Eu quero é acabar com essa espera maldita
Eu quero largar tudo agora
E sumir para longe de tudo
E ir para algum lugar
Onde eu não fique triste e só
14/12/96



Na Beira do Caos
Jamais queira me dizer
Que não sou esta figura decadente
Por que sei que sou
Jamais tente me obrigar
A ser o que não sou
Jamais venha até mim
Apenas para sentir pena de alguém
Jamais me diga
O quanto é ruim ficar sem ninguém
Eu já sei a muito tempo
Eu jamais menti
Quanto ao fato de ser infeliz
Ou o de desejar ser amado
Ou ainda o de querer morrer
Para por fim a este absurdo
Que é a vida em que vivo
Vendo gente feliz, gente triste
Gente rica, gente pobre
Gente boa, gente ruim
E não ter coragem para fazer nada
16/12/96



As Últimas Descobertas

Agora estou aqui
Agora eu realmente estou aqui
Agora acordei de meu sonho
Agora acordei para esta desgraça
Não posso mais olhar com os mesmos olhos
Que olhava antes tudo que havia no mundo
Não quero mais sofrer em ter que chorar
Para provar que me importo com tudo isso
Enquanto que na verdade não ligo para nada
Não mais, não mais
Antes eu era um sonhador, esperançoso
Agora estou aqui de verdade
Posso sentir a realidade me atropelar
Posso ver meu passado se distanciando de mim
Enquanto que eu aceno para ela
E sinto algo indescritível dentro de mim
É medo e tristeza de perder tudo aquilo
Inclusive pessoas com quem me preocupava
E que agora me viram as costas
Por erros cometidos em um passado sombrio
Cujo objetivo era apenas me ferir
Ah, meu passado, minha infância
Minha tristeza imensamente grande
E meu ardente desejo de amor contido
Quantas foram as que desejei e nunca possuí
Quantos foram minhas paixões frias
Que explodiam dentro de mim
E que eu não era capaz de liberar
E de todas, a maior
A última, a atual, a eterna
A única, condensada paixão
Tão lírica e poética esta cria
Tão jovial e alegre
Mas ao mesmo tempo triste e infeliz
Em não poder ser expressa
Por minha boca, por meu corpo
Desejo infinito contido em mim
Infinito sentimento, infinita dor
Tardio foi meu desencadear
Pois ao encontrar o que acredito ser a certa
Percebo que nada mais vale a pena
Pois não sou feliz em dizer
Que cheguei tarde demais
E que nada no mundo vai me confortar
Em saber que eras tu minha metade
Que é minha metade
Pronta para me amar e ser amada em dobro
Mas tarde e infeliz foi minha descoberta
Resta-me sentar aqui e esperar pela morte
Já que você não pode ser minha
Resta-me me arrastar até o início
E vislumbrar novamente meu passado
Para enfim compreender para que foi que nasci
Meu passado...
Amigos largados pelo caminho
Sinceridade à flor da pele
Energia absoluta correndo dentro de mim
Para no final não serem úteis a nada
Nem ao menos a mim
Que não fui capaz de realizar nada
Nem o básico do básico
Felicidade
Felicidade é igual a paz e amor
É igual a labuta e a você
E eu não fui capaz de nada disso
Assim como em toda minha vida
Meu passado, meu presente, meu futuro
Minhas descobertas pessoais
Nunca deixei ninguém ler-me
Por que não achava boa idéia
Mas agora eu acho que devo
Não só pedir, mas também implorar
Por tudo que eu sempre quis
Mas eu não posso
Meu passado me obriga a ser assim
Tão impuro e indigno
Tão casto e complexo
Só consigo afastar aos que amo
E atrair pessoas ruins e pensamentos maléfico
Mas cansei de ser este pedaço de carne podre
Cansei de me cansar de tudo
Não posso me cansar de coisas tão belas
De coisas tão boas e felizes
De coisas simples e inocentes
De coisas legais, e inteligentes
De coisas como você
Agora o passado se foi por completo
E eu estou livre para sonhar de novo
Agora eu posso mais uma vez
Machucar meu coração e gemer
Posso mais uma vez desejar
E gostar e curtir tudo que não tenho
Para mais uma vez cair em minhas próprias razões
E acordar de novo em minha cama a noite
Com medo e sozinho, para sempre?
Meus sonhos me dão esperanças novas e verdes
Que quase nunca se enraízam em minha alma
Esperanças puras, límpidas
De que um dia eu possa ter-te comigo
E assim eu não possa mais chorar
E nem mais nada temer, só te perder
Haveria comigo algum carma
De não poder viver em paz sem amor?
Eu olho para a escuridão, e vejo meu passado novamente
Corro para longe, mas ele me acompanha
Só quero ajuda para mudar tudo isso
Quero ajuda para mudar meu passado
Quero ajuda para me mudar por completo
Quero ajuda amor, para conter minhas descobertas
Quero ajuda amor
16/12/96



Andarilho

Todos os lugares estão desertos
Enquanto eu caminho em direção ao Sol poente
Todos estão escondidos e com medo
E eu vago por entre os mortos que sobraram
Não estou com medo, mas assim mesmo espero
Encontrar minha morte logo a frente
E isso é o que não quero
Ainda tenho muito o que fazer
Várias coisas para terminar
E tantas outras para começar
Estou com sede e fome, mas não paro
Continuo a caminhar pela estrada, solitário
Não vejo nada de que goste
E por isso eu não paro em lugar nenhum
Talvez um dia eu enxugue o suor de minha testa
E descanse meu corpo fadigado
Mas até lá eu devo caminhar em frente
Sem nada encontrar
Explorado, humilhado, violentado
A vida toda, a toda hora
Confuso eu deixo de andar e paro
Para lembrar por que estou aqui
Procurava algo que esqueci
E toda a prova não consigo me lembrar
Deixo de pensar besteiras
E continuo a caminhada
Afinal amanhã é outro dia
E haverá muito o que andar
17/12/96



Crença

Enegreceu-se tudo de repente
Seu rosto, minha alma
Eu não pude lutar contra aquilo
Até que tudo passou rápido
E despertamos de um sono profundo
Acordamos em meio ao deserto urbano
Onde só tínhamos um ao outro
E mais ninguém ligava para nada
Só nós dois
Onde as pessoas esqueceram de como eram
Antes de serem apáticas e metódicas
Venha comigo para uma nova época
Onde não existe medo e errado
Onde podemos voar por entre as nuvens
E caminhar por sobre a água
E acariciar Leopardos tranqüilamente
E onde nos entregamos por completo um ao outro
Um lugar onde tudo é abençoado
E ao mesmo tempo profanado
Mas um lugar bom e aconchegante
Quente e sincero
Um local de amor ardente e livre
Sem controle, total
Tal lugar existe
E está bem aqui
Dentro de cada um de nós
Habitáveis em nossos corações
17/12/96



Desgraças

Ontem a noite eu queria encontrar
Coisas que um dia imaginei
Que podia até gostar
Mas eu estava com tanto medo
De sair e não encontrar
Eu já passei por maus bocados
E sangrei até chorar
Por pura falta de vergonha
Por pudores e forças infinitas
Que me guiavam para este mar
E eu aqui não sei nem nadar
Mas estou cansado de penar
Estou a fim de sair e curtir
Mas tenho tanto medo de não ser
Como eu gostaria de ser
E por isso sofrer, sofrer, sofrer...
Já cansei disso agora mesmo
Não quero mais saber destas desgraças
Só sei que foi bom encontrar alguém
E só sei que é bom ser bom
Eu não quero mais saber
Eu não quero mais ouvir
Desgraças como essa
Tão tristes e débeis
Abraçar alguém
Você
Amarrar meus braços e lamentar
Por não ter esperado mais um pouco
Ou por ter esperado demais
Ou ainda por ter chegado na hora
E mais uma vez ser fraco
Mais uma vez ser o que sou
E não fazer nada disso
Nada que mude as coisas
Somente causar desgraças
Em nossas vidas tristes
Em nossas almas tristes
Em nossos pobres corações
Tão machucados e sofridos
Tão amargurados e presos em nossas cidades
Todos são assim
Uns são mais que os outros
Mas todos são assim
Não se pode esconder a verdade
Somos todos assim
Solitários em nossas almas
E tristes em nossas mentes
Não diga que não
Pelo menos um dia em nossas vidas
Todos fomos assim
E ainda somos
Com nossas próprias desgraças
E nossas próprias ilusões
Ainda somos assim
Ainda somos tristes
E como dói ser assim tão só
E como é chato não estar bem
Pois só fazemos desgraças
Para nossos pequenos corações
E só ligamos para nós mesmos
Ninguém mais esta preocupado
Estamos todos desesperados
Para encontrarmos uma solução
Não sei se é possível acreditar de novo
Que eu possa sair desta desgraça
Que eu possa sorrir por estar feliz
E não por estar nervoso
Gastei minhas forças tentando explicar
Coisas que ninguém quer saber
Por que no fundo todos sabem
Que é errado ser assim tão frio
Mas agora é tarde demais
E as luzes já estão de apagando
Não resta mais tempo para pensar
Só para rezar
E para tentar esquecer
Das desgraças que ainda vão acontecer
Mas não podemos mais lembrar do passado
Para não nos assustarmos tanto com nós mesmos
Por que de desgraças é feita a vida
E nossas próprias vidas são uma prova
De que tudo é possível
Desde que se queira de verdade
19/12/96



Nove Pessoas em Nove Lugares

Passados os dias estranhos
Todos estão indo para o trabalho
A manhã é chuvosa mas bonita
E ninguém se lembra mais de ontem
Onde todos estavam juntos
Onde tudo era ilusão e realidade bela
E ninguém mais se lembra de ontem
Todos esqueceram dos outros oito
Que agora estão em oito lugares diferentes
A pensarem em coisas diferentes
Tudo bem, não deveriam lembrar
Para não sentirem saudades ou mágoas
Daquele seleto grupo de amigos antigos
Que agora esqueceram uns dos outros
23/12/96



Festa 1 - SOLLITUN

A fumaça dos cigarros invade meus pulmões
E a bebida fria e forte desce por meu pescoço
Minha visão se turva como uma névoa
Por onde escorrem minhas esperanças
Minha dor, oh, minha dor
Minha anestesia é esta noite empolgante
Onde eu não posso mais gritar
Onde eu não quero mais viver
Este mundo podre e escasso de alegria
Em que eu não sei o que fazer
Onde eu não identifico os sinais
De que todos falam e falam tanto
A respeito de tanta coisa boa
Mas eu só sei de coisas ruins
Eu queria prazer, eu queria dançar
Mas só posso me arrancar sangue
Que corre por veias vivas
E que eu não quero mais ouvir pulsar
Coisas estranhas e incompreensíveis
Eu queria correr e gritar para parar
Mas não podia gritar
Ao contrário, só podia me esconder
E me viciar e distorcer a vida
As pessoas ainda a falar tanta coisa
E eu não entendo nada
Só entendo meu copo vazio
E uma mão macia a me acariciar
Oh, como eu queria que fosse tua a mão
Mas não era
Eu esqueço então tudo o que sabia
E até mesmo coisas que temia
Mas que agora não tem sentido
Só sei que estas pessoas se divertem
E eu estou sentado olhando tudo passar
Assim como em nossas vidas simples
Sem nada a fazer, só observar
E ver o destino frio a segurar uma foice
É igual para todo mundo
E ver ainda a felicidade e a paz encarnarem uma só entidade
A perfeição
E sentados, como na festa
A observarmos como um quadro caro
Que não podemos tocar ou comprar
Apenas a admirar, como na festa
Tanta coisa para se fazer
E tantos lugares para ir
E a festa continua mesmo com sua partida
E dura até o infinito
Mas um dia você voltará
E só Deus pode dizer para que
Se para sofrer ou desfrutar
Ou ainda apenas para observar
Assim como agora e antes
A fumaça cessa
A bebida acaba
E todos vão embora
E deixam para trás suas felicidades e desastres
Deixam para trás sua lucidez momentânea
E voltam para a loucura diária de suas vidas
Onde elas tem que ser elas mesmas
22/12/96



The Book is On the Table

A vida
Como um caderno de estudante
Outrora branco e imaculado
E agora riscado e usado
As pessoas são cadernos
E é Deus que escreve em nós
Histórias loucas, alegres e tristes
Deus é um grande escritor
E o destino final de todos nós
É criar novos cadernos para ele escrever
Nossos filhos
E cada um é uma história diferente
E no final todos acabam igualmente
Todos vão para a biblioteca
O cemitério
Deus escreve epopéias para uns
E tragédias para outros
Ou ainda ardentes romances
Ou histórias idiotas como a minha
A maioria é parecida
E poucas possuem poesia
Mas todos são escritos pela mesma pena
E também pela mesma mão
E criados pela mesma cabeça
Que escreve em nossos corpos mortais
Histórias únicas e divinas
Com a tinta de seu sangue, o espírito
E o ardor de seu amor, nós
25/12/96



Mata-me

Mata-me por ter pecado
Contra tudo em que acreditava
Mata-me por ter amado
E por não ter sido bom
E por ter errado tanto
Que agora é tarde para voltar
E alguém perdoar
Mata-me agora
Tira-me esta vida injusta e dolorida
Acaba logo com minha agonia triste
Mata-me
26/12/96




Festa II - PÓS MORTEM

Oh, que simples tragédia é a vida
É singela a agonia em nossos corpos
Definhando aos poucos por amor
E você está tão longe e tão perto
De mim mesmo
Ou será que estou mais longe que você ?
Só não entendo o que quis dizer
Quando falou sem nada eu entender
Você está tão longe
E eu sei que está bem
Mas eu não quero ser feliz
Não hoje, dia santo
Eu queria estar contigo
Mas não posso nem estar comigo
Sem você, aqui em mim
Do que me valerá comer
E manter meu corpo frio
Frio e tão calado
Queria tanto lhe tocar
Mas não ontem, e hoje
Quem sabe amanhã
Agora mesmo, espero
E ainda ouso lhe falar
Que estão todos aqui
Minha família, meus amigos
Mas falta alguém
Sou eu
Que sem você não sou eu
Não sou eu
Só me esforço para não brigar
E deixo tudo caminhar
Para o fim que vejo perto
E para trás só esta você e eu
E ainda assim tão separados
Por teu coração ingrato
Eu só não quero estar aqui
E ver todos alegres e tristes assim
Jesus morreu
Mas voltou e vive em nós
Só que eu não sou mais eu
Não até você vir
Não até você voltar
Para onde nunca foi
Meu pequeno coração
E até lá não será Jesus que irá
Entrar nele
Queria tanto sair dessa
Mas não posso mais
Só no dia em que você
Vier até aqui
E me deixar ir até aí
Estou cansado de ser tão só
Quero passar as noites abraçado a ti
E os natais e anos novos
Só com você
E você não sabe nem se estou vivo
E nem quer saber
E pouco importa a ti
O meu amor
Que descanse em paz o coitado
Nasceu tão pequeno e pobre
E morreu de forma tão besta
Descanse em paz
Pois a festa esta apenas começando
E tudo em que você teve crença
Por toda sua inútil vida
Morreu bestamente
Assim como Jesus em sua justiça
E a dor que antes era amor
Agora só resta ser mais um
Ou então tornar-se mestre de algo
Dono de algo, amo de algo
Pois não é possível que seja assim
Tão inútil e idiota e triste e bastado
Esta vida, esta vivência
Em que tudo em que nos apoiamos
É em nossas idéias e nossa fé
E que por uma besteira
Descobrimos que desabaram a tempos
E que agora nada mais importa
Só o sangue e a dor
Só nossos remorsos
Sem dores de despedidas
Sem partidas ou temores
Só desgraças imprevistas
É de deixar-se abalar
Saber que tudo pelo que lutou
Não passa de besteira e ilusão
E que você um dia acreditou do fundo de sua alma
E que por isso esta coisa se tornou real
Apenas por um milionésimo de segundo
A festa nem sequer aconteceu
Toda a ceia apodreceu para as moscas
E ninguém compareceu
Eu fiquei, como sempre , só
Sentado em uma cadeira no centro do salão
Iluminado apenas pela chama de uma vela
Esperança
Levanto e apago a vela
É hora de afundar de vez no Inferno
E parar de lamentar
É hora de abraçar tudo que repudiava
E curtir minha "vida" em outro lugar
É tempo de largar minhas crenças
Elas não me levaram a lugar algum
Só a dor e a sofrimento
Eu já cansei de dar festas em meu coração
Em que a convidada principal
Nunca comparece
25/12/96



Interlúdio

Todos me pedem calma
Me pedem para parar com isso
Para parar de falar besteiras
E de não fazer o que devo
Mas eu não posso mais
Sei que um dia eu pude
Mas agora eu não posso mais
Não agora que me olho no espelho
E vejo alguém de quem sinto pena
Uma pessoa triste e solitária
Que esta fadada a morrer só
Que triste é tal destino
Ser privado do que mais se deseja
Do que mais se precisa
E não poder falar com ninguém
Só consigo mesmo
E se martirizar por isso
E mastigar e remoer toda a coisa
Em que só sei viver
A vida, eterna e doce
Fruto de um pecado bom
O amor, o sexo
E privado do prazer
Está a pessoa no espelho
A vida, um vinho tinto
De longa safra e português
Embriaga-o em um só gole
Não existem esperanças para tal mal
A eternidade é sua aliada
E sua sentença nesta sina sinistra
Ser meia alma
Cuja outra metade não existe
Ou ser uma alma inteira
Que precisa ardentemente de outra
Assim como a pessoa no espelho
Assim como eu
Desejar aos outros tudo que me é privado
E sorrir ao ver os outros felizes
Não por estar feliz em si
Mas por desejar felicidade alheia
Já que não posso ser feliz por mim
Mas isso ainda não é o suficiente
Talvez agora eu vá em direção ao desconhecido
E forçar uma viajem sem volta
Já que de nada vale ficar aqui
Se nada me deseja como quero
Se nada me ama como quero
Do que me vale estar vivo?
E eu respondo
Vale pela esperança que estava viva
E que agora jaz morta neste solo
Ela esta morta assim como eu em breve
Assim como meu único amor real
Que nasceu morto como um feto fraco
Não existe mais sentido nisso
Só me deixe morrer agora
Para nunca mais poder encarar
As pessoas que tanto amei um dia
Serem felizes com outros
Mesmo eu desejando isso
26/12/96



Chega

Não quero mais me lembrar
Que posso amar
Não quero lembrar
Que posso me machucar
Pode ser bom durante o ato
Mas no final alguém sempre se magoa
E eu não quero mais me magoar
Porquê nunca pude suportar
A dor de se despedir
A mágoa que me faz chorar
O medo de ser infeliz
E o ódio por se deixar levar
Por emoções tão primárias
Quanto o amor e a paixão
Queria poder não sentir nada
Nem amor, nem ódio
Somente paz
Que persigo tanto
Sem nunca alcançar
27/12/96



Fundo Negro

Utopias são vontades totais e lindas
Perfeições distantes e vagas
Terras onde homens não podem pisar
Pois a fúria é gigantesca
Pelo mal que todos vivenciam
E a alma vai se dissolvendo
Até só restar ódio e desespero
Onde havia luz só existem trevas
E o medo de se perder é grande
Mas agora é tarde
Pois estamos todos perdidos
Nesta escuridão em nossos corações
Nos perdermos por sermos fracos
Ou por não sei o quê
Ou ainda, assim como eu
Nos perdemos por que queremos
Cansados desta vida sem sentido
Mergulhamos mais e mais
Até chegar ao fundo de nossas almas
E podermos tocar nossas vastas emoções
Para despertarmos na escuridão da noite
Que nunca mais cessará
É noite em nossas vidas
E será eternamente
A esperança já acabou
E você morreu para mim
Agora é hora de largar tudo
E cair, cair e cair
Até chegar ao fundo novamente
E de lá nunca mais sair
28/12/96



Suspiros

Corte meus pulsos
Me sangre até a morte
Eu não posso mais suportar
A espera maldita em meu choro
Pela morte que espreita, tão perto
E que agora ri de minha situação
Ela esta colhendo almas
E eu já devo estar maduro
Sua foice logo cortará o frágil fio
Que me sustenta a força da vida
Que eu insisto em podar
Por que dói ao extremo
Ser esperto e burro assim
Tão sensível e bruto
A ponto de não compreender
Que tudo tinha que ser assim
Louco e cruel
Dolorido e traumático
Já abandonei-me faz tempo
E vivo só por viver
A tempos vivia por outras pessoas
Mas agora acho que era besteira
Sofrer tanto por tão pouco
E ainda assim acreditar em Deus
Só que eu sou meio esquecido
E é por isso que blasfemo tanto
Não quero mais lembrar do passado
Por isso devo morrer logo
E me unir aos meus amigos mortos
E deixar a vida para quem goste
28/12/96



Afoguei-me

Já era tarde demais para mim
E agora tudo me sufoca
Me afoga ver tanta insanidade
Em um mundo considerado sano
Só espero que tudo deixe de ser assim
E que crianças possam brincar de novo
Ao invés de atirarem com fuzis de verdade
E que tudo seja como em meus sonhos
E que eu deixe de ser assim tão submerso
30/12/96



Consumo

Antes as coisas não faziam sentido
Mas agora tudo é tão confuso
Que mal posso esperar
Para cair no chão e me machucar
Pois só assim terei de novo
Como me encontrar dentro destas trevas
Machucado e sangrando
Gemendo e gritando
Estendendo as mãos, procurando algo
Que não posso descrever
Lembranças de meu passado remoto
Em que tudo o que provava era doce
Principalmente o amor
Quando viver era bom
E nada enevoava meus pensamentos
Uma época de ouro, e diamantes
Lágrimas de felicidade cristalizadas
Eu ainda era puro e feliz
Mas não conhecia a vida como agora
Ainda bem, se não sempre teria sido assim
Um corpo nu embrulhado para presente
Em um mundo onde só se sabe olhar por fora
Só me faltam os laços de enfeite
Para ser mais um presente bonito
Esquecido em uma grande prateleira
A felicidade é um produto escasso e caro
Que poucos podem comprar ou ter
Pronto! Terminaram de me embrulhar
E agora pareço um homem de verdade
Mas na verdade sou um corpo vazio
A procura da paixão que me preencha a alma
30/12/96




Feliz Ano Novo, Suicida
"carta de morte de um adolescente em crise"

Agora mesmo eu devo estar morto
Agora sei de tudo o que sempre quis saber
O eterno. O infinito. Tudo
Nada mais é segredo para mim
Pois estou morto
Fui covarde, fui fraco
Mas agora minha dor acabou
Será que para o início de outra maior ainda?
Acho que não. Não mais
Cansei de viver em um mundo estuprador
Onde toneladas de sonhos são queimados aleatoriamente
E onde se passa fome, e frio, e dor, e medo, e solidão
Ah, solidão, companheira amiga velha!
Me amaldiçoou por toda minha vida
Mas agora eu estou morto
Creio que vou para um lugar melhor que este
Melhor que o Inferno
Sim, vivemos no Inferno, só pode ser
Me entreguei por completo e agora morri
De forma trágica e sanguinária
Com dor e sofrimento grandiosos
O sangue fluindo para fora de meu corpo
Juntamente com minha vida flagelada
Acho que tudo foi um grande erro afinal
Só que ainda não sei qual
Eu admirava as árvores, pequenas ou grandes
Os pássaros, os animais
Mas não ao demônio homem
Pois o homem não tem o direito de se chamar de Bicho
Animais podem não ter alma, mas são animais afinal
Homem tem alma e se porta como se não a tivesse
Isto é demais para a cabeça de alguém como eu
Pessoas se matando entre si, miséria, guerra...
Eu não agüento mais
Sei que em comparação com a vida de milhões de pessoas
A minha foi de rei
Mas não suporto mais se chamado de homem, de humano
Um mundo todo nas mãos de criaturas como nós
E nenhuma esperança pode ser esperada
Por que tudo está errado
Fui fraco por não tentar mudar nada
E por isso piorar o planeta todo
Mas espero que meu ato sirva de lição para todos
Pois mais que preocupação com guerra
Com mortes ou dores
O que mais me abalou foi o fato de ter sido só
Talvez por isso o ser humano seja assim tão cruel
Por ser só em um mundo louco e estranho
E tão bom para conosco, assassinos dela
Deixo minha dor e fracassos
E tentativas de felicidade e amor
E parto para o desconhecido conhecido além da morte
Pois tenho fé de que assim seja
Pai, Mãe, me perdoem, a culpa não foi de vocês
Acho que no final foi só minha
Irmãos, sejam os fortes e felizes que não pude ser
Vivam como nunca pude por não saber como
Crianças, não se tornem os monstros que nós somos
Sejam puros e alegres com são agora, por favor
Mundo, deveria ama-lo, mas você está envenenado
Envenenado pela dor e desespero em ser grande e forte
E isso não é nada fácil, nada fácil mesmo
Eu o odeio por ter me deixado só
E por me forçar a ser coisas que não queria ser
E ainda assim me deixar só
Só posso lamentar por tudo
E rezar para que tudo mude
Sou um suicida, e desejo a todos feliz ano novo
Não suportava mais tanta vontade insatisfeita
Em ser feliz e encontrar alguém
Adeus, e feliz ano novo
30/12/96



Cheiro da Morte

Sabe como cheira a Morte?
Não é a carniça ou putrefação
Cheira a Lírios e Crisântemos na Primavera
Em campos verdes e largos, em dia de céu azul
E não existe coisa mais bela do que ela
O fim da agonia e desespero
O fim de tudo que é bom e que é mal
A única justiça cega real
É o remédio para tudo que sofremos
E cuja única contra indicação é a dor
Oh, dor ardente e devastadora
Agudo e mortífero é teu semblante
Como minha saliva, um molho rose
Meu sangue misturado a tudo em meu corpo
Pensamentos, carne, ossos, vida, morte
Pingando de meu corpo magro e acabado
Correndo por veias entre meus tendões que estalam
E a morte, doce carrasco este anjo
Perfumada ao extremo, lindo delírio
Se esgueirando e chegando, pouco a pouco
Desde o dia em que nascemos
Fadados estamos ao encontro final
Com a dama da morte, morte total
Ela mesma, encarnada em um corpo irreal
Tão bela e reluzente, pronta para acabar
Com espera tão longa como esta
E com seu beijo mortífero
Tocar meus lábios, e minha língua
E me fazer o que mulher alguma ainda fez
Me amar tanto até me matar
Invertendo a dor em prazer meloso e úmido
E o sexo, tão vibrante e delicioso
E a morte, tão linda e perfeita
Totalmente compreensível minha reação
A morte me excita mais do que qualquer outra agora
Me embriago em seus doces toques
E sei que não estou sendo enganado, e sim salvo
Pois é a morte a me amar aqui
E a morte a me beijar em minha boca
E a saciar todas os minhas últimas vontades
E seu gosto e cheiro, oh, seu cheiro
Indescritivelmente doce e tentador
Estou feliz, pois encontrei na morte
O que procurava na vida
O amor de alguém
E justamente a morte, doce dama fatal
Me fez sentir que consegui
E agora já é hora de deixar este lugar imundo
Onde pessoas não me querem consigo
E onde eu nunca fui compreendido
E ir para onde minha amante me levar
Estou feliz em fim
Estou morto
Morto mas feliz
Por que enfim amei e fui amado
Obrigado minha doce e linda senhora
Obrigado por me amar assim
E seu cheiro ficará impregnado em mim pela eternidade
Para todo o sempre
Adeus amor
Adeus morte
01/01/97



Alma Nua

A noite é dolorida em seu semblante
É um momento que torna amargo até o doce mel
E afugenta a liberdade de esquecer
Tudo aquilo que me faz sofrer
Meu corpo, a rolar pela cama
E meu sono, que demora e nunca vem
Não são os uivos sombrios ao longe
E nem a escuridão a me cercar
São minhas lembranças vivas
Que tentam me perturbar
E desejos tolos, e choros contidos
E meus sonhos, delírios de felicidade
Onde posso me lembrar completamente
De tudo que ansiava esquecer e não podia
Meu mais terrível medo sendo destroçado
Não tenho medo da morte
Ou de dor física ou criaturas sombrias
Tenho medo de ficar só
E de nunca encontrar-me em outra pessoa
Mas agora eu achei
E descobri que é tarde demais
E meus sonhos agora são só besteira
Em comparação com a realidade que desejava viver
Viver juntamente com ela
Não, não posso erguer a cabeça e andar
Não por um bom tempo
Por que era algo de que não posso esquecer
Por que amei demais
Um amor marginal e solitário
Como o de um miserável para com uma princesa
Como posso esquecer algo que faz parte de meu ser
Sem sofrer mais do que ninguém
Ainda estou parado a olhar
O meu passado imperfeito e feio
Queria descobrir por que tudo foi assim
E por que sempre estrago o que almejo
Por que sou privado de meu maior desejo
Poder chafurdar neste amor insanamente puro
Agora eu devo caminhar ao horizonte
E vislumbrar de lá meu passado
E acenar, dizer adeus
Não posso obrigar os outros a fazerem o que quero
E muito menos a gostar de mim
É por isso que não posso mais ficar aqui
É por isso que não tenho motivos para sorrir
E eu na cama, ainda a pensar em tudo isso
Não durmo e não descanso meu corpo
Corpo frágil e fraco
Sonho novamente e isso me faz mal
Pois ela não me quer no mundo real
E quando acordar eu certamente irei chorar
E vou levantar e encarar a vida
Sem vontade ou meta ou esperança
Mas no fim a culpa é minha, como sempre
Pois sou fraco e triste pessoa
Não sei de meu futuro
Só sei que meu passado é um jovem velho
Assim como eu sou agora
Um jovem envelhecido pela falta de vida e amor
Faltas cruciais em meu coração
12/01/97



1º de Janeiro

O a é peculiar e essencialmente neutro
A paz é respirável por aqueles que se dizem homens
Enquanto que sub espécies como eu apenas choram
Por que estão sós por mais um maldito ano
E as lágrimas, uma vez mais, caem sobre o chão
E uma vez mais tudo deixa de fazer sentido
Para dar lugar, enfim, ao delírio
Mestre na arte de satisfazer e enlouquecer
Por que em meus delírios e ilusões proféticas
Me vejo alegre e feliz, amando e sendo amado
Mas logo depois acordo para a realidade crua e dura
Solidão, profunda e fria coisa
Mas isso não é nada de mais
Comparado à dor de te desejar e não te ter
Isso sim enlouquece, amar mais do que tudo alguém
E saber do triste destino de não ser correspondido
E ainda assim sonhar todas as noites com o contrário
É primeiro de janeiro, e todos estão dormindo
Somente eu estou acordado e encarando o dia triste
Todos estão felizes e satisfeitos
E eu estou só, pronto para a morte
Vou acabar morrendo de desespero e sofrimento
Mas não importa, é o primeiro dia, a primeira desgraça
De tantos outros 364 adiante
Ainda não estou pronto para encarar tudo isso
Talvez em sua companhia
Mas não estou, então terei que me virar sozinho
Como sempre sozinho
Só um corpo sem alma ou coração
14/01/97



Palavras Matam

Me fartei por completo desta loucura
De nada mais adianta a mim viver
Como poderei caminhar sem pernas
Estirpadas por um golpe certeiro de palavras?
Já faz tempo que me pergunto isso
E ainda continuo a me arrastar
Só que agora estou cansado
Mal estou conseguindo respirar
Meu corpo calejado, estirado ao chão
Pisoteado por mulheres amargas
Tão insensível a alma de muitas
Tão doce a de outras
E eu, ignorado ao limite instável
Forçado a me trancar em meu próprio corpo
Deixar para trás sonhos, esperanças
E me lançar ao negro e vazio depressivo
Que habita nossos corações hipócritas
E afundar cada vez mais e mais
Nesta depressão interna eterna
Neste ódio impiedoso e triste
Nesta coisa morna e maléfica
De que adianta viver agora amigo
Se não existem esperanças
Do que vale lutar agora
Se não existem mais desejos em minha alma
Do que adianta chorar lágrimas doces de tristeza
Se ninguém mais se importa com isso
Nada mais importa meu caro
A luz se apagou faz um minuto
E está na hora de afundar um pouco mais
14/01/97



Ideal

A bisa, fina e molhada, bate em meu corpo
Eu estou isolado de toda a matéria agora
Sou éter, sou vácuo, sou essência
Não existem sons, não existem sentimentos
A dor é algo inimaginável agora
Sem luz, sem calor, sem nada
Somente eu no meio do espaço eterno
Não estou mais preocupado, ou triste ou abatido
E não existem memórias, o que é bom
Não sei o que sou ou o que fui
E sei que continuarei a não saber
Isso me acalma mais ainda
Chego a um estado de prazer e sensibilidade total
Estou em nirvana astral
Então uma luz avassaladora me cega olhos inexistentes
Quando vejo novamente, Deus está a minha frente
É um forte senhor, montado em um cavalo cinza
E me olha do alto de sua sabedoria infinita
E exclama fortemente que eu devo voltar
Voltar a ser o ser terreno e fraco que sou
De repente todo o vazio é preenchido
Pela matéria podre terrena
Um infinito de sons ecoa de lá para cá
E a luz solar, forte e quente
Rompe toda a aconchegante escuridão que me abraçava
Eu sou eu novamente
Estou aqui para sofrer e me magoar de novo
Para sofrer por amor não correspondido
E para lembrar da centelha de paz que experimentei
A oportunidade de entender
Como deve ser bom ser Deus
14/01/97



Lamentos

Hoje o dia está tão normal
O Sol brilha e os carros gritam
E as pessoas andam de lá pra cá
Tantos choram e poucos sorriem
E tem tanto trabalho para poucos
Eu estou aqui mais uma vez
Tentando entender por que tudo é tão estranho
Por que não posso ser feliz com você
E mesmo tentando não consigo esquecer
Da paz e alegria de estar ao seu lado
Mesmo que em sonhos tão bons
Já faz tempo que esqueci o que é viver
Já que agora eu só sei sofrer
Tento a tanto tempo esquecer
Mas não tenho forças vitais
Para fazer isso acontecer
Me sinto tão ludibriado por todos
Me foi prometido uma vida legal
Mas o que pode ser bom assim
Sem você para sacramentar
Em lágrimas de amor tudo o que faço
Do que vai me adiantar
Estar sozinho quando conquistar o mundo
Lamento, mas é assim que penso
Não posso levar adiante esta loucura
Nada importa enquanto estiver sem você
Nem vida, nem trabalho ou prazer
Só você, só você
Só você que pode novamente tentar
Tentar me fazer viver
15/01/97



Dois Minutos Para Poder Pensar
Sinto muito em informar, meu amigo
Mas estamos todos mortos
Não poderemos mais sorrir de medo
Ou ainda correr por campinas verdes
Estamos todos mortos em nossos corações
Somos apenas pedaços de matéria podre
Que está apenas se corroendo, lento
Pode ser besteira para ti, sábio e filósofo
Mas é verdade quando falo em morte
Ninguém irá sobreviver a esta droga
Ou a esta dádiva disfarçada em maldição
E o que assusta á saber que ninguém fez nada
De que possamos nos orgulhar
Por que só lembramos das desgraças, dos defeitos
Dos horrores e das guerras travadas a anos
E esquecemos do quão belo é o nascer do Sol
Ou ainda o alívio de se ouvir bom dia
E de pessoas que não só rezam, mas também agem
Fiquei pensando um bom tempo sobre tudo isso
Dois minutos para lhe ser franco
E minutos penosos foram estes, é verdade
Mas eu não posso mais pensar
Esta na hora de voltar para a hipocrisia
E deixar para lá todos os problemas cretinos da vida
25/01/97



Confessionário

Padre, me perdoe porque pequei
Já se faz uma vida desde a última vez
Houve uma pessoa de quem gostei muito
E pequei por que tive medo de dizer olá
Temi ouvir palavras ásperas e farpadas
Eu fui covarde e infiel ao meu coração
Me perdoe por que pequei
Houve um dia, padre
Em que desejei minha morte como punição
Punição para minha fraqueza
Mas entendi que para este caso
Punição melhor seria a vida longa
Eu fui covarde e infiel para com quem amo
Me perdoe por que pequei
Existiu uma dor aguda
Da qual ainda tenho seqüelas
Eu chorava a noite por temer a vida
E só agora vejo o tamanho de meu erro
Eu fui covarde e infiel para comigo mesmo
Me perdoe por que pequei
Houve coisas que queria ter feito
E muitas eu nunca sequer iniciei
Vejo o quanto eu fui tolo
Por querer simplesmente ser feliz
Eu fui covarde e infiel para com o mundo
Me perdoe por que pequei
E só agora eu falo estas coisas
Por que sei que é segredo eterno
São meu sangue, minha alma
Minha mente, meu ódio
Admito o quão pecador sou e serei
Só que ninguém mais admite
Que errar não é bom, mas sim cruel
E que é horrível levar as coisas até o final
Deve ser por isso que nunca terminei nada
Assim como a humanidade nunca encerra
Sua busca insana e eterna
Por algo que já se esqueceu a tempos
Lembrar agora seria desperdício de tempo
Devemos continuar a busca agora mesmo
E fingir que tudo é normal
E que tudo está bem
Esquecer a dor eterna de pecar ardentemente
Todo santo dia claro e escuro
E de tempos em tempos pedir perdão anonimamente
A Deus, sob a forma de um ser terreno
Um padre, que nunca vai abrir o jogo com ninguém
Afinal, não quero que todos saibam que sofro também
Assim como todos eles, em seus íntimos emotivos
Lembre-se de mim padre, mas não de minhas palavras
Lembre-se apenas da mensagem contida nelas
Amém
25/01/97



Corpo

Meu corpo cansado, suado e torturado
Minha pele reluzente e rija, intocada
Meus músculos, carne viva
E o sangue, pulsando ardentemente
Jamais usado em uma vida curta de criança
Inviolado o bálsamo que és esta obra de arte
Meu corpo virgem e esguio
Espreita pela noite como um lobo
Sedento e faminto, pronto para atacar
Assassino cruel, alma solitária bem aqui
Bem aqui em meu peito nu
E então será tarde para voltar a ser eu mesmo
Por que neste dia não haverá mais volta
E neste dia eu serei imortal em corpo e alma
Na mente das pessoas a quem ferir
Meu corpo, quente e doce
Pronto para obedecer ao meu comando
Minha casca, meu receptáculo
Meu pote de essência espectral
Meu salva alma material
Me deram um coração e uma mente
E em troca esperam algo que não sei se posso dar
Que troca injusta é esta que me fizeram
Ser um homem que não serve para nada
Dentro de um corpo que está pronto para fazer tudo
Mãos que agarram, pés que sustentam
Pernas feitas para correr até o longe
E uma cabeça para poder sonhar com a felicidade
E com o Universo inteiro em um segundo
O Universo é meu próprio corpo
Sempre crescendo desde o seu nascimento
Cada segundo é um milênio
Cada célula é uma galáxia
E cada átomo um sistema solar
Cada próton um planeta, e cada núcleo um Sol
E em cada planeta milhões de seres vivos
E cada um deles também é um Universo em separado
Em que dentro se encontra a mesma ordem
O infinito
Que estranho e belo é esta concepção de eternidade
E a morte de um só de nós é a morte do infinito
E de um Universo inteiro e toda a sua vida
E nós somos o Deus deste Universo interior
E nós, assim como eles, vivem dentro do corpo de Deus
Que é o Universo inteiro
Assim como nós, eles são um sonho na cabeça de Deus
Que é a vida por si só
E agora meu corpo ainda é só um corpo
Triste e solitário com seu Infinito de vida interna
Pronto para amar e criar um novo Universo
Um filho
03/02/97



Universo

Olho para a noite como caça condenada
Só mais um morto entre mortas carcaças
Só uma vítima selvagem de um mundo animal
Alimento dos fortes, excremento bem depois
Mas não é tarde para poder me confessar
Só que pecados marcados, como cartas de tarô
Eu não tenho e não posso nem sonhar em ter
Não tenho vícios, doenças ou paixões
Abracei com força toda minha ira e revolta
E as joguei bem longe, mas voltaram e não se foram mais
E agora, na hora, esta em tempo de ir-me embora
Partir para um lugar onde ninguém poderá me seguir
Onde ninguém poderá mais rir de mim
E quando se lembrarem do quanto era bom viver
Vocês contemplarão o Universo ao seu redor
E compreenderão que tudo o que não entendemos
É o máximo que um dia iremos entender
Por isso eu digo para que não temam
Iremos todos para um lugar estranho
Pode ser que seja o nada ou o tudo
Mas é para lá que iremos
E nada que podemos fazer irá mudar isso
É o destino marcado pelo Universo
É a razão pela qual vivemos e morremos
Longe de tudo pelo qual lutamos tanto
Algo sinistro ou bondoso
Coisas do fundo de nossas mentes e corações
Talvez a alma, o conjugado dos dois
Nós mesmos em forma de essência
Cheios de nada, éter, vácuo
Assim como o Cosmos, vazio visualmente
Mas cheio de energia, cheio de poder
Forças invisíveis que nos fazem ser nós mesmos
Coisas as quais você nunca mais ouvirá
O poder
A força eterna que controla a vida no Universo
Deus
O julgamento vivo que conduz nossas ações
A consciência
Destemido anjo que fala em nossas emoções
Remorso
Nossa condenação eterna, chaga em nossos corações
A morte
Dádiva ou maldição?
O Universo conduz tudo com total maestria
E tudo que nos pede é poder
Poder para poder sonhar conosco nossos sonhos
Só que nós só temos pesadelos
07/02/97




Ondas de Areia

Água seca é areia do fundo do mar
Onde dunas correm como ondas
Ondas insanas de puro temor
Onde a morte surfa agilmente
Tomados por forças ocultas
Cada grão se move sutilmente
A onda vem rápida e alta
Esmagando tudo que encontra
Ondas negras, ferozes caçadoras
Ondas de energia pura
Ventos solares, pulsos e espasmos
Delírios céticos destituídos de imaginação
Um lugar onde o sentimento perde a razão
Onde tudo o que temos
Perde seu valor
Onde tudo o que sabemos
Já foi superado
É triste ser cruel assim
É cruel ser triste assim
Um círculo vicioso
Na verdade uma reta eterna
Uma ida sem destino certo
Somente o além, o após
O pós moderno e incompreendido artista
Cujas idéias só serão lembradas no futuro
E assim será só mais um sucesso póstumo
E as pessoas dançarão sobre seu túmulo
Para esconder a vergonha de não o ter reconhecido
Quando ainda era vivo para tal
E que agora está submerso nas ondas de areia
Areia quente que devasta o infinito
E que nos faz perder os sentidos
Nos afoga, inunda e imunda nossos corpos
Invade o sagrado espaço interno
E corrompe a vida, a transformando em morte
Sem lágrimas para o artista
Mais cem para sua vida
Cujas ondas de água vieram cedo e grandes
E levaram sua alma para o mar da tranqüilidade
Riam agora, reles seres mortais e confusos
Pois seus dias estão contados assim como os meus
Assim como Janis, Kurt, Jimmy, Bob e Jim
Assim como Renato, Cazuza e Juscelino
Cujas vidas se apagaram como fogo frágil que eram
Engolidas pelas ondas de areia eterna
Riam, dancem, aproveitem bem
Por que um dia tudo irá acabar
Juntamente com suas vidas secas
Que serão irrigadas com as ondas do apocalipse
Feitas de areia embebida em sangue e fogo
E cujo destino é varrer para sempre a humanidade da vida
19/02/97



As Ultimas Lágrimas do Trovador

Vou-me embora deste local sangrento
Lugar de guerras demoníacas
Lugar de dor e sofrimento eternos
Lugar para o qual me mudei a anos
E que agora deixo com dor em meu coração
Eras um lugar belo anteriormente
Mas agora é só ódio e crepúsculo
Já chorei muito por esta desgraça
Mas estas são minhas ultimas lágrimas
Não quero mais sofrer junto com você
Por que o lugar de que tanto falo
É o teu coração
Ferido de batalhas anteriores
E eu, que só queria canta-lo
Fui confundido com mais um guerreiro
Mas eu sou só um trovador
Em busca de paz e de amor
Coisas tais que você não pode me dar mais
Por que são coisas que nunca teve
Não te culpo mais
Só não queira minha amizade
Não queira mais minhas canções
Não deseje mais minhas rimas
E nem meus acordes
Desisto de tudo, até de você
Desisto de chorar, de sofrer
Quero agora um pouco de prazer
Deixar para traz tudo o que vivi contigo
E partir para um lugar estranho
Deixar para lá toda a vergonha
De ter te querido bem
E lamentar por ter cruzado o teu caminho
Por ter tocado tua pele, teu rosto
Teus lábios, tua alma
E só depois descobrir quem eras na verdade
Uma alma insólita e vazia
Um corpo belo com mente imunda
Desculpe-me por não chorar mais
E por largar tudo em que acreditava
Mas eu só acreditava em nosso amor
E você o matou bem na minha frente
Desculpe-me por esquecer quem éramos
E o que significávamos
Mas cansei de chorar por criatura tão singular
Cansei de tentar te fazer me amar
Agora parto para longe de ti
O Trovador se emudecerá por tua causa
E será mais uma alma muda no mundo
Por tua causa, miserável coração estéreo
Impróprio para a criação de algo tão vital
O amor
20/02/97




OBSCURA ALMA HUMANA : CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE LAMENTOS

"Criou Deus, pois , o homem à sua imagem , à imagem de Deus o criou , homem e mulher os
criou" - Gênesis 1:27
"Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era
continuamente mau todo desígnio de seu coração; então se arrependeu o Senhor de ter feito
o homem na terra e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da
terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis, e as aves dos céus; por que me
arrependo de os haver feito." - Gênesis 6:5 a 6:7
"Estabeleço minha aliança convosco: não será mais destruída toda a carne por águas de
dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra" - Gênesis 9:11

  A idéia contínua em todas as páginas são muito parecidas com a dos trechos tirados da Bíblia
acima mostrados. A maldade do homem, arrependimentos, ira. Tudo é muito pessoal, e ao
mesmo tempo Universal. A frustração da busca por coisas muito desejadas, como amor,
felicidade, paz.

 O medo e a vergonha em ser parte da espécie humana, uma raça auto-destrutiva que é
capaz de provocar uma ira enorme em seu próprio criador e pai, Deus. Uma raça corrompida
pelo mau. Que tipo de esperanças e prosperidade podemos esperar de nós mesmos, uma raça
condenada ao extermínio divino por ser simplesmente má?

 "Lamentos" é uma grande porcaria, mas como está escrito na capa, se trata de um ensaio. É
algo singular e depressivo, arrogante, cruel e triste, muito triste. Pra começar está muito bom.
"Assim como um homem não está sozinho na sociedade a humanidade não está sozinha no
Universo, mas é triste ver que o homem ainda é sozinho dentro de seu próprio coração"

Tirado de um episódio de "The X-FILES"

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Lamentos poéticos da dor e solidão

  • 1. De: Daniel P. Fontes Em: 1996-1997 Tipo: Livro de Poemas Nome: Lamentos Obs.: Alguns poemas não tem nome Vultos distorcidos, imagens de meu inferno A dor e o ódio corroem minha alma E o mundo é tão vago, tão vago... E as pessoas tão ruins O doce aroma do fracasso Se mistura com minhas lágrimas de derrota Ofuscado pelo brilho do vencedor O amargo amor pela vitória Tudo acabando em melancolia Tristeza e choro em minha vida Tudo de que me lembro Tudo que possuo Tudo que não quero 18 anos de vida 18 anos de fracasso 06/08/96 Aos gemidos minha alma me implora Alegria alegria, a vida é bonita Mas que droga, tudo é cinza e vermelho O Sol já não brilha, e a dor se dispersa O amor eu não conheço E que dúvida me aparece agora Tudo se transforma em raiva Choro como os grandes o fizeram O gelo milenar que chamo de coração Pulsa fraco por mais atenção Nada é como antes A dor se foi, mas voltará Que triste é o destino de se sofrer Sem ao menos se saber o porque 06/08/96 Possuo sentimentos sem nome Que se movem por todo o meu corpo Logo a dor irá voltar, e então eu morrerei Mas antes nada deverá ser visto Pêlos olhos que me fitam agora Tudo pelo que lutei algum dia
  • 2. Se foi com o ódio discreto de minhas derrotas Corro em busca de minha paz Mas nada encontro em meu coração Vazio como o espaço que nos cerca Me debato e então agonizo As lágrimas nada são a não ser convites Para o nada que é minha vida E o ódio, correndo como energia Que me move e me sacia Oh! Vil entidade que me controla Chore, ante minha derrota 06/08/96 Pulsos interminates, sangue em meu corpo Correndo dentro de meus sonhos Trevas eternas, canções proféticas Desespero e ódio, raiva com medo Sustos e surpresas, malditas, malditas A mente sendo esmagada pêlos homens O animal retornando novamente ao seu lar Explosões solares, entre Vênus, entre Urano A não existência completa de tudo Nenhuma luz, nenhum amor Nada que seja tangível Cordas e correntes, ganchos e espadas Cortam minha carne, cortam minha alma E do fundo deste ser pensante O Inferno parece ser sua vida E em seu leito de morte, o alívio Por saber que nada no futuro Poderá ser pior que o presente 08/08/96 Correndo, correndo, voar para lá Em terras podres eu piso a vida inteira Mas amo a terra podre, que me alimenta Que me castiga, que me humilha Que me judia, e judia, e judia... Que tanto me fez sofrer e chorar Que tanto me fez matar Piedade, piedade. Sofra e então chore Nadando em um mar de lama Você contempla o paraíso, e então vai parar no Inferno E seu sangue se mistura ao suor E suas lágrimas à sua dor Cavando sempre para baixo, inquieto O coveiro lhe convida a entrar Em sua casa, que é a terra 09/08/96
  • 3. Eu voava por um céu de enxofre E caía em um mar avermelhado como sangue quente Minha pele era de aço, mas eu derreti E sem asas para voar a dor me abate, certeira Como se eu nunca houvesse me conhecido As asas me foram arrancadas Foi amarrado e acorrentado Não pude mais brincar ou ser feliz Meu peito ardeu, meu corpo ardeu Me ardi de emoção ao ferir profundamente Meu próprio corpo morto que anda por aí Meus sonhos foram mortos por toda a sociedade A mesma sociedade para quem os construí A mesma que eu tanto amava Ah! Se um dia eu voltar a ser feliz Que seja pela dor de meu companheiro Ou pelo amor de uma mulher Para mim, ambos são iguais 20/08/96 Em folhas em branco Tento dispersar toda minha dor Em busca daquilo que queria Nada achei, só o que repudiava Cores abundantes, várias, dançam a noite toda Em camera lenta eu vejo teus passos E corro para os braços de minha dona Acabo com todas as chances que tinha De ser feliz,e caio em uma depressão eterna Poucos são os que me viram feliz Fico cansado só em pensar Como seria a alegria de ser Uma pessoa normal, e ter Tudo que eu sempre quis ter Ser feliz e ter amigos Namorar, casar e ter filhos Trabalhar, sofrer, e morrer Assim como o gelo, eu fui frio a vida toda O ódio me guia, o ódio me domina E com meus ossos partidos Eu caminho para trás, e para trás ... Dando as costas ao destino que possuía Meu coração se parte com um leve toque E dentre as emoções que já senti A mais poderosa e terrível que senti Foi, sem sombra de dúvida O Amor 10/08/96
  • 4. Toda minha dor se traduz em dor Pelo chão está escorrendo a minha vida Sangue em que me banho todo o tempo Me visto com meu medo deste mundo Correndo como maluco, ofegando, parando A morte, sedutora que me quer tanto Banha em ódio minha alma, que chora, e geme Tento ser o que nunca serei Eu trilho a vida, que é meu caminho Seu fim não verei, nunca mais o verei Se desse ao menos para sonhar E talvez ser melhor do que sou Eu seria meu próprio sonho Seria o rei deste mundo Seria o senhor da minha vida Queria tentar ser o que não sou Mas não tento, sem saber por quê Meu coração descompassa, como um moribundo Mas morto eu ainda não estou Ainda tenho pessoas que me cercam, mas sou só Corto os meus laços, corto os meus pulsos Sonho, e então choro por ser apenas um sonho Estas idéias serão lidas um dia E eu já terei morrido Porém, viverei em seu espírito E degustarei de tua felicidade Pois serei teu cão guia Nas trevas que são esta vida 10/08/96 Nunca mais me humilhará novamente Já estou com nojo desta vida rastejante Queria morrer logo e não sofrer tanto Queria ficar sozinho, isolado destes humanos Você nunca gostou mesmo de mim Enxugue estas falsas lágrimas Você mal sabia o meu nome, portanto pare de me torturar Nunca mais olharas em meus olhos Não ira mais me excitar Nunca poderei sentir o calor de seu corpo no meu Eu poderia chorar, mas todas já secaram A morte vem, galopando em seu corcel negro Sua foice corta o ar, e eu posso sentir sua respiração Não tenho mais tempo, portanto me fale logo A vida é curta, e você também morrerá Não vamos mais nos preocupar em agradar Não queria morrer sem antes experimentar você Não posso mais suportar , tenho que te perguntar Algum dia você já amou? 05/04/94
  • 5. Cavalos selvagens correm pelas planícies sem fim A paz me beija, como se estivesse me esperando Como se soubesse que você seria o que é Que sabe dos segredos negros que escondem a alma humana Os nossos fantasmas nos assombram todas as noites As noites são escuras, e negras são as lembranças que nos corroem E ao melancólico som das pessoas se amando em volta de mim Me faz chorar sem vergonhas ou pudores Nunca fracasse, e nunca regresse A não ser que venha aos meus pés, e me implore perdão Perdão por ser um humano Se você tiver que fazer, você virá e o fará E não reclame da vida, pois ela é boa, meu amigo Pense na fome que mata, e na guerra que desgraça Que desgraça a nossa vida, a vida de todos nós De todos nós daqui do Brasil da América De todo mundo, de meu negro coração E desta vergonha todos nós nos banhamos E uma vez banhados seremos impuros e humilhados Não é sem querer que eu reclamo desta droga de mundo Que podia ser tão bonito, e puro, e limpo, e calmo Sem pessoas para então os estraga-lo 10/07/94 Se um cemitério enterra pessoas O meu coração enterra horrores Não penso mais no meu fim Pois a cada instante eu recomeço E não mais cesso em minhas idéias Viajo por todo o Universo, por todo que é vivo E choro de ódio ao ver o desprezo egoísta Que nos corroem, a todos nós, como câncer Pois que venham os anjos, e nos purifiquem de todo o mal Sem fronteiras e sem barreiras, e nos coloquem de igual para igual Nos purifiquem com fogo e sangue Pois as palavras não nos afetam mais Toquem nossos corações com metais perfurantes Nos levem para voar, e nos joguem lá do céus Os anjos vingadores, tão puros e justos Limpam nossas almas com seu próprio sangue Nos gelam com seu olhar e nos machucam com espadas E então sepultam nossos corpos em cemitérios carnais Nos condenando a presos ficarmos aos nossos restos mortais 26/07/94 O cheiro da morte pairava no ar Era todo amargo, cheiro e gosto amargo Podia até mesmo ser a morte, ali Mas ela deveria ser mais bela Ela deveria ser bem mais bela
  • 6. Mais bela do que uma rosa negra Que nasce em meio a rosas brancas Que nascem em meio a rosas vermelhas mortas Mais especial do que o 106º elemento Mais mística do que o alinhamento das duas luas de Marte Mais perfeita do que a vida em seus últimos suspiros Mas ela não é Deus, como queria que fosse Mas não é 19/09/96 Um gosto doce desce minha garganta Ela paira como uma névoa em meu estômago E meu corpo todo vibra e se inflama Contra esta auto-mutilação física e psicológica Eu caio em um abismo grande e profundo E minha vida é arruinada conforme caio, e caio, e caio Sofro com cada investida, mas persisto Persisto como um homem sem amor Em busca de felicidade em um mundo infeliz E sem lágrimas para mais chorar Eu me contorço, e gemo, sem nada falar As luzes, fracas, se apagam por completo Uma negritude total invade tudo E eu me deixo levar Pelas criaturas que se alimentam De minha fraqueza, minha solidão 19/09/96 Meus olhos se fecham, como as portas da minha mente Viajo para meu passado, para minhas lembranças Visito amigos esquecidos, amores renegados Mas nada disto é real. Nada E não poderei mais ser feliz Pois nada disto é real Não poderei mais viver Pois minha vida não é real Não posso mais sonhar Pois agora tudo é real E meus sonhos nada representam A não ser a esperança de um homem Que um dia queria amar Mas este direito lhe foi negado E, condenado, ele vaga pelo mundo Que lhe foi duro e rude A vida lhe doeu até o último dia No qual ele contempla toda sua existência Para então chorar, chorar... Nada fez em sua pequena vida Nada de que se orgulhe Apenas coisas de que se arrepende
  • 7. Apenas coisas insólitas, coisas pequenas Coisas fúteis, que lhe distorce Por que ele nunca foi o homem que gostaria de ser Mas era o homem que era Era um homem comum Este homem era eu Este homem sou eu 16/09/96 O sentido de tudo se perde Enquanto eu penso em besteiras E meus amigos todos já se foram Apenas eu fiquei para olhar A noite que vai morrendo E o dia que vai nascendo Ninguém para abraçar Apenas lembranças de um dia feliz Em que nós fomos vistos separados Apenas gestos fabricados E nada mais do que isto O Sol me cega com seu primeiro raio de luz E me desperta para o vasto deserto que é minha vida Pequenos oásis nada são comparados ao grande deserto Apenas poças de esperança, que um dia secam Somente alívios temporários, pausas de minha dor Nada que possa ser levado a sério Pois nada poder me arrancar esta dor Que nasceu comigo, e me mata a cada dia Agora só vai anoitecer de novo mês que vem E então eu poderei descansar novamente Desta dor que tanto me aflige Poderei deitar meu corpo e então parar Para então finalmente compreender Que minha dor é eterna 21/09/96 Nuvens escuras encobrem meu sonhar Pois agora densas são minhas idéias, meus delírios E de uma chuva negra e triste se embebe minha vida Que se vê viva por um instante, para então murchar E voltar a ser aquilo que sempre foi: nada Até os portões do inferno se fecharam para mim E nomes nada significam agora que estou morrendo Porque nunca pude viver meus sonhos Que eu tanto queria viver realmente Mas nenhum deles pude saborear Porque a vida não foi longa o bastante E eu nunca fui bom o suficiente Para as por em prática, para as viver O mundo se escora em mim, para não cair Na mesma desgraça em que caí
  • 8. A desgraça de ser infeliz, de ser ruim E de ser infiel a si mesmo De amar alguém que não lhe conhece De matar seus sentimentos mais íntimos De amarrar seu coração no pé da mesa E só soltá-lo quando for tarde demais E assim, como um velho lobo expulso da matilha Ter que viver sozinho, e logo morrer Por não ter mais forças para caçar A sua felicidade 30/09/96 As correntes se quebraram, se partiram Mas eu não posso mais fugir Durante anos eu sonhei com este dia E agora que ele chegou eu não sei o que fazer Alguém me diga, por favor Eu não sei mais como é ser livre Porquê eu nunca soube E todas as respostas eu queria ter Mas tenho apenas as perguntas Qual será a verdade que me é escondida Pois tudo que eu conheço é mentira Tudo que faço é errado Tudo que queria não possuo Minha única companheira é a dor E o meu desejo, um amor Porém, meus sonhos nunca se realizam E eu continuo nesta escura prisão Que não tem mais paredes e nem correntes Ela me prende pois me deixou com medo Agora eu tenho medo de viver Tenho medo de ser feliz Me ajudem, me ajudem, eu imploro Me ajudem a ser normal Me ensinem a ser feliz Porquê eu nunca poderia esquecer O que eu nunca soube Eu só queria ser amado Eu só queria amar e ser feliz 08/10/96 Não é tão difícil quanto parece Ser feliz só é diferente Uma emoção cantante e legal Que rasga como luz as trevas da vida e da morte É a consumação de todo o prazer de um ser humano Se resume ao último suspiro de dor Ou ao primeiro de amor Ah, felicidade fictícia. Me descubra És tão pura e utópica, velha amiga
  • 9. Tão distante e brilhante Não poderei mais te desfrutar Porquê o destino me condena A eternamente infeliz eu ser Sem motivos para mais viver Eu deixo tudo de lado e desisto Não penso e não existo Não ando, não me movo Deixo a todos, e então morro 09/10/96 Lágrimas na escuridão caem de meu rosto Se não posso te ter não posso mais amar Só posso sofrer e gritar, em parar Não posso mais dormir, só sonhar E nos sonhos sou solitário como aqui Esta emergente angústia me faz chorar Eu queria fugir daqui, mas estou preso Estou preso neste mundo, como você Pelo menos estou preso com você Mas nada disso adianta. Nada O sangue escorre pela minha cabeça E a morte suga minha pequena vida E morro, enfim, para então dizer Que nada pode ser melhor Do que curtir o completo nada com você 09/10/96 És uma paixão ardente, que corre dentro de mim Que me mutila e me faz infeliz Porquê a primavera está acabada E o Verão já se foi Só me resta o Outono e os desejos Pois logo será o inverno E então tudo será como o inferno Aonde eu sofro todo que posso Aonde minha alma arde e se contorce E meu coração canta tristemente uma velha canção Aonde eu vejo todos se divertindo Enquanto eu choro e me isolo E onde eu vejo a ti, sem mim se alegrando Eu me vejo triste, e chorando A agonia se faz então minha própria vida E eu volto então para a curta Primavera 10/10/96 Pairando no ar, oh, vil objeto És tão misterioso e intrigante O que serias de mim sem ti?
  • 10. Leve-me daqui contigo, companheiro Pois estou tão só e triste E todas as pessoas são cruéis Leva-me daqui, leva-me para longe Leva-me contigo, por favor E tu, em formas abundantes me aparece Redondo, oval, cumprido ou triangular Tira-me daqui, leve-me para o teu lar Companheiro de descrenças, amigo meu Sei que tu existes, pois existo também És um grande segredo, como meu coração Flutua, grande peça de sei lá o quê E faça-me um pouco mais normal 10/10/96 Uma voz sussurrou meu nome Tentei responder, mas as palavras me fugiram Ao invés, apenas tive medo de tudo Apenas por não compreender nada Talvez mesmo que um dia compreenda Eu ainda sentirei medo Porquê o conhecimento nos faz enxergar o mundo de verdade E sei que a visão não deve ser nem um pouco bela Poderia ser a morte a me chamar Ou um demônio a me tentar Quem sabe um anjo para me salvar Nada mais importa, não para mim A vida é ruim, as vezes insuportável Não sei se agüento até o fim Afinal, está doendo tanto... E para mim são privadas as coisas Tantos sentimentos não sentidos Tantas risadas não dadas Tantos beijos não conquistados... Mas meu coração se aperta E eu sorrio, chorando Sozinho, sem ninguém ao meu lado Eu me lembro destas coisas Somente para lamentar por tudo Que fiz e não fiz. Mais pelo que não fiz Sou um covarde, e tenho vergonha Pois só seria verdadeiramente honrado Se cumprisse minhas promessas de fim de ano E dentre todas elas estava um pedido em comum Ser feliz e amar, mas como vejo, não devo ter palavra Pois estou mais sozinho do que quando nasci E somente quando for tarde demais eu poderei saber Quem me chamou naquele dia Se a voz tivesse as respostas que preciso Nada disso eu teria escrito Ela continua a falar, mas nada diz Só me resta enfim ser feliz
  • 11. Ou então fazer uma lobotomia 10/10/96 São todos meus amigos Que um dia me deixaram Não pude fazer nada A não ser chorar Por pessoas que um dia Eu cheguei mesmo a amar Mas que hoje não são mais nada Somente obstáculos na rua Dos quais vivo a desviar Talvez não fossem amigos Eram apenas ilusões Como aquelas que eu tenho Enquanto estou dormindo Só que eram tão real Que eu até mesmo juraria Que tudo aconteceu Mas como tudo em minha vida Foram somente os meus sonhos Que se extravasavam para o mundo real Em forma de poesia, amizade e tristeza Revejo tudo como um filme E como dói me lembrar Que um dia fui alegre e feliz E que como areia deixei tudo escapar Por entre meus dedos E que antes eu reclamava por nada E que hoje eu continuo reclamando Por coisas fúteis e pequenas Como não amar, e não ser feliz Como querer se matar Para enfim poder sorrir 14/10/96 E quando o Sol se pôr A muito eu terei partido Para ver as nuvens se secando E por ti ficar chorando Quando o Sol nascer Eu já terei ido embora Para viver apenas em tuas lembranças Como algo distante e incorreto Afinal do que me vale ser feliz Se todos estão chorando? O espírito humano não é mais o mesmo Porquê as pessoas já estão mortas Como árvores no meio de uma queimada
  • 12. Que o fogo não pode extinguir E quando o Sol de apagar Todos nós nos encontraremos na escuridão Para então cantarmos e dançarmos Sobre o alvo luar que paira no ar E então os acólitos da noite a nós se unirão Para celebrarmos o fim do mundo Beberemos muito, será legal Logo o frio dará lugar a um aconchegante calor Aonde poderemos desfrutar da felicidade Aonde seremos enfim nobres e compreendidos Pois estaremos todos mortos 16/10/96 Oh! Poderosa droga que me vicia! Faz de mim teu fiel escravo Contanto que me sirva a viagem pela tua vontade Me leve pra Saturno, me leve para a felicidade Que é curta e passageira, e me despeje, depois neste mundo cruel THC, Morfina, Crack, Heroína Me leve daqui, para nunca mais voltar Meus olhos, se fechando levemente Porém, as luzes não param de piscar Correm como cobras famintas e poderosas Cheias de Veneno, cheias de você Que corre em minhas veias, afetando meu cérebro E me fazendo levitar por campos verdes e bonitos Para acordar no escuro e frio destino, a realidade Oh! Viajem química! Quem te prova não quer te deixar Ou te deixa obrigado ou te deixa morto Quem te ama uma vez te ama eternamente Quem te quer agora é minha mente Que não consegue parar de pensar em ti Oh! Viagem química psicodélica viciante 21/08/96 Minhas desculpas são lamúrias Que ecoam pelo tempo e pelo espaço Tão ruidoso é o meu penar Que já esqueci de onde ele vem Talvez seja eu que goste de sofrer Mas me olho e percebo Que isto seria errado Minhas desculpas são súplicas Que se molham e se secam Que se cuidam sem minha ajuda Persistentes como são, nunca me deixarão E eu as odeio tanto... Queria ser você, queria ser normal Queria ser feliz, queria ser banal
  • 13. Mas meu destino é um barco sem vela Que é levado conforme a correnteza E que é virado com o mais leve vento Minhas desculpas são lamúrias Que carrego comigo desde a infância Adormecidas elas nasceram em mim E despertaram com minha primeira dor Queria morrer a viver e sofrer Mas não quero mais ser covarde Caminho então pela vida, acompanhado Somente acompanhado pelo meu destino Somente acompanhado pela minha dor E sem nenhum ou qualquer amor 15/09/96 O sono embriagante me invade E nada mais no mundo importa Só quero dormir mais um pouco Para escapar da realidade E sonhar apenas com coisas belas Pois no meu sonho não existem pesadelos Já me basta viver em um Dormir mais um pouco apenas Nada mais que isso Adentrar em uma enorme escuridão E dormir sem nunca acordar Nunca mais despertar Morrer de sono Morrer dormindo inocentemente Qual não deve ser o prazer De se deixar levar pela morte Enquanto Morfeu observa E aplaude de pé 17/10/96 Pura indefinição é minha vida Contemplo o passado e nada vejo Observo o presente e nada compreendo Suponho o futuro, e de nada tenho certeza Afinal, seria o homem dono de seu amanhã Ou condenado estaria, desde o primeiro dia A um destino certo seguir? Infelizes como eu serão aqueles Que não lutam por nada Porquê uma vitória só será saboreada Se o sangue de inocentes e impuros for derramado E a dor invadir todo o seu corpo Nada cai do céu Somente morte e desgraça
  • 14. E a felicidade, rara como Ouro Também se encontra das profundezas Só que da alma humana 17/10/96 Destruição por toda a parte Pessoas gritando de dor Outras implorando por amor Mas o mundo acabou agora E de nada mais adianta sorrir Só nos resta chorar Ao vermos nossos amigos mortos E gargalhar ao vermos nossos inimigos Que estão em covas rasas Só que de nada vale mais Sorrir ou se sentir bem Todos estão morrendo lentamente Nesta guerra maldita Que temos que travar Nesta guerra maldita Que chamamos de vida 22/10/96 Os mares vão secar E toda a terra morrerá As pessoas desaparecerão E só restará silêncio Isto é somente meu pequeno sonho Que um dia desejo realizar Pois estou cansado de viver entre tolos Que se vangloriam por serem humanos Caminho pelas noites, arrogante como sempre E o céu é minha vitrine sideral Olho para o céu sabendo que uma estrela não é estrela E sim uma coisa na qual ninguém mais crê Uma coisa que existe, mas ninguém admite Como tantas outras do dia-a-dia Crianças que vivem pelas ruas Ou as pessoas que vão morrendo por esta vida Ou pessoas torturadas pela sociedade E as criaturas que a controlam Pessoas que as vezes me questionam O motivo de todo este ódio E então eu respondo que o sinto Por causa de pessoas como elas Que conseguiram acabar com meu amor Que estupraram meu único sonho Que destruíram minha felicidade Que me tornaram o que sou
  • 15. Sou um ser humano que enfim descobriu Que toda sua raça foi um erro E que esta deveria morrer E que o espírito não existe Só existem fantasmas Que assombram a vida das pessoas Que as faz serem boas ou más Mas agora já é tarde Não existe mais desculpas Para o crime que foi cometido Porem crianças inocentes Neste mundo corrompido Deus, oh, Deus Bebeste quando nos criou? Se não, por que tudo isso? Por que tanto sofrimento, tanta dor? Deus, por favor, pare Não nos abandone agora Se não podes mais nos salvar Pelo menos acabe com nossa dor Não nos permita mais saber O quão longe podemos ir Não nos permita mais Pare agora, e cale-se para sempre Tua fraqueza foi tua misericórdia Deus, pare agora E não ouse derramar uma só lágrima Por uma vida humana Pois nenhuma vale isso Ou qualquer coisa mais Só lhe peço uma coisa a mais, Deus Comesse esta matança por mim 18/10/96 A terra está sugando o sangue Daqueles que lutaram tanto Para no final morrer Pessoas que sofreram tanto Por acreditar que um dia Tudo poderia mudar Só que no final sua recompensa é a morrer E aqueles que nunca sentiram A paixão de uma luta em seus corações De nada aproveitaram esta vida Porquê ela corre por seu corpo E te faz sentir bem Por te fazer se sentir vivo Por que de nada adianta lutar agora Pois a morte é sua recompensa O céu cristalino observa sinistramente As pessoas que vivem sob sua proteção
  • 16. Sabe que de nada adianta os acolher Porquê, no final, morrerá como todos E nada poderia fazer Assim como todos os outros Não será possível sobreviver Assim como eu, assim como vocês Assim como todos nós No final nada terá valido a pena Porquê a morte será nossa recompensa Do que adiantou lutar tanto Do que valeu sofrer desse jeito Para no final morrer Seria mais fácil sermos apenas felizes Para fazer a vida valer a pena Porquê ela só já dói tanto Que eu preferia não ter nascido Para ter como recompensa, no final Apenas a minha morte 22/10/96 Nada sou perante o Universo E nada sou perante vocês Porquê sou apenas um Entre o infinito E queria tanto poder ser alguém Mas não sou Assim como queria ser legal E ser feliz, e amigável Não sou nada disto Sou um grão de areia no deserto Uma gota de água no oceano Enquanto você é bem mais És uma estrela no espaço É o destino da vida de alguém Você é tudo E eu sou nada É engraçado pensar Que no fim somos a mesma pessoa 22/10/96 Não quero mais me lembrar Que posso amar Não quero lembrar Que posso me machucar Pode ser bom durante o ato Mas no final alguém sempre se magoa E eu não quero mais me magoar Porquê nunca pude suportar A dor de se despedir
  • 17. A mágoa que me faz chorar O medo de ser infeliz E o ódio por se deixar levar Por emoções tão primárias Quanto o amor e a paixão Queria não poder sentir nada Nem amor, nem ódio Somente paz Que persigo tanto Sem nunca alcançar 24/10/96 É tão odioso passar os dias Dentre 4 paredes brancas e chão sujo Aonde heróis cretinos tentam, incertos Martelar idéias sem sentido em nossa mente Lavar nosso cérebro, e se possível nossa alma Pessoas ou zumbis Controladas como bonecos pela sociedade E que tentam desesperadamente Amarrar-nos cordões de controle Para sermos manipulados também Nada de real aprendemos Apenas coisas que nunca usaremos Somente lixo cultural Que todos insistem em dizer Que é ouro Mais vale se viver uma guerra E levar tiros e estilhaços Do que se deixar levar Por simples bonecos E passar os dias atrás dos livros Que falam sem nada me dizer Nada que queira aprender Nada que possa aproveitar Já esqueci até mesmo meus sentimentos Por causa desta maldita lavagem Que conseguiu estragar minha doce vida Que deveria ter o verde dos campos E o azul dos céus E agora é só preto e branco De meus livros de colégio De meus cadernos rabiscados Das anotações deste poema Da minha carta de suicídio E de meu testamento Tudo por causa desta lavagem Desta maldita escola Da maldita escola da vida 05/09/96
  • 18. Queria tanto poder te falar Que já não sou uma criança E que choro por tolices Que choro pelo seu amor Mas as palavras me viciaram E eu não sei mais falar Só o que sei fazer É amar você Por favor, olhe para mim E me diga se pode algo assim Amar como estou amando a ti Teu gosto imagino em minha boca E tua pele eu sinto em meus sonhos Queria tanto te tocar Mas você está tão longe E de nada me valerá Dizer que um dia amei assim Se nada fazer para te ter E é por isso que eu choro Por seu um covarde que ama Que tem medo de ser rejeitado E assim evitar a dor Só queria olhar em teus olhos E ignorar tudo ao redor E olhar em tua alma E te abrir meu coração E mostrar toda esta dor Que agora morreu Por causa do amor Como uma flor que nasce no inverno E dura até o verão Este sou eu agora Sou eu chorando de emoção Queria só dizer Que te amo mais que tudo Mas as palavras não queriam sair Até desmaiei de prazer Porquê sonhei com você Desmaiei ao acordar Saí de meus sonhos profundos Aonde você ma amava Tanto quanto eu te amo agora Meu sonho é esta realidade Aonde nada posso mudar Nada a não ser O amor que sinto por você Não quero mais te chamar a atenção Só quero dizer o que já disse Só quero acreditar Que posso ter esperanças De que um dia, talvez Nós possamos ser mais do que amigos
  • 19. Porquê algo assim não é passageiro É coisa para vida inteira Meu coração a sangrar E a pulsar esta paixão Que me fez chorar E novamente perder as palavras E nada te dizer Somente a coisa que você já sabe Somente coisas legais Não sei se você gosta de mim Mas isto não me preocupa Não mais Pois se você estiver feliz Eu estarei também E se quiser que eu me cale Eu não falo mais Eu não quero que você Fique triste por mim Se não me queres Tudo bem Só te peço uma coisa Preste atenção Se não podes me dar teu amor Dê-me carinho e compreensão Não tenho ninguém nesta vida Somente a mim e minha mente Somente meus irmãos Só uma dor no coração Que agora voltou Já que meu amor não pode ser possível Não pode ser verdade Alguém te amar como eu te amo Mas me parece tão real Que eu não sei se posso acreditar Afinal vivo meus sonhos Mas este amor é de verdade Chega a ser palpável Pra não dizer tangível Não é absurdo dizer Que eu amo você Pode ser mentira Talvez eu esteja sonhando Nada poderia ser tão bonito Neste mundo real e cruel Nada poderia ser tão bonito quanto você Só este amor galopante E eu que tinha vergonha de te dizer Que sentia algo tão bonito Quanto o amor Agora imagino como seria Se eu realmente lhe disser Eu sonho toda noite Em te dizer tudo isso
  • 20. Mas ainda não sei Se é o momento ideal Só sei que te amo tanto Que estou quase a morrer E de nada irá valer Você saber e não querer O meu amor por ti 05/11/96 Deixarei de sofrer no dia em que morrer Ou no dia em que acordar Deste pesadelo horrível Que é minha curta vida E ao abrir os olhos eu não vi você E por causa disso eu chorei de medo Por pensar que você havia me deixado Mas então percebi Não havíamos nem sequer nos achado Neste mundo cão Que me separa de meu amor Amor que nem conheço o rosto Mas sei que existe em algum lugar E que está também a me procurar Será que é verdade ou sonho Que um dia nos encontraremos de verdade E nosso sofrimento acabará Meu amor pode estar ao meu lado E cego de amor eu não posso enxergar Pois procuro uma beleza que não se pode ver Porquê não posso me perder agora Que estou tão perto de ser feliz Agora que o amor bateu em minha porta Eu não posso me perder de ti agora Que eu te encontrei E mesmo que você não me ache Eu juro que um dia hei de te achar Se já não achei Dentre pessoas tão próximas As grades estão se abrindo E meu coração poderá voar de novo Se é que algum dia já voou Eu não me lembro se isso ocorreu Eu só quero o que é meu O direito de amar livremente E o direito de ser amado por alguém Eu só queria poder te beijar Mas antes terei que te conquistar Como é injusto amar assim Sem poder ser amado por quem se ama É triste e gelado o meu amor agora A chama que outrora aquecia tudo
  • 21. Se apagou por não ter mais o que queimar Mas eu tento continuar a teimar Em ser um pouco mais feliz Desgraças eu vejo todos os dias E vivo sempre a reclamar Mas talvez no dia em que eu te achar Você venha até mim e me beije E eu serei feliz novamente E poderei cantar e dançar Teus olhos são verdes E tua pele é macia e quente Tão quente que me ascendeu novamente A chama da vida e do amor 05/11/96 No Inferno gemidos ecoam alto E meu nome é gritado com força Eu sou só mais um diabo na Terra Eu sou um diabo que queria ser anjo Mas como diabo eu só posso ser ruim Meu peito se aperta em dor E eu não posso mais conter este ardor Que queima minha alma e minha mente Que me faz querer matar toda esta gente Não posso mais conter meu grito de dor Eu quero gritar para me livrar deste carma Não posso mais te levar adiante meu amor Porquê daqui o abismo não possui mais volta E eu quero cair sozinho, meu bem Portanto procure outro buraco Que não seja eu para se afundar Não quero mais te machucar Não mais, meu amor, não mais Talvez tenha sido um erro seu Pensar que eu sou como os outros Só sei que normal eu não sou Porquê eu devo ser um demônio Que se encharca de sangue de fetos inocentes E dança a noite toda entre labaredas E que ama sofrer com toda esta dor Mas isto nada quer dizer, meu amor Só quero dizer que eu sofro Porquê sei que eu te amo mais do que a mim E que você me ama mais ainda Mas nunca terá coragem de me dizer 14/11/96 O céu está escuro como a noite Mais o Sol ainda brilha
  • 22. Meus olhos estão abertos Mas não posso enxergar você Me perdoe por te fazer sofrer Acredite, foi sem querer Não queria que você soubesse O quanto dói não ser amado Não que eu quisesse Mas eu já me sinto ultrapassado Se não posso mais te ver Do que valeu viver Se não posso mais te sentir Do que adiantou eu nascer Desculpe, mas prometi a mim mesmo Que nunca iria chorar por esta dor Se você vai embora, vá agora E nunca mais olhe para traz Porque você pode se arrepender um dia E pode querer voltar Mas com certeza já será tarde demais E a chuva molhará minha sepultura cinza E a chuva se misturará com tuas lágrimas A partir daí você sentirá o que eu senti 14/11/96 Gosto de escrever coisas Que ninguém lerá Assim não tenho que me preocupar Em ser bonito ou descontraído Ou então ter que tudo rimar Assim posso ser eu mesmo Assim posso chorar Minhas lágrimas são a tinta desta escrita E esta escrita , minha alma despida Sem enfeites ou belezas Somente minha alma Sem maquiagem , sem brilho Não é bonita , não é legal Mas posso garantir É puramente real Pois posso gritar E ninguém ouvirá Assim como em minha vida real Real é esta escrita maldita Que me vivia como cocaína E que me tenta como um demônio Me tenta a escrever os versos Versos perfeitos , diabólicos Os versos mais perfeitos do mundo Mas nada disso posso fazer Somente desejar Somente idealizar
  • 23. Os versos que queria tanto cantar E as coisas que eu queria falar A areia é escaldante e clara E meus pés eu já não sinto Eu caminho , para a frente Não amigo , eu não minto Minha jornada está chegando ao fim E a vida eu tenho que aproveitar Não fique preocupada por mim Agora eu vou poder sonhar Minha alma está logo a frente E por mim ela clama Me sinto tão contente Ouso uma voz que me chama Já caminhei muito até aqui E voltar está fora de questão Só voltarei por você , amor E por mais ninguém Só que talvez seja tarde demais E eu não possa mais voltar Desta viagem louca Que todos falam que é viver Por favor , amor , me chame Me dê um motivo para viver Agora que encontrei minha alma Eu vejo que ela está morta E só meu corpo oco vaga pelo caminho Que abri em sua busca Me chame de volta , por favor E preencha o espaço que foi de minha alma Com o teu mais puro amor 19/11/96 Nesta tarde de Outono Minha lágrimas molham como a chuva que cai lá fora E meu coração ferve de dor por mais uma vez Por ter sido traído por meus sentimentos Por mais uma vez ser rejeitado sutilmente E seguir meu caminho olhando pra traz Somente para chorar por coisas assim Que só me fazem sentir mal Não posso viver só com o amor de Deus É muito mas falta uma coisa ainda Me falta o amor de uma mulher de verdade Que me queira como sou E que goste de ouvir Rock'n Roll E que chore ao ouvir meu coração Que grita nestas letras de emoção E que aceite que eu também a ame Assim como eu nunca amei Eu só quero alguém pra vida inteira
  • 24. E já não estou nem aí Se eu morrer agora Porquê não tenho ninguém Assim como ninguém me tem Eu não queria mais chorar Mas é tão difícil quanto matar Matar um coração que pulsa Por outro que pulsa também E calar aqueles que se amam Para não invejar este amor Para não invejar o que não tenho Para nunca lembrar deste dia Em que meu coração tanto sangrou E amargo é o sangue que veio a minha boca E que não o cuspi por medo De esquecer que um dia sofri por amor E por isso esquecer que um dia amei E assim não lembrar que sou como todo mundo Só que mais infeliz e triste E desprovido de sorte emotiva Queria morrer e deixar tudo pra traz Meu bom Deus, que me ama tanto Porquê não posso amar ao próximo? Porquê não posso ser feliz? Porquê não posso sorrir de verdade E beijar aquela que amei? Porquê não poderei ter filhos? Porquê sou assim? Tão complicado assim? Queria entender estas coisas E queria não ter que perguntar Seria mais fácil eu não ser eu E sim outra alma em meu corpo Outra pessoa vivendo minha vida Ou então um milagre de Jesus Ah, Jesus Mostre-me o caminho para longe daqui Mostre-me o caminho para a felicidade Mostre-me o caminho para o amor de uma mulher Porquê o seu eu já possuo 20/11/96 Tudo já se foi De um jeito gostoso e fabuloso Agora encontrei minha razão Antes não havia harmonia Agora entendo por que Tudo já se foi Para dar lugar a algo maior em meu coração Para esquecer meus problemas Mas ainda sim não ser de todo feliz
  • 25. Já não choro por meras tolices Mas ainda sofro por não possuir o que quase todos tem Recuperei minha verdadeira vida Aquela em que sei que Deus e Jesus me amam Mas que nenhuma humana seria capaz De querer compartilhar É verdade, ainda choro por um amor Mas não como antes Antes havia dor desejada Agora só tenho dor repelida Dor que realmente não queria dentro de mim Mas que tenho que conviver Mas que tenho que combater Tudo que peço é uma mulher Tudo que peço é uma mulher que me ame Como eu a amaria O amor por Jesus é infinito, eu sei Mas meu coração é ainda maior Se não, por que tamanha tristeza Por que tamanha dor Por que tamanho desejo Tudo que tenho a oferecer é minha dedicação Já nem tenho mais vergonha de implorar Pelo amor de uma mulher E Deus ouve isto de mim todas as noites E somente ele sabe por que não posso 27/11/96 Não ouças minhas palavras Não ouças minhas suplicas Apenas ouça meu coração Está a pulsar, forte, firme Mas não serás assim para sempre Um dia deixarás de bater Assim como o teu E de que terá me valido viver, ó Senhor Se nenhum amor além do teu eu tive Se não fui capaz de despertar amor em mulheres Talvez eu não seja digno do teu Pois assim sendo, eu não sei o que é amor Se não posso sentir o que os outros sentem Isto me torna um aleijado É. É isso. Eu sou um aleijado Um aleijado que não sabe andar Uma pessoa que não sabe amar Seria a morte minha amante? Não. Tão sinistra e bela, dama da morte Ela é assim como eu. Destituída Sem direito ao amor 27/11/96
  • 26. E quando a chuva de minha vida acaba Minha primavera se esvai em agonia O outono me torna mau e arrogante Pois minha chama se apaga a cada dia O inverno adentra em mim ainda jovem E se perlonga até o infinito O verão ainda não chegou aqui Nem frutas e nem flores, nada é bonito O vinho que provas é meu sonho de liberdade Te embriaga e te enoja, te vicia e te destrói Monta em ti como cavalo de montaria Te domina como potro, te comanda como dono E correndo ao lado do abismo da loucura Você contempla a insanidade e se questiona Se quem é louco é você ou são os outros Olha o teu medo com os olhos fechados E o sente se aproximar e te devorar até a alma Confuso você se acha uma vítima Mas no fundo você é o pai desta criatura Ela surge das profundezas de sua mente E mastiga seus pensamentos como pão Te castiga para sempre A ser somente mais um dentre muitos E enquanto você lamenta, sua vida se acaba Escorre como lama pútrida para o fim de uma rua Corre em direção ao infinito E tudo que encontra é o nada absoluto Surpreso com a idéia você dá gargalhadas E chora de medo por estar louco A loucura A loucura é uma bosta Uma merda em que você se atola todo Para nunca mais poder sair Apenas afundar, afundar... Para emergir em um mar sagrado Onde pessoas foram sacrificadas Por outras que dizem amar a Deus Mas que só querem é poder E nada mais resta no mundo para ser corrompido A não ser meu coração loucamente insano Que pode não ser o mais perfeito E que é imaculado como uma virgem Porquê ele ainda é virgem Assim como meu corpo esguio Que deseja tanto mas não é desejado E que agora abdica deste sofrimento eterno A que essa loucura me condenou Todos estão loucos, todos Só me restou minha insanidade Mas não posso mais me dar ao luxo De amar pessoas adoráveis Que não querem me amar
  • 27. Por isso sou louco Sou louco porquê cansei de sofrer Sou louco porquê cansei de amar 29/11/96 Estou louco Enlouqueci completamente Não posso mais viver assim Porquê estou louco Minha loucura é palavra não dita É morte contida Dentro de uma sepultura Sou louco por acreditar em Cydonia E na foto 35A72 Sou louco por acreditar nas pessoas Sou louco por pensar Que um dia viveremos juntos Com amor e prosperidade Enquanto que a realidade Grita-me que não Grita-me que sou louco Pois você nunca me amará Como amo a ti Perguntei ao Pajé Se podia enlouquecer um dia E ele me disse que eu já estava louco Só por perguntar Talvez os donos desta casa Me deixem morar aqui mais um pouco E assim eu possa sonhar mais Somente com você E assim vou abastecendo minha insanidade Que se ergueu de minha fraquezas E de minha chagas no coração Que vem pulsando fraco Mas contínuo e compassado Atrás de você que me viciou Sei que nunca mais nos veremos Sei que nunca lerá isto Mas saiba que ainda penso em você Mesmo agora, tanto tempo depois E fico a imaginar como teria sido Se eu não fosse o covarde que fui Com medo de te perder por completo Me perdoe por não dizer que te amo Me perdoe por ser louco 10/12/96 Fim da Ilusão - Realidade Bruta
  • 28. Era só o que eu não queria Ficar em pé e te olhar Tão bela e graciosa Amando a outro e não a mim Pode até ser egoísmo Mas não quero mais me trair Já chorei por ti durante a noite E sofrer sem gritar é ruim Meu coração não sabe falar Só sabe escrever e ouvir E é por isso que sou assim É por isso que não sou feliz Porquê feliz seria eu Se te fizer acreditar Que tenho um amor que nunca morrerá Ao contrário, como agora Só poderá continuar a crescer Sem nunca mais parar É tão difícil de dizer Que te gosto mais que a mim E escrevi tudo isso para ti Só para dizer que meu coração Se espanca por você todo segundo E que meus pensamentos Não me dizem mais nada A não ser o teu nome A não ser tua imagem E eu aqui, tão triste e só Querendo lhe entregar Coisas que são de seu pertence Minha alma Meu amor Minha vida Queria tanto te ver assim Tão bonita, tão forte Tão minha musa e minha paixão Já chorei por muito tempo E quero te ter comigo Mas sei que não posso Porquê você parece tão feliz com o outro Mas acalento esperanças tolas De que você volte atrás E me pegue em suas mãos E me deixe te fazer feliz Assim como eu queria que fosse Meu sonho de criança Te ter comigo, bem perto E sentir esse teu perfume, único e tentador E tua pele, um veludo Me abraçaria uma vez E eu estaria feliz Assim como és agora, desejo
  • 29. E eu seria o que na verdade eu sou Seria um homem feliz Que te amaria ao máximo Que um homem pode amar uma mulher Eu queria parar de sofrer assim Para degustar do prazer que seria Ser teu par pelo resto da vida Não serão estas palavras que te convencerão Mas sim meus atos Porém, não sei o que é necessário Para te fazer em mim crer Em minha adoração e amor por ti Pensei em um beijo Um simples e molhado beijo Mas me contive, infinitas vezes Para não acabar com o pouco conquistado Eu te amava e amo tanto... Mas não tenho coragem de tentar te beijar assim Pois é tanto o amor Que tenho medo de desagradar Eu sonho em te tocar E te sentir em mim Em meu corpo, em minha alma Pois estou em uma agonia tremenda Antes eu pensava em você durante o dia Agora penso também durante a noite Sem contar em meus sonhos Antes pensava em você na colégio Agora penso também no trabalho Sem contar em meu descanso Não consigo te apagar de mim Não quero parar de pensar em você Pois descobri que te amo Quando penso em você, nada mais importa O mundo pode acabar ou pegar fogo Mas só você me importa Pois é só a você que eu amo assim Por que você me drenou tudo de ruim E me acolheu quando eu mais necessitava Em teus braços amigos Mas agora eu te quero toda Por que te amo de um modo diferente Daquele que você queria Eu te amo mais que tudo Não sei se é errado amar-te assim Se for, peço desculpas Mas agora é tarde para evitar Não sei o que fazer E não quero te forçar a nada Só peço teu amor O mesmo amor que tenho por você Este amor que ultrapassa meus obstáculos E me faz ter esperanças em tudo
  • 30. Sobretudo em você Eu queria poder te beijar Tanto é meu desejo por você Que acho que vou chorar De dor e sofrimento por este amor Tão grande e bonito Que nasceu em meu peito E está quase a explodir Eu quero te abraçar, te amar Mas temo que seja improvável Que você deixe a aconchegante e segura luz Que é teu romance com teu amor Para se aventurar nas sombras distantes Que são meus sentimentos de paixão Que possuem um único guia: Meu amor por você Não queria te implorar teu amor Só queria que tudo pudesse ser diferente E que nós fossemos amantes eternos E que fossemos parte um do outro Mas devo ter chegado tarde Só queria que soubesse Que te amo muito mais do que pude explicar E muito mais do que seria possível Se não tivesse te encontrado 02/12/96 Monastério de Coração Aberto Quem te disse que eu gosto de preto e branco? Ou que sou contente com o que tenho? Ninguém sabe, ninguém pode dizer Ninguém pode mais me conter Eu quero explodir como um vulcão E mergulhar na lava, tal qual minha paixão Só com você, e sem mais ninguém Quero me matar, quero te ter Quero te possuir Para poder parar de gemer E enfim poder viver Talvez ninguém possa responder Por que não pode ser assim Algo como uma nova pessoa Tipo o cara que conquista a todas Mas o problema é que eu quero você E é você que tem que ser minha Por que eu já sou seu Desde o dia em que te conheci Te desejei, me apaixonei Assim como poucos são capazes de fazer Como eu vivo este amor tão grande e forte
  • 31. Que rasga-me por dentro como lâminas Queria te beijar, te apertar, te afagar Queria você dentro de mim Só espero que um dia Você venha a me querer dentro de você Para que eu possa deixar para trás Todos os dias em que vivi Só para curtir o amanhã ao teu lado Sem ligar para os outros Mas você é tão cruel Podia bem largar tudo para ficar comigo Deixar para trás essa paz e segurança De um romance subjetivamente furado E se aventurar pela vida comigo E juntos seríamos felizes e alegres Tão forte é tudo isso que possuo Dentro de meu peito Tão forte é esse desejo louco por você Tão bruta e fatal é esta paixão Solte-se destas amarras Em que você se aprisionou Ignore o que sua mente lhe diz E siga seu coração até o meu Não quero pena, quero amor Ou isso ou nada mais Já cansei de ser bom Não quero mais implorar Só que eu nunca implorei E também nunca falei Devia ser mais fácil Se abrir para a mulher que se ama Mesmo que esta já tenha outro Devia ser mais fácil Dizer a verdade e agir corretamente Se expandir invariavelmente Para cima e para dentro de si mesmo Devia se mais fácil Dizer que te amo E ser feliz com você E passar o resto de minha vida ao teu lado É mais que um sonho, é uma jura Mas sou um condenado A passar meus dias solitário Por ser tão burro assim E ainda assim nutrir esperanças De que um dia você me queira Como homem, como amante Por que não paro de pensar em ti E em como eu seria completo Se você me aceitasse como o que quero ser Como teu tudo, como tua base Como teu amor eterno, como seu homem Para te amar pela eternidade
  • 32. Antes que eu deixe-me levar Pelas águas que transbordaram Do rio chamado vida 04/12/96 A chuva não parou ainda E nunca mais vai parar A chuva vai molhar a tudo e todos E continuará até o amanhã Está não é a previsão do tempo É a previsão de minha pobre alma 10/12/96 Já derramei muita coisa nesta vida E perdi tantas outras Sangue e lágrimas Amor e paz Mas desistir é tão difícil agora Que vislumbro o horizonte avermelhado E vejo nele meu destino O de caminhar sempre a frente Mas dando as costas ao amanhã Não estou mais amargurado Me sinto até um tanto anestesiado Por ter sofrido tanto em tão pouco tempo E ao mesmo tempo tudo ser tão bom Não sei o nome desta coisa Que me faz sorrir e chorar Que me fez tanto desejar Ser melhor e feliz Viver de verdade, como todos Não sei se é bom ter esperanças Só sei que as tenho novamente Vou me machucar Assim como já me machuco Só não sei se vale a pena Pensar assim novamente Mas eu penso Penso em como perco tempo Penso em quanto eu poderia ser feliz Mas eu não fui Só fui triste, como agora Mas é tudo tão diferente agora Prometi que não ia mais fugir E não é agora que vou embora Não é agora que darei-te as costas Não é agora que deixarei de lutar Lutar por você, doce criança Que insisto em chamar de mulher Queria saber no que pensas
  • 33. Já que não pensas em mim E eu só pensando em você Antes de dormir, depois de acordar Durante sonhos confusos Teu rosto alivia minha desgraça Por que posso sentir Mesmo sem você me tocar Só que não posso te fazer me amar Por eu ser o que não sou Só sei que estou só O que me deixa desolado Por que eu quero te abraçar Mas outro te abraça agora Eu queria te beijar Mas outro te beija agora Só me resta lamentar Pois esta é uma luta Que só posso ganhar em seu coração 29/11/96 Morcegos da Meia Noite Eu disse não Para as coisas boas Eu disse adeus Antes de dizer olá E a chuva cai sobre o campo E chove tanto agora Que não sei se alguma coisa Será capaz de suportar tal força E a chuva forma poças E as poças se unem E juntas formam um lago Que logo depois vira um oceano Que escorre para dentro de si mesmo Assim como as coisas que abandonei Mesmo antes de conhecer Lamentei todos os dias Mas não posso olhar para trás Por que você nunca entenderia Por que fiz o que fiz Sofro por não sofrer O que eu devia sofrer E nem curtir minhas dores pude Por que todos tentam me anestesiar Dessa dor que não tem causa E nada posso saber Sem beber o teu sangue morno Sem possuir o que te faz viver Sem compreender as coisas estranhas Que se passam por minha cabeça
  • 34. E que eu não compreendo Agora abandono o jogo Agora largo tudo para me despedir Já que você não vai mais me ver Se é que viu algum dia Duvido que seja assim Tão triste e estupendo Tão ardente e bonito Mas meus desejos não importam O que importa é você Se é que é você Não sei se devo Te chatear com meus medos Mas agora eu já chateei Foi sem querer E agora eu nunca mais te verei Atrás do espelho em que me vejo todos os dias E nem na frente das pessoas com quem convivo Não mais te idolatrarei em meu templo , meu quarto A noite, no escuro e sozinho A pensar em você E minha cama vira uma jaula Aonde eu estou preso sem ninguém E aonde os morcegos me fazem companhia Enquanto o relógio bate 12 vezes Assim como pulsa meu sangue Assim como vagam meus pensamentos Assim como meu corpo morre a cada segundo Eu lembro de você durante todo o tempo E não faço força para tentar esquecer Por que eu estou no Inferno E lembrar de você é bom Meus lençóis tomam vida E tentam me matar Mas eu não ligo mais Por que tudo perdeu o sentido No dia em que nasci No dia em que te conheci No dia em que me apaixonei E agora só voltará a ter sentido quando eu morrer E talvez assim as coisas voltem A ser diferentes novamente Agora é tudo tão normal Que nada me surpreende Só você Eu não devia lamentar Por coisas imprudentes Que realizo durante minha caminhada Para a morte final Mas dói tanto ser privado De coisas tão primárias Que me sinto roubado Por pessoas sujas e anãs
  • 35. E isso me ira por completo Todos tem o direito de sofrer pelo que fizeram E eu só sofro pelo que nunca pude fazer Não há sofrimento pior Do que gostar de alguém E não ser capaz de lhe dizer tal coisa Seu coração se aperta tanto Que parece que vai sangrar E eu rolo pela cama, sem conseguir dormir E tenho terror quando vejo que é meia noite E que todos estão se divertindo E que eu estou aqui a me martirizar Por coisas tão profundas e vagas Tão ríspidas e impróprias Para uma pessoa como eu Que nunca se deixou machucar assim Como você me machucou agora Machucado bom e gostoso Mas ao mesmo tempo diferente E estranho e dolorido Eu era virgem desse sentimento tão grande Agora sou completamente maculado E cansado de sofrer resolvo abrir minha jaula E deixo os morcegos entrarem Para sugarem-me todo o sangue Só assim posso descansar desse sofrimento De te desejar sem poder te possuir, para sempre Só assim vou esquecer que te amo 14/12/96 Meia Hora Já era cinco e meia quando me toquei Que nunca havia feito nada Era cinco e meia E eu não era nada Lembrei que devia ter feito coisas Mas nada foi feito por minhas mãos Que não sei como eu amarrei E agora tento livrar Eram cinco e quarenta e cinco Quinze minutos de solidão Em que eu tentava me libertar De minha armadilha, minha prisão Em que correntes me cortam a carne Eu ainda estava preso Dentro daquele limbo escuro Onde eu não via nada A não ser medo Cinco e cinqüenta Mais cinco minutos
  • 36. Neste claustro escuro e afóbico Aonde meu suor molha minhas roupas E meu sangue escorre e pinga Com um ar grosso e pesado Difícil de se tragar Parece um pesadelo Mas é verdade mesmo Somos todos nós, presos em nós mesmos Imersos em nossas pretensões E às seis em ponto Seremos capazes de entender isso 14/12/96 A Mística dos Senhores da Verdade Sublinho coisas esquecidas pelas pessoas Que queriam esquecer coisas esquecíveis Mas não podiam por serem coisas inesquecíveis Só Deus sabe a profundidade de nossas almas Somente nós mesmos poderemos ir até o fundo E refletir em como mudaremos nossas vidas E em como seremos esquecidos no futuro Assim como milhares de pessoas Todos os dias e meses e anos Esquecidas como as tragédias Como as coisas pequenas e singelas Como a dor física e a vida Só lembraremos do que importa Do dinheiro, da arrogância e da miséria Não somos estes monstros que criamos Somos algo mais sórdido e idiota Somos humanos que pensam que são Deus Somos simples e pequenos idiotas Que possuem arreios e não podem olhar para os lados E assim não podem ver os irmãos sofrerem 16/12/96 Lágrimas Secas Eu rezo toda noite Para que Deus me perdoe Eu oro por meu futuro Pois temo meu amanhã Por que sou fraco E os fracos não sobrevivem A cruz me conforta Como confortou Jesus Queria sentir aquela dor Para não lembrar das outras
  • 37. Que me atormentam a vida Pequeno como um tudo É assim que me sinto Pequeno como tudo que é pequeno Como tudo que é baixo Como tudo que é fraco Felicidade? Talvez um dia Agora curto minha embriagues Pelo excesso de raiva e medo E dor e sofrimento Me benzo mais uma fez Minha fé parece reflexo Minha vida vai perdendo sentido Sem uma âncora nessa terra Sem uma mulher que me ame Eu quero é me matar de novo Eu quero é acabar com essa espera maldita Eu quero largar tudo agora E sumir para longe de tudo E ir para algum lugar Onde eu não fique triste e só 14/12/96 Na Beira do Caos Jamais queira me dizer Que não sou esta figura decadente Por que sei que sou Jamais tente me obrigar A ser o que não sou Jamais venha até mim Apenas para sentir pena de alguém Jamais me diga O quanto é ruim ficar sem ninguém Eu já sei a muito tempo Eu jamais menti Quanto ao fato de ser infeliz Ou o de desejar ser amado Ou ainda o de querer morrer Para por fim a este absurdo Que é a vida em que vivo Vendo gente feliz, gente triste Gente rica, gente pobre Gente boa, gente ruim E não ter coragem para fazer nada 16/12/96 As Últimas Descobertas Agora estou aqui
  • 38. Agora eu realmente estou aqui Agora acordei de meu sonho Agora acordei para esta desgraça Não posso mais olhar com os mesmos olhos Que olhava antes tudo que havia no mundo Não quero mais sofrer em ter que chorar Para provar que me importo com tudo isso Enquanto que na verdade não ligo para nada Não mais, não mais Antes eu era um sonhador, esperançoso Agora estou aqui de verdade Posso sentir a realidade me atropelar Posso ver meu passado se distanciando de mim Enquanto que eu aceno para ela E sinto algo indescritível dentro de mim É medo e tristeza de perder tudo aquilo Inclusive pessoas com quem me preocupava E que agora me viram as costas Por erros cometidos em um passado sombrio Cujo objetivo era apenas me ferir Ah, meu passado, minha infância Minha tristeza imensamente grande E meu ardente desejo de amor contido Quantas foram as que desejei e nunca possuí Quantos foram minhas paixões frias Que explodiam dentro de mim E que eu não era capaz de liberar E de todas, a maior A última, a atual, a eterna A única, condensada paixão Tão lírica e poética esta cria Tão jovial e alegre Mas ao mesmo tempo triste e infeliz Em não poder ser expressa Por minha boca, por meu corpo Desejo infinito contido em mim Infinito sentimento, infinita dor Tardio foi meu desencadear Pois ao encontrar o que acredito ser a certa Percebo que nada mais vale a pena Pois não sou feliz em dizer Que cheguei tarde demais E que nada no mundo vai me confortar Em saber que eras tu minha metade Que é minha metade Pronta para me amar e ser amada em dobro Mas tarde e infeliz foi minha descoberta Resta-me sentar aqui e esperar pela morte Já que você não pode ser minha Resta-me me arrastar até o início E vislumbrar novamente meu passado Para enfim compreender para que foi que nasci Meu passado...
  • 39. Amigos largados pelo caminho Sinceridade à flor da pele Energia absoluta correndo dentro de mim Para no final não serem úteis a nada Nem ao menos a mim Que não fui capaz de realizar nada Nem o básico do básico Felicidade Felicidade é igual a paz e amor É igual a labuta e a você E eu não fui capaz de nada disso Assim como em toda minha vida Meu passado, meu presente, meu futuro Minhas descobertas pessoais Nunca deixei ninguém ler-me Por que não achava boa idéia Mas agora eu acho que devo Não só pedir, mas também implorar Por tudo que eu sempre quis Mas eu não posso Meu passado me obriga a ser assim Tão impuro e indigno Tão casto e complexo Só consigo afastar aos que amo E atrair pessoas ruins e pensamentos maléfico Mas cansei de ser este pedaço de carne podre Cansei de me cansar de tudo Não posso me cansar de coisas tão belas De coisas tão boas e felizes De coisas simples e inocentes De coisas legais, e inteligentes De coisas como você Agora o passado se foi por completo E eu estou livre para sonhar de novo Agora eu posso mais uma vez Machucar meu coração e gemer Posso mais uma vez desejar E gostar e curtir tudo que não tenho Para mais uma vez cair em minhas próprias razões E acordar de novo em minha cama a noite Com medo e sozinho, para sempre? Meus sonhos me dão esperanças novas e verdes Que quase nunca se enraízam em minha alma Esperanças puras, límpidas De que um dia eu possa ter-te comigo E assim eu não possa mais chorar E nem mais nada temer, só te perder Haveria comigo algum carma De não poder viver em paz sem amor? Eu olho para a escuridão, e vejo meu passado novamente Corro para longe, mas ele me acompanha Só quero ajuda para mudar tudo isso Quero ajuda para mudar meu passado
  • 40. Quero ajuda para me mudar por completo Quero ajuda amor, para conter minhas descobertas Quero ajuda amor 16/12/96 Andarilho Todos os lugares estão desertos Enquanto eu caminho em direção ao Sol poente Todos estão escondidos e com medo E eu vago por entre os mortos que sobraram Não estou com medo, mas assim mesmo espero Encontrar minha morte logo a frente E isso é o que não quero Ainda tenho muito o que fazer Várias coisas para terminar E tantas outras para começar Estou com sede e fome, mas não paro Continuo a caminhar pela estrada, solitário Não vejo nada de que goste E por isso eu não paro em lugar nenhum Talvez um dia eu enxugue o suor de minha testa E descanse meu corpo fadigado Mas até lá eu devo caminhar em frente Sem nada encontrar Explorado, humilhado, violentado A vida toda, a toda hora Confuso eu deixo de andar e paro Para lembrar por que estou aqui Procurava algo que esqueci E toda a prova não consigo me lembrar Deixo de pensar besteiras E continuo a caminhada Afinal amanhã é outro dia E haverá muito o que andar 17/12/96 Crença Enegreceu-se tudo de repente Seu rosto, minha alma Eu não pude lutar contra aquilo Até que tudo passou rápido E despertamos de um sono profundo Acordamos em meio ao deserto urbano Onde só tínhamos um ao outro E mais ninguém ligava para nada Só nós dois Onde as pessoas esqueceram de como eram
  • 41. Antes de serem apáticas e metódicas Venha comigo para uma nova época Onde não existe medo e errado Onde podemos voar por entre as nuvens E caminhar por sobre a água E acariciar Leopardos tranqüilamente E onde nos entregamos por completo um ao outro Um lugar onde tudo é abençoado E ao mesmo tempo profanado Mas um lugar bom e aconchegante Quente e sincero Um local de amor ardente e livre Sem controle, total Tal lugar existe E está bem aqui Dentro de cada um de nós Habitáveis em nossos corações 17/12/96 Desgraças Ontem a noite eu queria encontrar Coisas que um dia imaginei Que podia até gostar Mas eu estava com tanto medo De sair e não encontrar Eu já passei por maus bocados E sangrei até chorar Por pura falta de vergonha Por pudores e forças infinitas Que me guiavam para este mar E eu aqui não sei nem nadar Mas estou cansado de penar Estou a fim de sair e curtir Mas tenho tanto medo de não ser Como eu gostaria de ser E por isso sofrer, sofrer, sofrer... Já cansei disso agora mesmo Não quero mais saber destas desgraças Só sei que foi bom encontrar alguém E só sei que é bom ser bom Eu não quero mais saber Eu não quero mais ouvir Desgraças como essa Tão tristes e débeis Abraçar alguém Você Amarrar meus braços e lamentar Por não ter esperado mais um pouco Ou por ter esperado demais Ou ainda por ter chegado na hora
  • 42. E mais uma vez ser fraco Mais uma vez ser o que sou E não fazer nada disso Nada que mude as coisas Somente causar desgraças Em nossas vidas tristes Em nossas almas tristes Em nossos pobres corações Tão machucados e sofridos Tão amargurados e presos em nossas cidades Todos são assim Uns são mais que os outros Mas todos são assim Não se pode esconder a verdade Somos todos assim Solitários em nossas almas E tristes em nossas mentes Não diga que não Pelo menos um dia em nossas vidas Todos fomos assim E ainda somos Com nossas próprias desgraças E nossas próprias ilusões Ainda somos assim Ainda somos tristes E como dói ser assim tão só E como é chato não estar bem Pois só fazemos desgraças Para nossos pequenos corações E só ligamos para nós mesmos Ninguém mais esta preocupado Estamos todos desesperados Para encontrarmos uma solução Não sei se é possível acreditar de novo Que eu possa sair desta desgraça Que eu possa sorrir por estar feliz E não por estar nervoso Gastei minhas forças tentando explicar Coisas que ninguém quer saber Por que no fundo todos sabem Que é errado ser assim tão frio Mas agora é tarde demais E as luzes já estão de apagando Não resta mais tempo para pensar Só para rezar E para tentar esquecer Das desgraças que ainda vão acontecer Mas não podemos mais lembrar do passado Para não nos assustarmos tanto com nós mesmos Por que de desgraças é feita a vida E nossas próprias vidas são uma prova De que tudo é possível Desde que se queira de verdade
  • 43. 19/12/96 Nove Pessoas em Nove Lugares Passados os dias estranhos Todos estão indo para o trabalho A manhã é chuvosa mas bonita E ninguém se lembra mais de ontem Onde todos estavam juntos Onde tudo era ilusão e realidade bela E ninguém mais se lembra de ontem Todos esqueceram dos outros oito Que agora estão em oito lugares diferentes A pensarem em coisas diferentes Tudo bem, não deveriam lembrar Para não sentirem saudades ou mágoas Daquele seleto grupo de amigos antigos Que agora esqueceram uns dos outros 23/12/96 Festa 1 - SOLLITUN A fumaça dos cigarros invade meus pulmões E a bebida fria e forte desce por meu pescoço Minha visão se turva como uma névoa Por onde escorrem minhas esperanças Minha dor, oh, minha dor Minha anestesia é esta noite empolgante Onde eu não posso mais gritar Onde eu não quero mais viver Este mundo podre e escasso de alegria Em que eu não sei o que fazer Onde eu não identifico os sinais De que todos falam e falam tanto A respeito de tanta coisa boa Mas eu só sei de coisas ruins Eu queria prazer, eu queria dançar Mas só posso me arrancar sangue Que corre por veias vivas E que eu não quero mais ouvir pulsar Coisas estranhas e incompreensíveis Eu queria correr e gritar para parar Mas não podia gritar Ao contrário, só podia me esconder E me viciar e distorcer a vida As pessoas ainda a falar tanta coisa E eu não entendo nada Só entendo meu copo vazio E uma mão macia a me acariciar
  • 44. Oh, como eu queria que fosse tua a mão Mas não era Eu esqueço então tudo o que sabia E até mesmo coisas que temia Mas que agora não tem sentido Só sei que estas pessoas se divertem E eu estou sentado olhando tudo passar Assim como em nossas vidas simples Sem nada a fazer, só observar E ver o destino frio a segurar uma foice É igual para todo mundo E ver ainda a felicidade e a paz encarnarem uma só entidade A perfeição E sentados, como na festa A observarmos como um quadro caro Que não podemos tocar ou comprar Apenas a admirar, como na festa Tanta coisa para se fazer E tantos lugares para ir E a festa continua mesmo com sua partida E dura até o infinito Mas um dia você voltará E só Deus pode dizer para que Se para sofrer ou desfrutar Ou ainda apenas para observar Assim como agora e antes A fumaça cessa A bebida acaba E todos vão embora E deixam para trás suas felicidades e desastres Deixam para trás sua lucidez momentânea E voltam para a loucura diária de suas vidas Onde elas tem que ser elas mesmas 22/12/96 The Book is On the Table A vida Como um caderno de estudante Outrora branco e imaculado E agora riscado e usado As pessoas são cadernos E é Deus que escreve em nós Histórias loucas, alegres e tristes Deus é um grande escritor E o destino final de todos nós É criar novos cadernos para ele escrever Nossos filhos E cada um é uma história diferente E no final todos acabam igualmente Todos vão para a biblioteca
  • 45. O cemitério Deus escreve epopéias para uns E tragédias para outros Ou ainda ardentes romances Ou histórias idiotas como a minha A maioria é parecida E poucas possuem poesia Mas todos são escritos pela mesma pena E também pela mesma mão E criados pela mesma cabeça Que escreve em nossos corpos mortais Histórias únicas e divinas Com a tinta de seu sangue, o espírito E o ardor de seu amor, nós 25/12/96 Mata-me Mata-me por ter pecado Contra tudo em que acreditava Mata-me por ter amado E por não ter sido bom E por ter errado tanto Que agora é tarde para voltar E alguém perdoar Mata-me agora Tira-me esta vida injusta e dolorida Acaba logo com minha agonia triste Mata-me 26/12/96 Festa II - PÓS MORTEM Oh, que simples tragédia é a vida É singela a agonia em nossos corpos Definhando aos poucos por amor E você está tão longe e tão perto De mim mesmo Ou será que estou mais longe que você ? Só não entendo o que quis dizer Quando falou sem nada eu entender Você está tão longe E eu sei que está bem Mas eu não quero ser feliz Não hoje, dia santo Eu queria estar contigo Mas não posso nem estar comigo Sem você, aqui em mim
  • 46. Do que me valerá comer E manter meu corpo frio Frio e tão calado Queria tanto lhe tocar Mas não ontem, e hoje Quem sabe amanhã Agora mesmo, espero E ainda ouso lhe falar Que estão todos aqui Minha família, meus amigos Mas falta alguém Sou eu Que sem você não sou eu Não sou eu Só me esforço para não brigar E deixo tudo caminhar Para o fim que vejo perto E para trás só esta você e eu E ainda assim tão separados Por teu coração ingrato Eu só não quero estar aqui E ver todos alegres e tristes assim Jesus morreu Mas voltou e vive em nós Só que eu não sou mais eu Não até você vir Não até você voltar Para onde nunca foi Meu pequeno coração E até lá não será Jesus que irá Entrar nele Queria tanto sair dessa Mas não posso mais Só no dia em que você Vier até aqui E me deixar ir até aí Estou cansado de ser tão só Quero passar as noites abraçado a ti E os natais e anos novos Só com você E você não sabe nem se estou vivo E nem quer saber E pouco importa a ti O meu amor Que descanse em paz o coitado Nasceu tão pequeno e pobre E morreu de forma tão besta Descanse em paz Pois a festa esta apenas começando E tudo em que você teve crença Por toda sua inútil vida Morreu bestamente Assim como Jesus em sua justiça
  • 47. E a dor que antes era amor Agora só resta ser mais um Ou então tornar-se mestre de algo Dono de algo, amo de algo Pois não é possível que seja assim Tão inútil e idiota e triste e bastado Esta vida, esta vivência Em que tudo em que nos apoiamos É em nossas idéias e nossa fé E que por uma besteira Descobrimos que desabaram a tempos E que agora nada mais importa Só o sangue e a dor Só nossos remorsos Sem dores de despedidas Sem partidas ou temores Só desgraças imprevistas É de deixar-se abalar Saber que tudo pelo que lutou Não passa de besteira e ilusão E que você um dia acreditou do fundo de sua alma E que por isso esta coisa se tornou real Apenas por um milionésimo de segundo A festa nem sequer aconteceu Toda a ceia apodreceu para as moscas E ninguém compareceu Eu fiquei, como sempre , só Sentado em uma cadeira no centro do salão Iluminado apenas pela chama de uma vela Esperança Levanto e apago a vela É hora de afundar de vez no Inferno E parar de lamentar É hora de abraçar tudo que repudiava E curtir minha "vida" em outro lugar É tempo de largar minhas crenças Elas não me levaram a lugar algum Só a dor e a sofrimento Eu já cansei de dar festas em meu coração Em que a convidada principal Nunca comparece 25/12/96 Interlúdio Todos me pedem calma Me pedem para parar com isso Para parar de falar besteiras E de não fazer o que devo Mas eu não posso mais Sei que um dia eu pude
  • 48. Mas agora eu não posso mais Não agora que me olho no espelho E vejo alguém de quem sinto pena Uma pessoa triste e solitária Que esta fadada a morrer só Que triste é tal destino Ser privado do que mais se deseja Do que mais se precisa E não poder falar com ninguém Só consigo mesmo E se martirizar por isso E mastigar e remoer toda a coisa Em que só sei viver A vida, eterna e doce Fruto de um pecado bom O amor, o sexo E privado do prazer Está a pessoa no espelho A vida, um vinho tinto De longa safra e português Embriaga-o em um só gole Não existem esperanças para tal mal A eternidade é sua aliada E sua sentença nesta sina sinistra Ser meia alma Cuja outra metade não existe Ou ser uma alma inteira Que precisa ardentemente de outra Assim como a pessoa no espelho Assim como eu Desejar aos outros tudo que me é privado E sorrir ao ver os outros felizes Não por estar feliz em si Mas por desejar felicidade alheia Já que não posso ser feliz por mim Mas isso ainda não é o suficiente Talvez agora eu vá em direção ao desconhecido E forçar uma viajem sem volta Já que de nada vale ficar aqui Se nada me deseja como quero Se nada me ama como quero Do que me vale estar vivo? E eu respondo Vale pela esperança que estava viva E que agora jaz morta neste solo Ela esta morta assim como eu em breve Assim como meu único amor real Que nasceu morto como um feto fraco Não existe mais sentido nisso Só me deixe morrer agora Para nunca mais poder encarar As pessoas que tanto amei um dia Serem felizes com outros
  • 49. Mesmo eu desejando isso 26/12/96 Chega Não quero mais me lembrar Que posso amar Não quero lembrar Que posso me machucar Pode ser bom durante o ato Mas no final alguém sempre se magoa E eu não quero mais me magoar Porquê nunca pude suportar A dor de se despedir A mágoa que me faz chorar O medo de ser infeliz E o ódio por se deixar levar Por emoções tão primárias Quanto o amor e a paixão Queria poder não sentir nada Nem amor, nem ódio Somente paz Que persigo tanto Sem nunca alcançar 27/12/96 Fundo Negro Utopias são vontades totais e lindas Perfeições distantes e vagas Terras onde homens não podem pisar Pois a fúria é gigantesca Pelo mal que todos vivenciam E a alma vai se dissolvendo Até só restar ódio e desespero Onde havia luz só existem trevas E o medo de se perder é grande Mas agora é tarde Pois estamos todos perdidos Nesta escuridão em nossos corações Nos perdermos por sermos fracos Ou por não sei o quê Ou ainda, assim como eu Nos perdemos por que queremos Cansados desta vida sem sentido Mergulhamos mais e mais Até chegar ao fundo de nossas almas E podermos tocar nossas vastas emoções Para despertarmos na escuridão da noite
  • 50. Que nunca mais cessará É noite em nossas vidas E será eternamente A esperança já acabou E você morreu para mim Agora é hora de largar tudo E cair, cair e cair Até chegar ao fundo novamente E de lá nunca mais sair 28/12/96 Suspiros Corte meus pulsos Me sangre até a morte Eu não posso mais suportar A espera maldita em meu choro Pela morte que espreita, tão perto E que agora ri de minha situação Ela esta colhendo almas E eu já devo estar maduro Sua foice logo cortará o frágil fio Que me sustenta a força da vida Que eu insisto em podar Por que dói ao extremo Ser esperto e burro assim Tão sensível e bruto A ponto de não compreender Que tudo tinha que ser assim Louco e cruel Dolorido e traumático Já abandonei-me faz tempo E vivo só por viver A tempos vivia por outras pessoas Mas agora acho que era besteira Sofrer tanto por tão pouco E ainda assim acreditar em Deus Só que eu sou meio esquecido E é por isso que blasfemo tanto Não quero mais lembrar do passado Por isso devo morrer logo E me unir aos meus amigos mortos E deixar a vida para quem goste 28/12/96 Afoguei-me Já era tarde demais para mim E agora tudo me sufoca
  • 51. Me afoga ver tanta insanidade Em um mundo considerado sano Só espero que tudo deixe de ser assim E que crianças possam brincar de novo Ao invés de atirarem com fuzis de verdade E que tudo seja como em meus sonhos E que eu deixe de ser assim tão submerso 30/12/96 Consumo Antes as coisas não faziam sentido Mas agora tudo é tão confuso Que mal posso esperar Para cair no chão e me machucar Pois só assim terei de novo Como me encontrar dentro destas trevas Machucado e sangrando Gemendo e gritando Estendendo as mãos, procurando algo Que não posso descrever Lembranças de meu passado remoto Em que tudo o que provava era doce Principalmente o amor Quando viver era bom E nada enevoava meus pensamentos Uma época de ouro, e diamantes Lágrimas de felicidade cristalizadas Eu ainda era puro e feliz Mas não conhecia a vida como agora Ainda bem, se não sempre teria sido assim Um corpo nu embrulhado para presente Em um mundo onde só se sabe olhar por fora Só me faltam os laços de enfeite Para ser mais um presente bonito Esquecido em uma grande prateleira A felicidade é um produto escasso e caro Que poucos podem comprar ou ter Pronto! Terminaram de me embrulhar E agora pareço um homem de verdade Mas na verdade sou um corpo vazio A procura da paixão que me preencha a alma 30/12/96 Feliz Ano Novo, Suicida "carta de morte de um adolescente em crise" Agora mesmo eu devo estar morto
  • 52. Agora sei de tudo o que sempre quis saber O eterno. O infinito. Tudo Nada mais é segredo para mim Pois estou morto Fui covarde, fui fraco Mas agora minha dor acabou Será que para o início de outra maior ainda? Acho que não. Não mais Cansei de viver em um mundo estuprador Onde toneladas de sonhos são queimados aleatoriamente E onde se passa fome, e frio, e dor, e medo, e solidão Ah, solidão, companheira amiga velha! Me amaldiçoou por toda minha vida Mas agora eu estou morto Creio que vou para um lugar melhor que este Melhor que o Inferno Sim, vivemos no Inferno, só pode ser Me entreguei por completo e agora morri De forma trágica e sanguinária Com dor e sofrimento grandiosos O sangue fluindo para fora de meu corpo Juntamente com minha vida flagelada Acho que tudo foi um grande erro afinal Só que ainda não sei qual Eu admirava as árvores, pequenas ou grandes Os pássaros, os animais Mas não ao demônio homem Pois o homem não tem o direito de se chamar de Bicho Animais podem não ter alma, mas são animais afinal Homem tem alma e se porta como se não a tivesse Isto é demais para a cabeça de alguém como eu Pessoas se matando entre si, miséria, guerra... Eu não agüento mais Sei que em comparação com a vida de milhões de pessoas A minha foi de rei Mas não suporto mais se chamado de homem, de humano Um mundo todo nas mãos de criaturas como nós E nenhuma esperança pode ser esperada Por que tudo está errado Fui fraco por não tentar mudar nada E por isso piorar o planeta todo Mas espero que meu ato sirva de lição para todos Pois mais que preocupação com guerra Com mortes ou dores O que mais me abalou foi o fato de ter sido só Talvez por isso o ser humano seja assim tão cruel Por ser só em um mundo louco e estranho E tão bom para conosco, assassinos dela Deixo minha dor e fracassos E tentativas de felicidade e amor E parto para o desconhecido conhecido além da morte Pois tenho fé de que assim seja Pai, Mãe, me perdoem, a culpa não foi de vocês
  • 53. Acho que no final foi só minha Irmãos, sejam os fortes e felizes que não pude ser Vivam como nunca pude por não saber como Crianças, não se tornem os monstros que nós somos Sejam puros e alegres com são agora, por favor Mundo, deveria ama-lo, mas você está envenenado Envenenado pela dor e desespero em ser grande e forte E isso não é nada fácil, nada fácil mesmo Eu o odeio por ter me deixado só E por me forçar a ser coisas que não queria ser E ainda assim me deixar só Só posso lamentar por tudo E rezar para que tudo mude Sou um suicida, e desejo a todos feliz ano novo Não suportava mais tanta vontade insatisfeita Em ser feliz e encontrar alguém Adeus, e feliz ano novo 30/12/96 Cheiro da Morte Sabe como cheira a Morte? Não é a carniça ou putrefação Cheira a Lírios e Crisântemos na Primavera Em campos verdes e largos, em dia de céu azul E não existe coisa mais bela do que ela O fim da agonia e desespero O fim de tudo que é bom e que é mal A única justiça cega real É o remédio para tudo que sofremos E cuja única contra indicação é a dor Oh, dor ardente e devastadora Agudo e mortífero é teu semblante Como minha saliva, um molho rose Meu sangue misturado a tudo em meu corpo Pensamentos, carne, ossos, vida, morte Pingando de meu corpo magro e acabado Correndo por veias entre meus tendões que estalam E a morte, doce carrasco este anjo Perfumada ao extremo, lindo delírio Se esgueirando e chegando, pouco a pouco Desde o dia em que nascemos Fadados estamos ao encontro final Com a dama da morte, morte total Ela mesma, encarnada em um corpo irreal Tão bela e reluzente, pronta para acabar Com espera tão longa como esta E com seu beijo mortífero Tocar meus lábios, e minha língua E me fazer o que mulher alguma ainda fez Me amar tanto até me matar
  • 54. Invertendo a dor em prazer meloso e úmido E o sexo, tão vibrante e delicioso E a morte, tão linda e perfeita Totalmente compreensível minha reação A morte me excita mais do que qualquer outra agora Me embriago em seus doces toques E sei que não estou sendo enganado, e sim salvo Pois é a morte a me amar aqui E a morte a me beijar em minha boca E a saciar todas os minhas últimas vontades E seu gosto e cheiro, oh, seu cheiro Indescritivelmente doce e tentador Estou feliz, pois encontrei na morte O que procurava na vida O amor de alguém E justamente a morte, doce dama fatal Me fez sentir que consegui E agora já é hora de deixar este lugar imundo Onde pessoas não me querem consigo E onde eu nunca fui compreendido E ir para onde minha amante me levar Estou feliz em fim Estou morto Morto mas feliz Por que enfim amei e fui amado Obrigado minha doce e linda senhora Obrigado por me amar assim E seu cheiro ficará impregnado em mim pela eternidade Para todo o sempre Adeus amor Adeus morte 01/01/97 Alma Nua A noite é dolorida em seu semblante É um momento que torna amargo até o doce mel E afugenta a liberdade de esquecer Tudo aquilo que me faz sofrer Meu corpo, a rolar pela cama E meu sono, que demora e nunca vem Não são os uivos sombrios ao longe E nem a escuridão a me cercar São minhas lembranças vivas Que tentam me perturbar E desejos tolos, e choros contidos E meus sonhos, delírios de felicidade Onde posso me lembrar completamente De tudo que ansiava esquecer e não podia Meu mais terrível medo sendo destroçado Não tenho medo da morte
  • 55. Ou de dor física ou criaturas sombrias Tenho medo de ficar só E de nunca encontrar-me em outra pessoa Mas agora eu achei E descobri que é tarde demais E meus sonhos agora são só besteira Em comparação com a realidade que desejava viver Viver juntamente com ela Não, não posso erguer a cabeça e andar Não por um bom tempo Por que era algo de que não posso esquecer Por que amei demais Um amor marginal e solitário Como o de um miserável para com uma princesa Como posso esquecer algo que faz parte de meu ser Sem sofrer mais do que ninguém Ainda estou parado a olhar O meu passado imperfeito e feio Queria descobrir por que tudo foi assim E por que sempre estrago o que almejo Por que sou privado de meu maior desejo Poder chafurdar neste amor insanamente puro Agora eu devo caminhar ao horizonte E vislumbrar de lá meu passado E acenar, dizer adeus Não posso obrigar os outros a fazerem o que quero E muito menos a gostar de mim É por isso que não posso mais ficar aqui É por isso que não tenho motivos para sorrir E eu na cama, ainda a pensar em tudo isso Não durmo e não descanso meu corpo Corpo frágil e fraco Sonho novamente e isso me faz mal Pois ela não me quer no mundo real E quando acordar eu certamente irei chorar E vou levantar e encarar a vida Sem vontade ou meta ou esperança Mas no fim a culpa é minha, como sempre Pois sou fraco e triste pessoa Não sei de meu futuro Só sei que meu passado é um jovem velho Assim como eu sou agora Um jovem envelhecido pela falta de vida e amor Faltas cruciais em meu coração 12/01/97 1º de Janeiro O a é peculiar e essencialmente neutro A paz é respirável por aqueles que se dizem homens Enquanto que sub espécies como eu apenas choram
  • 56. Por que estão sós por mais um maldito ano E as lágrimas, uma vez mais, caem sobre o chão E uma vez mais tudo deixa de fazer sentido Para dar lugar, enfim, ao delírio Mestre na arte de satisfazer e enlouquecer Por que em meus delírios e ilusões proféticas Me vejo alegre e feliz, amando e sendo amado Mas logo depois acordo para a realidade crua e dura Solidão, profunda e fria coisa Mas isso não é nada de mais Comparado à dor de te desejar e não te ter Isso sim enlouquece, amar mais do que tudo alguém E saber do triste destino de não ser correspondido E ainda assim sonhar todas as noites com o contrário É primeiro de janeiro, e todos estão dormindo Somente eu estou acordado e encarando o dia triste Todos estão felizes e satisfeitos E eu estou só, pronto para a morte Vou acabar morrendo de desespero e sofrimento Mas não importa, é o primeiro dia, a primeira desgraça De tantos outros 364 adiante Ainda não estou pronto para encarar tudo isso Talvez em sua companhia Mas não estou, então terei que me virar sozinho Como sempre sozinho Só um corpo sem alma ou coração 14/01/97 Palavras Matam Me fartei por completo desta loucura De nada mais adianta a mim viver Como poderei caminhar sem pernas Estirpadas por um golpe certeiro de palavras? Já faz tempo que me pergunto isso E ainda continuo a me arrastar Só que agora estou cansado Mal estou conseguindo respirar Meu corpo calejado, estirado ao chão Pisoteado por mulheres amargas Tão insensível a alma de muitas Tão doce a de outras E eu, ignorado ao limite instável Forçado a me trancar em meu próprio corpo Deixar para trás sonhos, esperanças E me lançar ao negro e vazio depressivo Que habita nossos corações hipócritas E afundar cada vez mais e mais Nesta depressão interna eterna Neste ódio impiedoso e triste Nesta coisa morna e maléfica
  • 57. De que adianta viver agora amigo Se não existem esperanças Do que vale lutar agora Se não existem mais desejos em minha alma Do que adianta chorar lágrimas doces de tristeza Se ninguém mais se importa com isso Nada mais importa meu caro A luz se apagou faz um minuto E está na hora de afundar um pouco mais 14/01/97 Ideal A bisa, fina e molhada, bate em meu corpo Eu estou isolado de toda a matéria agora Sou éter, sou vácuo, sou essência Não existem sons, não existem sentimentos A dor é algo inimaginável agora Sem luz, sem calor, sem nada Somente eu no meio do espaço eterno Não estou mais preocupado, ou triste ou abatido E não existem memórias, o que é bom Não sei o que sou ou o que fui E sei que continuarei a não saber Isso me acalma mais ainda Chego a um estado de prazer e sensibilidade total Estou em nirvana astral Então uma luz avassaladora me cega olhos inexistentes Quando vejo novamente, Deus está a minha frente É um forte senhor, montado em um cavalo cinza E me olha do alto de sua sabedoria infinita E exclama fortemente que eu devo voltar Voltar a ser o ser terreno e fraco que sou De repente todo o vazio é preenchido Pela matéria podre terrena Um infinito de sons ecoa de lá para cá E a luz solar, forte e quente Rompe toda a aconchegante escuridão que me abraçava Eu sou eu novamente Estou aqui para sofrer e me magoar de novo Para sofrer por amor não correspondido E para lembrar da centelha de paz que experimentei A oportunidade de entender Como deve ser bom ser Deus 14/01/97 Lamentos Hoje o dia está tão normal
  • 58. O Sol brilha e os carros gritam E as pessoas andam de lá pra cá Tantos choram e poucos sorriem E tem tanto trabalho para poucos Eu estou aqui mais uma vez Tentando entender por que tudo é tão estranho Por que não posso ser feliz com você E mesmo tentando não consigo esquecer Da paz e alegria de estar ao seu lado Mesmo que em sonhos tão bons Já faz tempo que esqueci o que é viver Já que agora eu só sei sofrer Tento a tanto tempo esquecer Mas não tenho forças vitais Para fazer isso acontecer Me sinto tão ludibriado por todos Me foi prometido uma vida legal Mas o que pode ser bom assim Sem você para sacramentar Em lágrimas de amor tudo o que faço Do que vai me adiantar Estar sozinho quando conquistar o mundo Lamento, mas é assim que penso Não posso levar adiante esta loucura Nada importa enquanto estiver sem você Nem vida, nem trabalho ou prazer Só você, só você Só você que pode novamente tentar Tentar me fazer viver 15/01/97 Dois Minutos Para Poder Pensar Sinto muito em informar, meu amigo Mas estamos todos mortos Não poderemos mais sorrir de medo Ou ainda correr por campinas verdes Estamos todos mortos em nossos corações Somos apenas pedaços de matéria podre Que está apenas se corroendo, lento Pode ser besteira para ti, sábio e filósofo Mas é verdade quando falo em morte Ninguém irá sobreviver a esta droga Ou a esta dádiva disfarçada em maldição E o que assusta á saber que ninguém fez nada De que possamos nos orgulhar Por que só lembramos das desgraças, dos defeitos Dos horrores e das guerras travadas a anos E esquecemos do quão belo é o nascer do Sol Ou ainda o alívio de se ouvir bom dia E de pessoas que não só rezam, mas também agem Fiquei pensando um bom tempo sobre tudo isso
  • 59. Dois minutos para lhe ser franco E minutos penosos foram estes, é verdade Mas eu não posso mais pensar Esta na hora de voltar para a hipocrisia E deixar para lá todos os problemas cretinos da vida 25/01/97 Confessionário Padre, me perdoe porque pequei Já se faz uma vida desde a última vez Houve uma pessoa de quem gostei muito E pequei por que tive medo de dizer olá Temi ouvir palavras ásperas e farpadas Eu fui covarde e infiel ao meu coração Me perdoe por que pequei Houve um dia, padre Em que desejei minha morte como punição Punição para minha fraqueza Mas entendi que para este caso Punição melhor seria a vida longa Eu fui covarde e infiel para com quem amo Me perdoe por que pequei Existiu uma dor aguda Da qual ainda tenho seqüelas Eu chorava a noite por temer a vida E só agora vejo o tamanho de meu erro Eu fui covarde e infiel para comigo mesmo Me perdoe por que pequei Houve coisas que queria ter feito E muitas eu nunca sequer iniciei Vejo o quanto eu fui tolo Por querer simplesmente ser feliz Eu fui covarde e infiel para com o mundo Me perdoe por que pequei E só agora eu falo estas coisas Por que sei que é segredo eterno São meu sangue, minha alma Minha mente, meu ódio Admito o quão pecador sou e serei Só que ninguém mais admite Que errar não é bom, mas sim cruel E que é horrível levar as coisas até o final Deve ser por isso que nunca terminei nada Assim como a humanidade nunca encerra Sua busca insana e eterna Por algo que já se esqueceu a tempos Lembrar agora seria desperdício de tempo Devemos continuar a busca agora mesmo E fingir que tudo é normal E que tudo está bem
  • 60. Esquecer a dor eterna de pecar ardentemente Todo santo dia claro e escuro E de tempos em tempos pedir perdão anonimamente A Deus, sob a forma de um ser terreno Um padre, que nunca vai abrir o jogo com ninguém Afinal, não quero que todos saibam que sofro também Assim como todos eles, em seus íntimos emotivos Lembre-se de mim padre, mas não de minhas palavras Lembre-se apenas da mensagem contida nelas Amém 25/01/97 Corpo Meu corpo cansado, suado e torturado Minha pele reluzente e rija, intocada Meus músculos, carne viva E o sangue, pulsando ardentemente Jamais usado em uma vida curta de criança Inviolado o bálsamo que és esta obra de arte Meu corpo virgem e esguio Espreita pela noite como um lobo Sedento e faminto, pronto para atacar Assassino cruel, alma solitária bem aqui Bem aqui em meu peito nu E então será tarde para voltar a ser eu mesmo Por que neste dia não haverá mais volta E neste dia eu serei imortal em corpo e alma Na mente das pessoas a quem ferir Meu corpo, quente e doce Pronto para obedecer ao meu comando Minha casca, meu receptáculo Meu pote de essência espectral Meu salva alma material Me deram um coração e uma mente E em troca esperam algo que não sei se posso dar Que troca injusta é esta que me fizeram Ser um homem que não serve para nada Dentro de um corpo que está pronto para fazer tudo Mãos que agarram, pés que sustentam Pernas feitas para correr até o longe E uma cabeça para poder sonhar com a felicidade E com o Universo inteiro em um segundo O Universo é meu próprio corpo Sempre crescendo desde o seu nascimento Cada segundo é um milênio Cada célula é uma galáxia E cada átomo um sistema solar Cada próton um planeta, e cada núcleo um Sol E em cada planeta milhões de seres vivos E cada um deles também é um Universo em separado
  • 61. Em que dentro se encontra a mesma ordem O infinito Que estranho e belo é esta concepção de eternidade E a morte de um só de nós é a morte do infinito E de um Universo inteiro e toda a sua vida E nós somos o Deus deste Universo interior E nós, assim como eles, vivem dentro do corpo de Deus Que é o Universo inteiro Assim como nós, eles são um sonho na cabeça de Deus Que é a vida por si só E agora meu corpo ainda é só um corpo Triste e solitário com seu Infinito de vida interna Pronto para amar e criar um novo Universo Um filho 03/02/97 Universo Olho para a noite como caça condenada Só mais um morto entre mortas carcaças Só uma vítima selvagem de um mundo animal Alimento dos fortes, excremento bem depois Mas não é tarde para poder me confessar Só que pecados marcados, como cartas de tarô Eu não tenho e não posso nem sonhar em ter Não tenho vícios, doenças ou paixões Abracei com força toda minha ira e revolta E as joguei bem longe, mas voltaram e não se foram mais E agora, na hora, esta em tempo de ir-me embora Partir para um lugar onde ninguém poderá me seguir Onde ninguém poderá mais rir de mim E quando se lembrarem do quanto era bom viver Vocês contemplarão o Universo ao seu redor E compreenderão que tudo o que não entendemos É o máximo que um dia iremos entender Por isso eu digo para que não temam Iremos todos para um lugar estranho Pode ser que seja o nada ou o tudo Mas é para lá que iremos E nada que podemos fazer irá mudar isso É o destino marcado pelo Universo É a razão pela qual vivemos e morremos Longe de tudo pelo qual lutamos tanto Algo sinistro ou bondoso Coisas do fundo de nossas mentes e corações Talvez a alma, o conjugado dos dois Nós mesmos em forma de essência Cheios de nada, éter, vácuo Assim como o Cosmos, vazio visualmente Mas cheio de energia, cheio de poder Forças invisíveis que nos fazem ser nós mesmos
  • 62. Coisas as quais você nunca mais ouvirá O poder A força eterna que controla a vida no Universo Deus O julgamento vivo que conduz nossas ações A consciência Destemido anjo que fala em nossas emoções Remorso Nossa condenação eterna, chaga em nossos corações A morte Dádiva ou maldição? O Universo conduz tudo com total maestria E tudo que nos pede é poder Poder para poder sonhar conosco nossos sonhos Só que nós só temos pesadelos 07/02/97 Ondas de Areia Água seca é areia do fundo do mar Onde dunas correm como ondas Ondas insanas de puro temor Onde a morte surfa agilmente Tomados por forças ocultas Cada grão se move sutilmente A onda vem rápida e alta Esmagando tudo que encontra Ondas negras, ferozes caçadoras Ondas de energia pura Ventos solares, pulsos e espasmos Delírios céticos destituídos de imaginação Um lugar onde o sentimento perde a razão Onde tudo o que temos Perde seu valor Onde tudo o que sabemos Já foi superado É triste ser cruel assim É cruel ser triste assim Um círculo vicioso Na verdade uma reta eterna Uma ida sem destino certo Somente o além, o após O pós moderno e incompreendido artista Cujas idéias só serão lembradas no futuro E assim será só mais um sucesso póstumo E as pessoas dançarão sobre seu túmulo Para esconder a vergonha de não o ter reconhecido Quando ainda era vivo para tal E que agora está submerso nas ondas de areia Areia quente que devasta o infinito
  • 63. E que nos faz perder os sentidos Nos afoga, inunda e imunda nossos corpos Invade o sagrado espaço interno E corrompe a vida, a transformando em morte Sem lágrimas para o artista Mais cem para sua vida Cujas ondas de água vieram cedo e grandes E levaram sua alma para o mar da tranqüilidade Riam agora, reles seres mortais e confusos Pois seus dias estão contados assim como os meus Assim como Janis, Kurt, Jimmy, Bob e Jim Assim como Renato, Cazuza e Juscelino Cujas vidas se apagaram como fogo frágil que eram Engolidas pelas ondas de areia eterna Riam, dancem, aproveitem bem Por que um dia tudo irá acabar Juntamente com suas vidas secas Que serão irrigadas com as ondas do apocalipse Feitas de areia embebida em sangue e fogo E cujo destino é varrer para sempre a humanidade da vida 19/02/97 As Ultimas Lágrimas do Trovador Vou-me embora deste local sangrento Lugar de guerras demoníacas Lugar de dor e sofrimento eternos Lugar para o qual me mudei a anos E que agora deixo com dor em meu coração Eras um lugar belo anteriormente Mas agora é só ódio e crepúsculo Já chorei muito por esta desgraça Mas estas são minhas ultimas lágrimas Não quero mais sofrer junto com você Por que o lugar de que tanto falo É o teu coração Ferido de batalhas anteriores E eu, que só queria canta-lo Fui confundido com mais um guerreiro Mas eu sou só um trovador Em busca de paz e de amor Coisas tais que você não pode me dar mais Por que são coisas que nunca teve Não te culpo mais Só não queira minha amizade Não queira mais minhas canções Não deseje mais minhas rimas E nem meus acordes Desisto de tudo, até de você Desisto de chorar, de sofrer Quero agora um pouco de prazer
  • 64. Deixar para traz tudo o que vivi contigo E partir para um lugar estranho Deixar para lá toda a vergonha De ter te querido bem E lamentar por ter cruzado o teu caminho Por ter tocado tua pele, teu rosto Teus lábios, tua alma E só depois descobrir quem eras na verdade Uma alma insólita e vazia Um corpo belo com mente imunda Desculpe-me por não chorar mais E por largar tudo em que acreditava Mas eu só acreditava em nosso amor E você o matou bem na minha frente Desculpe-me por esquecer quem éramos E o que significávamos Mas cansei de chorar por criatura tão singular Cansei de tentar te fazer me amar Agora parto para longe de ti O Trovador se emudecerá por tua causa E será mais uma alma muda no mundo Por tua causa, miserável coração estéreo Impróprio para a criação de algo tão vital O amor 20/02/97 OBSCURA ALMA HUMANA : CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE LAMENTOS "Criou Deus, pois , o homem à sua imagem , à imagem de Deus o criou , homem e mulher os criou" - Gênesis 1:27 "Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio de seu coração; então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis, e as aves dos céus; por que me arrependo de os haver feito." - Gênesis 6:5 a 6:7 "Estabeleço minha aliança convosco: não será mais destruída toda a carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra" - Gênesis 9:11 A idéia contínua em todas as páginas são muito parecidas com a dos trechos tirados da Bíblia acima mostrados. A maldade do homem, arrependimentos, ira. Tudo é muito pessoal, e ao mesmo tempo Universal. A frustração da busca por coisas muito desejadas, como amor, felicidade, paz. O medo e a vergonha em ser parte da espécie humana, uma raça auto-destrutiva que é capaz de provocar uma ira enorme em seu próprio criador e pai, Deus. Uma raça corrompida pelo mau. Que tipo de esperanças e prosperidade podemos esperar de nós mesmos, uma raça condenada ao extermínio divino por ser simplesmente má? "Lamentos" é uma grande porcaria, mas como está escrito na capa, se trata de um ensaio. É algo singular e depressivo, arrogante, cruel e triste, muito triste. Pra começar está muito bom.
  • 65. "Assim como um homem não está sozinho na sociedade a humanidade não está sozinha no Universo, mas é triste ver que o homem ainda é sozinho dentro de seu próprio coração" Tirado de um episódio de "The X-FILES"